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Janson Egipto e próximo oriente

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, 
A ARTE EGIPCIA 
MAR MEDITERRÂNEO 
DESERTO LIBIO 
o Miks 100 
É lugar-comum dizer-se que a História princ1p10u com a 
:nvenção da escrita, c. 5000 a.C. É uma data aceitável como 
ponto de referência porque uma e outra nasceram pela 
mesma época e a ausência de documentos escritos é uma das 
diferenças fundamentais entre as sociedades pré-históricas e 
históricas. Mas essa distinção levanta problemas complica-
dos. Até que ponto é válida? Reflecte apenas uma diferença 
no conhecimento do passado? (Graças à escrita, estamos 
muito mais bem informados acerca dos tempos históricos). 
Haveria mudanças radicais nos acontecimentos - ou na espé-
cie de factos sucedidos - desde o início da História? É evi-
dente que sucederam muitas coisas importantes nas épocas 
pré-históricas, como a longa e árdua passagem da caça para 
a agricultura. Contudo, a mudança decisiva das condições 
da vida humana durante esses tempos foi incrivelmente lenta 
se a compararmos às transformações dos últimos 50 séculos. 
O início da História corresponde a uma repentina aceleração 
da rapidez dos acontecimentos. 
Não cremos que seja • apenas uma questão de perspec-
tiva - as coisas mais próximas parecem maiores - mas, de 
facto , que os problemas e dificuldades enfrentados pelas 
sociedades históricas têm sido assaz diferentes dos que cou-
beram aos homens do Paleolítico e do Neolítico. A Pré-
-História pode definir-se como a fase em que a espécie 
humana aprendeu a subsistir contra a hostilidade do 
ambiente. Com a domesticação de animais e a cultura de 
plantas alimentícias, ganhou-se uma vitória decisiva nessa 
luta pela sobrevivência. A Revolução Neolítica alçou o 
Homem a um nível em que poderia permanecer indefinida-
mente. As forças da Natureza nunca mais o fariam perigar 
A Arte Egípcia 53 
- p e l o m e n o s n a a c t u a l e r a g e o l ó g i c a - c o m o n o P a l e o l í t i c o . 
E e m m u i t a s p a r t e s d o G l o b o e l e c o n t e n t o u - s e e m p e r m a n e -
c e r n e s s e " p l a n a l t o n e o l í t i c o " d a s s o c i e d a d e s p r i m i t i v a s . 
T E N S Õ E S N A S S O C I E D A D E S P R I M I T I V A S . N o u t r o s 
l u g a r e s , p o r é m , o e q u i l í b r i o a s s i m a l c a n ç a d o f o i p o s t o e m 
x e q u e p e l o s p r ó p r i o s h o m e n s . A s f o r t i f i c a ç õ e s n e o l í t i c a s d e 
J e r i c ó ( g r a v . 2 3 ) , c o n s t r u í d a s h á c e r c a d e 9 0 0 0 a n o s , s ã o o 
m a i s a n t i g o m o n u m e n t o e r g u i d o c o n t r a e s s e p e r i g o . D o n d e 
n a s c e u o c o n f l i t o q u e v e i o a t o r n á - l a s n e c e s s á r i a s ? R i v a l i d a -
d e s e n t r e t r i b o s d e p a s t o r e s , p a r a a s s e g u r a r a s p a s t a g e n s , o u 
e n t r e c o m u n i d a d e s r u r a i s , p a r a a ~quisição d e t e r r a s a r á v e i s ? 
A c a u s a p r i n c i p a l , a o q u e s u p o m o s , f o i o p r ó p r i o ê x i t o d a 
R e v o l u ç ã o N e o l í t i c a n e s t a á r e a , t ã o c o m p l e t o q u e a p o p u l a -
ç ã o a u m e n t o u m a i s d e p r e s s a q u e a p r o d u ç ã o d e a l i m e n t o s . 
A s i t u a ç ã o p o d e t e r s i d o r e s o l v i d a d e v á r i a s m a n e i r a s : p o r 
c o n s t a n t e s g u e r r a s t r i b a i s , q u e r e d u z i a m o n ú m e r o d e h a b i -
t a n t e s , o u p e l a f o r m a ç ã o d e c o l e c t i v i d a d e s m a i o r e s e m a i s 
d i s c i p l i n a d a s , c a p a z e s d e e m p r e e n d i m e n t o s c o l e c t i v o s q u e 
n e n h u m a s o c i e d a d e t r i b a l , f r o u x a m e n t e o r g a n i z a d a , p o d e r i a 
l e v a r a c a b o . A s m u r a l h a s f o r a m u m a r e a l i z a ç ã o d e s t a n a t u -
r e z a , e x i g i n d o u m t r a b a l h o p r o l o n g a d o e e s p e c i a l i z a d o 
d u r a n t e l a r g o t e m p o . I g n o r a m o s o r e s u l t a d o d a c o n t e n d a e 
s ó a s e s c a v a ç õ e s n o s p o d e m d i z e r a t é o n d e c h e g o u o p r o c e s s o 
l o c a l d e f o r m a ç ã o u r b a n a . M a s 3 0 0 0 a n o s d e p o i s , " e s t a l a r i a m 
c o n f l i t o s s e m e l h a n t e s , e m m a i o r e s c a l a , n o s v a l e s d o N i l o , d o 
T i g r e e d o E u f r a t e s , e a í g e r a r a m t e n s õ e s q u e p r o d u z i r a m 
u m a n o v a e s p é c i e d e s o c i e d a d e , m u i t o m a i s c o m p l e x a e e f i -
c i e n t e q u e a s a n t e r i o r e s . 
F o i n e s t a a l t u r a q u e o s a c o n t e c i m e n t o s e n t r a r a m e m f a s e 
d e a c e l e r a ç ã o . L i t e r a l m e n t e , a s n o v a s s o c i e d a d e s f i z e r a m h i s -
t ó r i a . N ã o s ó p r o d u z i r a m " g r a n d e s h o m e n s e a l t o s f e i t o s " 
- n a d e f i n i ç ã o t r a d i c i o n a l d e H i s t ó r i a - , a o e x i g i r e m e s f o r -
ç o s n u m a e s c a l a n u n c a v i s t a , c o m o t a m b é m t o r n a r a m e s s a s 
r e a l i z a ç õ e s m e m o r á v e i s . ( N ã o b a s t a q u e u m a c o n t e c i m e n t o 
s e j a " d i g n o d e l e m b r a n ç a " p a r a s e t o r n a r m e m o r á v e l : é 
n e c e s s á r i o q u e s e p r o d u z a c o m b a s t a n t e r a p i d e z p a r a e s t a r 
a o a l c a n c e d a m e m ó r i a h u m a n a , s e m a l a s t r a r p o r s é c u l o s 
s o b r e s é c u l o s , c o m o s u c e d e u c o m a R e v o l u ç ã o N e o l í t i c a ) . 
D e a g o r a e m d i a n t e , a p r i n c i p i a r p e l o E g i p t o e p e l a M e s o -
p o t â m i a , e a l g o m a i s t a r d e n a s z o n a s v i z i n h a s , a s s i m c o m o 
n o s v a l e s d o I n d o e d o R i o A m a r e l o , o s h o m e n s i a m v i v e r 
n u m m u n d o d i f e r e n t e e d i n â m i c o , o n d e a s u a c a p a c i d a d e d e 
s o b r e v i v ê n c i a n ã o e r a p o s t a e m x e q u e p e l a s f o r ç a s d a N a t u -
r e z a m a s p e l a s f o r ç a s h u m a n a s - p e l a s t e n s õ e s e c o n f l i t o s 
i n t e r n o s o u e m r e s u l t a d o d a c o m p e t i ç ã o e n t r e a s s o c i e d a d e s . 
A n e c e s s i d a d e d e e n f r e n t a r o s s e u s s e m e l h a n t e s r e p r e s e n t o u . 
u m d e s a f i o m u i t o m a i o r p a r a o H o m e m q u e a l u t a a n t e r i o r 
c o m a N a t u r e z a e f o i a c a u s a e v i d e n t e d a c o n t í n u a a c e l e r a -
ç ã o d a m a r c h a d o s a c o n t e c i m e n t o s n o s ú l t i m o s c i n c o m i l 
a n o s . 
