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+ Docente: Valdiney Valente Lobato de Castro Doutorando em Letras pela Universidade Federal do Pará AULA 02 LÍNGUA: O COLOQUIAL E A NORMA CULTA VARIAÇÕES */17 * * * * * * + * Uma língua não é algo estático que se estende por igual a várias regiões. Não só evolui com o tempo (variação diacrônica - do grego: dia + khronos = "através de" + "tempo"), como também apresenta variações de acordo com o indivíduo que a usa e a sua intenção discursiva. Observe: Variação Geográfica ou Diatópica - (do grego: dia + topos = "através de" + "lugar") variação que ocorre de local para local, característica de uma região ou até de um continente. + * Variação Sociocultural ou Diastrática - (do grego: dia + stratos = "através de" + "nível") variação que ocorre entre as diversas camadas e grupos sociais e culturais. Variação de Modalidade Expressiva ou Diafásica - (do grego: dia + phasis = "através de" + "discurso") variação que ocorre entre diferentes modos específicos de comunicar (certas linguagens específicas tais como a língua falada, a língua escrita e as linguagens especiais, como a gíria), e que ocorre de acordo com as diversas situações (variação entre a linguagem quando se fala com um juiz e com um vizinho no café). * * + * Atividades A escrita é uma das formas de expressão que as pessoas utilizam para comunicar algo e tem várias finalidades: informar, entreter, convencer, divulgar, descrever. Assim o conhecimento acerca das variedades linguísticas sociais, regionais e de registro torna-se necessário para que se use a língua nas mais diversas situações comunicativas. Considerando as informações acima, imagine que você está à procura de um emprego e encontrou duas empresas que precisam de novos funcionários. Uma delas exige uma carta de solicitação de emprego. Ao redigi-la, você (A) fará uso da linguagem metafórica. (B) apresentará elementos não verbais. (C) utilizará o registro informal. (D) evidenciará a norma padrão. (E) fará uso de gírias. */17 * + * As manchetes a seguir foram publicadas em jornais diferentes, mas referem-se a um mesmo fato: a falsificação de remédios. Observe: I. “Câmara torna fraude de remédio crime hediondo”. II. “Falsificação de remédios será crime hediondo”. III. “Agora é pena pesada”. Percebe-se que há uma diferença entre a qualidade da linguagem utilizada pelos dois primeiros jornais e pelo último. Essa situação é provocada pelo seguinte fato: (A)Os jornais I e II têm redatores de alto gabarito profissional, que não se preocupam se seu público entende a linguagem formal. (B) O jornal III dirige-se a um público mais formal e erudito. (C)O jornal III tem redatores menos experientes no uso da linguagem formal e erudita. (D)Os jornais II e III dirigemse a um público menos exigente e por isso, utilizam a linguagem informal e não erudita. (E) O jornal III usa uma linguagem menos formal, para atingir um público mais informal e menos erudito. * + * No romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, o vaqueiro Fabiano encontra-se com o patrão para receber o salário. Eis parte da cena: Não se conformou: devia haver engano. (…) Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria? O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurarserviço noutra fazenda. Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Graciliano Ramos. Vidas Secas. 91.ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. No fragmento transcrito, o padrão formal da linguagem convive com marcas de regionalismo e de coloquialismo no vocabulário. Pertence a variedade do padrão formal da linguagem o seguinte trecho: A) “Não se conformou: devia haver engano” B )“e Fabiano perdeu os estribos” C)“Passar a vida inteira assim no toco” D)“entregando o que era dele de mão beijada!” E) “Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou” * + * Assinale o trecho do diálogo que apresenta um registro informal, ou coloquial, da linguagem. A) “Tá legal, espertinho! Onde é que você esteve?!” B) “E lembre-se: se você disser uma mentira, os seus chifres cairão!” C) “Estou atrasado porque ajudei uma velhinha a atravessar a rua...” D) “...e ela me deu um anel mágico que me levou a um tesouro” E) “mas bandidos o roubaram e os persegui até a Etiópia, onde um dragão...” * + * Analise as informações sobre variação linguística, norma e uso em relação à fala da personagem da charge. I. A fala da personagem exemplifica a variação linguística, pois o protagonista usa uma variante típica da linguagem informal: a abreviação do verbo “está” para “tá”. II. Não há erro gramatical na charge, pois a informalidade expressa na fala do protagonista representa uma linguagem coloquial, na qual não se exige o cumprimento rigoroso das normas gramaticais. III. Há erro linguístico na charge, pois o cartunista deveria ter usado a norma padrão, já que a charge é um gênero destinado principalmente a um público culto. IV. Se o enunciado da charge fosse produzido em um pronunciamento oficial do Governo, por exemplo, deveria ser usada uma linguagem culta, de acordo com o padrão. Estão corretas as afirmações feitas em: a) I e II, apenas. b) I e III, apenas. c) I e IV, apenas. d) II e IV, apenas. e) I, II e IV. * + * O texto mostra uma situação em que a linguagem usada é inadequada ao contexto. Considerando as diferenças entre língua oral e escrita, assinale a opção que representa também uma inadequadação da linguagem usada no contexto apresentado. a.( ) “O carro bateu e capotô, mas num deu para vê direito.” – comentário de um pedestre que assistiu ao acidente, com outro que vai passando. b.( ) “E aí, ô meu! Como vai essa força?” – um jovem que fala com um amigo. c.( ) “Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação.”- alguém comenta em uma reunião de trabalho. d.