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SEÇÃO 1 – HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO DE SURDOS E SEUS PROFESSORES Nesta primeira seção apresentaremos uma síntese da história da educação de surdos na Europa, Estados Unidos e Brasil. Nosso foco foi sobre os professores e suas formações. Os autores que embasam esse texto são Harlan Lane (1984 e 1992), Donald Moores (1996), Cecília Moura (2000), e Solange Rocha (2007). Optamos por escrever sobre a história da educação de surdos e seus professores para introduzir o leitor a uma breve contextualização das concepções de surdos que foram formadas ao longo da história, dos principais professores que acreditavam que os surdos eram capazes de ser educados, e dos movimentos a favor e contra o uso da língua de sinais na educação de surdos. Para as subseções 1.1 à 1.3.5 baseamos a maior parte da pesquisa no livro Educating the Deaf de Moores (1996), para a subseção 1.4 sobre o Congresso de Milão nos baseamos em Lane (1992). A subseção 1.5 sobre o Brasil está baseada nos livro de Moura (2000) e Rocha (2007). 1.1 Surdos na antiguidade As primeiras sociedades a possuir registro escrito foram à egípcia e os reinos mesopotâmicos – Sumério, Assírio e Babilônico. Nos reinos mencionados também existia a prática de uma escolarização formal. Nessas civilizações era praticada a escolarização para a formação de escribas, após aprenderem a ler, escrever e realizar cálculos matemáticos, eles eram treinados para funções burocráticas governamentais específicas. O trabalho intelectual era valorizado nessas sociedades, sendo a profissão de escriba uma oportunidade de ascender socialmente. Em relação aos surdos e sua educação, não foi encontrado nenhum registro de professores e tentativas de educar pessoas surdas nessas civilizações. Na sociedade egípcia antiga a situação se demonstra diferente da Mesopotâmia, o infanticídio era proibido por decreto, havia um interesse pelas pessoas com deficiência e esse interesse foi documentado. Na família real era comum o nascimento de pessoas com deficiência devido aos casamentos consanguíneos. A medicina egípcia era considerada avançada em comparação as outras sociedades, os médicos pesquisavam as causas, tratamentos e possíveis curas para as deficiências, a maioria dos registros são de pesquisas relacionadas à cegueira. Os cegos possuíam ofícios importantes na sociedade egípcia, eles eram treinados em música, arte e massagem. Considerando que o Egito era um estado Teocrático, a presença de pessoas com deficiência atuando em cerimônias religiosas representa uma inclusão social significativa. A surdez era menos compreendida que a deficiência visual, os médicos tratavam os surdos aplicando pomadas e loções. O Papiro de Ebers, data de 1550 a.C., é um tratado médico que possuí diversas receitas mágicas e remédios para tratamento de doenças, nele está presente a primeira referência a surdez no Egito. As evidências sugerem que os surdos eram aceitos socialmente, o interesse do Estado sobre eles era teológico e judicial, e não médico e educacional. As principais preocupações eram em definir os direitos legais e religiosos dos surdos. Nas civilizações do Crescente Fértil, a maioria da população era composta por camponeses e artesãos iletrados, a educação estava restrita a poucas classes sociais, nesse caso o fato dos surdos não receberem educação não seria um fato significativo, uma vez que a maioria da população também não recebia. No continente europeu a condição de vida dos surdos era menos favorável que no Egito e Mesopotâmia. No contexto grego dois filósofos se destacam em comentários relacionados aos surdos, Aristóteles e Sócrates. Aristóteles (2006) em 355 a.C., no livro “História dos Animais”, escreveu “os surdos de nascimento são também mudos. São capazes de emitir sons, mas não têm propriamente uma linguagem articulada.” Essa frase lhe concedeu o título de criador do termo surdo-mudo. Os filósofos gregos, e não apenas Aristóteles, acreditavam que o pensamento poderia ser concebido através da articulação de palavras, que o ouvido era o órgão de instrução e que a audição era uma grande contribuidora para a inteligência. Portanto, o pensamento de Aristóteles acabou sendo interpretado da seguinte maneira, os surdos não podiam pronunciar palavras porque eles não pensavam, afinal o órgão de instrução, o ouvido, não funcionava corretamente. Assim Aristóteles ficou marcado como um vilão na história da educação de surdos. Entretanto a má fama atribuída a ele foi imerecida, pois sua declaração foi tirada do contexto, distorcida e mal interpretada. A declaração completa é: Todo o ser que produz uma linguagem também tem voz; mas nem todos os que têm voz produzem uma linguagem. Os surdos de nascimento são também mudos. São capazes de emitir sons, mas não têm propriamente uma linguagem articulada. As crianças, do mesmo modo que não comandam as outras partes do corpo, também a princípio não têm o controle da língua. (ARISTÓTELES, 2006, p.193) O raciocínio de Aristóteles quando interpretado dentro do contexto permanece verdadeiro até a atualidade, pois ele compara a produção da linguagem articulada ao de uma criança, uma criança ouvinte é ensinada a falar, ela não é capaz de aprender sozinha, o mesmo ocorre com os surdos, para que eles produzam uma linguagem articulada é necessário um treinamento oral. Mas em seu tempo não havia tal treinamento, assim a condição da surdez e mutismo estavam relacionadas. Outra contribuição dele foi a utilização de dois termos para distinguir duas deficiências, surdez e mutismo, em seu contexto de escrita sua ideia de que os surdos eram também mudos era justificável, as conotações pejorativas atribuídas ao seu discurso não são justificáveis e anacrônicas. Nas civilizações gregas e romanas o infanticídio era uma prática comum, bebês recém-nascidos que apresentassem uma deficiência, ou possuíssem uma característica considerada fora da norma poderia ser sacrificado. Provavelmente poucos bebês surdos teriam sido sacrificados, pois os povos antigos não teriam tecnologia suficiente para diagnosticar a surdez, um natisurdo não apresenta diferenças físicas em comparação aos bebês ouvintes. Não há evidência de que os surdos recebiam educação ou da existência de professores dedicados a educá-los, mas há outra evidência da existência de surdos e de que possuíam um meio de comunicação em uma passagem do Crátilo de Platão, onde Sócrates dialoga com Hermógenes: Sócrates – [...] Se não tivéssemos nem voz nem língua, e quiséssemos mostrar as coisas uns aos outros, não procuraríamos fazer como os mudos, indicando-as com as mãos, a cabeça e todo o corpo? Hermógenes – Não haveria outro jeito, Sócrates. Sócrates – A meu parecer, se fosse preciso indicar alguma coisa elevada ou leve, levantaríamos as mãos para o céu, para imitar a própria natureza das coisas; se fosse algo pesado e baixo, para o chão é que as estendêramos, e no caso de querermos imitar um cavalo a correr, ou qualquer outro animal, bem sabes que procuraríamos deixar nosso corpo semelhante ao deles, tanto quanto possível, assim na forma como no gesto. (PLATÃO, 2001, p.199-200) Na civilização romana a situação do surdo era similar à grega, entretanto a literatura menciona a existência de um surdo por seu nome, Quinto Pédio, neto do cônsul