S e m a i n v e n ç ã o d a e s c r i t a , u m a d a s p r i m e i r a s e i n d i s p e n -
s á v e i s c o n q u i s t a s d a M e s o p o t â m i a e d o E g i p t o a n t i g o s , s e r i a 
i m p o s s í v e l o d e s e n v o l v i m e n t o q u e n ó s a l c a n ç á m o s . D e s c o -
n h e c e m o s a s f a s e s i n i c i a i s d a s e s c r i t a s c u n e i f o r m e e h i e r o g l í -
f i c a , q u e d e v e m t e r e x i g i d o v á r i a s c e n t e n a s d e a n o s d e a p e r -
f e i ç o a m e n t o ( e n t r e 3 3 0 0 e 3 0 0 0 a . C . , c o m l i g e i r o a v a n ç o d a 
r e g i ã o m e s o p o t â m i c a ) , q u a n d o e s t a s s o c i e d a d e s s e e n c o n t r a v a m 
5 4 A A r t e E g í p c i a 
n o f i m d o s e u p e r i od o i n i c i a l . Q u e r d i z e r , a H i s t ó r i a j á i a 
a v a n ç a d a q u a n d o f o i p o s s í v e l u t i l i z a r a e s c r i t a p a r a r e g i s t a r 
o s a c o n t e c i m e n t o s h i s t ó r i c o s . 
A M O N A R Q U I A A N T I G A 
D u r a n t e m u i t o t e m p o a c i v i l i z a ç ã o e g í p c i a f o i t i d a c o m o a 
m a i s r i g i d a e c o n s e r v a d o r a d e q u a n t a s e x i s t i r a m . J á d i z i a 
P l a t ã o q u e a s u a a r t e n u n c a m u d a r a a o l o n g o d e 1 0 0 0 0 a n o s . 
T a l v e z o s a d j e c t i v o s a p r o p r i a d o s s e j a m " d u r a d o u r a " e " c o n -
t í n u a " , e m b o r a t o d a s a s m a n i f e s t a ç õ e s a r t í s t i c a s e n t r e 3 0 0 0 e 
5 0 0 a . C . a p a r e n t e m u m a c e r t a u n i f o r m i d a d e . É c e r t o q u e o s 
t i p o s f u n d a m e n t a i s d a s i n s t i t u i ç õ e s , c r e n ç a s r e l i g i o s a s e i d e a i s 
a r t í s t i c o s s e f o r m a r a m n o s p r i m e i r o s m i l ê n i o s e c o n t i n u a r a m 
a a f i r m a r - s e a t é a o f i m , a t r a v é s d e c r i s e s s e v e r a s q u e p u s e r a m 
à p r o v a a s u a e x i s t ê n c i a . S e f o s s e m t ã o i m u t á v e i s c o m o s e 
j u l g o u t e r i a m s u c u m b i d o m a i s c e d o . A a r t e o s c i l a v a e n t r e a 
t r a d i ç ã o e a i n o v a ç ã o , m a s n u n c a f o i e s t á t i c a , e a l g u m a s d a s 
s u a s g r a n d e s r e a l i z a ç õ e s e x e r c e r a m u m a i n f l u ê n c i a d e c i s i v a 
r i a s a r t e s g r e g a e r o m a n a : p o d e m o s s e n t i r - n o s l i g a d o s a o 
E g i p t o d e h á c i n c o m i l a n o s p o r u m a t r a d i ç ã o p e r m a n e n t e -
m e n t e v i v a . 
A S D I N A S T I A S . A h i s t ó r i a e g í p c i a a n t i g a e s t á d i v i d i d a e m 
d i n a s t i a s s e g u n d o a v e l h a t r a d i ç ã o l o c a l e t e v e i n í c i o c o m a 
p r i m e i r a , f u n d a d a u m p o u c o d e p o i s d e 3 0 0 0 a . C . , a s e g u i r à 
ú l t i m a f a s e p r a t o - h i s t ó r i c a o u p e r í o d o p r é - d i n á s t i c o . A s s i m 
c o m e ç o u a M o n a r q u i a A n t i g a , a p r i m e i r a d a s g r a n d e s d i v i -
s õ e s h i s t ó r i c a s d o E g i p t o , q u e t e r m i n o u c . 2 1 5 5 a . C . , c o m a 
q u e d a d a S e x t a D i n a s t i a . E s t e m o d o d e c o n t a r o t e m p o h i s -
t ó r i c o r e v e l a u m p r o f u n d o s e n t i d o d e c o n t i n u i d a d e e a 
i m p o r t â n c i a a v a s s a l a d o r a d o f a r a ó ( r e i ) , q u e , a l é m d e s o b e -
r a n o a b s o l u t o , e r a c o n s i d e r a d o c o m o u m d e u s . J á i n d i c á m o s 
a t r á s o s c a r a c t e r e s p r i n c i p a i s d a r e a l e z a ; o f a r a ó t r a n s c e n d i a -
- o s a t o d o s , p o r q u e a s u a d i g n i d a d e r e a l n ã o e r a u m d e v e r o u 
p r i v i l é g i o d i m a n a d o d e u m a e n t i d a d e s o b r e - h u m a n a , m a s 
t i n h a c a r á c t e r a b s o l u t o , d i v i n o . P o r a b s u r d a q u e n o s p a r e ç a 
t a l c o n d i ç ã o e p o r m a i s i n e f i c a z q u e s e m a n i f e s t a s s e e m é p o -
c a s d e p e r t u r b a ç ã o p o l í t i c a , o c e r t o é q u e a m o n a r q u i a f o i 
s e m p r e a c h a v e d a c i v i l i z a ç ã o e g í p c i a o q u e , a l é m d e o u t r o s 
e f e i t o s , d e t e r m i n o u v i n c a d a m e n t e o c a r á c t e r d a r e s p e c t i v a 
a r t e . I g n o r a m o s a s f a s e s p e l a s q u a i s s e f o i a f i r m a n d o a p r e -
t e n s ã o d o s f a r a ó s à d i v i n d a d e , m a s c o n h e c e m o s a s s u a s c é l e -
b r e s r e a l i z a ç õ e s : a u n i ã o n u m s ó e s t a d o d o v a l e d o N i l o . 
d e s d e a p r i m e i r a c a t a r a t a ( A s s u ã o ) a t é a o D e l t a , e a m e l h o r i a 
d a f e r t i l i d a d e d o s o l o p e l a r e g u l a r i z a ç ã o d a s g r a n d e s c h e i a s . 
m e d i a n t e b a r r a g e n s e c a n a i s . 
O S T Ú M U L O S E A R E G I Ã O . D e t ã o v a s t a s o b r a s n a d a 
f i c o u e p o u c o r e s t a d o s a n t i g o s p a l á c i o s e c i d a d e s . O · n o s s o 
c o n h e c i m e n t o d a c i v i l i z a ç ã o e g í p c i a f o i c o l h i d o q u a s e t o d o 
n o s t ú m u l o s e r e s p e c t i v o e s p ó l i o . E n ã o é u m a c a s o , p o r q u e 
o s c o n s t r u í r a m p a r a a e t e r n i d a d e . E v i t e - s e , p o r é m , o e r r o d e 
s u p o r q u e o s E g í p c i o s c o n s i d e r a v a m a v i d a c o m o u m a s i m -
p l e s p a s s a g e m p a r a a s e p u l t u r a . A p r e o c u p a ç ã o c o m o c u l t o 
d o s m o r t o s v i n h a d o N e o l í t i c o , m a s o s e n t i d o q u e l h e a t r i b u í -
r a m e r a d i f e r e n t e : o s o m b r i o t e m o r a o s e s p í r i t o s d o s d e f u n -
. t o s , d o m i n a n t e n o s p r i m i t i v o s c u l t o s d o s a n t e p a s s a d o s . 
