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Cartilha Os Vereadores no Processo de PDP

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A FRENAVRU - Frente Nacional de Vereadores pela Reforma Urbana, o
Confea – Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura e o Ministério das
Cidades, no âmbito da Campanha do Plano Diretor Participativo, estão
empenhados em garantir que os vereadores possam contribuir da melhor
maneira possível no processo de elaboração e aprovação dos Planos Dire-
tores Participativos em todo o território nacional, garantindo o conteúdo
mínimo definido pelo Estatuto da Cidade. Esta cartilha objetiva capacitar
os vereadores e as Câmaras Municipais para essa tarefa, que é uma das
mais importantes a cargo do poder público para garantir um futuro mais
promissor para as cidades brasileiras.
Sumário
Apresentação ......................................................................................... 1
Estatuto da Cidade e Plano Diretor ............................................... 4
Plano Diretor no Executivo ............................................................... 6
O que o vereador deve fazer em cada
etapa do Plano Diretor no Executivo ................................................ 10
Plano Diretor no Legislativo ........................................................... 12
1. Preparação ....................................................................................... 14
2. Avaliação do processo participativo no Executivo ...................... 15
3. Avaliação do conteúdo do Plano Diretor: .................................... 16
4. Processo participativo na Câmara ................................................. 26
5. Reformulação do Projeto de Lei: ................................................... 32
6. Chegou a hora da votação............................................................. 35
7. O papel do Legislativo na implementação ................................... 36
O Plano Diretor é de todos ................................................................ 36
Ministro das Cidades
Marcio Fortes de Almeida
Secretaria Nacional de Programas Urbanos
Raquel Rolnik
Presidente do CONFEA
Marcos Túlio de Melo
FRENAVRU
Coordenadora Geral
Vereadora Neusinha Santos - Belo Horizonte/MG
Coordenação
Vereador André Passos - Curitiba/PR
Vereador Eliomar Coelho - Rio de Janeiro/RJ
Vereador Jorge Bernardi - Curitiba/PR
Vereador André Queiroz - Louveira/SP
Coordenação geral da elaboração da Cartilha
Vereador Carlos Comassetto - Porto Alegre/RS
Equipe técnica
Coordenação técnica e edição
Nabil Bonduki
Textos
Nabil Bonduki e Paula Santoro
Supervisão
Grupo de trabalho da FRENAVRU:
Paulo Soares, Jaime Rodrigues e Maria Fátima Tardin
Projeto gráfico e editoração eletrônica
Antonio Kehl
Ilustrações
Murilo Silva e Cintia Vianna
Revisão
Iara R. Xavier
Impresso em Brasília, 1a edição, agosto de 2006
Para obter arquivo digital desta cartilha e outras informações sobre o tema, acesse
www.cidades.gov.br/planodiretorparticipativo
Contatos FRENAVRU:
Vereadora Neusinha Santos freneusinhasantos@cmbh.mg.gov.br/frenavru@hotmail.com
fone: (31) 3555-1150 / 3555-1149
1
Î
Apresentação
Essa cartilha, elaborada conjuntamente pelo Ministério das Cidades, CONFEA (Conselho Fede-
ral de Engenharia e Arquitetura) e FRENAVRU (Frente de Vereadores pela Reforma Urbana),
tem o objetivo informar os vereadores sobre suas responsabilidades na elaboração de planos
diretores participativos e capacitá-los para exercer com responsabilidade e competência essa
que é uma das atribuições mais importante do Legislativo. A cartilha vai mostrar como os
vereadores devem participar deste processo e analisar a proposta elaborada pelo Executivo,
além de apresentar as etapas de discussão nas Câmaras Municipais, indicar os conteúdos míni-
mos que devem estar incluídos para responder aos princípios da reforma urbana e, principal-
mente, apontar a conduta que os vereadores devem ter nesse processo.
O vereador é um ator fundamental no planejamento de seu município. Essa cartilha deverá
mostrar como deve ser sua participação na construção de um Plano Diretor verdadeira-
mente participativo.
O vereador faz as leis e por isso deve
discutir e aprovar o Plano Diretor
O Plano Diretor é um dos mais importantes instrumentos de planejamento municipal. Deve
ser resultado de um processo participativo e orientar a administração de sua cidade. O
vereador deve se basear no Plano Diretor para contribuir na elaboração e execução dos
orçamentos anuais, na gestão das políticas públicas e nas decisões sobre as obras que
serão realizadas no seu município.
Por isto, é fundamental que você, vereador, se envolva em todo o processo de formulação
do Plano Diretor, para se familiarizar com o assunto, pois será você que vai discuti-lo,
modificá-lo, aprová-lo e garantir a sua implementação! O Estatuto da Cidade (Lei Federal
no 10.257/01) exige que o Plano Diretor seja uma lei, que deve ser discutida com toda a
sociedade em audiências públicas e aprovada pelas Câmaras Municipais.
Não perca essa oportunidade de se aproximar dos cidadãos, e contribuir
para a construção de um dos mais importantes instrumentos de gestão das
cidades. É uma grande oportunidade para os vereadores mostrarem sua com-
petência, espírito público e sensibilidade com o futuro da sua cidade e do
meio ambiente.
2
Você sabe o que é a FRENAVRU?
A FRENAVRU (Frente Nacional de Vereadores pela Reforma Urbana) é uma articula-
ção de vereadores de todo o país que participa da luta pela Reforma Urbana, ou
seja, pela construção de cidades mais justas, democráticas e sustentáveis. A Fren-
te foi criada em 2003 no processo de mobilização da Conferência Nacional das
Cidades e garantiu a participação dos legislativos municipais no Conselho Na-
cional das Cidades.
O processo de construção do Plano Diretor Participativo é um momento particu-
larmente importante para o vereador se integrar à luta pela Reforma Urbana. Por
isso, a FRENAVRU decidiu elaborar essa cartilha e promover oficinas para que os
vereadores brasileiros sejam capacitados e participem dando qualidade aos pro-
cessos e conteúdos de planejamento do futuro de nossas cidades.
O Legislativo é tão responsável pelo
Plano Diretor quanto o Executivo
O Estatuto da Cidade estabelece que a iniciativa da elaboração do Plano Diretor deve partir
do prefeito da cidade, caso contrário sua validade pode ser questionada. Também diz que
todos devem participar de sua elaboração, implementação e revisão. Tanto a administra-
ção, como sociedade civil e Câmara de Vereadores devem participar!
Se o prefeito não tomar a iniciativa, os vereadores devem trabalhar para conscientizá-lo de
que é ele quem deve dar o ponta-pé inicial nesse processo.
Além de dar esse empurrãozinho inicial, os vereadores devem estimular o processo
participativo que é obrigatório por lei e ajudar na sua realização. Isso não só porque sabem
da importância dessa lei para o município, mas também porque o Estatuto da Cidade os
responsabiliza pela participação. A lei coloca que, se o prefeito ou os vereadores obstrui-
rem o processo, isto pode ser considerado um ato de improbidade administrativa e, se
julgado procedente, eles podem ser punidos e até mesmo perderem seus direitos políticos
(Estatuto da Cidade, Art. 52, inciso VI e Lei Federal no 8.429/92). É importante não esque-
cer ainda que a participação deve estar de acordo com a Resolução no 25/05 do Conselho
Nacional das Cidades.
Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
3
Apresentação
4
Estatuto da Cidade e Plano Diretor
Uma conquista da luta pelo direito à cidade
O Plano Diretor é uma lei municipal elaborada com a participação
de todos. É o instrumento básico da política territorial que vai
dizer como será o desenvolvimento do município. Nele deve estar
explicitado o projeto de cidade que queremos ter. Podemos dizer
de forma resumida que ele:
• é resultado do planejamento do futuro dacidade;
• organiza seu crescimento e transformação;
• define as ações prioritárias;
• dimensiona as metas a serem buscadas;
• regulamenta os instrumentos urbanísticos para normatizar o
processo de construção e o mercado imobiliário;
• estabelece o sistema de gestão democrático.
O Plano Diretor é parte integrante do processo de planejamento
municipal; por isso o Plano Plurianual, as Diretrizes Orçamentá-
rias e o Orçamento Anual devem incorporar as diretrizes e as
prioridades nele contidas, como determina o art. 40 do Estatuto
da Cidade.
Veja como isto é importante: o Plano Diretor definirá as principais
obras e programas urbanos que o município vai realizar no período
de sua vigência, ou seja, em torno de dez anos.
O Plano vale para todo o município, ou seja, para as áreas urbanas e
rurais. Deve indicar qual é o destino de cada parte do município, sem
esquecer, é claro, que essas partes formam um todo. Ele deve regu-
lamentar, no âmbito de cada município, os instrumentos urbanísti-
cos previstos no Estatuto da Cidade para garantir a função social da
propriedade e da cidade e ordenar o crescimento do município.
O que é o Estatuto da Cidade?
O Estatuto da Cidade é uma Lei Federal (10.257/01) que regula-
mentou e desenvolveu o capítulo Da Política Urbana da Consti-
tuição Federal (artigos 182 e 83), estabelecendo como deve ser
elaborada a política urbana em todo o país.
Seu objetivo é possibilitar que as cidades brasileiras possam
crescer de forma mais ordenada, proteger o meio ambiente e
garantir os direitos urbanos fundamentais, como a moradia digna
e os transportes sustentáveis. Para isso, o Estatuto estabelece
um conjunto de regras para organizar o território do município,
que devem ser aplicadas de acordo com a realidade local.
Todos os municípios devem planejar o seu futuro e fazer seu Plano
Diretor. Mas o Estatuto da Cidade obriga que cerca de 1683 muni-
cípios aprovem seu Plano até outubro de 2006 e outros tantos
são obrigados a fazê-lo, embora sem prazo determinado por lei.
