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ARTIGO DA PÓS

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PRÓ-DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO
FACINTER - FATEC
CIRLENE DO SOCORRO HAGE DAS NEVES
OS REFLEXOS DA CENSURA E SUBMISSÃO DA IMPRENSA AMAPAENSE NO CONTEXTO ATUAL
MACAPÁ
2012
CIRLENE DO SOCORRO HAGE DAS NEVES
OS REFLEXOS DA CENSURA E SUBMISSÃO DA IMPRENSA AMAPAENSE NO CONTEXTO ATUAL
 (
Trabalho apresentado à Pró-Diretoria de Pós Graduação, para a obtenção do Título de Especialista em História do Amapá.
Professora Orientadora: 
Priscila 
Chupil
.
)
MACAPÁ
2012
OS REFLEXOS DA CENSURA E SUBMISSÃO DA IMPRENSA AMAPAENSE NO CONTEXTO ATUAL
Cirlene do Socorro Hage das Neves[footnoteRef:2] [2: Graduada em Licenciatura Plena em História pela Universidade do Vale do Acaraú - UVA e Pós Graduanda em História do Amapá pela Pró-Diretoria de Pós-Graduação / FACINTER – FATEC.] 
Priscila Chupil [footnoteRef:3] [3: Pedagoga pela Universidade Federal do Paraná; Especialista em Organização do Trabalho Pedagógico (UFPR); Especialista em Psicopedagogia (IBPEX); Professora Orientadora de TCC do IBPEX.] 
RESUMO
	
O artigo traz em seu bojo um retrato histórico da imprensa brasileira e amapaense interrelacionada com atuação do governo ao longo das diferentes épocas pelo qual passou o país, perpassando pela ditadura, com a censura e a submissão dos meios de comunicação ao governo ditatorial até a ascensão da democracia e o restabelecimento da liberdade de expressão da imprensa, de modo particular. Para isso, a metodologia desenvolvida baseou-se na pesquisa bibliográfica, com a utilização de periódicos, livros, artigos, teses e monografias referentes ao assunto abordado, sob a égide do método dedutivo, que consiste em relacionar fatos de maior abrangência aos de menor projeção, de acordo com suas especificidades.
Palavras-chave:Imprensa Amapaense, Imprensa Brasileira, censura, submissão.
ABSTRACT
The article brings with it a historical picture of the Brazilian press and Amapá interrelated with government action during the different times it has passed the country, passing through the dictatorship, to censorship and submission of the media to the dictatorial rule until the rise of restoration of democracy and freedom of expression in the press, in particular. For this, the methodology developed was based on literature, with the use of journals, books, articles, theses and monographs relating to the subject matter, under the aegis of the deductive method, which consists of relating the facts of greater coverage of smaller projection according to their specificities.
Keywords: Press Amapaense, Brazilian media, censorship, submission.
Introdução
	
	Este trabalho trata sobre a atuação da imprensa macapaense no período do regime ditatorial, bem como sua postura no decorrer das sucessões governamentais. Dentre os diversos apontamentos fica entre outras indagações “A imprensa está a serviço de quais interesses?”, “Quais os objetivos a serem alcançados com a publicação das matérias jornalísticas?”. Eis a questão em investigar junto à história da imprensa no Brasil e suas implicações na imprensa macapaense.
	A historiografia do Amapá sempre se apresenta como um lugar bem distante do restante do país, ou até mesmo como um lugar onde as riquezas minerais são abundantes, em decorrência da implantação da ICOMI, exploração de manganês. No governo de Janary Nunes, nos anos 50, já se ensaiava esta questão da dependência econômica com os países estrangeiros, posteriormente isso seria primordial para a manutenção do governo militar.
	Na imprensa escrita a intervenção do governo sempre foi evidente, perpassando damonarquia com o imperador D. Pedro até o regime ditatorial com os militares. Essa relação imprensa/ governo tem seus prós e contras, pois num dado momento era usadoa publicidade para exaltar os governantes, e num outro, como forma de protesto pelos atos arbitrários e condutas repressoras do mesmo.
	O processo de investigação a cerca destes fatos delineados na imprensa brasileira e amapaense evidencia a questão da subserviência à que tantas empresas jornalísticas foram submetidas, tanto por segurança financeira, quanto por temerem o fechamento de suas editoras. Diante disso, dispõe como ponto inicial a seguinte questão: Quais os reflexos da censura e submissão da imprensa amapaense no contexto atual?
	O presente estudo pretende relacionar a imprensa do período de censura e repressão com a imprensa atual, demonstrando que os interesses mudaram ao passo que o capitalismo avançou e a rentabilidade em usar deste veículo para promover uma ideologia tornou-se mais compensatório. Isso está mais presente no período eleitoral, quando muitos políticos valem-se da propaganda e textos jornalísticos bem elaborados e tendenciosos, a fim de se favorecer ou prejudicar o oponente.
	A metodologia empregada para delimitação do objeto pesquisado é de cunho bibliográfico, para tanto, se utiliza de livros, periódicos, artigos de jornais, monografias, tese de mestrado, sites de internet, arquivos particulares e fontes orais.
A análise do material coletado implica no método dedutivo, ou seja, parte de teorias e leis com princípios universais e previamente aceitos para a elaboração de conclusões sobre fenômenos, que neste caso procura redimensionar o cenário de submissão das publicações feitos pela imprensa escrita a cerca dos administradores políticos e o controle por parte destes, quando ao que é exposto nos meios de comunicação.
	Portanto, buscou-se artigos publicados por jornalistas com posição favorável e oposicionista à veiculação de diferentes notícias ligadas a atuação do governo, enfatizando o tratamento destas informações.
