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2017 - 07 - 16 Curso Avançado de Processo Civil - Volume 1 - Edição 2016 PARTE III - AÇÃO E DEFESA CAPÍTULO 11. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES Capítulo 11. Classificação das Ações Sumário: 1. Noções gerais Tradicionalmente, a classificação das ações é feita em razão do tipo de providência jurisdicional pedida pelo autor, por ocasião do exercício do direito de ação (i.e., na demanda). Esse critério de classificação das ações tem por pressuposto que toda ação veicula determinado pedido de provimento jurisdicional e que é possível estabelecer diferenças entre as ações exatamente na medida da distinção entre as possíveis providências pedidas em juízo. 2. Classificação quanto ao tipo de providência jurisdicional pedida pelo autor Por esse critério, as ações podem ser classificadas em ações de conhecimento, ações de execução e ações urgentes. Nas ações de conhecimento (ou de cognição), busca-se pronunciamento do juiz acerca de quem tem razão. Pede-se que o juiz investigue fatos ocorridos no passado e defina qual a norma que está incidindo no caso concreto. 1 Nas ações executivas, busca-se, pela intervenção do juiz, resultado prático, fisicamente concreto (ex.: a retirada de um bem do patrimônio do devedor e sua entrega ao credor; a expropriação e alienação de bens do devedor e entrega do dinheiro obtido ao credor etc.). 2 Nas ações urgentes, busca-se providência que, de modo rápido, proteja temporariamente um possível direito, que corre o risco de sofrer lesão irreparável ou de reparação muito difícil. Para tanto, o juiz examinará apenas se há razoável plausibilidade nos fundamentos apresentados pelo autor. Ou seja, não desenvolverá uma investigação aprofundada e detalhada, mas simples cognição superficial, sumária. Além disso, e quando esse juízo de verossimilhança for favorável ao autor, o juiz terá de adotar prontamente, e sem qualquer nova ação ou pedido, providências executivas que propiciem a proteção urgente necessária. Ou seja, cognição (sumária) e execução reúnem- se de um modo indissociável. Normalmente a ação urgente não afasta a necessidade do exercício de outra ação de conhecimento ou de execução, destinada a propiciar uma tutela definitiva. Nesse sentido, a tutela urgente é muitas vezes instrumental e provisória. 3 3. Classificação das ações segundo a tutela requerida pelo autor no processo de conhecimento As ações de conhecimento comportam ainda subdivisão classificatória, conforme o tipo de provimento nelas pretendido pelo autor. Ou seja, a ação de conhecimento pode ser classificada conforme a eficácia preponderante da sentença que se proferirá, caso ela seja julgada procedente. 3.1. Ações declaratórias Na ação meramente declaratória o autor se limita a pedir uma declaração jurisdicional acerca da existência, inexistência ou modo de ser de determinada situação ou relação jurídica, ou a respeito da autenticidade ou da falsidade de um documento (arts. 19 e 20 do CPC/2015). A ação declaratória destina-se a eliminar uma dúvida objetiva a respeito de determinada situação jurídica. A dúvida é qualificada como "objetiva" porque ela deve pôr-se entre duas ou mais pessoas. Não pode ser uma simples dúvida interna, pessoal, de uma única pessoa. Enfim, precisa haver uma crise de incerteza entre dois ou mais sujeitos - sob pena de não haver interesse processual para a ação declaratória. Exemplo: A reputa que a dívida que possuía com B no passado já foi integralmente paga; a despeito disso, B permanece afirmando, a terceiros e ao próprio A, que ainda é credor dele. Diante disso, A propõe ação em face de B pedindo que o Judiciário declare que não existe o referido crédito. Esse é um caso de ação declaratória negativa - i.e., que visa ao reconhecimento da inexistência de uma relação jurídica. A ação pode também ser declaratória positiva, quando se pretende a declaração da existência de uma relação jurídica. Por exemplo, a ação de investigação de paternidade, isso é, a ação em que o autor pede que se reconheça que o réu é seu pai, é declaratória positiva, pois visa à declaração da existência de relação jurídica de filiação. Em regra, o objeto da ação declaratória deve ser uma situação jurídica. Normalmente, não cabe pedido de declaração