Buscar

filosofia unidade1 tp1

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 8 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Unidade 1: Tópico 1
Introdução
Ao longo dos séculos, alguns pensadores definiram a Filosofia como arte e outros como ciência; alguns ainda tentaram superá-la e outros encerrá-la, etc. Nesse momento não cabe fazer pré-julgamentos sobre as possíveis definições de Filosofia. É mais interessante e convidativo deixar que você mesmo, com o avançar de seus estudos, possa fazer a sua própria avaliação sobre este saber tão antigo.
Algo, por sua vez, deve-se deixar claro, a saber, mencionar o que a Filosofia não é. Por vezes, quando se adentra em livrarias ou bibliotecas, por exemplo, depara-se com a parte dedicada à Filosofia, e, lá, erroneamente, encontra-se de tudo: autoajuda, espiritualismo, astrologia, história, enfim. É importante marcar que a Filosofia não se confunde com nenhum outro tipo de saber.
O que a Filosofia nos deixou depois de 2.500 anos de história foi, por um lado, uma série de indagações e possibilidade de respostas sobre o mundo e suas relações e, por outro lado, as várias tentativas de respostas sobre o que ela mesma é, bem como sobre os vários significados que a realidade se apresenta aos seres humanos.
Independente de como se define a Filosofia, constantemente se está em sua proximidade. Quando se procura questionar um fato para entendê-lo melhor, por exemplo, buscando-se interpretar seus fundamentos, suas bases, isto já é de algum modo, filosofar. A Filosofia é uma postura frente às coisas, ou seja, a maneira de se buscar entender algo e de questionar, de duvidar desse algo. E, dessa maneira, vai-se introduzindo no modo como nasce o filosofar: um esforço muito singular de se compreender e interpretar a realidade.
Essa interpretação do mundo, isto é, da realidade, de antemão, retira toda postura dos indivíduos de bem estar e conforto frente a este mundo, pois questionar por seus fundamentos* nunca foi um ofício dos mais simples e desejosos. Isso porque exige a difícil tarefa de se introduzir na própria questão investigada, e, com isso, de também se colocar em questão, quer dizer, de questionar os sentimentos que se sente em determinado momento, a perspectiva que se busca interpretar determinado problema, e assim por diante.
O filosofar nasce quando se coloca em questão a própria vida, o que a mobiliza e a interessa, bem como a existência do mundo de determinado indivíduo, abdicando-se da segurança de uma realidade previamente determinada em prol do desejo de questioná-la e compreende-la da maneira como se organiza, do modo como ela efetivamente é.
Há, de imediato, um saber que não tem uma resposta fechada e “certa” sobre o que ele mesmo se constitui, como se encontra tantas vezes nas disciplinas exatas. Esse fato já nos gera certo espanto! Porém, é justo do espanto, quer dizer, de certa admiração ao começar a se introduzirem uma disciplina que tem dificuldades de entender a sua própria constituição, que dispõe cada indivíduo singular na beleza** de procurar respostas para questões que se mostram de maneira tão íntimas; questões que pela Filosofia abrem-se justamente à possibilidade de entender a nós mesmos no interior da realidade que nos circunda.
Perguntar pelo que é a Filosofia, é caminhar na difícil trilha de investigar a si próprio.
*FUNDAMENTOS
Entende-se por fundamento, na linguagem corrente, aquilo que sustenta algo, como no sentido de “fundamentos de uma casa”, embora atualmente se fale em “fundações”. Na Filosofia, fundamento esclarece algo que sustenta certo fenômeno ou conhecimento (Cf. JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3ª ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996. p, 113 – verbete –Fundamento).
**BELEZA
Adiante se esclarecerá o uso do termo Beleza para expressar à Filosofia.
