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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS E SEUS PROFESSORES

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SEÇÃO 1 – HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS E SEUS PROFESSORES 
 
 Nesta primeira seção apresentaremos uma síntese da história da educação de 
surdos na Europa, Estados Unidos e Brasil. Nosso foco foi sobre os professores e suas 
formações. Os autores que embasam esse texto são Harlan Lane (1984 e 1992), Donald 
Moores (1996), Cecília Moura (2000), e Solange Rocha (2007). 
Optamos por escrever sobre a história da educação de surdos e seus professores 
para introduzir o leitor a uma breve contextualização das concepções de surdos que 
foram formadas ao longo da história, dos principais professores que acreditavam que os 
surdos eram capazes de ser educados, e dos movimentos a favor e contra o uso da língua 
de sinais na educação de surdos. 
 Para as subseções 1.1 à 1.3.5 baseamos a maior parte da pesquisa no livro 
Educating the Deaf de Moores (1996), para a subseção 1.4 sobre o Congresso de Milão 
nos baseamos em Lane (1992). A subseção 1.5 sobre o Brasil está baseada nos livro de 
Moura (2000) e Rocha (2007). 
 
1.1 Surdos na antiguidade 
 As primeiras sociedades a possuir registro escrito foram à egípcia e os reinos 
mesopotâmicos – Sumério, Assírio e Babilônico. Nos reinos mencionados também 
existia a prática de uma escolarização formal. 
Nessas civilizações era praticada a escolarização para a formação de escribas, 
após aprenderem a ler, escrever e realizar cálculos matemáticos, eles eram treinados 
para funções burocráticas governamentais específicas. O trabalho intelectual era 
valorizado nessas sociedades, sendo a profissão de escriba uma oportunidade de 
ascender socialmente. 
Em relação aos surdos e sua educação, não foi encontrado nenhum registro de 
professores e tentativas de educar pessoas surdas nessas civilizações. 
 Na sociedade egípcia antiga a situação se demonstra diferente da Mesopotâmia, 
o infanticídio era proibido por decreto, havia um interesse pelas pessoas com deficiência 
e esse interesse foi documentado. Na família real era comum o nascimento de pessoas 
com deficiência devido aos casamentos consanguíneos. 
 A medicina egípcia era considerada avançada em comparação as outras 
sociedades, os médicos pesquisavam as causas, tratamentos e possíveis curas para as 
deficiências, a maioria dos registros são de pesquisas relacionadas à cegueira. 
 Os cegos possuíam ofícios importantes na sociedade egípcia, eles eram treinados 
em música, arte e massagem. Considerando que o Egito era um estado Teocrático, a 
presença de pessoas com deficiência atuando em cerimônias religiosas representa uma 
inclusão social significativa. 
 A surdez era menos compreendida que a deficiência visual, os médicos tratavam 
os surdos aplicando pomadas e loções. O Papiro de Ebers, data de 1550 a.C., é um 
tratado médico que possuí diversas receitas mágicas e remédios para tratamento de 
doenças, nele está presente a primeira referência a surdez no Egito. 
 As evidências sugerem que os surdos eram aceitos socialmente, o interesse do 
Estado sobre eles era teológico e judicial, e não médico e educacional. As principais 
preocupações eram em definir os direitos legais e religiosos dos surdos. 
 Nas civilizações do Crescente Fértil, a maioria da população era composta por 
camponeses e artesãos iletrados, a educação estava restrita a poucas classes sociais, 
nesse caso o fato dos surdos não receberem educação não seria um fato significativo, 
uma vez que a maioria da população também não recebia. 
 No continente europeu a condição de vida dos surdos era menos favorável que 
no Egito e Mesopotâmia. No contexto grego dois filósofos se destacam em comentários 
relacionados aos surdos, Aristóteles e Sócrates. 
 Aristóteles (2006) em 355 a.C., no livro “História dos Animais”, escreveu “os 
surdos de nascimento são também mudos. São capazes de emitir sons, mas não têm 
propriamente uma linguagem articulada.” Essa frase lhe concedeu o título de criador do 
termo surdo-mudo. 
 Os filósofos gregos, e não apenas Aristóteles, acreditavam que o pensamento 
poderia ser concebido através da articulação de palavras, que o ouvido era o órgão de 
instrução e que a audição era uma grande contribuidora para a inteligência. 
 Portanto, o pensamento de Aristóteles acabou sendo interpretado da seguinte 
maneira, os surdos não podiam pronunciar palavras porque eles não pensavam, afinal o 
órgão de instrução, o ouvido, não funcionava corretamente. 
 Assim Aristóteles ficou marcado como um vilão na história da educação de 
surdos. Entretanto a má fama atribuída a ele foi imerecida, pois sua declaração foi tirada 
do contexto, distorcida e mal interpretada. A declaração completa é: 
Todo o ser que produz uma linguagem também tem voz; mas nem 
todos os que têm voz produzem uma linguagem. Os surdos de 
nascimento são também mudos. São capazes de emitir sons, mas não 
têm propriamente uma linguagem articulada. As crianças, do mesmo 
modo que não comandam as outras partes do corpo, também a 
princípio não têm o controle da língua. (ARISTÓTELES, 2006, p.193) 
 
 O raciocínio de Aristóteles quando interpretado dentro do contexto permanece 
verdadeiro até a atualidade, pois ele compara a produção da linguagem articulada ao de 
uma criança, uma criança ouvinte é ensinada a falar, ela não é capaz de aprender 
sozinha, o mesmo ocorre com os surdos, para que eles produzam uma linguagem 
articulada é necessário um treinamento oral. 
Mas em seu tempo não havia tal treinamento, assim a condição da surdez e 
mutismo estavam relacionadas. Outra contribuição dele foi a utilização de dois termos 
para distinguir duas deficiências, surdez e mutismo, em seu contexto de escrita sua ideia 
de que os surdos eram também mudos era justificável, as conotações pejorativas 
atribuídas ao seu discurso não são justificáveis e anacrônicas. 
 Nas civilizações gregas e romanas o infanticídio era uma prática comum, bebês 
recém-nascidos que apresentassem uma deficiência, ou possuíssem uma característica 
considerada fora da norma poderia ser sacrificado. Provavelmente poucos bebês surdos 
teriam sido sacrificados, pois os povos antigos não teriam tecnologia suficiente para 
diagnosticar a surdez, um natisurdo não apresenta diferenças físicas em comparação aos 
bebês ouvintes. 
Não há evidência de que os surdos recebiam educação ou da existência de 
professores dedicados a educá-los, mas há outra evidência da existência de surdos e de 
que possuíam um meio de comunicação em uma passagem do Crátilo de Platão, onde 
Sócrates dialoga com Hermógenes: 
Sócrates – [...] Se não tivéssemos nem voz nem língua, e quiséssemos 
mostrar as coisas uns aos outros, não procuraríamos fazer como os 
mudos, indicando-as com as mãos, a cabeça e todo o corpo? 
Hermógenes – Não haveria outro jeito, Sócrates. 
Sócrates – A meu parecer, se fosse preciso indicar alguma coisa 
elevada ou leve, levantaríamos as mãos para o céu, para imitar a 
própria natureza das coisas; se fosse algo pesado e baixo, para o chão 
é que as estendêramos, e no caso de querermos imitar um cavalo a 
correr, ou qualquer outro animal, bem sabes que procuraríamos deixar 
nosso corpo semelhante ao deles, tanto quanto possível, assim na 
forma como no gesto. (PLATÃO, 2001, p.199-200) 
 
