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Aula 6 - Análises Físico-Químicas de Efluentes Prezado(a) Estudante, Apresentamos o conteúdo da sexta e última aula da disciplina Química Am- biental, na qual trataremos das Análises Físico-Químicas realizadas com os efluentes. Um bom estudo para você! Introdução A adição de carga orgânica nos cursos d’água consome oxigênio dos mes- mos, através da oxidação química e, principalmente, da bioquímica, via res- piração dos microorganismos, depurando, assim, a matéria orgânica. Quando a carga dos esgotos lançados excede a capacidade de autodepu- ração do corpo de água, o rio fica sem oxigênio, provocando problemas estéticos e liberação de odor e impedindo a existência de peixes e outros microrganismos aeróbios que habitam as águas naturais. Os peixes morrem não por toxicidade, mas por asfixia. Todos os organismos vivos dependem de uma forma ou de outra do oxi- gênio para manter os processos metabólicos de produção de energia e de reprodução. A quantidade de alimento (esgoto ou outros despejos orgânicos assimiláveis) lançada no corpo de água deve ser proporcional à sua vazão ou ao seu volume, isto é, à sua disponibilidade de oxigênio dissolvido. Assim, a poluição orgânica de um curso d’água pode ser avaliada pelo de- créscimo da concentração de oxigênio dissolvido e/ou pela concentração de matéria orgânica em termos de concentração de oxigênio necessário para oxidá-la. Portanto, todo o efluente, antes de ser lançado em um rio ou bacia, deve ser tratado, para que o nível de poluentes e de matéria orgânica seja compatível com a “vida aquática”. Glossário Carga Orgânica Quantidade de matéria orgânica expressa em massa por unidade de tempo (Kg DBO/dia), transportada ou lançada num corpo receptor ou sistema de tratamento de águas residuárias. Deverá ser utilizada a vazão média diária do efluente no cálculo da carga orgânica. (Norma técnica CPRH nº 2.001, versão 03/11/03). Oxidação química: C + O2 => CO2 Oxidação bioquímica: C + O2 + microorg. => CO2 Glossário Constituição Federal do Brasil– 1988 Capítulo VI, Artigo 225: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Públi- co e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Parágrafo I, inciso VI, “Incube ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do Meio Ambiente”. UABQuímica Ambiental 125 A fim de que o tratamento seja eficiente, é necessário que se analise o efluente antes do tratamento nas Estações de Tratamento de Esgoto - ETE, repetindo-se as análises antes de lançar o efluente tratado nos corpos de água, de forma a garantir um baixo teor de matéria orgânica e outros po- luentes. Nesta unidade, serão abordados temas sobre os ensaios físico-químicos exe- cutados em efluentes, tais como: – determinação de oxigênio dissolvido (OD); – determinação de demanda química de oxigênio (DQO); – determinação de demanda bioquímica de oxigênio (DBO); – determinação de sólidos sedimentáveis. Porém, antes de começarmos, é interessante salientar que existem dois tipos distintos de efluentes: o efluente doméstico, também chamado de esgoto, que é bem homogêneo em sua composição, e o efluente industrial, que tem a composição bem variada, dependendo da indústria em que ele é gerado. No que tange ao efluente doméstico, em geral, os testes necessários à sua caracterização são aqueles que vamos tratar nessa apostila. Já o efluente industrial requer outros testes, além dos testes utilizados no efluente domés- tico, tais como: – Cloretos; – Óleos e graxas; – Metais (os metais a serem analisados irão variar de acordo com o tipo de indústria); – Fósforo Total; – Fósforo Orgânico; – Fósforo Inorgânico Total; – Fósforo Inorgânico Dissolvido; – Nitrogênio Total; – Nitrogênio Amoniacal; – Nitritos; – Nitratos; – Potencial Hidrogeniônico (pH); – Sólidos Suspensos Totais (SST); – Sólidos Suspensos Fixos (SSF); – Sólidos Suspensos Voláteis (SSV); – Sólidos Dissolvidos Totais (SDT); Glossário Efluentes Orgânicos Industriais Despejos provenientes de estabelecimento indus- trial, incluindo os efluentes orgânicos de processo in- dustrial, esgotos sanitários, águas pluviais contamina- das e outras águas contami- nadas com matéria orgânica (Norma técnica CPRH nº 2.001, versão 03/11/03). Glossário Aspectos da Legislação: Pernambuco Norma Técnica Controle de Carga Orgânica em Eflu- entes Líquidos Industriais – CPRH N 2.001 (Aprovada na 215ª Reunião do Conselho de Administração da CPRH, em 21/02/00) Bahia Lei Nº 11.445, de 5 de janeiro