Apresentação
Você já se percebeu como se utiliza, com frequência, o termo introduzir na Filosofia? Isso porque a palavra introduzir significa um movimento de levar-nos (do latim -ducere) para dentro (do latim intro-) das origens, isto é, do próprio filosofar. A rigor, não se pode pensar com muita clareza uma introdução à Filosofia, por que, na Filosofia, não há possibilidade de introdução. Isso porque existe uma grande diferença que separa nossa vida cotidiana, com suas crenças e pressupostos prévios, sempre familiares e imediatos, do espaço extraordinário(quer dizer, além da ordem – -extra – do dia – -dinario –) onde ocorre a investigação filosófica.
Dessa experiência surge a dificuldade para nós, indivíduos modernos/contemporâneos, para entender e viver a Filosofia, já que estamos habitualmente na ordem do dia, isto é, dispostos em meio as nossas crenças habituais, corriqueiras. A partir disso escreve o professor Emmanuel Carneio Leão:
Dessa perspectiva o mais longo e o mais difícil dos caminhos é sempre aquele que leva ao que é mais íntimo e está mais próximo. É tão íntima a Filosofia no país dos homens, que se torna impossível uma introdução e muito difícil o acesso a sua paisagem. A Filosofia já está sempre operando em todo pensamento, que nela se procura iniciar e introduzir. O único caminho ainda possível é um retorno brusco da existência humana a sua origem. A paisagem da Filosofia não está em lugar algum, esperando que nela se introduza o pensamento. A paisagem da Filosofia se instaura e origina pelo movimento da própria investigação filosófica, que, pondo-se em questão, retorna às origens, donde ela mesma provém.
CARNEIRO LEÃO, Emmanuel. Itinerário do pensamento de Heidegger. In: HEIDEGGER, Martin. Introdução à metafísica. Introdução, tradução e notas Emmanuel Carneiro Leão. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1969, pp. 9-10.
O que o professor Carneiro Leão busca nos evidenciar com este texto é que a Filosofia está constantemente próxima de nossas experiências cotidianas, estando muitas vezes em nossa proximidade, em nossa vizinhança. Contudo, no “país dos homens”, o mundo moderno no qual estamos inseridos, que sempre nos apresenta o conforto de estar em meio a um turbilhão de coisas, não deixa que se perceba essa vizinhança. Assim, acaba-se vivendo em meio a certa mediania, um nivelamento em que todos “pensam” de certa forma semelhante, quase padronizada, sem investigar os fundamentos das informações, conhecimentos e crenças que recebemos.
Por isso, “o único caminho” de se introduzir na Filosofia é buscando cultivar certa postura frente às coisas, de modo que adentramos em um nível bem específico de investigação sobre as mesmas a fim de saber como as coisas analisadas sucedem e em que estão baseadas. E analisar melhor as coisas que nos circundam é, necessariamente, investigar a si mesmo; é também, como já comentado, colocar-se em questão.
Já dizia o filósofo grego Sócrates (469-399 a.C.) ao repetir o Oráculo de Delfos, templo dedicado ao culto do deus mítico Apolo: “Conhece-te a ti mesmo!”
A Filosofia e a figura do filósofo
Como já comentado, a palavra Filosofia já coloca em questão o que é esse saber. Consequentemente, deve-se procurar interpretar o que significa a palavra Filosofia. Este já é o primeiro elemento ao qual se deve atentar para compreender em que consiste esse saber. Segundo a professora Marilena Chauí:
A palavra “filosofia” é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia quer dizer sabedoria (...). Filosofia significa, portanto, amizade pela sabedoria, amor e respeito pelo saber. Filósofo: o que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber. Assim, filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.
	CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2003.
A partir dessa exposição, pode-se afirmar que, de imediato, a Filosofia se mostra como certo modo de pensar, já que possibilita ao homem uma postura singular, diferente diante do mundo, não sendo, consequentemente, um conjunto de conhecimentos prontos, de fórmulas, ou um sistema acabado, fechado em si mesmo.