Na civilização romana a situação do surdo era similar à grega, entretanto a 
literatura menciona a existência de um surdo por seu nome, Quinto Pédio, neto do 
cônsul Quinto Pédio, que junto a César Augusto era co-herdeiro de Júlio César. Com a 
aprovação de Augusto, Quinto foi instruído na arte da pintura. O historiador romano 
Plínio, o Velho, em seu livro “História Natural” menciona Quinto Pédio como um dos 
mais célebres pintores de Roma. 
Esse dado nos revela dois fatos, para os surdos receberemalguma instrução era 
necessária a permissão do regente de Roma, e que as pessoas que teriam acesso ao 
regente seriam apenas os nobres. Provavelmente surdos filhos da nobreza recebiam 
alguma educação. 
Para os romanos, a manifestação das palavras através da escrita e de sinais sem a 
fala oral não era aceitável, esse fato é de certo modo irônico, pois esse povo 
desenvolveu altos níveis da pantomima. 
Werner apud Moores (1996, p.35) cita que apesar dos surdos não serem 
educados, eles praticavam diversos trabalhos manuais, eram hábeis artesãos diversos, 
cultivavam a terra e até trabalhavam como soldados. 
Aproximadamente em 300 d.C., o Império Romano foi dividido entre ocidente e 
oriente, sendo a capital do Império Romano do Oriente a cidade grega de Bizâncio, hoje 
nomeada de Istambul. 
No ano de 476 o Império Romano sofre várias invasões, principalmente dos 
povos germânicos, este ano é considerado pela História como a queda do Império 
Romano do Ocidente, o fim da Idade Antiga e o inicio da Idade Média. O Império 
Romano do Oriente continuou a existir com o nome de Império Bizantino até sua queda 
em 1453 d.C. 
 
1.2 A Idade Média e os direitos 
 Como foi dito acima, o Império Bizantino continuou a existir após a queda do 
Império Romano do Ocidente. Um importante imperador foi Justiniano (527-565), em 
seu governo ordenou a recompilação e reorganização do Direito Romano. Este trabalho 
durou dez anos e ficou conhecido como Corpus Juris Civilis ou Código de Justiniano. 
 No código encontramos cinco procedimentos legais em relação aos direitos dos 
surdos. A surdez e o mutismo foram estabelecidos como infortúnios distintos, o código 
também aparece uma diferença entre surdez total e parcial. 
Os que tinham todos os direitos eram: 1) surdos e mudos letrados, 2) surdos que 
produziam fala oral com clareza; 3) mudos, mas ouvintes; 4) e aqueles que ensurdeciam 
acidentalmente (e eram letrados). Aquele que nascia surdo e mudo e era iletrado não 
podia conceder alforria aos escravos e possuir um testamento ou legado. 
 Na Europa Central, após a queda de Roma, ocorreu à ascensão do feudalismo, a 
população passou a se organizar em pequenos reinos, sendo a educação e cultura letrada 
restrita a poucas pessoas, apenas a nobreza feudal e ao clero. A instituição mais 
poderosa durante a Idade Média foi a Igreja Católica, ela era influenciadora da 
educação. 
 As leis desse período eram impostas na maioria dos reinos, restringiam os surdos 
de receberem heranças, participarem das celebrações religiosas, e de casarem sem a 
permissão do Papa. 
 Nos monastérios da Ordem de São Bento, os monges, assim como hoje, 
praticavam, voto de silencio em períodos específicos, nesses momentos eles utilizam 
um tradicional sistema de sinais para se comunicarem. Todo recém-chegado recebia a 
instrução de um monge mais experiente em aritmética, leitura, orações cerimônias e 
sinais para comunicação silenciosa. 
 A literatura aponta que ocorreram curas milagrosas da surdez e do mutismo 
nesse período, sendo que a mais famosa fora efetuada pelo Bispo John de Hagulstad, ele 
teria efetuado diversos milagres entre os anglo-saxões, incluindo ter ensinado um jovem 
surdo-mudo a falar. 
 Nenhum caso de um surdo congênito ter sido educado foi registrado desde 
Quinto Pédio até o século XV. Houve um relato de que Rodolfo Agrícola teria ensinado 
um surdo-mudo a ler e escrever, mas seu nome, lugar, ou modo de instrução não foi 
relatado, e o relato foi largamente desacreditado por ser considerado impossível alguém 
ser instruído sem o órgão da instrução, o ouvido. 
Na Idade Média o analfabetismo era a norma para a maioria da população, nesse 
contexto, sujeitos com deficiências recebiam caridade e não instrução. 
 No mundo islâmico, após a morte do profeta Maomé em 632, tribos árabes 
passaram a propagar a mensagem do Islã, em dez anos haviam ocupado a Síria, 
Palestina, Iraque, Pérsia, Egito e convertido as populações. Em 718, os muçulmanos 
haviam conquistado todo o Norte da África, Espanha e Portugal. Moores (1996, p.37) 
cita dois médicos que pesquisaram a surdez em seu tempo. 
Rasis (850-920) era médico e cirurgião, ele classificou a surdez em três níveis de 
perda auditiva. Acreditava que a surdez congênita poderia ser curada se um tratamento 
fosse iniciado em até dois anos após o nascimento. 
Ibn Sina (980-1037) era médico, cirurgião e filósofo, também estudava as causas 
de surdez e seus tratamentos, ele utilizava a teoria da audição descrita na obra de 
Galeno, médico que viveu na Grécia Antiga. 
Não há registros de tentativas de educar os surdos no mundo árabe. No livro 
Disability in Antiquity de Fareed Haj, professor cego de origem Palestina da Florida 
International University, relata que a deficiência mais citada no Corão é a deficiência 
visual. Haj também comenta que a surdez é citada com pouca frequência na literatura 
árabe e fundamenta que os surdos teriam enfrentado grandes dificuldades, pois a 
transmissão da história, conhecimento e religião eram de tradição oral. 
 
1.3 O início da educação de surdos e a Idade Moderna 
 Até o momento apresentamos a situação dos surdos no mundo antigo e 
medieval, a partir daqui tratamos de alguns professores de surdos que a história mais 
destacou. Entre eles falaremos de Bonet, Ponce de Léon, Amman, Braidwood, Pereire, 
Epée, Sicard, Heinicke e Hill e suas contribuições para a educação de surdos e formação 
de professores. 
 A educação de surdos com o uso de sinais iniciou-se na Espanha, com Pedro 
Ponce de León, mas antes de falarmos sobre ele, mencionaremos Cardamo. Girolamo 
Cardamo (1501-1576) que foi médico e matemático italiano, ele reconheceu o relato de 
Agrícola ter ensinado um surdo-mudo a ler e escrever. 
Cardamo defendia a importância de ensinar os surdos a ler e escrever, ele 
acreditava que o pensamento podia ser expresso pela escrita, e não apenas pela fala. 
Cardamo apenas tratou o assunto teoricamente, nunca realizou a prática de suas ideias e 
não concebeu a ideia de utilizar sinais. 
 Os três professores que obtiveram maior destaque na educação foram: 
Braidwood na Grã Bretanha que utilizava o alfabeto bimanual para auxiliar o 
aprendizado da fala, Epée na França que desenvolveu o método francês e Heinicke na 
Alemanha que defendia o método oral puro, sem a utilização de sinais e do alfabeto 
manual. 
 
