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servico social e movimentos sociais formacao academica de trabalhadores do campo na ufrj e uece

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SERVIÇO SOCIAL E MOVIMENTOS SOCIAIS: formação acadêmica de trabalhadores do 
campo na UFRJ e UECE 
Liana Brito de Castro Araújo
1
 
Maristela dal Moro
2
 
Elaine Martins Moreira
3
 
Jana Alencar Eleutério
4
 
Francisca Geneide de Sousa
5
 
 
 
 
A Mesa Temática Coordenada se propõe a apresentar as experiências da UFRJ e UECE na formação em 
Serviço Social, voltados para os trabalhadores do campo. São duas turmas constituídas através da 
parceria Universidade, Movimentos Sociais Rurais e INCRA/ PRONERA - Programa Nacional de Educação 
em Áreas de Reforma Agrária. Este Programa é resultado da luta dos movimentos sociais rurais pelo 
direito à educação, que responda à realidade das áreas de reforma agrária. Garantindo a Proposta de 
Formação de acordo com as Diretrizes Curriculares da ABEPSS em sintonia com o Projeto Ético Político, 
estas experiências apresentam algumas particularidades. A formação ocorre dentro das Políticas 
Afirmativas e com uma formação baseada na Pedagogia da Alternância, que se organiza em dois tempos 
educativos: o Tempo Escola e o Tempo Comunidade com períodos de vivência dos estudantes na 
universidade e tempos transcorridos no meio onde vivem, o que dá um novo ordenamento aos currículos. 
Destacaremos a construção do processo pedagógico, que nas duas universidades ocorreu através de um 
permanente diálogo com os movimentos sociais do campo envolvidos. Essas experiências tem se 
desdobrado em diversas práticas político-pedagógicas inovadoras, das quais destacamos: aproximação 
entre Universidade (cursos do Serviço Social/ ABEPSS/ CFESS/ CRESS), ENFF e Movimentos Sociais do 
Campo, em destaque, o MST; aproximação com outras instituições de formação e intelectuais 
colaboradores; diálogo entre professores universitários e estudantes militantes, bem como a criação de 
novos ritos em sala de aula e no ambiente universitário; construção do estágio supervisionado em Serviço 
Social buscando inová-lo a partir das demandas postas, preservando o acúmulo da profissão nesse 
âmbito, garantindo a formação sem o afastamento da realidade em que vivem os estudantes, 
aprofundando a relação teoria e prática; a construção coletiva de uma convivência estudantil para além do 
Tempo Escola. A mesa será constituída por quatro trabalhos e terá a seguinte dinâmica: A profa. Liana 
Brito abrirá os trabalhos apresentando a proposta e a forma como será organizada. A profa. Maristela Dal 
Moro apresentará a experiência da Escola de Serviço Social da UFRJ ressaltando a forma como foi 
implementada, a relação com os movimentos sociais e com a ENFF, as potencialidades e desafios dessa 
proposta para o Serviço Social e para os movimentos sociais. A profa. Liana Brito apresentará a 
experiência da estruturação do projeto de formação turma de Serviço Social “da Terra” na 
UECE, com ênfase na coordenação coletiva com o MST e ENFF, nos desafios do processo ensino-
aprendizagem e nas novidades provocadas pelas relações construídas com os estudantes/ militantes 
dos movimentos sociais do campo; a profa. Jana Eleutério discorrerá sobre a experiência do Tempo 
Comunidade como momento fundamental no processo de formação acadêmica; a estudante Geneide 
de Sousa apresentará as reflexões dos estudantes no processo de formação, evidenciando os 
desafios vivenciados no Tempo Escola e no Tempo Comunidade.. 
 
 
 
 
 
 
1
 Doutora. Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: liana.brito@uece.br 
2
 Doutora. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: dalmororj@uol.com.br 
3
 Mestre. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: elainemoreiradv@gmail.com 
4
 Mestranda. Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: janaalencar@gmail.com 
5
 Militante Social do MST/Ceará; Universidade Estadual do Ceará (UECE). 
 
 
 
 
SERVIÇO SOCIAL DA TERRA NA UECE: desafio da formação profissional 
em parceria com os Movimentos Sociais do Campo 
Liana Brito de C. Araújo 
6
 
Cristina Ma.Nobre
7
 
Adinari Moreira de Sousa 
8
 
 
Resumo: 
O trabalho apresenta a experiência da formação da turma de Serviço 
Social “da Terra” na UECE, convênio PRONERA/ INCRA. Muitos são 
os desafios enfrentados na construção da proposta como parte da 
Educação do Campo do MST com a Pedagogia da Alternância. As 
conquistas coletivas de um trabalho com os Movimentos Sociais do 
Campo (MST, MAB, MPA, CPT e Comunidades Quilombolas), 
reafirmam o Projeto Pedagógico do Serviço Social sintonizado com 
as diretrizes curriculares nacionais. Essa formação demarca uma 
singularidade posta no permanente diálogo entre estudantes e 
coordenação pedagógica (professores da UECE, MST e ENFF), 
objetivando novas relações na universidade. 
 
Palavras Chave: Serviço Social; movimentos sociais campo; 
formação acadêmica; PRONERA; universidade; 
 
Abstract: 
 
The paper presents the experience in the formation of a class of 
"Social Workers of the Earth" on UECE, PRONERA / INCRA 
agreement. There are many challenges faced in the construction of 
the proposal as part of the MST’s Rural Education with the Pedagogy 
of Alternation. The collective achievements of a work with the Rural 
Social Movements (MST, MAB, MPA, CPT and Quilombo 
Communities) endorse the Social Work Pedagogic Project tuned with 
national curriculum guidelines. This experience defines a singularity 
placed in permanent dialogue between students and teaching 
coordination, aiming new relations at the university. 
 
Keywords: Social Work; peasants’ social movements; academic 
education; PRONERA; university; 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 Doutora. Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: liana.brito@uece.br 
7 Doutora. Universidade Estadual do Ceará (UECE). 
8 Doutora. Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: adinarisousa@gmail.com 
 
 
1. Introdução: 
A luta dos movimentos sociais do campo pela terra no Brasil tem se configurado 
não apenas em defesa da reforma agrária, ou da conquista do território. Embora diversas 
concepções e bandeiras tenham sido construídas nos últimos anos, fica evidente a 
estratégia da luta também pela conquista da educação em todos os níveis, principalmente, 
dos espaços das universidades brasileiras, uma luta manifestada nas palavras de ordem 
como: “pelo fim do latifúndio do conhecimento” e “quebrando as cercas do conhecimento e 
os muros da universidade”. O que os Movimentos Sociais do Campo (MSC), dentre eles o 
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em especial, têm feito neste 
processo de luta de classe, é construir uma concepção de Educação do/ no campo. 
O PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), mesmo 
com todos os seus limites e contradições, revela o nível de conquista dos movimentos 
sociais no processo de consolidação de políticas públicas voltadas para parte de suas 
demandas, o que expressa a realidade de um Estado como síntese das relações de coerção 
e hegemonia entre as classes. Em outros termos, um Estado que promulga a necessidade 
das classes dominantes incorporarem demandas dos setores subalternos a fim de manter 
seu poder econômico, político e ideológico. Isto ocorre como resultado da luta de classes, 
porque esses setores subalternos evidenciaram capacidade de resistência, de organização 
e mobilização em torno de suas demandas (GRAMSCI, 1968). 
Nessa dinâmica, temos diversos cursos de graduação já realizados no Brasil e 
vários em execução nas diversas áreas acadêmicas. Além desses, há também a conquista 
e ampliação da pós-graduação (Especialização em Extensão Rural e Mestrado). Todos 
esses espaços de formação superior contam com financiamento próprio, o que garante uma 
estrutura específica, construídasob a direção dos MSC em parceria com as Universidades e 
o INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). De modo geral, é essa 
estrutura e a proposta pedagógica da alternância que permitem, em última instância, o 
acesso de estudantes (trabalhadores do campo, militantes e jovens) à universidade pública. 
A conquista do ingresso nas Universidades brasileiras pelos Movimentos tem se 
expandido a cada ano, tornando-se uma estratégia importante na ampliação tanto da 
formação dos seus sujeitos quanto de novos espaços de ocupação, atuação e de realização 
de sua práxis revolucionária, pois trazem em sua raiz a crítica ao posto e apontam 
elementos emancipatórios (BARROCO, 2008). São novos territórios (FERNANDES e 
 
