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Mapa dos jornais impressos no interior de Mato Grosso do Sul

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MAPA DOS
impressos no interior de Mato Grosso do Sul
JORNAIS
MAPA DOS
impressos no interior de Mato Grosso do Sul
Hélder Rafael e Tatiane Guimarães
Universidade Católica Dom Bosco - UCDB
JORNAIS
 localização
 perfil completo
 análise do setor
Reitor
Pe. JOSÉ MARINONI
Chanceler
Pe. LAURO TAKAKI SHINOHARA
Pró-Reitor Administratiivo
Ir. RAFFAELE LOCHI
Pró-Reitor Acadêmico
Pe. Dr. GILDÁSIO MENDES
Coordenação de Jornalismo
JACIR ALFONSO ZANATTA
® 2008, Hélder Rafael e Tatiane Guimarães
Revisão gramatical
Prof. JOSUÉ ALVES CONCEIÇÃO
Arte da capa e diagramação
HÉLDER RAFAEL
Orientação
Profª. CRISTINA RAMOS RIBEIRO
PRODUZIDO EM CAMPO GRANDE, PRIMAVERA DE 2008.
UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO (UCDB)

Aos meus pais, Maria Ercília e Josué,
à minha futura esposa, Fernanda,
e ao bebê que chegará em breve.
-- Hélder Rafael
À professora Beatriz Dornelles, cujo trabalho serviu de inspiração a esta pesquisa;
A Álvaro e Sandra Pereira, proprietários do jornal Tribuna Popular, onde dei os 
primeiros passos na carreira de jornalista, em Jardim/MS;
A todos os professores dos cursos de Jornalismo na PUCRS e UFRGS, faculdades em 
que estudei por quatro anos em Porto Alegre/RS;
A todos os colegas de classe que me acolheram na UCDB, onde ingressei com o 
curso já em andamento, em 2007;
Aos professores do curso de Jornalismo da UCDB: Cristina Ramos, Oswaldo Ribei-
ro, Inara Silva, Jacir Zanatta e Cláudia Zwarg, que me acompanharam até o fim dessa 
jornada acadêmica;
Aos amigos David Reél, Fábio, Luiz, Thiago, Roberto, Ademilson, Leandro, Janaína e 
Rafael, pelos momentos de alegria e aprendizado;
Aos primos Jonas e Marcelo, e aos tios João Cleófas e Marlene Lizete, pelo compa-
nheirismo e apoio em momentos de incerteza;
E à amiga de todas as horas Tatiane Guimarães, sem a qual a existência deste livro 
não seria possível.
-- Hélder Rafael
AGRADECIMENTOS
À minha mãe Ivanir Mascarenhas Robaldo.
-- Tatiane Guimarães
A meu pai, Roldão Correia Guimarães que ao longo dos meus 27 anos de vida tem 
me dado bons exemplos de conduta e excelentes conselhos, os quais procuro seguir.
Para se seguir um caminho correto na vida é necessário ter alguns orientadores, 
e eu agradeço a Daisaku Ikeda por ter trazido a filosofia do budismo de Nitiren 
Daishonin para o Brasil e ser meu estimado mestre.
À minha prima Neiva Guedes, que considero como irmã, que acreditou em mim 
mesmo nos momentos em que eu mesma duvidei de minha capacidade, e acima de 
tudo por ser um exemplo de vida.
Às minha tias, que me apoiaram de diversas formas, com conselhos, momentos de 
risadas, de conversar sério e até mesmo no fornecimento de alimentação.
Reconheço o importante elo de amizade que algumas pessoas formaram comigo 
ao decorrer dos três anos e meio do curso de Jornalismo que fizemos juntos, são elas: 
Hélder Rafael, Fernanda Yafusso, Jairo Gonçalves, Talita Oliveira e João Carlos Costa
Aos meus professores: Cláudia Zwarg, Cristina Ramos, Inara Silva, Oswaldo Ribei-
ro e Jacir Zanatta, pelos desafios que me proporcionaram e que me fizeram desen-
volver-me como acadêmica e também como ser humano.
Aos meus psiquiatras Florivaldo Leal Neto e Luis Carlos Valim, dedico minha sin-
cera estima, por terem me diagnosticado e medicado corretamente. Sem o trabalho 
deles minha participação nessa obra teria sido impossível.
Ao trabalho que Lílian Carla, minha psicóloga, vem realizando comigo, que está 
possibilitando minha auto-descoberta e o fortalecimento de minha personalidade.
Aos meus irmãos, por serem companheiros nessa jornada chamada vida, a qual atra-
vessamos cada um com seus objetivos, mas sempre buscando a verdadeira felicidade.
À Patrícia dos Santos, por sua inestimável amizade, que espero que se estenda por 
toda a eternidade ou mais. 
Aos meus queridos companheiros de Brasil Soka Gakai Inernacional, os quais têm 
sido meus parceiros na busca do desenvolvimento pessoal e humano.
-- Tatiane Guimarães
AGRADECIMENTOS
O
nde trabalhar? As outras perguntas do lide da vida profissional já fo-
ram respondidas, mas o ONDE teima em cutucar muitos jornalistas, que 
observam o mercado de trabalho inchar cada vez mais de comunicado-
res egressos das Universidades. Na Capital de Mato Grosso do Sul, por 
exemplo, conforme pesquisa realizada por formandas de Jornalismo da Universida-
de Católica Dom Bosco (UCDB) em 2006, mais de 800 jornalistas foram graduados 
nas quatro Instituições de Ensino Superior que oferecem o Curso de Jornalismo na 
Capital, desde 1993, quando se formou a primeira turma da Universidade Federal de 
Mato Grosso do Sul (UFMS). 
No estudo, foram entrevistados 106 jornalistas que atuam na cidade. Constatou-se 
que nos veículos de comunicação 64,8% dos entrevistados eram de diplomados nas 
universidades de Campo Grande. Somam-se a estes os jornalistas que não passaram 
por formação universitária e os que vieram de outros Estados para trabalhar aqui. 
A pesquisa mostrou que as redações da Capital são compostas, em sua maior parte, 
por jovens entre 20 e 25 anos, que ganham entre 3 a 6 salários mínimos, renda que 
obriga 25% dos profissionais a trabalhar em mais de um emprego, e 44,8% a extra-
polar as cinco horas diárias de trabalho previstas por lei como carga horária em cada 
estabelecimento jornalístico.
Se o “Plano A”, de trabalhar com jornalismo na Capital de MS está concorrido 
demais e cheio de números desanimadores, o “Plano B” de migrar para o interior 
do Estado passa pela cabeça dos jornalistas. Mas será que existe vida saudável para 
estes profissionais nos outros 77 municípios do estado? Este livro ajuda na opção 
pessoal dos jornalistas quanto em que local atuar no interior, e faz também alguns 
apontamentos das práticas profissionais nos veículos de comunicação impressos en-
contrados pelos pesquisadores no além-capital. 
O leitor vai descobrir que o mercado de trabalho jornalístico impresso nos mu-
nicípios interioranos é uma realidade, por meio da catalogação dos veículos de co-
municação impressos publicada nas próximas páginas. Mas a análise realizada pelos 
pesquisadores com base nos dados colhidos, entrevistas e artigos, mostra que os 
problemas enfrentados na Capital de Mato Grosso do Sul pelos jornalistas são mui-
PREFÁCIO
to parecidos com os vivenciados pelos colegas do interior. Salário baixo, horas de 
trabalho excessivas, concorrência com mão-de-obra não especializada e a instabili-
dade das empresas de comunicação - que podem fechar a qualquer momento - são 
algumas dificuldades que têm conotação diferenciada no interior, e algumas vezes 
ampliada em relação a Campo Grande. Dentre as agruras mais assustadoras que 
acometem os jornalistas interioranos está a ligação perigosa e próxima com o poder 
daquelas localidades, principalmente o executivo dos municípios, principal fonte de 
renda dos veículos de comunicação impressos, também no interior de Mato Grosso 
do Sul.
-- Profª. Cristina Ramos Ribeiro - Orientadora
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
 Pesquisa
ORIGENS DA IMPRENSA EM MATO GROSSO DO SUL
 1838 a 1889
 1889 a 1949
 Atentados a jornais e crimes de imprensa
 Morte do prefeito Ary Coelho
 Jornais mais antigos em circulação
PERFIL DA IMPRENSA INTERIORANA DE MATO GROSSO DO SUL
POR QUE JORNAIS SÃO IMPRESSOS FORA DO ESTADO?
POR QUE POUCOS PROFISSIONAIS ATUAM NA IMPRENSA INTERIORANA?
 Vantagens no interior
 Exército de um homem só
POR QUE JORNAIS SÃO DISTRIBUÍDOS DE GRAÇA?
 Distribuição dirigida
 Apatia das empresas privadas
POR QUE DESAPARECEM OS JORNAIS?
 Terreno fértil para novos jornais
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RELAÇÕES ENTRE IMPRENSA E PODER
 Explicando a licitação 
 Interesses exclusivos ou escusos?
 Quando a relaçãose torna corrompida 
 Quando o bolo fica abatumado
 A socos e pontapés
DONOS DE JORNAIS CRIAM SINDICATO
 Modernização dos jornais
 Composição da diretoria do sindijopre/ms
IMPRENSA INTERIORANA DO RIO GRANDE DO SUL: UMA COMPARAÇÃO
 Boom de jornais
 Papel da faculdade
 Em busca de aperfeiçoamento
 Jornal interiorano: características
 Informações adicionais
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
GLOSSÁRIO
ANEXO 1 - JORNAIS INTERIORANOS DE MATO GROSSO DO SUL
ANEXO 2 - COMO ABRIR UMA EMPRESA JORNALÍSTICA
ANEXO 3 - LISTA DE TABELAS
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13
Este livro é resultado do trabalho de conclusão do curso de Jornalismo, sobre o mapeamento dos jornais impressos no interior de Mato Grosso do Sul. A partir dos dados coletados nas redações, os pesquisadores fizeram análise 
crítica da situação da imprensa e formularam o perfil do setor, válido para o final da 
década de 2000. O levantamento detalhado de informações resultou em um anuário 
inédito nos meios acadêmico e profissional do Estado.
O tema recebe pouca atenção nas salas de aula das faculdades de Jornalismo. 
As raras opiniões existentes sobre essa fatia de mercado sofrem distorção por pre-
conceito – originado em grande parte no desconhecimento das especificidades do 
mercado de trabalho no interior.
