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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS DEPARTAMENTO DE BIOQUÍMICA E BIOLOGIA MOLECULAR RELATÓRIO DE AULAS PRÁTICAS DE BIOFÍSICA PRÁTICA I - PREPARO E MANUSEIO DE SOLUÇÕES (PH E TAMPÕES) GABRIELA ALVES VALENTIM FORTALEZA OUTUBRO DE 2017 1. INTRODUÇÃO Os seres vivos são muito sensíveis as variações de pH em seu meio interno, sendo que alterações superiores a 0,3 podem gerar consequências graves, levando até mesmo a morte (HENEIDE, 2010; SOUZA & ELIAS, 2006). O pH, ou potencial hidrogeniônico, é definido como o cologaritmo da concentração hidrogeniônica do meio, como observado na equação o que indica a acidez ou basicidade de uma solução. Valores de pH inferiores a 7 são chamados de ácidos, e acima deste valor ficam as soluções básicas (BROWN et al., 2017). O pH do sangue humano, em condições normais, é de 7,4 para o sangue arterial e 7,35 no sangue venoso, sendo estes regulados por processos fisiológicos (HALL, 2011). Quando o corpo não é capaz de regular o pH interno podem ocorrer os fenômenos de alcalose e acidose. O quadro de alcalose ocorre quando o pH sanguíneo aumenta para além de 7,4. Quando valores de pH acima de 7,8 são atingidos há risco de morte. A alcalose pode ser causada por respiração muito acelerada, uso de drogas e doenças pulmonares, entre outras causas. O quadro de acidose ocorre quando o pH sanguíneo diminui, alcançando valores abaixo de 7,35. A acidose está muito relacionada com doenças respiratórias, como asma e bronquite. O paciente com acidose sofre com falta de ar e desorientação, correndo risco de morte quando o pH atinge valores inferiores a 6,8 (SOUZA & ELIAS, 2006; FIORUCCI et al., 2001). A regulação do equilíbrio ácido-base nos organismos depende da atuação de sistemas tampões existentes no corpo (SOUZA & ELIAS, 2006). As soluções tampões recolhem prótons quando estes estão em excessos e fornece prótons quando estão ausentes, assim, as soluções são formadas por um aceptor e um doador de prótons (HENEIDE, 2010). Dessa forma, um sistema tampão é formado por um sal fraco e sua base conjugada ou uma base fraca e seu ácido conjugado (FIORUCCI et al., 2001). É importante ressaltar que não impede as mudanças de pH, mas suaviza essas mudanças, mantendo o pH mais estável apesar da adição de íons H+ e OH- (HENEIDE, 2010). Para estimar o pH de uma solução tampão ou determinar a concentração do aceptor e do doador de prótons para atingir um determinado pH podemos utilizar a equação de Henderson-Hasselbalch, determinada pela equação , sendo pKa = logaritmo da constante de dissociação ácida, [A] = concentração de aceptor de prótons e [D] = concentração do doador de prótons. O estudo dos sistemas tampões possui diversas aplicações na indústria e pesquisa. Um exemplo é a utilização de soluções tampões em pesquisas que trabalham com enzimas sensíveis a variações de pH. Na indústria química o controle do pH auxilia na realização de precipitação e de eletroposição de metais, além do controle de mecanismos de oxidação (FIORUCCI et al., 2001). Assim, o estudo e entendimento sobre os sistemas tampões são de vital importância para o desenvolvimento de novas tecnologias e evolução do conhecimento científico. 2. OBJETIVOS Tornar familiar o emprego da equação de Henderson-Hasselbalch e a preparação de soluções. Comparar a capacidade tamponante da água com a de uma solução tampão de acetato. 