 
MOLINA, 2001) que são objetivados nos mais diversos espaços da formação, são partes 
essenciais da construção coletiva de outra sociabilidade cuja base se funda no trabalho 
associado (MÉSZÁROS, 2002) e na solidariedade dos povos. Tal realidade não prescinde 
das múltiplas mediações necessárias, demarcadas por processos sócio-genéricos 
objetivados por teleologias que conferem, em sua essência, uma direção política de ruptura 
e de negação à práxis fetichizada e de afirmação da “crítica revolucionária da práxis da 
humanidade” (KOSIK, 1995, p. 23). 
A Universidade é também um novo e velho território, ao mesmo tempo em que 
se materializa como uma dessas mediações, no qual os movimentos sociais do campo 
constroem outras relações - de formação, de troca, de crítica e de objetivação de outro jeito 
de tornar-se educando e educador. Nossa experiência na UECE (Universidade Estadual do 
Ceará) tem representado parte dessa dinâmica complexa dos processos de ocupação, 
demarcação e construção de novos territórios nos velhos espaços ocupados. 
O artigo apresenta, em primeiro lugar, um pouco do percurso histórico da 
construção da proposta, com as escolhas da estruturação pedagógica, administrativa e 
política do projeto de formação dessa turma especial em Serviço Social, que identificamos 
como Serviço Social “da Terra”. A denominação “da terra” para esta turma é política, 
caracterizando a formação voltada para estudantes do campo. Temos apenas um Projeto 
Pedagógico do Serviço Social na UECE. Para efeito de consolidação do convênio 
apresentamos ao INCRA e órgãos colegiados da Universidade o Projeto com algumas 
adequações segundo exigência do PRONERA, considerando temas transversais, 
Pedagogia da Alternância, financiamento próprio, dentre outras questões burocráticas. 
Evidenciamos os aspectos históricos, burocráticos e administrativos que, embora tenham se 
configurado como obstáculos no início dos trabalhos, contraditoriamente, objetivaram uma 
causalidade posta favorável a um maior envolvimento dos professores e militantes do MST e 
da ENFF (Escola Nacional Florestan Fernandes) na dinâmica da coordenação do curso. 
Em segundo lugar, discutimos os processos construídos na dinâmica da 
formação diante dos diversos desafios tais como: a intensidade de conteúdos ministrados 
em tempo integral; a heterogeneidade da turma e de suas experiências políticas; o desafio 
da produção escrita, necessária à formação acadêmica; as atividades de suporte da 
formação nos horários extraclasse; o processo de apropriação/ objetivação (LUKÁCS, 2013) 
da vida acadêmica; processos de avaliação dos conteúdos ministrados; relação Tempo 
 
 
Escola e Tempo Comunidade; a construção da proposta de estágio Supervisionado, dentre 
outros. 
Estes têm sido aspectos constantes em nossas discussões e análises acerca 
dos limites e das possibilidades de uma formação acadêmica voltada para as demandas dos 
Movimentos Sociais do Campo, considerando o não afastamento de seus estudantes da sua 
realidade campesina. Em síntese, apontamos os avanços que reconhecemos ter 
conquistado nessa dinâmica desafiadora de coordenar a formação em Serviço Social de 
estudantes militantes de diversos Movimentos. 
 
2. “Todo começo é difícil”: um aprendizado mútuo 
A realização da turma de Serviço Social “da Terra” na UECE não foi sem 
conflitos. Como parte do processo de luta de classe dos MS do campo, a concretização do 
convênio, que viabilizou a formação dessa turma, ocorre em meios a diversas estratégias, 
desde o diálogo com os técnicos do INCRA, professores da UECE, negociações para a 
construção do Projeto e aprovação do Convênio pelas instâncias superiores das duas 
instituições, realização do vestibular específico e tramitação da licitação para a garantia da 
logística do projeto. Além de todo esse percurso político-administrativo tivemos a iminência 
da ocupação da UECE pelos estudantes aprovados no vestibular, fato que determinou o 
início das aulas em 2013. Uma demonstração de que “quem sabe faz a hora, não espera 
acontecer” (Geraldo Vandré). 
A historicidade do início de nossos trabalhos foi revelando que o tempo da luta 
impulsionado pela necessidade não é o mesmo do tempo da materialização da demanda 
apresentada – formação de uma turma de Serviço Social, considerando a lógica burocrática 
do estado burguês no qual fazemos parte. É importante destacar que foi um tempo marcado 
pelo contexto bastante delicado e complexo da assinatura do Acórdão TCU 9, como meio de 
controle sobre a política do PRONERA e de mudanças nas regras de seu funcionamento, 
inclusive tirando as universidades públicas como parceiros centrais do Programa e 
passando a exigir processos licitatórios para a efetivação dos projetos. De fato, esse 
 
9
Este Acórdão TCU no. 3.269/2010 representou uma ofensiva do Estado sobre as atividades do PRONERA, 
considerando sua relação de aproximação com os Movimentos Sociais do Campo, principalmente contra o 
MST, e com as Universidades públicas, constituindo-se como uma estratégia repressiva do Estado sobre uma 
política pública com nítido compromisso com a classe camponesa. 
 
 
processo representa mais uma das estratégias da ofensiva do capital sobre a classe 
trabalhadora, da qual o MST tem sido objeto das diversas formas de pressão e violência 
executada pela sociedade burguesa, ora pela mediação das instituições públicas do estado 
de direito, ora pelos meios de comunicação que não se esquivam de apresentar uma visão 
distorcida do Movimento. 
Na aproximação de militantes do MST e da ENFF com alguns professores do 
curso de Serviço Social, pudemos apresentar o Projeto Político Pedagógico, a estrutura 
organizativa da categoria e a defesa do PEP (Projeto Ético-Político), através da história de 
luta do Conjunto CFESS/ CRESS/ ENESSO e ABEPSS. Assim os militantes foram 
conhecendo o SS e a base teórico-metodológica que sustenta a formação. Ocorreu daí um 
processo de sensibilização de ambas as partes para o desafio posto: formar 60 estudantes 
de áreas de reforma agrária do Nordeste do Brasil em Bacharelado em Serviço Social 
(contemplando uma demanda do Estado do Pará). 
Nesse período, de 2008 a 201110, além de não haver a possibilidade do 
estabelecimento do sistema de bolsas de estudos para os estudantes, como forma de 
garantia de acesso aos recursos do PRONERA, o grupo de professores e militantes após 
algumas discussões a cerca dessa questão, considerou que o sistema de bolsas não seria 
favorável à perspectiva coletiva que se pretendia construir. Diante disso, a posição política 
escolhida foi a defesa de uma gestão coletiva dos recursos. Outro fator determinante para a 
definição da questão financeira, por exemplo, foi a impossibilidade de o corpo docente 
efetivo do Curso de Serviço Social da UECE assumir todas as disciplinas da turma, 
considerando o processo de precarização e sobrecarga em que se encontra. Dessa forma oProjeto tinha que garantir orçamento para o pessoal técnico e pedagógico. 
Essa escolha aponta uma direção clara: garantir uma estrutura coletiva de 
gestão e coordenação dos trabalhos, tanto nos aspectos político-pedagógicos quanto da 
estrutura de formação da turma de estudantes, nos espaços coletivos que teriam para além 
da sala de aula durante o TE (Tempo Escola). Dessa forma a turma de estudantes ficaria 
em um local durante os períodos do TE, o que terminou acontecendo na sede da ENFF em 
Fortaleza. 
 
10
 Em abril de 2008 tivemos uma reunião do Colegiado do Curso, quando apresentamos a demanda do MST de 
constituir uma turma especial de Serviço Social para áreas de reforma agrária; em abril de 2009 estávamos com 
o Projeto concluído em tramitação nos órgãos institucionais da UECE. 
 
 
Temos aí um longo período (de 2008 a 2013), demarcado pelo início das 
negociações para a construção do Projeto, assinatura do convênio (dezembro de 2011), 
realização do Vestibular (março de 2012) e início do primeiro semestre do curso (abril de 
2013). Considerando que tivemos que estabelecer um convênio entre UECE e INCRA, 
passamos a depender da abertura de processos de licitações para a gestão dos recursos, 
desde a compra de material pedagógico à contratação de pessoal e deslocamento dos 
estudantes. 
Os estudantes, por estarem hospedados na sede da ENFF em Fortaleza, 
construíram, em conjunto com a coordenação do MST e da ENFF uma forma própria de 
organização. Desse modo são permanentes as discussões e reuniões nos Grupo de Base 
(GB) para as definições do usufruto do espaço coletivo, do tempo de estudo e do tempo 
livre, nos momentos extra-sala de aula. Há uma prática constante de reunião nos GB, de 
assembléias deliberativas ou não, inclusive a preparação e realização das místicas que 
acontecem na Universidade e na sede da ENFF, onde ficam hospedados. Observamos que 
os estudantes estão construindo uma convivência coletiva, uma forma de ser que se opõe à 
cultura individualista, com o desafio de objetivarem “novos costumes e valores mais livres, 
despreconceituosos e, portanto, revolucionários” (BEZERRA, 2012, p. 117). 
 