Quinto Pédio, que junto a César Augusto era co-herdeiro de Júlio César. Com a aprovação de Augusto, Quinto foi instruído na arte da pintura. O historiador romano Plínio, o Velho, em seu livro “História Natural” menciona Quinto Pédio como um dos mais célebres pintores de Roma. Esse dado nos revela dois fatos, para os surdos receberemalguma instrução era necessária a permissão do regente de Roma, e que as pessoas que teriam acesso ao regente seriam apenas os nobres. Provavelmente surdos filhos da nobreza recebiam alguma educação. Para os romanos, a manifestação das palavras através da escrita e de sinais sem a fala oral não era aceitável, esse fato é de certo modo irônico, pois esse povo desenvolveu altos níveis da pantomima. Werner apud Moores (1996, p.35) cita que apesar dos surdos não serem educados, eles praticavam diversos trabalhos manuais, eram hábeis artesãos diversos, cultivavam a terra e até trabalhavam como soldados. Aproximadamente em 300 d.C., o Império Romano foi dividido entre ocidente e oriente, sendo a capital do Império Romano do Oriente a cidade grega de Bizâncio, hoje nomeada de Istambul. No ano de 476 o Império Romano sofre várias invasões, principalmente dos povos germânicos, este ano é considerado pela História como a queda do Império Romano do Ocidente, o fim da Idade Antiga e o inicio da Idade Média. O Império Romano do Oriente continuou a existir com o nome de Império Bizantino até sua queda em 1453 d.C. 1.2 A Idade Média e os direitos Como foi dito acima, o Império Bizantino continuou a existir após a queda do Império Romano do Ocidente. Um importante imperador foi Justiniano (527-565), em seu governo ordenou a recompilação e reorganização do Direito Romano. Este trabalho durou dez anos e ficou conhecido como Corpus Juris Civilis ou Código de Justiniano. No código encontramos cinco procedimentos legais em relação aos direitos dos surdos. A surdez e o mutismo foram estabelecidos como infortúnios distintos, o código também aparece uma diferença entre surdez total e parcial. Os que tinham todos os direitos eram: 1) surdos e mudos letrados, 2) surdos que produziam fala oral com clareza; 3) mudos, mas ouvintes; 4) e aqueles que ensurdeciam acidentalmente (e eram letrados). Aquele que nascia surdo e mudo e era iletrado não podia conceder alforria aos escravos e possuir um testamento ou legado. Na Europa Central, após a queda de Roma, ocorreu à ascensão do feudalismo, a população passou a se organizar em pequenos reinos, sendo a educação e cultura letrada restrita a poucas pessoas, apenas a nobreza feudal e ao clero. A instituição mais poderosa durante a Idade Média foi a Igreja Católica, ela era influenciadora da educação. As leis desse período eram impostas na maioria dos reinos, restringiam os surdos de receberem heranças, participarem das celebrações religiosas, e de casarem sem a permissão do Papa. Nos monastérios da Ordem de São Bento, os monges, assim como hoje, praticavam, voto de silencio em períodos específicos, nesses momentos eles utilizam um tradicional sistema de sinais para se comunicarem. Todo recém-chegado recebia a instrução de um monge mais experiente em aritmética, leitura, orações cerimônias e sinais para comunicação silenciosa. A literatura aponta que ocorreram curas milagrosas da surdez e do mutismo nesse período, sendo que a mais famosa fora efetuada pelo Bispo John de Hagulstad, ele teria efetuado diversos milagres entre os anglo-saxões, incluindo ter ensinado um jovem surdo-mudo a falar. Nenhum caso de um surdo congênito ter sido educado foi registrado desde Quinto Pédio até o século XV. Houve um relato de que Rodolfo Agrícola teria ensinado um surdo-mudo a ler e escrever, mas seu nome, lugar, ou modo de instrução não foi relatado, e o relato foi largamente desacreditado por ser considerado impossível alguém ser instruído sem o órgão da instrução, o ouvido. Na Idade Média o analfabetismo era a norma para a maioria da população, nesse contexto, sujeitos com deficiências recebiam caridade e não instrução. No mundo islâmico, após a morte do profeta Maomé em 632, tribos árabes passaram a propagar a mensagem do Islã, em dez anos haviam ocupado a Síria, Palestina, Iraque, Pérsia, Egito e convertido as populações. Em 718, os muçulmanos haviam conquistado todo o Norte da África, Espanha e Portugal. Moores (1996, p.37) cita dois médicos que pesquisaram a surdez em seu tempo. Rasis (850-920) era médico e cirurgião, ele classificou a surdez em três níveis de perda auditiva. Acreditava que a surdez congênita poderia ser curada se um tratamento fosse iniciado em até dois anos após o nascimento. Ibn Sina (980-1037) era médico, cirurgião e filósofo, também estudava as causas de surdez e seus tratamentos, ele utilizava a teoria da audição descrita na obra de Galeno, médico que viveu na Grécia Antiga. Não há registros de tentativas de educar os surdos no mundo árabe. No livro Disability in Antiquity de Fareed Haj, professor cego de origem Palestina da Florida International University, relata que a deficiência mais citada no Corão é a deficiência visual. Haj também comenta que a surdez é citada com pouca frequência na literatura árabe e fundamenta que os surdos teriam enfrentado grandes dificuldades, pois a transmissão da história, conhecimento e religião eram de tradição oral. 1.3 O início da educação de surdos e a Idade Moderna Até o momento apresentamos a situação dos surdos no mundo antigo e medieval, a partir daqui tratamos de alguns professores de surdos que a história mais destacou. Entre eles falaremos de Bonet, Ponce de Léon, Amman, Braidwood, Pereire, Epée, Sicard, Heinicke e Hill e suas contribuições para a educação de surdos e formação de professores. A educação de surdos com o uso de sinais iniciou-se na Espanha, com Pedro Ponce de León, mas antes de falarmos sobre ele, mencionaremos Cardamo. Girolamo Cardamo (1501-1576) que foi médico e matemático italiano, ele reconheceu o relato de Agrícola ter ensinado um surdo-mudo a ler e escrever. Cardamo defendia a importância de ensinar os surdos a ler e escrever, ele acreditava que o pensamento podia ser expresso pela escrita, e não apenas pela fala. Cardamo apenas tratou o assunto teoricamente, nunca realizou a prática de suas ideias e não concebeu a ideia de utilizar sinais. Os três professores que obtiveram maior destaque na educação foram: Braidwood na Grã Bretanha que utilizava o alfabeto bimanual para auxiliar o aprendizado da fala, Epée na França que desenvolveu o método francês e Heinicke na Alemanha que defendia o método oral puro, sem a utilização de sinais e do alfabeto manual. 