3. MATERIAIS E MÉTODOS No dia 14 de setembro de 2017, a prática aqui relatada foi realizada no Laboratório N1, localizado no bloco 907, Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, na Universidade Federal do Ceará (UFC), durante as aulas da disciplina de Biofísica, lecionadas pelo Prof. Dr. José Tadeu Abreu de Oliveira. Os materiais utilizados na prática aqui relatada foram balança eletrônica, béqueres, barra e agitador magnético, pHmetro, pipetas, proveta, balão volumétrico, ácido acético 2,0N (Mm=60,05 Da; d=1,33 g/cm³; pureza=99,7%; pka= 4,76), acetato de sódio trihidratado (Mm=136,09 Da) e soluções de NaOH 1N e HCl 1N. Inicialmente foi preparada uma solução de 100mL de tampão acetato de sódio 50mM e pH 5,2. Para tal a quantidade necessária do aceptor e doador de prótons foram calculadas utilizando-se a Equação de Henderson-Hasselbalch. Os cálculos foram apresentados na seção de resultados deste relatório. A seguir, a quantidade de acetato de sódio e ácido acético foram pesados e aferidos utilizando a balança eletrônica. A massa de 499mg de acetato de sódio foi solubilizada em 70mL de água destilada com o auxílio de uma barra e um agitador magnético em um béquer. Em seguida, foram adicionados 666µL de uma solução de ácido acético de 2N com o auxílio de uma pipeta automática. Em uma proveta o volume da solução foi ajustado para 90mL com água destilada. Por fim, o pH da solução, que inicialmente foi de 4,32, foi ajustado para 5,2 com a adição apenas de uma solução de NaOH 1N e auxílio de um pHmetro. A solução foi transferida para um balão volumétrico e seu volume foi aferido até 100mL. Em um segundo momento foi realizada a titulação de água destilada e da solução tampão de acetato de sódio pH 5,2. Dois béqueres foram utilizados. No primeiro béquer foi adicionado os 100mL da solução tampão e no segundo, 100mL de água destilada. Primeiro a titulação foi realizada na solução tampão, onde foi mergulhada a barra magnética e colocada sobre agitação suave. O pH foi novamente aferido, marcado o tempo zero. Em seguida, foram adicionadas 6 alíquotas de 0,250mL de HCl 1N, uma por vez, sendo o pH aferido e anotado após cada adição de HCl e estabilização do pH. O mesmo procedimento foi realizado na titulação da água destilada. 4. RESULTADOS Equação de Henderson-Hasselbalch Na solução preparada para esta prática, o aceptor de prótons é o acetato de sódio e o doador é o ácido acético. Para o cálculo das quantidades de aceptor e doador necessárias no preparo da solução de 100mL de tampão acetato de sódio 50mM e pH 5,2, foi utilizada a equação de Henderson-Hasselbalch, , onde pKa = logaritmo da constante de dissociação ácida do ácido acético, [A] = concentração de acetato de sódio e [D] = concentração do ácido acético. A concentração do doador somada a concentração do aceptor de prótons é igual a 50mM. Substituindo o valor da concentração do acetato de sódio ([A]) obtermos os seguintes cálculos: Para calcular a massa do acetato de sódio são realizados os seguintes cálculos: Assim, para 100mL de solução, a massa necessária será de 499mg de acetato de sódio. Para calcular o volume do ácido acético são realizados os seguintes cálculos: Sabendo que 60,05g do ácido em 1000mL ocasiona uma concentração de 1M, uma solução de 2M contém 120,1g em 1L. Assim, levando em consideração que a pureza do ácido acético é de 99,7%, o cálculo da pureza foi realizado: Por fim, o volume da solução de2N de ácido acético necessário para a preparação da solução tampão foi calculado. Logo, para 100mL de solução tampão, o volume necessário é de 666µL de ácido acético 2N. Titulação do tampão acetato de sódio 50mM e água destilada Os valores de pHs obtidos a partir da titulação do tampão acetato de sódio 50mM pH 5,2 e da água destilada podem ser observados na tabela 01. As variações no pH provocadas pela adição do HCl 1N estão destacadas na figura 01. Tabela 1 - Valores de pH encontrados na titulação de um tampão acetato de sódio 50mM pH 5,2 e água destilada aferidos após a adição de alíquotas de 0,250mL de HCl 1N. Tempo Alíquota de HCl 1N pH Tampão Acetato de Sódio 50mM pH 5,2 pH água destilada 0 0 5,03 5,34 1 + 250µL 5,02 3,66 2 + 250µL 5,01 3,33 3 + 250µL 5,01 3,13 4 + 250µL 5,00 3,01 5 + 250µL 5,00 2,91 6 + 250µL 4,99 2,83 5. DISCUSSÃO Uma solução tampão é uma solução composta por substâncias capazes de minimizar alterações de pH motivados pela adição de ácidos e bases adicionados a ela ou no meio onde ela se encontra (OLIVEIRA et