3. Construção coletiva da formação acadêmica: quem educa quem? 
Será o conhecimento necessário para transformar em realidade o ideal da 
emancipação humana, em conjunto com a determinação sustentada e a 
dedicação dos indivíduos para conduzir a auto-emancipação da humanidade 
até à sua conclusão com êxito, apesar de todas as adversidades, ou é, pelo 
contrário, a adoção por indivíduos particulares de modos de comportamento 
que apenas favorecem a realização dos fins reificados do capital? (Mészáros, 
2007, p. 117) 
 
Na dinâmica dessa experiência de formação dos estudantes de áreas de reforma 
agrária, observamos muitos aprendizados, tanto da estrutura institucional da Universidade e 
do seu modus operandi presente na práxis dos docentes e estudantes em geral, quanto da 
práxis própria dos Movimentos Sociais do Campo. Esse encontro tem sido fértil e nos 
ensinado que estamos, de fato, engendrando um processo de ensino-aprendizagem 
singular, no qual se objetivam trocas efetivas de saber entre educadores e educandos 
(FREIRE, 2000; 2001). Nessa dinâmica, construímos ricas relações, sem perder de vista as 
 
 
particularidades objetivas da Universidade e dos Movimentos Sociais. Esta relação tem 
permitido vivenciarmos uma unidade na diversidade, cujo resultado é que já não somos 
mais os mesmos como diria Heráclito. 
No início dos trabalhos com a coordenação ampliada composta por professores, 
militantes do MST e da ENFF, tentávamos trabalhar com os estudantes na dinâmica da 
Universidade, com certa rigidez (que lhe é própria), espaços e papéis bem definidos e 
separados. Porém o movimento do real tem sua predominância e, aos poucos, formos 
reformulando nossa forma de coordenar no diálogo permanente. Muitas vezes expondo as 
nossas “teimosias”, mas também identificando as “teimosias” dos estudantes e dos 
Movimentos Sociais ali representados. Revelam-se nesses momentos de diálogo não 
apenas o distanciamento de uma cultura urbana em contraste com outros ritmos e modos de 
ser do campo (BAGRI, 2010), mas também um significativo distanciamento da Universidade 
e de sua cultura acadêmica com a dinâmica dos militantes de movimentos sociais. 
Nesse espaço coletivo, muitas relações foram acontecendo e engendrando 
novas formas de pensar e fazer o espaço universitário. Reuniões de planejamento e 
avaliação foram constantes para pensarmos a interdisciplinaridade e a garantia de uma 
didática de ensino que melhor se adequasse à forma intensiva do ensino no TE. Discussões 
e reuniões permanentes são realizadas com os estudantes avaliando a dinâmica 
universitária e de sala de aula. Nos dois primeiros semestres observamos um desconforto 
em relação à didática de alguns professores frente às expectativas do grupo com conteúdos 
ministrados, isso porque tinham um relativo acúmulo nos diversos cursos de formação 
política que haviam experimentado em seus processos organizativos e de luta nos 
Movimentos. Identificamos dois modelos de formação que se entrecruzavam provocando o 
fazer universitário. 
A heterogeneidade da turma e suas experiências políticas tiveram impactos na 
dinâmica da sala de aula e fora dela. A turma é formada por estudantes militantes do MST 
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MAB (Movimento dos Atingidos por 
Barragens), MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), CPT (Comissão Pastoral da 
Terra) e Comunidades Quilombolas, com tempos diferenciados de participação política nos 
seus movimentos de origem. Observamos diferentes intervenções em sala de aula, inclusive 
quando alguns educandos e educandas silenciam diante dos mais experientes que se 
sobressaem em suas análises e oratórias. Observamos algumas dificuldades de assimilação 
da dinâmica e de responderem às exigências do cotidiano acadêmico; um relativo 
 
 
estranhamento que vai para além do choque entre o urbano e o rural, mas se manifesta na 
conciliação ou não de demandas da formação acadêmica e da militância. 
Tanto professores quanto estudantes foram trocando saberes, foram se 
metamorfoseando, objetivando outras possibilidades de apropriação e construção do 
conhecimento. Na didática do ensino, contamos com a participação de professores efetivos 
do colegiado do curso de Serviço Social e de outros departamentos, inclusive de outras 
instituições de ensino superior no processo de ensino-aprendizagem, portanto, na 
socialização de seus conhecimentos científicos com a turma, ao lado dos professores 
contratados. 
A dinâmica de ensino foi ocorrendo sem grandes percalços, na busca de tornar 
esse momento mais rico e envolvente: aulas expositivas reflexivas e dialogadas (os 
estudantes participam bastante das discussões); momentos de estudos dirigidos com 
sistematização escrita; aulas de campo com períodos de debate e produção escrita do 
observado; seminários de apresentação dos conteúdos apreendidos; avaliações individuais 
escritas, como mediação necessária de sistematização do saber. Destacamos o desafio 
presente nos processos de avaliação dos conteúdos ministrados, considerando a relação TE 
(Tempo Escola) e TC (Tempo Comunidade) que se constituem em dois momentos da 
unidade da proposta pedagógica, cuja função é garantir a continuidade e fortalecimento do 
processo ensino aprendizagem. As dificuldades observadas na apropriação dos conteúdos e 
produção escrita tem sido enfrentadas com o fortalecimento do acompanhamento da equipe 
pedagógica, em especial, no TC, inclusive com a realização de oficinas permanentes de 
leitura e produçãode textos acadêmicos. 
A sala de aula tem representado, além de um espaço desafiador de 
aprendizagem, com a intensidade de conteúdos em pouco tempo e com o desafio se sair da 
oralidade para a produção escrita, um espaço de descobertas e trocas dialogadas. O apoio 
da equipe de professores do TC e dos estudantes monitores em atividades de leitura, 
estudo, produção textual em momentos em sala de aula e nos tempos extraclasse tem sido 
fundamental. Para isso, esse grupo foi se apropriando da dinâmica do curso e de seus 
conteúdos, para garantir o diálogo com os estudantes. Neste campo, temos realizado 
oficinas de texto e de português como suporte a esta dificuldade. Contamos com uma 
equipe de duas assistentes sociais (com especialização e mestrandas) e uma pedagoga e 
mestra, militante do MST, com uma formação na questão ambiental. Esse grupo tem 
engendrado uma metodologia de trabalho com os estudantes que se inicia no TE, 
 
 
estendendo-se para o TC. O trato com os conteúdos ministrados, na perspectiva de garantir 
tanto a interdisciplinaridade quanto a clareza da relação teoria/prática como parte 
constitutiva do processo de apropriação de um conhecimento claramente, tem sido centro 
de nossas preocupações (SEVERINO, 2008). 
A construção da proposta de Estágio Supervisionado temido outro momento de 
aprendizado mútuo, tivemos importantes discussões durante o Semestre IV, uma vez que 
este antecede o semestre do estágio. Esses momentos da coordenação, em diálogo com os 
estudantes, e a preocupação com a garantia da qualidade desse momento da formação 
acadêmica foram se delineando fortemente para a defesa de realização do estágio no TE. 
Esse tema estava presente nas preocupações de parte dos estudantes que tencionaram 
algumas vezes a coordenação, mantendo inclusive conversas permanentes entre os 
colegas nos corredores da Universidade e da ENFF. Nessa perspectiva fomos construindo 
algumas possibilidades do estágio, o que não ocorreu sem ricos debates e embates. No 
entanto, coletivamente foram sendo apresentadas as diversas posições e, através dessa 
construção coletiva, construímos o consenso possível: tanto no Semestre V quanto no 
Semestre VI, os estudantes cumprirão 80hs do Estágio Supervisionado durante o TE e 
158hs no TC, com a garantia da supervisão acadêmica para todos os estados envolvidos.11 
Tivemos uma experiência interessante de articulação com a Universidade via 
Pro reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE) negociando a possibilidade de os estudantes 
terem acesso ao Programa de Bolsa de Estudo e Permanência, argumentando a 
necessidade de suporte financeiro durante a realização do estágio supervisionado, 
considerando o baixo custo aluno/ano do PRONERA e a não previsão de gastos para essa 
atividade. Conquistamos 24 bolsas, deixando 29 estudantes de fora do Programa. Diante 
dessa realidade propomos uma discussão nos NBs para que analisassem a situação e 
pudéssemos construir coletivamente uma alternativa. A proposta construída após essas 
rodas de discussões foi o usufruto coletivo do recurso e o encaminhamento imediato de 
outras possibilidades de apoio financeiro que venha complementar. Articulações foram feitas 
com a SECITECe (Secretaria de Ciência e Tecnologia do Ceará), com apoio político de um 
deputado vinculado ao Movimento; um projeto foi discutido e construído pela coordenação e 
encaminhado para esta secretaria. 
 
11
Durante a construção dessa proposta realizamos uma reunião de articulação com o CRESS e CFESS, 
apresentando as particularidades da Pedagogia da Alternância e das nossas preocupações com a garantia da 
qualidade do Estágio neste contexto. 
 
 
A realização de Seminários, em geral no início dos semestres, com convidados 
de outras instituições de ensino, tem permitido uma maior interação entre todos os 
estudantes de graduação em Serviço Social e do Mestrado Acadêmico de Serviço Social, 
Trabalho e Questão Social. Esses momentos também possibilitam uma maior visibilidade à 
turma do Serviço Social “da Terra” no contexto da UECE, e o fortalecimento da parceria com 
o CRESS - Ceará. 
A experiência com a Monitoria se constitui em outro elemento interessante. No 
primeiro semestre, ainda sem a liberação dos recursos de financiamento, tivemos 20 (vinte) 
estudantes que se colocaram voluntariamente para contribuir com as atividades, alguns 
bolsistas dos Laboratórios e outros do Movimento Estudantil. 
Experiências políticas extra-sala de aula tem sido outro espaço de aprendizado 
para todos os envolvidos nesse trabalho; destacamos os períodos das greves em 2013 e 
2014 dos docentes e estudantes, quando observamos o engajamento político da turma do 
Serviço Social “da Terra” nas atividades de greve. Outra experiência política que 
vivenciaram, foi durante o processo eleitoral do Centro Acadêmico em 2013, embora 
marcado por tensões e estranhamentos, foram momentos de rico aprendizado, tanto para o 
movimento estudantil, quanto para os estudantes da turma do Serviço Social da Terra. O 
que estava posto era uma concepção de curso apartado da dinâmica própria interna da 
Universidade. 
Nesses dois anos de trabalhos voltados para a formação dessa turma 
observamos alguns processos delicados: há um desgaste físico e emocional muito grande 
dos estudantes no período de TE, considerando que ficam em sala de aula por 8hs com 
uma sobrecarga de conteúdos que devem dar conta diante das atividades de aprendizagem, 
síntese e de avaliação; temos enfrentado um processo de evasão, posto hoje por 7 
estudantes que desistiram do curso, dentre os quais observamos diversos motivos: 
migração para outro curso em outra universidade, a incapacidade de continuar, e problemas 
pessoais e familiares. Observamos ainda um relativo estranhamento na relação dos 
estudantes do Serviço Social “da terra”, “do PRONERA” com os estudantes em geral, 
embora percebamos momentos de identidades, neste sentido, a relação com alguns 
monitores, por exemplo, tem contribuído positivamente na direção da superação dessa 
questão. 
 