1.3.1 O primeiro tutor de surdos: Pedro Ponce de León 
 
O espanhol Ponce de León (1520-1584) é considerado o primeiro professor 
(tutor) de surdos, monge beneditino, estabeleceu uma escola no monastério de 
Valladolid no qual tutelou surdos filhos da nobreza espanhola. A surdez era comum 
entre a nobreza e a família real devido a casamentos consanguíneos, por questões de 
heranças. 
O que teria motivado Ponce de León a iniciar seu trabalho com surdos fora a 
presença dos irmãos Francisco e Pedro de Velasco no monastério, eram filhos de uma 
família rica e influente. A família Velasco possuía oito filhos, dos quais cinco eram 
surdos, os dois meninos citados acima e três irmãs que foram enviadas a diferentes 
conventos. 
Ponce de Léon havia se comprometido a ensinar Francisco, que era o 
primogênito e herdeiro do marquesado de Berlanga, a ler, escrever, e falar. A 
preocupação com sua educação devia-se a questões financeiras. Os surdos apenas 
poderiam receber herança se pudessem falar, sua educação foi bem sucedida e Francisco 
recebeu sua herança. 
Pedro de Velasco teria realizado mais estudos que seu irmão, ele estudou 
história, teria aprendido o Espanhol e o Latim, e recebido permissão do Papa para ser 
ordenado sacerdote. 
Segundo Chaves e Solar apud Moores (1996, p.38), Ponce de Léon também 
ensinouduas das irmãs Velasco e ao menos outros doze surdos, a maioria pertencendo à 
aristocracia. 
Plann apud Moores (1996, p.41) argumenta que provavelmente os irmãos 
Velascos teriam desenvolvido um código de sinais caseiros, devido ao fato de haverem 
muitos surdos na Família. Ela concluiu que a comunicação desenvolvida por Ponce de 
León seria uma fusão dos sinais utilizados pelos monges beneditinos e sinais caseiros 
usados pelos Velascos. 
A metodologia de Ponce de León foi perdida, e ele não obteve sucesso em 
ensinar um sucessor. 
 
1.3.2 A primeira publicação, Bonet e Carrion 
 
Juan Pablo Bonet (1579-1629) foi soldado a serviço de Juan Fernandez de 
Velasco capitão-geral de Castela, cujo pai era irmão de Francisco e Pedro de Velasco. 
Após a morte de Juan em 1613, Don Bernadino Fernandez de Velasco, com a idade de 
quatro anos, assumiu o título do pai. 
Ele tinha dois irmãos mais novos, um deles era Luis de três anos, que havia 
perdido a audição aos dois anos. Bonet havia sido indicado pela duquesa Dona Joana 
de Cordoba, viúva de Juan e mãe de Bernadino e Luis, como guardião de Bernadino. 
Mas Bonet também tomou para si a responsabilidade pela segurança de Luis. 
Em 1615 Ramirez Carrion, tutor do Marques de Priego que era surdo e havia 
concordado em liberar temporariamente Carrion para ensinar Luis, em 1619 ele 
regressou ao seu trabalho com o Marquês. 
No ano seguinte Bonet publicou o primeiro livro sobre educação de surdos, 
“Reducción de las Letras y Arte para Enseñar à Hablar los Mudos” sem mencionar 
Ponce de León e Ramirez Carrion, ele tomou o crédito todo para si. Provavelmente 
Bonet colaborou com Carrion ou supervisionado seu trabalho de 1615 a 1619. 
No livro ele defendia ter iniciado o treinamento do alfabeto manual com apenas 
uma mão. Uma importante contribuição seria a defesa de uma intervenção na educação 
dos surdos o mais cedo possível. E no meio em que a criança habitava deveria haver 
pessoas utilizando o alfabeto manual. 
Também defendeu o ensinamento da fala utilizando o alfabeto manual e palavras 
escritas, argumentava que a ausência de um treino oral desde a infância seria um 
impedimento para o desenvolvimento tardio da fala. 
 Por fim, Ramirez Carrion (1572-1652) aparenta ter sido um professor de surdos 
bem sucedido, seus três pupilos mais famosos foram Príncipe Emmanuel de Savoy, o 
Marquês de Priego e Don Luis, que foi nomeado por Henrique IV como o primeiro 
Marquês de Fresno. 
 
1.3.3 O livro de Amman 
 Johann Konrad Amman (1669-1724) em 1692 publicou um livro que 
influenciaria os métodos Francês e Alemão que estão descritos na próxima subseção. 
Nascido na Suíça, formou-se em medicina aos dezoito anos, foi obrigado a deixar seu 
país devido as suas ideias religiosas. Envolveu-se com a educação de surdos quando 
começou a ensinar a fala para uma criança surda. 
 Ele desenvolveu sua técnica independente de qualquer conhecimento sobre 
métodos de ensinar o surdo a falar utilizados em outros países. A concepção de Amman 
sobre a fala era de cunho religioso, acreditava que a humanidade havia perdido a “fala 
divina” com a queda de Adão e Eva. 
Ele argumentava que as línguas utilizadas eram apenas uma sombra da língua 
original, e a fala seria a característica mais importante da humanidade; portanto a ênfase 
principal na educação de surdos deveria ser o ensino da fala oral. 
 
1.3.4 A Grã Bretanha e Braidwood 
 
 Houve diversos tutores de surdos na Grã-Bretanha, os esforços maiores eram 
para a oralização, utilizavam o alfabeto bimanual, e não o de Bonet. O título de primeiro 
professor de surdos na Grã Bretanha é disputado por William Holder (1616-1698) e 
John Wallis (1618-1703). As evidências apontam que Holder teria sido o primeiro 
professor, mas Wallis foi o primeiro a mostrar publicamente seus resultados. 
 Thomas Braidwood (1715-1806) foi um dos três principais educadores de 
crianças surdas, fundou uma escola particular para surdos em Edimburgo no ano de 
1767 que era administrada por ele e seus parentes. Uma vez, Braidwood propôs revelar 
publicamente seu método se recebesse suporte financeiro da nobreza e pequena nobreza. 
Como não recebeu resposta manteve em sigilo seu método. 
 Braidwood nunca publicou nada sobre suas técnicas de ensino. Francis Green, 
que havia matriculado seu filho na escola de Braidwood, publicou em 1793 uma 
descrição do método utilizado na educação de seu filho, o que irritou Braidwood e sua 
família. 
 Em 1809, Joseph Watson (1765-1829) um dos sobrinhos de Braidwood , fundou 
a primeira escola gratuita para surdos pobres em Londres. Ele também publicou um 
livro baseado no método de Braidwood. Esse método envolvia: alfabeto bimanual, 
gestos, sinais, leitura e escrita. Para desenvolver a fala oral ele basicamente treinava a 
pronúncia das letras, depois das sílabas e depois a construção de palavras. 
 
