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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Psicologia Fundamentos Epistêmicos da Psicologia 2017.1 Rio de Janeiro Vinte e seis de Abril de 2017 EU, VIDA E TRABALHO Alisson Soares de Sousa UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Psicologia Fundamentos Epistêmicos da Psicologia 2017.1 Rio de Janeiro Vinte e seis de Abril de 2017 Eu, vida e trabalho Ao iniciar a reflexão sobre o texto retirado do livro “Ganhar a Vida é Perdê-la?”, fui levado a fazer memória da minha infância e, com isso, tentar perceber como a ideia de trabalho foi sendo construída para mim. Vindo de uma família humilde e tradicional, o conceito de trabalho se formava a partir da ausência diária do meu pai em função da labuta que era a garantia de subsistência da nossa família. Minha mãe era “do lar” e eu entendia que, por esse motivo, ela não trabalhava. Portanto, estes fatos me levavam a crer que o trabalho se dava somente enquanto fonte de renda. Na medida em que o tempo passava, por ordem natural da existência humana, eu desenvolvia fisicamente e cognitivamente; porém aquela ideia inicial sobre trabalho permanecia, ao ponto de questionar o porquê da minha mãe não ter um emprego – já que ela “não trabalhava” – para aumentar a renda familiar e, assim, possibilitar maior acesso às coisas que eu desejava comprar. Cresci vendo meu pai se sacrificar muito para proporcionar nossa alimentação, educação e saúde básicas; para ele mesmo não sobrava quase nada. Talvez esse contato com a realidade profissional do meu pai tenha, de alguma forma, deixado a impressão de que trabalhar se resume à sacrifício inevitável da própria vida pelo bem de outros e nada mais. Aos 14 anos de idade comecei a ajudar meu tio em suas atividades de pedreiro e pintor em troca de algum dinheiro. Nesse momento eu me sentia independente e queria cada vez mais trabalhar para ter o meu próprio sustento. Estudar nem pensar, pois não via nenhuma remuneração instantânea ao empreender essa atividade. Só mais adiante eu passaria a pensar em cursar uma faculdade e, mesmo assim, nunca era pela perspectiva de realização profissional ou aquisição de conhecimento, mas simplesmente pelo fato de poder ganhar mais dinheiro. Por esse motivo, me convencia constantemente que o curso bom para graduação era aquele que proporcionava maior salário e oferta de emprego; nesta expectativa decidi fazer engenharia civil. Porém, ao concluir o ensino médio, que foi concomitante ao curso técnico em edificações, iniciei um estágio na área civil e posteriormente obtive minha carteira de trabalho assinada, o que prolongou minha entrada na faculdade. Os quatro anos posteriores à conclusão do ensino médio - os quais passei trabalhando na área civil - foram suficientes para fazer com que eu repensasse toda a ideia que tinha sobre trabalho e vida profissional. Minha experiência fez com que eu enxergasse que, afinal, o UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Psicologia Fundamentos Epistêmicos da Psicologia 2017.1 Rio de Janeiro Vinte e seis de Abril de 2017 dinheiro podia dar muitas coisas, porém realização profissional não – foi quando passou a ser evidente para mim a importância de ser feliz e realizado na própria profissão. Nesse período passei a me sentir totalmente deslocado, infeliz e, muitas vezes, desesperado pela ansiedade de abandonar o emprego que possuía – e que por sinal era muito bom, pagava bem e oferecia oportunidade de “crescimento”. O fato é que eu não conseguia projetar o meu futuro sob a perspectiva da engenharia civil e podia fazer isso observando os meus colegas de trabalho engenheiros; eu os via como pessoas que estavam sempre pressionadas e cobradas, atribuídas de uma responsabilidade enorme que as faziam chegar antes que todos e sair depois que todos, como se não tivessem tempo e saúde mental para desfrutar do próprio salário. Essa realidade chegava a me apavorar. Logo comecei a refletir e elaborar uma saída para aquela situação. Primeiro pedi demissão e segundo procurei alguma coisa que pudesse me dar o que eu procurava: prazer em trabalhar. Foi aí que decidi fazer o curso de matemática na UERJ. Prestei vestibular e fui aprovado. A matemática era a junção entre humanas, por ser licenciatura, e exatas, onde eu demonstrava habilidade; desse modo eu poderia ajudar as pessoas através da educação e, ao mesmo tempo, poderia aproveitar matérias cursadas, caso quisesse voltar ao campo da engenharia. A partir daí, ficou claro que para a minha realização profissional acontecer, eu precisava encontrar um sentido, e o sentido estava em ajudar as pessoas. Estudei até o quinto período e abandonei o curso que, apesar de gostar e ter habilidade para empreendê-lo, não era ainda o que me satisfazia. Desse momento em diante, eu passei a acreditar que para todo ser humano existe uma vocação; no sentido de que há uma atividade em que este pode desempenhar e mesmo sofrendo adversidades e enfrentando variados desafios será capaz de cumpri-la com satisfação, encontrando sentido no que faz. O problema não consistia, portanto, na engenharia civil e nem no meu antigo emprego, mas em mim. Aqueles que, mesmo sem saber, me estimulavam a não querer seguir carreira como engenheiro civil, na verdade faziam porque gostavam e encontravam sentido em tudo aquilo. Claro que havia, na minha opinião, certo exagero na dedicação, porém quantos, quando fazem o que gostam, não acabam por se dedicar exageradamente. Finalmente a psicologia aparece para mim como uma resposta aos meus conflitos profissionais. Minha vocação, portanto, não estava nem sequer na área de exatas, mas de humanas. Hoje percebo que posso ser muito feliz enquanto psicólogo e encontro muito sentido nisso, mesmo que seja ainda um estudante. UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Psicologia Fundamentos Epistêmicos da Psicologia 2017.1 Rio de Janeiro Vinte e seis de Abril de 2017 Conclusão Minha história é parecida com a de muitos brasileiros. Os contextos são diferentes e, no entanto, estamos abarcados pelos mesmos paradigmas estabelecidos pelo pensamento de produção e consumo ao extremo. Desejo o que não possuo e quando possuo o que desejo já não quero mais, logo passo a desejar e trabalhar por outras coisas; isso acaba por se tornar um ciclo e garante que eu esteja refém do meu próprio consumismo. Independente de se ter acertado em nossa própria vocação ou não, podemos entrar nesse ciclo e ser consumido por ele. Muitos de nós não chega a perceber isso a tempo e passa toda a vida sofrendo pela falta de qualidade em viver, o que pode gerar doenças, mal estar e falta de sentido quando se chega à velhice. Em minha opinião, o trabalho é importantíssimo ao homem, pois, a priori, lhe garante a própria sobrevivência e a dos que lhe são dependentes (os filhos, por exemplo). Além disso, proporciona a sensação de satisfação pessoal. Satisfação esta que é difícil de descrever, mas arrisco dizer que passa pelo sentimento positivo de ver a obra das próprias mãos realizada e servindo para alguma coisa.
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