São poucos os estudos que retratam o setor, visto que as atenções de acadêmicos 
e pesquisadores em Jornalismo se voltam, em especial, para a compreensão da reali-
dade mercadológica da capital, Campo Grande. Jornais semanários do Estado foram 
tema de monografia defendida em 2005 na Universidade para o Desenvolvimento 
do Estado e da Região do Pantanal (Uniderp); outro trabalho de conclusão de curso 
ocupou-se do levantamento histórico da imprensa de Corumbá, em 2002, na Univer-
sidade Católica Dom Bosco (UCDB).
Embora haja número reduzido de pesquisas sobre o assunto, a imprensa interio-
rana constitui-se em amplo terreno para atuação dos novos jornalistas e, também, 
um ambiente favorável a empreendimentos. Para a própria sobrevivência do profis-
sional em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo, é necessário que o 
acadêmico seja capaz de perceber a existência de tais oportunidades o mais cedo 
possível.
Não existe entidade regional que se dedique exclusivamente a catalogar jornais 
em Mato Grosso do Sul. Apesar de um sindicato estadual de jornais e periódicos ter 
sido fundado em 2007, o órgão abrange apenas uma parcela da imprensa interiora-
na. As secretarias de comunicação do Governo do Estado e da Assembléia Legislativa 
contam com informações incompletas dos jornais, e que demandaram atualização 
para serem usadas na pesquisa.
Introdução
14
Em nível nacional, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) dispõe somente de 
estimativas sobre o setor. O mesmo ocorre na Federação Nacional dos Jornalistas 
(Fenaj). A secretaria de comunicação da Presidência da República (Secom) dispõe 
de um banco de jornais, mas muitos periódicos que constavam da lista já tinham 
deixado de circular.
Para agravar o quadro de dificuldades, três jornais fecharam suas portas durante 
a pesquisa: Aquidaban (Bonito); Bonito em Foco (Bonito); e O Alvorada (Nova Alvo-
rada do Sul). O assunto será tratado com mais detalhes ao longo do trabalho.
PESQUISA
Obteve-se levantamento estatístico e administrativo dos jornais em circulação no 
interior de Mato Grosso do Sul. Esse banco oferece informações detalhadas dos pe-
riódicos em 2008.
Na primeira abordagem, foram encontrados 103 jornais no interior do Estado, 
com base em consultas à lista telefônica e a páginas na Internet de órgãos ligados à 
comunicação (ANJ, Fenaj, Secom, Assembléia Legislativa, Governo do Estado). 
Em seguida, os pesquisadores apuraram por telefone todos os dados coletados, 
e identificaram 86 impressos. A apuração se deu em redações, prefeituras, câmaras 
municipais, entidades de classe e imprensa local. A coleta de exemplares serviu de 
apoio nessa etapa.
Dos 86 jornais, cinco foram desconsiderados do objeto de pesquisa, por não aten-
derem aos requisitos exigidos. Outros seis proprietários não colaboraram com os 
pesquisadores, ao deixar de repassar dados relevantes ao estudo. Por fim, três im-
pressos fecharam durante a apuração. Como resultado, chegou-se ao universo de 72 
jornais impressos no interior de Mato Grosso do Sul.
Os pesquisadores aplicaram um questionário a todos os jornais encontrados, para 
obter as seguintes informações: endereço, telefone, e-mail, página na Internet, perio-
dicidade, dias de circulação, formato, cores, número de páginas e cadernos, tiragem, 
parque gráfico, preço de capa, preço de assinatura, número de assinantes, valor do 
anúncio, área de circulação, diretor responsável, número de funcionários, jornalistas 
práticos e formados. Junto ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 
foram obtidos dados básicos dos 77 municípios do interior do Estado.
15
A partir disto, foi possível classificar os jornais segundo suas principais carac-
terísticas. Posteriormente, os pesquisadores analisaram a realidade do setor. Para 
tanto, fizeram entrevistas por telefone com proprietários e jornalistas que atuam na 
imprensa interiorana. A análise crítica contou com extensa revisão bibliográfica de 
especialistas no assunto, como José Marques de Melo, Beatriz Dornelles e Alberto 
Dines. A esses, somaram-se teses de especialização e monografias de pesquisadores 
regionais. Completam a relação: entrevistas presenciais e por telefone com pessoas 
ligadas à atividade jornalística regional; artigos científicos e jornalísticos; matérias 
jornalísticas veiculadas na imprensa escrita estadual; e outros textos disponíveis em 
páginas sobre jornalismo na Internet.
Para compreender o grau de desenvolvimento da imprensa interiorana, partiu-se 
das definições formuladas pela professora Beatriz Dornelles. Em sua tese de douto-
rado, ela fez levantamento dos jornais existentes no interior do Rio Grande do Sul. 
O trabalho foi publicado em livro no ano de 2004. Dornelles formou amostra de 14 
jornais, em 14 municípios, e que contempla diferentes critérios, como periodicidade, 
porte das cidades, tiragem, número de profissionais envolvidos, entre outros. Por 
meio de questionários, foi possível traçar um perfil estatístico do setor. A pesquisa-
dora define jornal interiorano como:
O produto impresso de uma empresa ou micro jornalística, constitu-
ída juridicamente na Junta Comercial do município, regida pelo ativo 
e pelo passivo, objetiva lucro através da comercialização publicitária, 
venda de assinaturas e avulsa. O jornal deve, obrigatoriamente, ser re-
gistrado no cartório de registro especial e manter uma estrutura admi-
nistrativa mínima, que inclui um diretor, um contador, um responsável 
pela distribuição, um vendedor de anúncios e um jornalista. Periodici-
dade constante, desde que diária, trissemanária, bissemanária ou se-
manária. Filosofia editorial deve ser comunitária, ou seja, as matérias 
produzidas para jornal devem atender aos anseios e reivindicações da 
comunidade que, dentro do possível, determinará quais as notícias que 
devem ser divulgadas pelo jornal, desde que não atendam a nenhum 
interesse partidário. O diretor e/ou o jornalista devem, também, parti-
cipar ativamente de todas as atividades promovidas pela comunidade, 
ajudando a buscar soluções. (p.153)
17
A fim de facilitar a compreensão histórica do desenvolvimento da imprensa em Mato Grosso do Sul, buscou-se resgatar os principais acontecimentos da época de seu surgimento, ainda no século XIX - quando o Estado era uno. 
O livro do historiador Rubens de Mendonça cumpre satisfatoriamente esse papel, 
ao explorar mais de 100 anos de casos e relatos da imprensa regional. Intitulada 
“História do jornalismo em Mato Grosso“,a obra data de 1951. Entretanto, a edição 
consultada é de 1963.
1838 A 1889
De acordo com Rubens de Mendonça, a primeira oficina tipográfica de Mato Gros-
so foi introduzida em 1838 pelo presidente da província, Dr. José Antônio Pimenta 
Bueno. Os equipamentos destinavam-se à publicação de um jornal, e os recursos 
foram arrecadados entre pessoas interessadas na aquisição. A província também apli-
cou recursos para a compra das máquinas, que passariam a pertencer à Assembléia 
Legislativa.
Como o primeiro jornal de Mato Grosso teria caráter oficial, a Assembléia Legis-
lativa autorizou o custeio público da tipografia, bem como o pagamento de seus 
empregados. Nessa primeira fase, a imprensa voltava-se exclusivamente aos interes-
ses do poder público, mediante circulação de “todos os atos oficiais, que não exi-
gem segredo dos Governos, da Assembléia Provincial, das Repartições Fiscais, das 
Câmaras Municipais, dos jurados - as participações das Autoridades Policiais, as 
decisões das Juntas de Paz, finalmente mesmo as leis e atos do Governo Central, 
que disseram respeito a esta Província”. (p. 7-8)
Em relatório enviado à Assembléia em 1º de março de 1837, o presidente da pro-
víncia justificava a necessidade de instalar uma tipografia em Mato Grosso:
As instituições políticas, assim como as demais coisas, têm atributos e 
dependências que são essenciais à sua natureza. O sistema administra-
Origens da imprensa em Mato Grosso do Sul
18
tivo que nos rege, exige a publicidade dos atos das autoridades, que 
também dela depende muitas vezes, para que bem possa corresponder 
a seus fins. Tal é uma das condições que as leis demandam, é justo, 
é mesmo indispensável fazê-las conhecidas, quanto possível, aliás, a 
pena imposta pela sua inobservância será repetidas vezes verdadeira 
tirania. (p. 5)
Em 1839, chega à província o primeiro tipógrafo, e tem início a circulação do 
primeiro jornal, “Themis Mato-grossense”, em 14 de agosto daquele ano. Essa data é 
considerada o marco da imprensa mato-grossense. Segundo Rubens de Mendonça, 
o periódico circulava às quartas-feiras e destinava-se à publicação de atos oficiais. 
(p.8)
No ano seguinte, o “Themis Mato-grossense” é fechado por causa das divergên-
cias políticas entre a Assembléia Legislativa e o presidente da província. Em 1840, o 
presidente Pimenta Bueno cortou do orçamento a verba destinada à manutenção da 
oficina tipográfica. 
Em 30 de julho de 1842, já sob a presidência do Cônego José da Silva Guimarães, 
a província voltou a contar com órgão oficial de imprensa: “O Cuiabano Official”, que 
posteriormente mudou o título para “O Cuiabano”. Circulou até julho de 1845.
Com o fechamento de “O Cuiabano”, o poder da província desistiu de manter 
tipografias próprias, e passou a contratar oficinas particulares para fazer circular leis 
e atos oficiais. Nesses moldes, a parceria foi firmada com o “Eco Cuiabano”, e iniciou-
se em 12 de junho de 1847. A situação perdurou até 09 de dezembro de 1889, com 
“A Província de Mato Grosso”.
A notícia da proclamação da República chegou a Cuiabá em 09 de dezembro de 
1889, trazida pelo navio a vapor “Coxipó”. Governava a província o Coronel Ernesto 
Augusto da Cunha Matos. O quadro da imprensa cuiabana à época foi assim descrito 
por Rubens de Mendonça:
Circulavam em Cuiabá, naquela época, apenas três jornais: “A Provín-
cia de Mato Grosso”, órgão do partido liberal; “A Situação”, órgão do 
partido conservador; e “A Gazeta”, de propriedade e redação de Vital 
de Araújo, que fazia propaganda republicana. (p. 21)
19
Na região que atualmente compreende o Estado de Mato Grosso do Sul, o primei-
ro jornal existente foi “O Indicador”, fundado em Corumbá. A edição inicial data de 
18 de janeiro de 1877. (Ver tabela 1)
1889 A 1949
O primeiro jornal a surgir após a queda da monarquia foi o “15 de Novembro”, 
de Cuiabá, em 1890. Tinha como redator Antônio Augusto Rarimo de Carvalho. No 
mesmo ano, surge a “Gazeta Oficial”, criada pelo governador geral Antônio Maria 
Coelho. Durante décadas a imprensa mato-grossense desenvolveu-se na Capital e nas 
principais cidades, como Corumbá, Campo Grande, Três Lagoas, Ponta Porã, Cáceres 
e Poconé. 
