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CAPÍTULO 13 - OS ANOS 30: A CRISE DO MODELO PRIMÁRIO- EXPORTADOR E O PROCESSO DE SUBSTITUIÇÃO DE IMPORTAÇÕES (PSI) 1 Formação Econômica do Brasil 13.1 O caso do Brasil 13.1.1 Introdução ao Processo de Substituição de Importações (PSI) ● A economia brasileira foi no Século XIX uma economia primária exportadora, à semelhança dos demais países latino-americanos. 2 ● Devido a atividade exportadora que se concentrava em um ou dois produtos, tinha como reflexo, o impacto das crises das economias de que dependiam e a extrema vulnerabilidade das flutuações dos preços internacionais; ● Em face essas características, o modelo tradicional exportador entrou em crise definitiva depois da Grande Depressão na década de 1930; 3 ● Segunda Guerra Mundial (1939-45); ● Economia do País a voltar-se sobre si mesma desenvolvendo novas atividades produtivas; ● Sob a pressão de uma redução drástica na capacidade de importar iniciou-se: ● Processo de Substituição de Importações (PSI); ● O PSI foi possível uma vez que dispunha de um mercado interno bastante amplo e com uma estrutura industrial incipiente com relativa diversificação; ● Indústrias tradicionais: alimentação, bebidas, mobiliário, roupas, metalurgia, etc.; 4 ● O PSI resultou na sustentação do nível da demanda interna de forma encontrar uma primeira reação favorável na própria capacidade existente e em parte subutilizada; ● O movimento de expansão e mudanças na estrutura foi acompanhado por grande parte dos fazendeiros de café que se tornaram também industriais; ● Os setores mais dinâmicos: eixo Rio-São Paulo; ●Após a Guerra, o Brasil estava em posição relativamente favorável no que concerne às limitações do setor exportador; 5 ● Após 1954 as condições externas passaram a ser desfavoráveis; ● Contudo, com o dinamismo, foi possível continuar o desenvolvimento industrial via PSI num ritmo mais acentuado; ● Para isso contribuíram a capacidade empresarial do setor privado e a política econômica do governo 6 ● A política governamental teve duas linhas: a) política de comércio exterior: - cambial b) política de investimento: - Volta Redonda - Petrobrás - BNDE ● Sistematicamente houve a eliminação dos pontos de estrangulamento nos setores de: - infraestrutura - financiamento - orientação de outros investimentos. 7 ● Vantagens do desenvolvimento: - orientação/vocação para política industrial - ritmo de crescimento elevado - maior nível de integração industrial da América Latina ● Desvantagens do desenvolvimento - pressões inflacionárias - aumento do desequilíbrio externo - desigualdades regionais 8 13.2 A resposta ao estrangulamento externo 13.2.1 As características do estrangulamento externo brasileiro ● estrangulamento: uma redução do quantum de importações de cerca de 50%. ●Nos pós-guerra, porém, a situação do País foi bastante favorável do que a de alguns grandes países da região, como o Chile e a Argentina, no que concerne às limitações do setor externo; ● A partir de 1954, porém, as condições do setor exportador brasileiro, à semelhança dos demais voltaram a piorar; 9 10 11 ● A partir de 1954, com a queda dos preços do café e a reação pouco elástica do quantum exportado, a capacidade para importar tendeu a declinar e o quantum geral de importações só conseguiu manter- se à custa de considerável financiamento externo; ● Assim, houve déficits de transações em conta corrente, e com a tendência de agravamento, a situação do Balanço de Pagamentos foi, em todo período, de um modo geral deficitária; ● 1951-52 houve um desequilíbrio em face das antecipações geradas pela eclosão da Guerra da Coréia; 12 ● O déficit teve duas características distintas: 1ª fase: o desequilíbrio poderia ser das causas conjunturais, como política cambial 2ª fase: o desequilíbrio adquire um caráter estrutural ● A situação do estrangulamento externo brasileiro agravou extraordinariamente devido à diminuição devido à discriminação substancial relativa das exportações entre os componentes da receita cambial e ao aumento considerável do movimento de capitais ● Em resumo: Dada a queda das exportações a partir de 1954 e o concomitante aumento do endividamento externo 13 13.2.2 A substituição de importações como resposta ao estrangulamento externo ● A perda do dinamismo do setor exportador deu lugar a um esforço de reorientação da atividade econômica consubstanciado