1.3.1 O primeiro tutor de surdos: Pedro Ponce de León O espanhol Ponce de León (1520-1584) é considerado o primeiro professor (tutor) de surdos, monge beneditino, estabeleceu uma escola no monastério de Valladolid no qual tutelou surdos filhos da nobreza espanhola. A surdez era comum entre a nobreza e a família real devido a casamentos consanguíneos, por questões de heranças. O que teria motivado Ponce de León a iniciar seu trabalho com surdos fora a presença dos irmãos Francisco e Pedro de Velasco no monastério, eram filhos de uma família rica e influente. A família Velasco possuía oito filhos, dos quais cinco eram surdos, os dois meninos citados acima e três irmãs que foram enviadas a diferentes conventos. Ponce de Léon havia se comprometido a ensinar Francisco, que era o primogênito e herdeiro do marquesado de Berlanga, a ler, escrever, e falar. A preocupação com sua educação devia-se a questões financeiras. Os surdos apenas poderiam receber herança se pudessem falar, sua educação foi bem sucedida e Francisco recebeu sua herança. Pedro de Velasco teria realizado mais estudos que seu irmão, ele estudou história, teria aprendido o Espanhol e o Latim, e recebido permissão do Papa para ser ordenado sacerdote. Segundo Chaves e Solar apud Moores (1996, p.38), Ponce de Léon também ensinouduas das irmãs Velasco e ao menos outros doze surdos, a maioria pertencendo à aristocracia. Plann apud Moores (1996, p.41) argumenta que provavelmente os irmãos Velascos teriam desenvolvido um código de sinais caseiros, devido ao fato de haverem muitos surdos na Família. Ela concluiu que a comunicação desenvolvida por Ponce de León seria uma fusão dos sinais utilizados pelos monges beneditinos e sinais caseiros usados pelos Velascos. A metodologia de Ponce de León foi perdida, e ele não obteve sucesso em ensinar um sucessor. 1.3.2 A primeira publicação, Bonet e Carrion Juan Pablo Bonet (1579-1629) foi soldado a serviço de Juan Fernandez de Velasco capitão-geral de Castela, cujo pai era irmão de Francisco e Pedro de Velasco. Após a morte de Juan em 1613, Don Bernadino Fernandez de Velasco, com a idade de quatro anos, assumiu o título do pai. Ele tinha dois irmãos mais novos, um deles era Luis de três anos, que havia perdido a audição aos dois anos. Bonet havia sido indicado pela duquesa Dona Joana de Cordoba, viúva de Juan e mãe de Bernadino e Luis, como guardião de Bernadino. Mas Bonet também tomou para si a responsabilidade pela segurança de Luis. Em 1615 Ramirez Carrion, tutor do Marques de Priego que era surdo e havia concordado em liberar temporariamente Carrion para ensinar Luis, em 1619 ele regressou ao seu trabalho com o Marquês. No ano seguinte Bonet publicou o primeiro livro sobre educação de surdos, “Reducción de las Letras y Arte para Enseñar à Hablar los Mudos” sem mencionar Ponce de León e Ramirez Carrion, ele tomou o crédito todo para si. Provavelmente Bonet colaborou com Carrion ou supervisionado seu trabalho de 1615 a 1619. No livro ele defendia ter iniciado o treinamento do alfabeto manual com apenas uma mão. Uma importante contribuição seria a defesa de uma intervenção na educação dos surdos o mais cedo possível. E no meio em que a criança habitava deveria haver pessoas utilizando o alfabeto manual. Também defendeu o ensinamento da fala utilizando o alfabeto manual e palavras escritas, argumentava que a ausência de um treino oral desde a infância seria um impedimento para o desenvolvimento tardio da fala. Por fim, Ramirez Carrion (1572-1652) aparenta ter sido um professor de surdos bem sucedido, seus três pupilos mais famosos foram Príncipe Emmanuel de Savoy, o Marquês de Priego e Don Luis, que foi nomeado por Henrique IV como o primeiro Marquês de Fresno. 1.3.3 O livro de Amman Johann Konrad Amman (1669-1724) em 1692 publicou um livro que influenciaria os métodos Francês e Alemão que estão descritos na próxima subseção. Nascido na Suíça, formou-se em medicina aos dezoito anos, foi obrigado a deixar seu país devido as suas ideias religiosas. Envolveu-se com a educação de surdos quando começou a ensinar a fala para uma criança surda. Ele desenvolveu sua técnica independente de qualquer conhecimento sobre métodos de ensinar o surdo a falar utilizados em outros países. A concepção de Amman sobre a fala era de cunho religioso, acreditava que a humanidade havia perdido a “fala divina” com a queda de Adão e Eva. Ele argumentava que as línguas utilizadas eram apenas uma sombra da língua original, e a fala seria a característica mais importante da humanidade; portanto a ênfase principal na educação de surdos deveria ser o ensino da fala oral. 1.3.4 A Grã Bretanha e Braidwood Houve diversos tutores de surdos na Grã-Bretanha, os esforços maiores eram para a oralização, utilizavam o alfabeto bimanual, e não o de Bonet. O título de primeiro professor de surdos na Grã Bretanha é disputado por William Holder (1616-1698) e John Wallis (1618-1703). As evidências apontam que Holder teria sido o primeiro professor, mas Wallis foi o primeiro a mostrar publicamente seus resultados. Thomas Braidwood (1715-1806) foi um dos três principais educadores de crianças surdas, fundou uma escola particular para surdos em Edimburgo no ano de 1767 que era administrada por ele e seus parentes. Uma vez, Braidwood propôs revelar publicamente seu método se recebesse suporte financeiro da nobreza e pequena nobreza. Como não recebeu resposta manteve em sigilo seu método. Braidwood nunca publicou nada sobre suas técnicas de ensino. Francis Green, que havia matriculado seu filho na escola de Braidwood, publicou em 1793 uma descrição do método utilizado na educação de seu filho, o que irritou Braidwood e sua família. Em 1809, Joseph Watson (1765-1829) um dos sobrinhos de Braidwood , fundou a primeira escola gratuita para surdos pobres em Londres. Ele também publicou um livro baseado no método de Braidwood. Esse método envolvia: alfabeto bimanual, gestos, sinais, leitura e escrita. Para desenvolver a fala oral ele basicamente treinava a pronúncia das letras, depois das sílabas e depois a construção de palavras. 1.3.5 Pereire, Epée e o método francês Nesta subseção falamos de dois professores que mais se destacaram na história, Pereire que utilizava sinais para ensinar os surdos a falar, e Epée que aprendeu os sinais utilizados pelos surdos de Paris, desenvolveu um método de instrução com aulas coletivas e não individuais. O título de primeiro professor de surdos na França é disputado entre Jacob Pereire (1715-1790) e o Abade Charles-Michel de Epée (1712-1789). Pereire ficou conhecido como um renomado professor na França; e Epée iniciou seu trabalho com surdos depois de Pereire, mas foi o responsável por fundar a primeira escola pública para surdos em Paris. Entretanto, segundo Seguin apud Moores (1996) o primeiro pupilo de Pereire, M. d’Azy d’Etavigny, havia estudado anteriormente em uma escola de Amiens com quatro ou cinco crianças surdas durante sete anos. Nesta escola havia um instrutor surdo que ensinava as crianças a se comunicar e expressar em sinais. Os surdos pioneiros em sua própria educação foram negligenciados na história. Pereire nascera na Espanha, e mudou para Portugal e depois para a França fugindo da perseguição religiosa. Seu primeiro aluno, mencionado no parágrafo anterior, foi d’Etavigny um jovem de dezesseis anos que havia recebido sete anos de educação anteriormente. Quando iniciou seu trabalho com d’Etavigny em 1743 ele não era capaz de produzir a fala oral, seis anos depois Pereire apresentou seu pupilo diante da Academia Francesa de Ciência mostrando que ele havia aprendido a ler, produzir fala oral, ler lábios e compreender noções abstratas. Após seu trabalho bem sucedido com d’Etavigny, Pereire teve outros pupilos. Assim como Braidwood, Pereire esforçou se para manter seu método em segredo. No século XVIII não havia escolas públicas para surdos, ensinar os filhos das famílias abastadas era o meio que esses professores tinham de garantir seu sustento, sendo o método desenvolvido por eles uma herança significativa para seus descendentes. O