Em relação a esse últimoponto, de tal modo se processa muitas disciplinas da escola e até mesmo da faculdade, não que estas sejam melhores que a Filosofia ou que a Filosofia seja melhor que estas. Entretanto, possivelmente nenhum aluno terá muitas dúvidas do que encontrará nas aulas de Matemática ou de Língua portuguesa, mas, não é o caso das aulas de Filosofia. Este saber se apresenta como uma possibilidade de abertura singular para o mundo, e isto por que dimensiona a forma na qual nós, intérpretes desse mundo, o percebemos.
A Filosofia é uma forma privilegiada pela qual se pode compreender melhor o mundo.
IMPORTANTE!
Não devemos entender mundo, tal como se faz referência em nossos estudos, como o planeta, ou qualquer corpo celeste, mas, como um conjunto de relações nas quais todos os indivíduos estão, de antemão, dispostos, isto é, postos dentro, estando previamente prontos a realizarem-se. Essas relações são estabelecidas junto às coisas que estão ao nosso redor, com os outros que constantemente estamos lidando, bem como em relação de nós mesmos. No espaço da sala de aula, por exemplo, o mundo que se abre é o mundo do educar, em que as coisas dispostas no interior da sala de aula tomam um sentido específico, as pessoas se apresentam de uma maneira determinada, além do próprio educador ganhar um significado particular em meio a dimensão do estudo. Assim compõe o mundo escola.
Pelo o que assim foi expresso, pela Filosofia os indivíduos procuram se valer de um tipo de interpretação da realidade (ou mundo) além da mera aparência que as coisas e/ou fenômenos de antemão se mostram. Normalmente, os indivíduos ao estarem imersos em seu cotidiano não param para pensar sobre os acontecimentos que ocorrem ao seu redor, permitindo-se viver a partir de um “conhecimento comum”, melhor, de um senso comum. Conforme os professores Danilo Marcondes e Hilton Japiassú, o senso comum é:
Em uma acepção mais típica do pensamento moderno, o senso comum é um conjunto de opiniões e valores característicos daquilo que é correntemente aceito em um meio social determinado. “O senso comum consiste em uma série de crenças admitidas em meio de uma sociedade determinada e que seus membros presumem serem partilhadas por todo ser racional”.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3ª ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996, pp. 224-225 – verbete Senso comum.
A partir das experiências que são proporcionadas pela Filosofia, intenta-se dar um passo além da forma orientada pelo senso comum de se interpretar o mundo. Busca-se projetar o entendimento humano além da forma ordinária, corriqueira que as cosias simplesmente se mostram para cada um, e isso a fim de se apropriar das coisas. Isto é, pelo exposto:
1. Compreende-se algo melhor pela Filosofia, de modo a;
2. Interpretar esse algo de maneira mais criteriosa, a fim de;
3. Apropriar, ou seja, pensar, refletir de forma crítica sobre isso que foi compreendido e interpretado.
Consequentemente, por meio da Filosofia pode se questionar qualquer objeto, circunstância e/ou fenômeno. Nesse sentido,
a Filosofia é um saber pelo qual se dispõe à possibilidade de meditar sobre diversos fenômenos, bem como a muitos campos de conhecimento, como por exemplo, a ciência, os valores, a política, etc.;
coloca-se na possibilidade de refletir sobre a religião, a arte, e, especialmente, questionar, como já marcado no começo dessa unidade, sobre a existência do homem e do mundo.
Deve-se atentar de imediato para um aspecto de muita importância na definição de Filosofia oferecida acima pela professora Chauí, que, de algum modo, informa-nos que se deve procurar por aquilo que se reconhece não ter. Nessa direção comentará o filósofo grego Platão (429-347 a. C.)* em uma de suas obras principais intitulada O Banquete, um texto que elucidará sobre o amor filosófico.
PARE E REFLITA
Antes de continuarmos vamos nos lançar numa indagação: imersos no turbilhão oferecido pelo século XX onde tantas coisas arrebatam os homens em seus cotidianos, o que entendemos por amor filosófico?
*PLATÃO (429-347 A.C.)