- :-ece ausente daqui. Para os Egípcios, cada homem devia 
~ arar-se para uma sobrevivência feliz. Arranjava o sepul-
~omo uma espécie de vaga reprodução do seu meio quo-
o. para fruição do ka, o seu espírito, ao qual devia 
~urar um corpo para residir (o cadáver mumificado ou 
- estátua do falecido). 
·ota-se um curioso apagamento da fronteira entre-a vida e 
::::orte e, talvez por isso, se imitassem os ambientes familia-
Acreditava-se que o ka continuaria a gozar os mesmos 
- ::.zeres do homem vivo, e quem soubesse assegurar-lhos de 
-:emão poderia levar uma vida activa e feliz, sem a obses-
do grande desconhecido. Em certo sentido, o túmulo 
=-- ~io foi uma espécie de seguro de vida, um investimento 
a paz da alma. Tal é a impressão que nos deixam os 
- ;:mmentos funerários. Mais tarde, a serenidade deste con-
- ·o da morte foi perturbada pela tendência de cindir o espí-
ou alma em duas ou mais identidades diferentes e pela 
-·-:xJução de uma espécie de julgamento, uma pesagem das 
- . É só a partir daí que encontramos a expressão do 
xo da morte. 
ERAKONPOLIS. Pode ver-se uma fase arcaica da evo-
.:ã.o dos costumes funerários - e da arte egípcia - no 
~ento de pintura mural de um túmulo pré-dinástico de 
- e;akonpolis (grav. 52). O traçado ainda é marcadamente 
~tivo , dispersando-se as formas por igual em todo o 
É significativo, porém, que as figuras, homens ou 
I ~ 
bichos, tendem a tornar-se "sinais" uniformes e simplificados, 
como se estivessem a ponto de transformar-se em hieróglifos 
(v. grav. 85). As grandes manchas brancas devem ser as bar-
cas funerárias ou "veículos da alma", pois é esse o seu papel 
nos túmulos posteriores. As figuras negras e brancas, acima 
do barco superior, são carpideiras, de braços erguidos, num 
gesto desolado. Quanto ao resto, a pintura não apresenta a 
coerência de uma cena nem tem qualquer alcance simbólico. 
Talvez deva ser encarada como uma tentativa primitiva de 
. evocar factos típicos do dia-a-dia, como veremos séculos 
depois nas sepulturas da Monarquia Antiga (gravs. 70 e 71). 
O ESTILO EGÍPCIO 
E A PALETA DO REI NARMER 
Na época de pintura de Hierakonpolis (c. 3200 a.C.), o 
Egipto aprendia a usar o bronze e era governado por váriossoberanos locais, de condição semelhante à de qualquer chefe 
tribal. As cenas de combate entre brancos e negros ali evoca-
das reflectem, provavelmente, guerras ou incursões. Desses 
conflitos emergiram por fim dois reinos, o do Baixo e o do 
Alto Egipto, cuja rivalidade terminou quando alguns dos reis 
do Sul conquistaram o Delta e uniram os dois estados. 
Um desses reis foi Narmer, que aparece no estranho 
objecto das grav. 53 e 54, uma notável paleta cerimonial de 
11 
.- .. -. " n 1 I ·;.:·:-.::.::·'--r-. 
••• • 
4i~ 
52. Homens, Barcos e Animais. Pintura mural de uma sepultura pré-dinástica. c. 3200 a.C. Hierakonpolis, Egipto 
A Arte Egípcia 55 
a r d ó s i a o n d e · f o i c e l e b r a d o o s e u t r i u n f o s o b r e o B a i x o 
E g i p t o ( n o t e m - s e a s c o r o a s d i f e r e n t e s o s t e n t a d a s p e l o s o b e -
: a . . . " 1 o ) . P r o v é m i g u a l m e n t e d e H i e r a k o n p o l i s m a s p o u c o t e m 
c e c o m u m c o m a p i n t u r a m u r a l . E s t a · p a l e t a é , e m c e r t a 
m e d i d a , a m a i s a n t i g a o b r a d e a r t e h i s t ó r i c a q u e c o n h e c e m o s . 
. - \ J é m d e s e r a p r i m e i r a i m a g e m s o b r e v i v e n t e d e u m a p e r s o -
a~aem h i s t ó r i c a i d e n t i f i c a d a p e l o n o m e , e s t á l o n g e d o p r i m i -
: i , i s m o e p a t e n t e i a j á g r a n d e p a r t e d o s t r a ç o s a r t í s t i c o s d a 
a r t e e g í p c i a p o s t e r i o r . A s s i m n ó s t i v é s s e m o s m a i s m a t e r i a l 
• e n o s p e r m i t i s s e a c o m p a n h a r p a s s o a p a s s o a e v o l u ç ã o q u e 
-~ d e u d a p i n t u r a m u r a l p a r a e s t a p a l e t a ! 
. . I a s f a ç a m o s a " l e i t u r a " d a s c e n a s . r e p r e s e n t a d a s e m 
a : n b o s o s l a d o s . O p r ó p r i o f a c t o d e a p o d e r m o s f a z e r é o u t r a 
p r o v a d e q u e j á f o r a u l t r a p a s s a d a a a r t e p r t - h i s t ó r i c a . A s i g n i -
: i c a ç ã o d o s r e l e v o s é c l a r a e e x p l í c i t a , g r a ç a s a o e m p r e g o d e 
. e g e n d a s h i e r o g l í f i c a s e d e v a r i a d o s s í m b o l o s v i s u a i s f á c e i s d e 
e;:J.~ender. M a i s i m p o r t a n t e é o t r a ç a d o o r d e n a d o e r a c i o n a l 
o c o n j u n t o . N u m a d a s f a c e s ( g r a v . 5 3 ) , N a r m e r a g a r r a p e l o s 
~zhelos u m i n i m i g o e v a i m a t á - l o c o m a c l a v a , o u t r o s d o i s 
, . e : 1 c i d o s e n c o n t r a m - s e n a z o n a i n f e r i o r ( o o b j e c t o r e c t a n g u -
~ d a e s q u e r d a r e p r e s e n t a u m a c i d a d e f o r t i f i c a d a o u u m a 
c i d a d e l a ) . E m f r e n t e d o r e i , n o c a n t o s u p e r i o r , t e m o s u z -
e x e m p l o c o m p l e x o d e e s c r i t a p i c t o g r á f i c a : o f a l c ã o p o u s a d 
n o f e i x e d e p a p i r o s s e g u r a u m a c o r d a a q u e e s t á p r e s a u m : . 
c a b e ç a h u m a n a , q u e " c r e s c e " d o m e s m o s o l o q u e a s p l a n t a s 
E s t a i m a g e m c o m p ó s i t a t r a d u z a c e n a p r i n c i p a l n u m p l a n 
s i m b ó l i c o : a c a b e ç a e o p a p i r o r e p r e s e n t a m o B a i x o E g i p 
e n q u a n t o o f a l c ã o v i t o r i o s o é H ó r u s , o d e u s d o A l t o E g i p 
O p a r a l e l o é e v i d e n t e : H ó r u s e N a r m e r s ã o a m e s m a p e s s o a . 
o d e u s t r i u n f a d o s s e u s i n i m i g o s h u m a n o s . O g e s t o d e 1 \ ' a r -
m e r n ã o d e v e s e r t o m a d o à l e t r a , a l u t a é s i m u l a d a p o r q u e 
a d v e r s á r i o j á e s t a v a r e d u z i d o à i m p o t ê n c i a e o g o l p e d e m i s e -
r i c ó r d i a t e m p u r o c a r á c t e r r i t u a l . I s s o c o n c l u i - s e d o f a c t o d e 
N a r m e r e s t a r d e s c a l ç o ( u m á u l i c o , à e s q u e r d a , t r a z a s s a n d á -
l i a s r é g i a s ) , p r o v a d e q u e s e e n c o n t r a v a n u m l o c a l s a g r a d o . 
