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ética - auditoria dos sistemas de saude

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COMPREENDER AS DIVERSAS VISÕES SOBRE A ÉTICA. 
Podemos considerar que a ética tem um aspecto histórico, mas tem um caráter 
contemporâneo e atual. Na realidade, grandes dilemas acompanharam a história 
da humanidade. Cada momento da história e cada tipo de sociedade tiveram e 
têm seus dilemas específicos e que o processo de tomada de decisão é delineado 
pelo contexto histórico e social, mas também podemos dizer que alguns dilemas 
são universais, como o poder, a morte, a liberdade e a própria sexualidade. 
Sintetizando, podemos usar o termo – ética - como sinônimo de coisas, 
pensamentos e atitudes consideradas corretas ou podemos encará-la como um 
segmento da filosofia que investiga a moral. 
No primeiro aspecto podemos encontrar esta visão nas opiniões expressas, por 
exemplo, na afirmação de que “fulano é correto e íntegro” ou que “sicrano é uma 
boa pessoa”. Tais qualificações estão presentes na vida ordinária do ser humano, 
assim como dizer que “beltrano não é correto”, sugerindo uma falta de ética. 
Enquanto a segunda visão é referente um campo acadêmico de investigação 
filosófica. Nessa perspectiva podemos encontrar desde as definições dos filósofos 
da Antiguidade até as abordagens filosóficas mais modernas. 
O que une uma a outra é o questionamento da natureza e dos princípios que 
regem o pensamento e a conduta dos seres humanos, nas suas ações individuais 
ou sociais, nos seus enfrentamentos internos ou com a sociedade. 
Sendo assim, é necessário reconhecer que debater a ética não é exclusivamente 
algo abstrato, mas que é referente ao comportamento e ação do ser humano, 
tendo, assim, uma consequência efetiva sobre as nossas vidas e a direção que 
podemos tomar. 
Ao usarmos o termo ética podemos estar tratando de sentidos diferentes. Isto 
não quer dizer, entretanto, que ao assumirmos uma definição específica de ética, 
todas as demais estejam erradas ou equivocadas. 
A ética como a maioria das categorias filosóficas e sociológicas tem um caráter 
eminentemente subjetivo. Isto quer dizer que o contexto social e histórico, ou 
seja, o momento que usamos a categoria vai influenciar o sentido que damos ao 
termo. 
Na presente aula iremos tratar de algumas definições de ética, conforme as 
abordagens de determinados autores que se debruçaram sobre o assunto. 
De acordo como o Dicionário do Pensamento Social do Século XX (1996), 
a ética é referente à avaliação normativa das condutas e do caráter das pessoas, 
tanto em uma perspectiva individual como social. Em grande parte a ética é 
utilizada também enquanto tendo um sentido de moral, para se referir ao 
conjunto de deveres e obrigações que orientam as ações individuais. 
Blackburn (1997) apresenta a ética como a investigação dos conceitos referentes 
ao raciocínio prático, “como o bem, a ação correta, o dever, a virtude, a liberdade, 
a racionalidade e a escolha” (p. 129). Inclui ainda que “É também o estudo de 
segunda ordem das características objetivas, subjetivas, relativas ou céticas que 
as afirmações feitas nesses termos possam apresentar” (p. 129). 
O Dicionário do Pensamento Social do Século XX (1996) considera ainda que a 
ética pode se originar em três distintos aspectos. Como diferentes sistemas de 
valores e de condutas éticas podem se constituir como objeto de pesquisa da 
teoria social. Enquanto as próprias teorias sociais que podem elaborar 
argumentos metaéticos quanto ao âmbito lógico e epistemológico das 
abordagens éticas. E, por último, a próprias teorias sociais podem estar 
vinculadas com determinadas visões éticas. 
Sintetizando o conceito de ética, Madeu (2012, p. 294) afirma que é a 
investigação das regras morais como a ciência da moralidade e dos juízos 
referentes ao comportamento do homem, sob o ponto vista do bem e do mal em 
uma determinada sociedade, ou, sob a perspectiva universal, independente das 
sociedades a que determinado indivíduo possa pertencer. 
Portanto, conforme as quatro abordagens, podemos constatar que não existe 
uma visão absoluta da ética, mas que podemos apresentar maneiras distintas do 
que seria atitude ética. Isto não quer dizer, como afirmamos anteriormente, que 
não seja possível apresentar uma visão um tanto quanto abrangente da ética e 
suas implicações. 
Aranha & Martins (2003) apontam que no que tange as definições sobre ética, 
esta tem sido comumente interpretada como moral, o que não se constitui 
necessariamente um equívoco. Acrescentam que a etimologia das duas 
categorias são muitos semelhantes. “moral vem do latim mos, moris, que significa 
costume... e de moralis, morale, adjetivo referente ao que é ‘relativo aos 
costumes. Ética vem do grego ethos, que tem o mesmo significado de costume”. 
(2003, p.301) 
Embora tenham raízes em comum, Aranha & Martins (2003, p. 301) destacam 
que são conceitos diferentes. “A moral é o conjunto de regras de condutas 
admitidas em determinada época ou por um grupo de pessoas... A ética ... é a 
parte da filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e princípios 
que fundamentam a vida moral”. 
Por esta perspectiva, a moral é um conjunto de regras incorporadas pelos 
membros em um grupo social com o intuito de organizar as relações entre os 
indivíduos, de acordo com determinados valores referentes ao que é considerado 
como certo e errado. Já a ética ou filosofia moral é um campo da filosofia que 
analisa os princípios que baseiam a vida moral. 
Aranha e Martins (1998, p. 117), acrescentam que os valores são herdados dos 
costumes e da cultura ao qual estamos inseridos, resultando das relações que os 
indivíduos estabelecem entre si. Daí a importância das experiências vindas do 
ambiente social e da época em que estes se realizam. 
Tal abordagem também é referente à moral, pois esta tem uma base histórica e 
social. É no contexto social que o homem constrói a moral e os valores, 
constituindo aí as regras para o convívio social. Não existe vida social ou grupo 
social sem regras que possam reger os comportamentos dos indivíduos, quer 
agindo de modo isolado ou agindo socialmente. 
De um lado, a moral constituída é considerada “exterior e anterior ao indivíduo... 
que orienta seu comportamento por meio de normas” (ARANHA & MARTINS, 
2003, p. 301). De outro, a moral constituinte é resultado do posicionamento das 
pessoas em relação ao que receberam da moral constituída. Pois os indivíduos, 
ao receberem os costumes dos seus antepassados, são capazes de refazê-los e 
adaptá-los aos contextos históricos e sociais. 
Na realidade, isto quer dizer também que nossos valores e comportamentos 
variam de acordo com as sociedades e grupos sociais, assim como em relação 
ao tempo. Valores anteriormente considerados certos e fundamentados no bem 
em alguma sociedade ou tempo histórico podem ser considerados errados em 
outras sociedades e em outros momentos. 
Nos tempos atuais inúmeros dilemas têm surgido, o que dizer da união civil 
homoafetiva, o que dizer da legalização do uso maconha no Uruguai?, 
E quanto ao aborto? Os referidos dilemas são discutidos em termos éticos, tanto 
nos parâmetros sobre o que é considerado certo ou errado, como nas abordagens 
filosóficas que tratam dos princípios que regem as visões favoráveis ou contrárias 
a cada um dos exemplos apontados. 
ANALISAR OS DESDOBRAMENTOS ASPECTOS CONCEITUAIS E 
PRÁTICOS DA ÉTICA 
Conforme Blackburn (1997) a ética se traduz em vários campos da vida social e 
nos mais variados segmentos; a seguir: 
 