de 2007: Nova Lei do Saneamento Paraíba Lei nº 6.544, de 20.10.97, cria a Secretaria Ex- traordinária do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais; dá nova redação e revoga dispositi- vos da Lei nº 6.308, de 02 julho de 1996, que institui a Política Estadual de Re- cursos Hídricos e dá outras providências. Gestão AmbientalUAB 126 – Sólidos Dissolvidos Fixos; – Sólidos Dissolvidos Voláteis; – Coliformes Termotolerantes; – Coliformes Totais; – Temperatura da Água. 1. Determinação de oxigênio dissolvido O oxigênio dissolvido na água é fundamental para a manutenção da vida aquática. Quanto menor for a concentração de oxigênio dissolvido, maior será a possibilidade de ocorrência de mortandade de peixes e outros seres vivos do meio aquático. Concentrações abaixo de 2,0mg/litro de oxigênio podem ocasionar mortan- dade de peixes. Altas concentrações de oxigênio dissolvido, além de be- néficas para a vida aquática, favorecem a depuração da matéria orgânica lançada nos corpos hídricos. Segundo Baird, 2002, a concentração de oxigênio dissolvido em água é bai- xa e aumenta à medida que a temperatura diminui. Assim, a quantidade de O2 que se dissolve a 0˚C (14,7 ppm) é maior que a quantidade dissolvida a 35˚C (7,0 ppm). Os peixes necessitam de água que contenha ao menos 5 ppm de oxigênio dissolvido para sua sobrevivência A matéria orgânica de origem biológica (restos de plantas e animais mor- tos), em geral, é a substância mais oxidada pelo oxigênio em águas naturais. A reação de oxidação pode ser assim representada: CH2O(aq) + O2(aq) CO2 (g) + H2O(aq) As reações de oxidação da amônia e do íon amônio, já discutidas, também contribuem para o consumo do oxigênio dissolvido nas águas naturais. O aporte de oxigênio em cursos d´água se dá por meio da aeração da cama- da superficial, devido ao fluxo natural, e, também, pela fotossíntese realiza- da pelas algas presentes no ecossistema. No entanto, em águas estagnadas ou no fundo de rios e lagos profundos, ocorre ausência de oxigênio, por causa do elevado consumo nos processos de degradação da matéria orgâ- nica e da falta de uma reposição rápida, já que a difusão do oxigênio a partir das camadas superficiais é um processo muito lento. Glossário Decretos de Pernambuco Balneabilidade Qualidade das águas doces, salobras e salinas destina- das à recreação de contato primário (contato direto do usuário com os corpos de água). (Decreto Estadual 24.017, de 07 de fevereiro de 2002) Esgotamento sanitário Sistema de coleta, transpor- te e tratamento do esgoto, com disposição adequada do efluente tratado. (Decre- to Estadual 24.017, de 07 de fevereiro de 2002) Saneamento básico Conjunto de instalações e operações destinadas a garantir água potável de boa qualidade, a coleta e tratamento dos esgotos, a drenagem da água pluvial e a coleta e disposição finaldo lixo. (Decreto Estadual 24.017, de 07 de fevereiro de 2002) UABQuímica Ambiental 127 Por conseguinte, a avaliação da quantidade de oxigênio dissolvido é um dado muito importante para a avaliação da sustentabilidade da vida nos corpos hídricos. 2 Degradação anaeróbica da matéria or- gânica A degradação anaeróbica da matéria orgânica é aquela que se processa na ausência de oxigênio. Quando as bactérias apropriadas estão presentes, ocorre a formação de gás carbônico (CO2), amônia (NH3), metano (CH4) e gás sulfídrico (H2S). Quando essas substâncias são lançadas na água, ocasio- nam prejuízos ao meio, como a cor escura e mau odor. As condições anaeróbicas ocorrem na natureza em águas paradas, como pântanos, e nas águas que se encontram na parte inferior de lagos profun- dos. Na degradação anaeróbica, ocorre a oxidação e redução do carbono, ao mesmo tempo; parte do carbono existente na matéria orgânica é oxidada a CO2 e o restante é reduzido a CH4, conforme a reação: O gás metano produzido nesse processo é praticamente insolúvel em água e forma bolhas que podem ser observadas quando atingem a superfície da água em zonas pantanosas. Glossário Leis de Pernambuco Tratamento biológico - método de tratamento uti- lizado para a depuração da água residuária, utilizando microorganismos, tais como algas, bactérias, fungos e protozoários, para a oxida- ção da matéria orgânica, transformando-a em comp- ostos minerais estáveis. (Lei nº 9.860, de 12 de agosto de 1986) Resíduo líquido - esgoto bruto doméstico e indus- trial, bem como o lodo resultante dos processos de tratamento. (Lei nº 9.860, de 12 de agosto de 1986) Concentração de nutri- entes - quantidade dos componentes de nitrogênio e fósforo existentes nos efluentes líquidos que drenam para os mananciais. (Lei nº 9.860, de 12 de agosto de 1986) Gestão AmbientalUAB 128 Figura 1. Água estagnada em região pantanosa (Fonte: http://www.dalequedale.com/media/blogs/personas/pantano0.jpg). 