jurisdicional de simples fato (p. ex., não se pode propor ação declaratória apenas para que se declare que o réu estava embriagado em determinada data e hora, pois isso é mero fato; pode-se, isso sim, pedir que se declare que o réu é responsável pelos prejuízos decorrentes de um acidente de trânsito, sob o fundamento de que ele o causou, inclusive porque dirigia embriagado...). Mas o ordenamento contempla uma exceção: a falsidade ou autenticidade de um documento é fato (e não relação jurídica), mas pode ser objeto de ação declaratória (arts. 19, II, e 433 do CPC/2015). A ação declaratória positiva pode ser promovida mesmo quando o direito a cuja declaração de existência se visa já foi violado. Mesmo já tendo havido descumprimento do direito, o credor não é obrigado a desde logo promover ação para obter o seu cumprimento. Pode preferir antes se limitar a obter uma declaração de que tal direito existe, pelas mais variadas razões. Há regra expressa admitindo isso (art. 20 do CPC/2015). Sobre o tema, veja-se ainda o cap. 2 do vol. 3. Todas as demais modalidades de ação de conhecimento têm também eficácia declaratória. A diferença é que não se limitam a isso: nelas, pede-se a declaração de um direito e algo mais. Por essa razão, a espécie examinada nesse tópico é chamada de ação meramente declaratória. 3.2. Ações constitutivas As ações constitutivas visam a obter a declaração de um direito acompanhada da constituição, modificação ou desconstituição de uma situação jurídica. Nesse sentido, elas destinam-se a dar efetividade àquilo que, no plano material, chama-se de "direito potestativo", que é o direito a uma transformação jurídica. A ação constitutiva declara a existência do direito potestativo e lhe dá atuação. Contra B, A propõe ação de anulação de contrato, alegando vício de vontade (coação, por exemplo). Se for julgado procedente o pedido, estaremos diante de sentença constitutiva negativa, porque ela desconstituirá a relação jurídica contratual entre A e B. 4 No exemplo dado, tem-se uma ação constitutiva negativa (ou desconstitutiva), pois ela tem por objetivo desfazer, extinguir determinada situação jurídica. Outros exemplos de ações desconstitutivas, entre muitos, são a ação de divórcio (extingue o casamento) e a ação de resolução de um contrato por inadimplemento. A ação constitutiva pode também ser positiva, quando se destina a criar, constituir determinada situação jurídica. Exemplo: A celebrou compromisso de compra e venda de imóvel com B; pactuou-se que, depois que fossem pagas por B as dez parcelas do preço, as partes celebrariam o contrato definitivo de compra e venda, cujo registro na matrícula do bem implicaria a transferência da propriedade do imóvel de B para A. Mas B, a despeito de receber todas as parcelas oportunamente, recusa-se a celebrar o contrato definitivo. Então, A entra com ação para suprir a necessidade da manifestação de vontade de B: se a ação for julgada procedente e B insistir em não assinar a escritura de compra e venda, a própria sentença produzirá o resultado jurídico que se teria com tal contrato, valendo como título para a transferência da propriedade do bem. Ou seja, ela constitui a situação jurídica que adviria de tal contrato. Sobre o tema, veja-se o vol. 3, cap. 17. As sentenças constitutivas e negativas produzem seus efeitos no plano meramente jurídico, ideal. Vale dizer, a efetivação delas independe de qualquer providência prática: o casamento está plenamente desconstituído, tão logo seja eficaz a sentença de divórcio; o mesmo se diga quanto à extinção do contrato por força da sentença que o anula por vício de vontade ou o resolve por inadimplemento - e assim por diante.3.3. Ações condenatórias Nas ações condenatórias, o autor pede, além da declaração da existência de um direito a uma prestação de conduta, a condenação do réu ao seu cumprimento. Se não houver o cumprimento espontâneo da sentença condenatória, haverá a necessidade de uma execução. A sentença condenatória serve de "título executivo" para tal atividade executiva (v. vol. 3). Exemplo: A promove ação de reparação de danos contra B, alegando que, em razão do dano que lhe foi causado por este, sofreu prejuízos materiais e morais que precisam ser ressarcidos e reparados por B. Se seu pedido for julgado procedente, haverá sentença condenatória, que autorizará posterior execução. Diferentemente da sentença declaratória e da sentença constitutiva, cuja plena produção dos efeitos opera no plano estritamente ideal, a sentença condenatória depende de providências práticas para que a tutela pretendida pelo autor seja plenamente propiciada. Ou haverá o cumprimento espontâneo, pelo condenado, da devida prestação de conduta ou, não sendo assim, terá de ser promovida a execução, na qual se buscará o resultado prático que se teria com o cumprimento espontâneo. 