5
Î
Como saber se meu município é obrigado
a fazer o Plano Diretor?
O Estatuto da Cidade determina que o Plano Diretor é obrigatório para os municípios que:
• tenham mais de 20 mil habitantes;
• integrem regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas;
• estejam incluídos em áreas de especial interesse turístico;
• façam parte de áreas de influência de empreendimentos ou atividades com significativo
impacto ambiental de âmbito nacional ou regional;
• queiram utilizar os instrumentos urbanísticos previstos no Estatuto da Cidade.
Se o município tiver mais de 20 mil habitantes (de acordo com o Censo de 2000) ou estiver
incluído em regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas, estabelecidas por lei, ele é
obrigado a ter o Plano Diretor aprovado até outubro de 2006. Nos demais casos, o Plano é
obrigatório, mas o prazo não está estipulado. O Conselho Nacional das Cidades deverá
aprovar resolução estabelecendo os critérios que devem ser utilizados para definir quais
são os municípios integrantes das áreas de especial interesse turístico e de influência de
empreendimentos com significativo impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, ou
seja, que tenham grandes obras que colocam o meio ambiente em risco ou que alterem as
caracteristicas da região como aeroportos, rodovias, barragens ou hidrelétricas.
Além disso, o Estatuto da Cidade determina que o Plano Diretor deve ser revisto a cada dez
anos, no máximo. Assim, mesmo se sua cidade já tem um Plano Diretor, ele deve ser
revisto, ou deve ser elaborado um novo, antes dele completar dez anos.
E se meu município não precisar fazer?
Mesmo que a cidade não se encaixe em nenhum dos casos citados acima, ela pode (E
DEVE) ter um Plano Diretor. É bom que tenha, pois todos devemos planejar nosso futuro e
decidir como queremos que nossas cidades cresçam. E também por que só com o Plano
Diretor a cidade pode aplicar os instrumentos urbanísticos do Estatuto da Cidade.
Vereador, tome a frente desse processo, mostrando a sua preocupação com
o futuro de seu município!
Estatuto da Cidade e Plano Diretor
6
Plano Diretor no Executivo
Como o vereador deve participar no processo de elaboração junto ao Executivo
Dando a largada: quem
deve dar o primeiro passo?
A iniciativa da elaboração do Plano deve partir do prefeito. Não ape-
nas porque o Estatuto da Cidade exige, mas porque começar a ela-
boração de um Plano Diretor é uma decisão política e requer recur-
sos financeiros, técnicos e administrativos que só o Executivo detém.
Se a administração não tomar a iniciativa, os vereadores devem
dialogar com o prefeito sobre a importância desta tarefa, antes
mesmo que a sociedade começe a reclamar. Em último caso, se
mesmo após o Executivo ser pressionado ele não tomar a iniciati-
va, é possível entrar com uma representação junto ao Ministério
Público denunciando a omissão do poder Executivo e exigindo o
início do processo de elaboração do Plano Diretor.
Se a prefeitura não se mexer, embora não seja o mais correto, é
possível a Câmara Municipal formular um Plano Diretor (ou mes-
mo a sociedade civil, através de uma Lei de Iniciativa Popular)
para começar a discussão e, eventualmente até ir para a votação.
Neste caso, mesmo que o processo venha a ser questionado pelo
fato de que iniciativa não tenha sido do poder Executivo, toda
essa discussão já é uma forma de pressionar o prefeito a se envol-
ver com a elaboração do Plano Diretor.
Como acontece a
participação da sociedade?
O Estatuto da Cidade exige que haja participação popular em
todas as etapas do Plano Diretor. O Conselho Nacional das Cida-
des, na Resolução 25/05, estabeleceu regras mais especificas para
o processo participativo dos Planos Diretores.
Alguns municípios têm elaborado um Decreto dizendo como será
feita a participação, o que torna as regras públicas e passíveis de
cobrança e fiscalização por todos (inclusive pelo Ministério Públi-
co). Se os vereadores participarem no processo de regulamenta-
ção do processo participativo, ele pode ser estabelecido por lei,
tomando-se o cuidado de evitar que essas regras sejam excessiva-
mente rígidas.
A Prefeitura deve, além de promover oficinas com a população,
formar um núcleo gestor, um grupo (de preferência) paritário
de representantes do poder público e da sociedade responsável
por preparar, conduzir e monitorar a elaboração do Plano Diretor.
Ele deve estabelecer as formas e modos de construi-lo, bem como
os prazos para cada etapa. Esse grupo deve ter técnicos do poder
público, mas também representantes da sociedade civil, para que
as decisões não sejam tomadas apenas no gabinete.
7
E se a participação não for garantida?
De acordo com o Estatuto da Cidade, o prefeito e os vereadores são
os responsáveis pela garantia de participação. Por isso, se o processo
não estiver sendo participativo, não espere para tomar providências,
atue para corrigir os problemas.
Em casos extremos, em que a participação não tenha ocorrido,
deve-se entrar com uma representação junto ao Ministério Públi-
co pedindo a anulação de todo o processo. Deverá ser aberto um
Inquérito ou uma Ação Civil Pública e, até mesmo, uma Ação de
Improbidade Administrativa, que pode penalizar os responsáveis.
Vários planos diretores elaborados sem a participação da socieda-
de têm sido anulados pela Justiça.
Os vereadores podem evitar estes casos extremos se atuarem jun-
to ao Executivo para garantir a participação da sociedade.
Você sabe o que é o Conselho Nacional das Cidades e
quais são as suas Resoluções sobre o Plano Diretor?
O Conselho das Cidades (Concidades) é a instância de
controle social e participação da sociedade para atuar junto
ao Ministério das Cidades. Foi criado em 2003, na 1ª Confe-
rencia Nacional das Cidades e, graças a atuação da
FRENAVRU, os vereadores tem três representantes titulares
e três suplentes.O Conselho debate e delibera sobre as dire-
trizes gerais da Política de Desenvolvimento Urbano no país,
envolvendo as áreas de planejamento territorial, habitação,
saneamento e mobilidade urbana.
O Concidades aprovou as seguintes resoluções:
• Res. 25/05, que trata do processo participativo;
• Res. 34/05, que trata do conteúdo mínimo;
• Res. 9/06, que trata dos prazos para aprovação.
Plano Diretor no Executivo
8
O vereador deve participar de todas as etapas de
elaboração do Plano Diretor?
Claro que deve! O processo de elaboração do Plano Diretor é muito complexo e longo e o
vereador tem a obrigação de participar em todo o processo, pois assim pode contribuir na
sua elaboração e estar melhor preparado para tramitar a proposta no Legislativo.
O vereador deve fiscalizar se as discussões do Plano Diretor estão sendo partici-
pativas e envolvem todos os setores da sociedade. Isto é importante até mesmo porque
ele precisará avaliar este processo quando o Projeto de Lei chegar na Câmara Municipal.
Para ajudar com mais consistência, o vereador deve se capacitar e contribuir para a
capacitação da sociedade para que ela possa compreender que as decisões tomadas no
Plano Diretor irão afetá-la diretamente seu cotidiano. Por exemplo, o Plano pode definir as
normas de construção (altura, recuos, volumetria, etc.) num determinado lote; alterar as
atividades permitidas para certos bairros (comércio, indústria, serviços, residência); criar
áreas de preservação ambiental e cultural; definir a implantação de parques para o lazer da
população; prever equipamentos para a zona rural; garantir terra para os mais pobres;
prever melhorias nas estradas vicinais; entre outros.
Acompanhando todo o processo, o vereador pode garantir que os interesses da comunida-
de que representa sejam debatidos, negociados e pactuados.
Como o vereador deve participar?
O vereador conhece a cidade e pode contribuir muito nas discussões. Na sua região, pode
participar como cidadão. A população admira o vereador que, de forma respeitosa, acom-
panha na sua região uma oficina junto com a comunidade. Assim, ele também se legitima
para levar nas discussões mais gerais as preocupações e desejos de sua comunidade. Além
disso, pode ajudar as pessoas a olharem para o conjunto dos problemas da cidade e a
enxergarem para além dos limites da sua rua e bairro.
Os vereadores devem também acompanhar os trabalhos e as discussões do núcleo gestor,
que, reunindo representantes de todos os segmentos da sociedade, deve ser um espaço
privilegiado para a definição das linhas gerais do Plano Diretor.
Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
9
Como o vereador pode verificar se está ocorrendo a
participação democrática
Acompanhando o processo de elaboração do Plano Diretor no Executivo, o vereador pode
fiscalizar e avaliar se ele está sendo implementado de forma participativa. E também, se
preparar para organizar os trabalhos na Câmara assim que o Plano chegar lá. Para isso,
deve observar os seguintes aspectos:
9 Se os prazos estabelecidos são suficientes e respeitam o tempo de mobilização da
população. Desconfie quando os prazos estiverem apertados ou se existirem poucas
reuniões agendadas.
9 Se a metodologia está sendo participativa, de forma a permitir que todos tenham
possibilidade de se manifestarem, de falarem e decidirem, de forma democrática.
9 Se as atividades estão sendo realizadas em locais de fácil acesso, servidos de trans-
porte público, em horários adequados, preferencialmente serem noturnas ou acontece-
rem em finais de semana.
9 Se está sendo garantida nas discussões uma diversidade de pessoas, grupos sociais ou
bairros. A Resolução 25/05 estabelece que os debates deve ser organizados por seg-
mentos sociais, por temas e por regiões.
9 Se está havendo participação da sociedade através de um grupo de representantes
escolhidos democraticamente (núcleo gestor), mas também de forma direta, em grandes
eventos com plenária ampliada, onde a proposta de lei seja discutida e pactuada com
todos. A Resolução 25/05 sugere que a proposta de Plano seja aprovada em uma Con-
ferência ou evento similar com plenária ampliada.