Platão é um dos principais representantes de toda a História da Filosofia; é um pilar da Filosofia, juntamente ao seu principal aluno, Aristóteles. Platão, que foi discípulo de Sócrates, pensador já mencionado acima, escreveu a maior parte de suas obras em diálogos, dentre elas A República, O Banquete e Fédon. Podemos conferir uma boa introdução sobre o pensamento desses filósofos na obra Platão & Aristóteles – o fascínio da Filosofia, de Marco Zingano (Cf. ZINGANO, Marco. Platão & Aristóteles – o fascínio da Filosofia. São Paulo: Odisseus, 2005).
A palavra amor, tal como a concebemos provém do grego éros, embora também possua uma raiz que deriva do latim, e significava outrora afeição, simpatia, e representava certa tendência da sensibilidade humana que era possível de transportar-nos para outro ser ou um objeto reconhecido ou sentido como bom. Assim se pode falar em amor materno, no amor da glória (divina), etc.
Quando Platão pensa no amor à Filosofia, refere-se a um sentimento que abre mão, isto é, prescinde da sensibilidade humana para alegrar-se das belezas intelectuais ou espirituais, isto é, com aquilo que o filósofo chamou de Belo*. Esse Belo, como marcara Platão, não é algo fisicamente, sensivelmente bonito e/ou atraente, mas, é uma experiência do pensamento.
SABIA MAIS
Para o grego antigo, Belo, Bom e Verdadeiro eram expressões comuns a fim de se referir à experiência do pensamento, do intelecto – experiência especialmente valorizada na antiguidade. Assim, a expressão amor platônico não tem em vistas um amor físico e nem abstrato, simplesmente, mas, uma forma de amor pelo intelecto às coisas as quais se investiga.
APROFUNDANDO
Sobre a ideia de Belo ,confira o anexo.
*BELO
Na introdução a esse módulo já consta uma chamada para esse termo. Deve-se conferir a base desse comentário em JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia. 3ª ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1996.
Pela Filosofia, busca-se, como já comentado, interpretar aquilo que aparece aos indivíduos de modo estranho, melhor dito:extraordinário. Como exemplo, selecionamos um poema de Alberto Caeiro, um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa (1888-1935). Atente-se às estrofes a seguir:
Meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que eu nunca antes tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007, p. 204.
O filósofo é este que “nasce”, não como ato de obstetrícia*, mas que repetidamente procura reinterpretar o seu mundo e suas possibilidades de ser desprovido de qualquer olhar imbuído de determinados preconceitos ou crenças prévias. Como uma “eterna novidade” é justamente o seu mundo que se apresenta a fim de ser novamente dimensionado, ou seja, a realidade que outra vez se mostra a fim de ser re-apreendido, contudo a partir de outra perspectiva, de outro compreender e interpretar.
O mundo se manifesta, como na poesia de Pessoa, como uma novidade. Isso porque, a princípio (com já comentado), os homens já estão dispostos em um senso comum no qual todos já estão de antemão, em certa pré-compreensão do mundo. A postura do poeta na poesia, debuscar interpretar o seu mundo como se esse fosse uma novidade, o concede-lhe a possibilidade de ver as mesmas coisas que anteriormente via, já que ele “possui um olhar nítido como um girassol”, e se põe “a caminhar olhando para a direita e para a esquerda, e de vez em quando para trás”, a partir de uma nova perspectiva, de uma nova maneira.
PARE E REFLITA
E você, já pensou em olhar paraalgo do seu cotidiano a partir de uma nova perspectiva? Olhe ao seu redor, veja as pessoas que estão na rua, observe as casas, os sons, e tente ver além, pense como será a vida destas pessoas, quem mora nestas casas, de onde vem esses sons? Isso é filosofar.
*OBSTETRÍCIA
A obstetrícia é a arte médica que se ocupa dos partos.
De modo geral, perguntar pelas coisas que nos cercam não é algo habitual. Como constatação disso, ao falar sobre o tempo, santo Agostinho (354-430), filósofo do começo do período medieval (era cristã) que era bispo na cidade de Hipona, no norte da África, escreveu o seguinte:
“O tempo. Quem não sabe o que é o tempo! Contudo, não me pergunte o que é o tempo, pois não mais poderei responder”.