3.4. Ações mandamentais A classificação tradicional das ações contempla apenas as três espécies acima apresentadas. Na doutrina brasileira, ganhou força nas últimas décadas, a ponto de hoje prevalecer, outra classificação, que considera haver cinco espécies de ações de conhecimento (e , por isso, é conhecida como classificação quinária). Essa classificação toma em conta a impossibilidade de se qualificar como "condenatório" todo e qualquer provimento que imponha uma subsequente mudança no mundo dos fatos. Segundo essa classificação, além das ações declaratórias, constitutivas e condenatórias, o processo de conhecimento comporta, também, ações mandamentais e ações executivas lato sensu. As ações mandamentais têm por objetivo a obtenção de sentença em que o juiz emite uma ordem, cujo descumprimento, por quem a receba, caracteriza desobediência à autoridade estatal passível de sanções, inclusive de caráter penal (o art. 330 do CP tipifica o crime de desobediência). Exemplos típicos são as sentenças proferidas no mandado de segurança e nas ações que tenham por objeto obrigação de fazer ou de não fazer (art. 497 do CPC/2015). O não cumprimento total ou parcial das decisões judiciais mandamentais constitui ato atentatório à dignidade da justiça e sujeita o destinatário da ordem do juiz a multa de até 20% do valor da causa (ou de até dez vezes o salário mínimo, quando o valor da causa for irrisório ou inestimável), que reverterá aos fundos de modernização do Poder Judiciário (art. 97 do CPC/2015), sem prejuízo da imposição das demais sanções criminais, civis e processuais cabíveis (art. 77, IV e §§ 1.º a 5.º, do CPC/2015). 5 3.5. Ações executivas lato sensu As ações executivas lato sensu são espécie de ação que contêm um passo além daquilo que a parte obtém com uma ação condenatória. Nas executivas lato sensu há, tal como nas condenatórias, uma autorização para executar. No entanto, diferentemente da regra das ações condenatórias, a produção de efeitos práticos, no mundo dos fatos, independe, na ação executiva lato sensu, de posterior requerimento de execução. Vale dizer: a ação condenatória produz sentença que, se for de procedência, exigirá nova provocação do interessado, pleiteando o cumprimento da sentença. Já a ação executiva lato sensu disso não necessita, estando sua sentença apta a diretamente determinar a produção dos efeitos de transformação no mundo empírico. Em suma, a sentença de procedência dessa categoria de ação não apenas é executada no próprio processo em que proferida, como ainda sua execução independe de requerimento do interessado. Trata-se de modelo de sentença em que o juiz age de ofício, independentemente dos parâmetros procedimentais tradicionalmente consagrados para o cumprimento de sentença. Exemplificando: A move contra B ação condenatória e obtém sentença de procedência do pedido. Se se tratar de sentença líquida (v., oportunamente, liquidação da sentença, vol. 3), terá de requerer o cumprimento da sentença (isto é, deverá propor a ação de execução), na mesma relação jurídica processual, até que consiga obter a efetiva satisfação de seu crédito. Já quando se tratar de ação executiva lato sensu, o autor não necessitará dessa fase, de sua iniciativa, para obter a pretendida alteração no mundo dos fatos, porque este tipo de ação não se destina a constituir título executivo a ser posteriormente cumprido, mediante requerimento do interessado (como ocorre atualmente com as ações condenatórias). Sua sentença de procedência é exequível de ofício no mesmo processo em que foi proferida. O tema será retomado adiante. 