Transcorreram-se a República Velha e a Era Vargas (1930-1937), até que Cuiabá viu 
surgir o primeiro jornal diário - embora no Sul de Mato Grosso já existissem diários 
em circulação desde as primeiras décadas do século XX. Em 27 de agosto de 1939, 
surge “O Estado de Mato Grosso”, sob direção do jornalista Arquimedes Lima, poste-
riormente dirigido pelo Dr. Alcy Pereira Lima. 
O governo de Getúlio Vargas criou o Departamento de Imprensa e Propaganda 
(Dip), com repartições nos Estados. Em Mato Grosso, Arquimedes Lima foi nomea-
do chefe da repartição. Segundo Rubens de Mendonça, a imprensa mato-grossense 
experimentou relativa tranqüilidade para o exercício do jornalismo nessa época.
O deip. em Mato Grosso, em virtude do espírito liberal do seu diretor, 
que é jornalista profissional, nunca exerceu a censura, e até auxiliava 
a imprensa local, dando-lhe a mais completa liberdade. Aliás, durante 
todo o tempo da Ditadura, pelo menos em Mato Grosso, nunca houve 
falta de garantia à imprensa. O próprio Interventor Julio Muller dava à 
imprensa todo apôio. Não sabemos de um só atentado contra a liberda-
de de imprensa, durante todo esse período que vai de 10 de novembro 
de 1937 a 29 de outubro de 1945, data da queda da Ditadura no Brasil. 
(p 63)

20
ATENTADOS A JORNAIS E CRIMES DE IMPRENSA
Rubens de Mendonça dedica um capítulo aos relatos de atentados cometidos con-
tra a imprensa mato-grossense: “feita a história cronológica da imprensa em Mato 
Grosso, seria ela incompleta se faltasse esse Capítulo. A violência e a opressão foi 
sempre o característico dos maus Govêrnos”. (p. 104) Entre os casos documentados 
por Mendonça, estão empastelamentos (inutilizações de oficinas) e agressões a reda-
tores, diretores ou colaboradores dos jornais.
Em Cuiabá, o historiador afirma que o primeiro atentado contra a imprensa foi re-
gistrado em 03 de outubro de 1919. Foi empastelada a tipografia de “O Republicano”. 
Êste atentado, diz o historiador Estêvão de Mendonça, nas “Datas Mato-
grossenses”: foi o primeiro dessa natureza praticado em Cuiabá, onde 
a liberdade de imprensa tem atingido por vezes à licença. Do inquérito 
nada resultou para a descoberta do criminoso, ou criminosos, como 
aliás era geralmente previsto. (p 105)
Já em 1ºde fevereiro de 1929, relata Rubens de Mendonça, o jornal oposicionista 
“A Reação” foi fechado por determinação do presidente do Estado, Dr. Mário Corrêa 
da Costa. Em 21 de abril de 1932, o jornal “O Momento” registrou em suas páginas 
o atentado à oficina.
O autor relata casos de atentados em Corumbá, Campo Grande e Nioaque. Nesta 
cidade, no ano de 1896, foi empastelado “o jornal ‘A Voz do Sul’, e o material tipo-
gráfico todo atirado no rio Nioaque. O autor deste feito selvagem recebeu cognome 
de Onça Preta”. (p. 115)
De acordo com Rubens de Mendonça, os primeiros registros conhecidos de injú-
rias veiculadas pela imprensa datam de 20 de março de 1874. 
António Joaquim Pires, sob pseudônimo “O morador do Limoeiro”, 
cometeu o crime de injúrias impressas contra o Fiscal da Câmara Mu-
nicipal, publicada no periódico “O Liberal”, número 83, dessa data, um 
artigo sob a epígrafe “Para o Fiscal da Câmara ler”, no qual fazia-lhe 
imputações de defeitos, em razão do seu ofício. O ofendido logo apre-
sentou no dia seguinte a sua petição de queixa, e seguindo o processo 
21
seus termos, foi anulado pelo Juiz de Direito, em gráu de apelação, por 
irregularidade encontradas, salvo direito do autor para repetir a ação. 
(p. 108)
Um inquérito contra o editor de “A Situação”, Estevão Pereira Leite, foi aberto em 
09 de março de 1881. Firmino Rodrigues Ramos, Coletor da 1ª Recebedoria Provin-
cial, exigiaa comprovação da autoria de um artigo publicado naquele jornal, mas o 
editor negou-se a fazê-lo. Ainda naquele ano, em 15 de setembro, o Tenente-Coronel 
Antonio da Silveira e Souza também pediu às autoridades que o editor de “A Situ-
ação” comprovasse autoria de artigo que continha injúrias. Perante o juiz, Estevão 
Pereira Leite atribuiu o texto a Francisco Galdino Duarte. O historiador relata assim 
o desfecho dessa guerra de acusações:
1881, a 1º de dezembro, indo Estevão Pereira Leite banhar-se no rio 
Cuiabá - Porto da Conceição - foi vencido pela correnteza d’água e afo-
gou-se. Depois do procedido ao respectivo exame, deu-se sepultura ao 
cadáver’. Ora, é por certo um caso para chamar a atenção. O homem a 
15 de setembro era processado por haver caluniado o Coletor da 1a Re-
cebedoria e logo no mesmo ano apareceu, no mesmo relatório, como 
morto por afogamento? É muita coincidência. (p. 111)
MORTE DO PREFEITO ARY COELHO
Um dos episódios mais trágicos já registrados na imprensa mato-grossense foi 
o assassinato do prefeito de Campo Grande, Dr. Ary Coelho de Oliveira, em 21 de 
novembro de 1952. O autor do atentado teria sido Alcy Pereira Lima, então diretor 
do jornal “O Combate”.
De acordo com Rubens de Mendonça, o motivo que levou ao crime foi a troca 
de acusações entre o prefeito e Alcy Pereira Lima, por meio de artigos publicados 
na imprensa escrita. Ary Coelho era proprietário de “O Matogrossense”, e o jornal 
lançou série de textos criticando uma concessão de terras feita à Fundação Brasil 
Central - dirigida, à época, por Arquimedes Pereira Lima, irmão de Alcy. O jornal “O 
Combate” reagiu com a publicação, em 20 de novembro de 1952, de artigo intitulado 
“Carta Aberta ao Caluniador Ary Coelho”.
22
JORNAIS MAIS ANTIGOS EM CIRCULAÇÃO
O periódico mais antigo em circulação no Estado é o Jornal do Povo (Três Lago-
as), fundado em 1949 pelo senador Filinto Muller. A primeira edição circulou no dia 
15 de junho daquele ano.
Em 1962, o advogado Stênio Congro assumiu a direção do jornal, se responsa-
bilizando também pela parte financeira da empresa. Em 1978, o advogado Rosário 
Congro Neto associou-se à empresa, que mudou sua razão social para Jornal do 
Povo S/C Ltda. Ainda sob direção de Stênio Congro, o periódico sofreu mudança em 
seu perfil: passou de político a empresarial, com linha editorial voltada a retratar os 
problemas locais.
Em Dourados circula até hoje o segundo jornal mais antigo de Mato Grosso do 
Sul. O Progresso foi fundado em 21 de abril de 1951 pelo advogado Weimar Gonçal-
ves Torres. Nos primeiros anos, o proprietário firmou parceria com uma gráfica da 
cidade. A empresa jornalística cresceu e conseguiu adquirir equipamentos próprios 
de impressão. 
Em 1969, com a morte do então deputado federal Weimar Torres, o projeto foi as-
sumido pela viúva Adiles do Amaral Torres. A linha editorial de O Progresso procura 
identificar-se com as causas da região da Grande Dourados.
23
Jornais do Sul de Mato Grosso - 1877 a 1949
Corumbá Ano
O Indicador
A Opinião
O Corumbaense
Gazeta Liberal
O Embrião
Éco do Povo
A Federação
O Sertanejo
A Pátria
O Operário
O Vinte de Agosto
O Brasil
Autonomista
O Correio do Estado
Comércio
O Argonauta
A Tribuna
Jornal de Corumbá
Correio do Povo
Ordem
Diário de Corumbá
A Cidade
Corumbá-Jornal
Diário Corumbaense
Município
O Bajulador
O Nacionalista
1877
1880
1880
1884
1891
1893
1896
1897
1899
1900
1901
1902
1904
1909
1910
1910
1912
1913
1913
1913
1914
1918
1928
1932
1934
1935
1937
Fonte: Rubens de Mendonça. História do Jornalismo de Mato Grosso. Tabela 1
Campo Grande Ano
O Estado de Mato Grosso
Correio do Sul
Ruy Barbosa
Jornal do Comércio
O Diário do Sul
O Imparcial
O Correio de Campo Grande
Diário Oficial
O Imparcial
Estado
O Campograndense
1913
1917
1919
1921
1926
1930
1931
1932
1933
1934
1935
Três Lagoas Ano
Três Lagoas Jornal
Gazeta de Três Lagoas
Gazeta do Comércio
A Notícia
O Municipal
A Epocha
O Noroestino
A Notícia
A Tesoura
O Raio-X
Tribuna do Comércio
O Liberal
O Três Lagoas
O Concórdia
Flit
O Clarim
A Evolução
O Picolé
O Democrata
O 2 de Julho
O Dois de Julho
Jornal do Povo*
1912
1915
1919
1919
1919
1920
1923
1924
1925
1925
1929
1930
1931
1932
1933
1934
1934
1937
1937
1945
1947
1949
Ponta Porã Ano
Ponta Porã
O Progresso
Folha do Povo
O Independente
1914
1921
1933
1936
Aquidauana Ano
A Razão
Jornal do Povo
1917
1935
Nioaque Ano
A Voz do Sul 1894
Bela Vista Ano
O Apa
A Ordem
1914
1930
25
Com base no levantamento dos jornais impressos (ver Anexo 1), chegou-se a um perfil da imprensa interiorana de Mato Grosso do Sul. As principais características dos periódicos são:
A maioria dos jornais é de periodicidade semanal (36,1%) ou quinzenal (33,3%). 