método de Pereire morreu com ele, sua família tentou continuar seu trabalho, mas eles não estavam familiarizados com o método. A maioria das informações sobre o seu método está registrada em uma carta de um ex pupilo. Seu método envolvia: alfabeto manual para ensinar a fala, desenvolveu um treino auditivo para os que possuíssem resquícios da audição, e exercícios especiais envolvendo os sentidos da visão e do toque. Charles-Michel, Abade de Epée ao contrário de Braidwood e Pereire, provinha de uma família abastada e não manteve seu método em segredo. Ele começou a desenvolver seu próprio método quando lhe foi solicitado que realizasse a instrução religiosa de duas irmãs surdas, essa experiência foi o trabalho que o iniciou na educação de surdos. Segundo Lane (1992, p.107) Epéeimpressionou-se com o modo que as irmãs se comunicavam através de sinais, ele empenhou-se em aprender com elas “ofereceu-lhes pão e obteve o sinal de COMER; água, e obteve o de BEBER; apontando para objetos em redor, aprendeu os nomes que aplicavam a cada um deles. Em breve podia manter uma conversa com elas”. O desenvolvimento de seu método foi influenciado por três fontes: a linguagem de sinais1 utilizados pelos surdos de Paris; o livro escrito por Bonet; e o livro de Amman. Em Paris os surdos possuíam um meio de comunicação, Epée acreditava que eles possuíam uma linguagem de sinais: Todo surdo-mudo enviado a nós já tem uma linguagem... ele tem o hábito de usá-la e compreende os outros que o fazem. Com ela ele expressa suas necessidades, desejos, dúvidas, dores etc. e não erra quando os outros se expressam da mesma forma. Nós desejamos instruí-los e assim ensiná-los o Francês. Qual é o método mais simples e mais curto? Não seria nos expressando na sua língua? Adotando sua língua e fazendo com que ela se adapte a regras claras, nós não seríamos capazes de conduzir a sua instrução como desejamos? (LANE, p.59-60 apud Moura, 2000, p.23). Epée aprendeu essa linguagem de sinais com os surdos franceses para poder utilizá-la na educação de crianças surdas. Para McClure apud Moores (1996) Epée acreditava que a língua de sinais era a língua natural da comunicação dos surdos, seu meio de pensar e comunicar. Epée também acreditava que essa linguagem era incompleta, para completa-la desenvolveu um sistema que chamou de “sinais metódicos”. Os sinais metódicos representaram uma expansão do vocabulário e uma tentativa de adaptar a linguagem de sinais para a sintaxe e morfologia da língua francesa. Assim ele utilizava os sinais que aprendera com os surdos e os sinais metódicos que criou. Epée transformou sua casa na primeira escola pública para surdos em Paris. Segundo Lane (1989) à medida que a quantidade de pupilos aumentava o número de discípulos também crescia, após aprenderem com Epée esses discípulos voltavam para 1 Nesse período a língua de sinais ainda não era reconhecida como língua, por isso utilizamos o termo linguagem. suas terras natais e fundavam escolas para surdos seguindo o método francês. O primeiro deles foi Charlotte Blouin em 1777 na cidade francesa de Angers. Em vida Epée influenciou a fundação de doze escolas para surdos na Europa. No tempo de Sicard esse número quintuplicou. O instituto formou surdos que se tornaram: matemáticos, químicos, pintores, escultores, litógrafos, gravuristas, tipógrafos, poetas, marinheiros e soldados, literários, e, especialmente, professores surdos de surdos, que viajavam pela França e Europa para ensinar seus irmãos e irmãs. (LANE 1989, p.64) Epée não era contra que os surdos fossem ensinados a produzir fala oral, mas ele considerava esse processo lento e árduo. Em sua escola era responsável pela educação de uma grande quantidade de crianças, não acreditava que poderia devotar uma grande parte de seu tempo em ensinar a produzir a fala oral. Epée considerava mais importante o desenvolvimento das capacidades intelectuais. Ele era criticado por seu método privilegiar a comunicação através da língua de sinais ao invés da fala. Os ataques mais fortes eram de Pereire e Heinicke, ambos ficaram perturbados quando o Abade austríaco Stark aprendeu com Epée seu método e fundou a primeira escola para surdos em Viena. Heinicke e Epée travaram uma batalha particular sobre seus métodos através de cartas. Epée realizava demonstrações públicas para mostrar ao mundo que os surdos poderiam ser educados através do seu método, um exemplo dessas demonstrações ele fazia perguntas para os pupilos e eles respondiam através da escrita. No ano de 1776 publicou o livro “Institution des Sourds-Muet par la Voie des Signes Méthodics” no qual explicava seu método (Lane, 1989, p.46-47). Antes de Epée realizar essas demonstrações os que nasciam surdos ou ficavam ensurdecidos antes de aprenderem o Francês, eram escondidos pela família devido a vergonha, eram abandonados na beira de estradas, secretamente colocados em instituições, ou simplesmente deixados a vegetar (Lane, 1989, p.47). Essas exibições contribuíam para provar que os surdos não eram os seres inferiores, e que eles teriam um local onde poderiam receber instrução gratuitamente. Epée morreu em 1789 e foi sucedido por um de seus discípulos o Abade Sicard. Roch-Ambrosie Sicard (1742-) foi ordenado sacerdote aos vinte e oito anos. Ele foi escolhido pelo arcebispo Champion de Cicé para dirigir uma escola de surdos em Bordeaux. Para exercer tal função foi para Paris e estudou durante um ano no instituto de Epée, assim como outros interessados na surdez também faziam. 1.3.6 O método Alemão, Heinicke e Hill. Samuel Heinicke (1729-1790) ficou conhecido como o criador do método Alemão. Era autodidata e possuía uma vasta carreira militar, decidiu dedicar-se a educação de surdos após algumas experiências bem sucedidas como tutor e professor de crianças surdas em diversas cidades germânicas. A convite do príncipe da Saxônia Heinicke fundou a primeira escola pública para surdos da Alemanha em Leipzig no ano de 1778. Ele defendia que o modo natural de ensinar os surdos deveria ser a falar e depois as letras. O livro de Amman também o influenciou. Argumentava que o pensamento puro apenas era possível através da fala, e que tudo dependia dela. Sua técnica envolvia o sentido do paladar, ele associava as vogais a diferentes líquidos que eram colocados na língua das crianças. Heinicke trabalhava com seu filho Rudolf, que morreu antes de seu pai. Ele tinha mais dois filhos, mas eles não se interessaram pelo trabalho do pai. Após a morte de Heinicke, sua viúva e os dois filhos tentaram continuar seu método, mas não obtiveram muito sucesso e seu método não sobreviveu por muito tempo. Outro educador alemão influente foi Frederick Hill (1805-1874), ele aplicou os princípios de Pestalozzi na educação de surdos. Ele defendia as crianças surdas deveriam aprender a língua oral da mesma maneira que as crianças ouvintes. Acreditava que a fala deveria ser a base para toda a educação. Para ensinar as crianças ele utilizava desenhos, figuras coloridas, leituras específicas, ele não permitia a utilização do alfabeto manual e de sinais, apenas as crianças muito novas poderiam utilizar gestos naturais. Hill também praticava a formação de professores para atuarem com surdos, e sua influência espalhou-se pela Alemanha e Europa. 