1.3.5 Pereire, Epée e o método francês 
Nesta subseção falamos de dois professores que mais se destacaram na história, 
Pereire que utilizava sinais para ensinar os surdos a falar, e Epée que aprendeu os sinais 
utilizados pelos surdos de Paris, desenvolveu um método de instrução com aulas 
coletivas e não individuais. 
 O título de primeiro professor de surdos na França é disputado entre Jacob 
Pereire (1715-1790) e o Abade Charles-Michel de Epée (1712-1789). Pereire ficou 
conhecido como um renomado professor na França; e Epée iniciou seu trabalho com 
surdos depois de Pereire, mas foi o responsável por fundar a primeira escola pública 
para surdos em Paris. 
 Entretanto, segundo Seguin apud Moores (1996) o primeiro pupilo de Pereire, 
M. d’Azy d’Etavigny, havia estudado anteriormente em uma escola de Amiens com 
quatro ou cinco crianças surdas durante sete anos. Nesta escola havia um instrutor surdo 
que ensinava as crianças a se comunicar e expressar em sinais. Os surdos pioneiros em 
sua própria educação foram negligenciados na história. 
 Pereire nascera na Espanha, e mudou para Portugal e depois para a França 
fugindo da perseguição religiosa. Seu primeiro aluno, mencionado no parágrafo 
anterior, foi d’Etavigny um jovem de dezesseis anos que havia recebido sete anos de 
educação anteriormente. Quando iniciou seu trabalho com d’Etavigny em 1743 ele não 
era capaz de produzir a fala oral, seis anos depois Pereire apresentou seu pupilo diante 
da Academia Francesa de Ciência mostrando que ele havia aprendido a ler, produzir fala 
oral, ler lábios e compreender noções abstratas. 
 Após seu trabalho bem sucedido com d’Etavigny, Pereire teve outros pupilos. 
Assim como Braidwood, Pereire esforçou se para manter seu método em segredo. No 
século XVIII não havia escolas públicas para surdos, ensinar os filhos das famílias 
abastadas era o meio que esses professores tinham de garantir seu sustento, sendo o 
método desenvolvido por eles uma herança significativa para seus descendentes. 
 O método de Pereire morreu com ele, sua família tentou continuar seu trabalho, 
mas eles não estavam familiarizados com o método. A maioria das informações sobre o 
seu método está registrada em uma carta de um ex pupilo. Seu método envolvia: 
alfabeto manual para ensinar a fala, desenvolveu um treino auditivo para os que 
possuíssem resquícios da audição, e exercícios especiais envolvendo os sentidos da 
visão e do toque. 
 Charles-Michel, Abade de Epée ao contrário de Braidwood e Pereire, provinha 
de uma família abastada e não manteve seu método em segredo. Ele começou a 
desenvolver seu próprio método quando lhe foi solicitado que realizasse a instrução 
religiosa de duas irmãs surdas, essa experiência foi o trabalho que o iniciou na educação 
de surdos. 
 Segundo Lane (1992, p.107) Epéeimpressionou-se com o modo que as irmãs se 
comunicavam através de sinais, ele empenhou-se em aprender com elas “ofereceu-lhes 
pão e obteve o sinal de COMER; água, e obteve o de BEBER; apontando para objetos 
em redor, aprendeu os nomes que aplicavam a cada um deles. Em breve podia manter 
uma conversa com elas”. 
 O desenvolvimento de seu método foi influenciado por três fontes: a linguagem 
de sinais1 utilizados pelos surdos de Paris; o livro escrito por Bonet; e o livro de 
Amman. 
 Em Paris os surdos possuíam um meio de comunicação, Epée acreditava que 
eles possuíam uma linguagem de sinais: 
Todo surdo-mudo enviado a nós já tem uma linguagem... ele tem o 
hábito de usá-la e compreende os outros que o fazem. Com ela ele 
expressa suas necessidades, desejos, dúvidas, dores etc. e não erra 
quando os outros se expressam da mesma forma. Nós desejamos 
instruí-los e assim ensiná-los o Francês. Qual é o método mais simples 
e mais curto? Não seria nos expressando na sua língua? Adotando sua 
língua e fazendo com que ela se adapte a regras claras, nós não 
seríamos capazes de conduzir a sua instrução como desejamos? 
(LANE, p.59-60 apud Moura, 2000, p.23). 
 
Epée aprendeu essa linguagem de sinais com os surdos franceses para poder 
utilizá-la na educação de crianças surdas. Para McClure apud Moores (1996) Epée 
acreditava que a língua de sinais era a língua natural da comunicação dos surdos, seu 
meio de pensar e comunicar. 
 Epée também acreditava que essa linguagem era incompleta, para completa-la 
desenvolveu um sistema que chamou de “sinais metódicos”. Os sinais metódicos 
representaram uma expansão do vocabulário e uma tentativa de adaptar a linguagem de 
sinais para a sintaxe e morfologia da língua francesa. Assim ele utilizava os sinais que 
aprendera com os surdos e os sinais metódicos que criou. 
 Epée transformou sua casa na primeira escola pública para surdos em Paris. 
Segundo Lane (1989) à medida que a quantidade de pupilos aumentava o número de 
discípulos também crescia, após aprenderem com Epée esses discípulos voltavam para 
 
1 Nesse período a língua de sinais ainda não era reconhecida como língua, por isso utilizamos o termo 
linguagem. 
 
suas terras natais e fundavam escolas para surdos seguindo o método francês. O 
primeiro deles foi Charlotte Blouin em 1777 na cidade francesa de Angers. Em vida 
Epée influenciou a fundação de doze escolas para surdos na Europa. No tempo de 
Sicard esse número quintuplicou. 
O instituto formou surdos que se tornaram: matemáticos, químicos, 
pintores, escultores, litógrafos, gravuristas, tipógrafos, poetas, 
marinheiros e soldados, literários, e, especialmente, professores surdos 
de surdos, que viajavam pela França e Europa para ensinar seus 
irmãos e irmãs. (LANE 1989, p.64) 
 
Epée não era contra que os surdos fossem ensinados a produzir fala oral, mas ele 
considerava esse processo lento e árduo. Em sua escola era responsável pela educação 
de uma grande quantidade de crianças, não acreditava que poderia devotar uma grande 
parte de seu tempo em ensinar a produzir a fala oral. Epée considerava mais importante 
o desenvolvimento das capacidades intelectuais. 
 Ele era criticado por seu método privilegiar a comunicação através da língua de 
sinais ao invés da fala. Os ataques mais fortes eram de Pereire e Heinicke, ambos 
ficaram perturbados quando o Abade austríaco Stark aprendeu com Epée seu método e 
fundou a primeira escola para surdos em Viena. Heinicke e Epée travaram uma batalha 
particular sobre seus métodos através de cartas. 
 Epée realizava demonstrações públicas para mostrar ao mundo que os surdos 
poderiam ser educados através do seu método, um exemplo dessas demonstrações ele 
fazia perguntas para os pupilos e eles respondiam através da escrita. No ano de 1776 
publicou o livro “Institution des Sourds-Muet par la Voie des Signes Méthodics” no 
qual explicava seu método (Lane, 1989, p.46-47). 
Antes de Epée realizar essas demonstrações os que nasciam surdos ou ficavam 
ensurdecidos antes de aprenderem o Francês, eram escondidos pela família devido a 
vergonha, eram abandonados na beira de estradas, secretamente colocados em 
instituições, ou simplesmente deixados a vegetar (Lane, 1989, p.47). 
Essas exibições contribuíam para provar que os surdos não eram os seres 
inferiores, e que eles teriam um local onde poderiam receber instrução gratuitamente. 
Epée morreu em 1789 e foi sucedido por um de seus discípulos o Abade Sicard. 
Roch-Ambrosie Sicard (1742-) foi ordenado sacerdote aos vinte e oito anos. Ele 
foi escolhido pelo arcebispo Champion de Cicé para dirigir uma escola de surdos em 
Bordeaux. Para exercer tal função foi para Paris e estudou durante um ano no instituto 
de Epée, assim como outros interessados na surdez também faziam. 
 
1.3.6 O método Alemão, Heinicke e Hill. 
 
 Samuel Heinicke (1729-1790) ficou conhecido como o criador do método 
Alemão. Era autodidata e possuía uma vasta carreira militar, decidiu dedicar-se a 
educação de surdos após algumas experiências bem sucedidas como tutor e professor de 
crianças surdas em diversas cidades germânicas. 
 A convite do príncipe da Saxônia Heinicke fundou a primeira escola pública 
para surdos da Alemanha em Leipzig no ano de 1778. Ele defendia que o modo natural 
de ensinar os surdos deveria ser a falar e depois as letras. O livro de Amman também o 
influenciou. Argumentava que o pensamento puro apenas era possível através da fala, e 
que tudo dependia dela. 
 Sua técnica envolvia o sentido do paladar, ele associava as vogais a diferentes 
líquidos que eram colocados na língua das crianças. Heinicke trabalhava com seu filho 
Rudolf, que morreu antes de seu pai. Ele tinha mais dois filhos, mas eles não se 
interessaram pelo trabalho do pai. 
 Após a morte de Heinicke, sua viúva e os dois filhos tentaram continuar seu 
método, mas não obtiveram muito sucesso e seu método não sobreviveu por muito 
tempo. 
 Outro educador alemão influente foi Frederick Hill (1805-1874), ele aplicou os 
princípios de Pestalozzi na educação de surdos. Ele defendia as crianças surdas 
deveriam aprender a língua oral da mesma maneira que as crianças ouvintes. Acreditava 
que a fala deveria ser a base para toda a educação. 
 Para ensinar as crianças ele utilizava desenhos, figuras coloridas, leituras 
específicas, ele não permitia a utilização do alfabeto manual e de sinais, apenas as 
crianças muito novas poderiam utilizar gestos naturais. Hill também praticava a 
formação de professores para atuarem com surdos, e sua influência espalhou-se pela 
Alemanha e Europa. 
 