 
Não podemos deixar de destacar que temos construído um diálogo interessante 
com a reitoria da UECE, através da vice-reitoria, que tem estado conosco nos momentos de 
negociação com as empresas licitadas e com os departamentos internos relacionados aos 
processos burocráticos da gestão do Projeto. Esse diálogo tem garantido uma relativa 
tranquilidade na coordenação, pois temos todo o apoio para os encaminhamentos 
necessários em nossos diálogos com o INCRA. 
 
4. Concluindo o Inconcluso 
Neste empreendimento as tarefas imediatas e os seus enquadramentos 
estratégicos globais não podem ser separados, e opostos, uns aos outros. O 
êxito estratégico é impensável sem a realização das tarefas imediatas. 
(MÉSZÁROS, 2007, p. 129) 
 
 
Nossa experiência está em processo. Enfrentamos grandes desafios postos pela 
burocracia de um Estado Burguês em tempo de capital fetiche (IAMAMOTO, 2007), sob um 
controle rígido financeiro posto por uma estrutura de Convênio que trata a diversidade de 
projetos sociais sem considerar suas particularidades. Isto fica mais crítico, considerando 
que a turma de Serviço Social “da Terra” é resultado de convênio envolvendo vários órgãos 
estatais. Este projeto está voltado para a formação crítica de militantes de Movimentos 
Sociais do Campo que tencionam o poder político com suas demandas que constrangem as 
bases da acumulação capitalista: transformar o latifúndio improdutivo em propriedades 
familiares produtivas, condenar o agronegócio e seus métodos agressivos ao meio 
ambiente, lutar contra as desapropriações nos contextos de construção de barragens para 
fins energéticose de irrigação das monoculturas, dentre outras (ARAÚJO e ACCIOLLY, 
2014). Para além dessas lutas e de sua radicalidade, esses movimentos sociais 
compreendem o caráter contraditório do Estado capitalista, se apropriam de sua dinâmica 
na organização de políticas e programas sociais e trazem para o interior de sua estrutura 
burocrática suas formas de luta, resistência, diálogo e conciliação (STÉDILE, 2000). 
No contexto particular da UECE e do Curso de Serviço Social, com suas 
dificuldades de recursos humanos, financeiros e burocráticos, observamos que o processo 
de formação da turma especial do Serviço Social “da Terra” tem vivenciado no espaço 
acadêmico tanto receptividade, quanto estranhamento. Possivelmente isto ocorre por tratar-
se de uma experiência que se materializa, em primeiro lugar, dentro de um contexto da 
 
 
política de cotas das universidades públicas brasileiras e, em segundo lugar, por apresentar 
um processo pedagógico com inovações, uma vez que envolve sujeitos sociais 
tradicionalmente excluídos da formação universitária, que estão impactando no cotidiano 
acadêmico com seu modo de ser e de sua experiência militante que apresentam no espaço 
universitário. 
Enfim, temos vivenciado diversos e múltiplos processos e contradições que 
tornam esse projeto, ao mesmo tempo, desafiador, instigante e apaixonante; principalmente 
considerando as direções políticas que o caracterizam Projeto como: uma coordenação 
compartilhada entre universidade, MS do Campo e ENFF; a vivência coletiva de estudantes 
universitários e militantes construindo uma organicidade e unicidade coletiva, através do 
estabelecimento de regras de convivência e do usufruto dos espaços de formação na UECE 
e na sede da ENFF. 
Podemos também destacar que essa experiência tem nos ajudado a rever 
nossos espaças na UECE, muitas vezes rígidos e frios. Como exemplo, temos as festas que 
os estudantes organizam no encerramento de cada semestre. Trata-se de um momento 
político de reafirmar a luta de classe, a conquista do espaço de formação acadêmica e de 
participação/ intervenção no espaço universitário. Esse momento é também da mística, 
revelando que somos seres sociais amplos, que temos na cultura, na arte e nos tempos 
lúdicos formas de exteriorizarmos nossas relações sócio-genéricas. Assim, em cada 
encerramento de semestre a turma apresenta sua alegria por mais uma etapa vencida, por 
novos desafios a serem enfrentados; seu agradecimento mútuo pelo processo construído 
por corpos, mentes e corações comprometidos com um projeto social emancipatório. Assim, 
se despedem uns dos outros, reconhecendo novos vínculos que construíram no TE e 
celebram a alegria do retorno às suas comunidades e familiares, com seus desafios e 
esperanças de dar continuidade ao curso da vida voltada para a luta permanente contra a 
barbárie. 
Referências 
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fundamentada nas categorias questão social e movimentos sociais rurais. IN. CUNHA, A. M. 
e SILVEIRA, I. M. M. Expressões da Questão Social no Ceará. Fortaleza: EdUECE, 
2014. 
 
 
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estudos ENFF. Guararetama-SP: ENFF, 2012. 
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2001. 2001). 
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Brasileira, 1968. 
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e questão social. São Paulo: Cortez. 2007. 
KOSIK, K. Dialética do Concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. 
MÉSZÁROS, I. Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. São Paulo: 
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y desarrolho. No. 15, 2007. (p. 107- 130). Site: http://revista-
theomai.unq.edu.ar/NUMERO15/ArtMeszaros_15.pdf; acesso em 01/03/2015; 
SEVERINO, A. J. O Conhecimento Pedagógico e a Interdisciplinaridade: o saber como 
intencionalidade da prática. IN. Ivani C. A. Fazendo (org). Didática e Interdisciplinaridade. 
Campinas, SP: Papirus, 2008. 
STÉDILE, J. P (org). A Questão Agrária no Brasil. O debate na década de 2000. São 
Paulo: Ed. Expressão Popular, 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
A FORMAÇÃO EM ENSINO SUPERIOR PARA TRABALHADORES DO CAMPO: 
analisando uma experiência em Serviço Social 
Maristela Dal Moro
12
 
Elaine Martins Moreira
13
 
Glaucia Lelis Alves
14
 
 
 
 
 
Resumo 
Esse trabalho tem como objetivo apresentar o projeto de formação 
profissional para trabalhadores do campo implementado pela Escola 
de Serviço Social da UFRJ. Pretende apontar os avanços que essa 
proposta representa para o Serviço Social e para os movimentos 
sociais e os desafios enfrentados na sua execução. Essa experiência 
que teve início em 2011 e tem previsão de término para 2015, vem se 
tornando uma expressão de amadurecimento profissional e de 
fortalecimentos dos princípios que fundamentam o projeto profissional 
crítico. 
 
Palavras chaves: movimentos sociais, questão agrária, formação 
profissional. 
 
Abstract 
This work aims to present the vocational training project for rural 
workers implemented by the School of Social Work at the UFRJ. Aims 
to present the advances that this proposal is to social work and social 
movements and the challenges faced in implementation. This 
experience started in 2011 and has scheduled for completion in 2015 
is expression becoming a professional maturity of and invigoration of 
the principles underlying the critical professional design. 
 
Keywords: social movements, agrarian question, vocational training. 
 
 
 
 
 
 
 
12
 Doutora. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: dalmororj@uol.com.br 
13
 Mestre. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: elainemoreiradv@gmail.com 
14
 Doutora. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: glelisas@yahoo.com.br 
 
 
 
1- INTRODUÇÃO 
A constituição de uma turma especial de Serviço Social para assentados da reforma 
agrária na Universidade Federal do Rio de Janeiro nasce a partir do envolvimento de 
segmentos do quadro docente e discente com movimentos sociais do campo, com o debate 
acerca da questão agrária e da teoria social crítica. O projeto se consolida com o apoio dos 
movimentos sociais que lutam pela terra, especificamente o Movimento dos Trabalhadores 
Rurais Sem Terra (MST) e a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e, através da 
celebração do Termo de Cooperação entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro 
(UFRJ) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA). 
A sua implementação que ocorreu de 2011 e tem previsão de término em dezembro 
de 2015, vem se apresentando como uma experiência fecunda e de fortalecimento da 
relação do Serviço Social com os movimentos sociais. A forma como está sendo executado 
vem demonstrando que há uma afinidade entre o projeto profissional crítico e os princípios 
defendidos pelos movimentos sociais. Essa experiência,no entanto, está permeada por 
desafios e o seu enfrentamento é imprescindível para o avanço desta relação e é a garantia 
da materialização dos princípios que fundamentam o projeto ético-político do Serviço Social. 
O objetivo desse texto é apresentar essa experiência e debater sobre ela. Pretende-
se nesse trabalho apontar os avanços que essa proposta representa para o Serviço Social e 
para os movimentos sociais e os desafios enfrentados na sua implementação. 
 