9Se o número e a forma das reuniões e audiências públicas foi suficiente.
9 Se aconteceram atividades de capacitação ao longo do processo, que permitiram
que a população fosse capacitada sobre os temas e fortalecida para discutir e tomar
decisões de forma qualificada e equilibrada.
9 Se as informações foram divulgadas através de ampla comunicação pública, para
todos, com antecedência e com material disponível, em linguagem acessível. A Resolu-
ção 25/05 diz que devem ser divulgados: o cronograma, os locais das reuniões, apre-
sentações dos estudos e propostas sobre o Plano Diretor com antecedência de no míni-
mo 15 dias; e os resultados dos debates e das propostas adotadas nas diversas etapas
do processo.
Plano Diretor no Executivo
10
O que o vereador deve fazer em cada
etapa do Plano Diretor no Executivo
Preparação e lançamento
Nessa etapa inicial, o Executivo deve mobilizar os cidadãos para participar do Plano Diretor
e capacitá-los. Os vereadores também devem se preparar e apoiar a prefeitura na capacitação
e mobilização da sociedade, para que o Plano não chegue na Câmara e apenas poucas
pessoas estejam aptas a participar. Neste período, deve ser criado o núcleo gestor.
Para dar o ponta-pé inicial nos encontros para discussão do Plano Diretor Participativo, a
prefeitura deve fazer um grande evento de lançamento, convidando todos os cidadãos.
A Câmara de Vereadores pode e deve apoiar esse evento e comparecer em peso para
mostrar que apóia o processo. O evento de lançamento deve ser político, mas também
festivo, de forma a instigar a participação da sociedade, num trabalho que sabemos que
será intenso.
Leitura da “cidade que temos”
A leitura da cidade tem como objetivo conhecer bem a sua realidade, seus problemas e
suas potencialidades. Traz informações como por exemplo: crescimento da população,
expansão urbana, dados socioeconômicos, localização dos usos (moradia, comércio, in-
dústria), os problemas a serem resolvidos e as potencialidades.
Nessa etapa são realizadas oficinas participativas onde devem ser registradas as impressões
da população, feitas geralmente por região, discutindo o município como um todo. Os
vereadores podem melhorar muito a leitura da cidade, pois a conhecem bem e já fizeram
estudos que devem ser recuperados para o debate.
Escolha dos temas e objetivos
O resultado da leitura deve ser apresentado para os cidadãos juntamente com uma seleção
de temas prioritários a serem trabalhados pelo Plano. Os vereadores, nesta etapa, contam
com sua experiência, e podem manifestar a opinião sobre os temas que devem ser
aprofundados, além de dividir com a sociedade a decisão sobre o que é mais prioritário.
Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
11
Propostas para “a cidade que queremos”
Nesta fase é feita uma nova rodada de oficinas com a população para debater e definir os
objetivos a serem alcançados e as propostas. Os vereadores também podem encaminhar
propostas, pois se forem aprovadas, ficam legitimadas para permanecerem no texto do
Projeto de Lei, antes mesmo de ser debatido na Câmara. Ao final dessa etapa, a equipe
técnica deve apresentar propostas e objetivos prioritários para cada tema.
Definição das ações prioritárias e dos instrumentos urbanísticos
As ações e os instrumentos urbanísticos são necessários para que os objetivos do Plano sejam
cumpridos. As ações são planos específicos, programas projetos e obras que precisam ser
executados no prazo de vigência do Plano Diretor para que se alcance os resultados espera-
dos. As ações prioritárias deverão ser consieradas nos orçamentos anuais. Os instrumentos
servem para regular a atuação de todos os agentes que constróemno território do municí-
pio. Nem todos os instrumentos do Estatuto da Cidade precisam estar no Plano Diretor, mas
apenas aqueles que são necessários para cumprir os objetivos definidos e, quando adotados,
devem ser regulamentados para que sejam auto-aplicáveis, ou seja, para que valham a partir
da aprovação do Plano Diretor. Os vereadores devem cuidar para que não sejam adotados
instrumentos e ações que não estejam ligados a nenhuma proposta e que não haja propostas
sem instrumentos ou ações. É necessário também verificar se existem instrumentos aplicados
de forma contraditória ou sem delimitação física no território. E, por outro lado, verificar se
as ações prioritárias são realmente as mais importantes para a cidade.
Redação do Projeto de Lei
Essa é a hora de decidir o que entra ou não no Plano Diretor. O vereador deve defender que
o conteúdo mínimo exigido pelo Estatuto da Cidade, os conteúdos da Reforma Urbana e
os estabelecidos pelas Resoluções do CNC, sejam tratados no projeto de lei (ver item Ava-
liação do conteúdo do Plano Diretor, pg. 16).
Quando o Projeto de Lei (PL) for encaminhado à Câmara, os vereadores terão que avaliar
seu conteúdo; por isso é importante entendê-lo e saber quais os pontos essenciais que
devem estar no PL para introduzi-los, se for possível ainda no processo de elaboração junto
ao Executivo. Lembre-se que se o Projeto chegar de maneira consistente na Câmara Muni-
cipal, o trabalho dos vereadores será facilitado.
Plano Diretor no Executivo
12
Plano Diretor no Legislativo
Como o vereador deve ler, analisar, avaliar e debater o Projeto de Lei para a
aprovação na Câmara dos Vereadores
Pronto, chegou a hora dos vereadores protagonizarem e fecha-
rem com chave de ouro o processo: o Projeto de Lei chegou no
Legislativo.
A tramitação do Projeto de Lei do Plano Diretor na Câmara Muni-
cipal é o ponto culminante da sua elaboração. Se os vereadores
souberem conduzir bem este processo com maturidade, espírito
público e isenção, todos irão ganhar: o prefeito e sua equipe, que
coordenaram a proposta; a sociedade, que participou da sua ela-
boração; e os vereadores, que o aprovaram. O município terá
dado um passo fundamental para garantir um futuro melhor.
Para isto, você precisa se preparar bem. Mas cuidado porque, em
várias ocasiões, o Legislativo se desgasta por conduzir de forma
indevida o processo de aprovação do Plano Diretor. Para alcançar
um bom resultado, alguns princípios são fundamentais para con-
duzir de forma adequada sua aprovação na Câmara Municipal:
• A tramitação do PL não pode ser sumária e superficial (o fa-
moso “rolo compressor”), mas também não pode se alongar
indefinidamente, sem cronograma e prazos (o chamado “sen-
tar em cima”);
• O processo de participação já realizado deve ser avaliado e
respeitado;
• O Legislativo precisa estar capacitado e isento para promover
audiências públicas e analisar a proposta de acordo com os
interesses coletivos;
• O conteúdo mínimo e a auto-aplicabilidade da lei devem ser
garantidos;
• Todas as críticas, sugestões, emendas e propostas devem ser
analisadas e sua inclusão ou rejeição deve ser justificada;
• As modificações que vierem a ser feitas devem ser coerentes e
apresentadas publicamente, com transparência;
• O PL deve ser votado em dia e horário que permitam a presen-
ça da imprensa e de todos os segmentos que participaram do
processo.
Para ajudar o vereador a conduzir de modo adequado a tramitação
do Plano Diretor na Câmara Municipal, vamos dividir o assunto
em algumas etapas: preparação; avaliação do processo
participativo e do conteúdo; planejamento das audiências públi-
cas no Legislativo; reformulação do PL; votação e divulgação.
13
Plano Diretor no Legislativo
O que o Executivo deve enviar junto com o Projeto de Lei
para que a proposta seja compreensível?
O Projeto de Lei do Plano Diretor é um documento árido e difícil de ser compreendido,
sobretudo para os que não são especialistas. Por isto, para analisar a proposta é necessário
que o Executivo envie para a Câmara alguns documentos que justifiquem e expliquem a
estratégia adotada. No mínimo, os seguintes documentos devem ser encaminhados:
• Relatório contendo uma síntese e a documentação detalhada do processo participativo;
• Relatório completo da leitura técnica e comunitária da cidade, incluindo uma sínte-
se. Esse relatório deve conter informações (de preferência digitais) de mapas e fotos
que devem estar disponíveis para consulta, com a colaboração do Executivo;
• Relatório descrevendo a estratégia traçada para alcançar os objetivos definidos
no Plano Diretor. Por exemplo, se o objetivo é reservar espaço para moradia social,
mostrar como ele aparece na lei, em quais princípios e diretrizes, quais instrumentos
previstos para alcançar este objetivo, qual o critério para delimitar as zonas, quais ações
estratégicas previstas. Lembrando que um Plano não pode ter apenas bons objetivos,
princípios e diretrizes, ele deve prever como realizá-los.
• Documento que justifique, de maneira detalhada, a proposta como um todo,
mostrando como ela se articula com a política municipal.
14
1. Preparação
Preparação para a avaliação do Projeto de Lei e do
processo participativo
A Câmara de Vereadores tem autonomia para debater, aceitar ou rejeitar o Projeto de Lei
do Plano Diretor. Dependendo do processo participativo e da qualidade do projeto encami-
nhado pelo Executivo, os vereadores podem aprová-lo, propor modificações ou até mesmo
recusá-lo, devolvendo ao Executivo para uma reelaboração. O ideal é que isso não aconte-
ça, mas é preciso estar bem embasado tecnicamente e ter documentos suficientes para
justificar qualquer uma das alternativas que o Legislativo vier a tomar.
Por isso, a Câmara Municipal precisa estar preparada para avaliar o PL do ponto de vista
técnico e do ponto de vista do seu processo participativo. É claro que se os vereadores
acompanharam desde o início a elaboração do Plano, estarão mais preparados para con-
duzir o trabalho no Legislativo.