( ) “Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao cargo de Secretária Executiva dessa conceituada empresa.”- alguém que escreve uma carta candidatando-se a um emprego. e.( ) “Porque se a gente não resolvê as coisas como tem que ser, a gente corre o risco de termos, num futuro próximo, muito pouca comida nos lares brasileiros.” – um professor universitário discursando em um congresso internacional. * + * Suponha que um aluno se dirige a um colega de classe nesses termos: “Venho respeitosamente solicitar-lhe se digne emprestar-me seu livro de matemática.” A atitude desse aluno se assemelha à atitude do indivíduo que: a. ( ) comparece ao baile de gala trajando smoking. b. ( ) vai à audiência com um juiz trajando short e camiseta. c. ( ) vai à praia de terno e gravata. d. ( ) vai ao estádio de futebol de chinelo e bermuda. * + * As línguas constituem sistemas de comunicação verbal. Conquanto a fala seja da maior importância, fator fundamental de humanidade no homem, a nossa capacidade de comunicar conteúdos expressivos não se restringe às palavras; nem são elas o único modo de comunicação simbólica. Existem, na faixa de mediação significativa entre nosso mundo interno e o externo, outras linguagens além das verbais." Segundo o texto, é correto afirmar: a) Nada pode substituir as palavras como forma de comunicação. b) A capacidade humana de comunicação limita-seàs linguagens não-verbais. c) A fala não é o único elemento a considerar em situações de comunicação simbólica. d) A fala é indispensável na mediação entre nosso mundo interno e o externo. e) Para comunicar conteúdos expressivos, é prioritário dominar as linguagens não-verbais. * + * Gerente – Boa tarde. Em que eu posso ajuda-lo? Cliente – Estou interessado em financiamento para compra de veículo. Gerente – Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente? Cliente – Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco. Gerente – Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê ta em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma. Na representação escrita da conversa telefônica entre a gerente do banco e o cliente, observa-se que a maneira de falar da gerente foi alterada de repente devido À adequação de sua fala à conversa com um amigo , caracterizada pela informatividade À iniciativa do cliente em se apresentar como funcionário do banco Ao fato de ambos terem nascido em Uberlândia (Minas Gerais0 À intimidade forçada pelo cliente ao fornecer seu nome completo Ao seu interesse profissional em financiar o veículo de Júlio * + * Assinale a única alternativa em que não ocorre o emprego de expressões coloquiais “ – Ele pode decidir – disse Pé de Vento. Tinha esperanças de ser escolhido por Quincas para herdar Quitéria, seu único bem” ( Jorge Amado) “ – Calma, companheiro. Não tava querendo lhe lesar” (Jorge Amado) “-Boa tarde, damas e cavalheiros. A gente queria ver ele...” (Jorge Amado) “-Apesar dos pesares, é meu pai. Não quero que seja enterrado como um vagabundo. Se fosse seu pai, Leonardo, você gostava?” (Jorge Amado) “-Fala também , desgraçado... –Negro Pastinha, sem se levantar, espichava o poderoso braço, sacudia o recém-chegado, um brilho mau nos olhos. – Ou tu acha que ele era ruim?” (Jorge Amado) * + * Para aprofundar... Lucchesi (2002, p. 64) explica-nos que a norma padrão diz respeito às formas contidas e prescritas pelas gramáticas normativas, como por exemplo, a recomendação para usar a mesóclise com verbos no futuro do presente do indicativo ou no futuro do pretérito (Dar-te-ei um prêmio se acertar a resposta! Dar-te-ia um prêmio se acertasse a resposta). Já a norma culta contém as “formas efetivamente depreendidas da fala dos segmentos plenamente escolarizados, ou seja, dos falantes com curso superior completo”. Com base nos estudos linguísticos feitos sobre a língua falada culta em diversas regiões do país, é possível afirmar que nem mesmo na norma culta, isto é, nem mesmo os falantes escolarizados, ditos cultos, utilizam a norma padrão em todos os momentos. * + * Todavia, é possível que os falantes cultos não sejam mal avaliados por não usarem a mesóclise porque esta norma não é estigmatizada. Já um indivíduo que diga: “Nóis vai, nóis qué” provavelmente, será mal avaliado e poderá sofrer preconceito linguístico porque a ausência de concordância verbal é uma variante estigmatizada. Entre esses extremos, há a norma coloquial, usada no dia-a-dia, nas conversas informais com amigos, nos bilhetes, nas redes sociais etc. É considerada uma linguagem mais descontraída, sem formalidades, com gírias, diminutivos afetivos, termos regionais, abreviações, contrações etc. Nela, são comuns construções como: “A gente qué” (ao invés da construção padrão: “Nós queremos”); “As menina adora” (ao invés da padrão: “As meninas adoram”), “O filme que eu assisti” (ao invés da padrão: “O filme a que eu assisti”); “Me empresta o lápis” (ao invés de: “Empreste-me o lápis”) etc. Poderíamos apresentar uma imensa lista com desvios da norma padrão muito comuns na linguagem coloquial (também chamada de popular) porque a norma padrão está muito distante do uso que os falantes fazem, em geral, da língua. * + * Porém, é importante frisar três aspectos aqui discutidos, explícita ou implicitamente: 1) A língua varia de acordo com a situação e outros fatores sociais como, escolaridade, sexo, nível social etc.; 2) Não se deve julgar, menosprezar ou demonstrar preconceito pelo modo como alguém fala ou escreve, pois não há uma forma linguística superior à outra; 3) Embora não se deva julgar ou condenar alguém pelo uso linguístico que faz, você deve saber utilizar a norma padrão nos contextos em que ela é exigida. * * *
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