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MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA Teoria e Prática Gilson Nunes Maia Agosto 2016 Fonte da imagem: www.vtn.com.br MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 2 FORMAÇÃO PARA CONHECIMENTO E MANUTENÇÃO EM MOTORES: TEORIA & PRÁTICA EQUIPE TÉCNICA - GRUPO MOTORES - CURSO MCI-T&P GILSON NUNES MAIA Coordenador – Tecnologista Mecânico Automobilística Graduando do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental - UFSC. MONITORES • NICOLAS SCHIEMANN MAIA Aluno do Ensino Médio – Colégio - COC • FELIPE RUTHES Aluno de Graduação de Economia – UFSC COORDENAÇÃO FINANCEIRA E COMUNICAÇÃO • BÁRBARA SCHIEMANN Arquiteta e Urbanista – CAU A24166-0 COORDENAÇÃO TÉCNICA • GILSON NUNES MAIA ORGANIZAÇÃO E DIAGRAMAÇÃO DA APOSTILA • GILSON NUNES MAIA e BÁRBARA SCHIEMANN EQUIPE - LabCET Professor Amir Antonio Martins de Oliveira Junior, Ph. D. Supervisor do Laboratório Luana Ribeiro Carvalho Secretária Graduanda do curso de Ciências Contábeis da UFSC Camilla Rigoni Medeiros, M.Sc. Químico da Fundação do Ensino da Engenharia em Santa Catarina (Laboratório de Combustão e Engenharia de Sistemas Térmicos- UFSC) Fátima Serviços Gerais - (Laboratório de Combustão e Engenharia de Sistemas Térmicos- UFSC) ________________________________ Publicado por LabCET Digital – Regime Copyleft. Florianópolis, Fevereiro de 2012. gilsonmaia@labcet.ufsc.br MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 3 PREFÁCIO No ano de 2003 durante a 3ªSEPEX – Semana de Ensino Pesquisa e Extensão da UFSC, o Grupo Motores, vinculado ao LabCET, realizou o minicurso INTRODUÇÃO AOS MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA. Aberto a Comunidade Universitária, e a todos os interessados no assunto que pertençam à comunidade externa a UFSC. O minicurso foi amplamente procurado, tendo suas vagas esgotadas para as três turmas. As atividades práticas complementaram as explanações teóricas, o que proporcionou grande interação entre a equipe pedagógica e os alunos, resultando em grande satisfação para todos. Em 2004 foi novamente realizado o minicurso, também durante a SEPEX e obtendo o mesmo sucesso da edição de 2003. Para o ano de 2005 as atividades do minicurso e sua abrangência foram ampliadas. O local também mudou, passou a ser nas dependências do LabCET – Laboratório de Combustão e Engenharia de Sistemas Térmicos. Os conteúdos foram complementados através do conhecimento sobre turbinas, com conteúdos teóricos e práticos. Foi introduzido também um tópico sobre combustíveis complementado com atividade prática. Novamente vinculado as atividade da SEPEX, em 2005 o minicurso passou a chamar-se INTRODUÇÃO AOS MOTORES TÉRMICOS ampliando o sucesso das edições de 2003 e 2004. Assim, com este portfólio de cursos ministrados e estimulados pelas sugestões dos alunos das edições de 2003, 2004 e 2005 do minicurso, surgiu a ideia de ampliar o tempo, transformando-o num pequeno curso de verão buscando sempre o período de férias escolares. Este curso teria caráter eminentemente prático, onde os alunos tiveram contato direto com os motores a combustão interna através da desmontagem, remontagem e posterior funcionamento/regulagem do motor. Agregando a experiência neste tipo de curso prático e estimulados pelo apoio dos Coordenadores do LabCET surgiu o conceito final do curso MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA. O curso tem por base noções teóricas dos conceitos e fenômenos que definem as máquinas térmicas, abordando a classificação dos motores a combustão interna, seus componentes principais e sua subdivisão em sistemas. Este método visa facilitar o entendimento dos alunos, e se propõe a ser uma ferramenta para facilitar a compreensão sobre as diferenças entre os diversos tipos de motores. Além disso, serão abordados tópicos sobre termodinâmica, fluidodinâmica e mecânica dos sólidos que são à base da ciência dos motores a combustão interna. A maior parte do curso está reservada às atividades práticas. Nesta etapa o aluno terá condições de familiarizar-se com os inúmeros componentes do motor, através da desmontagem, limpeza das peças e remontagem do motor. Esta etapa permite ao aluno entender como as pequenas peças trabalham para formar o conjunto motor a combustão interna. Para complementar serão realizados os ajustes para que o motor seja posto em funcionamento e a partir daí, realizadas as regulagens. Assim surge a oportunidade de interatividade entre os alunos e a máquina, onde será possível entender como as peças se complementam numa magnífica máquina térmica. As regulagens dos parâmetros do motor permitirão ao aluno perceber o funcionamento global da máquina. O curso ainda conta com atividades referentes a combustíveis, através de sua classificação e conceitos de qualidade. Ricardo Morel Hartmann e Gilson Nunes Maia MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 4 PREFÁCIO 2 A crônica extraída da edição 2351 da revista Veja, como segue abaixo, retrata com muita qualidade, um tema que se relaciona diretamente com o conteúdo abordado ao longo de todo o curso Motores a Combustão Interna: Teoria e prática. Por esta razão, está sendo citado como o Prefácio 2, com a intenção de homenagear o seus autores, e fundamentalmente para difundir as ideias do texto. O caso dos mecânicos que sabiam ler. Autor: Claudio de Moura Castro. Economista. Veja – Edição 2351 ano 46 nº 50 11/12/2013. “Segundo alguns historiadores, houve dois sacolejões maiores na história da humanidade. O resto foi tremelique. O primeiro foi a domesticação de cereais — começando com o trigo selvagem. Com isso, gerou-se uma relativa abundância de alimentos, o que permitiu às tribos, até então nômades, sedentarizar-se. As cidades trouxeram a densidade humana requerida para o fermento da criatividade e para inúmeras atividades produtivas e artísticas. Afirma-se que elas foram a grande inovação de todos os tempos. Mas a agricultura induziu o seu desenvolvimento. A segunda transformação drástica foi a Revolução Industrial. Um tecelão, em Constantinopla, trabalhava três horas para comprar um pão de meio quilo — o mesmo que na Roma de César. A partir de 1600, o tempo baixou para duas horas. Hoje são necessários cinco minutos. Esse espantoso salto de produtividade tornou possível oferecer a todos um padrão digno de vida. Mas por que a Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra, no século XVIII? Jazidas de minério de ferro e carvão mineral? Império da lei e estabilidade política? Lei de Patentes? Avanços na ciência? Ética protestante? Tudo isso teve peso, mas há uma nova explicação, curiosa e persuasiva (William Rosen. The Most Powerful Idea in the World). Como resultado do desenvolvimento das escolas inglesas, pela primeira vez na história apareceram mecânicos capazes de ler artigos científicos. E também de se corresponder com colegas e pesquisadores. Os bons mecânicos sabiam lidar com máquinas e construir toda espécie de engenhoca. Mas aos que tinham novas ideias faltavam o horizonte intelectual e a motivação para implementá-las. No mundo das sociedades científicas de então, os pesquisadores elucubravam, atéexperimentavam, seguindo o método teórico-empírico proposto por Bacon1. Mas não sabiam fazer coisas, não conheciam a manufatura. Portanto, não puderam ir muito longe na utilização prática dos seus inventos. Os avanços do pensamento não tinham pontes para o mundo da indústria. Fora do Olimpo científico, na sociedade hierarquizada e rígida da época, alguns mecânicos perceberam que a Lei de Patentes era a porta que se abria para um operário mudar de vida. E, como bons protestantes, acreditavam que Deus gostava de quem ficava rico. É então que entram em cena os mecânicos-leitores. Na ânsia de ficarem ricos, começaram a escarafunchar o que escreviam os cientistas — como Boyle, que formulava os princípios conectando pressão, temperatura e volume. Como tinham amigos com interesses similares, trocavam cartas, discutindo seus projetos. Perceberam que, se inventassem, se inovassem, poderiam abrir empresas e que patentes poderiam proteger suas novidades. Um exemplo clássico foi um novo perfil no filete 1 Nota do autor da apostila: Filósofo, Cientista e Diplomata, Francis Bacon MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 5 da rosca de um reles parafuso. O invento do senhor Joseph Whitworth é usado até hoje e foi um dos primeiros de uma série de muitos que o tornaram milionário. A sua magnífica casa virou um museu de tecnologia. Uma alternativa era associar-se a banqueiros. Quem passar na porta de um certo restaurante, no centro de Manchester, verá um cartaz dizendo que ali, na virada do século XX, se encontraram um mecânico e um banqueiro, com a finalidade de forjar uma sociedade. Um se chamava Rolls e o outro, Royce. Os tais mecânicos-leitores começam a inovar, criando bombas a vapor, teares e uma infinidade de pequenas invenções que permitem os grandes saltos subsequentes. O inventor do motor a vapor, James Watt, por haver feito um aprendizado em construção de instrumentos científicos, trabalhava como vidreiro da Universidade de Glasgow. Convivia, portanto, com Adam Smith e David Hume. São tais pontes com o mundo das ideias que fertilizaram as inovações. A primeira locomotiva de sucesso (1829), chamada Rocket, embarcava mais de 1000 patentes, registradas por mecânicos que, como Whitworth, viravam milionários. Portanto, os mecânicos-leitores foram diretamente responsáveis por uma das duas mais importantes transformações da humanidade. Sugestivo. pois não?” Autor: Claudio de Moura Castro. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 6 SUMÁRIO EQUIPE TÉCNICA - GRUPO MOTORES - CURSO MCI-T&P ......................................................... 2 EQUIPE - LabCET ............................................................................................................................... 2 PREFÁCIO ............................................................................................................................................. 3 PREFÁCIO 2 .......................................................................................................................................... 4 SUMÁRIO .......................................................................................................................................... 6 O Autor ............................................................................................................................................... 8 1 INTRODUÇÃO HISTÓRICA ÀS MÁQUINAS TÉRMICAS ................................................. 11 2 CRONOLOGIA DE EVENTOS HISTÓRICOS ....................................................................... 12 3 OS MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA (M.C.I) ............................................................. 14 4 CLASSIFICAÇÃO E PRINCÍPIOS OPERATIVOS (M.C.I) ................................................... 15 5 PARTES PRINCIPAIS (M.C.I) ALTERNATIVOS.................................................................. 16 5.1 FASES DOS (M.C.I.) CICLO OTTO DE 4 TEMPOS ................................................................... 17 6 CICLO DIESEL ......................................................................................................................... 19 7 DIAGRAMA PRESSÃO x VOLUME ...................................................................................... 20 8 EQUAÇÃO DA CILINDRADA E RELAÇÃO DE COMPRESSÃO ...................................... 22 9 NIKOLAUS OTTO .................................................................................................................... 24 10 RUDOLF DIESEL ................................................................................................................. 25 11 NICOLAS LÉONARD SADI CARNOT ............................................................................... 31 12 ALPHONSE BEAU DE ROCHAS ........................................................................................ 32 13 JEAN JOSEPH ÉTIENNE LENOIR ...................................................................................... 32 14 JOSEPH WHITWORTH ........................................................................................................ 32 15 THOMAS SAVERY .............................................................................................................. 33 16 THOMAS NEWCOMEN ....................................................................................................... 33 17 JAMES WATT ....................................................................................................................... 34 18 SISTEMAS DOS (M.C.I.) ALTERNATIVOS ...................................................................... 36 18.1 SISTEMAS DE ALIMENTAÇÃO ........................................................................................ 36 18.2 CARBURADORES ................................................................................................................ 36 18.3 A BOMBA ELÉTRICA ......................................................................................................... 37 18.4 SISTEMA DE IGNIÇÃO ....................................................................................................... 39 18.5 SISTEMA DE IGNIÇÃO TRANSISTORIZADO ................................................................. 40 18.6 VELA DE IGNIÇÃO ............................................................................................................. 40 19 SISTEMA DE VÁLVULAS ...................................................................................................... 41 20 SISTEMAS DE LUBRIFICAÇÃO ........................................................................................ 46 20.1 ANÉIS DE SEGMENTO .................................................................................................... 46 20.2 RETENTORES DE VÁLVULAS ...................................................................................... 46 21 SISTEMA DE TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA .................................................................. 47 22 SISTEMA DE ARREFECIMENTO ...................................................................................... 48 23 RELAÇÃO ESTEQUIOMÉTRICA ....................................................................................... 49 24 SONDA LAMBDA ................................................................................................................ 51 25 DETONAÇÃO .......................................................................................................................52 26 A GASOLINA PARA AVIAÇÃO ......................................................................................... 55 27 VELOCIDADE DE PROPAGAÇÃO DA CHAMA ............................................................. 56 28 AVANÇO DE IGNIÇÃO ....................................................................................................... 58 29 MELHOR APROVEITAMENTO DO TORQUE ................................................................. 59 30 TORQUE E POTÊNCIA ........................................................................................................ 61 31 DESEMPENHO DOS MOTORES ........................................................................................ 63 32 VOLATILIDADE .................................................................................................................. 65 33 OS VEICULOS DE 1000 CILINDRADAS ........................................................................... 67 34 O MOTOR FLEX E O GÁS NATURAL .............................................................................. 70 35 COMPONENTES ELETRÔNICOS ADAPTAÇÃO DE GNV ............................................. 71 36 COMPONENTES PARA INSTALAÇÃO DE GNV: corpo de borboleta – tbi .................... 72 MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 7 36.1 ESTUDO DE CASO ........................................................................................................... 74 36.2 COMENTÁRIOS ................................................................................................................ 75 37 AS GERAÇÕES DOS KITS PARA GNV ............................................................................. 76 38 CHUMBO TETRAETILA ..................................................................................................... 78 39 PRÉ-IGNIÇÃO ....................................................................................................................... 79 40 RELAÇÃO DE COMPRESSÃO (“TAXA DE COMPRESSÃO”) ....................................... 80 41 INJEÇÃO ELETRÔNICA ..................................................................................................... 81 42 RETIFICAÇÃO DE MOTORES ........................................................................................... 82 42.1 RETIFICAÇÃO DO BLOCO DE CILINDROS ................................................................ 82 42.2 BRONZINAS - DEFORMAÇÃO DOS MANCAIS .......................................................... 82 42.3 BRUNIMENTO .................................................................................................................. 83 42.4 MANUTENÇÃO ADEQUADA ........................................................................................ 83 43 TECNOLOGIA FLEXIBLE FUEL (Flex) ............................................................................. 84 44 COMBUSTÍVEIS ................................................................................................................... 