Ética aplicada diz repeito ao campo que associa a ética aos problemas práticos, 
tais como a pesquisa com os animais, o aborto e a pena de morte. (BLACKBURN, 
1997) 
Ética da gestão é segmento que trata dos problemas vivenciadosno âmbito 
organizacional e das relações das organizações com a sociedade mais ampla, no 
que tange à responsabilidade social e ao que é considerado uma competição 
aceitável (BLACKBURN, 1997). 
Ética da virtude se constitui como um campo teórico que entende a noção de 
virtude como primária, ao invés de uma abordagem do “bem” pelo qual atuamos, 
ou do dever, do direito ou da razão, interpretados como a gênese das normas de 
ação. (BLACKBURN, 1997) 
Ética de situações - reconhece que toda tentativa para abstrair das situações 
determinados aspectos em virtude dos quais requerem um juízo, para no 
momento seguinte argumentar sobre novos contextos à luz desses aspectos, está 
fadada ao fracasso; na medida em que em uma determinada situação acrescenta 
para o seu valor pode ser pouco relevante em outro contexto, daí a importância 
da contextualização cuja decisão deverá ser tomada. (BLACKBURN, 1997) 
Ética deontológica - está estruturada na noção de dever, na conduta considera 
correta ou em direitos, diferenciando-se dos sistemas éticos que visam o alcance 
de atingir certo estado de coisas ou nas qualidades consideradas como 
importantes para se viver bem. (BLACKBURN, 1997) 
Ética do meio ambiente - trata das questões suscitadas pelas necessidades 
dos indivíduos como a busca pela felicidade ou a distribuição das riquezas. A 
questão central consiste na atribuição de valor, “independente a coisas como 
preservação das espécies ou a proteção da vida selvagem”. Pois se considera que 
a referida proteção poder ser defendida como um instrumento para assegurar as 
necessidades básicas dos seres humanos, percebendo os animais, por exemplo, 
como uma fonte de medicamentos ou de outras benesses. 
Entretanto, Blackburn (1997), acrescenta que outro conjunto de pensadores 
reivindica um valor não utilitarista do meio ambiente ao qual defendem 
permanência e preservação de lugares e seres animais, independentes da sua 
relação com os seres humanos. 
Ética evolucionista - se fundamenta na ideia de que os valores éticos são fruto 
de um processo evolutivo e que os elementos mais recentes em um determinado 
processo evolutivo são melhores que os elementos anteriores. No campo das 
sociedades, isto que dizer que civilização industrial e ocidental seria mais evoluída 
que as sociedades consideradas primitivas. (BLACKBURN, 1997). 
Ética feminista - se constitui em uma abordagem que busca modificar os 
preconceitos que tem levado historicamente à submissão das mulheres e o 
desrespeito pela experiência feminina. A ética feminista questiona o preconceito 
de gênero que pode estar presente de modo subjacente, tanto nas concepções 
filosóficas como nas estruturas sociais e legais, do mesmo modo que nos campos 
políticos e culturais (BLACKBURN, 1997). 
Bioética - se constitui um campo da ética que se ocupa dos problemas que 
derivam das atuações médica ou biológica, o que inclui questões referentes à 
natureza da distribuição do tratamento, o campo de autoridade do paciente e dos 
profissionais de saúde. 
Em um estudo sobre o comportamento ético, Marcondes (2009) sugere a 
construção de cinco critérios básicos. 
Ação refletida - todo agir deve ser precedido de uma reflexão sobre as 
consequências de determinada decisão. Considerando também que a reflexão 
por si só não faz de uma decisão ser apontada como correta, mas é um bom 
princípio norteador. (MARCONDES, 2009) 
Transparência - não ter algo a esconder é um bom orientador para uma atitude 
ser considerada ética, pois não revelar algo pode ser um indício de justificativas 
comprometedoras. Isto não pode significar deixar de reconhecer, contudo, que 
existem situações que devem realmente ser guardadas visando preservar a 
privacidade dos indivíduos. (MARCONDES, 2009) 
Reciprocidade - os critérios devem ser universalmente válidos, pois reconhece 
que não devemos fazer com outros o que não gostaríamos que fizessem com 
cada um de nós. (MARCONDES, 2009) 
Solidariedade - destaca o caráter social da ética, opondo-se á comportamento 
egocêntrico. A referida perspectiva reconhece que ética não deve ser 
compreendida por meios individuais e sim sociais e coletivos. (MARCONDES, 
2009) 
Coerência - a ética não deve ser parcial e que o discurso deve se aproximar da 
atitude e das práticas sociais. (MARCONDES, 2009, p. 46) 
Por fim, Marcondes (2009) aponta que o resultado da soma dos princípios acima 
relacionados e interligados gera o que denomina de confiabilidade. Isto 
significa que devemos reconhecer que a confiança é algo fundamental para a 
vida em sociedade, sem a qual não há mesmo vida social. Para agirmos ou 
sofrermos a ação de outrem é necessário um grau de confiança e de 
credibilidade. A crise ética atual se expressa, sem dúvida, em uma perda de 
credibilidade nas instituições e entre as pessoas no cotidiano. 
A ética, portanto, não é apenas um valor sobre o que é considerado certo ou 
errado, o bem ou o mal. Assim como não é apenas e exclusivamente um campo 
da filosofia que investiga os princípios que regem a moral dos grupos sociais. Na 
realidade, a ética, em função da forma e do contexto que pode ser acionada pode 
assumir ambas as interpretações, permitindo, assim, e igualmente novas 
proposições e avaliações sobre a vida sociedade e do próprio ser humano, de 
pertencer ao campo das atitudes e ações humanas. 
 
 
REFLETIR SOBRE O SENTIDO DA MORAL NO CONTEXTO SOCIAL 
A noção de moralidade conforme o Dicionário do Pensamento Social do Século 
XX (1996, 483) assim afirma: 
Em seu sentido prescritivo, moralidade é aquela consideração, ou conjunto de 
considerações, que fornece os motivos mais fortes para se viver de certo modo 
especificado; em seu sentido descritivo, tal consideração ou conjunto de considerações 
que alguma pessoa ou grupo reconhece ou ao qual adere. 
 
O Dicionário sinaliza a moral por meio dos Dez Mandamentos bíblicos que 
representariam uma compreensão correta da moralidade (de natureza 
prescritiva). Da mesma maneira, se reconhecermos que a Lei bíblica se constitui 
em um erro, podemos apontá-la enquanto uma moralidade descritiva dos 
indivíduos que a reconheça ou que se oriente por tais regras morais. 
As análises a respeito da moralidade descritiva têm-se voltado no conteúdo e 
explicação das crenças morais desenvolvidos principalmente por estudos 
antropológicos. A sociologia de Émile Durkheim aponta que existem três esferas 
da moralidade; a seguir: “um aspecto de caráter imperativo, a ligação a grupos 
sociais e a autonomia dos agentes morais” (DICIONÁRIO DO PENSAMENTO 
SOCIAL DO SÉCULO XX, 1996, 483). 
Em verdade, a análise de Émile Durkheim prioriza uma explicação social do 
nascimento das crenças morais, ou seja, o sociólogo reconhece que é na vida 
social que devemos buscar a explicação das experiências humanas, quer sejam 
individuais, quer sejam coletivas. 
As abordagens atuais apontam e constatam que a moralidade “deve ser 
compreendida em termos da diversificação de ‘mundos de vida’” (1996, p. 483), 
indicando a existência de múltiplas crenças e valores morais presentes muitas 
vezes em um mesmo âmbito espacial, quadro amplamente comum nas grandes 
cidades. 
Conforme Johnson (1997), os mores de uma determinada sociedade 
representam “um conjunto de normas que definem as ideias mais fundamentais 
sobre o que é considerado certo e errado, louvável e repugnante, bom e mau, 
virtuoso e pecaminoso em comportamento humano” (p.154). 
Na abordagem do autor, os mores permitem de um lado o regulamento do 
comportamento humano, mas também a coesão social que gera a continuidade 
social. Por exemplo, afirma Johnson (1997, p. 154), os mores são: 
Normas que proíbem o incesto, oassassinato, a traição e outras formas de deslealdade, 
o abandono das obrigações familiares e a profanação de símbolos religiosos e civis são 
todas elas parte dos mores da maioria das sociedades. Devido à sua importância, os 
mores assumem tipicamente a forma de leis, com fortes sanções, tais como prisão, exílio, 
ostracismo e execução. 
 