Os demais são diários (12,5%), mensal (8,3%), bissemanal (6,9%), trissemanário 
(1,4%) e dezenário (1,4%). (Ver tabela 6)
O formato mais comum é o standard (73,6%), se-
guido do tablóide (13,9%). Outros formatos encontra-
dos: germânico (4,2%), berliner (2,8%), tablete (2,8%), 
francês (1,4%) e 44 x 29 cm (1,4%). (Ver tabela 2)
Praticamente todos os jornais são impressos em 
cores, à exceção do Diário da Manhã (Corumbá), que 
é composto em tipografia. Jornais com cores nas capas 
representam 79,2% das amostras. Outros 11,1% rodam 
com quatro páginas coloridas; e 8,3% contam com seis 
páginas coloridas. (Ver tabela 3)
A tiragem média dos impressos está na faixa entre 1001 e 2000 exemplares (38%), 
seguido por: 2001 a 3000 (32,4%), 4001 a 5000 (18,3%), 3001 a 4000 (4,2%), 5001 a 
6000 (4,2%), até 1000 (1,4%), e acima de 6000 (1,4%). Um periódico (Diário Corum-
baense) não informou a tiragem. (Ver tabela 12)
A maioria das empresas que editam jornais não possui meios próprios de impres-
são (75%). Destes, pelo menos 37% informaram que contratam serviço terceirizado 
de impressão fora de Mato Grosso do Sul. Entre as principais cidades, estão Fernan-
dópolis, Jales, Presidente Prudente (SP) e Londrina (PR). (Ver tabelas 7 e 8)
A distribuição gratuita de exemplares é verificada em 59,7% dos jornais pesquisa-
dos. Embora nenhum diário seja distribuído gratuitamente, isso ocorre em quase todos 
os quinzenários (91,7%). Entre os jornais vendidos, os preços de capa variam: R$ 1,00 
(27,8%), R$ 1,50 (8,3%), R$ 0,70 (1,4%), R$ 1,25 (1,4%) e R$ 2,00 (1,4%). (Ver tabela 11)
Perfil da imprensa interiorana
de Mato Grosso do Sul
Tabela 2
Formato
Formato Jornais
Standard
Tablóide
44 x 29 cm
Berliner
Francês
Germânico
Tablete
53
10
1
2
1
3
2
26
A maioria dos jornais (37) não vende assinaturas, e 35 contam com esse serviço. 
Mas dez empresas não informaram o número de assinantes. Os demais são assim 
distribuídos: até 1000 (72%), 1001 a 2000 (16%), 4001 a 5000 (8%) e 5001 a 6000 
(4%). (Ver tabela 13)
Apenas 11,1% das empresas possuem mais de 10 funcionários. A maioria conta 
com dois a quatro profissionais (51,4%). Jornais com cinco a dez funcionários repre-
sentam 23,6%. Empresas com um trabalhador somam 12,5%.
Jornalistas formados estão presentes em 50 redações (69,4%). Entretanto, 29 
jornais possuem apenas um profissional formado. Outras 22 redações (30,6%) não 
contam com nenhum jornalista com diploma. (Ver tabela9)
Jornalistas práticos atuam em 47 redações (65,3%). Os demais 34,7% não pos-
suem esse tipo de profissional. A maioria dos periódicos (31) conta com um jorna-
lista prático.
Do universo de 72 jornais pesquisados, 11 são edita-
dos por empresas não-jornalísticas. Atuam no ramo 
agências de publicidade, organizadores de feiras e 
eventos, gráficas, provedor de acesso à Internet e até 
leiloeiros. Como essa parcela de periódicos é significa-
tiva, optou-se por não excluí-la do objeto de pesquisa. 
A maioria dos jornais impressos (61) estende sua cir-
culação a cidades vizinhas ou a regiões inteiras. Isso 
faz com que todos os 77 municípios do interior do Estado contem com ao menos um 
periódico. Mas a presença de empresas jornalísticas se verifica em apenas 39 mu-
nicípios. A partir das informações obtidas no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica 
(CNPJ), constatou-se que 38 municípios não possuem esse tipo de empreendimento. 
(Ver tabela 4)
Os pesquisadores compararam a presença de empresas jornalísticas nas cidades 
com seus respectivos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). A classificação 
foi criada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para 
aferir o avanço de uma população não apenas em sua dimensão econômica, mas 
também em características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade 
da vida. (Ver tabela 5)
A equipe do PNUD utiliza vários indicadores sócio-econômicos para compor o 
Atlas Brasileiro de Desenvolvimento Humano. Esses critérios se referem a saúde, 
educação, renda, moradia e população das cidades pesquisadas. No caso do índice 
Cores
Cores Jornais
Nas capas
4 páginas coloridas
6 páginas coloridas
Preto-e-branco
57
8
6
1
Tabela 3
27
voltado para os municípios brasileiros (IDH-M), este é obtido pela média de três 
subíndices - referentes à longevidade, educação e renda.
O índice varia de zero (nehum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento 
humano pleno). As faixas de divisão do IDH são: 0 a 0,499 (baixo), 0,500 a 0,799 
(médio), e 0,800 a 1 (alto). 
Com base no último relatório do IDH-M, publicado em 2000, constatou-se que 
municípios com os mais altos índices concentram a maioria dos jornais. Entre as 30 
cidades do interior com maior IDH-M, 26 dispõem de empresas que editam jornais. 
Já no grupo das 30 cidades com menor IDH-M, a situação é exatamente oposta: ape-
nas quatro possuem esse tipo de serviço.
Densidade média de jornais por microrregião
Tabela 4
28
Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios (2000)
Município IDH-M Jornal
Chapadão do Sul
São Gabriel do Oeste
Costa Rica
Dourados
Nova Andradina
Três Lagoas
Maracaju
Coxim
Ponta Porã
Cassilândia
Ladário
Jardim
Inocência
Paranaíba
Corumbá
Sonora
Bonito
Aparecida do Taboado
Camapuã
Mundo Novo
Amambai
Sidrolândia
Água Clara
Aquidauana
Brasilândia
Bela Vista
Guia Lopes da Laguna
Laguna Carapã
Rio Verde
Fátima do Sul
Naviraí
Rio Brilhante
Alcinópolis
Glória de Dourados
Nova Alvorada do Sul
Deodápolis
Bataguassu
Ivinhema
0,826
0,808
0,798
0,788
0,786
0,784
0,781
0,780
0,780
0,775
0,775
0,773
0,772
0,772
0,771
0,769
0,767
0,763
0,761
0,761
0,759
0,759
0,758
0,757
0,757
0,755
0,755
0,752
0,752
0,751
0,751
0,747
0,745
0,745
0,745
0,739
0,738
0,738
Fonte: PNUD. Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil. Tabela 5
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Sim
Não
Município IDH-M Jornal
Selvíria
Jaraguari
Ribas do Rio Pardo
Bandeirantes
Iguatemi
Rochedo
Terenos
Angélica
Vicentina
Anastácio
Caracol
Miranda
Aral Moreira
Corguinho
Pedro Gomes
Rio Negro
Santa Rita do Pardo
Anaurilândia
Sete Quedas
Caarapó
Jateí
Nioaque
Coronel Sapucaí
Douradina
Itaporã
Itaquiraí
Juti
Novo Horizonte do Sul
Bodoquena
Eldorado
Taquarussu
Batayporã
Antônio João
Porto Murtinho
Dois Irmãos do Buriti
Paranhos
Tacuru
Japorã
0,736
0,734
0,734
0,733
0,731
0,731
0,731
0,729
0,727
0,725
0,725
0,724
0,723
0,723
0,723
0,723
0,722
0,720
0,719
0,715
0,715
0,715
0,713
0,713
0,712
0,710
0,710
0,710
0,708
0,708
0,705
0,704
0,702
0,698
0,686
0,676
0,662
0,636
Sim
Não
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
Não
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
29
Do universo de 72 jornais pesquisados, constata-se que a maioria é compos-ta de semanários (26) e quinzenários (24). Juntos, representam 69,4% das amostras. A maior parte dessas empresas jornalísticas não conta com parque 
gráfico. Dos semanários, apenas 23,1% imprimem os periódicos em gráfica própria, e 
entre os quinzenários a proporção é ainda menor: 8,3%. (Ver tabela 7)
Dentre todos os jornais interioranos, apenas 18 
(25%) contam com estrutura própria para impressão. 
Os periódicos que não possuem parque gráfico aca-
bam sendo rodados em outras localidades de Mato 
Grosso do Sul ou até em Estados vizinhos. 
No Estado, ao menos cinco empresas prestam 
serviço terceirizado de impressão, sendo quatro em 
Campo Grande (jornais Correio do Estado, O Estado, 
A Crítica e Folha do Povo), e uma em Dourados (jor-
nal Diário MS).
Durante a pesquisa, 20 proprietários 
informaram que imprimem periódicos 
em cidades como Fernandópolis, Jales, 
Presidente Prudente (SP) e Londrina (PR). 
O motivo é a economia: sai mais barato 
trabalhar com gráficas de outros Estados 
- e com preços competitivos - do que im-
primir em Campo Grande ou Dourados, 
com custos mais altos. 
Averaldo Fernandes, presidente do 
Sindicato dos Jornais Periódicos e Revis-
tas do Estado de Mato Grosso do Sul (Sindijopre/MS), descreve a peculiaridade da 
imprensa interiorana: 
Por que jornais são impressos fora do Estado?
Periodicidade
Periodicidade Jornais
Bissemanal
Dezenário
Diário
Mensal
Quinzenal
Semanal
Trissemanário
5
1
9
6
24
26
1
Tabela 6
Periodicidade x Parque gráfico
Bissemanal
Dezenário
Diário
Mensal
Quinzenal
Semanal
Trissemanário
Periodicidade Sim Não
3
-
7
-
2
6
-
2
1
2
6
22
20
1
Tabela 7
30
Fomos cotar em todos os principais jornais. O Estado, Folha do Povo, 
A Crítica, Correio do Estado. Tentamos fazer um pacote de jornais para 
ver se diminuía o preço, mas ainda estava muito caro. Atualmente an-
damos gastando no interior de São Paulo ou do Paraná (1). 
Apesar da queixa dos donos de 
jornais, a diferença de preço entre 
gráficas de Mato Grosso do Sul e 
São Paulo é mínima - conforme 
orçamento obtido em empresas de 
Campo Grande, Dourados e Fer-
nandópolis (SP), em 09 de setem-
bro de 2008 (Ver tabela 8).
Orçamento de impressão
Empresa 1.000 un. 5.000 un.