N o o u t r o l a d o d a p a l e t a ( g r a v . 5 4 ) , a p a r e c e o u t r a v e z d e 
p é s n u s e s e g u i d o p e l o p o r t a d o r d a s s a n d á l i a s , m a r c h a n d o 
e m p r o c i s s ã o s o l e n e , p r e c e d i d o d o s p o r t a - e s t a n d a r t e s , p a r a L : -
o b s e r v a r o s c o r p o s d e c a p i t a d o s d e p r i s i o n e i r o s . ( E s t a m e s m a 
n o ç ã o , a o q u e p a r e c e d e o r i g e m e g í p c i a , r e a p a r e c e n o A n t i g c 
T e s t a m e n t o , q u a n d o o S e n h o r o r d e n a a M o i s é s q u e s e d e s -
c a l c e a n t e s d e l h e a p a r e c e r ) . N a p a r t e i n f e r i o r , e n c o n t r a m o · 
5 3 . e 5 4 . P a l e w d o R e i N a r m e r , d e H i e r a k o n p o l i s , c . 3 0 0 0 a . C . A r d ó s i a , a l t . 0 , 6 4 m . M u s e u E g í p c i o , C a i r o 
- A r . e E ' t Í / J c i a 
novamente uma narração simbólica da vitória: o faraó é o 
touro corpulento que espezinha o adversário e arrasa a cida-
dela inimiga. (A cauda taurina pendente da cintura aparece 
em ambas as imagens de Narmer e seria, durante 3000 anos, 
uma das peças do trajo solene do faraó). Só na parte central 
a representação é obscura- não há quaisquer atributos que 
permitam identificar os dois animais de longo pescoÇo, nem 
os seus guardas. Talvez sejam apenas herança de paletas mais 
antigas, puramente decorativas. Seja como for, não voltam a 
aparecer na arte egípcia. 
ESTILO E ESTILOS. Desenvolvemos o comentário destes 
relevos porque se não lhes compreendermos o sentido não 
lhes apreciaremos os caracteres formais , o estilo próprio: Até 
aqui, evitámos usar este conceito, mas convém defini-lo 
agora. Estilo deriva de stilus (estilete utilizado pelos Roma-
nos para escrever) e designava o modo de traçar as letras ou 
a escolha e ordenação das palavras. Hoje, o termo aplica-se 
num sentido lato à maneira própria de fazer ou realizar 
alguma coisa, em qualquer campo de actividade humana. 
Quase sempre tem um sentido laudatório: "ter estilo" signi-
fica ter personalidade, "ter classe", no modo de exprimir-se 
ou de agir, e também ser diferente do comum, inconfundível. 
Algo mais se encontra, porém, implícito neste conceito, o que 
é evldente quando inquirimos por que razão um objecto "não 
tem estilo". Sentimos que lhe faltam traços próprios, origina-
lidade, nada o distingue e nada revela de especial. Não sabe-
mos como classificá-lo, como situá-lo num contexto ade-
quado, porque nos parece apontar para vários lados ao 
mesmo tempo. Tudo quanto possua estilo tem de ter consis-
tência em si mesmo, coerência interna, unidade; deve trans-
mitir a sensação de que se trata de um todo, de uma só peça. 
É essa a qualidade que admiramos nas obras com estilo, 
ainda quando não sabemos de que gênero de estilo se trata. 
as artes plásticas, o estilo é o modo especial de escolher e 
combinar as formas. Para os historiadores de arte, o estudo 
dos estilos tem importância capital: não só os habilita a des-
cobrir, graças a cuidadosas análises e comparações, quando, 
onde e por quem certa obra foi criada, como lhes permite 
ompreender a intenção do artista, a qual depende da sua 
personalidade e do meio onde viveu e trabalhou. Um estilo 
nacional é o conjunto dos traços próprios que distinguem a 
arte deum povo perante a de quaisquer outros (compare-se 
a arte do Egipto à da Grécia). Nesses amplos quadros estilís-
ticos, podemos ainda distinguir entre estilos de períodos bem 
definidos- por exemplo, o da Monarquia Antiga, no Egipto 
.araónico- e até, num mesmo período, estilos nacionais e 
locais. Por fim, chegaremos ao estilo pessoal de cada artista 
ou a vários estilos se houver diferentes fases na sua criação 
individual). O ponto até onde poderemos levar estas distin-
ções depende do grau de coerência interna ou do sentido de 
ontinuidade existentes nas obras em causa. 
A LÓGICA DO ESTILO EGÍPCIO. Voltemos à paleta de 
. armer. A nova lógica interna do seu estilo evidencia-se cla-
:-amente em contraste com a pintura mural pré-dinástica. 
Ressalta primeiro o acentuado sentido de ordem: a superfície 
:"oi dividida em bandas horizontais (ou registos) e cada figura 
assenta numa faixa ou numa linha equivalente ao solo. As 
únicas excepções são os acompanhantes dos animais de 
longo pescoço, cujo papel parece sobretudo ornamental, os 
sinais hieroglíficos, que pertencem a um outro plano da rea-
lidade, e os inimigos mortos. Estes últimos parecem olhados 
de cima, enquanto as figuras de pé são vistas de lado. É 
óbvio que o artista egípcio (tal como o seu antecessor neolí-
tico) desconhecia a regra moderna de representar uma cena 
tal como apareceria a um único observador, num dado 
momento - busca a clareza, não a ilusão, e por isso, em 
cada caso, escolhe o aspecto mais revelador. 
Mas sujeita-se a um preceito rigoroso: quando muda o 
seu ângulo de visão, o desvio é de 90 graus, como se olhasse 
ao longo das arestas de um cubo. Pm consequência, 
conhece apenas três pontos de vista possíveis: frontal, de 
perfil e vertical (de cima). Qualquer posição intermédia 
causa-lhe embaraço (v. as estranhas figuras, como bonecos 
de borracha, dos inimigos caídos, grav. 53, em baixo). Além 
disso, há que vencer uma dificuldade - o corpo humano de 
pé não tem apenas um perfil (como os animais) mas dois, 
concorrentes, de modo que era preciso combinar os dois, 
por uma questão de clareza. Este método (que se manteve 
inalterado durante 2500 anos) revela-se claramente na 
grande figura de Narmer da grav. 53: olhos e ombros, de 
frente , cabeça e pernas, de perfil. Esta fórmula parece ter 
sido elaborada para apresentar o faraó (e todas as pessoas 
de importância que se movem na penumbra da sua divin-
dade) da maneira mais completa possível. Dado que as 
cenas descrevem rituais solenes e, por assim dizer, intempo-
rais, o nosso artista não tinha de preocupar-se com a quase 
impossibilidade de representar o corpo humano em qual-
quer espécie de movimento ou de acção. Na verdade, o 
carácter hirto da imagem pareceria especialmente adequado 
à natureza divina do faraó: os mortais agem, ele é, 
simplesmente. 
Semp·re que era necessário representar uma actividade 
física que requeria esforço, o artista não hesitava em aban-
donar a visão compósita, porque actos dessa natureza eram 
sempre praticados por subalternos cuja dignidade não tinha 
de ser salvaguardada. Assim, os dois domadores e os quatro 
porta-estandartes apresentam-se de perfil (com excepção dos 
olhos). O estilo egípcio de representação da figura humana 
parece assim ter sido criado especificamente para exprimir, 
sob forma visual, a majestade do rei divino e deve-se, com 
certeza, a artistas da corte. E nunca perdeu o seu tom de 
cerimonial sagrado, mesmo quando, mais tarde, veio a ser-
vir outras finalidades. ' 
A Terceira Dinastia 
A beleza do estilo da paleta de Narmer apenas será plena-
mente ·compreendida cerca de três séculos depois, durante a 
Terc::ira Dinastia e, especialmente, sob o reÍIJ.ado de Zozer, 
a sua maior figura. Do túmulo de Hesy-ra, um dos grandes 
dignitários do faraó , provém o magistral relevo de madeira 
(grav. 55) onde está representado com as insígnias da sua 
categoria. (Nestas incluem-se materiais para a escrita, pois o 
cargo de escriba era altamente honroso). A representação da 
figura corresponde exactamente à de Narmer, mas as 
A Arte Egípcia 57 
P a i n e l - r e t r a i O d e H e s y - r a , d e S a c a r á . c . 2 6 6 0 a . C . 