Do mesmo modo que a ética, a moral pode ser dimensionada em três campos, o 
histórico, o social e o pessoal. 
Sob a perspectiva clássica da moral como o “conjunto de regras de condutas 
admitidas em determinada época ou por um grupo social de pessoas” (ARANHA 
& MARTINS, p. 301), podemos constatar seu caráter coletivo e histórico, 
representados nas palavras “época” e “grupo social de pessoas”. Em ambas as 
nomenclaturas, observamos seus aspectos históricos, remetendo a um debate 
em torno dos processos de mudança e continuidade. 
Vamos lá, quais são as propostas de mudanças políticas, tecnológicas, culturais 
e sociais de acordo com nossos valores concordamos, e quais são as proposições 
que não concordamos? Algo bem prático e real. Você é contra ou favor do uso 
da palmada em crianças enquanto um recurso educativo? Em nossa sociedade 
até quatro décadas atrás era muito comum o uso da famosa “surra” como 
instrumento de reprimenda dos pais sobre os filhos. 
No campo social, você é a favor ou contra as políticas de inclusão de corte racial 
e\ou social? Quais são as principais vantagens e desvantagens presentes em tal 
programa de inclusão social e suas devidas implicações? 
No que tange à tecnologia, quais são os benefícios e desvantagens do 
aceleramento inovador no campo tecnológico? A inovação amplia ou reduz os 
níveis de empregabilidade? Quais são as implicações morais da inovação 
tecnológicas? 
No que diz respeito aos procedimentos eleitorais, você é favor ou contra ao 
procedimento eleitoral do voto obrigatório? Sim, não, talvez? Por quê? 
Enfim, um sem número de questões pode ser levantado, reconhecendo 
igualmente que certamente a nossa opinião será comandada por nossos valores 
morais, os quais aprendemos como os nossos pares e no convívio social. Isto não 
significa que não tenhamos a possibilidade de questionamento dos valores 
herdados pelos antepassados, como discutimos na aula anterior. Pois, os valores 
são continuamente refeitos, reconfigurados, adaptados ao longo da história. A 
história da humanidade pressupõe um contínuo processo de permanência e 
conservação de valores, mas também de transformação e de mudanças. Os 
valores também não estão isentos de tal processo eminentemente humano e 
social. 
Jonhson (1997, p. 154) acrescenta que sob o ponto de vista sociológico o 
comportamento moral apresenta quatro características básicas; a seguir: 
1) Jamais tem o interesse pessoal do ator como objetivo principal; 2) inclui um 
aspecto de comando, o que faz com que todas as pessoas sintam obrigação de fazer o 
que é certo; 3) é vivenciado como sendo desejável e dele se tira certa satisfação e 
prazer; 4) é considerado como sendo sagrado, no sentido em que sua autoridade, é 
experimentada como além do controle humano. 
O mores, distintamente de outras normas, são apresentados “como imutáveis 
e inerentes à vida social, e não como uma criação social sujeita a mudança” (p. 
154). Jonhson (1997, p. 154) exemplifica tal contexto como o assassinato que 
“não pode ser legalizado sem romper a estrutura moral da sociedade ou então 
precisa ser apresentado como outra coisa que não o homicídio”. Em verdade, os 
mores representam os valores essenciais sem os quais a sociedade estaria em 
constante risco. 
 A ação moral pode ser classificada em duas perspectivas, ou seja, a esfera 
normativa e a esfera fatual. (ARANHA E MARTINS, 2003) 
No que concerne ao campo normativo, são representados pelas regras de ação 
de maneira imperativa, o que podemos denominar como “dever ser”. Enquanto 
o fatual “são os atos humanos enquanto se realizam efetivamente” (2003, p. 
303). 
Afirmamos, portanto, que as normas são representadas, por exemplo, nas 
seguintes considerações “Não fale palavrão”; “Fale a verdade” ou “respeite ao 
pai e a mãe”. O fatual é, então, representado pela efetivação ou não da regra 
na experiência do cotidiano. Embora diferentes, os dois campos estão 
relacionados, pois “a norma só tem sentido, se orientada para a prática, e o fatual 
só adquire contorno moral quando se refere á norma” (2003, p. 303). 
A moral também pode ser considerada como “constituída” e “constituinte”. A 
constituída é expressa pelos valores que são herdados por nós, por meio da 
família e da própria sociedade, enquanto a segunda, é representada pelo 
questionamento ou crítica dos valores herdados. Tal quadro demonstra que, 
como já comentamos anteriormente, a moral tem um caráter dinâmico e de 
transformação e não apenas de conservação e de permanência (ARRUDA & 
ARANHA, p. 118). 
Marcondes (2009), ao abordar em torno da sociedade brasileira, afirma que entre 
nós prevaleceu uma dicotomia básica ao longo do século XX, representando 
consequentemente duas visões de mundo bastante diferentes; a seguir: a moral 
tradicional e o pensamento de esquerda. 
Compreende-se por moral tradicional um conjunto de valores representados 
pela nossa formação histórica cristã, em especial católica, pois o crescimento 
evangélico é relativamente recente quando comparado ao catolicismo em nossa 
sociedade. A ideia central na referida visão é que a referência da ética para a 
sociedade deve ser a ética cristã. Como o nome diz, a moral tradicional tende a 
enfatizar os valores tradicionais e a enfatizar os procedimentos constitutivos da 
tradição como a família nuclear. No embate entre mudança/transformação e 
conservação/continuidade, a moral tradicional tende a privilegiar as alterações 
sociais em relação ao que permanece. (MARCONDES, 2009) 
O chamado pensamento de esquerda é expresso por pensadores, filósofos e 
cientistas sociais que consideram que a questão ética é secundária, sendo tal 
questão incapaz de dar conta da transformação efetiva da sociedade. Consideram 
que é através da análise econômica e política que seria possível entender a 
questão ética na sociedade brasileira e modificá-la. (MARCONDES, 2009). 
OS VALORES 
Segundo o Dicionário do Pensamento Social do Século XX (1996) os valores tem 
sido objeto de investigação em três áreas da teoria social. 
Em primeiro lugar, apresentam-se como objeto de investigação, como nas recentes 
discussões de valor dos valores materialistas e pós-materialistas entre as populações de 
sociedades capitalistas avançadas. Em segundo lugar, constituem uma categoria 
central para algumas perspectivas teóricas em sociologia... Em terceiro lugar, a teoria 
social trata o problema filosófico de relação entre enunciados factuais e avaliatórios em 
reflexões metodológicas que suscitam questões fundamentais em torno das relações 
entre teoria social sistemática e orientações e compromisso normativos de várias 
espécies. (p.791) 
Aranha e Martins (2003) ao abordarem a dinâmica dos valores apresentam uma 
breve distinção entre as duas categorias. Juízos de realidade se referem 
quando partimos do pressuposto que as pessoas e os objetos existem e são 
concretos e reais. Já em relação aos Juízos de valor, estes dizem respeito 
quando atribuímos uma qualidade ou consideração sobre objetos e pessoas, 
gerando “atração ou repulsa” (2003, p. 300). 
A questão dos valores está relacionada à afetividade, ao apontarem que “somos 
afetados de alguma forma por eles (os valores), porque nos atraem ou provocam 
nossa repulsa. Portanto, algo possui valor quando não permitam que 
permaneçamos indiferentes” (2003, p. 300). Acrescentam,ainda que os valores 
não “são”, mas “valem”. 
Os valores são, num primeiro momento, herdado por nós. Ao nascermos, o mundo 
cultural é um sistema de significados já estabelecidos, de tal modo que aprendemos 
desde cedo como nos comportar à mesa, na rua, diante de estranhos, como, quando, e 
quanto falar em determinadas circunstancias; como andar, correr, brincar, como cobrir 
o corpo e quando desnudá-lo; qual o padrão de beleza; que direitos e deveres temos. 
Conforme atendemos ou transgredimos os padrões, os comportamentos são avaliados 
bons ou maus. (ARANHA E MARTINS, 2003, p. 300) 
Portanto, é por meio dos valores que apreciamos as coisas e pessoas, que 
consideramos bonito ou feio uma determinada conduta, ou seja, é por meio de 
valores que pautamos nossas práticas. Em verdade, sem valores não existem 
vida social. 
Marcondes (2009) elabora um breve histórico da política na cultura brasileira e 
contextualiza o que considera a crise ética do século XX. A tese central tem como 
argumento que as amplas mudanças políticas, econômicas e tecnológicas 
acarretaram uma crise ética que pode ser caracterizada sobre o que é certo e 
errado, bem ou mal. Conclui, então, que os processos de mudança em geral 
ocasionam uma crise moral ou de valores. 
Considerando o Brasil, nas últimas décadas do século XX, vivenciamos ao longo 
dos anos 60 e 70 um regime autoritário gerando uma série de restrições de 
direitos civis e políticos. 
O fim da ditadura veio acompanhado de uma crise econômica, constatando-se 
que a redemocratização ao longo do final dos anos 70 e em toda a década de 
80 esteve associada a crise econômica. Os economistas qualificaram o termo 
estagflação, que caracterizaria uma sociedade pelo declínio do processo 
econômico em um contexto recessivo e de aumento inflacionário, resultando 
grave crise social como desemprego e aumento da desigualdade social. 
O contexto de crise econômica gerou uma crise ética acirrando a corrupção 
conforme Giannetti citado por Marcondes (2009). 
A desorganização econômica vivida no final dos anos 1980 e início dos 1990, gerando 
desemprego e falta de oportunidades, provocou o descrédito das instituições e a 
justificativa de que cada um deve ‘se virar como pode’, para poder sobreviver a ‘lei da 
selva’, com o crescimento do subemprego e da economia informal. Práticas como 
‘jeitinho’ e ‘levar vantagem’ que caracterizam notoriamente a falta de ética e 
oportunismo, se generalizam nesses contextos de informalidade. (MARCONDES, 2009). 
Marcondes (2009) aponta, todavia, que a corrupção e a falta de ética não são 
exclusivas dos países menos desenvolvidos, sendo encontradas nas nações mais 
desenvolvidas. Mas acrescenta que a forma que tais casos são abordados é que 
constitui o principal critério da preponderância da ética em uma determinada 
realidade social. 
No que tange à crise ética, o autor aponta que nos deparamos com duas atitudes 
e procedimentos. De um lado encontramos o fenômeno “nostalgia do 
passado”, que se revela em um sentimento de perda de valores e se traduz em 
observações do tipo “no passado era melhor”, relevando uma visão nostálgica e 
de certo modo ilusória que considera que tudo o que é do passado é melhor do 
que está sendo vivenciado na atualidade. (MARCONDES, 2009). Tais visões 
limitam compreensão da ética e suas implicações sociais políticas e históricas. 
A ideia de “necessidade de mudanças” representaria uma visão de 
amadurecimento político, na realidade “o sentimento de que há mais escândalos 
hoje do que no passado resulta de que hoje somos talvez menos tolerantes com 
esse tipo de falta, há menos censura, o sucesso de denúncias e investigações 
leva a novas denúncias”. (MARCONDES, 2009, p. 41). Por esta visão o aumento 
da corrupção representaria uma maior preocupação com ética no meio social, 
uma maior divulgação através dos meios de comunicação e não ao contrário. 
Outra abordagem apontada por Marcondes (2009) trata das implicações da crise 
ética como “ser paralisante”. Esta postura resultaria em uma visão de que a 
crise ética na teria solução e que a sua resolução estaria fora das atribuições 
humanas, resultando em uma postura fatalista ou derrotista. 
Marcondes (2009) trata também da aplicabilidade da ética nos vários campos de 
atuação, quer público, quer privado. Destaca que a “ética deve ser integral, de 
que não é possível ser ético apenas em alguns aspectos de nossas condutas, de 
que a ética não pode ser compartimentalizada.” (p.43). 
Tanto a crise ética como algo paralisante como a ideia da ética não podendo ser 
fragmentada – revelam situações reais e as consequências sobre a vida de cada 
um de nós enquanto seres individuais, mas também como seres inseridos na 
sociedade.. 
REFLETIR SOBRE AS IMPLICAÇÕES ÉTICAS EM TORNO DA IGUALDADE. 
 