6 Há, todavia, um interessante problema, surgido com o CPC de 2015. O art. 139, ao tratar dos poderes do juiz no processo, faz referência à possibilidade de que sejam fixadas as medidas indutivas, coercitivas, sub-rogatórias ou mandamentais adequadas para que se dê o cumprimento do comando judicial (inc. IV). Nos termos do que dispõe o art. 139, tais medidas poderão ser determinadas pelo juiz "inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária". De acordo com essa regra, o juiz pode determinar medidas mandamentais e coercitivas, nos mesmos termos dos poderes que a lei lhe atribui quando se tratar de deveres de fazer, de não fazer ou de entregar coisa, conforme disposto no art. 536 e parágrafos, do CPC/2015 (que são ações mandamentais e executivas lato sensu). A situação gerada pelo art. 139 do CPC/2015 sugere que todas as sentenças, inclusive as proferidas em razão de pedido de natureza condenatória (como são, em regra, as que têm por objeto prestação pecuniária), seriam assimiláveis às mandamentais e às executivas. Mas, se essa fosse a intenção do legislador, qual a razão de haver diferente disciplina, no espaço próprio (do cumprimento de sentença), para cada uma das modalidades de sentença? O tema será retomado no vol. 3, mas desde logo pode-se adiantar sumariamente a resposta para a questão: as providências que o art. 139 do CPC/2015 autoriza adotar "inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária" não são utilizáveis diretamente contra o condenado para o próprio cumprimento da obrigação - o que dependeria de disciplina específica no cumprimento de sentença - mas sim para assegurar a própria prática dos atos executivos (então, não cabe aplicar medida coercitiva atípica ao devedor, no cumprimento de sentença condenatória pecuniária, por falta de pagamento, mas essas medidas podem ser adotadas para se impor a apresentação de rol de bens penhoráveis ou para se obter o acesso ao bem penhorado etc.). O tema é retomado no vol. 3. 4. Pluralidade de ações em um mesmo processo Tradicionalmente, cada diferente modalidade de ação tenderia a gerar um diferente processo. Assim, para as ações cognitiva, executiva e urgente haveria os respectivos processos de cognição, execução e urgência. No sistema processual brasileiro, essa não é a regra (v. cap. 14, adiante). Por razões pragmáticas, permite-se que sucessivas ações sejam promovidas dentro de um mesmo processo, em fases distintas. Assim, a propositura de ação de conhecimento dá ensejo a uma primeira fase processual. Havendo sentença condenatória ilíquida, diz o legislador que a ela se segue a fase de liquidação. Trata-se de uma nova ação, de liquidação, a ser manejada dentro do mesmo processo (art. 509 e ss., do CPC/2015). E, depois, tendo havido decisão que decide o mérito da ação de liquidação, passa-se para a ação de execução, que o legislador preferiu chamar de fase de cumprimento da sentença (art. 513 e ss., do CPC/2015). Se o réu pretender opor-se a tal cumprimento, por reputar que há algum defeito nele, promoverá uma ação de impugnação ao cumprimento, que também gerará uma nova fase processual (art. 525 do CPC/2015).O mesmo se passa com as ações urgentes. Se já há um processo de conhecimento ou execução em curso e surge a necessidade de uma tutela de urgência, a ação urgente (i.e., o pedido dessa proteção urgente) será formulada dentro do próprio processo em curso (arts. 294, parágrafo único, e 295 do CPC/2015). Se ainda não há um processo em curso, a ação urgente implica a instauração de um processo. Mas se depois for formulada uma ação principal, de cognição ou execução, essa em regra também não gerará um novo processo: a demanda será formulada dentro do processo já instaurado pela ação urgente (arts. 303, § 1.º, I, e § 3.º, e 308 do CPC/2015). Em suma, após a fase preparatória de urgência, haverá uma fase de conhecimento ou execução, conforme o caso. 1. Segundo o tipo de provimento requerido De conhecimento De execução 2. Segundo o tipo de tutela pedida no processo de conhecimento a) Doutrina clássica Meramente declaratória Constitutiva Condenatória b) Classificação segundo as cinco eficácias Declaratória Constitutiva Condenatória Mandamental Executiva lato sensu Doutrina Complementar · Araújo Cintra, Ada Grinover e Cândido Dinamarco ( Teoria..., 30. ed., p. 286) observam, em primeiro lugar, que a doutrina utiliza o provimento jurisdicional como "ponto de referência