em grande parte na substituição de importações por produção nacional, assegurada pela reserva de mercado obtida através de proteção cambial e tarifária ● O esforço do PSI se deu nas atividades industriais e permitiu a ampliação das oportunidades de investimento e, em consequência, a manutenção e mesmo aceleração da taxa de crescimento econômico 14 15 ● Em síntese: • após a grande depressão: - em face a política econômica governamental da defesa da concentração externa, a atividade interna recuperou-se rapidamente; • nos anos até a Segunda Guerra Mundial: - a expansão da produção interna industrial foi em grande possível, graças ao aproveitamento mais intenso da capacidade produtiva instalada que permitiu substituir uma série de consumo leve antes importado; 16 • no período da Segunda Guerra Mundial: - dificuldades de suprimentos do exterior e decisão do Governo entrar no setor da siderurgia dando início ao investimento pioneiro de Volta Redonda, cuja entrada em funcionamento em 1946 constituiu a primeira operação em grande escala na indústria pesada da América Latina; • o período pós-guerra - o período 1945-47 correspondeu a uma primeira fase, isto é, a um alívio da situação do setor externo com a retomada em termos absolutos da capacidade para importar aos níveis da pré-crise 17 ● Notas: ∟ o crescimento da economia se deu mais na expansão do setor exportador do que o processo de substituição das importações (PSI); ∟a partir de 1949 houve melhora nos preços internacionais do café mas não restabeleceu os níveis per capita prevalecentes em 1929; ∟a política de liberação das importações seguida nos pós-guerra (taxa cambial fixa) iria dar lugar a constantes pressões sobre o Balanço de Pagamentos ∟o controle de câmbio: manutenção da taxa de câmbio vigente e controle das importações que discriminava os bens de consumo não essenciais 18 ∟em 1953 uma reforma cambial em que se substituiu o controle direto das importações por um sistema de leilão de dividas no qual se classificavam as importações em cinco categorias, de acordo com o seu grau de essencialidade e as possibilidades de produção interna ● Em 1954 pode-se considerar terminada esta segunda fase do desenvolvimento interno, onde a expansão industrial e melhoria do poder de compra das exportações. ● período de transição: 1955-56 ● terceira fase: 1956-61 (governo JK) 19 Destacam-se dois fatores: 1) o aumento da participação direta e indireta do Governo nos investimentos; 2) a entrada de capital estrangeiro privado e oficial para financiar parcela substancial do investimento em certos setores. ∟ação do governo: metas setoriais; ∟capital oficial: financiamento de projetos específicos e para cobrir os déficits do Balanço de Pagamentos;∟capital estrangeiro privado: sob a forma de investimento direto via Instrução nº 113 da Sumoc 20 ● indústrias instaladas: automobilísticas, construção naval, material elétrico pesado e outras indústrias mecânicas de bens de capital; ● expandiram-se indústrias básicas: - siderurgia - petrolífera - metalurgia dos não-ferrosos - celulose e papel - química pesada 21 ● Impactos: - O PSI acelerou o desenvolvimento, porém, esse processo agravou as pressões inflacionárias e os desequilíbrios regionais; - O Brasil conseguiu desenvolver-se mais do que os países da América Latina, porém, com um alto custo social. 22 13.3 As modificações na estrutura de importações ● Esse estudo sintetiza as modificações sensíveis no PSI com maior ênfase no período 1948-61. A seguir identificam-se algumas faixas de substituição ‘visível’. 1. O período de referência: os anos 1930 ∟base: 1929-38 → década de 30 → grande depressão → pós-guerra ∟1929: antes da crise ∟1931: antes de chegar ao máximo da depressão ∟1937-38: anos da recuperação ∟1948: ano inicial do período seguinte 23 ● as importações brasileiras por grupo: - bens de consumo (duráveis e não-duráveis); - combustíveis e lubrificantes; - matérias-primas e produtos intermediários (metálicos e não-metálicos); - bens de capital 24 25 ● No ano de 1931 as importações caem em mais de 50% em relação ao nível de 1929, defendendo-se como é natural, as importações de combustíveis e matérias-primas que caem apenas 35% e 36% respectivamente, enquanto os bens de consumo e os de capital caem de 70% e 80% respectivamente. ● Embora 1937-38 sejam anos de recuperação e os mais favoráveis da década às importações, o