Conforme o Dicionário do Pensamento Social do Século XX (1996), a concepção 
de que as sociedades deveriam reconhecer que os seus membros deveriam ser 
tratados de modo igualitário tornou-se uma questão central no século XX. 
Entretanto, tal concepção – de que os seres humanos são iguais – não é recente, 
estando presente, por exemplo, por meio das visões religiosas que apontam que 
todos os seres humanos são filhos de Deus. 
Na realidade, para Aristóteles a igualdade se constitui como essência da justiça, 
porque considera que o ser humano injusto é o que rompe com o princípio da 
igualdade, associando, portanto, a desigualdade ao comportamento injusto. 
(COMPARATO, 2006) 
Segundo Bobbio (2000) a igualdade pode ser aordada quando nos referimos a 
determinadas características individuais, “quer da distribuição feita por alguém 
pelo menos entre outros dois, quer ainda das normas que estabelecem como tal 
distribuição há de ser efetuada” (p. 597). 
Bobbio (2000, p. 598) conclui que: 
Igualdade e desigualdade são, sem dúvida, conceitos descritivos. Com efeito, que 
A e B tenham a mesma idade, nacionalidade ou rendimentos é coisa que pode 
empiricamente verificar-se; tanto como a afirmação de que A tem maior 
habilidade ou aptidão que B. Estas asserções, descritivas e não normativas, têm 
sido chamadas juízos distintos de valores. 
Em função da decadência das bases que fundavam o sistema hierárquico rígido 
do Antigo Regime, ocorreu a expansão das ideias de igualdade como algo prático 
e real, sobretudo na defesa de que todos são iguais perante as leis e que têm 
direitos iguais no campo da participação política. (DICIONÁRIO DO PENSAMENTO 
SOCIAL DO SÉCULO XX, 1996). 
Em um sentido mais amplo a igualdade social tem como base a noção de que os 
indivíduos devem ser tratados como iguais em todas as áreas que interferem nas 
suas oportunidades, como a educação, o mercado detrabalho, o consumo e 
acesso aos bens sociais. 
Importante sistematização da questão da igualdade é elaborada por Turner 
citado por Vargas (2009) através da indicação de quatro circunstâncias em que 
a igualdade é colocada como uma questão; a seguir: 
A igualdade ontológica é referente aos sistemas morais e religiosos como o 
cristianismo tradicional e o marxismo humanista. 
A igualdade de oportunidade destaca que o acesso às instituições sociais é 
livremente aberto a todos as pessoas por meio de critérios universais como a 
meritocracia, o talento pessoal e o desempenho. (VARGAS, 2009) 
A igualdade de condições aponta que os indivíduos têm a mesma quantidade 
de capital econômico, social e cultural, no reconhecimento de que os que estão 
competindo pelos ganhos sociais devem iniciar do mesmo ponto e com iguais 
vantagens (VARGAS, 2009) 
Finalmente, Vargas (2009, p. 108) cita a igualdade de resultado, reconhece 
que a “transformação de desigualdadesno ponto de partida em igualdade de 
conclusão”, cujo principal exemplo são os programas de cotas de cunho social e 
étnico. 
Dois outros desdobramentos ocorrem quando abordamos a questão da 
igualdade, de um lado, a questão da desigualdade e, de outro, a questão da 
estratificação. 
A estratificação é entendida como o sistema social por meio do qual os bens 
como riqueza, poder e prestígio são distribuídos de modo desigual no interior ou 
entre as sociedades. A estratificação ocorre, por meio da diferenciação dos 
indivíduos em categoriais coletivas como sexo, raça e classe social (JOHNSON, 
1997). 
A estratificação pode também assumir a forma de casta que “são categorias 
rígidas determinadas por ocasião do nascimento e não permitem mobilidade de 
uma casta a outra” (JOHNSON, 1997, 95). Tal sistema está presente na Índia e, 
de certo modo, em contextos sociais de preconceito racial como foram os casos 
dos EUA e da África do Sul. 
Ao contrário do modelo de castas, o sistema de classes “dão menos ênfase a 
características imputáveis, tais como raça e antecedentes familiares, e mais 
critérios universalistas, como grau atingido de educação” (JOHNSON, 1997, 95), 
garantindo um maior grau de mobilidade social. 
Para antropologia interessante discussão que perpassa a questão da igualdade é 
a que diz respeito à noção de “indivíduo” e de “pessoa”. Sobretudo, quando se 
quer entender o ethos social brasileiro, seu modo de vida não apenas no que 
concerne às leis, mas no que interessa ao entendimento da vida social e concreta 
mais ampla. 
A noção de pessoa remete à hierarquia, à rede de relações pessoais, típicas das 
sociedades tradicionais. A noção de indivíduo remete à igualdade, ao modo de 
vida impessoal, típicas das sociedades modernas. A primeira resulta em um modo 
de vida pouco ou nada igualitário, enquanto à segunda seria a expressão máxima 
da igualdade, pautada que é no ideário da lei igual para todos, sem privilégios 
individuais, grupais ou corporativos. 
Sintetizando, enquanto a noção de indivíduo revela um ente livre e que tem 
direito a um espaço próprio, é igual aos demais indivíduos e produz as regras da 
sociedade em que vive, a noção pessoa está vinculada à totalidade social, sendo 
complementar aos demais indivíduos e que estes recebem as regras da sociedade 
em que estão inseridos (DA MATTA, 1981) 
Da Matta, (1981), destaca na sociedade brasileira o famoso “Você sabe com que 
está falando?” como expressão de uma sociedade, como brasileira, com traços 
de hierarquização das relações sociais, expressão da noção de pessoa se 
revelando nas relações sociais. 
No Brasil, as leis tenderiam à igualdade, mas a vida social mais ampla tenderia 
aos arranjos pessoais, hierárquicos, tais como o “jeitinho” e o “Você sabe com 
quem está falando?”. Este país, diferentemente da experiência norte-americana 
que tenderia ao individualismo e à igualdade, valores e práticas típicas da referida 
sociedade. 
 Na sociedade brasileira, especificamente, viveríamos um contínuo embate entre 
leis relativamente igualitárias e práticas e atitudes que nos levariam a uma 
maneira de viver pouco igualitária. Tal situação se revelaria em uma tensão que 
as leis são ou não aplicadas conforme o contexto de cada situação, em função 
do status dos indivíduos envolvidos. 
Finalizando nosso estudo não há uma única e exclusiva ideia de igualdade quando 
se trata das abordagens teóricas que investigam a dinâmica igualdade e 
desigualdade em função da própria complexidade do assunto. Há, contudo, um 
consenso que é o reconhecimento da necessidade de redução dos níveis de 
desigualdade. Embora, não haja um consenso teórico e nem político como deve 
ser reduzida a desigualdade social. Eis um dos maiores dilemas das sociedades. 
 