Origens da Imprensa no Brasil: da monarquia ao regime ditatorial (pós Golpe de 64)
	Em Portugal, havia organizações que fiscalizavam os livros que poderiam ou não ser vinculados na corte, entre estes estão: Ordinário, Inquisição, Régia – Desembargo de Paço (1576), Real Mesa Censória (1768). Haja vista, que este desenrolar se passava na metrópole, consequentemente viria a retardar o surgimento de publicações para fins jornalísticos na colônia brasileira. O que posteriormente traria como marco inicial a publicação do periódico Gazeta do Rio de Janeiro (1808) era uma espécie de folha oficial, com o intuito de simplesmente informar as ações da coroa portuguesa, bem como datas festivas, textos exaltando todos da realeza. Tendo por ocasião a vinda da família real para o Brasil neste mesmo ano, Gazeta do Rio de Janeiro tinha como beneficiário a coroa portuguesa
Era um período voltado às pequenas notícias da coroa e seus acólitos, notas como aniversários, estado de saúde e pequenas notícias de nobres europeus. O conteúdo era tão floreado com os assuntos da Corte, que ainda sofria censura de uma junta encarregada de “examinar os papeis e livros que se mandassem publicar e fiscalizar que nada se imprimisse contra a religião, o governo e os bons costumes (SODRÉ, 1999, p.19).
	
	A Gazeta do Rio de Janeiro apresentava-se como o ensaio de um periódico, mesmo assim ele tinha um formato de jornal, com a diferença de ser mais denso e totalmente parcial, por atender aos interesses da coroa portuguesa.
	O Correio Brasiliense (1808) periódico lançada três meses antes, tendo como responsável Hipólito da Costa, publicado em Londres, o mesmo dirigia a corte comentários ferinos, em forma de protesto a coroa portuguesa. Um jornal com formato de livro, contendo cem páginas, e que normalmente chegava ao Brasil de modo ilícito, contrabandeado.
	A publicação do Correio Brasiliense abriria espaço para o estabelecimento de outros periódicos da mesma corrente ideológica, em que muitas personalidades como: os maçons, Joaquim Gonçalves Ledo, e o cônego da capela real, Januário da Cunha Barbosa, que em 15 de Setembro de 1821 lançaram o Reverbero Constitucional Fluminense. Lustosa (1995) considerado o primeiro periódico que não passara pelo crivo da censura e que defendia calorosamente os ideários da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade, com propostas de umgoverno mais democrático, além de pregar a liberdade de imprensa. Ainda no contexto político, os mesmos eram taxativos em considerar inviável naquele momento independência do Brasil.
	Desde então diversos jornais expressavam seu descontentamento com as políticas empregadas pelos irmãos Andrada, assessores diretos de D. Pedro I, como a caso de exemplo podemos citar o Despertador Brasiliense, lançando em Dezembro de 1821, a priori apresentava-se como uma espécie de panfleto criticando a corte portuguesa e de certa forma chamava D. Pedro I a responsabilidade em desmascarar e ficar no Brasil, a fim de evitar a divisão do país e reducionismo de seu poder de príncipe regente.
	Sendo assim, o Despertador Brasiliense é considerado o primeiro vinculador das idéias de independência do Brasil, além de encarregar-se de promover o momento do fico de D. Pedro na colônia.
	No segundo semestre de 1823 três principais jornais tinham destaque na Corte de Rio de Janeiro: o Tamoio, de Antonio Carlos e Martim Francisco, irmãos Andrada; A Sentinela da liberdade na guarita da Praia Grande, de José Estevão Grondona; e Estrela Brasileira, do francês Jean Baptiste Aimé de Loy.
Foram esses os principais atores da última cena impressa da Independência. Os primeiros petardos foram lançados pelo Tamoio contra os portugueses com o intuito de atingir indiretamente D. Pedro. Nessa campanha contra o elemento português, o Tamoio seria secundado pela Sentinela de Grondona. (LUSTOSA, 1995, p. 48).
	
	A imprensa já exercia sua grande influência nos rumos do cenário político, apesar de que inúmeras leis vetariam o direito de liberdade nos textos jornalísticos, mas que nem D. Pedro ficaria a margem deste processo, dessa forma valendo-se da imprensa escrita para atacar seus opositores, nessasocasiões de maneira radical e até mesmo vexatória.
	No período da constituição de 1824 promulgada no império, chamou a atenção por seu modelo de administração na pessoa do imperador, com vistas no poder moderador, em que o Poder Legislativo era dividido em Câmara e Senado, ambos com atuação no processo eleitoral a fim de eleger uma lista tríplice que posteriormente seria indicado um nome pelo imperador. Neste mesmo contexto as idéias republicanas ganham destaque com as publicações de Frei Caneca e Cipriano Barata, jornalistas que se destacaram neste período, porém um morreu fuzilado e o outro foi exilado.
	Em 1831 destacam-se outros tipos de publicações jornalísticas, os pasquins, lançados em represália às leis lisboetas de censura à imprensa e também se apresentavam como sátiras críticas ao governo de D.Pedro.
[...] a proliferação dos pasquins como consequência da violência das lutas políticas do tempo: Diversas causas explicam o descomedimento da imprensa dessa época; era o Governo considerado regressista, estava sem prestígio; irritado contra os insultos da oposição, mostrava-se violento na imprensa; em vez de aplicar com sabedoria e tino a imprensa para dirigir a opinião pública e promover o adiamento cultural do povo, servia-se dela para ferir os contrários e perdê-los no conceito público. [...] (SODRÉ, 1999, p. 124). 
	Esta situação retratada por Sodré mudaria consideravelmente a partir de 1902 com a mudança de estilo no escrever, passando de informal e sátiro para o literário. Neste período de mudanças,destaca-se o Correio da Manhã (1905), tendo como nomes Lima Barreto, Machado de Assis, José Veríssimo, Artur Azevedo, Carlos Laet, Coelho Neto, Medeiros e Albuquerque, Morales de los Rios, Melo Morais Filho; O Diário Mercantil, de São Paulo; O País (1884); o Novidades (1887-1892); Correio do Povo (1891); a Notícia e a Imprensa, ainda no século XIX.
