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8 Desenvolvimento do percepcao

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O Desenvolvimento da Percepção
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INTRODUÇÃO
Até aqui vimos algumas de nossas capacidades perceptivas básicas: a capacidade de perceber brilho, cor, tamanho, distância, forma, tempo, movimento, eventos, pessoas e suas emoções. 
Muitos teóricos se perguntam se estas capacidades são inatas ou aprendidas. 
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A pesquisa na área da psicologia do desenvolvimento humano nos confronta com uma série de problemas que dificulta a aquisição de novos conhecimentos. 
Os pesquisadores encontram se numa situação bastante peculiar: como saber se um bebê percebe brilho, cor, tamanho, forma ou movimento de um objeto?
 Bebês são sujeitos experimentais que não podem nos falar a respeito de suas percepções. 
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O código de ética prevê algumas restrições óbvias e específicas no que se refere à escolha do procedimento experimental. 
Um bebê, recém-nascido, permanece imóvel no local em que é colocado, não fala, e, aparentemente, dorme muito. 
Diante deste quadro, muitas pessoas sentem-se tentadas a concluir que o bebê nada percebe do que acontece ao seu redor. 
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Apesar das restrições e das dificuldades no progresso de muitas pesquisas. Alguns estudiosos, no entanto, superando de forma engenhosa os problemas éticos e experimentais, forneceram informações preciosas a algumas perguntas milenares.
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ESTUDOS SOBRE O DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO DE BEBÊS
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O que você sente quando se debruça sobre o parapeito de uma janela do último andar de um edifício muito alto, e olha lá para baixo? 
Ter medo, ou alguma das outras reações diante de precipícios, implica a percepção de profundidade ou distância. 
Reações como estas desempenham, sem dúvida, um papel de destaque na preservação da espécie humana. 
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Você acha que todas as crianças têm este medo? 
Quando, na vida do ser humano, tem início esta forte reação na beira de precipícios? 
Quando começamos a perceber distância e profundidade? 
Seria uma capacidade perceptiva inata, decorrente da maturação, ou seria produto da aprendizagem? 
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Perguntas como estas levaram Eleanor Gibson, uma psicóloga americana, a procurar um marceneiro e construir um aparelho hoje conhecido como o "precipício visual". 
Consiste basicamente em um caixote fechado de madeira, com tamanho aproximado de uma mesa, externamente revestido de tecido ou papel xadrez. Esta caixa é colocada sobre o chão, também forrado com o mesmo material xadrez. 
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Sobre a superfície superior do caixote é colocado um vidro plano, transparente e inquebrável, cujo tamanho é o dobro da superfície do caixote. Desta forma, metade da placa de vidro fica suspensa no ar. Para não cair, é apoiada por um suporte, na extremidade mais distante do caixote.
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Com o auxílio deste miniprecipício visual, a pesquisadora pôde estudar a reação de bebês e filhotes de numerosas espécies de animais: tartarugas, pintinhos, ratos, gatos, cães, cabritos e porcos. 
O bebê era colocado sobre uma tábua que ficava na beira do precipício visual e sua mãe o chamava para seus braços, ficando ora do lado fundo do precipício, ora do lado raso, perto do caixote, enquanto a psicóloga anotava todas as reações do bebê. 
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Praticamente todos os bebês (de 6 a 14 meses) colocados no precipício visual evitaram o lado fundo, coberto apenas pelo vidro transparente, engatinhando para os braços da mãe somente pelo lado raso. 
Quando a mãe os chamava para o outro lado, convidando-os a atravessar a placa de vidro suspensa, eles não saíam da tábua existente à beira do precipício onde haviam sido colocados e, com frequência, choravam desesperadamente. 
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Estes resultados mostram que os bebês percebiam profundidade (distância), sabiam que se tratava de uma situação perigosa e sabiam que não deveriam aproximar-se. Trata-se, portanto, de bebês muito "sabidos", cujas capacidades têm pouca semelhança com a "folha de papel branco" proposta pelos primeiros empiristas. 
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Na Escócia, vive mais um pesquisador chamado Theodore G. R. Bower. 
Observando cuidadosamente o comportamento de bebês, verificou que, apesar de terem dificuldade de sustentar a cabeça, conseguem, no entanto, movê-la para os lados com facilidade. 
Construiu uma cadeirinha confortável, com encosto para a parte posterior e lateral da cabeça, semelhante aos atuais "bebês- conforto". 
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Revestiu a cadeirinha toda com um acolchoado macio e instalou no encosto lateral da cabeça, entre o acolchoado e a madeira, um micro-interruptor, semelhante à barra usada nas "gaiolas de Skinner" empregadas para o condicionamento operante de ratos. 
Assim, cada vez que o bebê virava a cabeça para um lado, o dispositivo era pressionado. Esta resposta podia ser registrada e recompensada, isto é, condicionada. 
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Como recompensa, Bower empregou um estímulo que se mostrou altamente reforçador para os bebês estudados em seu laboratório: o súbito aparecimento da mãe (ou do experimentador), exclamando alegremente "Ôi!". 