REFLETIR SOBRE AS IMPLICAÇÕES ÉTICAS EM TORNO DA LIBERDADE 
 
Inúmeras abordagens podem ser elaboradas sobre a liberdade, desde aquelas 
que associam ao comportamento livre de qualquer restrição, quer individual ou 
social, até as considerações que associam ao controle social. 
Quando abordamos a liberdade devemos pergunta a qual tipo estamos nos 
referindo, a liberdade individual, social, política ou religiosa? A liberdade 
individual nos daria o direito de tudo poder fazer? Em que medida, por exemplo, 
a liberdade individual entra em choque com os direitos e interesses de terceiros? 
Assim, podemos considerar que ao longo da história a liberdade vem sendo uma 
questão central para entender o comportamento humano e a organização das 
sociedades. Isto quer dizer que ao longo da história a compreensão da liberdade 
sofreu alterações, assim como na atualidade os níveis de liberdade individual, por 
exemplo, variam de sociedade em sociedade. 
A liberdade, tal como a igualdade, é tão crucial que por meio dela podemos 
qualificar se determinado regime político é ou não democrático ou se uma 
empresa é mais ou menos autocrática. 
No que concerne às sociedades os níveis de igualdade estarão condicionados 
pela formação econômica, social e cultural da sociedade. 
Sendo assim, podemos considerar que existem sociedades e ou organizações que 
promovem uma maior liberdade para os seus componentes, enquanto outras 
limitam mais a sua ação. 
A abordagem de Aranha e Martins (2003, p. 316) acerca dos meandros da 
liberdade é bastante pertinente, ao afirmar que pelo senso comum a liberdade 
está associada a tudo poder fazer, sem constrangimentos. 
Mas podemos considerar a liberdade em sentidos mais amplos, por exemplo, no 
âmbito da política, da economia, das leis, da sociedade, dos espaços específicos 
em que os indivíduos se relacionam entre si no exercício do poder, dos negócios, 
do direito, no convívio pessoal. Embora esses campos tenham suas características 
próprias, em todos eles perpassa a liberdade ética, que diz respeito ao sujeito 
moral, capaz de decidir com autonomia em relação a si mesmo e aos outros. 
Confirmando a afirmação acima que considera que a liberdade é uma categoria 
com múltiplos sentidos, podemos conforme o Dicionário do Pensamento social 
do Século XX (1996) considerá-la como “positiva” e “negativa”. 
Conforme Lewis citado pelo referido Dicionário (1996), na concepção negativa 
“a liberdade significa a ausência de restrição desnecessária ou danos”. (p. 424), 
ou em um sentido mais amplo, conforme Berlin apud Dicionário (1996) livre “da 
interferência deliberada de outros seres humanos em uma área em que, não 
fosse isso, eu poderia atuar” (p. 424) 
A referida visão foi entendida entre os pensadores liberais como J. S. Mill e Alexis 
Tocqueville ao apontarem a necessidade que algumas restrições legais são 
necessárias visando a preservação de outros valores sociais mais amplos. 
A perspectiva positiva da liberdade é expressa pela propriedade de direitos 
cujo uso é “benéfico para aquele que os possui” (p.424). Na atualidade podemos 
acrescentar que a ideia de liberdade está cada vez mais associada à concepção 
de cidadania, resultando o estabelecimento dos chamados direitos civis, políticos 
e sociais. Há, portanto, o reconhecimento que quando tratamos de liberdade não 
podemos restringir a uma concepção puramente abstrata, mas como algo que se 
mede e se efetua no exercício dos indivíduos inseridos no cotidiano social 
(DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX, 1996). 
Portanto, o sentido negativo de liberdade está “preocupado com as forças que 
restringem os indivíduos de modos e graus diferentes de acordo com sua posição 
social” (p.525), enquanto o segundo – o positivo – trata “das possibilidades de 
auto realização e auto comando, igualmente variáveis de acordo com as 
circunstâncias sociais” (p. 525). O primeiro se expressana inexistência de 
coerção, o segundo ocorre pela possibilidade de plena realização pessoal. 
É possível também classificar a liberdade enquanto individual ou como 
coletiva. 
Os movimentos sociais reivindicatórios de base nacional, de classe ou em relação 
aos grupos minoritários assumem causas em favor de grande número de 
pessoas, estando também relacionados à garantias de determinados tipos de 
liberdade individual, resultando no reconhecimento que quando tratamos de 
liberdade torna-se necessário um conjunto de instituições que garantam seu 
exercício. (DICIONÁRIO DO PENSAMENTO SOCIAL DO SÉCULO XX, 1996). 
Se por um lado, pode ser constatado que as pessoas não “nascem livres”, pois 
ao nascerem estão sendo inseridos em um determinado contexto social, cultural 
e político que certamente influenciará seus pensamentos e atitudes. Por outro 
lado, tal consideração não deve ser tomada de modo rígido, pois as pessoas de 
modo associativo podem questionar a ordem vigente e lutar em favor da 
ampliação dos níveis de liberdade e de mudanças na vida social mais ampla. 
Não podemos deixar de reconhecer que os chamados direitos sociais que 
incluíram a melhoria de vida das populações (educação, saúde, por exemplo) 
foram inaugurados, executados ou ampliados, de certo modo, à custa de 
restrições à liberdade individual. 
Na realidade, a liberdade individual ou de determinados grupos tem como 
resultado a limitação da liberdade de outros, pois a vida das pessoas tem uma 
base social, necessitando de um contínuo debate em função dos interesses 
individuais e sociais. 
Apesar da proteção às liberdades individuais ser uma das bases das constituições 
democráticas, não há um consenso sobre o que é considerado liberdade e saber 
o quanto de liberdade dever ser atribuído aos indivíduos. (BLACKBURN, 1997) 
Quando tratamos de liberdade de expressão, a primeira questão é saber o 
significado de expressão, pois pode ser considerado tanto expor uma obra em 
uma galeria de arte, assim como expor uma opinião política. Entretanto, 
determinadas maneiras de expressão como gritar “socorro” em um local fechado 
ou mandar alguém cometer um crime sobre alguém não tem um respaldo legal. 
A perspectiva positiva da liberdade de expressão refere-se ao fato de trazer 
benefícios próprios, quer por meio da verdade ou equivoco, quer como um 
elemento importante para o processo de tomada de decisão política. Uma 
justificativa negativa da liberdade é o de que os efeitos causados pelo uso da 
capacidade de expressão são de alguma forma, menos significativos que os 
causados por outros comportamentos (BLACKBURN, 1997) 
Aranha & Martins (2003) apontam interessante debate no campo filosófico em 
torno do que denominamos de determinismo e liberdade. 
Sob a perspectiva científica, “tudo que existe em uma causa”, trata-se do mundo 
da necessidade e da não liberdade. A base da ciência é o determinismo, sem o 
qual seria impossível o estabelecimento das leis gerais. Se tudo fosse contingente 
não haveria ciência. A livre escolha humana, portanto, seria um sonho, pois 
escolhemos e decidimos em função de um determinado contexto dado. 
Questionando esta opinião - a do determinismo - existem algumas teses que 
enfatizam em diferentes níveis, justamente o contrário. 
O argumento da “Liberdade incondicional” – ou seja – sem condição indica 
que ser “livre é decidir e agir como se quer, sem determinação causal, seja 
exterior (ambiente em que se vive), seja interior (desejos, motivações 
psicológicas e caráter).” (ARANHA & MARTINS, 2003, p. 318). Ainda que 
possamos reconhecer que tais forças internas e externas possam existir “o ato 
livre pertenceria a uma esfera independente em que se perfaz a liberdade 
humana. Ser livre e, portanto, ser incausado.” (p. 318). 
A tese da “Consciência e Liberdade” aponta que existem influências históricas, 
espaciais e culturais que determinam os indivíduos. Contudo, por serem seres 
conscientes os indivíduos são capazes de conhecer e compreender a ordem dos 
determinismos, permitindo, assim, que ao conhecer as causas dos fenômenos 
possam agir sobre a natureza e sobre os homens, buscando a mudança ou 
alteração de ambos. (ARANHA & MARTINS, 2003, p. 320). 
A perspectiva da “Liberdade situada” destaca que a questão da liberdade não 
se traduz em uma perspectiva abstrata ou teórica, mas nas relações sociais entre 
os indivíduos (ARANHA & MARTINS, 2003). 
Isto significa que o ser humano se situa no mundo com um corpo, com 
determinadas características e condições pessoais, familiares, sociais. Entretanto, 
o ser humano é capaz de ir além das determinações, não negando-as, mas 
dando-lhe um significado. (ARANHA & MARTINS, 2003). 
Portanto, quer compreendamos a liberdade no sentido sócio-histórico, quer 
possamos analisá-la sob a uma visão de natureza filosófica e suas múltiplas 
interpretações, há que se reconhecer que a discussão sobre a liberdade tem base 
social, a liberdade é social, e não exclusivamente individual. (ARANHA & 
MARTINS, 2003, p. 321). 
Confirmando esta visão, Comparato (2006) afirma que a a liberdade não se dá 
por meio do isolamento, mas, nas relações entre os indivíduos e sociedades que 
se veem como dependentes, em um contexto “de igualdade de direitos e 
deveres” (p.537) 
 
AUDITOR MÉDICO NO SISTEMA DE SAÚDE NACIONAL 
 
O auditor é habilitado pela sua competência, possui postura e credibilidade 
profissional necessária para exercer sua função. 
A auditoria dos eventos de saúde constitui mecanismos de controle e avaliação 
dos recursos e procedimentos adotados. Que objetiva resolubilidade e melhor 
qualidade da prestação dos serviços. 
A auditoria médica se distingue como ato médico e exige conhecimento técnico 
da profissão. Loverdos (1999) esclarece que a auditoria médica consiste em uma 
análise, à luz das boas práticas de assistência à saúde e do contrato entre as 
partes: paciente, médico, hospital e patrocinador do evento, dos procedimentos 
executados, aferindo sua execução e conferindo os valores cobrados para 
garantir que o pagamento seja justo e correto acompanhado de qualidade do 
atendimento prestado ao paciente. 
A auditoria médica realiza a revisão, perícia, intervenções e exames de contas 
de serviços ou procedimentos prestados por estabelecimentos de saúde. A 
auditoria médica é executada por auditores ligados a um prestador de saúde e 
operadoras de planos de saúde (agente financeiro) responsável pelo pagamento 
das contas hospitalares e ambulatoriais. 
Para a fiscalização da prática dos atos médicos o Conselho Federal de Medicina 
– CFM publicou a Resolução nº 1.614, de 08/02/2001, que determina que o 
médico designado a auditor deve estar regularizado no Conselho Regional de 
Medicina - CRM, na jurisdição onde presta seu serviço. 
A Resolução do CFM define que as empresas que realizam auditoria, tem a 
obrigatoriedade de seus responsáveis técnicos estejam registrados nos CRM 
das jurisdições em que seus contratantes atuam. 
A função do auditor médico exige o sigilo profissional, devendo sempre anotar 
por escrito suas observações, conclusões e recomendações. Durante a 
realização do seu trabalho, pode solicitar ainda os esclarecimentos necessários, 
por escrito, ao médico assistente, sendo vedado divulgá-los, exceto por justa 
causa ou dever legal. Havendo indícios de ilícito ético, o médico auditor obriga-
se a comunicá-los ao CRM. 
O auditor médico tem o direito de acessar, in loco, toda a documentação 
necessária, sendo-lhe vedada a retirada de prontuários ou cópias da instituição. 
Se necessário examina o paciente ou acompanhar procedimentos, desde que 
devidamente autorizado pelo mesmo, quando possível oupor seu representante 
legal. 
No caso de indícios de irregularidades no atendimento ao paciente em que a 
verificação necessite de análise do prontuário médico. É consentido o acesso 
aos documentos e realização de cópias para execução da auditoria. 
O auditor não poderá autorizar, vetar, bem como modificar procedimentos e 
terapêuticas indicados pelo médico assistente, salvo em situação de indiscutível 
conveniência para o paciente. Neste caso, deverá fundamentar e comunicar o 
fato, por escrito, ao médico responsável. 
Na condição de integrante de equipe multiprofissional de auditoria, o médico 
deve respeitar a liberdade e independência dos outros profissionais sem, 
todavia, permitir a quebra do sigilo médico, bem como transferir sua competência 
a outros profissionais, mesmo quando pertencentes à sua equipe. 
Não compete ao médico, na função de auditor, a aplicação de quaisquer medidas 
punitivas ao médico assistente ou instituição de saúde, cabendo-lhe somente 
recomendar as medidas corretivas em seu relatório, para o fiel cumprimento da 
prestação da assistência médica. Também não poderá propor ou intermediar 
acordos entre as partes (contratante e prestadora), que visem restrições ou 
limitações ao exercício da medicina ou aspectos pecuniários, nem ser 
remunerado ou gratificado por valores vinculados à glosa. 
A Resolução específica editada pelo CFM, o Código de Ética Médica disciplina 
a atividade do médico investido na função de auditor, especialmente nos artigos 
8º, 16, 19, 81, 108, 118 e 121. No âmbito do Sistema Único de Saúde, além dos 
preceitos éticos ora descritos, o médico auditor também deve observar o Decreto 
Federal n° 1.651, de 28/09/1995, que regulamenta o Sistema Nacional de 
Auditoria. 
 