1.4 A Idade Contemporânea e o Congresso de Milão 
 
 No início da Idade Contemporânea o mundo passava passando por algumas 
transformações como o neocolonialismo (África e Ásia), a Primeira Revolução 
Industrial, o desenvolvimento do capitalismo, e o nacionalismo. Nesse período os reinos 
europeus estavam unindo-se formando o chamado Estado-nação, através do 
nacionalismo uniam sobre uma única bandeira uma língua, cultura, política, história, 
símbolos, religiosidade em comum. 
Nesse cenário, a existência de sinais utilizados pelos surdos para se 
comunicarem e serem educados representava uma ameaça ao nacionalismo, que 
defendia a existência de uma única língua comum para todos os habitantes de um 
determinado país. 
 
1.4.1 Congresso de Milão 
No ano de 1880 na cidade italiana de Milão aconteceu o II Congresso 
Internacional sobre a Educação de Surdos. Os países que participaram foram: Grã-
Bretanha, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Suécia, Rússia, Itália e França. Ao todo 
houve 164 delegados a grande maioriadeles eram italianos e franceses, apenas um 
surdo conseguiu participar das reuniões, mas não pode votar as decisões. 
Segundo Lane (1989) foi uma reunião organizada pelos defensores do oralismo e 
toda sua organização foi feita para garantir a vitória da utilização do método oral na 
educação de surdos. A seguir o depoimento do diretor da Royal School for the deaf 
Childern na Inglaterra: 
foi sobretudo uma assembleia partidária. A maquinação para elaborar 
os decretos segundo as linhas de seus promotores evidentemente que 
tinha sido preparada antes e, quanto a mim, parecia que a principal 
característica era o entusiasmo [pela] ‘orale pure’ em vez de uma 
deliberação calma sobre as vantagens e desvantagens dos métodos 
(LANE,1989, p.110) 
 
 O presidente eleito do congresso foi Giulio Tarra (1832-1889) era sacerdote e 
diretor do Instituto de Surdos de Milão defensor do método oral, em seus discursos ele 
defendia a proibição do uso de sinais: 
Gestos não é a verdadeira língua do homem a qual é adequada à 
dignidade de sua natureza. Gestos, ao invés de referenciar o 
pensamento, referenciam a imaginação e aos sentidos. Além do mais, 
não é e nunca será a língua da sociedade... Assim, para nós é uma 
necessidade absoluta proibir essa linguagem e substituí-la pela a fala, 
o único instrumento do pensamento humano. (LANE,1989, .p.391) 
 
 Os discursos realizados utilizavam de argumentos religiosos para justificar que 
os surdos deveriam falar e não utilizar sinais. Zucchi em seu discurso disse: 
Lembrem que a fala é um privilégio do homem, o único e correto 
meio do pensamento, uma dádiva de Deus, do qual foi 
verdadeiramente dito ‘A fala é a expressão da alma. Como a alma é a 
expressão do pensamento divino’ (LANE,1989,p.392) 
 
Tarra em um dos seus discursos persiste na questão da fala ser um meio do surdo 
ter uma alma, e acusa os sinais de prejudicarem a elevação da mente: 
O discurso oral é o único poder capaz de reacender a luz que Deus 
introduziu no homem quando, ao lhe conceder uma alma num corpo 
físico, deu-lhe também os meios para compreender, para conceber e 
para se exprimir... por um lado, os sinais mímicos não são suficientes 
para exprimir o conteúdo do pensamento, por outro, enaltecem e 
glorificam fantasias e todas as faculdades do sentido de imaginação 
[...] A fantástica linguagem gestual exalta os sentidos e fomenta as 
paixões, ao passo que o discurso eleva a mente de forma muito mais 
natural, com calma, prudência e verdade. (LANE,1989, p.110) 
 
Ele também defendia que quando o surdo confessava um pecado usando os 
sinais ele revivia esse pecado, portanto pecava novamente “uma pessoa surda confessa 
através de sinais que estava zangada, a paixão detestável regressa ao pecador o que não 
ajuda na sua recuperação moral” (LANE,1989, p.110). Defendia que quando o surdo 
confessava utilizando a fala, ele refletia sobre o mal que cometera, e não o revivia. 
 Sobre a resolução de qual método deveria ser preferido na educação de surdos, 
Lane (1989, p.134) destacou que foi votado pela ampla maioria que deveria ser o 
método oral puro, pois o uso simultâneo de sinais e fala era prejudicial para o 
aprendizado da fala. E que o uso da fala era sem dúvida superior aos sinais, pois ela 
permitia que os surdos pudessem comunicar-se com mais facilidade com os ouvintes. 
Apenas os delegados dos Estados Unidos votaram contra a proposta do método 
oral puro. Um delegado americano disse: “a infeliz resolução de Milão abriu o caminho 
para imprimir aos surdos de todos os pontos do globo um método repugnante; hipócrita 
na exigência, desnaturado na aplicação, e com resultados finais que atrofiam a mente e 
matam a alma”. (LANE,1989, p.111) 
Para Lane (1992) “as conclusões de Milão corresponderam igualmente ao desejo 
dos educadores de total controle das salas de aula, o que não se consegue alcançar se os 
alunos utilizarem uma língua de sinais e os professores não” (LANE,1992, p.111), a 
opressão sobre os surdos aumentaria após o congresso, os professores ouvintes não 
aceitavam dividir seu papel de professor com os educadores surdos. 
Nos anos após o Congresso a quantidade de professores surdos diminuiu cada 
vez mais, assim eles foram afastados das discussões e resoluções relativas à educação de 
seus semelhantes na diferença. As escolas transformaram-se em clínicas da fala, na 
medida em que era necessário muito tempo para que os surdos aprendessem a falar. O 
aprendizado das matérias em si estava em segundo plano. 
Assim os sinais foram proibidos de serem utilizados nas escolas de surdos e 
muitos professores surdos foram demitidos. As decisões e compromissos firmados no 
congresso geraram consequências que persistem até hoje. Os sinais apenas regressaram 
para a educação de surdos na década de 80. 
 