	Assim, a imprensa brasileira ganharia diversas nuances, perpassando de literária à proletária, ou seja, atendendo aos interesses de uma classe ou do governo instituído em diferentes épocas no país. Isso evidencia-se particularmente durante o regime ditatorial, pós golpe militar de 64, em que a censura na imprensa brasileira dava-se nos meios de comunicação.
	Haja vista que a censura não atuou de maneira uniforme durante os 21 anos da ditadura. Houve períodos de maior e de menor intensidade, seguindo o mesmo padrão de outros indicadores do grau de autoritarismo das diversas administrações. 
	O governo ditatorial tinha como característica principal, caráter populista e desenvolvimentista, comumente ligado ao autoritarismo e austeridade, governo de uma junta militar, com sucessivas administrações.
	Quando os rumos da política estavam se direcionando para um golpe militar alguns jornais foram a favor e outros contrário, entre os contrários está o jornal Última Hora (1962) num dos casos de expressão tendo como veículo a imprensa escrita o colunista Arapuã renunciou ao seu cargo por conta de ter criticadoo governo e que assim não poderia trabalhar, pois sua liberdade de expressão valia mais que uma submissão em troca de apoio de um governo autoritário e punitivo, sendo assim publicou uma carta em sua coluna explicando seus motivos para o afastamento.
	Já no caso do Jornal O Globo, de Roberto Marinho, em 1959 numa de suas edições publicou um suplemento especial de várias páginas, com o intuito de difamar o Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), matéria bem paga e muito cara. O que o autor Sodré questiona: Quem pagou? O jornal O Globo beneficiava o governo em troca de instabilidade financeira?
	Nesta época estava ocorrendo no estado do Rio de Janeiro uma greve de jornalistas com reivindicações desde um aumento de salário na base de 70% até a reintegração de 80 jornalistas demitidos ilegalmente pelas empresas, por conta destes terem apoiado a greve dos gráficos.
	Outro jornal que estampou em suas publicações apoio ao governo militar foi o Jornal do Brasil, de Nascimento Brito iniciou uma represália dispensando 15 empregados, entre redatores, revisores, repórteres e colunistas por conta do movimento dos jornalistas quando estes denunciaram os desmandos nos jornais e apenas a imprensa nacionalista deu destaque ao protesto.
	O texto publicado pelos jornalistas tinha como teor denúncias sobre enriquecimento ilícito dos donos dos jornais: Jornal do Brasil, O Globo, Correio da Manhã, Diário de Notícias e Última Hora.
	A revista Manchete, de Adolpho Bloch, trouxe em uma de suas edições a reportagem do redator-chefe sobre a União Soviética, que na ocasião era de esquerda, posição liberal, ou seja, opositora dos EUA, principal investidor na cultura popular do país. A revista chegou até ser amplamente reprimida pelo regime, sob pena de perder grande parcela de publicidade. Posteriormente, sua posição mudaria e tornaria o canal para ventilar as ações do então governo militar.
Por não ser veiculada “oficialmente” pelo governo, essa propaganda pretendia impor-se, dentre outros artifícios, pela via de credibilidade. Tal “credibilidade” decorria fundamentalmente do fato do governo supostamente não impor os conteúdos a serem publicados; para Manchete, as reportagens estavam “constatando” a realidade do país sob o regime militar. (MARTINS, 1999, p.92)
	Dessa forma, a revista Manchete passa a ter papel importante na divulgação do modelo econômico do governo de Médici, apresentando-se com uma linguagem ingênua e ideológica fazendo com que pareça que tem uma postura apolítica.
	O Correio da Manhã, em 64 e 65 foi o único jornal que demonstrou ser totalmente contrário ao regime e desde o início contestou sua existência, sendo que em suas edições por diversas estampou: denúncias, torturas e arbitrariedades cometidas pelo governo. Por conta, foi duramente reprimida tendo o fechamento do jornal pelos órgãos de repressão.
	O primeiro governo militar, do General Humberto Castelo Branco instituiu o AI -2, em que criava o SNI (Serviço Nacional de Informações) a fim de fiscalizar todos os meios de comunicação para houvesse o impedimento de publicações de matérias jornalísticas ou qualquer tipo de manifestação contrário ao seu governo.
	Em 1968 já no governo de Costa e Silva foi promulgado o AI-5, este ato promoveu a autocensura,fechamento de diversos jornais e ocupação de alguns por oficiais do governo. Entre estes jornais ocupados está o Jornal do Brasil; no dia 15, cinco oficiais passaram a censurar o jornal, o que fizeram durante três semanas (Dines, 1975).Em São Paulo, uma edição do OEstado de São Paulo foi confiscada porque protestava contra o AI-5 e, em vários pontos do País, abusos semelhantes foram constatados. 
	Somente alguns jornais permaneceram abertos e publicando matérias jornalísticas, como: Civilização Brasileira, bimestral, dirigida por Ênio Silveira, em circulação desde março de 1965, e pelos semanários:Brasil Semanal, de São Paulo, dirigido por Euzébio Rocha, e Folha da Semana, do Rio, dirigida por Artur José Poener. 
	O periódico O Globo recebeu investimentos pesados de empresas estrangeiras. Posteriormente, a empresa jornalística passou por investigação devido às diversas declarações do deputado João Calmon, dentre elas a especulação com respeito a empréstimos na Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil que não foram quitados pela empresa. 
	Diferentes manifestações culturais foram reprimidas durante o período do regime, somente a imprensa escrita não deixava transparecer por temer represálias ou até mesmo o fechamento de seus respectivos jornais.
	A imprensa “Alternativa” fazia oposição ao regime, ao mesmo que servia de espaço para as esquerdas e intelectuais. Como exemplo desta imprensa, está o Semanário Opinião, posteriormente seria atingido pela censura em 1972. Na ocasião teve suas publicações repreendidas, sendo obrigada a suspender suas atividades em 1977, como ato de protesto.