Uma das maneiras da Câmara Municipal se preparar é criar uma Comissão Especial do
Plano Diretor que se encarregará de organizar o processo de discusão do assunto, de
reunir os conhecimentos necessários para analisar o PL, propor alterações (se for o caso) e,
depois, de acompanhar a implementação do Plano Diretor. Se seu município já tem uma
Comissão que trate da política territorial, como a Comissão de Obras, talvez seja o caso de
ampliar suas funções ou de desdobrá-la para que possa dar conta desta nova tarefa. Den-
tre os vereadores que fazem parte dessa Comissão deve ser eleito um relator indicado para
coordenar os trabalhos e a redação de um substitutivo ao Projeto de Lei, se considerado
necessário.
Outro ponto importante é garantir uma assessoria técnica qualificada e especializa-
da. Geralmente, a Câmara já possui técnicos que apóiam suas ações, mas nem sempre são
especialistas no tema. Se não houver nenhuma assessoria jurídica e urbanística capacitada
para uma avaliação técnica do Plano Diretor, talvez este seja um bom momento para
contratar técnicos capazes de apoiar o trabalho da Câmara em planejamento urbano. Mas
atenção, o assessor técnico não substitui o vereador. Você, como membro do Legislativo,
deve conhecer o assunto e entendê-lo bem, para exercer o seu papel de representante
com qualidade técnica e política.
15
2. Avaliação do processo
participativo no Executivo
Para avaliar o processo participativo realizado pelo Executivo, volte a página 9, no item
“Como o vereador pode verificar se está ocorrendo a participação democrática” e
avalie o que aconteceu em seu município e se está de acordo com as diretrizes estabelecidas
em cada item. Essa lista é uma sugestão, é um resumo do que estabelece a Resolução 25/05
do Conselho Nacional das Cidades, por isso pode (e deve) ser complementada em função
das característicasespecíficas locais e com a metodologia de participação que foi adotada.
Para que o Legislativo possa fazer essa avaliação de forma consistente, o Executivo deve
enviar um relatório com uma síntese e um relatório detalhado sobre o processo participativo.
Se ele não tiver enviado este documento, a Câmara deve solicitá-lo formalmente.
O que fazer se a avaliação for negativa?
Se a participação no Executivo foi insuficiente, a Câmara deve procurar suprir essa lacuna,
promovendo maior número de debates e organizando espaços amplos de tomada de deci-
são. Se não houve nenhuma participação da sociedade, a Câmara deve considerar a pos-
sibilidade de devolver o PL para o Executivo para que ele refaça o Plano Diretor, pois a
participação é um elemento essencial na sua concepção. No entanto, isto só deve ser
adotado em casos extremos, quando não houver qualquer possibilidade do Legislativo
suprir as deficiências verificadas.
E se a avaliação for positiva?
Nesse caso, o número de debates promovidos pela Câmara pode ser menor. Mas isso não
elimina a necessidade e a obrigação legal da Câmara promover audiências públicas, pois
este é o último momento em que qualquer cidadão pode se manifestar sobre a proposta.
Em qualquer caso, o Plano Diretor não deve ser votado em regime de urgência.
Há quem defenda a possibilidade dos vereadores poderem votar o Projeto de Lei em regi-
me de urgência, nos casos de Planos que realmente tiveram participação democrática
durante a tramitação no Executivo, reconhecida e legitimada por todos. Essa não é a situ-
ação ideal, pois mesmo nesses casos, o Legislativo deve debatê-lo novamente em audiên-
cias públicas, ainda que seja apenas para legitimar a proposta.
Plano Diretor no Legislativo
16
A avaliação do conteúdo do Projeto de Lei de Plano Diretor é uma etapa fundamental do
trabalho a ser desenvolvido na Câmara Municipal. Neste momento, o vereador deve
verificar se os conteúdos estabelecidos pelo Estatuto da Cidade, pelas Resoluções do
Conselho Nacional das Cidades e pelo Movimento Nacional da Reforma Urbana estão
sendo respeitados.
Os municípios brasileiros têm grande diversidade em dimensão e situação territorial.
Assim, é evidente que cada cidade tem suas especificidades e que, dependendo da
situação e dos debates realizados, alguns temas são mais importantes e devem ser
tratados com profundidade; outros, embora relevantes, dado o contexto local, podem
não requerer destaque.
Além disto, é preciso tomar cuidado para evitar que se repitam casos de planos diretores
que são copiados de outros municípios, lembrando que o Plano Diretor deve conter con-
teúdos diferenciados, de forma a respeitar o porte do município, suas características, sua
história e a região onde se insere.
De qualquer maneira, cabe ao Legislativo avaliar se o Plano Diretor inclui o conteúdo mínimo,
tratando de forma adequada as questões consideradas fundamentais para qualquer municí-
pio. Além destas, em função das especificidades locais, outras questões podem ser conside-
radas como relevantes.
O vereador deve verificar se estas questões estão sendo tratadas de modo coerente com os
princípios da reforma urbana e, caso encontre deficiências, deve levar suas críticas e suges-
tões para as audiências públicas e propor alterações. A seguir você encotrará algumas
recomendações básicas para avaliar e melhorar o conteúdo do Plano Diretor de sua cidade.
3. Avaliação do conteúdo do Plano Diretor:
O que deve conter o Projeto de Lei?
O que fazer se o Plano Diretor
chegar na última hora na
Câmara Municipal
O Estatuto da Cidade estabeleceu
o prazo de outubro de 2006 para
que 1.683 municípios tenham um
Plano Diretor aprovado. No entan-
to, muitos prefeitos estão enviando
em cima da hora o PL para as Câ-
maras Municipais, que ficam sem
prazo para promover um adequa-
do processo de tramitação.
Isto significa que a Câmaras Mu-
nicipais devem aprovar em regi-
me de urgência, sem debater ade-
quadamente o projeto? De ma-
neira alguma. Caso o projeto che-
gue ao Legislativo sem tempo
para uma tramitação adequada,
os vereadores devem estabelecer
um cronograma consistente para
análise e discussão do PL e pro-
curar o Ministério Público para
justificar o atraso, pois a Câmara
não é, neste caso, a responsável
pela demora. Se ela aprovar um
projeto inconsistente, sem avaliar
adequadamente ou sem debater,
aí sim a responsabilidade será ex-
clusivamente do Legislativo. Mas
cuidado, isto não pode significar
um alongamento indefinido da
tramitaçào do Plano Diretor, deve
ser fixado e obedecido um prazo
para a aprovação.
17
Plano Diretor no Legislativo
18
Î
Estabelece princípios e defende nossos direitos
O Plano Diretor deve definir princípios gerais, diretrizes e objetivos para a política territorial.
Os princípios são importantes pois:
• reconhecem nossos direitos como o direito à moradia digna e à terra, à cidade, ao meio
ambiente, às diferenças culturais, etc.;
• são utilizados para todas as decisões e ações tomadas na gestão da sua cidade;
• orientarão a gestão do Plano e Diretor e serão fiscalizados pelo Ministério Público. Se as
ações da Prefeitura não estiverem obedecendo a esses princípios, podem ser questiona-
das na Justiça.
Define os temas prioritários e os objetivos e diretrizes das
políticas públicas
Verifique se o Plano define os temas prioritários a serem tratados e os objetivos estratégi-
cos que se pretende alcançar no seu horizonte temporal, enfim, a cidade que se quer
alcançar. É necessário definir os objetivos específicos das políticas públicas, como a habita-
ção, transporte e mobilidade, meio ambiente e saneamento, que têm grande impacto
sobre o território. Isto é importante porque a cidade se transforma através das ações do
governo, expressa em programas públicos e estes devem estar articulados com os objetivos
mais estratégicos do Plano Diretor.
Garante a auto-aplicabilidade dos instrumentos
regulamentados
O Plano Diretor não pode se restringir a princípios e diretrizes. Ele deve ter um conteúdo que
permita sua aplicação, ou seja, ele precisa gerar transformações e começar a valer a partir do
momento em que é aprovado. Isso significa ser auto-aplicável. Os instrumentos devem, na
medida do possível, estar regulamentados sem necessitar de outras leis para sair do papel.
Vereador, fique atento: planos diretores que têm apenas diretrizes não permi-
tem sua aplicação, é uma carta de intenções que não vai gerar efeitos imedia-
tos! É uma lei inóqüa, que logo se desmoraliza por não mudar nada na cidade.
Î VERIFIQUE SE O CONTEÚDO DO PLANO...
Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
19
Garante a função social da propriedade e da cidade
O Estatuto da Cidade estabelece que a propriedade precisa cumprir uma função social, ou
seja, a terra deve servir para o benefício da coletividade e não apenas aos interesses de seu
proprietário.
Verifique se a função social foi definida no Plano Diretor, se foi estabelecida a melhor
forma de usar cada pedaço do município. O Plano deve definir, ainda, em que condições a
propriedade privada cumpre ou deixa de cumprir a função social. Isto é fundamental para
garantir terra urbanizada para as atividades econômicas e para a moradia para a popula-
ção de baixa renda.
Combate a retenção especulativa de terras e imóveis ociosos
Veja se Plano Diretor regulamentou instrumentos urbanísticos para estimular que as propri-
edades cumpram sua função social; se estabeleceu critérios para indicar os imóveis que são
considerados subutilizados, não edificados e não utilizados.