3. Autodepuração em águas naturais O lançamento de efluente contendo matéria orgânica em um corpo d’agua resulta, indiretamente, no consumo de oxigênio dissolvido. Isto se deve aos processos de estabilização da matéria orgânica realizados pelas bactérias decompositoras, que utilizam o oxigênio disponível no meio líquido para a sua respiração. A redução da concentração de oxigênio dissolvido causa impactos do ponto de vista ambiental, constituindo-se em um dos principais problemas de poluição das águas em nosso planeta. Após o lançamento dos esgotos, o curso d’água poderá se recuperar natu- ralmente, fenômeno conhecido como autodepuração. O processo de auto- depuração engloba mecanismos, como dispersão, diluição, sedimentação, dentre outros, e tende a levar ao restabelecimento das condições iniciais das águas do rio, pelo menos no que diz respeito à concentração de maté- ria orgânica (representado pela DBO), oxigênio dissolvido (OD) e coliformes. Mesmo após o restabelecimento das condições iniciais de DBO, OD e coli- formes, o processo de autodepuração é parcial, visto que ocorre a formação de produtos e subprodutos resultantes da decomposição das substâncias orgânicas, que contribuem, por exemplo, para o aumento excessivo da con- centração de nitrogênio e fósforo. É muito importante o conhecimento da capacidade de autodepuração de um rio, para que seja possível avaliar, antecipadamente, os problemas am- bientais que podem ser originados a partir de determinada ação humana. Glossário Procedimento Titulomé- trico Consiste na determinação da concentração de uma solução utilizando uma solução padrão em um processo onde se mede volume. A titulação é realizada em um conjunto contendo uma bureta e um frasco erlen- meyer, onde é colocada a solução a ser titulada. A bureta é um tubo de vidro graduado (a gradua- ção, geralmente, é de 0,1 em 0,1 mL), dotado de uma torneira para controle da saída de líquido. UABQuímica Ambiental 129 Dessa forma, a capacidade de assimilação do corpo d’água pode ser utili- zada até um ponto aceitável e não prejudicial, não sendo admitido o lança- mento de cargas poluidoras acima desse limite. No Brasil, os compostos orgânicos comumente presentes em rios e córregos podem ter origem industrial, mas sabe-se que a principal contribuição se dá pelo lançamento de esgoto sanitário. PRINCÍPIO DO MÉTODO Para a determinação da concentração de oxigênio dissolvido em águas, es- tão disponíveis o método químico (Método de Winkler) e o método eletro- químico. Nos dois métodos, os procedimentos preliminares são os mesmos, a diferen- ça acontece na hora de se quantificar o teor de oxigênio. Os resultados são expressos como concentração de oxigênio em mg/L. MÉTODO QUÍMICO (Standard Methods, 19ª edição, Método 4500-OB) O método iodométrico é o mais confiável e preciso procedimento titulomé- trico para análise de oxigênio dissolvido. Esse método consiste em: 01 – Coleta da amostra: a amostra deve ser coletada em um frasco de vidro (frasco de DBO) com boca e tampa esmerilhada (a amostra deve preen- cher totalmente o frasco, não pode haver bolhas). Figura 2. Frasco de DBO (Winkler). A temperatura de coleta da amostra é muito importante, uma vez que a solubilidade do oxigênio varia em função da temperatura e altitude. Ao nível do mar, a 25ºC, podemos dissolver até 9,6 mg/L (solução saturada). Gestão AmbientalUAB 130 02 – Adição de uma solução de manganês divalente (Mn++), seguida pela adição de uma solução alcalina forte na amostra coletada em um frasco de vidro com tampa esmerilhada (há formação de um precipitado de hidróxido manganoso). O oxigênio dissolvido oxida rapidamente uma quantidade equivalente de precipitado de hidróxido manganoso a hidróxido de manganês de alto esta- do de valência, promovendo a “fixação do oxigênio” no meio. A realização desse procedimento, imediatamente após a coleta das amostras, evita per- das de O2 durante o transporte da amostra ao laboratório. 2 Mn(OH)2 + O2(aq) 2 MnO(OH)2 03 – Acidificação do meio e adição de iodo. Com a acidificação, o precipita- do se dissolve na forma de manganês (IV) e, na presença de íons iodo em meio ácido, o manganês é reduzido ao estado divalente, com a liberação de iodo elementar (I2) equivalente ao conteúdo original de oxigênio dis- solvido na amostra. 