1.4 A Idade Contemporânea e o Congresso de Milão No início da Idade Contemporânea o mundo passava passando por algumas transformações como o neocolonialismo (África e Ásia), a Primeira Revolução Industrial, o desenvolvimento do capitalismo, e o nacionalismo. Nesse período os reinos europeus estavam unindo-se formando o chamado Estado-nação, através do nacionalismo uniam sobre uma única bandeira uma língua, cultura, política, história, símbolos, religiosidade em comum. Nesse cenário, a existência de sinais utilizados pelos surdos para se comunicarem e serem educados representava uma ameaça ao nacionalismo, que defendia a existência de uma única língua comum para todos os habitantes de um determinado país. 1.4.1 Congresso de Milão No ano de 1880 na cidade italiana de Milão aconteceu o II Congresso Internacional sobre a Educação de Surdos. Os países que participaram foram: Grã- Bretanha, Estados Unidos, Canadá, Bélgica, Suécia, Rússia, Itália e França. Ao todo houve 164 delegados a grande maioriadeles eram italianos e franceses, apenas um surdo conseguiu participar das reuniões, mas não pode votar as decisões. Segundo Lane (1989) foi uma reunião organizada pelos defensores do oralismo e toda sua organização foi feita para garantir a vitória da utilização do método oral na educação de surdos. A seguir o depoimento do diretor da Royal School for the deaf Childern na Inglaterra: foi sobretudo uma assembleia partidária. A maquinação para elaborar os decretos segundo as linhas de seus promotores evidentemente que tinha sido preparada antes e, quanto a mim, parecia que a principal característica era o entusiasmo [pela] ‘orale pure’ em vez de uma deliberação calma sobre as vantagens e desvantagens dos métodos (LANE,1989, p.110) O presidente eleito do congresso foi Giulio Tarra (1832-1889) era sacerdote e diretor do Instituto de Surdos de Milão defensor do método oral, em seus discursos ele defendia a proibição do uso de sinais: Gestos não é a verdadeira língua do homem a qual é adequada à dignidade de sua natureza. Gestos, ao invés de referenciar o pensamento, referenciam a imaginação e aos sentidos. Além do mais, não é e nunca será a língua da sociedade... Assim, para nós é uma necessidade absoluta proibir essa linguagem e substituí-la pela a fala, o único instrumento do pensamento humano. (LANE,1989, .p.391) Os discursos realizados utilizavam de argumentos religiosos para justificar que os surdos deveriam falar e não utilizar sinais. Zucchi em seu discurso disse: Lembrem que a fala é um privilégio do homem, o único e correto meio do pensamento, uma dádiva de Deus, do qual foi verdadeiramente dito ‘A fala é a expressão da alma. Como a alma é a expressão do pensamento divino’ (LANE,1989,p.392) Tarra em um dos seus discursos persiste na questão da fala ser um meio do surdo ter uma alma, e acusa os sinais de prejudicarem a elevação da mente: O discurso oral é o único poder capaz de reacender a luz que Deus introduziu no homem quando, ao lhe conceder uma alma num corpo físico, deu-lhe também os meios para compreender, para conceber e para se exprimir... por um lado, os sinais mímicos não são suficientes para exprimir o conteúdo do pensamento, por outro, enaltecem e glorificam fantasias e todas as faculdades do sentido de imaginação [...] A fantástica linguagem gestual exalta os sentidos e fomenta as paixões, ao passo que o discurso eleva a mente de forma muito mais natural, com calma, prudência e verdade. (LANE,1989, p.110) Ele também defendia que quando o surdo confessava um pecado usando os sinais ele revivia esse pecado, portanto pecava novamente “uma pessoa surda confessa através de sinais que estava zangada, a paixão detestável regressa ao pecador o que não ajuda na sua recuperação moral” (LANE,1989, p.110). Defendia que quando o surdo confessava utilizando a fala, ele refletia sobre o mal que cometera, e não o revivia. Sobre a resolução de qual método deveria ser preferido na educação de surdos, Lane (1989, p.134) destacou que foi votado pela ampla maioria que deveria ser o método oral puro, pois o uso simultâneo de sinais e fala era prejudicial para o aprendizado da fala. E que o uso da fala era sem dúvida superior aos sinais, pois ela permitia que os surdos pudessem comunicar-se com mais facilidade com os ouvintes. Apenas os delegados dos Estados Unidos votaram contra a proposta do método oral puro. Um delegado americano disse: “a infeliz resolução de Milão abriu o caminho para imprimir aos surdos de todos os pontos do globo um método repugnante; hipócrita na exigência, desnaturado na aplicação, e com resultados finais que atrofiam a mente e matam a alma”. (LANE,1989, p.111) Para Lane (1992) “as conclusões de Milão corresponderam igualmente ao desejo dos educadores de total controle das salas de aula, o que não se consegue alcançar se os alunos utilizarem uma língua de sinais e os professores não” (LANE,1992, p.111), a opressão sobre os surdos aumentaria após o congresso, os professores ouvintes não aceitavam dividir seu papel de professor com os educadores surdos. Nos anos após o Congresso a quantidade de professores surdos diminuiu cada vez mais, assim eles foram afastados das discussões e resoluções relativas à educação de seus semelhantes na diferença. As escolas transformaram-se em clínicas da fala, na medida em que era necessário muito tempo para que os surdos aprendessem a falar. O aprendizado das matérias em si estava em segundo plano. Assim os sinais foram proibidos de serem utilizados nas escolas de surdos e muitos professores surdos foram demitidos. As decisões e compromissos firmados no congresso geraram consequências que persistem até hoje. Os sinais apenas regressaram para a educação de surdos na década de 80. 1.4.2 Os caminhos para reconhecimento da língua de sinais Nesta subseção temos o objetivo de apresentar algumas pesquisas que contribuíram para o reconhecimento da língua de sinais enquanto língua, estudos que comparam a inteligência de surdos e ouvintes a fim de mostrar que o surdo não possuía uma inteligência inferior pelo fato de ser surdo, e estudo que apontam a importância da língua de sinais para a educação de surdos. Anos após o Congresso de Milão aproximadamente na década de 60, parte dos professores de surdos estava convencido de que o método oral não estava produzindo níveis aceitáveis de linguagem oral, leitura labial e habilidades de leitura escrita (Moura 2000, p.55). Novos estudos iriam contribuir para que os sinais voltassem a ser utilizados na educação de surdos, para o reconhecimento das línguas de sinais enquanto línguas e a criação da filosofia educacional denominada bilinguismo para surdos. Entre esses estudos temos a estruturação linguística e gramatical da língua de sinais por Stokoe em 1960; pesquisas realizadas por Stevenson em 1964; Meadow em 1966 e Vernon em1970; que comparavam o desenvolvimento de surdos filhos de pais ouvintes (SFPO) e surdos filhos de pais surdos (SFPS) e trabalhos de Mindel e Vernon, 1971, que demonstravam que surdos e ouvintes possuem a mesma distribuição de inteligência de surdos e ouvintes. William Stokoe (1919-2000) era professor universitário e linguista na Gallaudet University, uma universidade dedicada à educação superior de surdos. No ano de 1960 publicou sua pesquisa Sign Language Structure, na qual defendia que a língua de sinais era uma língua completa e que deveria ser usada na