86 45 PODER CALORIFÍCO .......................................................................................................... 87 46 RENDIMENTO TÉRMICO x RELAÇÃO DE COMPRESSÃO .......................................... 88 47 ÍNDICE DE OCTANO (OCTANAGEM) ............................................................................. 89 48 ÍNDICE DE CETANO ........................................................................................................... 90 49 MOTOR A GASOLINA VERSUS MOTOR DIESEL .......................................................... 91 50 COMBUSTÍVEL GASOLINA .............................................................................................. 92 51 GASOLINA PODIUM ........................................................................................................... 93 52 GASOLINA PREMIUM ........................................................................................................ 94 53 GASOLINA TIPO “A” .......................................................................................................... 95 54 GASOLINA TIPO “C” ........................................................................................................... 96 55 GASOLINA TIPO “C”ADITIVADA .................................................................................... 97 56 ÁLCOOL ETILICO ANIDRO COMBUSTIVEL (AEAC) ................................................... 98 57 ÁLCOOL ETILICO HIDRATADO (AEHC) ........................................................................ 99 58 COMBUSTÍVEL ÁLCOOL (METANOL) ......................................................................... 100 59 ATIVIDADE PRÁTICA: ANÁLISE DE QUALIDADE DA GASOLINA BRASILEIRA 101 60 GNV – Gás Natural Veicular ................................................................................................ 104 61 GNV – O Cilindro ................................................................................................................ 107 62 CAPACIDADE DOS CILINDROS ..................................................................................... 108 63 GNV – Válvula do Cilindro .................................................................................................. 109 64 GNV – Segurança; documentos; Cuidados. ......................................................................... 110 65 BIOCOMBUSTÍVEIS .......................................................................................................... 112 66 ÓLEOS VEGETAIS E BIODIESEL .................................................................................... 113 67 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 115 68 LABORATÓRIO DE MOTORES – Breve Histórico .......................................................... 116 APÊNDICE 1 .................................................................................................................................. 117 APÊNDICE 2 .................................................................................................................................. 119 TEMPO DE VIDA ÚTIL DO MOTOR ......................................................................................... 119 APÊNDICE 3 .................................................................................................................................. 121 DEFEITOS DO MOTOR QUANDO TERMINA A SUA VIDA MÉDIA ÚTIL. ......................... 121 APÊNDICE 4 .................................................................................................................................. 122 PROVA 3 DO CONCURSO VESTIBULAR UFSC-2014. ........................................................... 122 GLOSSÁRIO .................................................................................................................................. 130 AGRADECIMENTOS ................................................................................................................... 132 BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 133 MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 8 O Autor Gilson Nunes Maia Técnico responsável pelas atividades experimentais desenvolvidas no LabMotores desde 1987. Ministra o curso Motores a combustão, para a comunidade interna e externa a UFSC desde 1994; Atua no LabCET – Laboratório de Combustão eEngenharia de Sistemas Térmicos da Universidade Federal de Santa Catarina, desde 1999, como Coordenador das atividades experimentais e aulas práticas de laboratório, relacionadas com o uso racional de combustíveis convencionais, gasolina, gás natural, e renováveis como o biodiesel, bio-óleo e biogás, em máquinas térmicas e motores a combustão interna. Ministra as aulas práticas na disciplina Tópicos Especiais em Ciências Térmicas V, do curso de Engenharia Mecânica da UFSC; Atualmente é aluno do curso de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFSC. Gilson Maia - Praia do Campeche, verão 2012. B á r b a r a S c h i e m a n n MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 9 1 INTRODUÇÃO HISTÓRICA FILOSÓFICA “NINGUÉM É TÃO SÁBIO QUE NADA TENHA PARA APRENDER, NEM TÃO TOLO QUE NADA TENHA PRA ENSINAR”. Blaise Pascal Blaise Pascal nasceu em Clermont-Ferrand, uma pequena cidade na França, aos 19 de junho de 1623. Faleceu em Paris, aos 19 de agosto de 1662. Físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês. Concentrou suas pesquisas em campos como a teologia, a hidrostática, a geometria (Teorema de Pascal) e os estudos das probabilidades e da análise combinatória. A unidade de pressão do SI recebeu o nome de Pascal em sua homenagem. O princípio de Pascal aproveita os estudos da hidrostática, que mostram que num líquido a pressão se transmite igualmente em todas as direções. Então, podemos resumir o Princípio de Pascal assim: um aumento de pressão exercido num determinado ponto de um líquido ideal se transmite integralmente aos demais pontos desse líquido e às paredes do recipiente em que ele está contido. Uma das aplicações do princípio está nos sistemas hidráulicos de máquinas e pode ser observado também na mecânica dos sistemas de freios dos automóveis, onde um cilindro hidráulico utiliza um óleo para multiplicar forças e atuar sobre as rodas, freando o automóvel. Seguindo o programa de Galileu e Torricelli, Pascal refutou o conceito de "horror ao vazio". Os seus resultados geraram numerosas controvérsias entre os aristotélicos tradicionais. Atribui-se a ele algumas frases de efeito: Quanto mais conheço as pessoas, mais gosto do meu cão. Blaise Pascal Não tenho vergonha de mudar de ideia, porque não tenho vergonha de pensar. Blaise Pascal O coração tem razões que a própria razão desconhece. Blaise Pascal MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 10 2 CONHECIMENTO E SABEDORIA CONHECIMENTO E SABEDORIA (autor desconhecido) Dois discípulos procuraram um mestre para saber a diferença entre Conhecimento e Sabedoria. O mestre disse-lhes: Amanhã, bem cedo, coloquem dentro dos sapatos vinte grãos de feijão, dez em cada pé. Subam, em seguida, a montanha que se encontra junto a esta aldeia, até o ponto mais elevado, com os grãos dentro dos sapatos. No dia seguinte os jovens discípulos começaram a subir o monte. Lá pela metade um deles estava padecendo de grande sofrimento: seus pés estavam doloridos e ele reclamava muito. O outro subia naturalmente a montanha. Quando chegaram ao topo um estava com o semblante marcado pela dor; o outro, sorridente. Então, o que mais sofreu durante a subida perguntou ao colega: - Como você conseguiu realizar a tarefa do mestre com alegria, enquanto para mim foi uma verdadeira tortura? O companheiro respondeu: - Meu caro colega, ontem à noite cozinhei os vinte grãos de feijão. É comum que se confunda Conhecimento com Sabedoria, mas essas são coisas bem diferentes. Se prestarmos atenção, podemos verificar que a diferença é clara e visível. O Conhecimento é o somatório das informações que adquirimos, é a base daquilo que chamamos de Cultura. Podemos adquirir Conhecimento sem sequer vivermos uma experiência fora dos livros e das aulas teóricas. Podemos nos tornar Cultos sem sairmos da reclusão de uma biblioteca. Já a Sabedoria, por outro lado, é o reflexo da vivência, na prática, quer pela experimentação, quer pela observação, da utilização dos conhecimentos previamente adquiridos. Para se ser Sábio é preciso viver, experimentar, ousar, ponderar, amar, respeitar, ver e ouvir a própria vida. É preciso buscar, sim, o conhecimento, a informação. Deve-se atentar para não se tornar alguém fechado em si mesmo e no próprio processo de aprendizado. Fazer isso é o mesmo que iniciar uma viagem e se encantar tanto com a estrada a ponto de se esquecer para onde se está indo. E isso não parece ser uma atitude muito sábia. Então, sejamos Sábios: vivamos, amemos e compartilhemos o que há em nossos corações! E que saibamos cozinhar nossos feijões... http://pt.slideshare.net/rosanabc/conhecimento-e-sabedoria-historia-dos-gros-de-feijao MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 11 3 INTRODUÇÃO HISTÓRICA ÀS MÁQUINAS TÉRMICAS O homem sempre buscou inventar aparelhos que facilitassem as tarefas diárias. Dominar o fogo até a observação das transformações que ele proporcionava, não foi tarefa difícil. A maioria delas surgiu por acaso. Os primeiros procedimentos envolvendo expansão dos gases para obter movimento, remontam ao século 62 d.C. onde Herão de Alexandria, engenheiro que contribuiu para o desenvolvimento da matemática e a geometria, ficou conhecido também por ter inventado um aparato capaz de movimentar-se pela expansão dos gases aquecidos em seu interior e, conforme historiadores, esse aparato representa o primeiro motor a vapor que se tem notícias. A “bola de vento”, ou Eolípila de Herão, que convertia energia térmica em movimento mecânico, e assim pode ser considerado um motor, o primeiro acionado por vapor. A origem das máquinas térmicas pode estar relacionada a uma máquina primitiva que utilizava material sólido convencional como fonte primária de calor, tal como o combustível a partir da madeira seca. Ao aquecer a água do recipiente produz-se vapor no interior de um tanque contiguo cilíndrico e fechado. A tecnologia antecipava-se à ciência porque não havia base teórica para a compreensão e o aprimoramento dessas máquinas. Nunca teve qualquer aplicação prática, mas seus princípios básicos são fundamentos da engenharia moderna. O princípio de funcionamento pode associar-se a terceira lei de Newton da ação e reação: O vapor de água ao ser expulso fazia com que aquele aparato girasse num sentido de rotação, em torno de seu próprio eixo. Movimento semelhante pode ser associado aos modernos irrigadores de jardim, que funcionam com água. O canhão, não se sabe ao certo, pode ter sido inventado pelos Chineses ou Mouros por volta de 1305 e, seguramente, tratava-se de uma máquina térmica muito eficiente, a energia gerada, utilizando pólvora como combustível, tinha grande poder destrutivo e o processo, de difícil controle, uma vez iniciado seria impossível interromper ou introduzi-lo em um ciclo. O desenvolvimento dos motores térmicos se baseou em princípios termodinâmicos envolvendo principalmente os conceitos de pressão, temperatura, volume, trabalho, calor e energia entre outros. Utilizando esses conceitos e baseados em observações experimentais,alguns teóricos do século XIX desenvolveram trabalhos com o intuito de construírem motores próximos do rendimento térmico de uma máquina de Carnot. O Físico e engenheiro militar Nicolas Leonard Sadi Carnot (1796-1832), nasceu em Paris, e publicou em 1824 seu livro Reflexões Sobre a Potência Motriz do Fogo. Carnot propõe teoria sobre as máquinas térmicas, e descreve um ciclo ideal que é capaz de proporcionar o Máximo rendimento. Dentre esses pesquisadores destacamos Nikolaus Otto, Rudolf Diesel e Alphonse Beau de Rochas. Figura 2 Canhão. Fonte: www.forte.jor.br Figura 1 Eolípila. Fonte: www.fisica-interessante.com MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 12 4 CRONOLOGIA DE EVENTOS HISTÓRICOS INVENTORES PAÍS NASCIMENTO MORTE IDADE FEITO Herão de Alexandria Grécia 10 d.C. 70 d.C. 60 60 d.C. Eolípila de Herão. (52 anos) Chineses e Mouros séc. XIII – séc. XIV 1305 Invenção do Canhão Otto Von Guericke Alemanha 1602 1686 84 1650 Projetou e construiu bomba de vácuo - princípios da eletrostática (48 anos) Blaise Pascal França 1623 1662 39 1647 Influenciado pelas experiências de Torricelli, enunciou os primeiros trabalhos sobre o vácuo e demonstrou as variações da pressão atmosférica. Desenvolveu extensivas pesquisas utilizando sifões, seringas, foles tubos de vários tamanhos e formas e com líquidos como água, mercúrio, óleo, vinho, ar, no vácuo e sob pressão atmosférica. A unidade de pressão do SI recebeu o nome de Pascal em sua homenagem. Refutou o conceito de "horror ao vazio".(24 anos) Robert Boyle Irlanda 1627 1691 64 1665 Ciente dos experimentos de Guericke, e com Robert Hooke, construiu bomba de ar. Estabeleceu correlação entre pressão, temperatura e volume. Formulou a Lei de Boyle. Estabelece que a pressão e o volume são inversamente proporcionais. (28 anos) Denis Papin França 1647 1712 65 1679 Baseado nos conceitos de Boyle, Denis Papin constrói forno de pressão (marmita de Papin). Vaso fechado hermeticamente confinava o vapor alta pressão. Projetos posteriores incluíram válvula de alívio de pressão. (32 anos) Thomas Savery Inglaterra 1650 1715 65 1698 Descobriu maneiras de utilizar o vapor e sua energia para bombear água de um poço. Baseado em Denis Papin, e as observações de Torricelli sobre o vácuo e as de Della Porta sobre a capacidade de elevação da sucção, além da técnica de condensação proposta por Thornton. Sua pioneira máquina a vapor realmente prática possuía válvulas operadas manualmente. (48 anos) Thomas Newcomen Inglaterra 1663 1729 66 1712 - Considerado pai da máquina a vapor, Newcomen instalou uma maquina para drenar agua das minas de carvão MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 13 James Watt Escócia 1736 1819 83 1765 – Inventou a máquina a vapor com menos perdas de energia e que também poderia gerar movimentos circulares. Patenteou-a em 1769. Aumentou a eficiência em 75% em relação à máquina de Newcomen. (29 anos) Benjamin Thompson (Conde Rumford ) E.U.A. Inglaterra 1753 1814 61 1791 - Canhão de Rumford – Calor e Trabalho (38 anos) Nicolas Leonard Sadi Carnot França 1796 1832 36 1824 – livro Reflexão. Sobre Potência Motriz do Fogo. (28 anos) Alphonse Beau de Rochas França 1815 1893 78 1859 - princípios motor comb. interna 4 tempos. (44 anos) Jean Joseph Étienne Lenoir Bélgica 1822 1900 78 1859 - desenvolveu o motor de combustão interna. (37 anos) Nikolaus Otto Alemanha 1832 1891 59 1859 - Inventou os motores de ignição por centelha. (27 anos) Rudolf Diesel Alemanha 1858 1913. 55 1885 - Inventou motores ignição por compressão. (27 anos) Karl Friedrich Benz Alemanha 1844 1929 85 É o inventor (com Gottlieb Daimler) do automóvel movido a gasolina como o conhecemos atualmente. (42 anos) Gottlieb Wilhelm Daimler Alemanha 1834 1900 66 1886 - Cientista e pesquisador alemão, cujos trabalhos com os motores de combustão a gasolina, culminaram na invenção e desenvolvimento do automóvel (52 anos) MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 14 5 OS MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA (M.C.I) Os motores térmicos são equipamentos em que se utilizam princípios termodinâmicos, para transformar a energia química encerrada no interior dos combustíveis, em energia térmica, que por sua vez, é convertida em energia mecânica diretamente utilizável, num eixo rotativo. A combustão é uma reação química exotérmica que combina combustivel e comburente liberando calor. Nos motores a combustão interna, a energia calorífica originária da queima dos combustíveis no interior das câmaras de combustão, dá origem a energia mecânica, deslocando seu êmbolo do ponto morto superior (pms) ao ponto morto inferior (pmi), que por estar acoplado a uma biela e esta a um girabrequim, descreve um movimento alternativo de vai-e-vem dando origem ao movimento de rotação. Referidas máquinas térmicas têm no produto da combustão os próprios executores de trabalho. A combustão se processa no próprio fluido operante, por isso são classificados como motores de combustão interna de movimento alternativo. 6 PROCESSOS DE CONVERSÃO DE ENERGIA Característica essencial da energia. Capacidade de conversão entre suas diversas formas: radiação, química, nuclear, térmica, mecânica, elétrica e magnética. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 15 7 CLASSIFICAÇÃO E PRINCÍPIOS OPERATIVOS (M.C.I) Os motores podem ser classificados de acordo com seus sistemas de ignição do combustível, e ciclo operativo. • Ignição por centelha ICE; • Ignição por compressão ICO; • Ciclo operativo de 4 tempos; • Ciclo operativo de 2 tempos; A figura abaixo ilustra uma divisão utilizada para motores térmicos: Figura 3 – Divisão classificatória para Motores Térmicos. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 16 8 PARTES PRINCIPAIS (M.C.I) ALTERNATIVOS Figura 4 – Partes principais dos motores de combustão interna alternativos. Os motores de 4t dividem- se em três principais partes: cabeçote, bloco de cilindros e cárter. Para os motores de 2t, utilizamos a nomenclatura de: tampa do cilindro, cilindro (ou bloco de cilindros, quando houver mais de um) e cárter. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 17 8.1 FASES DOS (M.C.I.) CICLO OTTO DE 4 TEMPOS O termo fase pode ser associado a transformações químicas, por isso alguns autores preferem utilizar a palavra processo para designaro movimento dos pistões que descrevem o ciclo. 