2 MnO(OH)2 + 4 H + Mn+4 + 3 H2O Mn+4 + 2 I- Mn+2 + I2 04 – Titulação do iodo com uma solução padrão de tiossulfato de sódio (so- lução padrão é aquela em que se conhece sua concentração real). 2 S2O3 -2 + I2 S2O6 -2 + 2 I- MÉTODO ELETROQUÍMICO (Standard Methods, 19ª edição, Método 4500-OA) No método eletroquímico, empregam-se aparelhos chamados de oxímetros ou medidores de OD, em que o eletrodo possui uma membrana que adsorve seletivamente o oxigênio. Esses aparelhos precisam ser calibrados antes do uso, empregando-se solu- ção de sulfito de sódio para a calibração do OD zero e água aerada e refrige- UABQuímica Ambiental 131 rada para a calibração do valor de saturação. Uma vez calibrado o aparelho, as medições são diretas. Este método consiste em: 01 – Coleta da amostra. 02 – Calibração do Oxímetro. 03 – Leitura direta com o eletrodo. Figura 3. Medidor de Oxigênio dissolvido e DBO. Figura 4. Eletrodo para análise de oxigênio. Gestão AmbientalUAB 132 4. Determinação da Demanda Química de Oxigênio (DQO) A Demanda Química de Oxigênio é usada como uma medida do oxigênio equivalente à matéria orgânica contida em águas superficiais e residuárias, que é passível de oxidação por um composto químico fortemente oxidante. É um parâmetrousado para avaliação da carga orgânica presente na amos- tra que pode ser consumida em oxidações aeróbicas (Rocha et al, 2004; AWWWA/APHA/WEF, 1995). O dicromato de potássio (K2Cr2O7) é o oxidante químico mais empregado na análise de DQO por apresentar elevada capacidade de oxidação para uma grande variedade de amostras, além de uma manipulação fácil. A DQO é um parâmetro indispensável nos estudos de caracterização de es- gotos sanitários e de efluentes industriais, sendo muito útil quando utilizada conjuntamente com a DBO, para observar a biodegradabilidade de despejos. Sabe-se que o poder de oxidação do dicromato de potássio é maior do que o que resulta mediante a ação de microrganismos, exceto raríssimos casos, como hidrocarbonetos aromáticos e piridina. Dessa forma, os resultados da DQO de uma amostra são superiores aos de DBO. Como na DBO mede-se apenas a fração biodegradável, quanto mais próximo o valor estiver da DQO, mais biodegradável será o efluente. A DQO tem demonstrado ser um parâmetro bastante eficiente no controle de sistemas de tratamento anaeróbio de esgotos sanitários e de efluentes industriais. PRINCÍPIO DO MÉTODO (Standard Methods, 19ª edição, Método 5220-A) A demanda química de oxigênio consiste em uma técnica utilizada para a avaliação do potencial de matéria redutora de uma amostra, através de um processo de oxidação química em que se emprega o dicromato de potás- sio (K2Cr2O7). Nesse processo, o carbono orgânico de um carboidrato, por exemplo, é convertido em gás carbônico e água. A reação pode ser repre- sentada como: UABQuímica Ambiental 133 METODOLOGIA O método consiste na oxidação da amostra com excesso conhecido de so- lução padrão primário de dicromato de potássio (K2Cr2O7), a quente, em meio de ácido sulfúrico, tendo o sulfato de prata como catalisador. Temperaturas elevadas favorecem a oxidação, que é procedida sobre chapa ou manta de aquecimento. As substâncias voláteis que, eventualmente, se desprendam da amostra são retornadas ao balão onde se processa a reação, através de sistema de condensação, utilizando-se condensadores de refluxo. Figura 5. Sistema digestor para DQO (demanda química do oxigênio), método tra- dicional com titulação. Condensadores de refluxo tipo Friedrich com grande área de condensação (Fonte: www.marconi.com.br). A prata catalisa a oxidação, sendo adicionado sulfato de prata para esta finalidade, dissolvido, previamente, no ácido sulfúrico. A principal interfe- rência no teste é a oxidação de cloretos pelo dicromato de potássio. Para corrigir essa interferência, adiciona-se sulfato de mercúrio, mas a análise não é válida para amostras contendo concentrações muito elevadas de cloretos, como, por exemplo, a água do mar. A principal dificuldade da análise está no estabelecimento de diluições corre- tas para as amostras, pois a etapa final constitui-se na titulação do dicromato não utilizado, com sulfato ferroso amoniacal. Se a amostra for pouco diluída, Gestão AmbientalUAB 134 poderá ocorrer consumo total de dicromato e, se for muito diluída, o excesso quase que total também gera imprecisão nos resultados. O final da reação é