DEFINIÇÃO DE AUDITORIA MÉDICA 
 
As deficiências do sistema público, surgiram e estão em alternativas de 
assistência médica supletiva – as medicinas de grupo, as cooperativas 
médicas, os planos de saúde, as seguradoras, os sistemas de autogestão 
privados e estatais e os planos por administração (LOVERDOS, 1999). 
 
A auditoria médica pode ser realizada de diversas maneiras, a saber: 
 
 Auditoria Médica Preventiva: realizada a fim de que os procedimentos 
sejam auditados antes que aconteçam. Geralmente está ligado ao setor de 
liberações de procedimentos ou guias do plano de saúde, e é exercida pelos 
médicos. 
 
 Auditoria Médica Operacional: é o momento no qual são auditados os 
procedimentos durante e após terem acontecido. O auditor atua junto aos 
profissionais da assistência, a fim de monitorizar o estado clínico do paciente 
internado, verificando a procedência e gerenciando o internamento, 
auxiliando na liberação de procedimentos ou materiais e medicamentos de 
alto custo, e também verificando a qualidade da assistência prestada. É nesta 
hora que o auditor pode indicar, com a anuência do médico assistente, outra 
opção de assistência médica ao usuário, como Gerenciamento de Casos 
Crônicos (LOVERDOS, 1999). 
 
 Auditoria Médica Analítica: têm-se as atividades de análise dos dados 
levantados pela Auditoria Preventiva e Operacional, e da sua comparação com 
os indicadores gerenciais e com indicadores de outras organizações. Neste 
processo, os auditores devem possuir conhecimento relacionado aos 
indicadores de saúde e administrativos, e no que tange a utilização de 
tabelas, gráficos, bancos de dados e contratos. Desta forma, são capazes de 
reunir informações relacionadas ao plano de saúde, bem como quanto aos 
problemas detectados em cada prestador de serviços de saúde. 
Consequentemente, tais análises contribuem substancialmente para a gestão 
dos recursos da organização ou empresas públicas (SOUZA; JUNQUEIRA, 
2001). 
Inclui-se na auditoria médica operacional a auditoria de contas, classificada 
como visita hospitalar de alta que ocorre após a alta hospitalar do paciente. 
Porém, ainda no ambiente hospitalar, tal processo ocorre antes desta conta 
ser enviada para a fonte pagadora, tendo o auditor a posse do prontuário 
médico completo para análise. 
Neste caso, possíveis irregularidades ou inconformidades podem ser 
negociadas antes do envio da conta hospitalar à fonte pagadora, com mútua 
e formal concordância. A outra possibilidade é da auditoria de contas ser 
realizada nas instalações da organização pagadora. 
A auditoria de contas é um processo minucioso, no qual são verificados os 
seguintes aspectos: o diagnóstico médico, os procedimentos realizados, 
exames e seus laudos, os materiais e medicamentos gastos conforme 
prescrição médica nos horários corretos, as taxas hospitalares diversas, os 
relatórios da equipe multidisciplinar, os padrões das Comissões de Controle 
de Infecção Hospitalares (CCIH) e outras comissões. 
Muitas vezes, a única fonte de informação que os auditores internos (que 
fazem auditoria nas dependências da operadora de saúde) possuem é o 
formulário de coleta de dados, que o auditor externo preenche, e que chega 
na operadora junto com a fatura hospitalar. 
A legislação prevê que é dever da equipe de enfermagem manter uma 
anotação de forma perfeita, bem como incumbência a todo pessoal de 
enfermagem da necessidade de anotar no prontuário do paciente todas as 
atividades da assistência de enfermagem. 
Devido a essas razões as anotações devem seguir uma normativa, levando 
em consideração seus aspectos legais e éticos, pois o registro em prontuário 
faz parte das obrigações legais da enfermagem, devendo qualquer erro ser 
corrigido de acordo com as normas da instituição, pois esses registros podem 
servir como facilitadores e determinantes em casos judiciais (POSSARI, 
2005). 
No campo de atuação destaca-se a auditoria em contas hospitalares, 
realizadas em prontuários, processo necessário para a qualidade do serviço, 
além da redução de desperdício de materiais e de medicamentos. Afinal, 
todos os procedimentos geram custos e o meio mais seguro para se 
comprovar e receber o valor gasto da assistência prestada, evitando glosas, 
é o registro, principalmente em se tratando de um convênio do hospital com 
operadoras de saúde (DUARTE, 1976). 
O processo de faturamento hospitalar é realizado em conjunto com a análise 
de contas com a participação direta de analistas de contas e as glosas são 
evitadas. A participação do médico e do enfermeiro auditor em evitar a glosa 
é tarefa que envolve todas as áreas, especialmente o credenciamento, que 
tem seu início na negociação e na implantação do contrato e requer da equipe 
de profissionais da saúde, ou seja, médicos e enfermeiros responsáveis pelos 
registros referentes à evolução dos prontuários (LOVERDOS, 1999). 
O fornecimento de material educativo e a educação continuada são gestos 
necessários para que haja uma constante atualização do sistema de contas 
hospitalar (OGUISSO, 2003), oferecendo como aliada a preparação, a 
informação e a atualização dos conhecimentos científicos e das habilidades 
dos profissionais de enfermagem, desenvolvendo-se o raciocínio crítico e a 
criatividade. 
O processo educativo é utilizado no trabalho em saúde com o propósito de 
mudança nas informações, atitudes ou comportamentos. Neste sentido, é 
pertinente introduzir alguns conceitos de motivações, dinâmica de grupos e 
metodologia didática, procurando assim, delinear uma estrutura geral e 
ampla quanto ao emprego do processo educativo na atividade de saúde. 
Para o professor e doutor Daniel Nunes, administrador de empresas e 
contabilista registrado no Conselho Regional de Contabilidade de 
Pernambuco, em seu artigo Auditoria Interna de Contas Médico Hospitalar, a 
atividade de Auditoria em saúde visa garantir a qualidade da assistênciamédica, respeitando as normas técnicas, éticas e administrativas. 
A função do setor não deve ser vista como um meio para a redução custos e 
sim como um aliado garantindo qualidade da assistência prestada ao paciente 
com custo adequado (NUNES, 2010). 
Por se tratar de uma atividade que envolve recursos financeiros e interesses 
conflitantes, se fazem necessários por parte da equipe: 
 
 Conhecimento técnico; 
 Compromisso com a atualização profissional; 
 Conhecimento dos processos administrativos; 
 Conhecimento das leis e códigos que regem a assistência à saúde; 
 Atuação ética. 
Se a conta hospitalar está estruturada e organizada com um plano de ação 
alicerçado em princípios éticos e morais, as ações irão refletir na redução de 
retrabalho e consequente aumento das receitas da unidade hospitalar ou do 
serviço de saúde. 
Salienta-se que determinadas atividades profissionais são exclusivas aos 
profissionais da área. Para tanto, convém ressaltar o Parecer do CFM nº 
02/1994, aprovado em 13 de janeiro de 1994, que preconiza: 
O acesso ao prontuário médico, pelo médico perito, para efeito de auditoria, 
deve ser feito dentro das dependências da instituição responsável pela sua 
posse e guarda. O médico perito tem inclusive o direito de examinar o 
paciente, para confrontar o descrito no prontuário (CFM, 1994). 
A auditoria interna tem que demonstrar para os demais setores que ela é 
parte do processo e não um mero instrumento de coerção, desenvolvendo 
treinamento e estando disponível para o auxilio quando se fizer necessário. 
A mesma tem como obrigação os pontos elencados a seguir: 
• Analisar os procedimentos de alto custo, órtese e materiais especiais; 
• Analisar os prontuários, exames, prescrições e documentos; 
• Identificar irregularidades (negociação de glosas); 
• Atuar preventivamente junto aos setores envolvidos; 
• Constatar se os serviços cobrados são compatíveis com os realizados (na 
fatura hospitalar e seus elementos, diárias, taxas, materiais, medicamentos, 
etc); 
• Efetuar pré-análise e pós-pagamento da fatura médica; 
• Fornecer relatórios gerenciais; 
• Evitar cobranças indevidas (tabelas hospitalares); 
• Melhorar a assistência ao associado ou a seu dependente (qualidade de 
atendimento). 
As ações apresentadas repercutir significativamente dentro da unidade 
hospitalar ou serviço de saúde de forma positiva, fazendo com que a atenção 
e prestação dos serviços ofertados ao paciente/cliente e familiares tenham 
sido realizados com maior segurança e a qualidade necessária, apresentando 
na fatura médico e hospitalar apenas o que se fez necessário, evitando-se 
desperdício de efetivo humano e material, entre tantos outros fatores. 
Portanto a função da auditoria não pode ser confundida com atividade 
fiscalizadora. A atribuição do auditor deve restringir-se à análise dos 
prontuários médicos, entrevistas e exame do paciente quando necessário e 
elaboração de relatório de auditoria. 
O diretor clínico do hospital deve ser notificado da presença do médico auditor 
e de sua identificação, que por sua vez comunicará aos colegas do corpo 
clínico da instituição. O horário ideal para a atividade da auditoria é o 
comercial, não sendo de boa prática técnica e ética auditar durante a noite. 
CÓDIGO DE ÉTICA DO PROFISSIONAL MÉDICO ATRELANDO OS 
ASPECTOS DA ÉTICA MÉDICA, NO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DA 
AUDITORIA 
 