Por exemplo, uma propriedade de grande dimensão, sem edificação e utilização, localizada
em local com infra-estrutura, equipamentos e serviços públicos, provavelmente não está
cumprindo sua função social, pois está desocupada em uma região onde seria desejável
ocupar e adensar. Mas deve se tomar cuidadopara não adotar uma postura rígida. Por
exemplo, uma propriedade ou até mesmo uma cidade inteira localizada em uma região de
proteção de mananciais pode estar cumprindo uma importante função social, mesmo se não
possuir construções. Nesse exemplo, preserva ou mantém seu meio ambiente com qualida-
de, para que a população dos municípios da região possam usufruir deste recurso natural.
Estimula a ocupação das áreas bem localizadas
Para não virar apenas uma lista de boas intenções, o Plano tem que dizer qual é a função
social de cada área, delimitar isso no mapa e aplicar os instrumentos para induzir o proprie-
tário a fazer cumprir sua função social. Os principais instrumentos para esse fim são: o
Parcelamento, Edificação ou Utilização Compulsórios e IPTU Progressivo no Tempo. Outros
instrumentos previstos no Estatuto da Cidade como o Direito de Preempção, Outorga One-
rosa de Construir e a Transferência do Direito de Construir, também podem ser utilizados,
desde sejam adequados ao município e atendam aos objetivos do Plano.
Î VERIFIQUE SE O CONTEÚDO DO PLANO...
Plano Diretor no Legislativo
20
Propõe diretrizes para a estruturação territorial
O Plano Diretor deve dar diretrizes para a estruturação territorial do município. Uma das
maneiras de se territorializar “a cidade que queremos” é dividir o município em macrozonas,
ou seja, em áreas homogêneas, que têm características de urbanização semelhantes e que
devem cumprir papéis específicos no futuro do município; e estabelecer diretrizes e objeti-
vos para cada uma. Podem ser marcadas, por exemplo, as áreas de adensamento, de
preservação ambiental, de expansão urbana, de urbanização, de reestruturação, de con-
tenção ao crescimento, etc. As macrozonas são referências importantes para espacializar a
aplicação dos instrumentos urbanísticos a serem utilizados.
Regulamenta os instrumentos urbanísticos
Se os objetivos e diretrizes para as macrozonas estiverem definidos, é mais fácil verificar se
os instrumentos urbanísticos foram regulamentados com coerência, pois eles servem para
cumprir os objetivos que se pretende alcançar. Por exemplo, se se pretende adensar deter-
minada região, então é necessário utilizar a edificação ou parcelamento compulsório; se
objetivo for conter a expansão horizontal, deve-se restringir ou proibir o parcelamento.
Estabelece as diretrizes de o uso e ocupação do solo
Garantir a autoaplicabilidade, incluir a legislação de uso e ocupação do solo do Plano
Diretor é a melhor alternativa, sobretudo em municípios de menor complexidade. Assim,
numa só lei ficam definidas todas as normas para regular a ação dos agentes que atuam
sobre a cidade. Caso não seja possível incluir essa legislação no Plano, deve-se definir
suas características principais, sempre de modo a garantir a coerência com os objetivos a
serem alcançados.
Prevê áreas para equipamentos públicos
O Plano deve prever a destinação de áreas públicas. Com isso pode reservar terras neces-
sárias para a futura implantação de equipamentos públicos como, por exemplo, hospitais,
escolas, edifícios administrativos, etc.
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Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
21
Prevê o planejamento territorial da zona rural
O Estatuto da Cidade estabeleceu que o Plano Diretor deve abranger a tanto a zona urbana
como a rural. A experiência no planejamento territorial da zona rural ainda é incipiente no
Brasil. No entanto, é importante verificar como o Plano Diretor tratou esta zona e se estabeleceu
uma estratégia para atendê-la, observando, sobretudo, questões como acessos e estradas
vicinais, criação ou fortalecimento de pólos de comércio, serviços e equipamentos sociais,
implantação de infra-esttrutura e ações de desenvolvimento econômico sustentável.
Estabelece limites para expansão da zona urbana
Um dos aspectos mais importantes a ser observado no Plano Diretor é como foram estabe-
lecidos os limites para a expansão urbana. Desconfie de ampliações exageradas do períme-
tro urbano. O crescimento horizontal da cidade, além de gerar impacto negativo nas ativi-
dades não urbanas e no meio ambiente, aumenta a área que requer a implantação de
infra-estrutura e equipamentos, onerando o poder público e criando mais regiões carentes.
As distâncias ficam maiores, o que torna o deslocamento mais complicado. É muito melhor
para a cidade ocupar os vazios no interior da área urbanizada do que crescer para fora.
Além disso, a transformação de zona rural em urbana gera enorme valorização imobiliária:
uma gleba que era vendida em alqueire, de repente passa a ser vendida por metro quadrado.
É claro que os proprietários estão interessados nesta alteração, mas ela pode não ser boa para
a cidade. E mesmo que for, os ganhos assim obtidos não podem ser apropriados individualmen-
te. Por isso, o Plano Diretor deve exigir, neste caso, o pagamento de uma Outorga Onerosa pela
alteração de solo rural para urbano e conseqüênte aprovação de novo parcelamento.
Possui diretrizes para o parcelamento do solo
A abertura de loteamentos, implantação de conjuntos habitacionais e criação de condomí-
nios urbanísticos são, em geral, as formas mais comuns de expansão da área urbanizada.
Por isso, é essencial o Plano Diretor estabelecer regras para o parcelamento do solo, ques-
tão que é crucial praticamente em todos os municípios, independentemente do seu porte.
O ideal é a incorporação legislação de parcelamento no âmbito do Plano Diretor, estabele-
cendo diretrizes e regras gerais para regulamentar esta atividade imobiliária, pois ela gera
forte impacto sobre a cidade.
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Plano Diretor no Legislativo
22
Proteje os territórios ocupados por comunidades tradicionais
Se no seu município existem comunidades tradicionais, como povos indígenas, comunidades
quilombolas, ribeirinhas, extrativistas e outros que formam grupos com identidade cultural
ou étnica, o Plano Diretor precisa demarcar e proteger os seus territórios ocupados ou que
têm valor simbólico ou sagrado para elas. Nestas áreas, para garantir os direitos destas comu-
nidades e sua diversidade cultural, devem ser criadas zonas especiais com regras específicas.
Preserva as áreas de interesse histórico e cultural
relevantes para a identidade da cidade
O Plano Diretor precisa identificar e mapear todos os locais – edifícios, conjuntos urbanos,
ambientes ou bairros – considerados como de interesse histórico, cultural, arquitetônico e
paisagístico, objetivando sua preservação. Não se trata apenas de apontar os locais que os
especialistas consideram de valor patrimonial; é necessário checar se todos os espaços que
a população reconhece como importantes para a identidade e memória da cidade ou dos
bairros estão incluídos nesta lista.
Estas áreas precisam ser protegidas pelo Plano Diretor através de uma zona especial, que
pode ainda criar mecanismos para beneficiar ou compensar os proprietários que preservem
esses bens. Um instrumento bastante utilizado com este objetivo é a Transferência do Direito
de Construir. Outro aspecto importante é valorizar estas áreas, tornando-as pontos de refe-
rência e de interesse para a população e os visitantes, o que reforça a identidade da cidade.
Protege áreas ambientalmente frágeis e de interesse
paisagístico e ecológico e cria um sistema de áreas verdes
As áreas de interesse ambiental como mananciais, serras, áreas com vegetação significati-
va, faixas de proteção de córregos, rios e nascentes devem ser demarcadas e gravadas
como áreas de proteção ambiental, com grandes restrições à ocupação urbana. O Plano
deve criar um Sistema de Áreas Verdes que inclui parques, praças e outras áreas verdes,
com restrições de ocupação.
As áreas que apresentam risco à vida e à saúde, como as sujeitas à inundações e deslizamentos
também precisam ser delimitadas e estabelecidas restrições à ocupação. Nestecaso, o Plano
Diretor deve garantir uma solução de moradia para a população que vive nessas áreas.
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Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
23
Reserva espaços para a moradia digna
A habitacão de interesse social precisa estar situada em locais bem servidos infra-estrutura
e próximos dos pólos onde se concentram os empregos, rompendo a lógica de localização
periférica dos mais pobres. Assim, a necessidade de deslocamento são menores e evita-se
criar bairros-dormitório, que são áreas de segregação social.
Para garantir espaços bem localizados para projetos habitacionais novos, o Plano Diretor
deve delimintar terrenos vazios ou subutilizados nas áreas qualificadas da cidade, onde
devem ser criadas Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS), priorizando a produção de
moradia para a baixa renda. Nestes locais, devem ser aplicados os instrumentos para fazer
valer a função social da propriedade (edificação, utilização ou parcelamento compulsório),
para ampliar a oferta de terrenos e reduzir seu valor.
Outro aspecto que deve estar incluído é a definição do que se considera população de
baixa renda para fins de atendimento de moradia (por exemplo, definir teto de renda
familiar, que varia por região e cidade), pois as ZEIS se destinam para os mais pobres.
Possibilita a regularização de assentamentos irregulares e
garante a permanência do moradores
O Estatuto da Cidade reconheceu o direito a habitação para quem ocupa assentamentos
precários com irregularidade urbanística e fundiária como favelas e loteamentos clandesti-
nos. Para garantir moradia digna e segurança na posse, o Plano Diretor deve delimitar estas
áreas como Zonas Especiais de Interesse Social (ZEIS) e definir normas especiais de
parcelamento, uso e ocupação do solo que permitam sua regularização urbanística e fundiária.
O Plano Diretor deve garantir que, caso seja necessário remover os moradores (por exem-
plo de áreas de riscos ou de melhoramentos viários), eles sejam alojados em projetos
habitacionais situados nas proximidades do local de moradia.
Além disto, deve exigir que sejam feitos Planos de Urbanização para cada assentamento,
elaborados com a participação da população beneficiária, integrando-o à cidade, com
respeito ao meio ambiente. Deve também estabelecer os critérios para definir as priorida-
des, ou seja, quais áreas deverão ser urbanizadas e regularizadas em primeiro lugar.