A Tribuna da Imprensa, O São Paulo e praticamente toda a imprensa alternativa permaneceram sob censura prévia até 8 de junho de 1978; Movimento, que surgiu em 1975, durante a administração Geisel, teve 4,5 milhões de palavras censuradas até 1978. (Chagas, 1979, p. 48).	
	A censura prévia foi aplicada quando os jornais recusavam a autocensura. Nem sempre ela se fez através de canais burocráticos; com certa freqüência, o aparelho ostensivamente repressivo de policiais e militares foi usado.
A imprensa macapaense no contexto do regime ditatorial: suas relações de subserviência com o governo.
	A atuação da imprensa macapaense se deu de forma bem submissa ao regime, todas as informações que chegavam ao território eram manipuladas ou chegavam com certo atraso, no caso das revistas mensais, advindas dos estados do sul e sudeste.
	Segundo Santos (2001) o comportamento de dependência do Amapá com os demais estados, foi culturalmente construído desde o período colonial. Isso se intensificou com o regime ditatorial, pois grande parte das notícias vinha de fora, sem contar que as decisões políticas eram reflexos desta submissão.
	Submissão da elite política e econômica local aos interesses dos “intermediários do poder”, sem que ensaiasse uma possível reação, ou até mesmo intervisse através de movimento contrário ao regime até então estabelecido. Em face desta subserviência Marilena Chauí traduz em Espinosa:
“ [...] Eis porque Espinosa não define a servidão humana como vício, lugar do erro e da má vontade, mas como pobreza do ser, do fazer e do pensar, lugar da abstração, isto é, da separação imaginária entre uma essência e sua potencia de agir e pensar. Servidão é a impotência para existir em ato ou, como a define Espinosa, causa inadequada, porque nela o que nos acontece não depende das leis de nossa natureza, mas da força de causas transitivas externas que atuam sobre nós.” (CHAUÍ, 1999, p. 77).
	A elite amapaense se comprazia de troca de favores e submissão aos governantes, que em sua maioria não atendiam aos anseios da população, tanto por desinteresse e por não conhecerem a realidade. Esta relação de “marasmo” concentrava-se no compadrio, ou seja, os dominantes tinham suas influencias junto a administração pública e sendo assim não havia reação alguma contra o governador, indicado pelo presidente militar.
	No cenário político do Amapá, nos de 61 a 64, dois partidos entrincheiravam uma batalha para demonstrar seu apoio ao governo de Goulart, PSD (Partido Social Democrático) e PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).
	O PSD representado pelo seu líder Janary Gentil Nunes e família, em que afirmava ter as mesmas bases políticas de Getúlio Vargas. Em consonância a estes e outros argumentos, utilizava de diversos artifícios para atingir os sucessores administrativos, em particular publicava notas a respeito do governador Terêncio Porto, com uma linguagem um tanto coloquial e ofensiva.
	O Jornal Amapá publicava em suas edições os passos do então governador Terêncio Porto, patrocinado pelo mesmo, devido a dificuldade financeira para pôr em circulação o periódico, recorria-se assim ao governo do território do Amapá. Sendo, que este jornal desde sua fundação em 1945 mantém ampla ligação com o governo, por ter como fundador Janary Nunes.
	Por noticiar sempre fatos envolvendo o governo, o Jornal Amapá inicia um declínio em suas vendas, pelo motivo de não publicar matérias jornalísticas de interesse geral. Para reverter esta crise inicia uma reformulação, investindo pesadamente em notícias relacionados com esportes, cultura e sobre personalidades da época.
As revistas vendidas em Macapá eram as de circulação nacional e chegavam com algumas semanas de atraso. O acesso a boas leituras era difícil, pois o que existia na cidade eram papelarias e não livrarias; então, era necessário que se fizesse encomenda a alguém que viajasse a capital do Pará, o Estado mais próximo. (LEITE, 2004, p.18).
	Devido à localização geográfica, o acesso a boas leituras tornava-se escassa, o que implicava no atraso das edições. E, sem alternativa o jeito era mesmo ler os jornais oficiais do governo que normalmente noticiavam somente datas festivas e atos do governo militar em Brasília e estados do Sudeste. 
	Os artistas desta época encontravam maneiras criativas para driblar a censura, em particular, os cantores compunham músicas que retratavam os desmandos, autoritarismo e repressão do governo militar.
	Segundo SANTOS (2001) muitos líderes de partidos considerados de esquerda foram interrogados pelo SNI, em alguns casos alguns detidos e torturados, como: João Capiberibe, Francisco das Chagas Bezerra “chaguinha”, líder sindical; Jorge Fernandes Ribeiro, militante do PCB, Isnard Lima Filho e Olivar Cunha, artistas plásticos, Paul Lerrouge, professor. Estes foram acusados de subversão e de estarem aterrorizando as meninas, no conhecido caso do engasga-engasga
	O Jornal Voz Católica, e o Folha do Povo, publicavam em seus periódicos matérias não necessariamente contrárias ao regime, mas ao governo local, devido ao medo disseminado pelo governo do General Ivonhoé, em 1970. Com sua influência institucional, o Jornal Voz Católica pouco foi intimidado pela censura.
	O Jornal Folha do Povo não teve a mesma sorte, em 07 de Abril de 1964 foram presos seus dirigentes, suas portas foram fechadas sob acusação de “subversão comunista”.
	Apenas esses dois jornais tentaram de alguma forma denunciar os desmandos e arbitrariedades do governo militar recém instalado no território federal do Amapá. Contrariamente dos jornais que elogiavam e exaltavam cada governador nomeado pelo regime militar. O que posteriormente, mudaria com o financiamento do governo, logo ele se alinharia ao regime ditatorial.
	Segundo Hélio Penafort a repressão ao Jornal Voz Católica pelo governador Terêncio Porto foi branda devido à população amapaense ser de maioria católica.