educação de surdos. A repercussão não foi positiva sofreu ataques da própria universidade, dos colegas e do público norte americano em geral. Seus estudos e publicações começaram a ser aceitos e difundidos apenas na década de 80 (Sánchez apud Moura 2000, p.56-57) Segundo Moura (2000, p,56) Stevenson em 1964; Meadow em 1966 e Vernon em 1970, realizaram um estudo que comparou SFPO com SFPS, os primeiros utilizavam a linguagem oral e os segundos tinham acesso a língua de sinais no ambiente familiar. As conclusões foram que os SFPS tinham um desenvolvimento escolar melhor do que seus colegas SFPO, a língua de sinais contribuía para o desenvolvimento da criança e não prejudicava o aprendizado escolar e a linguagem oral, como foi defendido pelos oralistas desde o século XVIII. Eugene Mindel, professor e psiquiatra, e McCay Vernon, psicólogo e professor, publicaram em 1971 um estudo que comparava a distribuição de inteligência entre surdos e ouvintes, o resultado foi de não haver diferença na inteligência, portanto o surdo não teria uma inteligência inferior, como era defendido pelos oralistas, e que essa não poderia ser uma justificativa para o atraso escolar (Moura 2000 p.56).1.5 O Instituto Nacional de Educação de Surdos - INES Toda essa subseção está baseada no livro de Solange Rocha “O INES e a educação de surdos no Brasil – aspectos da trajetória do Instituto Nacional de Educação de Surdos em seu percurso de 150 anos”. 1.5.1 Da fundação do INES ao Congresso de Milão A história do primeiro Instituto de Educação de Surdos no Brasil começa no Instituto de Epée, como já foi mencionado no texto, era comum a formação de professores surdos no Instituto, e eles eram convidados a fundar novos institutos em outros países e formar professores para educar alunos surdos. Eduard2 Huet, nasceu em Paris no ano de 1822, ficou surdo aos doze anos após ter contraído sarampo, estudou no instituto fundado por Epée, na época sobre a direção do Abade Sicard, foi um dos principais responsáveis pela fundação do primeiro instituto para surdos no Brasil. Em 1855, Huet entregou para o imperador D. Pedro II, um relatório no qual apresentava duas propostas para a criação do Instituto com ajuda do governo, a maioria dos surdos pertenciam a famílias pobres, não tinham condições de sustentar os estudos dos filhos. As propostas eram criar o Instituto no molde público, no qual o Império arcaria com todas as despesas; ou no molde privado, com um auxílio pecuniário por parte do governo e uma concessão de bolsas. Huet argumentava que por experiências anteriores em outro Instituto que foi diretor, o melhor molde seria o privado, e esse foi o molde escolhido, no dia 1 de janeiro de 1856, a escola para surdos começou a funcionar nas dependências do Colégio De Vassimon. Meses depois, em abril, Huet escreveu uma carta à Comissão Diretora, responsável por acompanhar o desenvolvimento do Instituto, nela agradecia o auxílio pecuniário de D. Pedro II, informou que dificilmente essas instituições conseguiam se sustentar sozinhas devido às despesas necessárias com a educação, manutenção etc. e que na Europa elas recebiam ajuda de caridades particulares, também solicitou outro espaço para o Instituto funcionar, pois o lugar que utilizavam não possuía condições higiênicas, e espaço suficiente para as camas dos alunos e do próprio Huet. Ele também lembrou que havia encaminhado em 1855, à Câmara dos Deputados, uma petição para a criação de um Instituto para Surdos com as mesmas vantagens do Instituto de Cegos3, como a instituição já fora criada, ele solicitou a concessão de 30 bolsas para os alunos. Enquanto seus pedidos não foram atendidos, o Instituto sobrevivia com donativos do Mosteiro de São Bento, Convento do Carmo, das matriculas particulares e subvenções do Imperador. Em 26 de setembro de 1857 os pedidos foram atendidos, no ano de 1908, essa passou a ser a data oficial da criação do Instituto de Surdos e Mudos e 2 Rocha (2007) relata que não há certeza sobre o nome do fundador do Instituto de Surdos, ele assinava de dois modos E. Huet ou E. D. Huet. Nos documentos sobre o Instituto seu nome aparece como E. Huet ou apenas Huet. Entre os anos 50 e 90 ele passou a ser identificado como Ernest Huet, e a partir dos anos 90 como Eduard Huet. 3 Atual Instituto Benjamin Constant, fundado em 17 de setembro de 1854. também a data comemorativa Dia Nacional do Surdo. Em 1957 o nome oficial mudaria para Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) utilizado até hoje. Em outubro de 1857, o Instituto foi transferido para uma casa maior, o contrato de aluguel foi assinado por três anos e pago pelo Mosteiro de São Bento e pelo Convento do Carmo. Até o dia primeiro de setembro de 1858, estavam matriculados treze meninos e seis meninas. Os documentos apontam que no ano de 1859, o Instituto passava por problemas econômicos, de disciplina, de moralidade, além de conflitos graves entre Huet e sua esposa. Esses seriam os motivos que levariam a saída do diretor em 13 de dezembro de 1861, posteriormente foi para o México, onde fundou outro Instituto para surdos nos mesmos moldes do INES. Julho de 1862 chegara da França, após uma formação no Instituto de Epée, o professor Dr. Manoel de Magalhães Couto, que assumiria a direção do INES em primeiro de agosto do mesmo ano. Nesse período as aulas ministradas aos surdos eram: leitura e escrita, doutrina cristã, aritmética, geografia com ênfase no Brasil, geometria elementar, desenho linear, elementos de história, Português, Francês e contabilidade. Não havia o treino da fala oral e da leitura sobre os lábios. No ano de 1868, foi designado que o chefe da Seção da Secretaria de Estado, Tobias Rabello Leite, médico, fizesse um relatório sobre o desenvolvimento do Instituto, o resultado foi que ele funcionava apenas como um asilo aos surdos, não havia ensino. O diretor foi exonerado e Leite assumiu a direção até sua morte em 1896. Pouco tempo após sua chegada ao INES, Leite enviou um relatório ao secretário do Estado dos Negócios do Império, onde descrevia as dificuldades em dirigir o Instituto, entre elas havia problemas de formação dos empregados que não sabiam exatamente quais eram suas funções e de recursos materiais. As mudanças feitas por Leite foram: implementar o ensino profissionalizante, defendia que os surdos após concluírem seus estudos precisavam dominar um ofício para se sustentarem, e devido à realidade brasileira o foco seria no ensino agrícola; oferecer a linguagem oral para os que mostrassem mais facilidade em aprendê-la. Leite também traduziu para o português livros utilizados no Instituto de Paris, com foco nos do professor Valede-Gabel, o livro “Methode pour Enseigner aux Surds- Muets” foi traduzido e publicado e 500 exemplares distribuídos em quatro províncias nacionais. Uma publicação original do Instituto foi a Iconografia dos Sinais dos Surdos- Mudos em 1875, desenhada por Flausino José da Costa Gama, ex-aluno do Instituto e professor repetidor4 de 1871 a 1879. Um dos objetivos dessa publicação era a divulgação dos sinais pelo território nacional, Leite defendia que o INES deveria atender os alunos surdos do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, e formar professores para trabalharem nos institutos em outras províncias. Assim como na França, ex-alunos do Instituto tornavam-se