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Plano Diretor no Legislativo
24
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Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
Define a prioridade de investimentos a serem aplicados no
município
Muitas vezes, nas cidades brasileiras, os investimentos em obras não são os que foram
planejados. E, assim, parece que nunca tivemos planos, pois esses, muitas vezes não são
implementados. Obras que até mesmo contradizem o que foi planejado são executadas!
O Estatuto da Cidade obrigou os municípios a se orientarem no Plano Diretor para a elabora-
ção dos Planos Plurianuais (PPA), da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e das leis orçamen-
tárias anuais. Isto significa que o Plano Diretor precisa definir os programas, projetos e obras
prioritários de modo a orientar, de forma planejada, os investimentos, gastos e obras públi-
cas. Assim estará cumprindo os objetivos e metas previstos e aprovados pelos cidadãos.
Prevê ações estratégicas para o desenvolvimento
econômico
O Plano Diretor deve estabelecer as ações estratégicas para alcançar os objetivos traçados.
Trata-se de apontar os programas e obras de maior envergadura (embora não necessaria-
mente de grande custo e dimensão) capazes de potencializar transformações positivas
para a cidade e de articular intervenções públicas e privadas. Estas ações são prioritárias e
podem requerer a criação de programas integrados de gestão, mobilizando vários setores
da administração. Neste sentido, é indispensável o Plano Diretor conter ações e normas
que estimulem o desenvolvimento econômico do município.
Trata do transporte e mobilidade urbana
A política de mobilidade é parte da política de desenvolvimento territorial. O sistema viário é,
um elemento de organização do território da cidade. Além disso, não faz sentido construir
novos bairros longe de toda a infra-estrutura da cidade, longe do emprego, que isolem o
cidadão. Este, quando usa o carro, colabora para o congestionamento da cidade, exigindo a
construção de novas ruas e avenidas; quando usa o transporte coletivo colabora para o melhor
funcinamento da cidade. Por isso, o Plano Diretor precisa criar uma estratégia para melhorar os
transportes coletivos e definir o sistema viário principal, prevendo sua implantação. É preciso
verificar se o Plano definiu o sistema viário principal e priorizou o transporte coletivo integrado.
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Î VERIFIQUE SE O CONTEÚDO DO PLANO...
Plano Diretor no Legislativo
Cria um sistema de gestão democrática
O PL deve prever instâncias e instrumentos de controle social e gestão democrática, que
devem monitorar a aplicação do Plano, debater e decidir questões relacionadas com as
políticas públicas territoriais. O sistema deve prever instâncias, como Conselho e Fundo
Municipal e instrumentos, como audiências públicas, consultas públicas, conferências, re-
ferendo e plebiscito.
Caso ainda não tenha um, o Plano pode criar um Conselho Municipal que trate do
planejamento territorial que deve ser criado com o papel de acompanhar e fiscalizar a
implementação do Plano Diretor e deliberar sobre decisões. Deve ser paritário, composto
por representantes da população e do poder público.
Já o Fundo Municipal serve para financiar as ações definidas no Plano. Ao criá-lo, o
Projeto de Lei deve dizer de onde sairá o dinheiro e para o quê será aplicado, quais as
prioridades definidas no Plano. Se bem implementado, será uma forma de democratizar a
gestão dos recursos e implementar o Plano, pois será gerido com a participação da sociedade.
As Conferências Municipais servem para definir as linhas gerais das políticas públicas. São
grandes encontros, realizados periodicamente (por exemplo, dois em dois anos), com ampla
divulgação e participação. São momentos onde são “costurados” os pactos com a sociedade.
Estabelece prazo para a vigência e revisão do Plano Diretor
O Plano Diretor precisa definir um prazo de vigência, o horizonte para alcançar seus objetivos
prioritários. Não pode ser um prazo muito curto (não daria tempo dele gerar resultados),
nem excessivamente longo, porque a cidade sofre mudanças difíceis de prever. Um prazo
em torno de dez ou doze anos parece bastante adequado, mas cada município, em
decorrência da sua dinâmica, deve definir um horizonte.
Já a revisão do Plano pode ser feita em prazos menores. O Estatuto da Cidade estabelece
que ele deve ser revisto no mínimo a cada dez anos. Mas é fundamental que se estabeleça
o que pode ser incluído na revisão. Se a revisão ocorrer num prazo reduzido, os objetivos
estratégicos e instrumentos não devem ser alterados, porque elas precisam de tempo para
gerar resultados.
O Plano Diretor deve estabelecer prazos para a implementação de suas principais ações.
Assim, tanto a Câmara Municipal como o Conselho e os cidadãos poderão fiscalizar o que
está sendo feito e terão um instrumento para pressionar o Executivo a realizá-lo.
26
Î
4. Processo participativo na Câmara
das audiências à sistematização das
demandas da sociedade
A Câmara de Vereadores deve obrigatoriamente promover reu-
niões, consultas e audiências públicas sobre o Plano Diretor, mes-
mo que o processo participativo junto ao Executivo tenha sido
exaustivo, pois o Legislativo é autônomo em relação ao Executi-
vo. Os vereadores devem mobilizar a comunidade para participar,
divulgando o que é um Plano Diretor e organizando um processo
de debates e audiênciaspúblicas.
Se a Câmara tiver uma Comissão Especial, ela pode ser a respon-
sável pela organzação dos debates e pela divulgação das ativida-
des e audiências públicas a serem realizadas.
É obrigatório realizar audiências públicas
O Estatuto da Cidade e a Lei Orgânica da maioria dos municípios
exigem a realização de audiências públicas no processo de elabo-
ração de Plano Diretor. Essas têm como objetivo: informar, colher
subsídios, debater, rever e analisar o conteúdo do Plano Diretor
Participativo.
Como organizar audiências públicas
O Conselho Nacional das Cidades, através da Resolução 25/05,
Art. 10o faz exigências sobre como as audiências públicas devem
ser organizadas. Elas podem ser gerais, organizadas por região e
por temas. Os assuntos polêmicos e os pontos de conflito podem
merecer debates ou audiências específicas.
O cronograma e metodologia dos eventos devem ser planejados
e divulgados com antecedência. As audiências devem ser
divulgadas com no mínimo 15 dias de antecedência, por meio
de mídias públicas e diversificadas, com spots de rádio e de tele-
visão, matérias de jornal, impressos, outdoors, etc. A publicida-
de do evento deve servir também como material de divulgação
de uma síntese do conteúdo a ser abordado nas audiências. Deve
ser informado o cronograma do processo de consultas, os lo-
cais, datas e o regimento das audiências, que devem acontecer
em local acessível, com transporte público. Algumas audiências
já foram canceladas ou interrompidas por não cumprirem inte-
gralmente essas regras.
Os eventos devem ser organizados de forma a estimular a partici-
pação de todos. Precisam ser gravados e transcritos, pois as infor-
mações obtidas serão importantes para as modificações que even-
tualmente vierem a ser feitas no Projeto de Lei. Na logística dos
eventos, alguns cuidados precisam ser tomados, como por exem-
plo, incorporar a gravação no sistema de som para evitar a proxi-
midade do gravador que pode inibir os participantes.
As regras sobre a tramitação do PL de Plano Diretor
na Câmara podem variar de município para municí-
pio. O Regimento Interno da Câmara e a Lei Orgânica
Municipal geralmente dão orientações sobre como
deverá ser essa tramitação, e muitas vezes até sobre
quantas audiências públicas são obrigatórias. Por isso,
é fundamental consultá-los!
27
Os participantes precisam se identificar, em lista de presença e no
momento de suas colocações públicas. As propostas, críticas e
sugestões ao PL devem ser identificadas, numeradas e listadas.
De preferência, os participantes devem entregar as propostas por
escrito, o que facilita seu entendimento e sistematização.
O mais importante é não deixar de registrar quem está solicitan-
do e o que está sendo demandado para, posteriormente, respon-
der aos participantes sobre o que foi acertado ou rejeitado na
pactuação da proposta final.
Se o Executivo não elaborou meios e formas de divulgação simplificada
do Plano Diretor para que a população possa entender bem a pro-
posta, a Câmara deve elaborar algum instrumento de fácil compreen-
são, como cartilha, folheto, página na Internet, vídeo, ou pelo mes-
mo uma exposição de mapas com explicações básicas para garantir
que a população tenha conhecimento do que vai ser votado.
Além das audiências, podem ser promovidas reuniões técnicas e
apresentações de estudos e propostas detalhadas para um conhe-
cimento mais aprofundado. Para subsidiá-las, materiais técnicos
devem ser disponibilizados como, por exemplo, os relatórios envia-
dos pelo Executivo. Como, em geral, estes documentos possuem
muitas informações, é ideal que possam ser encontrados na Internet,
(separados em diversos arquivos); e impressos em locais e horários
acessíveis para a população que trabalha.
O processo participação na Câmara deve
incluir apenas audiências públicas?
O instrumento mais utilizado pelos vereadores para debater as leis
são as audiências públicas. Mas nem sempre esses lugares de par-
ticipação ampliada dão conta da pactuação de conflitos. Nesses
momentos, reuniões com as partes envolvidas em um conflito po-
dem ser a chave para chegar a propostas consensuadas sem o
desgaste de grandes discussões acaloradas em plenária. O impor-
tante é que essas reuniões sejam públicas, transparentes e acom-
panhadas de uma diversidade de participantes.
Os detalhes de uma audiência
Para se ter uma participação diversificada é necessário pen-
sar nos detalhes. Por exemplo, verificar se todas as entida-
des foram convidadas, ou seja, se a informação sobre a
audiência realmente chegou até elas. Se necessário, telefo-
ne, convide formalmente através de uma carta. Mas é im-
portante fazer o mesmo procedimento para todas, tratan-
do-as da mesma forma.