' v i a d e i r a , a 1 t . 1 , 1 4 m . M u s e u E g í p c i o , C a i r o 
; ; : - o : p o r ç õ e s s ã o m u i t o m a i s e q u i l i b r a d a s e h a r m o n i o s a s e o 
: = - : u : : r d o s p o r m e n o r e s m o s t r a t a n t o u m a a g u d a o b s e r v a ç ã o 
-~=o ! . ! I D a g r a n d e d e l i c a d e z a d e t o q u e . 
O S t:::'~fLLOS . Q u a n d o f a l a m o s d a a t i t u d e d o s E g í p c i o s 
e n t e à e x i s t ê n c i a p a r a a l é m d a m o r t e , a t i t u d e q u e s e 
~~;-.:;::;,- ; : : o s s e u s t ú m u l o s , d e v e m o s s u b l i n h a r q u e n ã o n o s 
h o m e m c o m u m m a s s o m e n t e a u m a l i m i t a d a 
~~--;:ocrárica a g r u p a d a n a c o r t e f a r a ó n i c a . O s s e p u l c r o s 
~~ ~:3ros d e s t a c l a s s e d e a l t o s f u n c i o n á r i o s ( q u e e r a m 
- - - --~ ~oas d a f a m í l i a r e a l ) e n c o n t r a m - s e e m r t : g r a 
: 
- c - - -- - - ç a i m e d i a t a d o s m o n u m e n t o s f u n e r á r i o s d o s 
s ~2 c o n f i g u r a ç ã o e m o b i l i á r i o r e f l e c t e m . A i n d a t e m o s 
~~ a p r e n d e r a c e r c a d a o r i g e m e d a s i g n i f i c a ç ã o d a s 
- e g í p c i a s , m a s h á m o t i v o p a r a c r e r q u e o c o n c e i t o 
_. , . A n e E g í p c i a 
d e u m a v i d a p o s t m o r t e m n ã o d i z i a r e s p e i t o a t o d o s o s 
h o m e n s m a s a p e n a s a o s p r i v i l e g i a d o s , d e v i d o à s u a l i g a ç ã o 
c o m o s f a r a ó s i m o r t a i s . 
A S M A S T A B A S . A f o r m a t í p i c a d o s c h a m a d o s " t ú m u l o s 
p a r t i c u l a r e s " e r a a m a s t a b a , u m m o n t í c u l o d e f o r m a q u a -
d r a n g u l a r o u d e p i r â m i d e t r u n c a d a , c a p e a d o d e t i j o l o o u d e 
p e d r a , e r g u i d o p o r c i m a d a p r o f u n d a c â m a r a f u n e r á r i a s u l r 
t e r r â n e a e l i g a d o a e s t a p o r u m p o ç o ( g r a v s . 5 6 e 5 8 ) . D e n t r o 
d a m a s t a b a h á u m a c a p e l a p a r a a s o f e r e n d a s e u m c u b í c u l o 
s e c r e t o p a r a a e s t á t u a d o d e f u n t o . A s m a s t a b a s r e a i s a l c a n ç a -
r a m d i m e n s õ e s c o n s i d e r á v e i s l o g o n a P r i m e i r a D i n a s t i a e a s 
s u a s f a c h a d a s e r a m p o r v e z e s c o n c e b i d a s à s e m e l h a n ç a d o 
p a l á c i o d o f a r a ó . D u r a n t e a T e r c e i r a D i n a s t i a , t r a n s f o r m a r a m -
- s e e m p i r â m i d e s d e d e g r a u s . A m a i s c o n h e c i d a ( e p r o v a v e l -
m e n t e a p r i m e i r a ) , é a d o r e i Z o z e r ( g r a v . 5 7 ) , c o n s t r u í d a s o b r e 
u m a m a s t a b a t r a d i c i o n a l ( v . g r a v s . 5 8 e 5 9 ) . A p i r â m i d e p r o -
p r i a m e n t e d i t a , e n i s t o é d i f e r e n t e d a s s e g u i n t e s , é u m a c o n s -
t r u ç ã o m a c i ç a d e s t i n a d a , t a l v e z , a s e r v i r d e g i g a n t e s c o m a r c o . 
A S N E C R Ó P O L E S . A i m a g i n a ç ã o m o d e r n a , e n a m o r a d a 
d o " s i l ê n c i o d a s p i r â m i d e s " , t e n d e a c r i a r u m a f a l s a i m a g e m 
d e s t e s m o n u m e n t o s , q u e n ã o f o r a m e r i g i d o s c o m o e d i f i c a -
ç õ e s i s ol a d a s n o m e i o d o d e s e r t o , m a s f a z i a m p a r t e d e v a s t a s 
n e c r ó p o l e s , c o m t e m p l o s e o u t r o s e d i f í c i o s q u e e r a m c e n á r i o 
d e g r a n d e s c e l e b r a ç õ e s r e l i g i o s a s , t a n t o d u r a n t e a v i d a c o m o 
d e p o i s d a m o r t e d o f a r a ó . A s c o n s t r u ç õ e s m a i s e s m e r a d a s 
e n c o n t r a m - s e j u n t o d a p i r â m i d e d e Z o z e r e d e s s a a r q u i t e c -
t u r a s u b s i s t i u o b a s t a n t e p a r a c o m p r e e n d e r m o s p o r q u e f o i 
d i v i n i z a d o m a i s t a r d e o s e u c r i a d o r , I m h o t e p . É o p r i m e i r o 
a r t i s t a c u j o n o m e f i c o u r e g i s t a d o n a H i s t ó r i a e c o m i n t e i r o 
m e r e c i m e n t o , p o i s a s s u a s r e a l i z a ç õ e s a i n d a i m p r e s s i o n a m 
m a i s h o j e . 
A S C O L U N A S . A a r q u i t e c t u r a e g í p c i a c o m e ç a r a p o r u s a r 
a d o b e s d e t e r r a , m a d e i r a , c a n a s e o u t r o s m a t e r i a i s l i g e i r o s . 
I m h o t e p e m p r e g o u c a n t a r i a - p e d r a s t a l h a d a s - , m a s o s e u 
r e p e r t ó r i o d e f o r m a s a r q u i t e c t u r a i s a i n d a r e f l e c t e c o n f i g u r a -
ç õ e s o u d i s p o s i t i v o s c o n c e b i d o s p a r a m a t e r i a i s m e n o s d u r a -
d o u r o s . A s s i m , e n c o n t r a m o s c o l u n a s d e v á r i a s e s p é c i e s 
- s e m p r e " e m b e b i d a s " n a s p a r e d e s , n u n c a i n d e p e n d e n t e s - , 
q u e s ã o r é p l i c a s d o s f e i x e s d e j u n c o e d o s e s t e i o s d e m a d e i r a 
a n t e r i o r m e n t e a p l i c a d o s p a r a r e f o r ç o d o s m u r o s d e a d o b e s . 
M a s o p r ó p r i o f a c t o d e e s s a s c o l u n a s n ã o s e r e m j á u t i l i z a d a s 
p a r a a s u a f u n ç ã o o r i g i n a l t o r n o u p o s s í v e l a I m h o t e p e s e u s 
c o l a b o r a d o r e s a d a p t a r e m - n a s a n o v o s f i n s , e x p r e s s i v o s . 
A n o ç ã o d e q u e u m a f o r m a a r q u i t e c t ó n i c a p o s s a e x p r i m i r 
q u .a l q u e r c o i s a p a r e c e , à p r i m e i r a v i s t a , d i f í c i l d e a p r e e n d e r . 
A t e n d ê n c i a h o j e é c o n s i d e r a r q u e e s s a s f o r m a s - a m e n o s 
q u e d e s e m p e n h e m u m a n í t i d a f u n ç ã o e s t r u t u r a l { c o m o 
s u p o r t e s o u p a r e d e s ) - s ã o m e r a d e c o r a ç ã o d e s u p e r f í c i e s . 