A ética pode ser entendida como a área da filosofia que estuda os fundamentos 
e princípios dos aspectos morais da vida. A filosofia grega, em seus primórdios, 
buscava encontrar a natureza do bem no comportamento humano, com o 
objetivo de identificar um princípio absoluto de conduta e atitude perante os 
dilemas morais da condição humana. 
Aristóteles foi o primeiro pensador grego a estudar os fundamentos da Ética de 
maneira sistemática na obra A Ética a Nicômaco. Nesse trabalho, o filósofo 
indica a vida ideal como sendo aquela repleta de vivências com virtudes, o que 
levaria à felicidade. Assim, percebe-se que, desde os seus primórdios, a ética é 
uma ciência prática e normativa que estuda a moralidade dos atos humanos e 
norteia-se pela razão natural do homem. 
A ética é totalmente atrelada à condição humana e pressupõe a reflexão e 
tomada de decisões sobre dilemas que envolvem a vida das pessoas. A ética 
entra no campo das normatizações e dos códigos de conduta, em que se 
estabelecem os deveres das pessoas ante as expectativas sociais. 
As normas de conduta e os códigos deontológicos são resultados do consenso 
social em relação aos dilemas mais comuns que permeiam determinado grupo 
social, pois as relações entre as pessoas necessitam ser intermediadas por leis, 
resoluções e códigos de comportamento. Portanto, os códigos de Ética são 
consensos que regem diferentes tipos de condutas (FIGUEIREDO, 2008, p. 1-
9). 
Na medicina, a ética surge com o princípio hipocrático primum non nocere 
(primeiro, não causar o mal), norteador da prática clínica até hoje, e que coloca 
os interesses dos pacientes sempre em primeiro lugar. 
Desde o juramento de Hipócrates já se tornava evidente também o compromisso 
dos médicos com seus colegas de profissão e com a sociedade como um todo. 
Assim, a ética médica pode ser definida como um conjunto dos estudos dos 
direitos e deveres dos médicos ante sua atuação profissional (COHEN; SEGRE, 
1999). 
Neste entendimento a ética médica tem como função determinar as normas 
necessárias para a atuação profissional dentro dos limites da retidão. 
A atividade clínica na medicina pode ser dividida em dois tipos, ou seja, a prática 
clínica e a pesquisa clínica (GRACIA, 2001). A prática clínica é definida como 
qualquer ato realizado no corpo de um paciente com o objetivo de diagnosticar 
e tratar suas doenças. A pesquisa clínica tem como objetivo investigar os mais 
diversos aspectos relacionados à saúde do ser humano, podendo ser conduzida 
tanto em indivíduos saudáveis, como também em indivíduos doentes (GRACIA, 
2001). 
O Código de Ética Médica mais antigo é o tradicional juramento de Hipócrates, 
apesar dos 25 séculos de história, e seus princípios permanecem vivos até os 
dias de hoje. No entanto, o inglês Thomas Percival é visto como o pioneiro na 
elaboração daquele que é considerado o primeiro código de ética médica da era 
moderna, que data do final do século xviii. Motivado pelo clima de tensão e 
desentendimentos no meio hospitalar em Manchester, Inglaterra, e na tentativa 
de normatizar o ambiente de trabalho médico, o primeiro código de ética médica 
tinha como objetivo final eliminar conflitos profissionais, moralizar a profissão e 
contribuir na formação do caráter dos médicos. O código de Ética de Thomas 
Percival teve sua versão final publicada em 1803 e atendia aos princípios básicos 
que um código de ética profissional deve cumprir, a saber, orientar seus 
membros sobre os princípios morais de conduta em sua prática profissional 
(NEVES, 2006). 
Distintas organizações nacionais e internacionais passaram a elaborar códigos 
normativos de conduta para os médicos. Destacam-se a Declaração de 
Nuremberg (1946), a Declaração de Genebra (1948), o Código Internacional de 
Ética Médica (1949), a Declaração de Helsinque, adotada em 1964 e revisada 
em Tóquio em 1975, e os Princípios de Ética Médica Relativos à Tortura e 
Crueldade com Prisioneiros e Detentos, das Nações Unidas (1983). De um modo 
geral, todos estes códigos enfocam primordialmente o bem-estar e a defesa dos 
direitos dos pacientes (MARTIN, 1993). 
Os códigos de ética médica têm fornecido um regimento norteador das 
atividades médicas, apresentando tanto um enfoque educativo como punitivo,sendo que ambas as abordagens levam à construção e fortalecimento da 
cidadania. 
Os códigos de ética médica brasileiros surgiram a partir da criação do Conselho 
Federal de Medicina, em meados do século XX, e tiveram suas raízes históricas 
na tradição hipocrática e evoluíram incorporando o desenvolvimento técnico-
científico e social. 
No País, os Conselhos Federal e Regionais de Medicina são responsáveis por 
interpretar e julgar as ações dos médicos, quando do seu exercício profissional, 
à luz das normas éticas de conduta contidas no Código de Ética Médica vigente. 
A primeira organização brasileira que se preocupou com as questões normativas 
do exercício da Medicina foi a Academia Nacional de Medicina, fundada em 1829 
com o nome de Sociedade de Medicina. Seu primeiro decreto sobre o exercício 
legal da profissão médica data de 1851 (NEVES, 2006). 
A primeira publicação do Código de Ética Médica no Brasil ocorreu em 1867, por 
meio de uma versão para o português do Código da Associação Médica 
Americana (MARTIN, 1993). 
Os capítulos do código abordavam temas relacionados aos deveres dos médicos 
para com seus pacientes, obrigações dos pacientes para com os médicos, 
deveres dos médicos entre si e para com a profissão em geral, deveres dos 
médicos quando um interfere no campo de atuação do outro, deveres do médico 
para com o público e obrigações do público para com a profissão médica. 
Em 1929, o Sindicato Médico Brasileiro publicou o Boletim do Syndicato Médico 
Brasileiro, que era uma tradução do Código de Moral Médica (1929) aprovado 
pelo Congresso Médico Latino-Americano. Este Código abordava temas muito 
parecidos com aqueles tratados na primeira publicação do código de Ética 
Medica no Brasil (MARTIN, 1993). 
Dois anos depois, em 1931, foi aprovado o “Código de Deontologia Médica” 
(1931) que se assemelhava muito ao anterior, mas apresentava como novidade 
a incorporação de temas que relacionavam a atuação médica e suas possíveis 
implicações judiciais (NEVES, 2006). 
O próximo código brasileiro de conduta médica foi o Código Brasileiro de 
Deontologia Médica de 1945, que apresentava o modelo da relação médico-
paciente caracterizado pelo paternalismo benigno, que era marcado pela 
solidariedade e fraternidade do médico para com o paciente. Este modelo foi 
dominante por muito tempo não apenas no Brasil, e estava de acordo com os 
preceitos éticos da época, em que prevaleciam os valores e decisões do médico 
sobre os dos pacientes (MARTIN, 1993). 
O Código de 1953 estabeleceu o então recém-criado Conselho Federal de 
Medicina como o responsável pelo julgamento de violações éticas ocorridas 
quando da prática clínica médica. Neste Código, o paternalismo se encontrava 
enfraquecido, sendo retirados os artigos que infantilizavam os pacientes e faziam 
referência ao médico como pai ou educador. 
Sob a égide do Conselho Federal de Medicina, foram criados os códigos de Ética 
Médica de 1965, 1984, 1988 e o contemporâneo de 2010. O Código de Ética 
Médica teve importância grande na construção da cidadania brasileira, 
incorporando o respeito e a defesa de vários direitos dos pacientes, no contexto 
do processo de redemocratização do Brasil. 
O Código de Ética Médica, que vigora desde o dia 13 de abril de 2010, apresenta 
uma série de modificações no enfoque das questões clínicas enfrentadas pelos 
médicos em sua prática profissional. 
A auditoria médica tem sua importância, pois nos últimos anos tem sido 
valorizada com o aprimoramento da regulação do sistema de saúde do Brasil, 
seja no sistema público de saúde e sistema suplementar. Os médicos que 
desempenham a atividade de auditor, gradativamente foram dedicando mais 
tempo ao seu estudo e aperfeiçoamento. 
O médico auditor passou a desempenhar importante papel de regulador entre a 
qualidade dos serviços prestados e seus respectivos custos, constituindo o fator 
que estabelece o equilíbrio. 
Por inúmeros interesses começaram a ser monitorados os conflitos e surgiram 
consequentemente, várias infrações ao Código de Ética Médica (CEM). 
Por essa razão seguiram-se, diversos pareceres dos Conselhos Regionais de 
Medicina (CRMs) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre como deveria 
proceder ao auditor e contatou-se que quase todos os artigos do Conselho 
Federal de Medicina são citados, especialmente estabelecendo o que é 
permitido ou vedado aos médicos auditores e assistentes. 
Destacam-se alguns pareceres que são específicos e emitidos em resposta às 
consultas dos Conselhos Regionais e do próprio Sistema Único de Saúde (SUS), 
assim segue: 
 Parecer nº 02/1994 do CFM referente ao fornecimento do prontuário para 
auditoria. 
 Parecer nº 03/1994 do CFM trata-se da visita a pacientes hospitalizados, 
à beira do leito, por auditores. 
 Parecer nº 21/1994 do CFM relaciona-se com o encaminhamento de 
prontuários médicos para a auditoria do SUS. 
 Parecer nº 01/1996 do CFM relativo ao impedimento ético de interferência 
na escolha terapêutica do médico assistente. 
 Parecer no 18/1996 do CFM dispõe sobre as atividades de fiscalização 
das ações e serviços de saúde e sobre a autonomia e limitações do médico 
auditor, responsável pela fiscalização das questões assistenciais. 
 Parecer nº 20/1996 do CFM refere-se ao direito do paciente aos meios 
diagnósticos e à autonomia profissional do médico. 
 Resolução nº 1466/1996 do CFM relaciona as atividades do médico 
auditor. 
 Parecer no 17/97 do CFM reporta-se à interferência direta do auditor nas 
atividades médicas. 
 Parecer no 11/99 do CFM define autorização de exames pelo médico 
auditor, mudança ou solicitação de procedimentos, exame de pacientes e outras 
funções do auditor. 
 