Outro exemplo: a sala deve ser organizada. Nem sempre
falar em público, em pé, no microfone, para uma mesa de
vereadores formalmente vestidos, deixa os participantes à
vontade para se colocarem. Se a audiência tiver um nú-
mero pequeno de pessoas, é interessante que seja feita
em um lugar amplo, com cadeiras em roda, onde todos
sentam e o microfone é passado por todos, mais informal-
mente. Providências desse tipo fazem com que grupos me-
nos acostumados a se falarem em público, coloquem-se
mais à vontade.
Na entrada, é necessário identificar-se, mas ninguém deve
ser impedido de entrar. Não exagere, pedindo documentos
difíceis de se obter.
Cuide da participação das mulheres, criando um espaço para
deixarem seus filhos, assistidos por profissionais. Dessa for-
ma, as mulheres podem participar e trazer o seu olhar para o
Plano Diretor. Além disso, você pode colaborar para o equilí-
brio de gênero possibilitando que as mulheres sejam eleitas
como representantes, pois é comum que o número de repre-
sentantes homens seja maior que o de mulheres no Brasil.
Cuide da acessibilidade. Uma boa audiência, por exemplo,
tem tradução para deficientes auditivos, rampas de acesso
para pessoas com deficiência na locomoção. Para isso, es-
colha bem o lugar onde a atividade vai ser realizada.
Plano Diretor no Legislativo
28
1 crie uma planilha onde seja identificado o autor da proposta, a
entidade que ele representa, telefone ou e-mail onde possa
ser encontrado;contexto, justificativa, localização da deman-
da solicitada e características da solicitação (se é a alteração
de um conceito ou princípio, se é uma mudança de zonea-
mento, se é uma observação de redação);
2 as demandas podem ser mapeadas e quantificadas. As pro-
postas que envolvam alteração de perímetros podem ser
georreferenciadas, permitindo verificar se existem diferentes e
conflituosas propostas para os mesmos locais. Desta maneira,
pode-se, posteriormente, chamar os grupos envolvidos para
conversas e pactuações. O mapeamento pode permitir com-
parar com outras informações, como a situação atual, o
zoneamento em vigor e o proposto, comparar com a foto aé-
rea, ou seja, analisar a proposta considerando outras informa-
ções já obtidas no diagnóstico;
3 Com base nestas informações, a Comissão Especial e/ou o
relator do Projeto de Lei pode apresentar publicamente as su-
gestões recebidas, mostrar os conflitos e justificar as conclu-
sões com transparência;
4 Por fim, todas essas propostas recebidas devem ser devolvidas
à população através da exposição da planilha e mapas, de
forma que os proponentes possam ver como e por que sua
demanda foi ou não incorporada. A Câmara deve divulgar o
material produzido, no mínimo, através de página da Internet.
As propostas encaminhadas pelos
vereadores
Além das demandas apresentadas pela sociedade, os vereadores,
como representantes populares eleitos, podem também encami-
nhar individualmente propostas e sugestões. Elas devem também
ser organizadas e sistematizadas para serem analisadas no seu
conteúdo, criando uma planilha específica para esta finalidade.
Quando for elaborado o texto final para a aprovação,todas essas
sugestões precisarão ser consideradas, seja para incorporação ou
rejeição, sendo importante divulgar a autoria dos projetos dos
vereadores que foram incluídas no texto aprovado.
Metodologia para sistematizar as propostas
e demandas levantadas pela sociedade
As audiências públicas, assim como outras formas de maifestação da
sociedade como documentos, abaixos-assinados e pauta de reivindi-
cações precisam ser organizados e sistematizados para análise.
A Comissão Especial do Plano Diretor, ou o relator indicado para
coordenar os trabalhos, estarão encarregados de sistematizar as
demadas apresentadas pela sociedade e pelos demais vereado-
res e, para isso, devem criar uma metodologia que permita uma
análise criteriosa das solicitações e tomadas de decisões de for-
ma transparente e isenta. Respeitando-se as características es-
pecíficas de cada município, esta metodologia pode incluir al-
guns passos básicos:
Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
29
ID
LA-052
LA-053
LA-054
LA-055
LA-056
solicitante /
nome /
entidade
SARPAC | Soc.
Amigos do
Residencial
Parque
Continental |
Welington de
Souza
Sylvia Lêda Paioli
Carrazza
SAAP
SAJA - Sociedade
Amigos do J.
Jaguaré
SAJA - Sociedade
Amigos do J.
Jaguaré
tipo de
solicitante
Associação
Morador (a)
Associação
Associação
Associação
demanda
substituir no
art. 72, par.
Único, ‘ZM-1-
01’ por ‘ZER-1-
04’
contra
adensamento
limitar Ca da
área do
Ceagesp em 1
ou criar parque
no local
mudança de
zoneamento do
Parque
Continental e
da área
contígua a este
em Osasco
(entre as ruas
63 e Alfredo
Pinheiro) para
ZER
mudança de
zoneamento
para ZER 1 das
áreas: 1-entre
as ruas Eng.
Victor Freire,
Bartolomeu
Ribeira,
Umbara,
Marselha e av.
Bolonha. 2-
entre as ruas
Jaguaré, Joel
Lagos e av.
General Mac
Arthur
proposta_PR
foi alterado
várias OUCs,
AIUs, e ZM-
3b
CA max =
1,5. Art. 2, IV:
Garantir
permanencia
do CEAGESP
na V.
Leopoldina
ZER 1 para
área dentro
do MSP
ZM 2 e ZM
3b
demanda
atendida
pelo PR
Sim
Não
Sim
Não
Solução
sugerida
Será
discutido
na ou Vila
Leopoldina
modificado
para ZM-1
solução
adotada
endereço
R. Dr. Aluisio
Fagundes, 18
/ Wellington:
Rua Eduardo
da Silva
Magalhães,
694
Rua Carlos
Weber, 1319
- Apto. 144
Pça são
Marcos, 624
cj. 22
R.
Caetanópolis,
700
R.
Caetanópolis,
700
telefone
3714-5815 /
Wellington:
3766-6456
3021.8643 /
3022.7286
3714-1702 /
3763-2340
3714-1702 /
3763-2340
email
sarpac@uol.com.br /
Wellington:
welsouza@uol.com.br
sylviapc@ig.com.br
saap@saap.org.br
local de
encami-
nhamento
gab nab
AP
gab nab
gab nab
gab nab
Assessor
AV
RR
AV
AV
AV
observações
gerais
antiga PI-032
Plano Diretor no Legislativo
Exemplo de planilha de sistematização de demandas para a alteração do Plano Diretor
Fonte: documento original elaborado pelo gabinete do ex-vereador Nabil Bonduki na sistematização das demandas dos Planos Diretores Regionais do município de São Paulo (2004).
30
Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
Mediando conflitos e
encontrando soluçoes
O mapa ao lado mostra um
exemplo de metodologia ado-
tada para decidir sobre a alte-
ração do zoneamento numa
região onde havia conflito em
torno do zoneamento no mu-
nicípio de São Paulo.
Foi identificada e localizada a ori-
gem das demandas apresentadas
pela população em abaixos-assi-
nados para alteração ou manu-
tenção do zoneamento.
As estrelas azuis representam o
local de moradia dos que de-
fendiam a alteração; as amare-
las as residências dos que que-
riam a manutenção do zonea-
mento existente (Zona Exclusi-
vamente Residencial). Com
base neste mapa, foi possível
chegar a um acordo, aceito pe-
los dois grupos, com alteraçào
em apenas um trecho da área.
Fonte: Documento original elaborado pelo
gabinete do ex-vereador Nabil Bonduki na
elaboração do Substitutivo dos Planos Di-
retores Regionais do município de São Paulo
(2004).
31
Plano Diretor no Legislativo
Avaliando uma proposta de alteração
Esses são exemplos de análise de uma
demanda apresentada por uma asso-
ciação de moradores, referente a
transformação do zoneamento de um
bairro, onde foi utilizado um sistema
georreferenciado. Foram observados
vários elementos para avaliar o im-
pacto da mudança: zoneamento exis-
tente, uso do solo predominante por
quadra na região em análise, elemen-
tos urbanos estruturadores e zonea-
mento proposto.
Fonte: Documentos originais elaborados pelo ga-
binete do ex-vereador Nabil Bonduki na elabora-
ção do Substitutivo dos Planos Diretores Regionais
do município de São Paulo (2004).
32
5. Reformulação do Projeto de Lei:
a hora de tomar decisões
A avaliação do Projeto de Lei, assim como as demandas apresentadas nas audiências públi-
cas e as emitidas pelos próprios vereadores, devem criar uma base técnica e política para
que se possa decidir o que deve ser feito: aprovar o projeto sem alterações, ou modificá-lo.
Se a decisão for pela alteração, é preciso que se desenhe que tipo de reformulação é
necessária: se serão apenas ajustes pontuais, a serem apresentados através de emendas
sem alterar a estrutura do Projeto de Lei, ou é necessária uma reelaboração mais geral, que
exija a elaboração de um projeto substitutivo.
Emendando o Projeto de Lei
Se as alterações propostas e aceitas pela Comissão ou pelo relator forem pontuais, o traba-
lho fica minimizado, pois as mudanças são localizadas. Mas, cuidado, por que às vezes
uma pequena modificação num artigo pode trazer alterações relevantes de conteúdo e
isto não deve passar desapercebido. Garantir a coerência, clareza e aplicabilidade do texto
a ser aprovado é essencial. É necessário ser muito criterioso ao incluir emendas, pois elas
podem atender a interesses particulares e não coletivos. A Comissão Especial deve dar um
prazo para que as emendas sejam encaminhadas. Elas permitem identificar seu autor, seja
ele vereador, entidade ou cidadão. Agora, se um grande número de emendas for apresen-
tado, elas podem descaracterizar o texto e a própria proposta do Plano Diretor e se for
necessário modificar de forma mais geral o projeto, é melhor propor um substitutivo.