Diário MS (Dourados)
A Crítica (Campo Grande)
O Estado (Campo Grande)
Ferjal (Fernandópolis/SP)
Jornal formato standard, 8 páginas (2 coloridas e 6 P&B)
R$ 800
R$ 1.000
R$ 830
R$ 780
R$ 2.100
R$ 1.800
R$ 1.450
R$ 1.530
Orçamento obtido em 09 de setembro de 2008.Tabela 8
(1) Entrevista concedida aos autores em 19 de março de 2008.
31
Um dos motivos que determina a periodicidade da maioria dos jornais in-terioranos é a baixa quantidade de profissionais que atuam nas redações. A pesquisa apurou que 163 jornalistas, entre formados em faculdade (86) 
e práticos (77), atuam nos 72 jornais interioranos. Este é um número pequeno, se 
comparado à realidade da imprensa de Campo Grande. Os três jornais diários (Cor-
reio do Estado, O Estado e Folha do Povo) somam 60 jornalistas - entre editores, 
repórteres e correspondentes no interior.
Embora haja diferença mínima entre o 
número de práticos (1) e formados no inte-
rior, comprova-se que a maioria das reda-
ções ainda conta com jornalistas práticos. 
Ao todo, 47 impressos (65,3%) possuem es-
ses profissionais em seus quadros. Ainda, 
22 jornais (30,6%) não contam com qual-
quer jornalista formado. (Ver tabela 9)
A falta de jornalistas formados na im-
prensa interiorana é acarretada por três 
fatores:
a) muitas empresas jornalísticas não têm condições financeiras para contratar 
jornalistas formados;
b) a facilidade de usar releases e matérias publicadas na Internet faz com que as 
empresas dispensem a contratação de repórteres;
c) os salários menores - em comparação aos praticados na Capital - não atraem os 
profissionais para atuar no interior.
a) Sem dinheiro para contratar - A ausência de profissionais formados nas 
redações do interior pode ser justificada pela dificuldade financeira das empresas. 
Por que poucos profissionais atuam 
na imprensa interiorana?
Redações x Jornalistas
Redações com jornalistas formados
Nenhum
1 jornalista
2 jornalistas
22
29
13
3 jornalistas
4 jornalista
5 ou mais
5
2
1
Redações com jornalistas práticos
Nenhum
1 jornalista
2 jornalistas
25
31
9
3 jornalistas
4 jornalistas
5 ou mais
4
2
1
Tabela 9
(1) Ver Glossário
32
Etevaldo Vieira de Oliveira, proprietário do jornal Princesa do Vale, diz que faz as 
vezes de jornalista para cortar gastos: “100% das matérias do Princesa do Vale sou 
eu que faço, para reduzir custos” (2). Para o empresário, jornalista formado gera 
despesas que o jornal não consegue arcar.
Compartilha da mesma opinião Márcio Romanini, diretor do Jornal Visão (Bata-
guassu). Embora o periódico seja assinado por uma jornalista responsável, ela não 
dá expediente na redação. “Não estou tendo grana para pagar o salário-base da 
categoria. Faço free-lance com outra jornalista da cidade, mas sei da necessidade 
de contar com um profissional aqui” (3), afirma Romanini. O diretor reconhece que 
a qualidade do jornal poderia ser melhor, se contasse com um jornalista em tempo 
integral.
b) Uso indiscriminado do release
Apesar de a dificuldade financeira de algumas empresas tornar inviável a contrata-
ção de profissionais, está mais fácil produzir jornal com matérias de fontes externas. 
Com a velocidade de transmissão da Internet, aliada a computadores modernos e 
programas eficientes, é possível fechar edições inteiras com textos e fotos enviadas 
por assessorias de imprensa, ou com material coletado em portais noticiosos. Surge 
então o pretexto ideal para dispensar a presença do jornalista na busca e apuração 
de fatos.
O diretor do jornal Dia Dia (Três Lagoas), Daniel dos Santos, diz que muitas ve-
zes a cópia de notícias da Internet substitui a apuração de matérias: “ultimamente 
tenho dado muito ‘Ctrl-C-Ctrl-V’. Mudo muita coisa no texto e coloco o nome da 
fonte” (4).
No levantamento feito em quatro 
jornais interioranos, buscou-se veri-
ficar a proporção de textos assina-
dos por assessorias, em relação a ou-
tras unidades noticiosas. (Ver tabela 
10). Foram selecionados: Tribuna 
Popular (Jardim), Jornal da Cidade 
(Brasilândia), O Estado do Pantanal 
(Guia Lopes da Laguna) e Diário Notícias do Estado (Aquidauana). A amostra foi ob-
(2) (3) Entrevista concedida aos autores em setembro de 2008.
(4) Entrevista concedida aos autores em outubro de 2008.
Jornais e releases
Jornal Pág. Unid. Releases
Tribuna Popular
Diário Notícias do Estado
O Estado do Pantanal
Jornal da Cidade
16
12
16
4
31
35
45
10
20
24
19
7
Tabela 10
33
tida aleatoriamente, e corresponde a um exemplar publicado entre 2007 e 2008.
 Constatou-se que, de todas as unidades noticiosas presentes nas edições, a por-
centagem de releases variou entre 42,2% e 70%. As principais fontes emissoras são: 
prefeituras e câmaras municipais, Governo Estadual, Assembléia Legislativa, Câmara 
dos Deputados, Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems), Associação 
dos Municípios de Mato Grosso do Sul (Assomasul) e Polícia Civil.
O pesquisador José Marques de Melo avalia que o release desestimula e até supri-
me a reportagem nas redações:
Antecipando-se à iniciativa dos repórteres e, sem dúvida, desestimu-
lando-a, os assessores de imprensa oferecem o prato feito da notícia. 
Contando com informações detalhadas, que lhes são entregues a domi-
cílio, as empresas jornalísticas podem até mesmo suprimir a reporta-
gem. E não são raras as que sobrevivem e se alimentam exclusivamente 
dessa fonte. (apud Lima, 1985: p.14)
Em artigo sobre a imprensa regional, o professor Pedro Celso Campos alerta para 
o comodismo dos empresários: 
Por isso, por comodidade e para reduzir custos, o jornal acaba dando 
vazão a todos os releases disponíveis no computador, em vez de pagar 
repórteres para irem atrás de fatos novos.
Gerson Moreira Lima, que já em 1985 chamava a atenção para a febre dos releases 
que tomavam conta das redações, também reforça a afirmativa:
(...) alguns empresários donos de jornal valem-se do press-release para 
encher páginas de jornal e assim economizar mão-de-obra. Para que 
contratar mais um repórter se há quem forneça notícia pronta? (p. 47)
No livro “O papel do jornal”, Alberto Dines descreve as conseqüências ao jornalis-
mo do uso indiscriminado do release:
34
O repórter e todo o processo jornalístico acomodaram-se e deixaram 
de investigar. O jornalismo brasileiro como alternativa passou a viver 
de eventos e levantamentos. A única abertura que nos permitimos fo-
ram as novas frentes de notícias, logo corrompidas pelo sistema de 
releases. (p. 91)
c) Salários mais baixos que na Capital
De acordo com o Sindicato dos Jornalistas da Grande Dourados (Sindjorgran), a 
classe precisa fechar acordos com as empresas jornalísticas para definir o piso sala-
rial da categoria. Isso se deve ao fato de não existir um sindicato patronal.
Em Dourados, os jornalistas firmaram acordos coletivos com duas emissoras de tele-
visão e um jornal. O Diário MS paga piso salarial de R$ 880, sendo que editores recebem 
adicional que varia de 20 a 50%. O jornal O Progresso ainda não aderiu à negociação.
Já em Campo Grande, a média salarial para jornalistas com jornada de cinco ho-
ras diárias é de R$ 1.200, sendo que a classe também precisa negociar com cada 
empresa jornalística. Não há sindicato patronal, assim como em Dourados.
VANTAGENS NO INTERIOR
Embora no interior sejam pagos salários menores se comparados aos da Capital, 
muitos jornalistas levam em conta o ritmo tranqüilo e o baixo custo de vida para 
atuar no mercado de trabalho nas pequenas cidades.
Adejair Moraes, do Correio News (Chapadão do Sul), formou-se na Universidade 
Federal do Espírito Santo em 1979. Ele conta os motivos que fizeram-no escolher o 
interior: “são melhores condições de vida. Tinha muita concorrência, na época, nas 
capitais. Não existe desvantagem nenhuma” (5). 
Dalmo Cursio, de O Cassilândia Jornal, teve uma trajetória diferente. “Fundei o jornal 
em 1980, depois fiquei 14 anos em Campo Grande. Quando foi a 90 dias atrás [junho 
de 2008], a pessoa que estava administrando o jornal ia paraVitória (ES), e me procu-
rou. Aí fizemos um entendimento e estou administrando o jornal” (6). Para o jornalista, 
o principal problema enfrentado é a crise financeira, porque “pouca gente gosta de ler”. 
As vantagens, segundo Cursio, são a tranqüilidade e a independência para atuar.
(5) (6) Entrevistas concedidas aos autores em setembro de 2008.
35
A jornalista Laura Massunari, formada em 2006 pela Universidade Estadual Pau-
lista (Unesp) em Bauru, trabalha atualmente no Jornal Hoje (Três Lagoas). Ela diz 
que escolheu a cidade por razões pessoais: “meus pais moram no interior, e aqui 
o custo de vida é mais baixo” (7). Para Laura, a desvantagem é a pouca oferta de 
serviços, não apenas no mercado de trabalho para jornalistas, mas em opções de en-
tretenimento e compras. “Há poucas fontes autorizadas a falar sobre determinado 
assunto”, completa a jornalista.
EXÉRCITO DE UM HOMEM SÓ
Chama a atenção o fato de que 14 jornais (19,4%) são produzidos por apenas um 
jornalista prático. Um deles é Denílson Medeiros Severino, que está à frente do jor-
nal Gazeta do Norte (Camapuã). Fundado em 1996, o periódico compete com outros 
dois impressos na cidade: a Folha Regional (1980) e a Folha de Camapuã (1988). 
O tablóide mensal de 8 páginas circula gratuitamente em Camapuã, Figueirão e 
Bandeirantes, com 1.000 exemplares a cada tiragem. Sobre a atividade jornalística, 
o diretor conta que ele mesmo faz cobertura de eventos importantes na cidade. 
Quando não é possível cobrir o assunto, como em matérias de repercussão estadual, 
o jornalista afirma que faz pesquisa na Internet para publicar em seu jornal. 