1.4.2 Os caminhos para reconhecimento da língua de sinais 
 
Nesta subseção temos o objetivo de apresentar algumas pesquisas que 
contribuíram para o reconhecimento da língua de sinais enquanto língua, estudos que 
comparam a inteligência de surdos e ouvintes a fim de mostrar que o surdo não possuía 
uma inteligência inferior pelo fato de ser surdo, e estudo que apontam a importância da 
língua de sinais para a educação de surdos. 
 Anos após o Congresso de Milão aproximadamente na década de 60, parte dos 
professores de surdos estava convencido de que o método oral não estava produzindo 
níveis aceitáveis de linguagem oral, leitura labial e habilidades de leitura escrita (Moura 
2000, p.55). 
 Novos estudos iriam contribuir para que os sinais voltassem a ser utilizados na 
educação de surdos, para o reconhecimento das línguas de sinais enquanto línguas e a 
criação da filosofia educacional denominada bilinguismo para surdos. 
Entre esses estudos temos a estruturação linguística e gramatical da língua de 
sinais por Stokoe em 1960; pesquisas realizadas por Stevenson em 1964; Meadow em 
1966 e Vernon em1970; que comparavam o desenvolvimento de surdos filhos de pais 
ouvintes (SFPO) e surdos filhos de pais surdos (SFPS) e trabalhos de Mindel e Vernon, 
1971, que demonstravam que surdos e ouvintes possuem a mesma distribuição de 
inteligência de surdos e ouvintes. 
 William Stokoe (1919-2000) era professor universitário e linguista na Gallaudet 
University, uma universidade dedicada à educação superior de surdos. No ano de 1960 
publicou sua pesquisa Sign Language Structure, na qual defendia que a língua de sinais 
era uma língua completa e que deveria ser usada na educação de surdos. A repercussão 
não foi positiva sofreu ataques da própria universidade, dos colegas e do público norte 
americano em geral. Seus estudos e publicações começaram a ser aceitos e difundidos 
apenas na década de 80 (Sánchez apud Moura 2000, p.56-57) 
Segundo Moura (2000, p,56) Stevenson em 1964; Meadow em 1966 e Vernon 
em 1970, realizaram um estudo que comparou SFPO com SFPS, os primeiros 
utilizavam a linguagem oral e os segundos tinham acesso a língua de sinais no ambiente 
familiar. As conclusões foram que os SFPS tinham um desenvolvimento escolar melhor 
do que seus colegas SFPO, a língua de sinais contribuía para o desenvolvimento da 
criança e não prejudicava o aprendizado escolar e a linguagem oral, como foi defendido 
pelos oralistas desde o século XVIII. 
 Eugene Mindel, professor e psiquiatra, e McCay Vernon, psicólogo e professor, 
publicaram em 1971 um estudo que comparava a distribuição de inteligência entre 
surdos e ouvintes, o resultado foi de não haver diferença na inteligência, portanto o 
surdo não teria uma inteligência inferior, como era defendido pelos oralistas, e que essa 
não poderia ser uma justificativa para o atraso escolar (Moura 2000 p.56).1.5 O Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES 
Toda essa subseção está baseada no livro de Solange Rocha “O INES e a 
educação de surdos no Brasil – aspectos da trajetória do Instituto Nacional de Educação 
de Surdos em seu percurso de 150 anos”. 
 
1.5.1 Da fundação do INES ao Congresso de Milão 
 A história do primeiro Instituto de Educação de Surdos no Brasil começa no 
Instituto de Epée, como já foi mencionado no texto, era comum a formação de 
professores surdos no Instituto, e eles eram convidados a fundar novos institutos em 
outros países e formar professores para educar alunos surdos. 
 Eduard2 Huet, nasceu em Paris no ano de 1822, ficou surdo aos doze anos após 
ter contraído sarampo, estudou no instituto fundado por Epée, na época sobre a direção 
do Abade Sicard, foi um dos principais responsáveis pela fundação do primeiro instituto 
para surdos no Brasil. 
 Em 1855, Huet entregou para o imperador D. Pedro II, um relatório no qual 
apresentava duas propostas para a criação do Instituto com ajuda do governo, a maioria 
dos surdos pertenciam a famílias pobres, não tinham condições de sustentar os estudos 
dos filhos. As propostas eram criar o Instituto no molde público, no qual o Império 
arcaria com todas as despesas; ou no molde privado, com um auxílio pecuniário por 
parte do governo e uma concessão de bolsas. 
 Huet argumentava que por experiências anteriores em outro Instituto que foi 
diretor, o melhor molde seria o privado, e esse foi o molde escolhido, no dia 1 de 
janeiro de 1856, a escola para surdos começou a funcionar nas dependências do Colégio 
De Vassimon. 
 Meses depois, em abril, Huet escreveu uma carta à Comissão Diretora, 
responsável por acompanhar o desenvolvimento do Instituto, nela agradecia o auxílio 
pecuniário de D. Pedro II, informou que dificilmente essas instituições conseguiam se 
sustentar sozinhas devido às despesas necessárias com a educação, manutenção etc. e 
que na Europa elas recebiam ajuda de caridades particulares, também solicitou outro 
espaço para o Instituto funcionar, pois o lugar que utilizavam não possuía condições 
higiênicas, e espaço suficiente para as camas dos alunos e do próprio Huet. 
 Ele também lembrou que havia encaminhado em 1855, à Câmara dos 
Deputados, uma petição para a criação de um Instituto para Surdos com as mesmas 
vantagens do Instituto de Cegos3, como a instituição já fora criada, ele solicitou a 
concessão de 30 bolsas para os alunos. 
 Enquanto seus pedidos não foram atendidos, o Instituto sobrevivia com 
donativos do Mosteiro de São Bento, Convento do Carmo, das matriculas particulares e 
subvenções do Imperador. Em 26 de setembro de 1857 os pedidos foram atendidos, no 
ano de 1908, essa passou a ser a data oficial da criação do Instituto de Surdos e Mudos e 
 
2 Rocha (2007) relata que não há certeza sobre o nome do fundador do Instituto de Surdos, ele assinava de 
dois modos E. Huet ou E. D. Huet. Nos documentos sobre o Instituto seu nome aparece como E. Huet ou 
apenas Huet. Entre os anos 50 e 90 ele passou a ser identificado como Ernest Huet, e a partir dos anos 90 
como Eduard Huet. 
3 Atual Instituto Benjamin Constant, fundado em 17 de setembro de 1854. 
também a data comemorativa Dia Nacional do Surdo. Em 1957 o nome oficial mudaria 
para Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) utilizado até hoje. 
 Em outubro de 1857, o Instituto foi transferido para uma casa maior, o contrato 
de aluguel foi assinado por três anos e pago pelo Mosteiro de São Bento e pelo 
Convento do Carmo. Até o dia primeiro de setembro de 1858, estavam matriculados 
treze meninos e seis meninas. 
 Os documentos apontam que no ano de 1859, o Instituto passava por problemas 
econômicos, de disciplina, de moralidade, além de conflitos graves entre Huet e sua 
esposa. Esses seriam os motivos que levariam a saída do diretor em 13 de dezembro de 
1861, posteriormente foi para o México, onde fundou outro Instituto para surdos nos 
mesmos moldes do INES. 
 Julho de 1862 chegara da França, após uma formação no Instituto de Epée, o 
professor Dr. Manoel de Magalhães Couto, que assumiria a direção do INES em 
primeiro de agosto do mesmo ano. Nesse período as aulas ministradas aos surdos eram: 
leitura e escrita, doutrina cristã, aritmética, geografia com ênfase no Brasil, geometria 
elementar, desenho linear, elementos de história, Português, Francês e contabilidade. 
Não havia o treino da fala oral e da leitura sobre os lábios. 
 No ano de 1868, foi designado que o chefe da Seção da Secretaria de Estado, 
Tobias Rabello Leite, médico, fizesse um relatório sobre o desenvolvimento do 
Instituto, o resultado foi que ele funcionava apenas como um asilo aos surdos, não havia 
ensino. O diretor foi exonerado e Leite assumiu a direção até sua morte em 1896. 
 Pouco tempo após sua chegada ao INES, Leite enviou um relatório ao secretário 
do Estado dos Negócios do Império, onde descrevia as dificuldades em dirigir o 
Instituto, entre elas havia problemas de formação dos empregados que não sabiam 
exatamente quais eram suas funções e de recursos materiais. 
 As mudanças feitas por Leite foram: implementar o ensino profissionalizante, 
defendia que os surdos após concluírem seus estudos precisavam dominar um ofício 
para se sustentarem, e devido à realidade brasileira o foco seria no ensino agrícola; 
oferecer a linguagem oral para os que mostrassem mais facilidade em aprendê-la. 
Leite também traduziu para o português livros utilizados no Instituto de Paris, 
com foco nos do professor Valede-Gabel, o livro “Methode pour Enseigner aux Surds-
Muets” foi traduzido e publicado e 500 exemplares distribuídos em quatro províncias 
nacionais. 
Uma publicação original do Instituto foi a Iconografia dos Sinais dos Surdos-
Mudos em 1875, desenhada por Flausino José da Costa Gama, ex-aluno do Instituto e 
professor repetidor4 de 1871 a 1879. 
Um dos objetivos dessa publicação era a divulgação dos sinais pelo território 
nacional, Leite defendia que o INES deveria atender os alunos surdos do Rio de Janeiro 
e do Espírito Santo, e formar professores para trabalharem nos institutos em outras 
províncias. 
 Assim como na França, ex-alunos do Instituto tornavam-se professores, Gustavo 
Gomes de Mattos, substituiu Flausino de 1880 a 1889; e Joaquin Maranhão, no ano 
1871 assumiu a função de mestre de oficina e sapataria. A valorização dos alunos e do 
professor surdo era algo concreto no INES. 
 No século XIX o modelo de Escola-Instituição mista não era uma prática 
comum, o diretor acreditava que as meninas deveriam ser instruídas em casa e aprender 
atividades domésticas, elas continuavam no instituto até o primeiro mênstruo, depois 
eram enviadas para casa ou um abrigo, após não haver nenhuma aluna, a professora D. 
Amélia Emilia da Silva Santos foi dispensada. 
 No dia 18 de março de 1881, o Instituto foi transferido para a rua das 
Laranjeiras, onde se localiza até hoje. 
 