Quando deve ser proposto um projeto substitutivo?
Nesse momento você deve avaliar quais os limites, riscos e dificuldades de se elaborar um
projeto substitutivo, uma tarefa de maior envergadura. A Câmara, através da Comissão
Especial, deve avaliar a dimensão do trabalho a ser elaborado e verificar se ela tem os
recursos técnicos, administrativos e infra-estruturais para fazê-lo. Eventualmente pode ser
solicitado o auxílio do Executivo para realizar tarefas especificas, como a reelaboração de
mapas, ou o empréstimo de técnicos para apoiar o trabalho. Tudo sem comprometer a
independência da Câmara; assim, o apoio da prefeitura deve ser feito sob coordenação do
Legislativo.
33
Agora, se a Comissão concluir que o trabalho a ser feito é muito extenso, exigindo tarefas
incompatíveis com a capacidade da Câmara, então, pode-se devolver o projeto ao Execu-
tivo, propondo novos estudos, complementações e uma reelaboração. É preciso, no entan-
to, avaliar muito bem se isso é necessário. Nos casos em que o Plano Diretor é excessiva-
mente genérico, contendo apenas diretrizes, sem incluir instrumentos auto-aplicáveis, tal-
vez isso seja necessário.
A elaboração de um substitutivo de qualidade permite incorporar num texto coerente,
todas as propostas de emendas e alterações pontuais que tiverem sido apresentadas e que
foram aceitas. Isto pode significar o resultado de uma pactuação entre os diferentes seto-
res da sociedade, resolvendo conflitos e gerando um projeto coletivo,onde inclusive todos
os vereadores podem ter sugestões acolhidas.
Neste momento, é muito importante o entrosamento com o Executivo que precisa colabo-
rar com a tarefa e pode aproveitar este momento para corrigir falhas que foram constata-
das após o envio do Projeto de Lei.
Outro detalhe importante é introduzir no substitutivo uma justificativa que é conhecida
juridicamente como exposição de motivos. Essa é um parecer da comissão sobre o substitutivo
e o justifica. Nela, a participação dos vereadores pode ser descrita, e as emendas apresen-
tadas por cada um são identificadas. Dessa forma, a sociedade pode exercer controle,
verificar os conteúdos e os pontos que foram incorporados. E também verificar se os con-
teúdos apresentados foram pactuados em plenária, ou à portas fechadas.
Como distinguir interesses individuais e coletivos na
análise das propostas?
Na análise das demandas de alterações do PL, um dos cuidados mais importantes é distin-
guir os interesses individuais de coletivos. Um Plano Diretor trata de muitas questões que
envolvem valorização ou desvalorização de propriedades e por isto desperta fortes pres-
sões sobre os agentes públicos encarregados de estabelecer as regras. Estas pressões são
ainda mais fortes sobre os vereadores que, além de terem a prerrogativa de aprovarem o
projeto, são mais suscetíveis a críticas face ao seu permanente contato com os eleitores.
O vereador precisa avaliar com muito cuidado para identificar se os interesses da coletivida-
de estão presentes numa determinada demanda e se ela é coerente com os objetivos
pactuados e estabelecidos no Plano Diretor. Em certos casos, pode haver uma identidade
entre um interesse individual e coletivo como ocorre no seguinte exemplo: um cidadão
pede para que o Plano determine um terreno para se tornar uma praça pública na frente a
Plano Diretor no Legislativo
34
sua casa. Certamente ele tem interesses privados, individuais, pois logo atravessando a rua
poderá ter uma praça pública. Mas também, a praça pública é de todos e pode servir ao
bairro e à cidade, carente desses espaços. Nesse sentido, o interesse é também coletivo e
público. Portanto, se essa demanda individual estiver combinada com um reivindicação
pública, então pode ser mais facilmente incorporada à proposta.
Agora, se um cidadão pede para que seja mudado o zoneamento apenas no trecho onde
está localizado seu lote, esse interesse é claramente privado e deve ser levado para o
debate, para verificar se é do interesse de todos essa mudança. Se for coerente com os
objetivos mais gerais do Plano, a alteração poderá ser incorporada. Mas se trouxer benefí-
cio apenas para o proprietário, ela deve ser rejeitada.
Como administrar conflitos e pactuar propostas alternativas?
Num Plano Diretor, é muito comum aparecerem um grande número de conflitos entre
diferentes grupos que participam do processo. Um dos principais papéis do Legislativo, na
elaboração de um substitutivo, é mediar este conflitos e pactuar soluções negociadas.
Preliminarmente, é importante entender quais são os conflitos, atores e interesses em
jogo. Para contornar os conflitos e chegar a um bom resultado é importante buscar
alternativas técnicas, fazer reuniões envolvendo os interessados e negociar uma solu-
ção pactuada entre todos. Este trabalho deve ser feito antes das plenárias, mas a
pactuação precia ser legitimado em reuniões públicas, onde os acordos possam ser
expostos com transparência.
Como mostrar o novo projeto à sociedade?
Resolvidos os conflitos e incorporadas as alterações pactuadas, o novo projeto está pronto.
No entanto, antes dele ir a votação é necessário apresentá-lo, em audiência pública, à
sociedade, da mesma forma que já foi feito com o projeto original. Dependendo da quan-
tidade de alterações que foram introduzidas, talvez seja necessário uma nova rodada de
reuniões, para explicar e debater as modificações.
Nesse momento é importante mostrar o que mudou no Projeto de Lei. Como era antes,
como está agora. Deve ser mostrado quais são as vantagens da nova proposta, pois todo
o processo bem sucedido de pactuação de conflitos é um ganho político que deve ser
divulgado. É um momento em que os participantes se identificam com o Plano apresenta-
do, se reconhecem no resultado pactuado.
Os vereadores no processo de construção de Planos Diretores participativos
35
6. Chegou a hora da votação
As avaliações e audiências públicas já foram realizadas; as demandas foram sistematizadas
e analisadas, as modificações necessárias feitas: chegou o momento de colocar o Plano
Diretor para ser votado. Esse é um momento essencialmente político, mas deve ser muito
bem planejado para evitar complicações de última hora.
Primeiro, é fundamental lembrá-los de que o Estatuto da Cidade estabelece que também é
responsabilidade dos vereadores a votação do Plano Diretor no prazo de outubro, nos
municípios que têm obrigatoriedade de fazê-lo. Por isso, não deixe o projeto ficar na gave-
ta, pois ele também é de sua responsabilidade. Mas por outro lado, os vereadores tem o
direito de ter o tempo necessário para analisar projeto e se o prefeito enviou o Plano
Diretor na última hora, os vereadores podem solicitar e acordar um prazo com o Ministério
Público para a realizarem esta importante tarefa do município.
O Plano Diretor é uma lei complementar, exigindo duas votações com maioria qualificada.
Para saber no seu município o que é maioria qualificada, você deve consultar a Lei Orgânica
do Município. Em geral o quorum exigido é de 2/3 ou 3/5 dos vereadores. Por isso é necessá-
rio articular-se bem para garantir não só o prazo, mas a presença e o apoio dos vereadores.
E as emendas apresentadas na última hora?
Dependendo do regimento da Câmara, pode existir a possibilidade dos vereadores apre-
sentarem emendas de plenário, no período que antecede a votação. E como não há mais
tempo para novas audiências públicas, mesmo quem acompanhou todo o processo
participativo do Plano Diretor pode ser surpreendido com alterações de última hora. Se isto
acontecer, todo o processo desenvolvido na Câmara pode se desmoralizar.
A Câmara pode melhorar muito o Projeto de Lei. Mas isto deve acontecer em reuniões
abertas e públicas. Se o Plano Diretor estiver bem pactuado e for conhecido por todos,
diminuem as chances de emendas de última hora, estranhas a todos que participaram. As
emendas, quaisquer que sejam, devem ser debatidas por todos em espaços públicos. Mas
se, ainda assim, isso acontecer e, se porventura, emendas de “má fé” ou que atendam
apenas a interesses particulares forem aprovadas, o prefeito tem a prerrogativa de vetá-las.
36
7. O papel do Legislativo na implementação
Divulgação do Projeto aprovado
Depois de aprovado na Câmara, o Projeto de Lei deve ser sancionado pelo prefeito e
publicado, como Lei Municipal, no Diário Oficial. O prefeito pode vetar o projeto integral-
mente ou suas partes (artigo, parágrafo ou inciso), o que é difícil de ocorrer se o projeto foi
debatido com profundidade.
A divulgação do Plano Diretor é fundamental e é preciso que ela ganhe a imprensa escrita,
rádio e televisão. Outras linguagens como cinema, materiais didáticos e cursos são funda-
mentais para popularizar o Plano. Os vereadores também são responsáveis pela informa-
ção e capacitação sobre os temas relativos ao Plano Diretor mesmo após a sua aprovação.
Não páre por aí! Divulgue, explique, dissemine o conteúdo do Plano Diretor aprovado!
É a gestão democrática que garante a implementação
O Plano Diretor precisa ser implementado e o vereador tem um papel muito importante
nesta fase. Ele precisa conhecer bem a lei aprovada para poder fiscalizar sua aplicação. É
comum estarem previstas leis complementares, que serão debatidas pelo legislativo. Além
disto, o Plano Diretor deve ser sempre consultado no momento de se discutir as leis orça-
mentárias, pois ele dá as diretrizes para

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