A estrutura da Gazeta do Norte é modesta. Além do telefone fixo e do celular, a 
redação dispõe do mínimo para a sobrevivência do jornal: “o escritório eu montei 
em casa, e tenho computador, acesso à internet e máquina digital para traba-
lhar” (8), diz Severino. A impressão é terceirizada. O jornalista afirma que utiliza 
com freqüência material de assessorias de imprensa da câmara e da prefeitura: “eles 
já fazem e mandam a matéria para divulgar como eles querem”, afirma. A ativida-
de gera lucros tão modestos como o próprio jornal. “Tem lucro, sim. Não é ‘nossa, 
como você ganha’, é até razoável”, explica Severino.
(7) (8) Entrevista concedida aos autores em setembro de 2008.
37
Do universo pesquisado, 43 jornais (59,7%) distribuem exemplares gratuita-mente. Entre semanários, a proporção é de 53,8%; para os quinzenários, 91,7%. Nenhum jornal diário oferece exemplares grátis (ver tabela 11). Afi-
nal, por que a maioria dos proprietários oferece de graça um produto que gera altas 
despesas com pessoal, insumos e estrutura? 
É fato assumido por proprietários que grande parte dos jornais interioranos re-
cebe verba pública como receita de publicidade. O empresário Ivaldo Pereira, que 
edita a Tribuna da Fronteira (Bela Vista), relata em seu livro como aconteciam as 
negociações de contratos com o poder público em meados dos anos de 1970.
Todos os meses os proprietários de jornais do interior, alguns jorna-
listas, viajavam para a capital, Cuiabá, lá se encontravam com os com-
panheiros de imprensa, deputados, prefeitos e negociavam contratos 
de publicidade. A maioria ia mesmo era para receber. Às vezes, com a 
promessa do dinheiro sair “amanhã”, ficavam três, quatro dias, até uma 
semana. (p. 4)
Logo, as prefeituras, câmaras, governo estadual, deputados estaduais e federais 
ou senadores, utilizam os impressos como meio de propaganda, isto é, para divulgar 
imagens positivas de seu trabalho ou atuação. Essa divulgação se dá através de anún-
cios regulares, mas também em matérias redigidas pelas assessorias de imprensa dos 
interessados. 
Se os jornais fossem vendidos, uma parcela menor de leitores teria acesso a essa 
publicidade. Por isso, a venda de exemplares ou de assinaturas prejudica a divulga-
ção eficiente da propaganda política. A análise é reforçada pelo pesquisador José 
Marques de Melo, no prefácio ao livro de Beatriz Dornelles: “(...) a imprensa do 
interior, em nosso país, distancia-se editorialmente das aspirações comunitária, 
funcionando organicamente como correia de transmissão dos projetos políticos 
ungidos pelos donos do poder local”. 
Por que jornais são distribuídos de graça?
38
Averaldo Fernandes, do Sindijopre-MS, 
confirma a situação de dependência eco-
nômica do poder público, e diz que isso 
gera imagem negativa para a imprensa in-
teriorana: “Todo mundo montava jornal 
para receber do governo ou da Assem-
bléia, se tornou uma coisa imoral. Ca-
mapuã, uma cidade de 16 mil habitan-
tes, chegou a ter oito jornais, a maioria 
de ‘devezenquandários’(1)”.
A submissão dos jornais a forças políticas e econômicas chega a tal ponto que 
alguns nem se preocupam em circular nas cidades de origem. Apenas rodam o mí-
nimo de exemplares para comprovação de notas fiscais, em contratos com o poder 
público. Eduardo Carvalho, em artigo no jornal Última Hora (Campo Grande), cha-
ma a atenção para o fato: 
Alguns desses veículos se tornam ‘devezenquanzendários’ [sic] e pou-
co ou nunca circulam até mesmo nos municípios de origem. Muitas das 
vezes ‘nem de vez em quando’. Muitos recebem a pecha de ‘órgão ofi-
cial’ fazendo as vezes de diário oficial. Esses veículos que sequer pagam 
impostos e tributos ‘brigam’ por fatias de mídia em órgãos públicos.
O professor da Universidade Federal de Mato Gros-
so do Sul (UFMS), Éser Cáceres, que já foi empresário 
da comunicação em Campo Grande, relata uma pecu-
liaridade sobre a tiragem de jornais semanários. Para 
ele, alguns veículos mascaram o número real de exem-
plares impressos, a fim de obter dinheiro público com 
maior facilidade. “A gente tem a ‘mentiragem’ (2) dos 
jornais. A maioria deles joga 5 mil, 10 mil, para jus-
tificar a nota fiscal que ele vai emitir para o governo. 
Dificilmente algum deles tira mais do que 3 mil.” (3)
(1) (2) Ver Glossário
(3) Entrevista concedida aos autores em 19 de setembro de 2008
Gratuidade x Periodicidade
Bissemanal
Dezenário
Diário
Mensal
Quinzenal
Semanal
Trissemanário
Periodicidade Grátis Vendido
1
1
-
6
22
14
-
4
-
9
-
2
12
1
Tabela 11
Tiragem
Exemplares Jornais
Até 1000
De 1001 a 2000
De 2001 a 3000
De 3001 a 4000
De 4001 a 5000
De 5001 a 6000
Acima de 6001
Não informou
1
27
23
3
13
3
1
1
Tabela 12
39
DISTRIBUIÇÃO DIRIGIDA
Em relação à distribuição gratuita, muitos proprie-
tários entregam exemplares apenas aos anunciantes. 
A isso chama-se “distribuição dirigida”. Ocorre uma 
mistura de conceitos entre “anunciante” e “assinante”, 
na medida em que os empresários contabilizam jornal 
dado de graça como jornal recebido por assinante. A 
pesquisa apurou que 35 jornais (48,6%) comercializam 
assinaturas.
Costuma-se dividir a tiragem em parcelas para pre-
feituras e câmaras das cidades onde o jornal circula, 
além do comércio local. Ainda, uma parte dos jornais é entregue nos gabinetes dos 
deputados estaduais em Campo Grande. Poucos exemplares são vendidos de forma 
direta, em bancas de revista ou pontos de distribuição. 
Ainda segundo Éser Cáceres, a distribuição gratuita é uma alternativa encontrada 
pelos empresários para despachar exemplares excedentes: “Já fiz essa experiência, 
imprimir 10 mil exemplares de um jornal. É simplesmente insano. Não tem aonde jogar 
tanto jornal. Aí surgem soluções esdrúxulas, ‘vou jogar de carro lá na Afonso Pena’”.
De acordo com o diretor José Pedro Frazão(4), o jornal O Porta-Voz (Anastácio) 
distribui gratuitamente 2.000 jornais a cada 15 dias. Enquanto 1.000 exemplares cir-
culam em Anastácio, outros 700 são enviados à vizinha Aquidauana e a Dois Irmãos 
do Buriti. Os 300 jornais restantes são entregues em Campo Grande - na Assembléia 
Legislativa e naPrefeitura Municipal. Em Anastácio, escolas, órgãos públicos e co-
mércio local recebem exemplares do O Porta-Voz. 
A prática da distribuição dirigida não é exclusividade dos jornais gratuitos. Peri-
ódicos pagos também fazem questão de enviar exemplares a órgãos públicos nas 
cidades onde circulam e na Capital. O fato demonstra que, mesmo comercializados 
e com certa autonomia financeira, esses jornais dependem de uma boa relação com 
o poder público - seja esta econômica ou política. 
Este é o caso do jornal Maracaju Hoje, que distribui semanalmente 3.000 exem-
plares em cinco cidades. Destes, 2.000 são destinados a bancas de revista e órgãos 
públicos da cidade. O restante é dividido entre Dourados, Itaporã, Sidrolândia e 
Assinantes
Assinantes Jornais
Até 1000
De 1001 a 2000
De 2001 a 3000
De 3001 a 4000
De 4001 a 5000
De 5001 a 6000
Não informou
18
4
-
-
2
1
-
Tabela 13
(4) Entrevista concedida aos autores em setembro de 2008
40
Campo Grande - sendo que na Capital, os 
jornais são entregues na Assembléia Le-
gislativa e na Prefeitura Municipal. 
No caso do jornal A Gazeta (Amam-
bai), em torno de 90% da distribuição 
é feita entre assinantes residenciais e 
anunciantes. A empresa faz venda direta 
dos 10% restantes. A tiragem diária de 
2.000 exemplares divide-se em: 900 para 
Amambai e 1.100 para Ponta Porã, Aral 
Moreira, Coronel Sapucaia, Paranhos, Sete Quedas, Tacuru, Iguatemi, Eldorado, Ca-
arapó e Campo Grande. Os principais destinos dos exemplares na Capital são: sede 
do governo, Assembléia Legislativa, agências de publicidade, Sebrae e Assomasul. 
Nas demais cidades, órgãos públicos e empresas parceiras recebem cortesia. 
APATIA DAS EMPRESAS PRIVADAS
Para alguns proprietários e jornalistas, a distribuição gratuita de jornais é ocasio-
nada pelo desinteresse de comerciantes e empresas do setor privado em anunciar na 
mídia impressa. Vale notar que o poder público atua no mercado publicitário como 
anunciante e cliente dos jornais, simultaneamente. No livro lançado em 2003, sobre os 
10 anos do Diário MS (Dourados), o jornalista Luís Carlos Luciano escreve a respeito 
da lamentação dos donos de jornais. 
O segmento empresarial local e regional oferece pouca publicidade. 
O Banco do Brasil e a Caixa, dois exemplos clássicos, têm mídia em 
rede nacional, assim como o Bradesco e a Seara Alimentos. O paradoxo 
bate às portas do Sebrae, criado para fortalecer e incentivar a micro e 
a pequena empresas. Suas peças também só são veiculadas, em sua 
maioria, em rede nacional. No interior, essas grandes empresas não 
investem quase nada em publicidade. Os comerciantes de porte médio, 
salvo exceções, seguem o mesmo caminho e, por exclusão, nem é pre-
ciso esperar alguma coisa dos pequenos. O Poder Público, por sua vez, 
é um forte parceiro comercial. (p. 25)
Periodicidade x Assinatura
Bissemanal
Dezenário
Diário
Mensal
Quinzenal
Semanal
Trissemanário
Periodicidade Sim Não
5
1
9
1
5
14
-
-
-
-
5
19
12
1
Tabela 14
41
Um trabalho de conclusão do curso de jornalismo, produzido em 2002 sobre a 
história da imprensa de Corumbá, também registra essa reclamação: 
Por meio dos depoimentos de jornalistas e funcionários desses peri-
ódicos, observou-se que existe uma dificuldade em manter os jornais 
em circulação. Isso ocorre não só pela falta de apoio dos comerciantes, 
que não aceitam pagar o espaço para propaganda, como também pelo 
desinteresse dos leitores em pagar por esses exemplares e ainda prefe-
rem aos jornais da capital aos locais.