para classificar as ações". Segundo esses autores, a doutrina parte da concepção segundo a qual, "se toda ação se refere a um pedido de provimento de dada ordem e se as ações se diferenciam entre si também na medida em que os provimentos pedidos sejam diferentes, será lícito classificá-las com base nesse seu elemento". A partir dessa explicação inicial, sustentam que, "de acordo com a natureza do provimento pedido", as ações serão de conhecimento e executiva, a primeira objetivando ao provimento de mérito e a segunda ao provimento satisfativo. As ações de conhecimento, segundo Araújo Cintra, Grinover e Dinamarco, subdividem-se "da mesma forma como se subdividem os provimentos cognitivos (sentenças de mérito): meramente declaratórias, constitutivas e condenatórias". Informam, ainda, à luz das alterações trazidas pela Lei 11.232/2005, existir tendência de desaparecimento, no direito processual civil brasileiro, do conceito de sentença condenatória pura, "em razão a) da outorga de eficácia executiva às sentenças meramente declaratórias e b) da generalização das sentenças dotadas de eficácia mandamental ou executiva lato sensu". · Arruda Alvim ( Manual..., 16. ed., p. 129) informa que ainda subsistem algumas classificações "feitas à base de critérios que pertencem propriamente ao direito substancial", como as que se referem às ações reais e pessoais, por exemplo. Sustenta que, processualmente, todavia, as ações classificam-se "pelos efeitos objetivados". Assim, prossegue Arruda Alvim, "temos as ações de conhecimento, ou declaratórias lato sensu, que habilitam o juiz a conhecer e declarar, em sentido lato, o direito, afora outras consequências específicas do tipo de ação proposta pelo autor; as executivas, que se baseiam em títulos extrajudiciais (nota promissória, cheque etc. - v. art. 585, I [art. 784, I, do CPC/2015]), e as cautelares (v. todo Livro III do Código), que têm por escopo proteger ('acautelar') uma pretensão, com aparência de direito ( fumus boni iuris), e em relação à qual ocorra o perigo da demora da solução processual ( periculum in mora), com vistas a assegurar praticamente futura execução (ou, a própria, eventual e futura proteção da eficácia da sentença, declaratória ou constitutiva), pois, a eficácia declaratória ou constitutiva, ou a eficácia da sentença condenatória, poderá ser elidida ou excessivamente dificultada pela demora da formação do título executivo judicial na fase de conhecimento do processo; ou, ainda, proteger cautelarmente a própria e frutífera execução por título extrajudicial. Nessa conjuntura, justificando a medida cautelar, comparece a atividade ilícita do devedor, preordenada a frustrar ou dificultar a satisfação do credor, quando provocar o periculum in mora". Em seu sentir, "existe na doutrina tendência a que se considere haver outros dois tipos de sentenças, ao lado das que antes mencionamos, que são as sentenças executivas lato sensu e as mandamentais. Ambas têm como característica serem capazes de gerar, no mundo empírico, alterações tendentes a satisfazer o credor in natura, independentemente do processo de execução, porque o juiz, nestes casos, será dotado de poderes para tomar providências (= determinar medidas de apoio) que acabam tendo por resultado levar o réu a cumprir o mandamento (a ordem) contida na sentença. Há autores que utilizam indiferentemente ambas as expressões: sentença mandamental e sentença executiva lato sensu. Outros fazem distinção entre elas, dizendo que só nas executivas lato sensu, em face da definitiva resistência do réu no que tange ao cumprimento da ordem contida na sentença, pode o juiz determinar providência equivalente, sub-rogando-se. Nossa posição é no sentido de que estas podem ser consideradas uma subespécie das ações condenatórias, embora reconheçamos que, no contexto atual, venham efetivamente ganhando espaço e importância". · Fredie Didier Jr. ( Curso..., vol. 1, 17. ed., p. 289) sustenta que "as demandas podem ser classificadas de acordo com a natureza da tutela jurisdicional que se busca: conhecimento (certificação de direito), execução (efetivação de direito) ou cautelar (proteger a efetivação de um direito). Atualmente, essa distinção tem perdido o prestígio, porquanto as demandas têm assumido natureza sincrética: vai-se