A atividade oficial e regulamentada de auditoria médica, por ser relativamente 
atual e estimulada pelas necessidades crescentes de controle das contas dos 
serviços hospitalares, médicos e complementares de diagnóstico e terapia do 
SUS e dos diversos planos de saúde privados, desperta a curiosidade científica 
dos profissionais das diversas áreas. 
 
CÓDIGOS DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE APLICADOS À 
PRÁTICA DA AUDITORIA 
 
Odontologia 
 
Os códigos de ética profissional são regras jurídicas através de resoluções de 
autarquias federais elaboradas por membros de distintas categorias de 
trabalhadores com a finalidade de nortear as condutas dos profissionais 
referente à ética na relação com os pacientes, com seus pares e com a 
sociedade. 
A odontologia é uma profissão no sistema de saúde em que os profissionais da 
área podem realizar procedimentos cirúrgicos invasivos e prescrever 
especialidades farmacêuticas de caráter autônomas, a partir de diagnósticos 
firmados por si próprios. 
O exercício das atividades odontológicas deve ser pautado em princípios éticos, 
legais e na compreensão da realidade social, econômica e cultural do local em 
que estão estabelecidos. 
Os códigos de ética estabelecem padrões de comportamentos de certas 
categorias profissionais em determinadas sociedades, num momento histórico 
específico. 
Invariavelmente são realizados por entidades de classe e têm como função: 
 
 Garantir à sociedade altos padrões de qualidade no atendimento. 
 Estabelecer valores, deveres e direitos dos profissionais. 
 Disciplinar a relação com pacientes e colegas. 
 
O código de ética odontológica brasileiro está em vigor desde 2003 e teve 
algumas alterações. O Conselho Federal de Odontologia e os Conselhos 
Regionais de Odontologia foram criados através da Lei nº 4.324, de 14 de abril 
de 1964. 
A finalidade das autarquias federais é de fiscalizar o exercício da odontologia em 
seus aspectos éticos,zelando e trabalhando pelo bom conceito da profissão e 
os que a exercem legalmente. 
O primeiro código de ética odontológica foi elaborado em 1976 e ocorreram 
diversas alterações nos períodos de 1984, 1991 e 2003. O atual código de ética 
odontológica está na sua quarta versão desde sua criação, aprovado pela 
Resolução CFO-42, de 20.05.2003, revogando expressamente o Código anterior 
aprovado pela Resolução CFO-179, de 19.12.1991. 
O código de ética odontológica teve alterações através da Resolução CFO-71, 
de 06.06.2006, que modificou o capítulo XIV. No período de 2012 o Código de 
Ética Odontológica teve uma nova atualização através da Resolução CFO-
118/2012. 
 
 
Direitos, deveres e responsabilidades profissionais 
 
Os códigos são congruentes a estabelecerem como princípios e direitos ou 
deveres dos profissionais como: 
 Respeito ao ser humano. 
 Promoção da saúde pública. 
 Autonomia profissional. 
 Responsabilidade em relação à saúde pública. 
 Exercício da profissão com honra e dignidade. 
 Obrigação da atualização profissional constante. 
 Recusa de normas que limitem as atividades em benefício do paciente. 
 Direito de se recusar a exercer a profissão em condições indignas, 
insalubres ou inseguras. 
 Vedação ao mercantilismo. 
 Respeito ao sigilo. 
 Luta pelos interesses da classe (condições de trabalho e remuneração). 
 Respeito, lealdade e colaboração para com os colegas. 
 Obrigação de zelar. 
 Trabalhar pelo perfeito desempenho ético. 
 Prestígio e bom conceito da profissão. 
Quando investidos em função de direção ou responsáveis técnicos é dever 
fundamental de cirurgiões-dentistas, segundo art.5.º, II, assegurarem aos 
colegas condições adequadas para o desempenho ético-profissional. 
Por apresentar um capítulo com princípios fundamentais, o código de ética como 
a não caracterização de relação de consumo/comércio entre profissional-
paciente, a preocupação com a saúde do trabalhador e o meio ambiente e a 
vedação do uso dos conhecimentos para causar sofrimento físico ou moral. 
Apesar dos cirurgiões-dentistas estarem envolvidos com questões de saúde 
pública e fazerem parte do rol de profissionais que devem fazer a notificação 
compulsória de doenças. O código de ética não traz norma deontológica sobre 
a colaboração com as vigilâncias sanitária e epidemiológica. 
O número de ações judiciais e éticas contra cirurgiões-dentistas tem se tornado 
significativo a cada ano. A responsabilidade civil desses profissionais está 
prevista no Código Civil (art. 186) e no Código de Defesa do Consumidor (art. 14 
e 14. § 4.º). 
Dentre os elementos da responsabilidade que precisam ser analisados num 
processo, existe a culpa strito sensu como a negligência, imprudência e 
imperícia, que invariavelmente será provada através de perícia. 
 
Auditorias e Perícias 
 
As normativas que tratam de auditorias e perícias apresentam capítulos 
específicos no código de ética de odontológico. Destaca-se o art. 10 que constitui 
infração ética: 
I - deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir como 
perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites de suas atribuições e de sua 
competência. 
II - intervir, quando na qualidade de perito ou auditor, nos atos de outro 
profissional, ou fazer qualquer apreciação na presença do examinado, 
reservando suas observações, sempre fundamentadas, para o relatório sigiloso 
e lacrado, que deve ser encaminhado a quem de direito. 
III - acumular as funções de perito/auditor e procedimentos terapêuticos 
odontológicos na mesma entidade prestadora de serviços odontológicos. 
IV - prestar serviços de auditoria a pessoas físicas ou jurídicas que tenham 
obrigação de inscrição nos Conselhos e que não estejam regularmente inscritas 
no Conselho de sua jurisdição. 
V - negar, na qualidade de profissional assistente, informações odontológicas 
consideradas necessárias ao pleito da concessão de benefícios previdenciários 
ou outras concessões facultadas na forma da Lei, sobre seu paciente, seja por 
meio de atestados, declarações, relatórios, exames, pareceres ou quaisquer 
outros documentos probatórios, desde que autorizado pelo paciente ou 
responsável legal interessado. 
VI - receber remuneração, gratificação ou qualquer outro beneficio por valores 
vinculados à glosa ou ao sucesso da causa, quando na função de perito ou 
auditor. 
VII - realizar ou exigir procedimentos prejudiciais aos pacientes e ao profissional, 
contrários às normas de Vigilância Sanitária, exclusivamente para fins de 
auditoria ou perícia. 
VIII - exercer a função de perito, quando: 
a) for parte interessada. 
b) tenha tido participação como mandatário da parte, ou sido designado como 
assistente técnico de órgão do Ministério Público, ou tenha prestado depoimento 
como testemunha. 
c) for cônjuge ou a parte for parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou 
colateral até o segundo grau; e, 
d) a parte for paciente, ex-paciente ou qualquer pessoa que tenha ou teve 
relações sociais, afetivas, comerciais ou administrativas, capazes de 
comprometer o caráter de imparcialidade do ato pericial ou da auditagem. 
 
Relação profissional-paciente 
 
A relação profissional-paciente se mantém presa a antigos princípios 
flexnerianos e vem se tornando cada vez mais impessoal, sendo o contato 
humano sumário, centrado no ato técnico e intermediado por relações 
comerciais, levando a uma falta de humanização no atendimento. 
No que diz respeito ao relacionamento com os pacientes é obrigação dos 
profissionais de esclarecer os propósitos, riscos, custos e alternativas do 
tratamento um deles. É considerada infração ética, conforme art. 11: 
I - discriminar o ser humano de qualquer forma ou sob qualquer pretexto. 
II - aproveitar-se de situações decorrentes da relação profissional/paciente para 
obter vantagem física, emocional, financeira ou política. 
III - exagerar em diagnóstico, prognóstico ou terapêutica. 
IV - deixar de esclarecer adequadamente os propósitos, riscos, custos e 
alternativas do tratamento. 
V - executar ou propor tratamento desnecessário ou para o qual não esteja 
capacitado. 
VI - abandonar paciente, salvo por motivo justificável, circunstância em que serão 
conciliados os honorários e que deverá ser informado ao paciente ou ao seu 
responsável legal de necessidade da continuidade do tratamento. 
VII - deixar de atender paciente que procure cuidados profissionais em caso de 
urgência, quando não haja outro cirurgião-dentista em condições de fazê-lo. 
VIII - desrespeitar ou permitir que seja desrespeitado o paciente; 
IX - adotar novas técnicas ou materiais que não tenham efetiva comprovação 
científica. 
X - iniciar qualquer procedimento ou tratamento odontológico sem o 
consentimento prévio do paciente ou do seu responsável legal, exceto em casos 
de urgência ou emergência. 
XI - delegar a profissionais técnicos ou auxiliares atos ou atribuições exclusivas 
da profissão de cirurgião-dentista. 
XII - opor-se a prestar esclarecimentos e/ou fornecer relatórios sobre 
diagnósticos e terapêuticas, realizados no paciente, quando solicitados pelo 
mesmo, por seu representante legal ou nas formas previstas em Lei. 
XIII - executar procedimentos como técnico em prótese dentária, técnico em 
saúde bucal, auxiliar em saúde bucal e auxiliar em prótese dentária, além 
daqueles discriminados na Lei que regulamenta a profissão e nas resoluções do 
Conselho Federal. 
XIV - propor ou executar tratamento fora do âmbito da Odontologia. 
 
Relação profissional-profissional 
 
Ao se tratar de relacionamento com a equipe de saúde, o código de ética de 
odontologia

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