“Para a ‘Voz Católica’ foi designado um censor, o professor Antonio Munhoz Lopes, que, numa inexplicável falta de atenção, concordava que o jornal circulasse com uma tarja preta ao lado do título, onde se lia ‘Edição Censurada’. Disse inexplicável, mas hoje, compreende-se melhor a complacência de Munhoz. Sua sensibilidade e o seu espírito liberal absolutamente não combinavam com tarefas dessa natureza”. (PENAFORT, 1992, p. 50).
	De modo geral, observa-se como característica peculiar o modo de vida dos amapaenses, como um povo pacato etradicionalista. E o acesso a notícia era precário porque muitos eram analfabetos, por isso o radio tornou-se muito popular. Dentre as rádios da época, estão a Rádio Difusora, emissora oficial do governo e a Rádio Educadora, controlada pela igreja Católica, em que noticiava informações ocorridas diretamente do Palácio do Governo.
	Em alguns casos, jornais financiados pelo governo se prestavam a inventar notícias e banalidades do cotidiano para que o periódico não saísse “em branco”, reflexo da submissão dos meios de comunicação, como era o caso do Jornal do Povo, primeiro jornal diário do Amapá, criado por Haroldo Franco (diretor-superintendente); Walmir Botelho (diretor de redação) e Élson Martins (chefe de reportagem), além de vários outros profissionais que ali trabalhavam como Edvaldo Leal, J. Mendonça, Alcinéia Cavalcante e os irmãos Raimundo e Fernando Rodrigues, além de Horácio Marinho, fotógrafo (NEVES;NASCIMENTO; BARROS, 2010, p.53). Devido a sua peridiocidade deveria publicar novas matérias jornalísticas todos os dias, porém o acesso a informação era deficiente e a abordagem sobre o assunto política era algo facultado.
	Em 1990 surgiria Folha do Amapá, com formato semanal, seus fundadores são Élson Martins e Côrrea Neto. Surge com uma linha investigativa e dinâmica aos fatos decorridos da época, desde sua fundação passou por diversas mudanças, entre elas esta dependência com o governo que todos os jornais tinham, devido a condição financeira. Posteriormente, o editorial do jornal faria oposição ao governo do prefeito João Alberto Capiberibe, estampando em suas páginas um jornalismo mais crítico e provocativo.
	A Folha do Amapá seria o pioneiro nesta nova forma de informar, considerando que o período de abertura política já havia iniciado e a questão da censura era considerado mais ameno, dando agora destaque para a liberdade de expressão e criticidade por meio de todas as formas de comunicação.
Atuação da imprensa macapaense junto à nova postura de governabilidade em nossos dias atuais
	No processo de redemocratização pelo qual o país passou em 1985, muitos jornais reformularam seu rol de notícias e mudaram sua proposta inicial. Os exilados políticos retornaram com novas idéias, sendo que estas influenciaram de modo significativo no “fazer notícia”, contagiou também a imprensa macapaense, que antes dependia financeiramente do governo e agora teria a oportunidade de tornarem-se particulares e mais críticos, livres da censura e o do controle dos departamentos de imprensa criados pelo regime ditatorial.
	A questão da imprensa em Macapá tem seus prós e contras, principalmente quando se refere à política e atuação dos governantes, diante disso, surgem muitas especulações quanto ao que é publicado, um exemplo disso está nos jornais impressos. Desde o Jornal Amapá, publicado pela Gráfica Oficial do Governo do Território Federal do Amapá, que na ocasião divulgava apenas notícias do interesse do governo ditatorial.
	O Amapá passou por diversas transformações, de Território Federal passa a ser Estado em 1988, a imprensa assume um papel de protagonista na história, temos como exemplo sua influência nas eleições de Anníbal Barcelos em 1991, eleito pelo voto direto. O Jornal Amapá, em Dezembro de 1992, fala do governo de Anníbal Barcellos, com uma matéria jornalística que circulou no final de seu segundo ano de mandato (quando então primeiro Governador eleito no novíssimo Estado do Amapá). 
	A postura da imprensa enquanto instituição pública nos traz entre outras reflexões a questão da ética e respeito com seus leitores, sem que para isso seja generalizado o modo de pensar como tal, haja vista que alguns jornais foram citados num escândalo, denominado por “mensalinho da imprensa macapaense”, publicado na Folha do Amapá, em sua edição de 17/01/2006 trazia como seguinte manchete “Preço do Silêncio da imprensa é um mensalinho de até R$ 60 mil”, relatava que supostamente alguns deputados, jornais periódicos, radialistas e emissoras de TV recebiam propina pela SECOM (Secretaria de Estado de Comunicação) para que os mesmos divulgassem ações favoráveis ao Governo e ocultasse possíveis irregularidades da administração pública.[footnoteRef:4] [4: Segundo Folha do Amapá estas denúncias não foram formalizadas e o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Amapá, Volney Oliveira afirma que não há provas contundentes deste esquema, portanto se não há denuncia, não há o que possa ser apurado pela Comissão de Ética.] 
“Documentos de dentro da SECOM revelam o escândalo da propina de até R$ 60 mil a donos de veículos, políticos, jornalistas e radialistas do Amapá. Na relação estão sete dos 24 deputados que recebem o jabaculê.
[...]
Recortes das listas, carimbadas pela SECOM, até então escondidas a sete chaves os documentos timbradas e assinados pelo chefe de Divisão de Editoração da Secretaria de Comunicação, Alice Evangelista Barroso, são os meses de Outubro e Novembro de 2003, seis meses de 2004 – Janeiro a Julho -, além dos meses de Setembro e Outubro do mesmo ano, aos radialistas e deputados que utilizam os horários nos veículos, alguns comprados _ prática considerada crime pela Agencia Nacional de Telecomunicações (Anatel) _, para manipular e tentar persuadir a opinião pública com notícias favoráveis e defesas severa do Governo do Estado, bem como silenciar e não abrir espaço para a oposição.” [...]