a juízo em busca de uma providência jurisdicional que viabilize mais de um tipo de tutela jurisdicional, satisfazendo e assegurando, certificando e efetivando, certificando assegurando e efetivando etc. Não deixa de ter importância a distinção entre os tipos de tutela, que são diversos; perde-se, porém, a importância de distinguir as demandas conforme essas modalidades de tutela". · Humberto Theodoro Júnior ( Curso..., vol. 1, 56. ed., p. 168) critica as classificações "impregnadas de preconceitos civilísticos que merecem ser abolidos frente ao estágio moderno dos estudos processualísticos de nossos tempos". Segundo sustenta, a classificação que tem relevância para o sistema "deve ser a que leva em conta a espécie e natureza de tutela que se pretende do órgão jurisdicional". Assim, admite duas espécies de ações: de cognição e de execução. · José Frederico Marques ( Manual..., 9. ed. atualiz., vol. 1, p. 247) trata de três classificações das ações: segundo o procedimento, segundo a pretensão e segundo critério processual. Esta última faz-se em razão da natureza da tutela jurisdicional pedida pelo autor: ações de conhecimento, subdivididas em declaratórias positivas e negativas, condenatórias e constitutivas; ações executivas, subdivididas em execuções de sentença e de títulos extrajudiciais; cautelares, subdivididas em ações cautelares nominadas e inominadas ou atípicas. Segundo o procedimento, as ações são, para Frederico Marques, comuns (ordinárias e sumárias) e especiais. Por fim, no que diz respeito à classificação segundo a pretensão, assevera esse autor que a "qualificação das ações como ações reais ou pessoais, reipersecutórias, mistas ou penais, mobiliárias ou imobiliárias, com seus traços específicos", ainda que muito relevante e ponderável, não constitui problema do Direito Processual Civil, mas, sim, "do direito material em que são regulados os direitos subjetivos correspondentes". · Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero ( Novo Curso..., vol. 1, p. 336) criticam a classificação das ações. Para os autores, "a classificação das ações segundo as suas eficácias perante o direito material apenas pode ser aceita por quem admite que o autor exerce ação de direito material. Para quem não aceita o exercício de ação de direito material, mas sim o exercíciode pretensão à tutela jurisdicional do direito, o que se deve classificar são as tutelas jurisdicionais dos direitos. São as tutelas jurisdicionais dos direitos que expressam os resultados que o processo produz no plano do direito material". · Ovídio Baptista da Silva ( Curso..., 8. ed., vol. 1, p. 113) sustenta que as "classificações usuais das ações e sentenças feitas pela doutrina são classificações das respectivas ações de direito material que constituem a substância dos respectivos processos onde elas se encontram. A classificação das ações não diz respeito à relação processual e sim à lide, nada tem a ver com a forma do processo, e sim com o seu conteúdo. Quando se diz que as ações - e as respectivas sentenças de procedência - podem ser declaratórias ou constitutivas, está-se a indicar ações de direito material afirmadas existentes, na correspondente petição inicial, e que na perspectiva da relação processual concreta onde elas se apresentam não serão mais que simples hipóteses de trabalho com que o magistrado se depara". · Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello ( Primeiros..., p. 813) entendem que "a classificação das ações em constitutivas, condenatórias e (meramente) declaratórias funda-se no tipo de pedido formulado, ao passo que o caráter mandamental ou executivo lato sensu traduz-se em que ela contém uma ordem para o cumprimento do que consta da decisão e uma permissão para que o próprio Judiciário realize o comando emergente da sentença no mundo empírico, sem possibilidade de oferecimento de embargos à execução. Esta última característica deixa de existir à luz do NCPC, que prevê expressamente o cabimento de impugnação (art. 536, § 4.º)". Enunciados do FPPC N.º 111. (Art. 19; art. 329, II; art. 503, § 1.