quantum da amostra é ainda inferior a 19% ao ano de 1929, e só depois da Segunda Guerra Mundial a capacidade para importar volta aos níveis da pré-crise 26 Ponderações: ● Devido ao aumento do peso do consumo dos bens duráveis, os bens não-duráveis responderam ao PSI de maneira ‘visível’ com estratégia de substituição nas matérias-primas e materiais de construção; ● Esse próprio processo de substituição, porém, iria exigir novas importações de matérias-primas e bens de capital ● depois de 1954 forçou-se o PSI a entrar de novo, e com mais ênfase, nas faixas de produtos intermediários e de bens de capital 27 ●O Quadro 4 evidencia para o período como o único grande grupo que mostra substituição ‘visível’ é o dos bens de consumo. ● A substituição mais forte ocorreu com os bens de consumo duráveis cujo quantum cai violentamente no período. ● Os bens de consumo não-duráveis, porém, mostram também substituição uma vez que o seu quantum não acompanhou o aumento do quantum geral de importações, estando nos últimos anos ao nível de 1948 28 29 3. A estrutura das importações analisadas segundo a utilização e segundo o destino ● O Quadro 5 refere-se (na primeira parte) à divisão entre produtos de utilização intermediário e final 30 31 ● O peso relativo dos bens finais e intermediários mudou substancialmente na primeira década do período: de uma participação relativa de 60% a 40%, respectivamente, em 1948, passou-se, em 1958, à posição inversa, com 45% de bens finais contra 55% de bens intermediários ● Esse aumento da produção dos bens intermediários confirma a tendência normal da modificação da pauta de importações que acompanha um processo de industrialização em um país subdesenvolvido, cuja capacidade de importar não cresce rapidamente 32 ● A tendência do aumento da participação dos produtos intermediários inverteu-se a partir de 1958 e indica que o esforço de substituição que se vinha realizando há vários anos em algumas faixas dos produtos intermediários foi coroado com êxito, de forma que essa substituição se tornasse, finalmente, aparente para o grupo como um todo ● Esse resultado é bastante satisfatório se levarmos em conta que no grupo estão incluídos alguns produtos como petróleo cru, trigo e papel de imprensa, para os quais esse esforço de substituição não foi suficiente para produzir resultados ‘visíveis’ 33 ● A segunda parte do Quadro 5 diz respeito a divisão segundo o destino ● Na década dos 50, as mudanças são particularmente notáveis nos anos de expansão (1951-52) e nos anos de crise (1955-56) do nível geral das importações para investimento e no segundo caso prejudicam-nas ● Para os demais anos da década, as variações na composição não são substantivas 34 35 ● A partir de 1957, ano em que a composição era relativamente favorável aos investimentos, aumenta a participação das importações para consumo. Esse fato pode ser explicado por três ordens: 1) o estancamento das importações globais; 2) a impossibilidade de conter a expansão da importação de combustíveis (particularmente do petróleo); 3) a substituição ocorrida em algumas faixas de bens de capital. 36 37 Em resumo pode-se concluir: ● A evolução da estrutura das importações só se apresentou nitidamente desfavorável em relação ao grupo de produtos intermediários destinados ao consumo, que aumentaram a sua participação ocupando em 1961 cerca de 40% da amostra. Em compensação, a queda observada nas importações totais destinadas a investimento, traria graves inconvenientes para o processo de desenvolvimento, pode ser contornada mediante substituição no grupo de produtos intermediários e manutenção das importações de bens de capital terminados. 38 ● É certo que a própria manutenção da capacidade efetiva para importar, dos últimos anos, se deu à custa de um crescente endividamento externo e aquela margem de importações destinadas ao processo de investimento só foi possível obtê-la graças a uma política cambial discriminatória e à entrada considerável de capital estrangeiro. ● Portanto, às possibilidades de continuação do PSI em condições externas tão desfavoráveis implica numa rigidez substancial na pauta de importações, mesmo adotando medidas drásticas de controle, é cada vez menor. 39 BIBLIOGRAFIA TAVARES, M. da C. Da Substituição de Importações ao Capitalismo Financeiro. Rio de Janeiro: Zahar, 1981. 40 41
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