 
2- O PROJETO: A TURMA DE SERVIÇO SOCIAL PARA ASSENTADOS DA REFORMA 
AGRÁRIA 
 
O amadurecimento da proposta educacional defendida pelos movimentos sociais do 
campo, ancorada na defesa da educação pública e de qualidade, a consolidação da ENFF e 
a constituição do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA15, 
foram fundamentais para o estreitamento da relação dos movimentos sociais com as 
universidades públicas. As primeiras experiências de formação superior para trabalhadores 
do campo implementadas pelas universidades, através do convênio com o INCRA via 
PRONERA, tinham como objetivo a qualificação de professores na área de educação para 
 
15
 Esse Programa, foi uma conquista da luta dos movimentos sociais, principalmente o MST e foi 
criado em 1998, e instituído pelo Decreto Federal nº 7.352, de 04 de novembro de 2010, é 
responsável pelo financiamento dos projetos de educação para assentados da reforma agrária, 
através de convênios com universidades. 
 
 
atender as escolas dos assentamentos rurais. O êxito dessas experiências e a demanda de 
ampliação do nível de escolaridade dos jovens trabalhadores beneficiários da reforma 
agrária, impulsionaram a implementação de novos projetos de formação superior em várias 
áreas do conhecimento. 
O Serviço Social ingressou tardiamente nesse debate e, deu-se em grande parte, 
pela a inserção de docentes da área em atividades e projetos realizados pela ENFF e pela 
realização de projetos de extensão e pesquisa junto aos movimentos sociais do campo e em 
assentamentos rurais. A demanda pela elaboração de projetos de formação superior em 
Serviço Social para atender segmentos da militância veio através dos movimentos sociais e 
foi impulsionado, principalmente, pela necessidade de qualificação de seus quadros. O início 
do diálogo foi motivado pela identidade entre os princípios que fundamentam a proposta 
educacional defendida pelos movimentos sociais com o projeto de formação do Serviço 
Social. 
Na Escola de Serviço Social da UFRJ o primeiro movimento para a realização desse 
projeto ocorreu em 2005, momento em que se realizam algumas reuniões e eventos com o 
intuito de debater a proposta e avaliar a sua viabilidade. As dificuldades para sua efetivação 
retardaram o seu início e somente em 2009 esse projeto foi retomado e teve como 
idealizadores uma equipe de professores da Escola que já realizava atividades de extensão 
e contou com a efetiva contribuição de integrantes do MST e da ENFF. O primeiro debate 
realizado pela equipe concentrou-se na definição da estrutura do projeto pedagógico e a 
forma como seria organizado para atender as demandas dos movimentos sociais e dos 
trabalhadores do campo. 
As discussões apontaram para a necessidade de preservar a proposta do currículo 
do Curso de Serviço Social garantindo uma formação nos mesmos moldes das demais 
turmas e resguardando o princípio básico do Projeto Pedagógico que é a garantia de uma 
formação crítica e de qualidade a todos os estudantes. O estreito diálogo entre os 
representantes dos movimentos sociais e a equipe responsável pela elaboração do projeto 
foi fundamental para esclarecer os pressupostos os e fundamentos que constituem o projeto 
ético-político do Serviço Social diminuindo, com isso, a resistência de parte dos militantes 
que tinham uma imagem do Serviço Social atravessado por elementos tradicionais fundado 
nos princípios do caritativismo e do assistencialismo. 
O intenso trabalho coletivo culminou na elaboração do projeto o qual preserva a 
lógica das Diretrizes da ABEPSS e do Projeto Pedagógico da ESS que, pautado na teoria 
social crítica, reafirma a centralidade do trabalho como atividade central da constituição do 
 
 
ser social e tem a questão social como eixo ordenador, pois é ela que dá concretude à 
profissão por ser sua base de fundação histórico-social na realidade (ABESS, 1997). 
Se essa experiência de formação em Serviço, para trabalhadores do campo preserva 
os princípios e estrutura do Projeto Pedagógico do curso dessa Escola, a diferença mais 
marcante é a forma de organização das atividades acadêmicas. Referenciado na proposta 
metodológica denominada de “Pedagogia da Alternância”, ou regime de alternância, o curso 
organiza-se em dois tempos educativos: Tempo Escola e Tempo Comunidade. Metodologia 
oriunda das experiências das Escolas Familiares Agrícolas, experiências iniciadas na 
França, no início do século XX e incorporadas por algumas Escolas no Brasil a partir de 
1960, a maior parte delas implementadas por entidades ligadas à Igreja Católica, e que 
tinham como objetivo conciliar o estudo e o trabalho na lavoura da família, essa proposta 
procura combinar, no processo de formação do jovem, períodos de vivência na escola com 
tempos transcorridos no meio onde vive. A elaboração de uma proposta educacional a partir 
dos anos 80, o MST incorpora essa metodologia na medida em que essa favorece o acesso 
e a permanência dos jovens e adultos do campo nos processos escolares, antes dificultada 
por sua característica seriada e estanque, sem articulação com a realidade e os modos de 
vida rural. (CORDEIRO, REIS, HAGE, 2006) 
Atualmente essa metodologia foi incorporada em vários projetos governamentais 
voltados a educação do campo, entre os quais está o PRONERA que se refere a ela como 
uma metodologia constituída por um tempo escola e um tempo comunidade que: 
não podem ser compreendidos de forma separada, mas sim distintos no que 
diz respeito ao espaço, tempo, processos e produtos [...]. Estão 
intrinsecamente ligados à forma de morar, trabalhar e viver no campo. Falam-
nos de limites e possibilidades para organização da educação escolar, mas 
muito mais do que isto, anunciam outra forma de fazer a escola, de avaliar, 
de relação com os conteúdos, das ferramentas de aprendizagem, da relação 
entre quem ensina e quem aprende. (Brasil. MDA, PRONERA, 2010, p. 1). 
 
Os desafios e potencialidades dessa estratégia metodológica estão presentes na 
experiência da Escola de Serviço Social, na medida em que esta supõe alterações 
significativas na operacionalização do curso, na relação com o espaço universitário e na 
forma de socialização do conhecimento. Essa metodologia define o processo de 
aprendizagem tanto no ambiente escolar quanto no espaço onde o estudante vive, como 
momentos da reflexão teórico-prática das temáticas discutidas no decorrer do tempo-escola 
e estas deverão subsidiar as intervenções na realidade. Estabelece-se, com isso, uma 
relação entre teoria e prática dentro da assertiva defendida por Vázquez, ao afirmar que, a 
teoria se tornando prática permite despertar consciências. Segundo esse autor, “o 
 
 
conhecimento surge da prática, a ela serve, ao mesmo tempo, em que a própria prática é 
parte necessária e indissolúvel” (VÁZQUEZ, 2007, p. 215). 
A adoção dessa proposta metodológica foi largamente debatida pela equipe de 
trabalho e houve consenso que a sua implementação seria radicalmente distinta da 
modalidade de curso à distancia ou semi presencial. A inserção dos estudantes na 
universidade, embora em tempos diferentes não deveria comprometer a qualidade do curso 
e os estudantesdessa turma deveriam ter a mesma formação que os demais estudantes da 
Escola de Serviço Social. Esse pressuposto inicial levou a necessidade de ampliar o tempo 
de permanência dos alunos na universidade. A organização da proposta curricular contendo 
todas as atividades acadêmicas do curso deveria ser cumprida em dez semestres, nos 
mesmos moldes do curso noturno. O Tempo Escola deveria ocorrer em, no mínimo dois 
meses a cada semestre, tempo necessário para o cumprimento da carga horária das 
disciplinas e para a participação de outras atividades acadêmicas no âmbito da pesquisa e 
da extensão, condição fundamental para uma formação de qualidade. 
O Tempo Comunidade assume o papel de complementação da formação e se daria 
através da realização de trabalhos de caráter teórico, de pesquisas sobre a realidade dos 
estudantes e da realização de atividades de extensão em parceria com as universidades 
próximas da residência dos estudantes. 
Após a elaboração do projeto e sua aprovação nas instâncias da universidade e do 
INCRA, culminou na assinatura do Termo de Cooperação entre essas duas instituições em 
dezembro de 2010, a partir de então se constitui uma nova equipe de trabalho que seria 
responsável pela sua implementação. 
 