M a s a s e s g u i a s c o l u n a s c ó n i c a s e s t r i a d a s d a g r a v . 5 7 , o u a s 
m e i a s - c o l u n a s p a p i r i f o r m e s d a g r a v . 6 0 , n ã o s e l i m i t a m a 
d e c o r a r a s p a r e d e s a q u e e s t ã o u n i d a s , i n t e r p r e t a m - n a s , d ã o -
- l h e s v i d a , p o r a s s i m d i z e r , p e l a s s u a s p r o p o r ç õ e s , p e l o s e n -
t i m e n t o d e f o r ç a e s o l i d e z q u e t r a n s m i t e m , p e l o s e u e s p a ç a -
m e n t o e m a i o r o u m e n o r s a l i ê n c i a . 
T e r e m o s o c a s i ã o d e s a b e r m a i s a r e s p e i t o d e s t e p a p e l 
e x p r e s s i v o q u a n d o a n a l i s a r m o s a a r q u i t e c t u r a g r e g a , a q u a l 
56. Grupo de mastabas (segundo A. Badawy) Quarta Dinastia 
57. Pirâmide de degraus do rei Zozer, Sacará. 
Terceira Dinastia. c. 2600 a.C. 
foi buscar ao Egipto a coluna de pedra e a desenvolveu de 
modo próprio. Há ainda um outro factor que pode intervir no 
:raçado e emprego dessas colunas: o propósito simbólico do 
edifício. As meias-colunas papiriformes da grav. 60 estão liga-
das ao Baixo Egipto (comparem-se aos papiros da grav. 53) e, 
por essa razão, aparecem no Palácio Setentrional da necró-
pole de Zozer. O Palácio do Sul possui colunas de configura-
.ão diferente, para evocar a sua associação com o Alto 
Egipto. 
A Quarta Dinastia 
.-\S PIRÂMIDES DE GIZÉ. O desenvolvimento da pirâ-
mide atinge o seu auge durante a Quarta Dinastia, nas três 
·àmosas grandes pirâmides de Gizé (gravs. 61 e 62), todas 
elas de faces lisas, inicialmente revestidas de placas de pedra 
cuidadosamente polidas, das quais só restam as do vértice da 
irâmide de Quefren. Diferem ligeiramente umas das outras 
em variados pormenores do traçado, da planta e da constru-
ção. Os traços essenciais podem ver-se no corte da maior e mais 
58. Secção transversal da pirâmide de degraus do rei Zozer. 
4 
I·-+-· B 
l 
~:0- , --
59. Planta da necrópole do rei Zozer, Sacará 
(M. Hirmer, segundo J. P. Lauer). I) Pirâmide (m - mastaba: 
2) Templo Funerário; 3, 4 e 6) Pátios; 5) Átrio; 
7) Templo Pequeno; 8) Pátio do Palácio Setentrional; 9) Pátio do 
Palácio Meridional; lO) Túmulo Meridional 
60. Meias-colunas papiriformes, Palácio Setentrional 
necrópole do rei Zozer, Sacará 
A A rte EgÍpCia 
I 
, . 
~--· · 1 1 . . . . 
. . 1 ! S . . . ~\:, . . . ~~ .\ 
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6 1 . P i r â m i d e s d e M i q u e r i n o s ( c . 2 4 7 0 a . C . ) , Q u e f r e n ( c . 2 5 0 0 a . C . ) e Q u é o p s ( c . 2 5 3 0 a . C . ) , G i z é 
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6 2 . P l a n t a d a s p i r â m i d e s d e G i z é 
a n t i g a , a d e Q u é o p s ( g r a v . 6 3 ) : a c â m a r a s e p u l c r a l e s t á a g o ; - : . . . 
p e r t o d o c e n t r o d a c o n s t r u ç ã o , e m v e z d e f i c a r n o s u b s o : . 
c o m o n a p i r â m i d e d e Z o z e r . A g l o m e r a d o s e m t o r n o d a s t r E 
g r a n d e s p i r â m i d e s h á v á r i a s o u t r a s m a i s p e q u e n a s e u : : : 
g r a n d e n ú m e r o d e m a s t a b a s p a r a m e m b r o s d a f a m í l i a r e a . : ~ 
a l t o s d i g n i t á r i o s , m a s a d i s p o s i ç ã o é m a i s s i m p l e s q u e a < L 
n e c r ó p o l e d e Z o z e r . A d j a c e n t e a o l a d o o r i e n t a l d e c a c _ 
g r a n d e p i r â m i d e f i c a u m t e m p l o f u n e r á r i o , d o q u a l d e s c e 
u m a c a l ç a d a , d e s t i n a d a a p r o c i s s õ e s e q u e c o n d u z a u . : : : : 
s e g u n d o t e m p l o n o v a l e d o N i l o , a c e r c a d e s e i s c e n t c s 
m e t r o s . 
A E S F I N G E . J u n t o a o t e m p l o i nf e r i o r d a s e g u n d a p i r â m i < ! : . -
- a d e Q u e f r e n - , e r g u e - s e a G r a n d e E s f i n g e , t a l h a d a r . : : . 
p r ó p r i a r o c h a v i v a ( g r a v . 6 4 , e s t . 5 ) , t a l v e z u m a p e r s o n i f i c a -
ç ã o m a i s i m p r e s s i o n a n t e d a r e a l e z a d i v i n a q u e a s p r ó p r i a s 
p i r â m i d e s . A c a b e ç a r e a l , e m e r g i n d o d o c o r p o d e u m l e ã 
e l e v a - s e a 2 0 m e t r o s d e a l t u r a e t e m , p r o v a v e l m e n t e , a s f e : -
ç õ e s d e Q u e f r e n ( d u r a n t e a é p o c a i s l â m i c a f o r a m d a n i f i c a d o s 
o s t r a ç o s f i s i o n ó m i c o s ) . T e m t a l m a j e s t a d e q u e , m i l . a n o s 
m a i s t a r d e , f o i p o s s í v e l p e n s a r q u e s e t r a t a v a d e u m a j m a g e -
d o r e i - s o l . 
- C o . - . = e a p i r â m i d e d e Q u é o p s ( s e n t i d o N . - S u l ) , s e g u n d o L . B o r c h a r d t 
E m p r e e n d i m e n t o s d e s t a e n v e r g a d u r a c o l o s s a l m a r c a r a m 
z é n i t e d o p o d e ç f a r a ó n i c o . E x t i n t a a Q u a r t a D i n a s t i a ( m e n - -
d e d o i s s é c u l o s a p ó s Z o z e r ) , n u n c a m a i s f o r a m t e n t a d 0 5 .. 
e m b o r a s e c o n t i n u a s s e a e d i f i c a r p i r â m i d e s e m e s c a l a a : t a ! 5 
m o d e s t a . S e m p r e c a u s a r a m e s p a n t o o t a m a n h o g i g a n t e s c o : : 
o a r r o j o t é c n i c o d a s g r a n d e s p i r â m i d e s , e m b o r a t a m b é : : : : . 
t e n h a m s i d o v i s t a s c o m o s í m b o l o s d o t r a b a l h o - e s c r a Y o c : : 
m i l h a r e s d e h o m e n s f o r ç a d o s a s e r v i r o e n a l t e c i m e n t o c 
- . _ . . . r ; e E g í p c i a 
·oberano absoluto. Tal visão parece injustificada: chegaram 
:é nó documentos da remuneração dos trabalhadores e 
aadamos mais perto da verdade se considerarmos estas cons-
:ruções como vastas obras públicas onde boa parte da popu-
lação encontrou emprego seguro. 
OS RETRATOS. Além das realizações arquitectutais, a gló-
:ia principal da arte egípcia a partir da Monarquia Antiga 
abe às estátuas-retratos provenientes dos sepulcros e dos 
·emplos funerários. Uma das mais perfeitas é a de Quefren, 
pertencente ao templo inferior da sua pirâmide (grav. 65). 
Esculpida em diorite, pedra de extrema dureza, mostra o rei. 
no trono, com o falcão do deus Hórus a envolver-lhe a nuca 
-om as asas (a mesma associação que, sob forma diferente, se 
encontra na paleta de Narmer, grav. 53). Manifesta-se aqui , 
em plena força, a visão "cúbica" da forma humana, própria 
dos escultores egípcios. É evidente que estes preparavam as 
estátuas desenhando previamente sobre as três faces de um 
· loco paralelipipédico os aspectos laterais e frontal da figura 
a esculpir e talhavam-no simultaneamente pelos três lados. 