indicado pela viragem de amarelo para marrom, devido à presença de ferroína (indicador à base de ortofenantrolina) adicionada ao balão contendo a amostra a ser titulada. O volume consumido de sulfato ferroso amoniacal na titulação será a referência para o cálculo da DQO. O sulfato ferroso amoniacal, por sofrer decomposição na presença de luz, deve ser repadronizado toda vez que for utilizado para a análise de DQO. Paralelamente à oxidação e titulação das diluições da amostra, realiza-se uma prova em branco, fazendo-se o mesmo procedimento utilizado na amostra, só que com água deionizada. A quantidade de matéria oxidável, expressa como equivalente em oxigênio, é proporcional ao consumo do oxidante dicromato de potássio e pode ser considerada como uma medida da quantidade de matéria orgânica presente na amostra (Rocha et al, 2004). 5. Determinação da Demanda Bioquími- ca de Oxigênio (DBO) (Standard Metho- ds, 19ª edição, Método 5010) Quando se fala em esgotos domésticos, o termo DBO é frequentemente usa- do pelos técnicos, pois ele é indispensável em qualquer discussão a respeito. Não esqueça que DBO é a abreviatura de Demanda Bioquímica de Oxigênio! A palavra demanda quer dizer, entre outros significados, quantidade con- sumida ou a consumir. A palavra bioquímica significa um misto de reações de origem biológica e química. Desse modo, podemos resumir que DBO é o consumo de oxigênio, através de reações biológicas e químicas, ou ainda, a quantidade de oxigênio requerida na oxidação bioquímica da matéria or- gânica existente no efluente, pela ação de bactérias aeróbias, sob condições específicas. Num corpo d’água, coexistem bactérias e matéria orgânica de todas as na- turezas. As bactérias se alimentam de matéria orgânica, isto é, substâncias que contêm carbono e hidrogênio. Glossário Diluição Processo em que se adi- ciona mais solvente a uma solução. Normalmente isso é feito controlando-se os volumes para saber exata- mente a diluição feita. Abaixo, temos o desenho de um balão volumétrico, que tem um volume exato, sendo utilizado para fazer diluições. UABQuímica Ambiental 135 A digestão completa dessa matéria orgânica se faz no organismo da bacté- ria, através de uma reação bioquímica que necessita de um elemento funda- mental para ser realizada: o oxigênio. Quando é fornecida matéria orgânica como alimento a uma bactéria, ela precisará de uma determinada quantida- de de oxigênio para que seu organismo transforme a matéria orgânica em outra substância (no caso, mineralize a matéria orgânica), ou seja, no meta- bolismo dos microrganismos heterotróficos os compostos orgânicos biode- gradáveis são transformados em produtos finais estáveis ou mineralizados, tais como água, gás carbônico, sulfatos, fosfatos, amônia, nitratos, etc. Na presença de grande quantidade de matéria orgânica, as bactérias se multiplicarão em demasia e disputarão, entre si, todo o oxigênio disponível. Dessa maneira, o oxigênio tende a acabar e as bactérias a morrer, transfor- mando-se em mais alimento disponível (afinal elas são matérias orgânicas também). Nesse processo, há consumo de oxigênio da água e liberação da energia contida nas ligações químicas das moléculas decompostas. Os microrganis- mos desempenham esse importante papel no tratamento de esgotos, pois necessitam dessa energia liberada, além de outros nutrientes que, porven- tura, não estejam presentes em quantidades suficientes nos despejos, para exercer suas funções celulares, tais como reprodução e locomoção, o que genericamente se denomina síntese celular. Quando passa a ocorrer insuficiência de nutrientes no meio, os microrganis- mos sobreviventes passam a se alimentar do material das células que têm a membrana celular rompida. Esse processo se denomina respiração endóge- na. Finalmente, há nesse circuito, compostos para os quais os microrganis- mos são incapazes de produzir enzimas que possam romper suas ligações químicas, permanecendo inalterados. Ao conjunto desses compostos dá-se o nome de resíduo não biodegradável ou recalcitrante. Na ausência de oxigênio, as águas do rio ou do lago serão incapazes de sustentar a vida aeróbia (isto é, a vida de todos os organismos que habitam as águas e necessitam oxigênio para viver). Dessa forma, tem sempre que haver um limite de matéria orgânica que pode ser lançada a um rio ou a um lago, a fim de que o oxigênio existente não desapareça e, com isso, o rio ou lago “morra”. Gestão AmbientalUAB 136 Um esgotoa céu aberto que deságua em um rio