 
2.1. A Constituição do Projeto e sua implementação 
 
O primeiro desafio enfrentado pela nova equipe foi a seleção dos estudantes que 
comporiam a turma de Serviço Social. As formas tradicionais de ingresso na universidade, 
que naquele momento restringia-se basicamente ao vestibular, não poderiam ser utilizadas 
para esse projeto, pois as vagas deveriam ser exclusivas aos beneficiários da reforma 
agrária, conforme estava definido na Resolução do INCRA/PRONERA e instituído no Termo 
de Cooperação. As negociações com as instâncias deliberativas da UFRJ culminaram na 
aprovação de uma nova Resolução que instituía o ingresso através de seleção especial. A 
inscrição dos candidatos e a seleção dos estudantes que deveriam preencher as 60 vagas 
 
 
previstas no projeto, ficou a cargo de uma comissão de técnicos da Pró-reitoria de 
graduação da UFRJ e a coordenação do curso. A seleção foi realizada no mês de fevereiro 
de 2012 e constituiu-se em uma prova elaborada pela coordenação do curso e versava 
sobre temas relativos à questão agrária. 
Essa seleção possibilitou o ingresso de estudantes trabalhadores do campo e na sua 
maioria militantes do MST. Estão representados, também, nessa turma, o Movimento de 
Mulheres do Campo e o Movimento de Pequenos Agricultores (MPA). Precede a isso a sua 
condição de acampado ou assentado em projetos de reforma agrária, critério indispensável 
para ser reconhecido como beneficiário do PRONERA, por parte do INCRA. Os 60 
trabalhadores que passam a constituir essa turma de Serviço Social são provenientes de 
assentamentos e acampamentos da reforma agrária, de 19 estados do Brasil. Vale ressaltar 
a sua heterogeneidade, a começar pela faixa etária que se distribui na faixa de 17 até 50 
anos. Quanto ao sexo, é significativo o número de homens, que atinge 40% do total dos 
alunos, contrastando com o perfil dos estudantes de Serviço Social constituído 
essencialmente por um público feminino. Outro fator importante é a trajetória desses 
trabalhadores. Se alguns estão se inserindo na militância ou tem uma participação pontual 
nos movimentos, vários desses estudantes têm uma intensa participação e fazem parte dos 
quadros dirigentes do MST. Grande parte destes estão inseridos em assentamentos da 
reforma agrária em diversos municípios e tem uma participação efetiva nas organizações 
políticas aos quais estão vinculados. Suas experiências têm servido para o bom 
desenvolvimento do curso e enriquecido os debates tanto em sala de aula, como nos 
demais espaços universitários, servindo de referência para os demais estudantes da Escola 
de Serviço Social. 
O início do curso ocorreu em março de 2011 e sua finalização está prevista para 
dezembro do corrente ano. Concluíram-se até o momento 90% das disciplinas teóricas, já 
foram realizados três níveis de estágio, e, deu-se inicio na última etapa de 2014, a 
elaboração dos Trabalhos de Conclusão de Curso – TCC. No decorrer do curso ocorreram 
algumas desistências decorrentes principalmente da dificuldade de conciliar os tempos 
educativos com as demandas de seus cotidianos de trabalho e militância. Atualmente a 
turma está constituída por 53 estudantes o que significa um percentual de desistência em 
torno de 12%. 
No que se refere à experiência do Estágio Supervisionado, assim como nas demais 
dimensões da formação profissional, a inserção dos estudantes pautou-se pelos princípios 
preconizados nas Diretrizes curriculares e Política Nacional de Estágio, garantindo os 
 
 
mesmos requisitos quanto à supervisão acadêmica e de campo, carga horária de estágio 
supervisionado e da disciplina de supervisão (na ESS-UFRJ denomina-se Orientação e 
Treinamento Profissional). A experiência do estágio teve início com um processo de 
articulação da Coordenação de Estágio e Extensão para efetivar uma proposta de 
assessoria aos campos de estágio, tendo como referência a discussão da PNE, das 
Diretrizes Curriculares, mas sobretudo, reflexões sobre a pedagogia da alternância, as 
particularidades da turma do PRONERA e a inserção dos movimentos sociais de modo mais 
orgânico ao âmbito da universidade e formação profissional. 
A proposta de assessoria envolve uma produção coletiva e eixos norteadores tais 
como: Defesa da educação superior pública como direito do cidadão “tanto pela ampliação 
de sua capacidade de absorver sobretudo os membros das classes populares, quanto pela 
firme recusa da privatização dos conhecimentos” (Chauí, 2003, p. 12). Autonomia 
universitária como possibilidade de construção das políticas acadêmicas e pelo diálogo com 
a sociedade civil organizada e o compromisso com os movimentos sociais. A 
indissociabilidade, no processo de formação e exercício profissional do Serviço Social, entre 
as dimensões teórico-metodológica, técnico-operativa e ético-política, primando por um 
processo democrático que envolve as entidades representativas da categoria: ABEPSS, 
CRESS, ENESSO. 
Pela assessoria aos campos de estágio buscou-se construir estratégias contínuas de 
reflexão teórico-crítica entre docentes, discentes estagiários, assistentes sociais, acerca da 
relação universidade-sociedade, direito social-política social-assistência estudantil, entre 
outras dimensões definidas coletivamente, tendo em vista consolidar um processo ético-
político de formação continuada. Esse processo vem se consolidando a partir de encontros 
com assistentes sociais e docentes de outras instituições, tendo em vista ampliar as vagas 
de estágio e mapear as demandas por aperfeiçoamento e qualificação profissional dos 
assistentes sociais. Vale lembrar que essa construção não se restringe aos estudantes 
vinculados ao PRONERA e sim é extensiva aos estudantes trabalhadores. Envolve ainda a 
construção de estratégias de qualificação a aprimoramento das experiências profissionais 
no âmbito da formação e da intervenção profissional que ultrapasse as dimensões imediatas 
do cotidiano, demarque o campo de suas atribuições e competências na instituição e 
fortaleça projeções e intencionalidades vinculadas aos princípios ético-políticos 
profissionais. Possibilita ainda a abertura de campo de estágio e supervisão de campo e 
acadêmica articulada com os profissionais. A assessoria vem possibilitando o 
acompanhamento de projetos articulados as áreas de atuação do Serviço Social: 
 
 
Assistência, Saúde, Previdência, Habitação, Educação, Infância e Juventude, 
Envelhecimento, Sócio Jurídico, Movimentos Sociais,Gênero, Cultura, Trabalho, entre 
outros. 
Dessa forma os estudantes do PRONERA foram inseridos em diferentes espaços 
sócio-ocupacionais do Serviço Social, abarcando instituições governamentais e não 
governamentais. 
Destacam-se algumas peculiaridades, pois a inserção dos estudantes no estágio foi 
precedida de um amplo processo de discussão junto às instituições campos de estágio, 
envolvendo a pedagogia da alternância, a efetivação da carga horária de estágio de modo 
mais condensado e a própria inserção dos estudantes em temporalidade diferenciada e com 
um processo político-pedagógico diferenciado que trouxe, dentre outras dimensões, um 
debate profícuo sobre os temas que envolvem a experiência, assim como propiciou aos 
estudantes vivenciar o cotidiano do trabalho profissional nos espaços sócio-ocupacionais 
em que são implementadas diferenciadas políticas públicas – educação, saúde, assistência 
social, no âmbito do sócio-jurídico, entre outras. 
Outro elemento que se apresenta como uma potencialidade quando se refere ao 
estágio é a extensão universitária. 
A Política Nacional de Estágio da ABEPSS recomenda a extensão como um espaço 
de realização do estágio. Parece-nos que diante da precarização dos serviços promovida 
pelo avanço do capital nas distintas dimensões da vida social, e que neste aspecto 
especificamente, cada vez mais transforma os estágios em forma mais barata de 
contratação de mão de obra com a capitulação ou mesmo adesão empolgada de diferentes 
áreas acadêmicas, cabe intensificar a entrada de estagiários na extensão como forma de 
enfrentamento dessa lógica instrumental da formação profissional. 
A prática extensionista comprometida com as organizações sociais de trabalhadores, 
com sua formação, instrumentação, passa a ser fortalecida. A crítica que setores 
universitários vêm fazendo ao produtivismo na pesquisa, às cobranças “irreais” por 
produção dos professores não podem ser absorvidas “de forma acrítica”, Essa experiência 
vem fortalecendo outra concepção de extensão e poderá contribuir para uma “virada”, um 
redimensionamento do trabalho docente colocando mais dedicação na extensão 
fortalecendo, ainda, a articulação das atividades acadêmicas junto aos movimentos sociais. 
Apesar da desvalorização histórica da extensão na universidade, sobretudo se comparada a 
pesquisa, (e isso se reproduz no interior do Serviço Social) tem-se um importante desafio 
que é tirar a extensão de “um segundo plano” na academia. 
 
 
Para a experiência dessa turma a extensão se mostrou decisiva e, principalmente 
pela sua articulação com o estágio. Em virtude da entrada diferenciada desta turma ao longo 
do semestre fica inviabilizada a sua participação em seleções públicas e impede entrada 
desses estudantes em instituições que tenham um contrato de estágio mais rígido. Projetos 
e Programas de extensão da própria unidade e de outras áreas da universidade foram 
decisivos para a efetivação do estágio destes estudantes e contribuíram para a qualificação 
dessas atividades teórico-práticas na medida em que possibilitaram a intensificação do 
acompanhamento docente ao campo de estágio e permitiram a realização de ações em 
conjunto com os supervisores de campo. As experiências extensionistas desenvolvidas pela 
universidade ocorreram em diversas áreas e pode-se citar como as mais importantes os 
projetos de extensão ligados aos direitos humanos, educação, cooperativismo e 
assentamentos rurais do estado do Rio de Janeiro, previdência social e saúde. 
 