professores, Gustavo Gomes de Mattos, substituiu Flausino de 1880 a 1889; e Joaquin Maranhão, no ano 1871 assumiu a função de mestre de oficina e sapataria. A valorização dos alunos e do professor surdo era algo concreto no INES. No século XIX o modelo de Escola-Instituição mista não era uma prática comum, o diretor acreditava que as meninas deveriam ser instruídas em casa e aprender atividades domésticas, elas continuavam no instituto até o primeiro mênstruo, depois eram enviadas para casa ou um abrigo, após não haver nenhuma aluna, a professora D. Amélia Emilia da Silva Santos foi dispensada. No dia 18 de março de 1881, o Instituto foi transferido para a rua das Laranjeiras, onde se localiza até hoje. 1.5.2 Consequências do Congresso de Milão no INES Três anos após o Congresso, o professor Dr. Joaquim José de Menezes Vieira, defensor do oralismo, discordava com o programa de ensino de Leite, de focar o português escrito, a profissionalização e oferecer aulas de linguagem articulada apenas para os mais aptos, defendia que todos deveriam ser submetidos à oralização. O programa de Menezes foi aplicado e, após sete anos, avaliado por Leite que considerou que os alunos não obtiveram nenhum rendimento, e que a escrita já havia provado sua utilidade, em 1889, o Governo ordenou que o ensino de linguagem articulada fosse apenas para os que pudessem dela se beneficiar, a critério do professor e diretor. Em 1890,insatisfeito com a decisão, Menezes pediu sua aposentadoria do magistério. Leite defendia que o método deveria se adaptar ao aluno, e não o contrário. 4 Era uma função que sofria diversas alterações ao longo dos anos, entre os deveres estava o de assistir as aulas e repetir as lições do professor, acompanhar os alunos no recreio e na volta a sala de aula, pernoitar com os alunos internos, acompanhar os visitantes no Instituto, corrigir exercícios e substituir os professores. Leite morre em agosto de 1896, e em fevereiro de 1897, João Paulo de Carvalho assume o posto de diretor do instituto. No período entre a morte de Leite e a posse de Carvalho, Cândido Juca, outrora professor interino de linguagem escrita, foi contratado para ocupar a cadeira de linguagem articulada. Juca foi considerado um grande professor no Instituto, tornou-se um defensor da língua oral, o êxito de seu trabalho foi reconhecido e publicado em uma matéria no Jornal do Comércio, do dia 5 de dezembro de 1898. Em março de 1901, foi assinado o Decreto n°3964, ele estabeleceu o regulamento de 1873, de que o ensino da linguagem articulada e leitura sobre os lábios seriam apenas para os que tivessem aptidão; foi criada mais uma vaga para professor repetidor, somando quatro no total e o número de entrada de alunos gratuitos foi aumentado, somando trinta e cinco ao todo. João Paulo Carvalho foi exonerado em 1903, e o advogado João Brasil Silvado assumiu a direção, no ano de 1906 criou a revista do Instituto de Surdos-Mudos, a produção foi de três edições e assinou artigos em defesa da educação das meninas surdas. 1.5.3 Do início do século XX aos anos 50 Em 1907, Custódio Ferreira Martins assumiu a direção, sua gestão durou 23 anos, o grande marco de sua gestão foi a ampliação do Instituto, com o argumento de criar uma seção feminina, na época algumas alunas frequentavam ilegalmente aulas do professor Saul Borges. No ano de 1911, por interferência do Decreto n°9198, artigo 9º, o método oral puro deveria ser aplicado em todas as disciplinas, e os professores de linguagem escrita foram transferidos para a linguagem articulada e leitura sobre os lábios, o decreto também criou uma seção feminina, o que pressionou as obras de reforma do prédio. Após três anos de experiência oralista, os resultados não foram positivos, e o diretor enviou um relatório ao governo pedindo para poder adequar os métodos aos alunos, e não os alunos aos métodos. Em janeiro de 1925, o Decreto n°16.782, passou o INES à classe de estabelecimento profissionalizante, na época as oficinas em funcionamento eram a de encadernação e sapataria. Em 1926, o Instituto sofrera novas críticas ao ser visitado pelo médico Dr. Arnaldo de Oliveira Bacellar, que defendera uma tese intitulada “A Surdo- Mudez no Brasil”. Ele criticou a administração que considerou não energética o suficiente; ausência de ordem, de disciplina; denunciou a ausência de materiais como, papel, livros, lápis, biblioteca; os alunos iriam às aulas apenas se quisessem; a não existência de métodos de ensino e considerou que o instituto na verdade se comportava como um decadente asilo. As críticas aumentaram, a imprensa publicava manchetes sensacionalistas. Enquanto os jornais atacavam o trabalho de Custódio, eles enalteciam o trabalho de outros dois médicos otologistas5, Dr. Armando de Paiva Lacerda e Dr. Henrique Mercalo, foram reconhecidos pelos cientistas com seus trabalhos de reeducação auditiva. Em 1930, o chefe de governo nomeou Lacerda como diretor do Instituto, iniciou seus trabalhos se dedicando a reorganizar a instituição, o plano de ensino por ele elaborado, era de dividir os alunos entre os que poderiam se beneficiar da linguagem articulada e dos que apenas poderiam ser educados pela escrita, também foi pressionado pela Aliança Nacional das Mulheres, uma organização feminista, para as surdas terem acesso ao Instituto, em 1932 foi criado uma seção feminina com oficinas de costura e bordado, apenas em regime de externato. O objetivo do ensino era o desenvolvimento da linguagem, e as aulas não eram organizadas por disciplina, sendo divididas em: linguagem escrita; linguagem oral e leitura labial; e linguagem oral/auditiva, para os alunos com resíduo auditivo. Os estudos eram concluídos quando o aluno dominava uma profissão oferecida pelo Instituto, entre elas havia: marcenaria, modelagem, alfaiataria, encadernação e sapataria. Em 1936, novamente o diretor aproveita o jornal, O Globo, para suas denúncias, queixou-se das repartições que ocupavam a ala direita do prédio, desde os anos 20, o Ministério da Guerra, que tinha a Inspetoria de Fronteiras funcionando no prédio desde 1918, propôs o pagamento de um aluguel pelo tempo utilizado e para continuarem ali, além de promover uma reforma para expandir o prédio. Um ano depois as obras iniciaram, e as aulas foram suspensas por quase cinco anos, a maioria dos alunos regressou para suas casas, os que não tinham onde ficar permaneceram no Instituto. As obras envolveram a construção de um ginásio esportivo, oficinas profissionalizantes, um elevador, um auditório, e ampliação de espaço no segundo e terceiro andar. 