1ºfase: admissão (ou processo) O movimento do pistão ou êmbolo tem seu início por ação de uma força que tanto pode ser muscular ao movimentar-se uma manivela acoplada ao sistema, bem como um motor elétrico ou outra qualquer. Na fase de admissão o pistão desloca do ponto morto superior (pms) ao ponto morto inferior (pmi) aspirando o ar e o combustível através da válvula de admissão. Para alguns projetos de motores modernos, da atualidade, adota-se o sistema de injeção direta. Esta proposta determina que na fase de admissão, seja aspirado somente ar. O combustível é injetado no final do curso da compressão 2ºfase: compressão (ou processo) Com a energia do movimento armazenada, o pistão desloca do ponto morto inferior (pmi) ao ponto morto superior (pms). No início do movimento a válvula de admissão se fecha e o pistão começa a comprimir o ar e o combustível na câmara de combustão, que dependendo do projeto do motor e do combustível que se vai utilizar, podem ser fabricados com relações de compressão da ordem de 8 a 16:1 ( relação de compressão ideal para motores dedicados a gás natural comprimido 16:1 leia-se dezesseis para um). 3º fase: expansão (ou processo) Nesta fase as válvulas de admissão e escape estarão fechadas e a alguns poucos graus antes do pistão alcançar o ponto morto superior (pms), tem início a queima da mistura ar/combustível, originada por ação de uma centelha entre os eletrodos da vela de ignição. Nesta fase alcançam-se temperaturas e pressões da ordem de 800ºC a 1000ºC e de 60 kgf/cm2 a 80 kgf/cm2 respectivamente. A queima total ocorrerá a alguns graus após o ponto morto superior (pms) dando origem a “fase força do motor”, as outras são “fases passivas” que consomem energia do ciclo. Com essa força o pistão é deslocado ao ponto morto inferior (pmi) armazenando sua energia em contrapesos e um volante, previamente dimensionados, para devolvê-la nas fases subsequentes (fases passivas) e contribuindo para balancear o sistema. 4º fase: descarga (ou processo) Antes de o pistão atingir o ponto morto inferior (pmi), condição que irá originar a quarta fase, a válvula de escape se abre, permitindo a saída de uma parte dos gases da combustão que se encontram sob pressão, maior do que a pressão atmosférica. Ao deslocar-se para o ponto morto superior (pms), o pistão expulsa o resto dos gases que não servirão mais para a combustão sob pena de que, se ficar algum resíduo desse gás, agora inerte, ele irá interferir na próxima fase impedindo o enchimento total do cilindro com mistura nova. Assim termina o ciclo do motor de quatro tempos (4t) descrevendo quatro fases em quatro movimentos, totalizando 720º de giro do virabrequim. (A saber: o motor de dois tempos (2t) do ciclo Otto, também descreve as quatro fases, porém em dois movimentos, a 360º, com uma volta no virabrequim, ou girabrequim). MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 18 Figura 5 – Fases de um motor do ciclo Otto 4t. O estudo termodinâmico para descrever o ciclo acima, permite identificar o ciclo Otto teórico e o ciclo Otto real ou indicado. Teoricamente, as quatro fases são realizadas existindo somente ar no interior do cilindro. Não existe combustão, porém existe uma adição instantânea (hipotética) de calor entre a fase 2 e a fase 3. Já o ciclo Otto real ou indicado é obtido através de medições em motores sob condições normais de funcionamento. Mostra a irreversibilidade e perdas de energia não computados no ciclo teórico. 1ª FASE 2ª FASE 3ª FASE 4ª FASE MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 19 9 CICLO DIESEL As fases dos motores do ciclo Otto, como princípio de funcionamento, são semelhantes ao do ciclo Diesel, mas há uma grande diferença. No ciclo Otto a mistura ar/combustível ainda que comprimida, precisa de uma centelha para dar início ao processo de queima. Já nos motores Diesel, a mistura é substituída por ar puro na fase de admissão, e é comprimida a uma razão bem maior que nos do ciclo Otto (16:1 a 24:1 para o ciclo Diesel). Essa maior compressão dá origem a uma elevação significativa da temperatura que, combinada com o Diesel, pulverizado através de pequenos jatos e a alta pressão, iniciam o processo de combustão espontânea, isto evita o efeito de detonação que ocorre com o combustível nos motores do ciclo Otto, aumentando significativamente o rendimento volumétrico do motor Diesel. Outras características dos gases de escape dos motores Diesel são os altos índices alcançados pela temperatura do fluído e pela pressão na câmara de combustão: de 600ºC a 800ºC e de 65 kgf/cm2 a 80 kgf/cm2, respectivamente. Figura 6 – Fases de um motor do ciclo Diesel. A diferença básica entre os ciclos teóricos Otto e Diesel consistem, no caso do Otto, que o calor é adicionado ao ciclo sob volume constante, e para o Diesel que o calor é fornecido a pressão constante. Isso muda a relação entre o calor fornecido ao ciclo e o aumento de temperatura dos gases na câmara de combustão e consequentemente a pressão no interior do cilindro. Os motores Diesel têm rendimento superior aos motores Otto, pois trabalham sob uma maior relação de compressão. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 20 10 DIAGRAMA PRESSÃO x VOLUME Podemos observar as duas formas das curvas relacionadas ao ciclo Otto teórico e o ciclo Otto real. No diagrama mais afastado da curva identificamos o ciclo ideal que está associado a motores de ignição por centelha que necessitam de uma faísca para a ignição da mistura (figura 4). No ciclo podemos distinguir as seguintes fases: Compressão adiabática do fluido do motor fornecendo energia imediata a volume constante, expansão adiabática e transferência instantânea de energia a volume constante (figura 3). O ciclo real se diferencia do teórico pelo fato de que as linhas retas do diagrama são substituídas por linhas curvas e cantos arredondados, ou seja, a temperatura e a pressão máxima e o rendimento global é mais baixo que no ciclo teórico. a) Ciclo Ideal O combustível, durante a passagem pelo motor, é submetido a uma série de transformações químicas e físicas, (compressão, combustão, expansão, transmissão de calor com as paredes do cilindro, atrito viscoso devido à presença das paredes, etc.), condições que constituem o ciclo do motor e determinam a sua eficiência. Um exame quantitativo teórico desses fenômenos, levando em conta todas as variáveis, representa um problema muito complexo. Por este motivo, se recorre a diferentes hipóteses simplificativas. Para os ciclos termodinâmicos as aproximações às condições reais normalmente empregadas referem-se ao ciclo ideal. b) Ciclo Real Na prática, se comparam estes ciclos idealizados aos ciclos reais, obtidos em medições no motor. Historicamente, estas medições eram obtidas por equipamentos mecânicos dotados de um sensor de pressão por mola, ligado rigidamente a um traçador contínuo em rolo de papel denominado indicadores e, por esta razão, o ciclo real se chama também ciclo indicado. Ainda que os ciclos ideais não reproduzam exatamente os ciclos reais, eles constituem uma referência útil para o estudo termodinâmico, bemcomo para comparação de motores. Legendas: – introdução instantânea de calor – subtração instantânea de calor W – trabalho realizado pelo pistão P – pressão V – volume Patm. – Pressão atmosférica Figura 3. Diagrama PxV. Ciclo Otto ideal MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 21 O ciclo real se obtém experimentalmente por meio de sensores de pressão cujo sinal permite desenhar o diagrama de pressão versus volume, de um cilindro-motor funcionando. (Oliveira Junior, Amir Antônio Martins, 2011 UFSC) O diagrama indicado reflete as condições reais do ciclo e, portanto leva em conta também as perdas de calor, a duração da combustão, as perdas causadas por atrito viscoso no fluido, o tempo finito de abertura e fechamento de válvulas, o transvasamento dos gases, enquadramento da distribuição, trocas de calor entre gases e paredes dos cilindros, câmaras, perdas por “blow-by” entre outros. c) Diagrama Pressão versus Volume No diagrama pressão versus volume dos motores de combustão interna identificam-se as diferenças entre o ciclo ideal e o ciclo indicado correspondente, tanto na forma do ciclo quanto nos valores de pressão. As principais diferenças estão relacionadas às perdas de calor para o bloco do motor, que no ciclo ideal são nulas2, a duração da combustão, que no ciclo ideal se supõe realizar instantaneamente a volume constante e aos processos de admissão e exaustão, que no ciclo ideal ocorrem com a abertura instantânea das válvulas e na ausência de perdas de carga por atrito viscoso. No ciclo real, a subtração de calor, que corresponde à exaustão, ocorre durante um tempo relativamente grande. A válvula de escape tem que abrir-se com antecipação para, usando a pressão interna ainda relativamente alta, impulsionar a mistura queimada para fora do cilindro, e dar tempo para que a maior parte dos gases saia do cilindro, antes do pistão atingir o ponto morto inferior (PMI), de modo a baixar a pressão dentro do cilindro, reduzindo o trabalho negativo executado pelo pistão no seu curso em direção ao ponto morto superior (PMS). A figura abaixo identifica as diferenças entre os ciclos ideal e real. Como pode se observar o ciclo indicado ou real, se sobrepõe ao teórico. O trabalho útil executado pelo motor corresponde à área dentro do laço no diagrama PxV. Observa-se na figura abaixo que o trabalho útil realizado no ciclo real, devido aos fatores listados acima, é menor que o previsto pelo ciclo Otto ideal. 