A resposta de mover a cabeça para um lado rapidamente aumentou de frequência. Com isto, foi possível criar situações experimentais que permitiram estudar a discriminação e generalização de diversos estímulos, para saber se bebês de apenas dois meses de idade percebem ou não tamanho e distância.
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Ainda com o intuito de avaliar a percepção de tamanho, Bower mostrou a seus bebês de 7 a 15 dias de idade um lápis e uma bola, tendo o cuidado de filmar a mãozinha que se erguia para pegá-los. 
Projetadas na tela, as imagens eram paradas para medir-se a distância entre o indicador e o polegar. Ele verificou que o espaço entre indicador e polegar era sistematicamente menor nas situações em que o bebê estendia o bracinho para pegar o lápis. Nas ocasiões em que tentava alcançar a bola, o intervalo entre os dois dedos era bem maior, dando uma demonstração clara da sua capacidade de julgar corretamente o tamanho dos objetos. 
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As capacidades perceptivas também foram estudadas medindo-se batimento cardíaco dos bebês. 
As batidas do coração aumentam de frequência com o medo e diminuem com a atenção. 
Bower desejava verificar se os bebês, como os adultos, percebem objetos como coisas concretas e permanentes. Para isto, registrou o batimento cardíaco enquanto o bebê observava um objeto que estava sendo colocado atrás de um anteparo. 
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Sem que o bebê pudesse observá-lo, o objeto era tirado de cena. Assim, quando o anteparo era removido, o bebê não encontrava mais o objeto. Se bebês têm expectativa de que objetos são coisas permanentes, deveriam manifestar surpresa com o seu súbito desaparecimento. Caso contrário, não reagiriam. 
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Neste estudo, os bebês mais jovens tinham apenas 20 dias de idade. Bower verificou que todos os bebês por ele estudados manifestaram surpresa (desaceleração do ritmo cardíaco) nas situações em que não reaparecia o objeto escondido atrás do anteparo. 
Neste experimento, a surpresa foi avaliada pela diminuição do ritmo cardíaco. 
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Robert Fantz, um psicólogo americano, construiu em seu laboratório um aparelho muito simples. Consistia, basicamente, num grande caixote, aberto apenas de um lado e colocado no chão. Pela parede aberta do caixote, introduzia-se um bercinho sobre rodas. Dentro dele era deitado o bebê, que ficava olhando para o teto do caixote onde eram fixadas duas figuras. Entre as duas figuras, no teto, havia um pequeno orifício por onde o experimentador podia observar o rosto do bebê e assim anotar quanto tempo ele olhava para cada uma das figuras. 
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Robert Fantz queria saber se bebês têm a capacidade de perceber formas diferentes e se têm preferência por, algumas delas. Ele chegou a trabalhar com bebezinhos poucas horas apos o seu nascimento. 
Os bebês de 10 horas a 6 meses de idade, estudados por este psicólogo mostraram uma nítida preferência por figuras dotadas de formas complexas com círculos concêntricos e xadrez. As menos preferidas são superfícies lisas e homogêneas. 
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Um dos
resultados mais interessantes, obtido por Fantz, resultou da comparação da reação (sorrisos) de bebês diante de um padrão de rosto humano formado pelos elementos boca, olhos, nariz, sobrancelhas e cabelo, e diante de um padrão formado pelos mesmos elementos, porém dispostos de forma casual: a partir de uma idade muito precoce (1 a 15 semanas), sorriam mais frequentemente diante do padrão do rosto normal mostrando a capacidade de perceber formas, e a nítida preferência por algumas delas. 
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Outros pesquisadores mostraram, no entanto, que os bebês também sorriam com elevada frequência diante de faces deformadas (máscaras), contanto que os estímulos visuais fossem colocados em movimento. Estes resultados mostram que bebês de 2 a 6 meses de idade têm percepção de movimento. 
No que diz respeito à preferência por cores, uma pesquisadora verificou que bebês de 2 a 24 meses de idade passavam mais tempo olhando para o vermelho e o amarelo do que para o azul e o verde. Isto é, preferem as cores denominadas quentes. 
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Os estudos relatados dão uma boa idéia das capacidades perceptivas existentes no princípio da vida de seres humanos criados em condições normais. Eles provam que, muito antes do nosso primeiro aniversário, já somos capazes de perceber distância, profundidade, tamanho, forma, movimento e cor das coisas que nos cercam, e que já possuímos expectativas muito definidas a seu respeito. 
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Se você ainda tem dúvidas a respeito das capacidades perceptivas visuais de um bebê tente mostrar insistentemente a língua a um recém-nascido. 
Você poderá observar que, em algum momento, o bebê irá imitá-lo, mostrando sua própria língua. 
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Bower obteve este resultado com bebês de apenas um dia de idade, e ponderou a respeito das capacidades perceptivas que a criança deve possuir para ter uma reação tão elaborada: o bebê é capaz de prestar atenção ao rosto do adulto, ver a língua e identificá-la com a sua própria língua; e possui coordenação motora suficiente para imitar o outro. 
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Não é formidável a bagagem perceptiva que o ser humano já traz consigo ao nascer?

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