º, CPC/2015) Persiste o interesse no ajuizamento de ação declaratória quanto à questão prejudicial incidental. Bibliografia Fundamental Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, Teoria geral do processo, 30. ed., São Paulo, Malheiros, 2014; Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, 16. ed., São Paulo, Ed. RT, 2013; Fredie Didier Jr., Curso de Processo Civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento, 17. ed., Salvador, JusPodivm, 2015, v. 1; Humberto Theodoro Júnior, C urso de direito processual civil, 56. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2015, vol. 1; José Frederico Marques, Manual de direito processual civil, 9. ed., Atual. Ovídio Rocha Barros Sandoval, Campinas, Millennium, 2003, vol. 1; Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero, Novo curso de processo civil: teoria do processo civil, São Paulo, Ed. RT, 2015, v. 1; Ovídio A. Baptista da Silva, Curso de processo civil, 8. ed., Rio de Janeiro, Forense, 2008, vol. 1; Teresa Arruda Alvim Wambier, Maria Lúcia Lins Conceição, Leonardo Ferres da Silva Ribeiro e Rogerio Licastro Torres de Mello, Primeiros comentários ao novo código de processo civil: artigo por artigo, São Paulo, Ed. RT, 2015. Complementar Agapito Machado, O aspecto penal do descumprimento das decisões judiciais de natureza mandamental, RT 722/49; Agnelo Amorim Filho, As ações constitutivas e os direitos potestativos, Doutrinas Essenciais de Processo Civil, vol. 2, p. 25, out. 2011; Alexandre Freitas Câmara, Lições de direito processual civil, 16. ed., Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2007, vol. 1; Alfredo de Araújo Lopes da Costa, Manual elementar de direito processual civil, 3. ed., Atual. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Rio de Janeiro, Forense, 1982; Antonio Janyr Dall'agnol Junior, Ação condenatória: algumas reflexões, RA 40/44; Arruda Alvim, Tratado de direito processual civil, 2. ed., São Paulo, Ed. RT, 1990, vol. 1; Athos Gusmão Carneiro, Ação declaratória incidental no novo código de processo civil, RT, 822/755, abr. 2004, Doutrinas Essenciais de Processo Civil, vol. 2, p. 941, out. 2011; Belize Câmara Correia, Considerações sobre a tutela jurisdicional específica, RePro 105/283; Cândido Rangel Dinamarco, A reforma da reforma, São Paulo, Malheiros, 2002; Carlos Alberto Lunelli e Jefferson Marin, A preservação da tutela jurisdicional a partir da interação das eficácias mandamental e condenatória, RePro 195/423; Cássio Scarpinella Bueno, A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil, 2. ed., São Paulo, Saraiva, 2006, vol. 1; Celso Agrícola Barbi, Ação declaratória principal e incidente, 7. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1996; Celso Neves, Classificação das ações, RBDP 7/31; _____, Estrutura fundamental do processo civil, 2. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1997; Cleide Previtalli Cais, Ação mandamental, RePro 19/38; Clóvis Verissimo do Couto e Silva, A teoria das ações em Pontes de Miranda, Ajuris 43/69; Daniel Francisco Mitidiero, A pretensão de condenação, RJ 292/39; Dorival Renato Pavan, Comentários às Leis 11.187 e 11.232, de 2005, São Paulo, Pilares, 2006; Eduardo Arruda Alvim, Curso de direito processual civil, São Paulo, Ed. 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Pontes de Miranda, Comentários ao Código de Processo Civil, 4. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1995, t. I; _____, Tratado das ações, 2. ed., São Paulo, Ed. RT, 1972, t. I; Graziela Santos da Cunha e Wanessa de Cássia Françolin, Considerações sobre as principais alterações feitas pela Lei 11.232/2005 para a generalização do sincretismo entre cognição e execução, RePro 135/132; Hélio Tornaghi, Comentários ao Código de Processo Civil, 2. ed., São Paulo, Ed. 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FOOTNOTES 1 Ver volume 2, cap. 3 e ss. 2 Ver volume 3. 3 Ver volume 2, cap. 42. 4 Para aprofundar a distinção entre os provimentos constitutivos e a atividade jurisdicional executiva, veja-se o cap. 1 do vol. 3 do presente Curso. 5 © desta edição [2016] A esse respeito, ver WAMBIER, Luiz Rodrigues, O contempt of court na recente experiência brasileira - anotações a respeito da necessidade premente de se garantir efetividade às decisões judiciais, RePro 119/35. 6 No vol. 3 deste Curso, procede-se a cotejo mais detalhado entre os provimentos condenatórios, mandamentais e executivos.
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