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O mundo ético REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. Cap. IV JUÍZOS DE REALIDADE E JUÍZOS DE VALOR Imperatividade Normas éticas • [Juízo de valor sobre comportamentos] [escolha de uma diretriz considerada obrigatória numa coletividade] Imperatividade • Resulta da tomada de posição axiológica (valorativa) • Sendo assim, é diferente da mera decisão arbitrária Imperatividade da norma jurídica • Apesar de certa margem discricionária na decisão que valida certa norma jurídica, sua obrigatoriedade é condicionada por exigências axiológicas decorrentes Caráter deôntico da Norma • Toda norma enuncia algo que deve ser estabelecido em virtude do reconhecimento de um valor como razão determinante de um comportamento estabelecido como obrigatório • Em outras palavras, em toda norma estabelecida há um juízo de valor Juízos • Atos mentais em que se atribui necessariamente uma qualidade [predicado] a um ser ou a um ente [sujeito] – formando-se, assim, proposições (que correspondem a juízos lógicos) • Ex: a Terra [Sujeito] é um planeta [Predicado] (e não um cometa) • A ligação S-P pode ser de duas espécies: indicativa ou imperativa – o que estabelece dois tipos de juízos correspondentes: Juízos de realidade • Formam proposições indicativas, sendo o verbo de ligação S/P sempre indicativo – ser ou estar • Estabelece-se uma conexão necessária entre os fatos observados, mas sem situá-los numa escala de valores • Ex: leis da física; descrição de fatos sociais na sociologia Juízos de valor • Formam proposições imperativas, sendo o verbo de ligação entre S e P sempre imperativo – dever ser • Ex: Ética, moral, Direito • Estabelece-se uma conexão necessária entre os fatos observados, situando-os numa escala de valores – de forma que a cada fato corresponderá uma consequência, de acordo com sua (in)observância: • Observância: pode desencadear sanções positivas (ou, pelo menos, não provocar a aplicação de sanções negativas) • Inobservância (por violação ou omissão): poderá provocar sanções negativas S é P Juízo de realidade (indicativo) S Deve ser P Juízo de valor (imperativo) ESTRUTURA DAS NORMAS ÉTICAS • O dever ser estabelecido pela norma ética, ao prever sanções para seu (des)cumprimento não significa que este dever ser é algo consequente de forma que inexoravelmente tenha de ser • Isto revela que toda norma é formulada no pressuposto essencial de liberdade que seu destinatário tem em obedecê-la ou não • Assim, uma norma ética é caracterizada pela possibilidade da sua violação – ao contrário, por exemplo, de um cientista (e.g., físico), que não pode estabelecer uma proposição violável Objeto da norma ética • decisões e atos humanos a que a dialética do adimplemento ou da transgressão seja verificável (Des)cumprimento e validade da norma • a alternativa do indivíduo em relação ao seu (des)cumprimento não atinge sua validade, pois embora transgredida, ainda assim continua válida – fixando-se a responsabilidade do transgressor Estrutura da norma ética • juízo de dever ser que estabelece a medida da conduta lícita ou ilícita Norma • previsão de um comportamento do que é considerado normal aos membros de uma comunidade, delimitando a prática FORMAS DA ATIVIDADE ÉTICA • Há vários tipos de normas éticas a serem observadas em uma sociedade, de acordo com o bem cuja proteção elas visam proteger Belo • Normas que orientam a realização daquilo que é belo (normas estéticas) decorrem de juízos estéticos • São as normas relacionadas às atividades artísticas e literárias Útil • Redunda em normas relacionadas ao uso de bens para a satisfação das necessidades vitais • São normas ligadas às Ciências Econômicas e às atividades empenhadas na produção, circulação e distribuição de riquezas Santo (sacro) • Normas que se destinam a proteger valores correspondentes às religiões e cultos – ou seja: é o valor divino norteando o comportamento humano Amor • Gera normas relacionadas ao estabelecimento de um nexo emocional intersubjetivo (simpatia, atração, paixão, amor) • Há várias tentativas verificáveis na Filosofia para se estabelecer normas relativas à ética do amor (erótica) Poder • Valor determinante da política (arte de organização do poder e de realização do bem social com o mínimo de sujeição Bem individual e bem comum • Valores relacionados às normas éticas, morais e jurídicas Bem individual e bem comum Bem • expressão que designa várias formas de conduta que compõem o domínio da Ética Ética • ordenação teórico-prática dos comportamentos gerais, destinadas à realização de um bem – e que pode ser vista a partir de dois prismas: A. Do valor da subjetividade do autor da ação • O ato é apreciado de acordo com a intencionalidade do agente, que visa a plenitude de sua subjetividade numa individualidade autônoma (como pessoa) • Neste caso, a Ética recebe o nome de Ética da subjetividade (do bem da pessoa) ou Moral pessoal B. Do valor da coletividade em que o indivíduo atua • O ato é analisado em função das relações intersubjetivas em que ocorre, implicando a existência de um bem social – o qual supera o valor de cada um numa trama de valorações objetivas • Neste caso a Ética pode assumir duas feições: Moral Social (costumes, convenções sociais) e Direito • Observação: i. Apesar de o valor da subjetividade ser objeto da Moral, isto não significa que o indivíduo seja a medida dos atos morais ii. O respeito mútuo entre duas pessoas faz com que a subjetividade de cada uma só se realize plenamente em uma relação necessária de intersubjetividade iii. Por isso, mesmo enquanto visa o bem da pessoa, a Moral visa implicitamente ao bem social
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