Disponível em: www.observatoriodaimprensa.com.br
Publicado integralmente em Folha do Amapá, edição do dia 17/01/2006.
		
	Diante desta constatação de que a imprensa está mais interessada em benefícios, em longo prazo, indagamos: Qual o papel primordial da imprensa? Para esta pergunta e outras está a questão da ética e compromisso com a verdade, mesmo quando esta verdade abala as estruturas de um determinado grupo, ou seja, a imprensa deveria buscar a imparcialidade e manter-se a margem da tendenciosidade.
	Segundo Valls (1994, p.74) o conceito de ética nas questões políticas:
Em relação ao Estado, os problemas, éticos são muito ricos e complexos. A ética política revisou, entre outros, os ideais de um cosmopolitismo indeterminado de um Kant, e soube reconhecer as análises de um Hegel a respeito do significado da nacionalidade e da organização estatal como o ápice do edifício da liberdade. A liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão de um Estado livre e de direito. As leis, a Constituição, as declarações de direitos, a definição dos poderes, a divisão destes poderes para evitar abusos, e a própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como questões éticas fundamentais.
	Paralelamente ao direito constitucional do voto e da liberdade de expressão, estão questionamentos delineados a respeito do que é competência do estado, e qual sua verdadeira função dentro da sociedade organizada. Para tanto, alguns administradores públicos, utilizam-se dos meios de comunicação para se beneficiarem ou até mesmo para “derrubar” seus opositores. Kant e Hegel definem a ética política como o reconhecimento da cidadania de fato e estado livre, a base da organização do estado, com suas características estruturais e funcionais de todos os componentes da administração pública.
	Em observância aos fatos delineados no decorrer do governo de Waldez Góes, dentre eles: operações da Polícia Federal e outros escândalos envolvendo acusações de improbidade administrativa percebe-se a manipulação dos meios de comunicação, com notícias veiculadas nocivas aos que se mostravam contrários ao então governador. Voltando-se para o exercício da cidadania, o voto e a liberdade de expressão, estes são sumariamente esgotados ao passo que a sociedade de modo geral, depara-se com a ocultação ou manipulação de notícias.
	Um ano após a divulgação deste escândalo do pagamento de propina do Governo para alguns veículos de comunicação de Macapá, mas precisamente no ano de 2004, ocorreu a Operação Pororoca que desencadeou a prisão de autoridades do Estado como: o prefeito de Macapá João Henrique Pimentel e o prefeito deSantana, Rosemiro Rocha. E neste momento alguns jornais em Macapá, pouco divulgaram o ocorridas, apenas pequenas notas a respeito do caso, sendo que a Folha de São Paulo teve acesso a todos as ocorrências, com seus colaboradores em Macapá, entre eles está a jornalista Alcinéia Cavalcante. Já os principais jornais de Macapá noticiaram matérias jornalísticas tendenciosas, assumindo uma posição favorável ao grupo preso pela operação. O que segundo o jornalista Bruno Paes Manso, do Estadão, em seu artigo publicado no dia 22 de Setembro de 2010, intitulado Operação Mãos Limpas: ‘Alvo do grupo da harmonia’, Amapá vira terras sem lei, que num trecho afirma o seguinte:
O “grupo da harmonia” começou a se fortalecer em 2002, quando Waldez Góes assumiu o governo sucedendo a João Capiberibe (PSB). Pregava o bom relacionamento entre os poderes e conseguiu avanços. (...)
Boa parte da imprensa contribui para o ambiente pacificado ao se calar apesar dos sucessivos escândalos. Sobrevivem graças aos recursos de propagandas institucionais da Secretaria Estadual de Comunicação, da ordem de R$7 Milhões. (...)
Disponível em: Http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100922
	Na imprensa macapaense, a atuação da “harmonia” nos meios de comunicação é algo do conhecimento geral, porém se apresenta de maneira negativa, se levar, em conta o principio da ética e da liberdade de expressão. O exercício da cidadania está disposto da Constituição Federal no Art 5º:
(...)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científicae de comunicação, independentemente de censura ou licença; (BRASIL, 2003, p.8)
	Esse direito assistido pelo artigo citado acima, de certa forma fica comprometido, quando um grupo vale-se de notícias manipuladas e tendenciosas para atender aos interesses em particular, o que por direito é domínio público.
	Resquícios desta imprensa da “harmonia” estão num jornal fundado em 2006, por um suposto jornalista, colaborador do governo de Waldez Góes, recebendo o nome de “O Jornal”, insistentemente em todas suas edições plantou notícias tendenciosa contra os Capiberibe como afirma Heverson Castro, em seu Blog: “Todas as edições, sem exceção foram direcionadas para atacar os Capiberibe” (Disponível em: http://heverson-castro.blogspot.com/2011/06/retro-era-assim-que-harmonia-fazia.html).
	Ações do governo que extrapolam a esfera político-administrativa, deixando um “rastro” de domínio no tratamento de informações, assim a verdade continua sendo manipulada de acordo com seus interesses. Como foi demonstrado este esquema que acaba por maquiar e em certos momentos denegrir a imagem de qualquer um que se oponha ao seu modelo político.