é uma fonte enorme de matéria orgânica. Diz-se, assim, que a DBO desse esgoto é alta ou que as águas do esgoto irão exigir um alto consumo de oxigênio do rio, exatamente por serem ricas em matéria orgânica. O tratamento de esgotos nada mais é que uma forma de reduzir essa DBO, antes que o esgoto atinja o rio (ou o lago), para preservar seu oxigênio e, também, em alguns casos, eliminar matérias orgânicas vivas transmissoras de doenças para o homem. As águas servidas de uma refinaria de açúcar chegam a ter DBO de 6.000 miligramas de oxigênio por litro, o que significa que cada litro dessas águas despejado num rio fará com que 6.000 mg, ou seja, 6g do oxigênio dissol- vido na água do rio desapareçam. Nos esgotos não tratados (esgotos domésticos), cada pessoa é responsável (em média) pelo desaparecimento de 54 gramas diárias de oxigênio existen- tes nas águas do rio (ou lago) onde esse esgoto é despejado. Assim, sendo a água doce um bem raro, qualquer tratamento prévio para re- duzir a DBO (fossa séptica, filtro biológico, etc.) será de grande importância na preservação dos corpos d’água, dos quais dependemos para viver. PRINCÍPIO DO MÉTODO Basicamente, a análise de DBO consiste em medidas da concentração de oxigênio dissolvido nas amostras, diluídas ou não, antes e após um período de incubação de 5 (cinco) dias, a 20ºC. Durante esse período, ocorrerá redução no teor de oxigênio dissolvido da água, consumido para satisfazer as reações bioquímicas de decomposição de compostos orgânicos biodegradáveis. Quanto maior for a quantidade de matéria orgânica biodegradável nas amostras, maior será o consumo de oxigênio durante os 5 dias de incubação e, portanto, maior será o valor da DBO. Dependendo das características das amostras, a análise poderá ser desen- volvida segundo três procedimentos diferentes, que são descritos a seguir. Glossário Cone de Imhoff Aparato de vidro com escala de volume que serve para verificar o volume do mate- rial depositado no mesmo. Na parte superior está a marcação de 1000 mL, e na parte inferior está a marca- ção em mililitros do material sedimentado. Cones de Imhoff. UABQuímica Ambiental 137 METODOLOGIA a) Determinação de DBO de águas naturais pouco poluídas Neste caso, como a concentração de oxigênio dissolvido presente inicial- mente na amostra é maior do que a demanda esperada, a análise pode ser desenvolvida de forma bastante simples. Em dois frascos de DBO, coletam-se as amostras da água do rio ou lago no ponto em que se pretende analisar. Todos os procedimentos de coleta devem ser respeitados, pois, do contrário, as interferências nos resultados podem invalidá-los totalmente. Em um dos frascos mede-se o oxigênio dissolvido presente na amostra no instante da coleta (oxigênio dissolvido inicial). Quando se emprega o método químico para a análise do “OD inicial”, ape- nas a etapa de fixação do OD necessita ser feita imediatamente após a cole- ta. As demais podem ser desenvolvidas no laboratório. O outro frasco em que se coletou a amostra de água deverá ser conduzido diretamente para a incubadora, onde deverá permanecer cinco dias a 20ºC, para que sejam desenvolvidas as reações bioquímicas. Ao final desse período, deve-se determinar a concentração de oxigênio dis- solvido - “OD final”, segundo os mesmos procedimentos anteriormente re- comendados. A DBO (de 5 dias a 20ºC) será a diferença entre as concentra- ções de oxigênio dissolvido inicial e final. b) Determinação de DBO de águas naturais muito poluídas, esgotos sanitários e efluentes industriais que contêm microrganismos Imagine-se no caso anterior em que se encontre uma concentração de oxi- gênio dissolvido final igual a zero. Isso significa que a demanda superou a quantidade de oxigênio dissolvido na amostra e não pôde ser medida. Nes- ses casos, deve-se proceder a diluições da amostra. Normalmente são empregadas cinco diluições diferentes, para que ocorra, em, pelo menos, uma delas, porcentagem de redução de oxigênio dissolvido na faixa de 40 a 70%, que representa a melhor condição para se obter re- Gestão AmbientalUAB 138 sultados com boa precisão. A água de diluição deve ser previamente preparada, aerando-se água destila- da e adicionando-se soluções contendo nutrientes (Nitrogênio-N, Fósforo-P, Potássio-K, Ferro-Fe, etc.), com o objetivo de que o único fator limitante no teste seja, de fato, a concentração de matéria orgânica presente na amostra. A fim de que sejam estabelecidas as diluições, deve-se recorrer às experiên- cias