O resultado é uma imagem quase esmagadora pela sua soli-
dez e imobilidade tridimensional. É verdadeiramente uma 
morada magnífica para o espírito! O corpo, bem proporcio-
nado e robusto, é totalmente impessoal, apenas o rosto 
· úgere alguns traços individuais, como podemos ver se com-
pararmos com a de Miquerinos (grav. 66), sucessor de Que-
;ren e construtor da terceira pirâmide de Gizé. 
\1iquerinos está de pé, acompanhado pela rainha, e ambos 
~em a perna esquerda avançada, sem qualquer sugestão de 
movimento. Como são quase da mesma altura, proporcio-
nam um interessante paralelo entre a beleza das formas mas-
ulina e feminina, interpretadas por um dos mais hábeis 
~ culto res, o qual, além de pôr em contraste a estrutura dos 
dois corpos, soube acentuar as túrgidas e suaves formas da 
rainha através do fino e bem cingido vestido. 
O artista que esculpiu as estátuas do príncipe Raotepe e de 
-ua mulher Nofrete (grav. 67, est. 6) era menos subtil nesse 
aspecto. A impressionante aparência natural é devida à viva 
coloração, decerto comum a muitas outras estátuas seme-
lhantes mas que só em raros casos se conservou intacta. A 
or mais escura do corpo do príncipe não pretende copiar o 
natural , usava-se convencionalmente para representar a epi-
derme masculina. Os olhos incrustados são de quartzo bri-
:hante, a fim de parecerem tão vivos quanto possível, e as 
aras têm acentuado carácter de retratos. 
Figuras de pé ou sentadas constituem o repertório funda-
mental da grande estatuária egípcia. Para os finais da Quarta 
Dinastia, aparece uma terceira posição, tão simétrica e imóvel 
orno as anteriores, a do escriba acocorado, de pernas cruza-
das. A estátua mais perfeita data do início da Quinta Dinastia 
grav. 68), e foi encontrada em Sacará, no túmulo de um alto 
-uncionário da corte cujo nome desconhecemos. Não se trata, 
orém, de um humilde secretário atento às palavras que lhe 
ditam, mas de um "mestre das letras sagradas e ocultas" . 
. -\ execução incisiva e firme evidencia a dignidade do cargo 
que, a princípio, seria reservado aos filhos do faraó. Este 
exemplar sobressai não só pela expressão vivamente atenta da 
-'"ace mas também pelo tratamento individualizado do tronco 
:~ácido , próprio de um homem que já passara a meia-idade. 
64. A Grande Esfinge (v. est. 5), Gizé 
65. Quefren, de Gizé. c. 2500 a.C. Diorite, alt. I ,68 m. 
Museu Egípcio, Cairo 
A Arte Egípcia 61 
: ; m a o u t r a c r i a ç ã o d a M o n a r q u i a A n t i g a f o i o b u s t o -
- r e u a t o , t ã o f r e q u e n t e q u e c h e g a m o s a m e n o s p r e z á - l o . N o 
~um t o a s u a o r i g e m é u m e n i g m a - t r a t a r - s e - i a s i m p l e s -
: : : : l e n t e d e u m a e s t á t u a a b r e v i a d a , u m m o d o m a i s e c o n ó m i c o 
é e s u b s t i t u i r o r e t r a t o d e c o r p o i n t e i r o ? O u t e r i a o b e d e c i d o a 
a f m a l i d a d e p r ó p r i a , u m p o s s í v e l e c o d o c o s t u m e n e o l í t i c o 
C . e c o n s e r v a r a c a b e ç a d o d e f u n t o s e p a r a d a d o c o r p o ? S e j a 
: o : n o f o r , o m a i s a n t i g o d e s t e s b u s t o s ( g r a v . 6 9 ) é t a m b é m o 
: : : 1 e l h o r - n a v e r d a d e , u m d o s g r a n d e s r e t r a t o s d e t o d o s o s 
: e : r r p o s . E s t a c a b e ç a c h e i a d e n o b r e z a n ã o s ó n o s d á o c a r á c -
~er i . . ' l d i \ " i d u a l d o r e t r a t a d o m a s t a m b é m u m a s u b t i l d i f e r e n -
·. : : i a ç ã o e n t r e o v o l u m e s ó l i d o e i m u t á v e l d o c r â n i o e a f l e x i b i -
A < i l l e m o l e d a c a r n e . 
Jr~.Lrinos e a R a i n h a , d e G i z é . c . 2 4 7 0 a . C . X i s t o , a l t . I , 4 0 m . 
M u s e u m o f F i n e A r t s , B o s t o n ' 
• A A n e E g í p c i a 
6 7 . O P r í n c i p e R a h o t e p e S u a M u l h e r N o f r e t ( p o r m e n o r ; v . e s t . 4 ) 
M u s e u E g í p c i o , C a i r o 
6 8 . O E s c r i b a A c o c o r a d o , d e S a c a r á . c . 2 4 0 0 a . C . C a l c á r i o , 
a l t . 0 , 5 3 m . L o u v r e , P a r i s 
A D E C O R A Ç Ã O D O S T Ú M U L O S . A n t e s d e a b a n d o -
n a r m o s a M o n a r q u i a A n t i g a , v e j a m o s d e r e l a n c e a l g u m a s 
d a s c e n a s d a v i d a q u o t i d i a n a r e p r e s e n t a d a s n a c â m a r a d e 
o f e r e n d a s d o s s e p u l c r o s p a r t i c u l a r e s , c o m o n o d o a r q u i t e c t o 
i n s p e c t o r T i , e m S a c a r á . A C a ç a d a a o H i po p ó t a m o ( g r a v . - o 
~ de especial interesse pelo tratamento da paisagem. O fundo 
do relevo é constituído por uma moita de papiro, os caules 
-·ormam um motivo regular ondulado que, na parte superior, 
:rrompe numa c~na agitada de aves no ninho, ameaçadas por 
tJequenos predadores. Hipopótamos em luta e peixes pulu-
~am dentro da água, reproduzida por linhas em ziguezague. 
Todos eles, assim como os caçadores do p; imeiro barco, 
·aram observados com agudeza, em plena acção. Apenas o 
:-róprio Ti, de pé na segunda embarcação, está imóvel, como 
:~ pertencesse a um mundo diferente, numa atitude caracte-
-:.>-rica dos retratos funerários - baixos-relevos ou estátuas (v. 
paY. 55) - avultando entre os outros homens porque · é o 
· importante. 
-\ ua maior altura coloca-o também fora do contexto da 
: .ada; nem a dirige nem a vigia, apenas a observa. O seu 
:: pel passivo é característico das representações de defuntos 
:.-:::J cenas semelhantes desta época, talvez um meio subtil de 
~ indicar que o corpo está morto mas o espírito permanece 
·:o e atento aos prazeres terrenos, embora o falecido já não 
:: ··a participar neles directamente. Devemos notar que as 
-=~lfesentações da vida diária não correspondem aos seus 
::.::.S atempos preferidos. Se assim fosse, ele estaria a evocar o 
:: - ado. Ora a nostalgia não era cultivada por esta arte fune-
..::a. De facto, demonstrou-se já que as cenas estão ordena-
-.:.s. formam um ciclo correspondente às estações, uma espé-
-= de calendário perpétuo das actividades humanas 
_ :-:ódicas, para que o espírito do morto as tivesse presentes 
ongo dos anos. Por outro lado, estes assuntos davam ao 
- - a oportunidade de exercer os seus poderes de observa-
_.:~. a que ficámos a dever pormenores de espantoso 
--:.- · mo. 