	A título de exemplo da manipulação por parte do governo aos meios de comunicação, ou seja, matérias jornalísticas favorecendo a situação. Pinto (2010) faz um estudo comparativo entre o Jornal O Globo (Roberto Marinho) e o Estado do Maranhão (José Sarney) quanto aos escândalos envolvendo a então senadora Roseana Sarney nos casos Lunus[footnoteRef:5], em 2002 e os atos secretos do Senado[footnoteRef:6], em 2009. Observou-se que no caso Lunus três notícias positivas e uma neutra foram publicadas cotidianamente no Jornal O Globo, enquanto que o Estado do Maranhão publicou onze matérias positivas e apenas uma negativa, sendo que esses pontos são analisados pela autora como manipulação e favorecimento à senadora Roseana Sarney, chegando ao ponto de anunciarem uma candidatura que nunca existiu. Já no caso dos atos secretos do Senado O Estado do Maranhão veiculou apenas notícias do circuito nacional, bem como fatos ocorridos fora do estado, de certa forma “fazendo vista grossa” a atuação do senador José Sarney no Senado Federal. 	 [5: O Caso Lunus envolveu Roseana Sarney, a primeira governadora do país, na pré-campanha presidencial de 2002. A Lunus Serviços e Participações Ltda. tinha Roseana como acionista majoritária (82,50%), em sociedade com seu marido e Secretário de Planejamento do Estado, Jorge Murad (17,27%) e Severino Cabral (0,23%). (PINTOS, 2010, p.131).] [6: Os Atos Secretos foram resultado de uma crise ética vivenciada no Senado, em 2009, no início da gestão de José Sarney. Insatisfeitos com o resultado do pleito, alguns políticos começaram a relatar o modus operandi da Casa anonimamente para a mídia. (PINTOS, 2010, p.132).] 
	Isso se torna ainda mais evidente quando ocorre mais uma operação da Polícia Federal em 2006, denominada Operação Sanguessuga, alguns políticos estavam envolvidos num esquema de licitações fraudulentas para a compra de ambulâncias, entre os presos está José Júlio de Miranda Coelho, presidente do Tribunal de Contas do Amapá. Como noticiou o Estado de São Paulo:
(...)
“Em outro trecho do inquérito, a Polícia Federal detalha o “modus operanti” do presidente do Tribunal de Contas do Amapá, José Júlio de Miranda Coelho, também preso na operação, para desviar recursos públicos. Entre janeiro de 2005 e julho de 2007, ele faz saques irregulares da conta bancaria do tribunal de R$ 7,5 milhões. Não há prestação de contas.”
Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1047902&tit=Pivo-do-caso-sanguessugas-deu-onibus-a-governador-do-AP	
	Diante desta operação da Polícia federal a imprensa jornalística amapaense continuou sendo omissa, ao ponto de divulgar apenas notas diretas e informativas, alguns jornalistas que possuem blog de domínio público expuseram seu ponto de vista quanto ao acontecido. Esta postura evidencia-se no artigo de Nezimar Borges publicado no site do jornalista Côrrea Neto, constando que:
“Uma primeira atitude do governador Waldez Góes que iria permear todo seu governo foi diante do primeiro escândalo de corrupção, o caso da AFAP, Agencia de Fomento do Amapá, no desvio mais de um milhão de reais, quando então protegeu seu compadre Edmar Lourinho, passando “panos quentes” no inadmissível e resguardando-o na presidência da instituição, desta forma, deixando o caso mais do que abafado. Ainda assim, alguns meios de comunicação que ainda não haviam sido logrados pelo poder, noticiaram o escândalo. Perceberam com isso que para obter sucesso no saque aos cofres públicos deveriam, a priori, cooptar a totalidade dos meios de comunicação do estado, pelo menos, considerada parcela dos meios de comunicação, e assim foi feito.”
Disponível em: http://www.correaneto.com.br/site/?p=14864
	Num desencadear de fatos que ameaçam o “governo da harmonia”, estão seus opositores com apresentação de denúncias dos desmandos e arbitrariedades com que o governo Waldez Góes demonstra seu poder e hegemonia.
	Desse modo, algumas reflexões quanto à influencia do governo sobre a imprensa demonstra um certo antagonismo como Capelato cita: 
A imprensa, ou melhor, os meios de comunicação em geral, tanto servem à aproximação como ao distanciamento entre os homens. Podem permitir que todos participem do governo e controlem os governantes, mas também se prestam ao estabelecimento do controle político sobre os governados. (CAPELATO, 1988, p.72).
	A imprensa macapaense preferiu compactuar com as ações do governo, sendo elas benéficas ou não para a sociedade, no momento em que aceitou que a harmonia se instalasse, ou seja, se prestam ao controle político sobre os governados. Isso se aplica a um determinado grupo, sem que para isso generalize uma classe inteira. Sobre esta “harmonia” existente entre nossos governantes e jornalistas, torna evidente esta postura da imprensa no artigo do jornalista Heverton Castro, blogueiro e jornalista de Folha do Estado:
No último sábado (28/05), a Polícia Federal cumpriu 17 mandados de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva na casa de conselheiros, ex-conselheiros e funcionários do Tribunal de Contas do Amapá (TCE). A ação da PF é um desdobramento da operação Mãos Limpas pipocada no dia 11 de setembro de 2011.
(...)
Alguns meios de comunicação se detiveram em fazer o bom jornalismo, veiculando os fatos e AS notícias. Outros utilizaram-se do expediente de opinar e criar factoides numa tentativa mascaradade manipular a opinião pública.
Observei que houve um claro tendenciamento de alguns jornalistas, blogueiros e principalmente do jornal “A Gazeta”, que tentou colar a pecha de uma possível ligação da família Capiberibe, do PSB e do atual governo com a operação Mãos Limpas.
Disponível em: http://www.heversoncastro.blogspot.com/2011_05_01_archive.html.
	Conclui-se que a sociedade amapaense e a própria imprensa, que não faz parte deste grupo, tinham conhecimento deste esquema, porém não denunciavam por falta evidente de provas que comprovem o fato, portanto esta mesma imprensa continua mantendo-se no jornalismo pacífico e articulado com o governo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
	O artigo apresentou uma retrospectiva histórica de fatos ocorridos na imprensa brasileira e amapaense, a fim de compreender como o processo de submissão e censura influenciou de forma significativa na atuação da imprensa escrita, principalmente, e outros meios de comunicações sociais. 