anteriores com a análise de DBO realizadas com a amostra em questão, ou utilizar-se dos resultados da DQO (que é maior que a DBO), como refe- rência. Os demais aspectos relativos às determinações do oxigênio dissolvido presente nas diversas diluições da amostra são idênticos ao caso anterior- mente descrito. A DBO é calculada através da média dos resultados em que a redução de oxigênio dissolvido ocorreu na faixa de 40 a 70%. Alguns efluentes industriais que possuem microrganismos, como os laticí- nios e os matadouros, por exemplo, podem ter a DBO analisada desta forma. c) Análise da DBO de efluentes industriais que não contêm microor- ganismos Este caso engloba efluentes de indústrias que são orgânicos biodegradáveis, mas não possuem microrganismos decompositores, como, por exemplo, as indústrias têxteis e de celulose e papel. A análise torna-se um pouco mais complexa que na situação anterior, pois, não havendo microrganismos na amostra, é necessário introduzi-los artifi- cialmente através de semeadura. Há, basicamente, dois tipos de sementes (microrganismos) que podem ser utilizadas: – - aclimatadas, – - não aclimatadas. As sementes aclimatadas são constituídas de microrganismos que já ve- nham previamente interagindo com o substrato em questão. Pode-se utilizar água ou lodo do corpo receptor a jusante do lançamento ou lodo de estação de tratamento biológico do próprio efluente. UABQuímica Ambiental 139 As sementes não aclimatadas, que é o caso mais comum, são obtidas a partir de esgoto sanitário, decantado ou filtrado em algodão, para que se re- duza a DBO trazida pela própria semente, sem diminuir, significativamente, a concentração de microrganismos. Para essa técnica de determinação da DBO, além da dificuldade em se definir as diluições das amostras, há, também, a necessidade de se definir o quanto de semente deverá ser adicionado aos frascos. O critério empregado é que a quantidade adotada, que pode ser 1 ou 2 mL, por exemplo, não deve provocar demanda de oxigênio superior a 0,6 mg/L. O consumo de oxigênio, devido à matéria orgânica presente na própria se- meadura, é chamado fator da semente. Este será determinado através da realização paralela da DBO da semente, em que se empregam, por exemplo, cinco diluições para o cálculo do consumo médio de oxigênio por mililitro de semente. Este fator deverá ser levado em consideração no cálculo final da DBO da amostra, isto é, para cada diluição, a variação de oxigênio ocorrida deverá ser descontada do fator da semente. Note-se que, nesse caso, a imprecisão nos resultados é maior pela introdu- ção de mais uma variável, a condição da semente, tornando a situação críti- ca em alguns casos de efluentes industriais tratados que apresentem valores de DBO próximos ao limite máximo imposto na legislação. 6. Determinação de sólidos sedimentá- veis (Standard Methods, 19ª edição, Mé- todo 2540) Por definição, sólidos suspensos são todos os sólidos presentes no efluente (sedimentáveis e flutuantes), exceto os solúveis e sólidos coloidais. Na prá- tica, os sólidos suspensos sãoaqueles passíveis de serem retidos por uma filtração em análise de laboratório. Os sólidos sedimentáveis constituem a parte mais grosseira dos sólidos suspensos contidos no efluente e sedimentariam rapidamente nos leitos dos corpos receptores, caso chegassem até eles. Gestão AmbientalUAB 140 A cor do efluente pode interferir na realização dos sólidos sedimentáveis, principalmente em amostras do efluente bruto. A cor é causada, sobretu- do, por corantes orgânicos e inorgânicos, que se encontram na forma de sólidos dissolvidos. Pode acontecer que, em função do processo que gerou o efluente em análise, a cor muito escura dificulte a leitura do volume de sólidos sedimentáveis. Nas amostras de efluente tratado, no entanto, esse problema pode ser minimizado, em função da remoção da cor ocorrida du- rante o tratamento. Como solução para a questão apresentada, sugere-se a realização da deter- minação dos sólidos suspensos contidos no efluente, que, como citado aci- ma, contém a parcela de sólidos sedimentáveis existentes no efluente. Nes- ses casos, deve-se fazer uma observação no laudo de análises, mencionando a impossibilidade de realização da determinação dos sólidos sedimentáveis em função da cor. PRINCÍPIO DO MÉTODO Os sólidos sedimentáveis correspondem à quantidade de material que sedi- menta por ação da força da gravidade, a partir de um litro de amostra em repouso por 1 hora, em cone de Imhoff. É