 
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Ao longo de sua implementação, especialmente agora que vai chegando as suas 
etapas finais de realização, a avaliação dessa experiência é extremamente pertinente. Não 
apenas em seus aspectos quantitativos no que tange à permanência, índices de aprovação, 
conclusão do curso, entre outros, mas fundamentalmente no que se refere aos rebatimentos 
da efetivação dessa turma para pensarmos a formação em Serviço Social e a relação da 
profissão com os movimentos sociais. Algumas questões ficaram latentes e devem ser 
profundamente analisadas como forma de avançarmos no amadurecimento da profissão e 
da sua relação com os movimentos sociais e a questão agrária. 
Inicialmente é necessário ressaltar algumas questões que demonstram que essa 
experiência vem apontando algumas lacunas e desafios ao Serviço Social e, principalmente 
a formação profissional. Um significativo número dos estudantes que compõe esta turma é 
procedente de movimentos sociais do campo, vindos em sua maioria, de pequenos 
municípios e chegam ao curso desconhecendo o Serviço Social, especialmente em sua 
prática crítica a essa ordem social, compreendendo ainda a profissão como garantidora da 
ordem social e dos interesses da classe social hegemônica. Essa questão deve impulsionar 
a reflexão, pois se trata de segmento organizado dos trabalhadores aos quais o Serviço 
Social já deveria ter explicitado o objeto de intervenção e os fundamentos do projeto 
profissional crítico. Se não conseguimos a que se deve? 
 
 
A incapacidade individual dos assistentes sociais de tornar público o seu trabalho e 
de se engajar nas lutas locais? Pode haver aqui alguma lacuna da formação que não 
consegue dar elementos para que estes profissionais possam ter tal inserção? Como 
garantir que a formação ético-política, dimensão que estrutura as diretrizes curriculares da 
ABEPSS, dê elementos para a ação concreta dos assistentes sociais no seu cotidiano 
profissional? 
É conhecida, todavia, a adesão profissional a projetos de outras matrizes teórico-
metodológicas, os quais definem outra postura diante dos movimentos sociais e podem 
estar servindo para obscurecer os princípios que fundamentam o projeto ético-político do 
Serviço Social perante os segmentos da classe trabalhadora com os quais se relaciona 
profissionalmente. Porém, parece que este não é único elemento já que o atual projeto de 
formação tem forte incidência na formação de um grande segmento de profissionais que se 
inserem no mercado de trabalho, mesmo em cursos que não se localizam na universidade 
pública. Isso reforça a ideia que destacamos acima de que há algum “imbróglio” na 
formação profissional que não consegue aportar uma ação mais engajada e politizada dos 
assistentes sociais, sem obviamente cair no politicismo e militantismo simplesmente. 
Sabe-se que ao entrar para a graduação em Serviço Social os estudantes, em sua 
maioria, reproduzem a imagem tradicional do Serviço Social, vinculado à caridade cristã, e, 
muitas vezes essa não é superada; convivendo de forma “harmônica” com debate crítico da 
profissão. Por outro lado, os mesmos chegam à formação sem um histórico de vinculação 
com as lutas sociais, e muitos, passam pela graduação sem participar do movimento 
estudantil o que fragilizará a sua ação adiante. A ação política não poderá vir a ser exercida 
na vida profissional só com o conteúdo teórico estudado na universidade ela precisa estar 
articulada com a prática política. 
Debater sobre essa questão é de grande urgência e a inserção de um número 
significativo de profissionais provenientes das experiências de formação profissional para 
militantes, poderá contribuir para alterar a imagem da profissão junto a esses movimentos 
sociais. O ingresso no mercado de trabalho, ou nos quadros das organizações sociais da 
classe trabalhadora, de assistentes sociais que vivenciam a experiência militante acumulada 
à formação em Serviço Social poderá ser extremamente fecundo na articulação da prática 
militante com a prática profissional, preservando as particularidades de cada uma. 
Nesta mesma linha argumentativa e que merece destaque neste processo de 
avaliação, e queficou evidente com a implementação desse curso na UFRJ, é o escasso 
debate sobre a questão agrária na formação acadêmica dos assistentes sociais, e, o 
 
 
insuficiente estudo acerca da formação social do Brasil, especialmente: sua particularidade 
histórica, a diversidade em relação a outros países da América Latina, os elementos dessa 
formação que permanecem e influenciam a sociedade contemporânea, entre outros. Com a 
realização desta turma originária de organizações camponesas se observou uma demanda 
adicional pelo debate específico das lutas, demandas e dos direitos dos trabalhadores do 
campo, mas que já se sabe, não foi possível abordá-las satisfatoriamente. 
As diretrizes curriculares da ABEPSS, todavia, dispõe sobre os conteúdos 
relacionados a este tema, sendo integrantes do “Núcleo de Fundamentos da Formação 
Sócio-histórica da Sociedade Brasileira” que aborda os conteúdos relacionados à 
constituição social, política e econômica do Brasil, sua configuração dependente e as 
expressões na dimensão urbano-industrial e na questão agrária e agrícola. Portanto, essa 
ausência do debate acerca da questão agrária vai à contramão das Diretrizes Curriculares e 
deixa lacunas para a compreensão da inserção dependente do Brasil no contexto do capital 
internacional, como bem analisou Florestan Fernandes, e sua “vocação” para a produção 
agrícola sustentada na grande propriedade, monocultora de exportação (PRADO JUNIOR 
2000, pág. 20) 
A análise atenta destes elementos não é somente para conhecimento histórico, 
mas fundamental para o tempo presente. A economia brasileira nos últimos anos retoma 
projetos dos anos 50 do século XX como as grandes obras de infraestrutura, usinas 
hidrelétricas, a produção de cana e etanol, para ficar em alguns exemplos apenas, os quais 
afetam os camponeses, as populações tradicionais, os indígenas em particular, mas para, 
além disso, afetam o meio ambiente, e, portanto, à humanidade, além de reproduzir um 
modelo econômico arcaico. 
Essa política gestada pelo governo federal afeta as instituições estatais em sua 
organização e cultura política, bem como, no financiamento das políticas sociais e logo 
rebate também no trabalho do assistente “lá na ponta” como nos habituamos a denominar. 
Sendo assim, precisamos inserir estes assuntos relacionados à condição climática, à 
soberania alimentar, à reforma agrária como temas integrantes, permanentemente, dos 
currículos, se pretendermos que nossa formação e nossa ação estejam sintonizadas com as 
lutas que se colocam no horizonte da emancipação humana. O ingresso de trabalhadores e 
militantes dos movimentos sociais do campo na universidade e no curso de Serviço Social, 
não garantiu a superação de tais lacunas, mas vem servindo para no curso de Serviço 
Social trabalhadores do campo e militantes de movimentos sociais que lutam pela reforma 
agrária. 
 
 
Se a implementação desse projeto na Escola de Serviço Social contribuiu para 
elucidar essas já conhecidas lacunas na formação e na prática do assistente social é 
imprescindível, também, avaliarmos a sua efetivação tendo em conta a formação desses 
estudantes com um perfil diferenciado se comparado com os demais estudantes de Serviço 
Social e com uma proposta de formação ancorada na modalidade de alternância. 
O balanço dessa experiência é imprescindível e está em andamento na Escola de 
Serviço Social. Os primeiros esforços vêm se concentrando na análise da proposta e as 
contribuições do curso para a formação desse segmento de militantes, buscando avaliar a 
qualidade da formação profissional tendo em conta as expectativas, perfil e a sua realização 
via regime de alternância. O que se conclui até o momento, que embora os desafios e as 
dificuldades na sua execução, os resultados são positivos tanto para o Serviço Social como 
para os movimentos sociais envolvidos. 
A continuidade e a ampliação dessas experiências que aprofundam a relação entre 
a profissão e os movimentos sociais devem entrar na pauta de debate das entidades da 
categoria socializando para o conjunto do corpo profissional para que sirvam de estímulo 
para que propostas como esta sejam consolidadas e expandidas no âmbito da formação e 
da intervenção profissional. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ABESS/CEDEPSS. Diretrizes gerais para o curso de serviço social: Com base no currículo 
aprovado em assembléia geral extraordinária de 8 nov. 1996. Cadernos ABESS, São Paulo, 
n° 2, p. 58-76, 1997. 
BRASIL. Decreto n° 7352, de 4 de nov. 2010. Dispõe sobre a política de educação do 
campo e o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA. 
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2010/Decreto/D7352.htm> Acesso em: 30 nov. 2011. 
CHAUI, Marilena. A universidade pública sob nova perspectiva. In: Revista Brasileira de 
Educação, 2003. p.5-15. http://www.scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a02.pdf. Acesso em: 
15.01.2013 
CORDEIRO, Georgina; REIS, Neila da Silva, HAGA, Salomão. Pedagogia da Alternância e 
seus desafios para assegurar a formação humana dos sujeitos e a sustentabilidade do 
campo. Revista Em Aberto, Brasília, v. 24, n. 85, p. 115-125, abr. 2011. Disponível em 
http://emaberto.inep.gov.br 
CORAGGIO, José Luis. Propostas do banco mundial para a educação. In: Tommasi, Livia 
De; Mirian Jorge Warde; Sérgio Haddad (Orgs). O banco mundial e as políticas 
educacionais. São Paulo: Cortez Editora, 1996. p.75-123. 
 