O sucesso de qualquer produto é diretamente proporcional à sua qualidade, ou 
seja, o público só passa a consumir determinado jornal se este possuir valor agre-
gado. Para o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), 
Gerson Luiz Martins, uma empresa jornalística só consegue obter mais leitores se 
seu produto reunir credibilidade editorial e independência econômica:
(...) como aumentar o número de leitores habituais com essa qualidade 
de jornalismo? É muito importante aumentar o número de leitores. 
Significa lucro quanto à confiança e credibilidade do produto. Somente 
com credibilidade há aumento do consumo e de leitores. É um círcu-
lo vicioso. O crescimento de leitores é inversamente proporcional à 
dependência de receita dos anunciantes e daqueles que influenciam 
politicamente as edições por meio de subsídios.
Martins afirma ainda que o leitor reconhece clara-
mente quando a empresa jornalística veicula informa-
ções tendenciosas, e isso gera descrédito para o jornal. 
“Quando há um exagero, uma opinião, ou como diriam 
os jovens, um ‘forçar a barra’, o leitor percebe e desacre-
dita do ‘seu’ jornal. Passa a se desinteressar. Não com-
pra todos os dias. O jornal perde. Perde receita.”
Apesar do quadro de subordinação da imprensa in-
teriorana em relação ao poder público, alguns proprie-
tários buscam alternativas para viabilizar seus jornais. 
Averaldo Fernandes conta uma dessas experiências: 
Preço de capa
Valor Jornais
R$ 0,70
R$ 1,00
R$ 1,25
R$ 1,50
R$ 2,00
Gratuito
1
20
1
6
1
43
Tabela 15
42
Uma vez fui a um congresso de jornais com a participação de um pa-
lestrante de Canela (RS). Ele falava pra gente que “jornal de graça não 
pode”. Deve ser vendido. Ele contou a experiência que implantou lá no 
Rio Grande do Sul, um sistema de assinar o jornal e debitar na conta te-
lefônica. Eu tentei com a Sanesul [concessionária de serviços de água e 
esgoto em Mato Grosso do Sul]. Esse seria o passo para fazer o grande 
jornal. Sem depender do poder público. Mas não deu certo por causa 
da burocracia.
43
Em várias cidades pesquisadas, constatou-se que certos jornais eram desconhe-cidos das assessorias de imprensa nas câmaras e prefeituras. Mesmo jornais concorrentes ou emissoras de rádio informavam que determinado periódico 
tinha circulação incerta, ou que havia desaparecido. Verdadeiros “fantasmões” (1). 
Dos 103 periódicos encontrados no primeiro levantamento, 17 (16,5%) não pude-
ram ser localizados. Motivos: ou deixaram de existir há tempos, ou o cadastro das 
fontes estava desatualizado.
Já durante a pesquisa, três jornais simplesmente desapareceram. Um desses, o 
Aquidaban, fechou as portas tempos depois da publicação de um editorial que ata-
cava a prefeitura de Bonito. O texto intitulado “Escândalo da Imprensa: Você paga 
e a Prefeitura desperdiça”, critica a prefeitura por ter contratado a empresa MV Co-
municações, com sede em Campo Grande, para “criar, publicar, divulgar, veicular 
e pesquisar matérias de interesse da Prefeitura nos órgãos da imprensa escrita, 
falada e televisionada”. O valor do contrato era de R$ 288 mil, com duração de oito 
meses, entre maio e dezembro de 2007. O extrato foi publicado na edição de 02 de 
maio de 2007 no jornal Diário MS (Dourados). 
 
A impressão que se tem é que em Bonito o que é público não tem 
dono, pode ser gasto de qualquer maneira. (...) Fazendo uma compara-
ção; o repasse que a Prefeitura faz ao Hospital Darci João Bigaton (...) 
é de pouco mais de 30 mil reais. Numa outra comparação, esse mesmo 
valor pago em propaganda pela Prefeitura apenas esse ano, (...) seria 
suficiente para construir 24 casas como as que estão sendo financiadas 
através da Agência Estadual de Habitação, Agehab (...).
 
A primeira abordagem dos pesquisadores ao jornal ocorreu em 22 de janeiro 
de 2008. Em Bonito, o Aquidaban mantinha edições impressa e online - sendo que 
nesta, era possível entrar em contato com a redação por e-mail. O telefone do res-
Por que desaparecem os jornais?
(1) Ver Glossário
44
ponsável também ficava disponível na página do Aquidaban na Internet. O editorial 
que critica a prefeiturade Bonito foi encontrado no acervo da edição on-line.
O segundo jornal, Bonito Em Foco, pertencia à MV Comunicações - empresa cri-
ticada pelo Aquidaban por ter recebido verba pública da prefeitura de Bonito para 
veiculação de material do interesse do executivo.
Outro jornal que também desapareceu durante a pesquisa foi O Alvorada, de 
Nova Alvorada do Sul. Mas antes, o periódico se envolveu em um problema judicial. 
A Promotoria de Rio Brilhante instaurou inquérito civil para “apurar irregularida-
des ocorridas na contratação e distribuição do Jornal ‘O Alvorada’ pelo município 
de Nova Alvorada do Sul, com a utilização de veículos oficiais para transporte e 
distribuição das tiragens”.
Até outubro de 2008, o inquérito civil nº 22/2006 tramitava no Fórum de Nova 
Alvorada do Sul. Em dezembro de 2007, o prefeito Arlei Silva Barbosa foi notificado 
a prestar esclarecimentos à Justiça, mas não compareceu.
TERRENO FÉRTIL PARA NOVOS JORNAIS
A pesquisa aponta que o período entre 2000 e 2008 
foi o mais fecundo para a imprensa interiorana. Ao 
todo, 32 jornais surgiram nos últimos nove anos. A 
década anterior registrou a criação de 20 novos perió-
dicos. Ressalva-se que foram contabilizados apenas os 
jornais ainda em circulação. Os que já encerraram as 
atividades não fizeram parte desta análise, em virtude 
da dificuldade em levantar informações. 
O professor Éser Cáceres relaciona o período elei-
toral e a alternâcia de grupos políticos no poder como 
fatores preponderantes ao surgimento de novos veícu-
los impressos. 
Há um boom de novas empresas jornalísticas a cada eleição. Então os 
“devezenquandários” são jornais criados específicamente para receber a 
verba pública, após um candidato que foi apoiado pelo jornalista ou em-
presário ter sido eleito. Esse boom reflete só a troca do grupo no poder.
Surgimento de jornais
Década Jornais
1940 a 1949
1950 a 1959
1960 a 1969
1970 a 1979
1980 a 1989
1990 a 1999
2000 a 2008
1
1
2
4
12
20
32
Levaram-se em conta somente jornais 
que ainda circulam. Tabela 16
45
Como exemplo, Éser Cáceres cita o período de transição dos governos de Zeca do 
PT e André Puccinelli, em 2006:
Você vinha numa constante, com um grupo no poder e acomodados 
já os mamadores (2). Então as tetas já estavam todas reservadas. Você 
troca as pessoas. Então você vê que há o surgimento de 30 jornais, mas 
muitos jornais deixam de ser feitos nesse mesmo período, porque o 
“meu parceiro” não está no poder, então você fecha o jornal.
Destaca-se que muitos periódicos subsistem exclusivamente por meio de propa-
gandas pagas pelo Governo Estadual, Assembléia Legislativa, prefeituras e câmaras 
municipais. Nestes casos, o poder público procura distribuir a verba publicitária com 
base em critérios técnicos, tais como periodicidade, tiragem e área de circulação dos 
jornais. Entretanto, o bom relacionamento dos órgãos de imprensa com os políticos 
no poder é fator condicionante para a divisão desses recursos. Isto significa dizer que 
jornais com postura crítica aos governos têm poucas chances de incrementar suas 
receitas com publicidade governamental. Logo, o compromisso social do Jornalismo 
dá lugar a acordos tácitos, assumidos em nome da sobrevivência das empresas e da 
predominância político-partidária dos agentes públicos em determinada localidade.
(2) Ver Glossário
47
Para entender a estreita relação entre donos de jornais e políticos, devemos resgatar sua fundamentação legal. Está no Artigo 15 da Constituição do Esta-do de Mato Grosso do Sul, parágrafos 3 e 4: 
O Município publicará, na imprensa local, da região ou da capital, as 
suas leis, balancetes mensais e ainda o balanço anual de suas contas e o 
orçamento municipal. Os Municípios poderão, direta ou indiretamen-
te, instituir órgão oficial para a publicação dos atos administrativos e 
dos legislativos.
Ou seja, todo município deve tornar públicos seus atos administrativos. Mas caso 
a prefeitura ou a câmara não disponham de órgão oficial ou estrutura para tal, deve-
se contratar o periódico da cidade ou microrregião onde estão inseridas. 
Por excelência, o jornal impresso é o veículo que reúne as principais característi-
cas necessárias à publicação de matérias de interesse dos poderes executivo e legisla-
tivo. São algumas: periodicidade regular, grande tiragem, estrutura de distribuição, 
formato adequado e baixo custo de impressão. 
A publicação no diário oficial da cidade - seja ele próprio ou contratado - não é 
a única maneira de divulgar atos oficiais. Alguns precisam ser veiculados no Diário 
Oficial da União, no Diário Oficial do Estado ou mesmo em jornal diário de grande 
circulação no Estado. Outros ainda podem sair em diários oficiais eletrônicos, ou 
seja, apenas na Internet. 
 
EXPLICANDO A LICITAÇÃO 
 
O instrumento legal para a contratação de um jornal como órgão oficial do mu-
nicípio é a licitação. Esta é regida por uma lei específica (8.666/93), que determina 
critérios para as empresas jornalísticas concorrerem em iguais condições.
Relações entre imprensa e poder
48
Ao promover uma licitação, o administrador deve buscar a proposta que melhor 
atenda ao interesse público. Leva-se em consideração itens como menor preço, pe-
riodicidade, distribuição e tiragem de exemplares. Os recursos para pagamento dos 
jornais já são previstos no orçamento da prefeitura.
Já as empresas devem estar em dia com as obrigações jurídicas e fiscais. Para par-
ticipar da licitação modalidade “menor preço”, cada participante precisa encaminhar 
proposta de preços. Vence aquele que praticar o menor preço e atender melhor às 
exigências do contratante. Não há na legislação artigo que exija comprovação de 
tempo de atuação da empresa jornalística na cidade onde disputará licitação.