	O detalhamento dos fatos históricos enfatizou o processo de transformações pelo qual a imprensa passou e como tem mantido sua relação com o poder governamental, de modo geral, esta relação nem sempre foi algo velado e transitório, sendo que no período de censura, passa a ser algo até violento e vexatório para alguns jornalistas que insistissem em noticiar ações repressivas do governo ditatorial, a liberdade de imprensa nesse período era algo utópico, sem efeito legal. Por este motivo, os jornais se submetem a exibir em suas publicações notícias de pouca relevância para a sociedade e notoriamente ignorando a realidade que o país estava vivenciando. 
	No caso do Amapá, este propósito foi muito mais evidente, pois o governo financiava os poucos jornais que circulavam periodicamente na cidade, fazendo com o controle sobre as publicações fossem mais rechaçadas e inócuas aos interesses do grupo dominante, muitas vezes noticiando fatos bem aquém do cotidiano brasileiro, o restante do país era ignorado para favorecer a elite política da época.
	As discussões em torno da atuação da imprensa macapaense não se encerram neste artigo, pois há muito a ser apresentado, em todos os âmbitos da sociedade. Até recentemente especulava-se a participação de jornalistas e autoridades políticas num esquema de favorecimentos e benevolências ao Governo, e que fique explícito que não passaram de especulações, pois a denúncia e as possíveis provas não foram apresentadas formalmente à Justiça, compactuando mais uma vez para a impunidade e fortalecimento de políticas baseadas no autoritarismo velado e no jogo de interesses, em que apenas um grupo de pessoas são beneficiadas num esquema organizado e elitizado.
	O que se pretende ao expor esta relação de submissão e omissão da imprensa quanto às possíveis irregularidades e fatos consumados de improbidade administrativa de nossos governantes, parte do principio da liberdade de expressão e descontentamento com apostura assumida de um órgão público que deveria atender aos interesses da sociedade, no sentido de denunciar e alertar para as arbitrariedades e desmandos das pessoas que elegemos como nossos representantes, ao contrário, procura fazer “vista grossa” para a falta de ética, hegemonia política de um grupo dominante.
	Observamos que pouco mudou desde a monarquia até nossos dias de democracia, a ponto do governo reprimir de modo definitivo a liberdade de expressar o “ponto de vista” de cada um, ou seja, a imprensa jornalística deveria ser o representante natural da sociedade, não apenas um veículo informativo meramente capitalista, com caráter de mercadoria, onde a notícia tem seu preço de acordo com a especificidade de quem for envolvido na manchete.
	No decorrer do projeto de pesquisa, dispõe-se como exemplo o caso da rede Globo, imprensa carioca, esteve presente em todas as etapas da ditadura, financiou manifestações de políticos ditos “populistas”, favorecendo assim a política neoliberal, dessa forma, influenciou o modo de fazer política arbitrária e inquestionável aos olhos do povo. Em diversos momentos percebeu-se o apoio incondicionaldos aliados políticos a mesma, ao mesmo tempo que esta disseminava os ideais, propostas que em nada favorecia a maioria, numa dessas ações estão a doação de terras para a construção de mais estúdios de TV, pagamento de propina para que a mesma continuasse influenciando a opinião pública.
	Com relação a imprensa amapaense fica explicito a participação maciça dos meios de comunicação: TV, jornal imprenso e televisionado, em alguns casos esses meios eram estatais, veículo para exaltar e consolidar o poder de um grupo político. Fatos estes que não escapam de nossos dias atuais, evidenciando-se principalmente no período eleitoral, onde os jornais divulgam notícias favorecendo um determinado político ou um partido. Servem também para difamar e espalhar noticia arbitrárias e inefestuosas, absurdas sobre a vida pessoal dos envolvidos, chega ao cúmulo até de invenção “meticulosamente” encomendados por algum grupo contrário às propostas divulgadas anteriormente. 
	Conclui-se que os debates a cerca da ética profissional na imprensa jornalística inicia uma nova era no tratamento de informações, pois podemos notar a ascensão de novas mídias, como a internet, campo onde o interacionismo é ponto chave,e que oportuniza a sociedade transpor suas críticas e opiniões em torno de um assunto atual, privilegiando assim a troca de experiências por parte dos profissionais que noticiam e pessoas de todos os segmentos profissionais.
	A internet favorece a democracia e encontra força nos fóruns, blogs que contam com a participação efetiva de todos os grupos atuantes ou não no processo político do país e do Amapá, em que todos os dias trazem fatos que dificilmente seriam divulgados na TV ou jornais semanais. Inaugurando assim uma nova forma de noticiar, de informar e promover debates informais sim, mas que tem suas raízes na opinião pública de fato, sem restrições predispostas.
	
REFERENCIAS
AGENCIA ESTADO. Pivô do caso sanguessugas deu ônibus a governador do Amapá. Publicado no O Estado de São Paulo, em: 18/09/2010. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vidapublica/conteudo.phtml?tl=1&id=1047902&tit=Pivo-do-caso-sanguessugas-deu-onibus-a-governador-do-AP. Acesso: 29/01/2012.
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Bruno Paes Manso. Operação Mãos Limpas: ‘Alvo do grupo da harmonia’, Amapá vira terras sem lei. Matéria jornalística publicada no Estadão. Disponível em: Http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100922. Acesso: 02/Fev/2012.
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Heverson Castro. A operação Mãos Limpas no TCE e a distorção da notícia. Blog do Heverson Castro, postado no dia 30 de Maio de 2011. Disponível em: http://www.heverson-castro.blogspot.com/2011_05_01_archive.html. Acesso: 29/Jan/2012.
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Nezimar Borges. Um ano da “Mãos Limpas”: histórico de corrupção que deslanchou na maior operação policial no AmapáGeléia Geral site do jornalista Correa Neto, publicado no dia 28 de Setembro de 2011. Disponível em: http://www.correaneto.com.br/site/?p=14864. Acesso: 29/Jan/2012.
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