5 Otologia é o estudo do ouvido e suas doenças. Em 1941, as obras caminhavam com dificuldades financeiras, então o Departamento Administrativo do Serviço Público encaminhou uma verba que permitiu a conclusão das mesmas. No ano de 1946, foi publicada a cartilha “Vamos Falar”, por Jorge Mário Barreto e Léa Paiva Borges, professores da instituição. Em 1947, ao conceder uma entrevista à revista Mulher Magazine, queixou-se da ausência de instalações para um jardim de infância, falta de apoio oficial para os cursos de extensão para professores, e defendeu que os soldados com problemas auditivos, por consequência da Segunda Guerra Mundial, necessitavam aprender a leitura labial para superar a dificuldade comunicativa. Nesse mesmo ano Lacerda foi denunciado e exonerado do Instituto sobre a acusação de má gestão técnica e administrativa, mas o real motivo seria sua ligação com Partido Comunista do Brasil, ele abrigara seu cunhando, o deputado Trifino Correia, o senador Luis Carlos Prestes, e outros na casa ao lado da sede principal do Instituto e por permitir que reuniões do partido fossem realizadas no Instituto. No seu lugar, a direção foi assumida por Antônio Carlos de Mello Barreto, que possuía um perfil disciplinador. No dia 5 de outubro de 1950, os alunos realizaram uma revolta, depredaram a seção disciplinar, o gabinete do diretor, a secretaria, pegaram suas camas e atiraram colchões do terceiro andar. A provável causa da rebelião foi a decretação da prisão de Prestes e seus colaboradores, entre eles o Dr. Armando Lacerda. As consequências foram a suspensão de alguns alunos e a exoneração do diretor, sendo nomeada para o cargo no dia 23 de fevereiro de 1951 a professora Ana Rímoli de Faria Dória. Um dos seus primeiros atos como diretora foi a requisição de Tarso Coimbra, advogado e jornalista, que havia sido professor de Ensino Emendativo em várias instituições, inclusive no INES, sua função seria de contribuir para a implementação de um ensino que formasse um surdo autossuficiente. Ela havia trabalhado no Instituto de Pesquisas e Formação Social do MEC. Outro ato foi a criação de um curso de formação de professores com o título de Curso Normal Especializado para a Educação de Surdos, o corpo docente era formado por profissionais médicos e docentes do Instituto. O currículo era semelhante ao do Curso Normal do Instituto de Educação,com a mesma duração de três anos, as diferenças seriam as disciplinas de: Noções de Física, Histologia, Ensino Emendativo, Elementos de Fonética, Anatomia Geral e Especializada, Didática Especial, Psicologia da Linguagem, Anatomia, Fisiologia e Patologia da Audição e da Fonação, Educação Pré-escolar da Criança Deficiente da Audição e da Fonação. 1.5.4 Da década de 50 à 80 – a fala, as publicações, e os seminários. Em 1952, Dória convidou a professora Ângela de Liza de Brienza para ministrar as aulas de fonética e didática especial, e com ela, novamente a imposição do oralismo puro, entre seus argumentos dizia que os surdos “tinham o direito de se comunicarem na língua que os caracterizava como filhos de um país”. No ano de 1957, foi criada a campanha para a Educação do Surdo Brasileiro, o objetivo era de promover a educação, em todo o Brasil, formando professores especializados que atuariam em futuras escolas para alunos surdos. Nesse mesmo ano, a diretora iniciou um processo para alterar o nome do Instituto Nacional de Surdos- Mudos. Em julho do mesmo ano o pedido foi concretizado, o nome passou a ser Instituto Nacional de Educação de Surdos – INES, nome mantido até hoje. Outro destaque do INES era o trabalho dos profissionais de Educação Física, enquanto a comunicação pela língua de sinais era desestimulada, esses professores atuavam como intérpretes dos alunos em cerimônias na instituição e eventos particulares. As publicações foram intensificadas, de autoria da diretora Dória, foram publicados os livros: Manual de Educação da Criança Surda, Ensino Oral-Áudio-Visual para os Deficientes da Audição, Introdução à Didática da Fala e Compêndio de Educação da Pessoa Surda. No ano de 1961 ela foi afastada da direção. A professora Ivete Vasconcelos especializada em surdez publicou um artigo com o Dr. Lacerda sobre a importância do diagnóstico precoce na educação da pessoa surda. No início do anos 70 foi inaugurado no INES o Serviço de Educação Precoce para atender as crianças menores de 3 anos e orientar os pais, que esperavam elas completarem a idade necessária para serem matriculadas no Instituto. Em novembro de 1974, foi realizado no Instituto o I Seminário Brasileiro Sobre Deficiência Auditiva, o foco era a Formação de Professor Especializado de Deficientes da Áudio-Comunicação, promovido pelo MEC/CENESP, houve a presença de profissionais brasileiros, venezuelanos e franceses. As decisões tomadas foram sugeridas ao Ministério da Educação e Cultura, entre elas: a formação de professores de deficientes da áudio-comunicação fosse realizada dentro do curso de Pedagogia; o MEC necessitava proporcionar a formação continuada do professor especializado; e impedir o ingresso a cursos de Professores de Deficientes da Áudio-Comunicação aqueles que possuíssem distúrbios de audição e linguagem. As recomendações foram assinadas por José Geraldo Silveira Bueno e Maria Cristina da Cunha Lacerda6, professores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; e professores da Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (DERDIC). Em 1980, promovido pelo MEC/INES, foi realizado o II Seminário Brasileiro sobre Deficiência Auditiva, nesse mesmo ano havia a preocupação com a demanda de professores para a própria instituição, visto que os professores da década de 50 em breve se aposentariam. Um ano depois, foi oferecido um curso de Especialização de Professores na Área da Deficiência Auditiva, com carga horária de 900 horas, o processo seletivo era bastante rigoroso. Três anos depois, o MEC/CENESP realizou um concurso para professores. 1.5.5 O retorno dos sinais na educação A década de 80 foi um período de intensas transformações, a rede Globo em 1982, lançou a novela “Sol de Verão”, em horário nobre com um rapaz surdo como protagonista, interpretado por Tony Ramos. O ator aprendeu a língua de sinais com um professor surdo do INES, Narciso Paiva. O personagem se comunicava exclusivamente por sinais, apenas no último episódio ele participa de um treino oral por seis meses com uma fonoaudióloga e fala uma frase. Outro fato significativo foi à indicação de Lenita de Oliveira Viana para a direção do INES, depois de muitos diretores pouco familiarizados com as questões da educação de surdos, ela era ex-aluna do Curso Normal, criado por Dória, e possuía quase trinta anos de experiência no INES, era fonoaudióloga e compreendia a importância dos sinais da comunicação dos surdos. Aqui concluímos nossa escrita sobre a história da educação de surdos e seus professores. Nela mostramos as concepções que foram criadas sobre o ser surdo da Idade Antiga a Idade Contemporânea. 6 A autora confundiu o nome da professora, o nome correto é Maria Cristina da Cunha Pereira. Tratamos sobre os primeiros professores que se tem registro na história, comentamos as publicações feitas sobre métodos para educar surdos e como elas influenciaram outros professores. Mostramos o movimento contrário à utilização dos sinais e a favor da oralização, o Congresso de Milão e suas consequências na educação de surdos, os estudos que se esforçaram para que os sinais fossem novamente utilizados na educação de surdos e pelo reconhecimento das línguas de sinais enquanto línguas. Finalizamos explicando como se desenvolveu a fundação do primeiro instituto para educação de surdos no Brasil, as dificuldades que a instituição passou ao longo de sua história, e as contribuições que ela trouxe para a educação de surdos. Na próxima seção trataremos da Pedagogia e a formação de professores no Brasil, a fundação da Pontifícia Universidade Católica, e o processo que levou a implantação da disciplina de Libras no curso de Pedagogia.
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