O jornal escolhido como órgão oficial torna-se conhecido através do resultado de 
licitação. Um exemplo: no dia 25 de janeiro de 2008, a prefeitura de Iguatemi con-
tratou três empresas jornalísticas para “publicação em imprensa escrita dos atos ofi-
ciais (...), informes publicitários (...) e publicação de matérias de interesse público”. 
As vencedoras da licitação foram Diário MS, de Dourados (R$ 29.700,00); O Liberal, 
de Mundo Novo (R$ 24.750,00); e A Gazeta, de Amambai (R$ 28.490,00). Período de 
vigência: 11 meses contados da assinatura do contrato. O pagamento deve ser feito 
em 11 parcelas iguais e mensais. 
Nota-se que, como Iguatemi não conta com nenhum jornal que atenda aos crité-
rios exigidos pelo edital de licitação, apenas veículos de médio porte e situados em 
cidades próximas participaram do pregão. Em fevereiro de 2007, no município de 
Coxim, a Câmara contratou o jornal Correio do Pantanal para publicar, a cada 15 
dias, “materiais de interesse exclusivo do Legislativo Municipal”. O valor do contra-
to é de R$ 16.500,00, e o pagamento devia ser feito em 11 parcelas mensais de R$ 
1.500,00. A despesa já estava prevista no orçamento da Câmara. 
INTERESSES EXCLUSIVOS OU ESCUSOS?
Mas afinal, o que são esses “materiais de interesse exclusivo” do poder público? 
Além de balancetes, leis e documentos oficiais, os jornais publicam textos das asses-
sorias de imprensa das câmaras e prefeituras. São matérias geralmente escritas pelos 
assessores, e que promovem ou exaltam as benfeitorias e ações dos agentes públicos. 
Na comparação a seguir, a mesma matéria veiculada no portal da prefeitura de 
Iguatemi é encontrada no site do jornal O Liberal. Com o título “Iguatemi ganhará 
mais de trinta mil metros de asfalto”, o texto é assinado pela assessoria de imprensa 
na página da prefeitura, e foi publicado com fotografia em 18 de agosto de 2008. 
49
No dia seguinte, o jornal O Liberal reproduziu a matéria na íntegra em sua edição 
virtual. A palavra trinta foi substituída pelo numeral no título. Foraisso, nenhuma 
palavra ou vírgula sofreu alteração, mas apenas a fonte foi omitida - tanto do redator 
como do fotógrafo. 
O município de Iguatemi terá, até o final do ano, mais 36.400 m2 de pavi-
mentação asfáltica. O novo investimento faz parte do segundo pacote de 
obras lançado pelo prefeito Lídio Ledesma, anunciado semana passada 
na câmara municipal. A maior parte do investimento será com recursos 
da receita própria do município. Nesta nova etapa serão beneficiados 
com pavimentação os bairros Jardim Quedas d’Água, Vila Nova, Jardim 
Aeroporto, Vila Operária e Vila Esperança.
O exemplo é apenas um entre centenas que ocorrem diariamente - tanto na im-
prensa interiorana como nos jornais de Campo Grande. O professor Pedro Celso 
Campos afirma que essa proximidade prejudica o bom exercício do jornalismo: 
Ficar preso à prefeitura é o pior mundo possível para um jornal que 
quer ter atuação comunitária, porque ao fazer acordo para publicação 
de atos oficiais e notícias prontas da prefeitura acaba vendendo a pró-
pria alma e perdendo a independência para tratar da vasta gama de 
assuntos que interessam à comunidade.
Em artigo sobre o jornalismo como instrumento de resgate e construção da histó-
ria regional, três pesquisadoras do interior paulista reforçam que essa prática só traz 
prejuízos à qualidade do produto final.
O resultado imediato é a prática de um jornalismo oficialesco, pregui-
çoso, acostumado a ouvir o prefeito ou o secretário, mas que poucas 
vezes ouviu alguma reclamação de um popular. E que jamais se daria 
ao trabalho de fazer uma reportagem investigativa. Com o tempo, o 
repórter se embrutece intelectualmente, porque perde o entusiasmo 
pela profissão e porque, quase sempre, ganha muito mal.
50
Em artigo publicado no portal Observatório da Imprensa, o professor Éser Cáceres 
relata o uso indiscriminado de textos de assessoria nos semanários de Campo Grande:
No conteúdo das publicações “gratuitas”, material publicitário e ma-
terial jornalístico se misturam sem qualquer diferenciação, e acabam 
confundindo os leitores. (...) Os reflexos desse peculiar jeito que o mer-
cado arrumou para financiamento de projetos editoriais numa região 
etimologicamente pobre, carente de recursos a serem aplicados no 
aprimoramento das relações midiáticas das maneiras tradicionais, são 
catastróficos para o exercício do jornalismo. 
Quem sai prejudicado é o leitor que, ao comprar ou receber um exemplar, consome 
informação sem conhecer as intimidades da relação entre jornais e poder público.
 
QUANDO A RELAÇÃO SE TORNA CORROMPIDA 
 
A relação entre imprensa e poder público se corrompe quando o interesse político 
ou econômico das partes envolvidas prevalece sobre o interesse jornalístico, o que 
provoca interferência na linha editorial do veículo com prejuízo ao leitor. 
Alguns proprietários de jornais, mais interessados em lucrar do que fazer circular 
informação jornalística em suas comunidades, transformam edições inteiras em es-
paços publicitários à disposição de quem queira pagar por elas. O jornalismo, nesses 
casos, cede espaço a algo semelhante, mas totalmente distinto: a mera publicação 
de releases e informativos de parceiros comerciais. A variação entre os gêneros é 
muito sutil. Ambos tratam a informação de forma parecida, mas o que os difere é a 
finalidade: a notícia visa informar, e a publicidade, convencer. 
Sobre essa questão, o pesquisador Ciro Marcondes Filho afirma que imprensa e 
capitalismo são pares gêmeos. 
Dificilmente pode-se imaginar a atividade jornalística, nascida no nú-
cleo e dentro da lógica do modo de produção capitalista, como algo 
muito distinto dele. Ela só existe - pelo menos nos termos que conhe-
cemos hoje - transformando informações em mercadorias e colocando-
as, transformadas, alteradas, às vezes mutiladas segundo as orientações 
51
ideológico-políticas de seus artífices, à venda. (p. 22)
 
O jornalista Paulo Rocaro, que atua na imprensa da região Sul do Estado, escreveu 
em 10 de julho de 2006 um artigo em que expõe as complicadas relações entre a 
mídia impressa e os políticos. Intitulado “Políticos, uma ameaça para a imprensa?”, 
o autor contextualiza a situação política daqueles tempos de pré-campanha eleitoral 
para governador, e relaciona três nomes como supostos “inimigos” da imprensa in-
teriorana: o atual governador André Puccinelli, o deputado federal Waldemir Moka 
e o deputado estadual Reinaldo Azambuja. O jornalista defende a imprensa local e 
atribui ao deputado federal Waldemir Moka (PMDB) um ataque aos proprietários de 
jornais interioranos. 
Num comentário a um pequeno empresário da comunicação, ele teria 
confessado que quando era primeiro secretário da Assembléia Legis-
lativa, todos os meses assinava cheques no valor total de aproxima-
damente R$ 300 mil, destinados aos órgãos de imprensa do Estado. 
“É um dinheiro jogado fora; poderia bem ser usado em benefício da 
população”, teria se posicionado Moka.
Ainda de acordo com o jornalista: 
(...) o deputado Moka teria assegurado taxativamente que André Pucci-
nelli, caso se eleja governador, vai “fechar todos esses jornalecos”. Em tom 
sarcástico, Moka teria afirmado ao dono do pequeno jornal que “a partir 
de 2007 vocês vão ter de arrumar outra atividade para sobreviver”.
Nenhum “jornaleco” foi “fechado” pelo governador André Puccinelli. Mas, ao con-
trário, muitos continuam a se desenvolver e - naturalmente - a receber anúncios 
publicitários de órgãos públicos. A única condição que pode ser capaz de mover a 
ira de um governador é a falta de ética e profissionalismo de muitos empresários do 
ramo jornalístico - algo que Alberto Dines chama de “picaretagem” (1): “Jamais se 
deve misturar o jornalismo com o faturamento, o que resulta naquilo que, em gíria 
(1) Ver Glossário
52
de jornal, convencionou-se chamar de ‘picaretagem’”. (p. 114)
Além de desagradar a alguns políticos, a picaretagem cria um estigma entre as 
empresas jornalísticas que afugenta profissionais recém-formados. Relata o profes-
sor Pedro Celso Campos:
(...) é preciso conhecer de perto esse mercado ainda dominado por 
muito aventureirismo empresarial, o que leva alguns meios acadêmi-
cos a se distanciarem dele ao confundirem tal atividade com pura e 
simples “picaretagem”, isto é, um jornalismo voltado apenas para o fa-
turamento, sem distinção entre notícia e matéria paga, resultando em 
baixa credibilidade diante do público, principalmente por causa das 
influências políticas, partidárias, econômicas, religiosas etc.
O professor Éser Cáceres explica as principais diferenças entre um jornal considera-
do “picareta”, em relação a publicações de empresas jornalísticas tidas como “sérias”.
O jornal é picareta do ponto de vista técnico. É produzido com uma 
estrutura muito aquém daquilo que a gente considera o mínimo. Ele é 
picareta no sentido comercial da palavra. Não tem um plano de negó-
cios, não tem um projeto de divulgação publicitária. É um jornal que 
sobrevive na maior parte das vezes por permuta (...), troca de favores e 
manutenção da verba pública, a grande fonte pagadora disso.
O jornalista Luís Carlos Luciano afirma que, em 2003, a maior fatia da receita do 
Diário MS (Dourados) provinha de contratos com o poder público e firmados nos 
vários municípios do Estado onde o jornal circula. 
15% da receita são mantidos pela carteira de assinantes; 5% com a ven-
da avulsa em bancas; 6% com serviços gráficos prestados a terceiros 
(...), mas a maior fatia, em torno de 40%, provém de serviços prestados 
a órgãos públicos, incluindo Governo do Estado, Assembléia Legislativa, 
Prefeituras e Câmaras. O Caderno de Classificados contribui com 1%. 
(p. 23)
53
QUANDO O BOLO FICA ABATUMADO
 
Às vezes, a ligação entre políticos e donos de jornal pode configurar em infração 
eleitoral. Em 1º de setembro de 2008, o juiz eleitoral

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