1.5.2 Consequências do Congresso de Milão no INES 
 Três anos após o Congresso, o professor Dr. Joaquim José de Menezes Vieira, 
defensor do oralismo, discordava com o programa de ensino de Leite, de focar o 
português escrito, a profissionalização e oferecer aulas de linguagem articulada apenas 
para os mais aptos, defendia que todos deveriam ser submetidos à oralização. 
 O programa de Menezes foi aplicado e, após sete anos, avaliado por Leite que 
considerou que os alunos não obtiveram nenhum rendimento, e que a escrita já havia 
provado sua utilidade, em 1889, o Governo ordenou que o ensino de linguagem 
articulada fosse apenas para os que pudessem dela se beneficiar, a critério do professor 
e diretor. Em 1890,insatisfeito com a decisão, Menezes pediu sua aposentadoria do 
magistério. Leite defendia que o método deveria se adaptar ao aluno, e não o contrário. 
 
4 Era uma função que sofria diversas alterações ao longo dos anos, entre os deveres estava o de assistir as 
aulas e repetir as lições do professor, acompanhar os alunos no recreio e na volta a sala de aula, pernoitar 
com os alunos internos, acompanhar os visitantes no Instituto, corrigir exercícios e substituir os 
professores. 
 Leite morre em agosto de 1896, e em fevereiro de 1897, João Paulo de Carvalho 
assume o posto de diretor do instituto. No período entre a morte de Leite e a posse de 
Carvalho, Cândido Juca, outrora professor interino de linguagem escrita, foi contratado 
para ocupar a cadeira de linguagem articulada. 
 Juca foi considerado um grande professor no Instituto, tornou-se um defensor da 
língua oral, o êxito de seu trabalho foi reconhecido e publicado em uma matéria no 
Jornal do Comércio, do dia 5 de dezembro de 1898. 
 Em março de 1901, foi assinado o Decreto n°3964, ele estabeleceu o 
regulamento de 1873, de que o ensino da linguagem articulada e leitura sobre os lábios 
seriam apenas para os que tivessem aptidão; foi criada mais uma vaga para professor 
repetidor, somando quatro no total e o número de entrada de alunos gratuitos foi 
aumentado, somando trinta e cinco ao todo. 
 João Paulo Carvalho foi exonerado em 1903, e o advogado João Brasil Silvado 
assumiu a direção, no ano de 1906 criou a revista do Instituto de Surdos-Mudos, a 
produção foi de três edições e assinou artigos em defesa da educação das meninas 
surdas. 
 
1.5.3 Do início do século XX aos anos 50 
 Em 1907, Custódio Ferreira Martins assumiu a direção, sua gestão durou 23 
anos, o grande marco de sua gestão foi a ampliação do Instituto, com o argumento de 
criar uma seção feminina, na época algumas alunas frequentavam ilegalmente aulas do 
professor Saul Borges. 
 No ano de 1911, por interferência do Decreto n°9198, artigo 9º, o método oral 
puro deveria ser aplicado em todas as disciplinas, e os professores de linguagem escrita 
foram transferidos para a linguagem articulada e leitura sobre os lábios, o decreto 
também criou uma seção feminina, o que pressionou as obras de reforma do prédio. 
 Após três anos de experiência oralista, os resultados não foram positivos, e o 
diretor enviou um relatório ao governo pedindo para poder adequar os métodos aos 
alunos, e não os alunos aos métodos. 
 Em janeiro de 1925, o Decreto n°16.782, passou o INES à classe de 
estabelecimento profissionalizante, na época as oficinas em funcionamento eram a de 
encadernação e sapataria. Em 1926, o Instituto sofrera novas críticas ao ser visitado pelo 
médico Dr. Arnaldo de Oliveira Bacellar, que defendera uma tese intitulada “A Surdo-
Mudez no Brasil”. 
 Ele criticou a administração que considerou não energética o suficiente; ausência 
de ordem, de disciplina; denunciou a ausência de materiais como, papel, livros, lápis, 
biblioteca; os alunos iriam às aulas apenas se quisessem; a não existência de métodos de 
ensino e considerou que o instituto na verdade se comportava como um decadente asilo. 
As críticas aumentaram, a imprensa publicava manchetes sensacionalistas. 
 Enquanto os jornais atacavam o trabalho de Custódio, eles enalteciam o trabalho 
de outros dois médicos otologistas5, Dr. Armando de Paiva Lacerda e Dr. Henrique 
Mercalo, foram reconhecidos pelos cientistas com seus trabalhos de reeducação 
auditiva. 
 Em 1930, o chefe de governo nomeou Lacerda como diretor do Instituto, iniciou 
seus trabalhos se dedicando a reorganizar a instituição, o plano de ensino por ele 
elaborado, era de dividir os alunos entre os que poderiam se beneficiar da linguagem 
articulada e dos que apenas poderiam ser educados pela escrita, também foi pressionado 
pela Aliança Nacional das Mulheres, uma organização feminista, para as surdas terem 
acesso ao Instituto, em 1932 foi criado uma seção feminina com oficinas de costura e 
bordado, apenas em regime de externato. 
 O objetivo do ensino era o desenvolvimento da linguagem, e as aulas não eram 
organizadas por disciplina, sendo divididas em: linguagem escrita; linguagem oral e 
leitura labial; e linguagem oral/auditiva, para os alunos com resíduo auditivo. Os 
estudos eram concluídos quando o aluno dominava uma profissão oferecida pelo 
Instituto, entre elas havia: marcenaria, modelagem, alfaiataria, encadernação e sapataria. 
 Em 1936, novamente o diretor aproveita o jornal, O Globo, para suas denúncias, 
queixou-se das repartições que ocupavam a ala direita do prédio, desde os anos 20, o 
Ministério da Guerra, que tinha a Inspetoria de Fronteiras funcionando no prédio desde 
1918, propôs o pagamento de um aluguel pelo tempo utilizado e para continuarem ali, 
além de promover uma reforma para expandir o prédio. 
 Um ano depois as obras iniciaram, e as aulas foram suspensas por quase cinco 
anos, a maioria dos alunos regressou para suas casas, os que não tinham onde ficar 
permaneceram no Instituto. As obras envolveram a construção de um ginásio esportivo, 
oficinas profissionalizantes, um elevador, um auditório, e ampliação de espaço no 
segundo e terceiro andar. 
 