AGOSTINHO. Confissões. Trad. J. Oliveira dos Santos, S.J. e A. Ambrósio de 
Pina, S.J. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 2379 (Coleção Os pensadores).
O filósofo e santo pela Igreja Católica, esclarece algo muito simples e que traduz muito bem o que faz o filósofo: deixa-nos claro que, mediante o senso comum, todos sabem o que é o tempo.
PARE E REFLITA
Agora vamos refletir, pare você mesmo, e pense para responder a pergunta de Santo Agostinho: você sabe o que é o tempo? Consegue defini-lo em uma fórmula ou conceito, de maneira que possa ser válido para todos os indivíduos ou minimamente que seja aceitável para outros indivíduos? É dessa dificuldade que vive o filósofo. Não obstante, ao pensarmos agora sobre o filósofo, quem é essa figura e o que ele faz?
Para encerrar esse tópico e podermos iniciar o próximo, atente-se ao texto escrito pelo professor Gilvan Fogel em sua obra Que é Filosofia? Filosofia como exercício de finitude:
Inicialmente, o lento, que se contrapõe ao apressado, que resiste a esse, que o corrói e o corrompe, não é o inerte, o lerdo, o letárgico. Uma natureza lenta, melhor, um tipo lento é um tipo que vive desde uma disposição assentada de entrar no ritmo, na cadência disso que ele se ocupa – disso com que ele se pré-ocupa. Ele não tem pressa, pois para ele é evidente que a coisa não tem pressa. Esta se mostra para ele tendo um ritmo, um tempo, que é inflexível e irrevogavelmente seu, isto é, da própria coisa. Qualquer alteração disso aparece como uma violação, uma transgressão e, por isso, uma perda, uma descaracterização, um esvaziamento da própria coisa. Trata-se de um tipo que, desde uma decisão que, para ele, se torna corrente sanguínea, instinto, índole, estigma, e por tudo isso, identidade e próprio – trata-se, portanto, de um tipo que, a partir de uma decisão, não se sabe como nem quando eclodida, resiste ao élan do inopinadamente “adiante”, do sôfrega e impulsivamente “para frente”. Ao contrário, na hora deste ímpeto, desta tentação, algo nele como que puxa para trás, impõe-lhe parar. Ele aguenta, resiste, suporta. Aqui, sim, cabe constatar que esse tipo, às vezes, tem algo até de estúpido, do pesado, do lerdo. Trata-se de alguém capaz de, por longo e longo tempo, suportar uma adversidade, resistir ao insucesso, arrostar serena e concentradamente uma grande dificuldade, uma grande recusa. É capaz de uma longa espera. É meio ou muito uma natureza de montanha e de deserto. Ele vai, ele avança, mas ele se permite e mesmo se impõe voltar, repisar, refazer o já feito, ruminar. Agrada-lhe vencer a si próprio, superar a si mesmo, dominar e submeter em si, com mão de ferro, toda impulsividade para o fácil para o rápido, para aquilo que é de resultado e sucesso imediato. Agrada-lhe, alegra-lhe crescer lento e sólido como as grandes árvores: o jequitibá, o ipê, a sapucaia, o jatobá. É alguém marcado pela concentração, pela contenção, pela intensidade. Isso se irradia dele. Nada de derramamentos, efusões e transbordamentos fúteis. É simples, sóbrio, mas nisso e por isso cheio do solene e do hierático da montanha. Sendo assim, desde o contido e do intenso, sua medida é sempre o sóbrio, o pouco, o parco, o pobre. Isto, para ele, é o suficiente, mesmo o só necessário e até a fartura .
FOGEL, Gilvan. Que é Filosofia? Filosofia como exercício de finitude. Aparecida: Ideias & Letras, 2009, pp. 12-13.

Continue navegando

Outros materiais