al., 2012). Em geral, essas soluções são compostas por um ácido fraco e sua base conjugada ou por uma base fraca e seu ácido conjugado (FIORUCCI et al., 2001). O pKa é o cologaritmo da constante de dissociação ácida (Ka), como observado na expressão . O pKa de um ácido é um valor de pH que provoca 50% de dissociação de H+ (OLIVEIRA et al., 2012). Assim, quanto menor é o pKa de um ácido, maior é sua tendência de se ionizar e o ácido é considerado forte. O ácido acético é considerado um ácido fraco devido ao seu valor de pKa=4,76, o que significa que ele se ioniza pouco. O valor de pKa é essencial para o cálculo da equação de Henderson-Hasselbalch, dada pela expressão , permitindo que saibamos a quantidade de doador e aceptor de prótons a serem utilizados em uma solução tampão. 5,34 3,66 3,33 3,13 3,01 2,91 2,83 5,03 5,02 5,01 5,01 5 5 4,99 0 1 2 3 4 5 6 0 1 2 3 4 5 6 p H Tempo Água destilada Tampão Acetato de Sódio 50mM pH 5,2 Figura 1 - Curva de variação do pH do tampão acetato de sódio 50mM pH 5,2 e da água destilada após a adição de alíquotas de 0,250mL de HCl 1N. Os cálculos na equação de Henderson-Hasselbalch são realizados com bases em condições padrões, levando em consideração que as quantidades utilizadas de aceptor e doador de prótons irão reagir sem interferência. No entanto, na prática é impossível garantir a reação de 100% dos compostos. Além disso, outros fatores podem alterar o pH final, como a utilização de reagentes mal conservados, temperatura ambiente, agitação e água destilada de baixa qualidade. Assim, quando os constituintes da solução tampão foram misturados o valor de pH foi diferente do esperado, sendo mensurado como 4,32. Caso fosse realizada a adição de HCl a esse tampão, o íon H+ liberado pelo HCl iria reagir com o íon acetato de sódio presente na solução, como observado na equação . Assim, os produtos finais seriam ácido acético e sal. Caso fosse adicionado NaOH ao tampão, o íon OH- liberado reagiria com o ácido acético, como observado na equação . Os produtos finais seriam acetato de sódio e água. Observando os resultados, percebe-se a diferença entre o comportamento da água e da solução tampão quanto a adição das alíquotas de HCl 1N. A solução tampão não apresentou alterações significantes de pH após a adição do ácido forte. A água, no entanto, teve seu pH bruscamente reduzido após a adição da mesma quantidade do ácido. Esse fenômeno ocorre devido a capacidade tamponante da solução tampão que é capaz de resistir a mudanças de pH após adição de um ácido ou base, já que quando íons H+ ou OH- são adicionados a esse tipo de solução, eles reagem com as substâncias ácidas e básicas presentes, sendo neutralizados e originando produtos que não são capazes de alterar fortemente o pH (FIORUCCI et al., 2001). A água, no entanto, não possui a mesma capacidade de minimizar a variação do pH, o que se vê refletido no gráfico 01. 6. CONCLUSÃO O emprego da equação de Henderson-Hasselbalch permitiu a preparação da solução tampão acetato de sódio 50mM pH 5,2. A partir do experimento de titulação foi possível demonstrar que a solução tampão foi capaz de minimizar mudanças de pH, demonstrando a eficiência da prática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BROWN, T. E., LEMAY, H. E., BURSTEN, B. E., MURPHY, C., WOODWARD, P. Química: A Ciência Central. 13. ed. Pearson Prentice Hall, 2017. FIORUCCI, A. R., SOARES, M. H. F. B., CAVALHEIRO, E. T. G. O Conceito de Solução Tampão. Química Nova na Escola, n. 13, p. 18-21, mai. 2001. HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011. HENEIDE, I. F. Biofísica básica. São Paulo: Editora Atheneu, 2010. OLIVEIRA, J. R., WACHTER, P. H., AZAMBUJA, A. A. Biofísica para Ciências Biomédicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. SOUZA, M. H. L. & ELIAS, D. O. Fundamentos da Circulação Extracorpórea. 2. ed. Rio de Janeiro: Centro Editorial Alfa Rio, 2006.
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