5 Otologia é o estudo do ouvido e suas doenças. 
 Em 1941, as obras caminhavam com dificuldades financeiras, então o 
Departamento Administrativo do Serviço Público encaminhou uma verba que permitiu 
a conclusão das mesmas. No ano de 1946, foi publicada a cartilha “Vamos Falar”, por 
Jorge Mário Barreto e Léa Paiva Borges, professores da instituição. 
 Em 1947, ao conceder uma entrevista à revista Mulher Magazine, queixou-se da 
ausência de instalações para um jardim de infância, falta de apoio oficial para os cursos 
de extensão para professores, e defendeu que os soldados com problemas auditivos, por 
consequência da Segunda Guerra Mundial, necessitavam aprender a leitura labial para 
superar a dificuldade comunicativa. 
 Nesse mesmo ano Lacerda foi denunciado e exonerado do Instituto sobre a 
acusação de má gestão técnica e administrativa, mas o real motivo seria sua ligação com 
Partido Comunista do Brasil, ele abrigara seu cunhando, o deputado Trifino Correia, o 
senador Luis Carlos Prestes, e outros na casa ao lado da sede principal do Instituto e por 
permitir que reuniões do partido fossem realizadas no Instituto. No seu lugar, a direção 
foi assumida por Antônio Carlos de Mello Barreto, que possuía um perfil disciplinador. 
 No dia 5 de outubro de 1950, os alunos realizaram uma revolta, depredaram a 
seção disciplinar, o gabinete do diretor, a secretaria, pegaram suas camas e atiraram 
colchões do terceiro andar. A provável causa da rebelião foi a decretação da prisão de 
Prestes e seus colaboradores, entre eles o Dr. Armando Lacerda. As consequências 
foram a suspensão de alguns alunos e a exoneração do diretor, sendo nomeada para o 
cargo no dia 23 de fevereiro de 1951 a professora Ana Rímoli de Faria Dória. 
 Um dos seus primeiros atos como diretora foi a requisição de Tarso Coimbra, 
advogado e jornalista, que havia sido professor de Ensino Emendativo em várias 
instituições, inclusive no INES, sua função seria de contribuir para a implementação de 
um ensino que formasse um surdo autossuficiente. Ela havia trabalhado no Instituto de 
Pesquisas e Formação Social do MEC. 
 Outro ato foi a criação de um curso de formação de professores com o título de 
Curso Normal Especializado para a Educação de Surdos, o corpo docente era formado 
por profissionais médicos e docentes do Instituto. O currículo era semelhante ao do 
Curso Normal do Instituto de Educação,com a mesma duração de três anos, as 
diferenças seriam as disciplinas de: Noções de Física, Histologia, Ensino Emendativo, 
Elementos de Fonética, Anatomia Geral e Especializada, Didática Especial, Psicologia 
da Linguagem, Anatomia, Fisiologia e Patologia da Audição e da Fonação, Educação 
Pré-escolar da Criança Deficiente da Audição e da Fonação. 
 
1.5.4 Da década de 50 à 80 – a fala, as publicações, e os seminários. 
 
Em 1952, Dória convidou a professora Ângela de Liza de Brienza para ministrar 
as aulas de fonética e didática especial, e com ela, novamente a imposição do oralismo 
puro, entre seus argumentos dizia que os surdos “tinham o direito de se comunicarem na 
língua que os caracterizava como filhos de um país”. 
 No ano de 1957, foi criada a campanha para a Educação do Surdo Brasileiro, o 
objetivo era de promover a educação, em todo o Brasil, formando professores 
especializados que atuariam em futuras escolas para alunos surdos. Nesse mesmo ano, a 
diretora iniciou um processo para alterar o nome do Instituto Nacional de Surdos-
Mudos. Em julho do mesmo ano o pedido foi concretizado, o nome passou a ser 
Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, nome mantido até hoje. 
 Outro destaque do INES era o trabalho dos profissionais de Educação Física, 
enquanto a comunicação pela língua de sinais era desestimulada, esses professores 
atuavam como intérpretes dos alunos em cerimônias na instituição e eventos 
particulares. 
 As publicações foram intensificadas, de autoria da diretora Dória, foram 
publicados os livros: Manual de Educação da Criança Surda, Ensino Oral-Áudio-Visual 
para os Deficientes da Audição, Introdução à Didática da Fala e Compêndio de 
Educação da Pessoa Surda. No ano de 1961 ela foi afastada da direção. 
 A professora Ivete Vasconcelos especializada em surdez publicou um artigo com 
o Dr. Lacerda sobre a importância do diagnóstico precoce na educação da pessoa surda. 
No início do anos 70 foi inaugurado no INES o Serviço de Educação Precoce para 
atender as crianças menores de 3 anos e orientar os pais, que esperavam elas 
completarem a idade necessária para serem matriculadas no Instituto. 
 Em novembro de 1974, foi realizado no Instituto o I Seminário Brasileiro Sobre 
Deficiência Auditiva, o foco era a Formação de Professor Especializado de Deficientes 
da Áudio-Comunicação, promovido pelo MEC/CENESP, houve a presença de 
profissionais brasileiros, venezuelanos e franceses. 
 As decisões tomadas foram sugeridas ao Ministério da Educação e Cultura, entre 
elas: a formação de professores de deficientes da áudio-comunicação fosse realizada 
dentro do curso de Pedagogia; o MEC necessitava proporcionar a formação continuada 
do professor especializado; e impedir o ingresso a cursos de Professores de Deficientes 
da Áudio-Comunicação aqueles que possuíssem distúrbios de audição e linguagem. 
 As recomendações foram assinadas por José Geraldo Silveira Bueno e Maria 
Cristina da Cunha Lacerda6, professores da Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo; e professores da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da 
Comunicação (DERDIC). 
 Em 1980, promovido pelo MEC/INES, foi realizado o II Seminário Brasileiro 
sobre Deficiência Auditiva, nesse mesmo ano havia a preocupação com a demanda de 
professores para a própria instituição, visto que os professores da década de 50 em 
breve se aposentariam. 
 Um ano depois, foi oferecido um curso de Especialização de Professores na Área 
da Deficiência Auditiva, com carga horária de 900 horas, o processo seletivo era 
bastante rigoroso. Três anos depois, o MEC/CENESP realizou um concurso para 
professores. 
 
1.5.5 O retorno dos sinais na educação 
 
A década de 80 foi um período de intensas transformações, a rede Globo em 
1982, lançou a novela “Sol de Verão”, em horário nobre com um rapaz surdo como 
protagonista, interpretado por Tony Ramos. O ator aprendeu a língua de sinais com um 
professor surdo do INES, Narciso Paiva. O personagem se comunicava exclusivamente 
por sinais, apenas no último episódio ele participa de um treino oral por seis meses com 
uma fonoaudióloga e fala uma frase. 
 Outro fato significativo foi à indicação de Lenita de Oliveira Viana para a 
direção do INES, depois de muitos diretores pouco familiarizados com as questões da 
educação de surdos, ela era ex-aluna do Curso Normal, criado por Dória, e possuía 
quase trinta anos de experiência no INES, era fonoaudióloga e compreendia a 
importância dos sinais da comunicação dos surdos. 
 Aqui concluímos nossa escrita sobre a história da educação de surdos e seus 
professores. Nela mostramos as concepções que foram criadas sobre o ser surdo da 
Idade Antiga a Idade Contemporânea. 
 
6 A autora confundiu o nome da professora, o nome correto é Maria Cristina da Cunha Pereira. 
 Tratamos sobre os primeiros professores que se tem registro na história, 
comentamos as publicações feitas sobre métodos para educar surdos e como elas 
influenciaram outros professores. 
 Mostramos o movimento contrário à utilização dos sinais e a favor da oralização, 
o Congresso de Milão e suas consequências na educação de surdos, os estudos que se 
esforçaram para que os sinais fossem novamente utilizados na educação de surdos e 
pelo reconhecimento das línguas de sinais enquanto línguas. 
 Finalizamos explicando como se desenvolveu a fundação do primeiro instituto 
para educação de surdos no Brasil, as dificuldades que a instituição passou ao longo de 
sua história, e as contribuições que ela trouxe para a educação de surdos. 
 Na próxima seção trataremos da Pedagogia e a formação de professores no 
Brasil, a fundação da Pontifícia Universidade Católica, e o processo que levou a 
implantação da disciplina de Libras no curso de Pedagogia.

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