 
DOURADO, Luiz Fernandes. Reforma do Estado e as Políticas para a Educação Superior 
no Brasil nos Anos 90. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n° 80, setembro/2002, p. 234-252 
Disponível em: <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 16 nov. 2011. 
FERNANDES, Florestan. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação 
sociológica. São Paulo: Globo, 2005. 5.ed. 
IAMAMOTO, Marilda. O Serviço Social na Contemporaneidade. São Paulo, Cortez, 1998. 
PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo. São Paulo, Brasiliense, 
2000. 
RODRIGUES, José. Os empresários e a educação superior. Campinas: Autores 
Associados, 2007. 
SOUZA, Maria A. de. Educação do campo: Políticas, Práticas Pedagógicas e Produção 
Científica. Educ. Soc., Campinas, vol. 29, n° 105, p. 1089-1111, set./dez. 2008. Disponível 
em: <http://www.cedes.unicamp.br>. Acesso em: 16 nov. 2011. 
VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez. Filosofia da práxis. Tradutora Maria Encarnación Moya. São 
Paulo: Expressão popular, 2007. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA NO SERVIÇO SOCIAL: A experiência do Tempo 
Comunidade na Turma Eldorado dos Carajás na UECE 
 
Jana Alencar Eleuterio
16
 
Pâmela Santos da Silva
17
 
Maria de Lourdes Vicente da Silva
18
 
Francisca Geneide de Sousa
19
 
 
 
 
 
RESUMO: O presente artigo traz elementos para reflexões acerca do 
Tempo Comunidade inserido na proposta metodológica da Pedagogia 
da Alternância da formação da turma de Serviço Social da Terra da 
UECE/PRONERA, a partir da experiência da Turma Eldorado dos 
Carajás que, em parceria com a Escola Nacional Florestan 
Fernandes, tem o objetivo de formar bacharéis em Serviço Social, 
tendo como parâmetros os marcos legais da formação acadêmica do 
Assistente Social, as Diretrizes Curriculares da Abepss (1996) e o 
Projeto Político Pedagógico do Curso de Serviço Social – UECE. 
Palavras-chave: Serviço Social da Terra, Pedagogia da Alternância, 
Tempo Comunidade. 
 
 ABSTRACT: This article provides elements for reflections on the 
Community Time inserted into the methodological approach of the 
Pedagogy of Alternation in the group of Social Work of “Earth” UECE / 
PRONERA, whichis called Eldorado dos Carajás, in partnership with 
the Florestan Fernandes National School, aims to graduation Social 
Work, with the parameters legal frameworks of academic training of 
the social worker, the Curriculum Guidelines Abepss (1996) and the 
Political Pedagogical Project of the Course of Social Work - UECE. 
Keywords: Earth Social Work, Pedagogy of Alternation, Community 
Time. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
16
 Mestranda. Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: janaalencar@gmail.com 
17 Mestranda. Universidade Estadual do Ceará (UECE). 
18 Mestre. Universidade Estadual do Ceará (UECE). 
19 Militante Social do MST/Ceará; Universidade Estadual do Ceará (UECE). 
 
 
 
1. Turma de Serviço Social “da Terra” – Turma Eldorados dos Carajás 
 
 
A educação do campo, a questão agrária e a luta pela reforma agrária no país, 
protagonizada pelos movimentos sociais do campo, representa uma ação que se materializa para 
além do direito a terra e ao trabalho. Configura-se um processo reivindicatório dos trabalhadores e 
trabalhadoras do campo organizados em assentamentos para fins de encaminhamentos de suas 
demandas sociais pelo acesso aos direitos sociais via políticas públicas. A reforma agrária é tida, 
portanto, como uma política pública que visa garantir a permanência do homem e da mulher no 
campo e, para tanto, é direcionada para que se criem condições objetivas que permitam aos 
trabalhadores camponeses e suas famílias as condições de acesso no que se refere aos direitos 
sociais reconhecidamente fundamentais. Nessa perspectiva, a defesa pelo direito à educação 
básica e superior compõe a luta pela reforma agrária e esta tem sido imprescindível para a 
formação de profissionais do campo para atuarem no enfrentamento da questão social. 
 
Os movimentos sociais do campo têm lutado pelo direito à educação superior e 
conquistado, em parceria com várias Universidades Públicas do Brasil, cursos de graduação que 
têm permitido a formação profissional dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, bem como da 
juventude assentada, sinalizando a possibilidade de permanência dessa população no campo 
para que possa atuar profissionalmente, como é o caso do Programa Nacional de Educação em 
Reforma Agrária – PRONERA. 
 
A turma de estudantes do curso de Bacharelado em Serviço Social da Terra foi 
constituída a partir de uma aproximação entre os professores do curso de Serviço Social da 
Universidade Estadual do Ceará (UECE) e os movimentos sociais do campo, a saber: Movimento 
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), 
Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Comunidades Quilombolas e Comissão Pastoral da 
Terra (CPT), através de diálogo para a construção da Proposta de Convênio entre a Fundação 
Universidade Estadual do Ceará (FUNECE), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma 
Agrária (INCRA) e o PRONERA, assinado desde dezembro de 2011, porém, em virtude de 
questões burocráticas, foi executado somente a partir de 2013. 
 
 
 
 
 
O Convênio tem como objeto a 
“formação de Bacharelado em Serviço Social de estudantes provindos das áreas de 
reforma agrária do território brasileiro; uma graduação que capacitará uma parcela 
da população rural em serviço Social, que serão assistentes sociais capazes de 
enfrentar as diversas manifestações da questão social, que se apresentam no 
cotidiano dos assentamentos rurais através de problemáticas nas relações de 
gênero, violência doméstica, alcoolismo, relações geracionais etc. na defesa dos 
direitos sociais e do acesso às políticas sociais” (Projeto Político Pedagógico, UECE, 
2011). 
 
 
A Meta era formar 60 bacharéis em Serviço Social provindos das áreas de reforma 
agrária do território brasileiro. Em parceria com a Escola Nacional Florestan Fernandes – ENFF, a 
turma foi constituída através de realização de vestibular específico para este objeto, por 
estudantes de áreas de reforma agrária dos Estados do Nordeste e Região Amazônica, 
vinculados aos Movimentos Sociais do Campo. Atualmente contamos com 53 estudantes, 
considerando as desistências ocorridas por motivos variados. A turma está distribuída da seguinte 
forma: 28 estudantes do Ceará e 25 dos outros Estados (Pará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do 
Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Rio Grande do Sul). Atualmente a turma está concluindo, 
em 2015.1, o Semestre IV e se preparando para o Semestre V (previsto para 2015.2), quando 
realizará o Estágio Supervisionado Obrigatório. 
 
Cabe destacar, que a escolha do nome da turma se deu por meio de debate coletivo 
entre os Núcleos de Base (NB)20, os quais representam a forma de organização dos estudantes. 
Inicialmente foram elencados doze nomes significativos para os educandos, a partir do 
agrupamento dos NBs, as discussões entre estes permitiram chegar num consenso de três 
nomes: Herdeiros da Resistência, Semeando a Revolução; Resistência Camponesa e Eldorado 
dos Carajás. As místicas foram realizadas pelos NBs com a apresentação de elementos de defesa 
de cada um destes nomes e, nesse caso, a mística mais significativa e simbólica para a turma foi 
a de Eldorado dos Carajás, pois lembrou com emoção o episódio do massacre de Eldorado que, 
até hoje, não houve justiça no que tange à punição dos mandantes deste fato histórico que, na 
compreensão dos estudantes do Curso de Serviço Social da Terra, marcou o processo de luta e 
resistência vivenciadas na busca pela conquista do direito a reforma agrária no Brasil. 
 
 
 
20
 Os alunos da turma de Serviço Social da Terra estão organizados em 06 Núcleos de Base, a saber: 
Xique-Xique do Sertão, Patativa do Assaré, Maria Bonita, Resistência do Sertão, Olga Benário e Egídio. 
 
 
2. Curso de Serviço Social e a pedagogia da alternância 
 
A turma de Serviço Social da Terra fundamenta sua proposta pedagógica e 
metodológica na Pedagogia da Alternância21 contemplando dois momentos no processo de 
aprendizagem e formação: o Tempo Escola e o Tempo Comunidade. O primeiro refere-se à 
experiência da sala de aula e a vivência da universidade. As disciplinas são ministradas em 
módulos, com carga-horária de 8h/a diárias, de segunda a sexta-feira. O que corresponde a 70% 
da carga-horária do semestre. Já o Tempo Comunidade visa o desenvolvimento de estudos e 
pesquisas nos assentamentos onde os educandos residem. O tempo destinado às pesquisas e 
aos estudos na comunidade corresponde a 30% da carga-horária. 
 
Alternando-se o tempo em que os jovens permaneciam na escola com o tempo em 
que estes ficavam na propriedade familiar, desde meados de 1935 que a ideia básica da 
Pedagogia da Alternância era conciliar os estudos com o trabalho na propriedade rural da família. 
(Nosella, 1977; Pessotti, 1978; Azevedo, 1999; Gimonet, 1999; Estevam, 2003; Magalhães, 2004). 
 
No Brasil, a Pedagogia da Alternância foi aplicada em 1969, por meio da ação do 
Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo (MEPES), o qual fundou a Escola Família 
Rural de Alfredo Chaves, Escola Família Rural de Rio Novo do Sul e Escola Família Rural de 
Olivânia, essa última no município de Anchieta. O objetivo primordial era atuar sobre os interesses 
do homem do campo, principalmente no que diz respeito à elevação do seu nível cultural, social e 
econômico (Pessotti, 1978). 
 
 Cordeiro; Reis; Haja (2013) ao discutirem a experiência da educação no campo 
pautada na Pedagogia da Alternância chamam atenção para a importância do projeto político 
pedagógico aliar a prática da pesquisa como forma de conhecimento e

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