constituído pelos materiais ini- cialmente em suspensão em águas e efluentes domésticos e industriais, que podem ser removidos por sedimentação, após um período de decantação. METODOLOGIA O resíduo sedimentável (sólidos sedimentáveis) é medido em ensaio especí- fico e expresso em mL/L(NBR 9896/1993). O método do cone de Imhoff é realizado por sedimentação das partículas em suspensão pela ação da gravidade, a partir de 1 litro de amostra em re- pouso durante 1 hora, de acordo com o procedimento abaixo: a) Transfere-se a amostra homogeneizada para o cone de Imhoff até a marca de 1000 mL. b) Deixa-se decantar por 45 minutos. c) Após esse tempo, deslocam-se, delicadamente, as partículas aderidas á parede do cone, através de movimentos circulares com um bastão de vidro. d) Deixa-se decantar por mais 15 minutos. e) Faz-se a leitura do material sedimentado em mL. UABQuímica Ambiental 141 O resultado dessa análise é expresso em mililitro por litro (mL/L). Chegamos ao final da disciplina Química Ambiental. Espero que você tenha adquirido muitos conhecimentos e tenha gostado de estudar os conteúdos apresentados. Sabemos que alguns assuntos são de melhor absorção, outros são mais com- plicados para serem entendidos. Por isso, revise todo o conteúdo abordado na disciplina e aproveite para tirar as suas dúvidas, para que possa fazer uma boa avaliação. Muita paz para você! Siglas: ETE: Estação de Tratamento de Esgoto. SABESP: Saneamento Básico de São Paulo. CETESB: Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental. OD: Oxigênio Dissolvido. DQO: Demanda Química de Oxigênio. DBO: Demanda Bioquímica de Oxigênio. SST: Sólidos Solúveis Totais. SSF: Sólidos Solúveis Fixos. SSV: Sólidos Solúveis Totais. SDT: Sólidos Dissolvidos Totais. NBR: Norma Brasileira. Glossário Biodegradável: substância orgânica que é degradada por microorganismos. Calibração: processo onde se utilizam padrões para fazer comparações. Condensador: aparato de vidro que tem a finalidade de condensar os vapores de um líquido que evaporou. É empregado nos processos de destilação, sendo refrig- erado à água. Abaixo temos o desenho de um con- densador reto, dotado na lateral direita de 2 pontos, um de entrada de água (o de baixo) e outro de saída de água (o de cima). Figura 6. Condensador reto. Corpos hídricos: corpos de água. Eletrodo com membrana: peça de vidro ou metal com uma membrana seletiva de um lado, que tem a finali- dade de medir a concent- ração de uma determinada espécie química. Método eletroquímico: método que utiliza um equipamento eletrônico para avaliar um processo químico. Hidrocarbonetos aromáti- cos: substâncias orgânicas derivadas do benzeno. Gestão AmbientalUAB 142 Referências aWWWa/apHa/WeF. standard methods for examination of Water and Wastewater. 19th ed. Washington: 1995. Bernardo, luiz de; Bernardo, di ângela; FilHo, paulo luiz Centurione. ensaios de tratabilidade de Água e dos resíduos gerados em estações de tratamento de Água. editora rima, 2002. Campos, José roberto (Coord.). tratamento de esgotos sanitários por processo anaeróbio e disposição Controlada no solo. rio de Janeiro: aBes, 1999. 464 p. KoBal, João; sartorio, lyrio. química analítica quantitativa. 2ª ed. editora moderna, 1982 normas analíticas do instituto adolfo lutz . Volume 1, 1985 roCHa, Julio César; rosa, andré Henrique; Cardoso, arnaldo alves. introdução à química ambiental. Bookman Companhia, 2004. 154 p. Sites de Interesse http://www.standardmethods.org/ http://www.anvisa.gov.br (agência nacional de Vigilância sanitária). http://www.mma.gov.br/port/conama/index.cfm (Conama - Conselho nacional do meio ambiente). http://www.cetesb.sp.gov.br/ (CetesB – sp, acesso em 02/05/2007). http://www.sabesp.com.br http://www.cprh.pe.gov.br http://www.embasa.ba.gov.br http://www.cagepa.pb.gov.br http://www.laborglas.com.br http://www.fgg.com.br Glossário Método iodométrico: método de analise onde se utiliza o iodo com tios- sulfato. Microorganismo: organ- ismo animal ou vegetal de dimensões microscópicas. Oxímetro: equipamento eletrônico que mede teores de oxigênio a níveis de miligrama por litro. Padronizar: determinar a concentração exata de uma solução. Recalcitrante: substância não biodegradável. Repadronizar: padronizar novamente. Solução padrão: é uma solução que foi padroni- zada. Solução saturada: é a solução que contém a quantidade máxima de soluto solubilizado em um solvente adequado. UABQuímica Ambiental 143
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