2 O ciclo ideal somente considera entrada de calor na combustão e saída de calor na exaustão Legenda: A – Perdas de calor para o cilindro. B – Perda trabalho útil. Antecipação da centelha C – Perda trabalho útil. Antecipação válvula escape D – Superfície negativa. Trabalho de bombeamento P – Pressão V – Volume Patm. Pressão atmosférica. PMS – ponto morto superior PMI – ponto morto inferior Figura 4: Diagrama PxV. Diferenças entre o ciclo Otto ideal e o ciclo real (indicado) MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 22 11 EQUAÇÃO DA CILINDRADA E RELAÇÃO DE COMPRESSÃO Volume da cilindrada é o volume obtido pelo deslocamento do pistão do pms, ao pmi. Relação de compressão é relação existente entre o volume inicial e o volume final no processo de compressão da mistura. a) Os Motores Automotivos Um motor automotivo de combustão interna, como se conhece, converte a energia química de um combustível em potência de eixo que, por sua vez, é utilizada para movimentar o veículo. Essa conversão de energia química se dá pela queima do combustível. Para que um combustível queime, ele precisa ser misturado com um comburente em determinadas proporções. O comburente utilizado é o oxigênio, abundante no ar atmosférico. A queima do combustível em um motor automotivo se dá na câmara de combustão. Os cilindros dos motores são câmaras com volume variável devido ao movimento do pistão. Quando o pistão se encontra no ponto morto superior, o volume do cilindro é mínimo; reciprocamente, no ponto morto inferior, o volume é máximo. A soma dos volumes máximos dos cilindros define a capacidade cúbica do motor, ou cilindrada. Um motor 1.4, conforme referência comercial que determina o tamanho do motor. Se for dotado de quatro cilindros, significa que sua capacidade cúbica é de 1.4 litros, e que cada cilindro tem 350 mililitros de volume deslocado aproximadamente. b) Rendimento Volumétrico O rendimento volumétrico (ηv) pode ser interpretado como a massa de ar e combustível realmente admitido, dividido pela massa teórica admitida. O desempenho do motor está diretamente relacionado com sua capacidade de encher seus cilindros com ar. De fato, é a expansão do ar no interior dos cilindros que movimenta os pistões. A expansão do ar é obtida pela queima do combustível nele misturado. A queima da mistura promove um drástico aumento da temperatura, fazendo com que seu volume aumente proporcionalmente. Portanto, quanto mais ar dentro dos cilindros, melhor o desempenho do motor. Visando maximizar a admissão de ar nos cilindros, várias tecnologias surgiram, tais como motores com quatro e cinco válvulas por cilindro, turbos compressores e compressores mecânicos. Entretanto, a quantidade de ar nos cilindros não está relacionada com seu volume, mas com sua massa. Assim, quanto mais denso o ar, maior a massa de ar admitida no cilindro. É por isso que um motor funcionando ao nível do mar tem desempenho superior do que se funcionasse em elevadas altitudes. Onde: ρ – relação de compressão; Vi – volume inicial; Vf – volume final; Vcc – volume da câmara de combustão; Vc – volume da cilindrada. Onde: Vc - volume da cilindrada; Z – número de cilindros; D – diâmetro do cilindro; L – curso do pistão. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 23 A partir do que precede fica evidente que a massa de combustível e a quantidade de ar que se introduz no cilindro devem ter uma relação rigorosa, exata, e que a energia oferecida pelo motor depende principalmente da quantidade de ar e combustível utilizados. Quanto maior o volume de ar admitido no cilindro, tanto maior resulta a quantidade de combustível que pode queimar-se, e em consequência, maior é a energia que produz o motor. O rendimento volumétrico indica o maior ou o menor grau de enchimento do cilindro. Define-se como a relação entre o peso efetivo de ar, introduzido no cilindro durante a unidade de tempo que o pistão leva do ponto morto superior, em direção ao ponto morto inferior, e o peso de volume do ar que teoricamente deveria introduzir-se ao mesmo tempo, calculando a base da cilindrada unitária, e as condições de temperatura e pressão no cilindro. c) Rendimento Térmico de Uma Máquina. O rendimento térmico efetivo pode ser calculado considerando-se a quantidade de calor introduzido num sistema (Q1) e a quantidade de calor retirado (Q2) desse mesmo sistema. Onde: ηte = Rendimento Térmico efetivo Q1 = Calor adicionado (fornecido ao sistema) Q2 = Calor retirado (eliminado pelo sistema) O rendimento térmico de um motor do ciclo Ottoé a relação entre a quantidade de calor fornecida ao sistema e o que efetivamente se transforma em trabalho. Pela segunda lei da termodinâmica, nenhum motor real poderá converter todo o calor fornecido em trabalho mecânico. (Penido, 1983) MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 24 12 NIKOLAUS OTTO Nikolaus A. Otto, nasceu em Holzhausen a 10 de junho de 1832, e morreu em Colônia aos 26 de janeiro de 1891. O seu motor com carga comprimida, conforme designação à época fundou a tecnologia, os conhecimentos e os princípios científicos dos motores em todo o mundo. Por volta de 1850, Otto trabalhava como representante comercial vendendo produtos como arroz, açúcar, café e chá. Porém, o jovem Otto tinha uma grande fascinação por objetos mecânicos, e em 1860 ele ouviu falar do francês Jean-Joseph Ethienne Lenoir, que vinha sendo bem sucedido em seus experimentos com motores a combustão interna. “Com vigoroso entusiasmo ele pensou dia e noite naquele assunto” como escreveu Kurt Rathke na biografia de Otto. Ele tinha planos entusiásticos para o futuro, todos voltados para a utilização dos motores a gasolina e suas aplicações. De acordo com Rathke, Otto foi inspirado, nas suas observações do deslocamento das fumaças pelas chaminés. Ele julgava que o lugar da explosão no motor a gasolina poderia ser comparado com o que ele observara nas chaminés quando recebia uma mistura rica de combustível. Sua ideia foi deixar apenas o ar fresco entrar primeiro e depois sair os gases da descarga dentro do tempo de trabalho previsto, somente então a mistura de gasolina seria introduzida. As primeiras tentativas de Otto em construir um motor a combustão falharam, mas impressionaram Eugen Langen, um técnico e proprietário de fabrica de açúcar, que aceitou Otto como sócio. Os dois homens fundaram a N.A.Otto&Cia., a primeira companhia de motores do mundo e precursora das atuais. Deutz AG., Gottlied Daimler e Wilhelm Maybach uniram-se mais tarde a companhia. Lenoir construiu o primeiro motor de combustão interna comercialmente viável em 1859. Dois anos depois Alphonse Beau de Rochas fundou os princípios dos motores de quatro tempos, mas foi Otto que em 1876 construiu o primeiro motor viável de alta compressão, de quatro tempos com sistema de ignição. Otto patenteou sua construção em 1877. Ele jamais se envolveu diretamente na construção de carros, mas seu motor de carga comprimida marcou o iniciou de uma era de pioneirismo e fundamenta a construção dos motores modernos. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 25 13 RUDOLF DIESEL A invenção dos motores que levam seu nome notabilizou Rudolf Diesel, que além de notável teórico da mecânica foi homem de ampla cultura, conhecedor de arte e pesquisador de questões linguísticas e das teorias sociais da época. As leis da termodinâmica fascinavam Rudolf Diesel. Ele via nelas um caminho para salvar a sociedade e proteger os pequenos trabalhadores artesãos. Rudolf Christian Karl Diesel nasceu em Paris, a 18 de março de 1858, em uma família alemã imigrada, e lá viveu até 1870, ano em que foi deportado para o Reino Unido devido à eclosão da guerra franco-prussiana. Em 1885, o engenheiro alemão Daimler construiu o primeiro motor a combustão interna capaz de mover um veículo com razoáveis condições de segurança e economia, começou uma corrida em busca de aperfeiçoamentos que duram até hoje. De Londres, Diesel viajou para Augsburgo, onde prosseguiu os estudos, completados na Universidade Técnica de Munique. Ali se revelaria notável pesquisador. Diesel dedicou-se ao desenvolvimento de um motor a combustão interna que se aproximasse ao máximo do rendimento teórico proposto pelo físico francês Sadi Carnot. Em 1890 concebeu a ideia que mais tarde resultaria no motor, diesel cuja patente obteve em 1892. No ano seguinte publicou uma descrição teórica e prática de seu mecanismo no livro Theorie und Konstruktioneines rationellen Wärmemotors, (teoria e construção de um motor térmico racional). Em 1894, Diesel resolve simplificar o princípio de funcionamento do motor a explosão. Nasceu assim o motor diesel que eliminou a necessidade de um circuito elétrico relativamente complicado, para iniciar a combustão da gasolina. Nesse tipo de motor o combustível, óleo diesel, queima por ação do calor que se origina quando o ar é extremamente comprimido no interior da câmara de combustão. O motor teve êxito imediato, sendo largamente utilizado em navios, veículos automotores e dirigíveis. Em 1900, Diesel foi para os Estados Unidos, onde tinha grande prestigio, mas arruinou- se em maus negócios e voltou a Europa. Ao que parece Diesel morreu ao cair ao mar durante uma travessia do Canal da Mancha, de Antuérpia para Londres em 29 de setembro de 1913. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 26 14 BLAISE PASCAL Blaise Pascal nasceu em Clermont-Ferrand, uma pequena cidade na França, aos 19 de junho de 1623. Faleceu em Paris, aos 19 de agosto de 1662. Físico, matemático, filósofo moralista e teólogo francês. O princípio de Pascal aproveita os estudos da hidrostática, que mostram que num líquido a pressão se transmite igualmente em todas as direções. Podemos resumir o Princípio de Pascal assim: um aumento de pressão exercido num determinado ponto de um líquido ideal se transmite integralmente aos demais pontos desse líquido e às paredes do recipiente em que ele está contido. Uma das aplicações do princípio está nos sistemas hidráulicos de máquinas e pode ser observado também na mecânica dos sistemas de freios dos automóveis, onde um cilindro hidráulico utiliza um óleo para multiplicar forças e atuar sobre as rodas, freando o automóvel. Blaise Pascal era filho de Étienne Pascal, professor de matemática, e de Antoinette Begon. Blaise Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo, ampliando o trabalho de Evangelista Torricelli. É ainda o autor de uma das primeiras calculadoras mecânicas, a Pascaline, e de estudos sobre o método científico. Como matemático, interessou-se pelo cálculo infinitesimal, pelas sequências, tendo enunciado o princípio da recorrência matemática. O cálculo diferencial e integral de Newton e Leibniz que seria a base da física moderna foi inspirado em um tratado publicado por Blaise Pascal sobre os senos num quadrante de um círculo onde buscou a integração da função seno, que também viria a ser a base da matemática moderna. Criou um tipo de máquina de calcular que chamou de La pascaline (1642), uma das primeiras calculadoras mecânicas que se conhece, conservada no museu de Artes e Ofícios de Paris. Anders Hald escreveu: "Para aliviar o trabalho do seu pai como agente fiscal, Pascal inventou uma máquina de calcular para adição e subtração assegurando sua construção e venda." Seguindo o programa de Galileu e Torricelli, refutou o conceito de "horror ao vazio". Os seus resultados geraram numerosas controvérsias entre os aristotélicostradicionais. 15 OTTO VON GUERICKE Otto von Guericke nasceu em 20 de novembro de 1602 na cidade de Magdeburg e morreu em 11 de maio de 1686 em Hamburgo. Durante trinta anos foi o burgomestre de Magdeburgo. Otto von Guericke estudou matemática e direito na Universidade de Leiden antes de trabalhar como engenheiro na Alemanha. Guericke foi um defensor da ideia de que o vácuo existia. A idéia mais aceita na época era ainda a de Aristóteles, segundo a qual a natureza teria horror ao vácuo, preenchendo imediatamente, a todo custo, qualquer espaço que fosse deixado sem matéria. Guericke acreditava que as evidências valiam mais que a MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 27 argumentação teórica e conseguiu criar um experimento para provar sua crença. Em 1650, construiu, com grandes despesas, uma bomba de ar. Esse aparelho, impulsionado por força muscular, consistia basicamente num cilindro dentro do qual corria um êmbolo. Ao ser puxado, o êmbolo rarefazia o ar no interior do cilindro. Não era um vácuo perfeito, mas era o suficiente para que Guericke demonstrasse que nele uma vela não queimava, pequenos animais não sobreviviam e o som de um sino, quando ali produzido, não podia ser ouvido no exterior. Em outra experiência, mostrou que, devido à pressão do ar externo, o êmbolo era empurrado de volta para o interior do cilindro e nem mesmo o esforço de 50 homens era o suficiente para vencer essa força. Sua experiência mais famosa, porém, foi feita em 1654. Guericke construiu dois hemisférios metálicos que se encaixavam perfeitamente. Ao remover o ar do interior da esfera assim formada, os hemisférios se mantinham unidos, não sendo possível separá-los nem com o esforço de diversos cavalos. (Foi graças aos estudos de Torricelli, com os quais teve contato, que Guericke conseguiu relacionar todos esses fenômenos com a pressão exercida pela atmosfera.) Criou também uma máquina eletrostática, constituída por uma esfera de enxofre que podia ser girada em torno de um eixo enquanto era friccionada com sua mão. O atrito fazia a esfera acumular eletricidade estática, que podia ser descarregada na forma de faíscas. O que o levou a criar esse aparelho foram as pesquisas de Gilbert, feitas em 1672, sobre a eletrização por atrito. Numa carta ao matemático alemão Leibniz, Guericke descreveu os resultados que obteve. 16 ROBERT BOYLE Filho mais velho de Richard Boyle, primeiro Conde de Cork, um dos homens mais ricos e influentes da Grã- Bretanha. Sua formação foi tradicional: em parte em casa, em parte no Eton College, complementado por viagens a França, Itália e Suíça. É durante esta estada no continente que se converteu religiosamente, o que ele comentou muito na sua autobiografia. Voltou à Inglaterra em 1644 e começou uma carreira de escritor no campo da moral e da filosofia e da religião. Em 1649- 50, as suas preocupações mudam. Ele constrói um laboratório na sua casa em Sailbridge e se descobre um entusiasta da experimentação, o que mudará sua carreira. Ele também é atraído pela química, notadamente no seu tratado "Of the Atomicall Philosophy" onde aparecem ideias atomísticas. Emite também críticas ao "Químico Vulgar", aquele que não tem um método filosófico para estudar a natureza. Nas reuniões, ele estudou os filósofos naturais continentais como Pierre Gassendi e Descartes. Ele declara que a figura que mais lhe fez entender a filosofia de Descartes foi Robert Hooke, que o apoiou nas principais experiências. É com este último que montou os seus principais equipamentos e que estudou a natureza do ar: a câmara de vácuo e a bomba de ar. Durante esta estadia em Oxford, antes de sua ida para Londres em 1668, sua atividade literária foi intensa. A lista das publicações é grande e elas foram feitas pela recente criada Royal Society nas "Philosoficals Transactions" cujo primeiro secretário, Henry MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 28 Oldenburg, iniciou em 1665. Suas obras foram também publicadas em latim, que era a língua científica da época. Boyle multiplicou as obras experimentais durante a vida inteira.Sua obra a mais notável é "Experiments, Notes, &c., about the Mechanical Origin or Production of Divers Particular Qualities (1675)". Publicou também obras de Medicina como "Memoirs for the Natural History of Human Blood (1684)". Nas duas últimas décadas de sua vida publicou trabalhos de Teologia como "Excellency of Theology, Compared with Natural Philosophy(1674) ". 17 DENIS PAPIN Denis Papin, nascido em 22 de agosto de 1647, em Blois, na França, morreu em Londres, em 1712 na Inglaterra. O físico britânico nascido na França, inventou a panela de pressão e sugeriu a utilização do primeiro cilindro e pistão do motor de vapor. Embora seu projeto não era prático, foi melhorada por outros e levou ao desenvolvimento da máquina a vapor, uma grande contribuição para a Revolução Industrial. Papin foi assistente do físico holandês Christiaan Huygens com seus experimentos de bomba de ar e foi para Londres em 1675 para trabalhar com o físico Inglês Robert Boyle. Frequentou uma escola jesuíta em Blois e a partir de 1661 a Universidade Angers, onde se formou em Medicina, no ano de 1669. Enquanto trabalhava com Christiaan Huygens e Gottfried Leibniz em Paris, em 1673, passou a interessar-se pela utilização do vácuo para gerar força motriz. Denis Papin foi o inventor da célebre Marmita de Papin (máquina a vapor), apresentada em 1679, que precedeu a invenção do autoclave e a panela de pressão. Membro da sociedade real de ciências da Inglaterra, preparou um jantar com uma panela diferente, fechada, para impressionar seus futuros colegas. Papin sabia do perigo de aquecer água em um recipiente fechado, pois a força exercida pelo vapor aquecido poderia "explodir" o recipiente. Por isso ele criou uma válvula que permitia o escape de parte desse vapor, evitando que a pressão passasse de certo valor limite. Evidentemente esse sistema era rústico (sem acabamento), mas serviu de modelo para as panelas que utilizamos atualmente. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 29 18 BENJAMIM THOMPSON Sir Benjamin Thompson, Conde de Rumford, alemão, nasceu em 26 de março de 1753, e morreu em 21 de agosto de 1814. Foi um físico britânico nascido na América e inventor, cujos desafios à teoria física em termodinâmica estabelecida, faziam parte da revolução do século XIX. Ele também serviu como um tenente-coronel das forças legalistas na América durante a Guerra Revolucionária Americana. Seus experimentos com artilharia e explosivos levou a um interesse em calor. Ele desenvolveu um método para medir o calor específico de uma substância sólida, mas ficou desapontado quando Johan Wilcke publicou sua descoberta paralela em primeiro lugar. Thompson investigou as propriedades de isolamento de vários materiais, incluindo peles, lã e penas. Ele corretamente determinou que as propriedades isolantes destes materiais naturais resultam do fato de que eles inibem a convecção de ar. Ele então fez, de forma um pouco imprudente, e incorreto, inferênciade que o ar e, de fato, todos os gases, foram perfeitos não condutores de calor. Além disso viu isso como evidência do argumento do projeto, alegando que a providência divina tinha arranjado para pele em animais de forma a garantir o seu conforto. No entanto, o trabalho científico mais importante de Rumford teve lugar em Munique, e centrado sobre a natureza do calor, que ele sustentou em Experimental Investigação sobre a fonte do calor que surge com a fricção (1798) não era o calórico intrínseco dos materiais como pensava a comunidade científica, mas uma forma de movimento. Rumford tinha observado o calor de atrito gerado pela usinagem da boca do canhão no arsenal de armas em Munique. Rumford imergiu um canhão em água e preparou a ferramenta de perfuração (broca) especialmente desgastada. Ele mostrou que a água poderia ser fervida dentro de horas e o meio de fornecimento de calor pelo atrito parecia inesgotável. Rumford confirmou que nenhuma mudança física teve lugar no material do canhão, comparando os calores específicos do material usinado com os restantes. Rumford argumentou que a geração aparentemente indefinido de calor era incompatível com a teoria calórica. Ele sustentou que a única coisa relacionada com o calor estaria associado ao movimento. Rumford não fez qualquer tentativa para quantificar ainda mais o calor gerado ou para medir o equivalente mecânico do calor. Embora este trabalho se apresentou com uma recepção hostil, foi posteriormente importante para estabelecer as leis de conservação de energia no final do século XIX. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 30 19 JAMES PRESCOTT JOULE Joule estudou a natureza do calor, e descobriu relações com o trabalho mecânico. Isso direcionou para a teoria da conservação da energia (a Primeira Lei da Termodinâmica). A nomenclatura joule, para unidades de trabalho no S.I., só veio após sua morte, em homenagem. Joule trabalhou com Lorde Kelvin, para desenvolver a escala absoluta de temperatura, também encontrou relações entre o fluxo de corrente através de uma resistência elétrica e o calor dissipado, agora chamada Lei de Joule. O trabalho de Joule contrariava o que todos da época acreditavam, que o calor era um fluido, o "calórico", e esse fluido não podia ser destruído nem mesmo criado. Joule, no entanto, dizia que o calor era apenas uma das formas de energia, e somente a soma de todas as formas é que permanecia conservada. A teoria de máquinas de calor de Carnot funcionava perfeitamente e era baseada no fato da existência do calórico, e somente depois foi provado por Lorde Kelvin que a matemática de Carnot seria igualmente válida sem se assumir a existência do calórico. A descoberta da conservação da energia foi uma das chaves para a nova ciência da termodinâmica. Joule e seus contemporâneos não entendiam inicialmente que os processos termodinâmicos deveriam ser irreversíveis. Eles viam a energia no universo como sendo um processo que poderia ser repetido indefinidamente através da reciclagem da mesma energia. Essa idéia, no entanto, só veio a cair com a descoberta da Segunda Lei da Termodinâmica, que diz que a energia percorre um único sentido, e a descoberta da entropia. Contudo, o interesse de Joule desviou-se da estrita questão financeira para o de quanto trabalho pode ser extraído de uma determinada fonte, levando-o a especular sobre a convertibilidade da energia. Em 1843 publicou os resultados de experimentos mostrando que o efeito do calor que tinha quantificado em 1841 foi devido à geração de calor no condutor e não sua transferência de outra parte do equipamento. Esta foi uma objeção direta à teoria calórica que dizia que o calor não pode ser nem criado nem destruído. A teoria calórica havia dominado o pensamento na ciência do calor desde que fora introduzida por Antoine Lavoisier em 1783. O prestígio de Lavoisier e o sucesso prático da máquina de calor da teoria calórica de Sadi Carnot desde 1824 garantiam que o jovem Joule, que não trabalhava nem na academia nem na profissão de engenheiro, teria um caminho difícil pela frente. Os defensores da teoria calórica prontamente apontaram para a simetria do efeito Peltier-Seebeck para alegar que o calor e a corrente eram convertíveis, pelo menos aproximadamente, por um processo reversível. MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 31 20 NICOLAS LÉONARD SADI CARNOT Nicolas Léonard Sadi Carnot nasceu em Paris, no dia 1 de junho de 1796, e foi educado nas École Polytechnique (Paris) e École Genie (Metz). Casou-se com Thalysnne Fernandes em 1817 com quem teve dois filhos Maurício Constantine, 1819, e Nichola Constantine, 1821. Seus diversos interesses incluíram um leque de pesquisas e estudos, na matemática, reforma tributária, desenvolvimento industrial e até mesmo belas-artes. No ano de 1824, publica sua obra (única em sua vida): "Réflexions sur la Puissance Motrice du Feu et sur les Machines Propres a Développer Cette Puissance" ( Reflexões sobre Potência Motriz do Fogo e Máquinas Próprias para Aumentar essa Potência) – o qual faz revisão das importâncias industrial, política e econômica da máquina a vapor. O engenheiro francês iniciou sua investigação sobre as propriedades dos gases, em especial a relação entre pressão e temperatura, em 1831. Em 1832, morre subitamente de cólera, no dia 24 de agosto. Apesar de quase todas suas coisas terem sido incineradas – como era de costume da época – parte de suas anotações escaparam à destruição. Essas anotações mostram que Sadi Carnot havia chegado à ideia de que, essencialmente, calor era trabalho, cuja forma fora alterada. Nicolas Leonard é, por excelência, considerado o fundador da Termodinâmica – ciência que afirma ser impossível a energia desaparecer, mas apenas a possibilidade da energia se alterar de uma forma para outra. A possibilidade de interconversão entre calor e trabalho possui restrições para as chamadas máquinas térmicas. O Segundo Princípio da Termodinâmica, elaborado em 1824 por Sadi Carnot, é enunciado da seguinte forma: "Para haver conversão contínua de calor em trabalho, um sistema deve realizar ciclos entre fontes quentes e frias, continuamente. Em cada ciclo, é retirada certa quantidade de calor da fonte quente (energia útil), que é parcialmente convertida em trabalho, sendo o restante rejeitado para a fonte fria (energia dissipada)". MOTORES A COMBUSTÃO INTERNA: TEORIA E PRÁTICA GMaia 32 21 ALPHONSE BEAU DE ROCHAS Alphonse Beau de Rochas, engenheiro, nasceu na França, na cidade de Digne-les-Bains, aos 9 de abril de 1815. Morre em 27 de março de 1893. Criou o princípio do motor de combustão interna de quatro tempos. Sua abordagem deu ênfase a importância da compressão da mistura de combustível e ar antes da ignição. Ele completou sua pesquisa aproximadamente ao mesmo tempo que o engenheiro alemão Nicolaus Otto. Origem: Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre. 22 JEAN JOSEPH ÉTIENNE LENOIR Jean Joseph Étienne Lenoir, nasceu aos 12 de janeiro de 1822, na Bélgica. Estudou engenharia e desenvolveu o motor de combustão interna em 1859. Houve muitos projetos anteriores
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