69. Busto do Príncipe Ankh-haf, de Gizé, 
_c. Calcário, tamanho natural. Museum of Fine Arts, Boston 
70. A Caçada ao Hipopótamo (relevo de calcário pintado . 
c. 2400 a.C. Sepultura de Ti, Sacará 
71. Gado Atravessando um Rio a Vau (pormenor de um rete>" 
de calcário pintado). c. 2400 a.C. Sepultura de Ti, Saca..rá 
Um outro baixo-relevo do sepulcro de Ti mo tra-:::. = 
alguns bovinos a passar o rio a vau (grav. 71). Um dos 
· res leva um vitelo recém-nascido às costas, para que não -~ 
afogue, e o animal, assustado, volta a cabeça à proclif'C -:z 
mãe cujo olhar não é menos ansioso. É uma represen . -
plena de simpatia e emoção, inesperada nesta época Dec r-
rerá muito tempo antes que apareça algo de semelhan-~ -
representação dos sentimentos humanos. Mas então até 
mortos abandonarão a atitude passiva e intemporal para.:-
ticiparem também nas cenas da vida dos homens. 
A Arte Egfpcz:; 
A M O N A R Q U I A M É D I A 
D e p o i s d a q u e d a d o p o d e r f a r a ó n i c o c e n t r a l i z a d o , n o f i m d a 
S e x t a D i n a s t i a , o E g i p t o ~ntrou n u m p e r í o d o d e p e r t u r b a -
ç õ e s p o l í t i c a s , q u e d u r o u c e r c a d e 7 0 0 a n o s . N a m a i o r p a r t e 
d e s s e t e m p o , a a u t o r i d a d e e f e c t i v a e s t e v e n a s m ã o s d e s e n h o -
r e s r e g i o n a i s q u e f i z e r a m r e v i v e r a a n t i g a r i v a l i d a d e e n t r e o 
N o r t e e o S u l . S u c e d e r a m - s e v á r i a s d i n a s t i a s d e c u r t a d u r a -
ç ã o , m a s a p e n a s d u a s , a D é c i m a P r i m e i r a e a D é c i m a 
S e g u n d a , s ã o d i g n a s d e n o t a . A ú l t i m a , l i m i a r d a M o n a r q u i a 
M é d i a ( 2 1 3 4 - 1 7 8 5 a . C . ) , i n i c i a - s e q u a n d o u m a s é r i e d e s o b e -
r a n o s c o m p e t e n t e s c o n s e g u e d o m i n a r a n o b r e z a d a s p r o v í n -
c i a s . C o n t u d o , u m a v e z q u e b r a d a a f a s c i n a ç ã o d a m o n a r q u i a 
d i v i n a , n u n c a m a i s e s t a r e a d q u i r i u e f e c t i v a m e n t e a s u a a n t i g a 
f o r ç a , e a a u t o r i d a d e d o s f a r a ó s d a M o n a r q u i a M é d i a t e m 
u m c a r á c t e r m a i s p e s s o a l q u e i n s t i t u c i o n a l . P o u c o d e p o i s d e 
e x t i n t a a D é c i m a S e g u n d a D i n a s t i a , o p a í s e n f r a q u e c i d o 
s u c u m b i u à i n v a s ã o d o s H i c s o s , u m p o v o d a Á s i a O c i d e n t a l 
( d e o r i g e m a l g o m i s t e r i o s a ) , q u e s e a p o d e r o u d o D e l t a e o 
g o v e r n o u d u r a n t e 1 5 0 a n o s , a t é q u e f o i e x p u l s o p e l o s p r í n c i -
p e s d e T e b a s ( c . 1 5 7 0 a . C . ) . 
O R E T R A T O . O e s p í r i t o i n q u i e t o d e s s e t e m p o e s t á b e m 
r e f l e c t i d o n a a r t e . E n c o n t r a m o - l o , e m e s p e c i a l , n o n o v o t i p o 
d e r e t r a t o c a r a c t e r í s t i c o d a D é c i m a S e g u n d a D i n a s t i a ; c o m o 
o d a g r a v . 7 2 . S e n t i m o s u m a u t ê n t i c o a b a l o a o v e r p e l a p r i -
m e i r a v e z e s t e r o s t o e s t r a n h a m e n t e m o d e r n o - a s e r e n a c o n -
f i a n ç a d a M o n a r q u i a A n t i g a d e u l u g a r a u m a e x p r e s s ã o 
s o m b r i a e p e r t u r b a d a q u e d e n u n c i a u m a n o v a p r o f u n d i d a d e 
d e a u t o - c o n s c i ê n c i a . D e s p r o v i d o d o s a t r i b u t o s r e a i s , e s t e 
f r a g m e n t o m a n i f e s t a u m r e a l i s m o t ã o f i r m e , q u e r f í s i c o , q u e r 
p s i c o l ó g i c o , q u e , à p r i m e i r a v i s t a , p a r e c e q u e b r a d a t o d a e 
q u a l q u e r r e l a ç ã o c o m a e s c u l t u r a a n t e r i o r . M a n i f e s t a - s e a q u i 
u m a o u t r a r e a l i z a ç ã o d u r a d o u r a d a a r t e e g í p c i a , q u e i r i a s u b -
s i s t i r n o s r e t r a t o s r o m a n o s e r e n a s c e n t i s t a s . 
A P I N T U R A E O B A I X O - R E L E V O . T a m b é m n a p i n t u r a 
e n o b a i x o - r e l e v o s e t o r n a e v i d e n t e u m a f r o u x a m e n t o d a s 
r e g r a s e s t a b e l e c i d a s , c o m t o d a a e s p é c i e d e d e s v i o s i n t e r e s -
s a n t e s d a s c o n v e n ç õ e s . I s t o n o t a - s e m a i s n a d e c o r a ç ã o d a s 
s e p u l t u r a s d o s p r i n c í p e s d e B a n i H a s a n , q u e r e s i s t i r a m 
m e l h o r à d e s t r u i ç ã o q u e a m a i o r i a d o s m o n u m e n t o s d e s t e 
p e r í o d o p o r t e r e m s i d o e s c u l p i d a s n a r o c h a v i v a . O f r e s c o 
A l i m e n t a n d o o s Ó r i x ( g r a v . 7 3 ) p r o v é m d o t ú m u l o d e 
K h u n u m - h o t e p , t a l h a d o n a r o c h a . ( O a n t í l o p e ó r i x , 
e m b l e m a d o s d o m í n i o s d o p r í n c i p e , p a r e c e t e r s i d o n a s u a 
c a s a u m a n i m a l d e g r a n d e e s t i m a ç ã o ) . S e g u n d o a s r e g r a s 
a r t í s t i c a s d a M o n a r q u i a A n t i g a , a s f i g u r a s d e v e r i a m e s t a r 
c o l o c a d a s n o m e s m o p l a n o o u o s e g u n d o ó r i x e r e s p e c t i v o 
t r a t a d o r a c i m a d o s p r i m e i r o s . E m v e z d i s s o , o p i n t o r i n t r o -
d u z i u o u t r a l i n h a d e f u n d o , u m t u d o n a d a m a i s e l e v a d a q u e 
a p r i m e i r a , o q u e a s s o c i a o s d o i s g r u p o s d e u m m o d o j á 
p r ó x i m o d a a p a r ê n c i a n o r m a l . O i n t e r e s se e m e x p l o r a r o s 
e f e i t o s e s p a c i a i s é p a t e n t e n o e s c o r ç o , g r o s s e i r o m a s a u d a -
c i o s o , d o s o m b r o s d o s d o i s h o m e n s r e p r e s e n t a d o s . S e 
t a p a r m o s o s h i e r o g l i f o s , q u e a c e n t u a m o c a r á c t e r p l a n o d a 
p a r e d e , p o d e m o s f a c i l m e n t e " l e r " a s f o r m a s e m p l e n a 
p r o f u n d i d a d e . 
6 4 A A r t e E g í p c i a 
7 2 . R e t r a t o d e S e s ó s t r i s ! l i . c . 1 8 5 0 a . C . 
Q u a r t z i t e , a l t . O , 1 6 5 m . T h e M e t r o p o l i t a n M u s e u m o f A r t , 
N o v a I o r q u e ( o f e r t a d e E d w a r d S . H a r k n e s s , 1 9 2 6 ) 
7 3 . A l i m e n t a n d o o s Ó r i x . c . 1 9 2 0 a . C . 
T ú m u l o d e K h n u m - h o t e p , B e n i - H a s a n 
O~ ~_-\RQLl:A ~ ~OVA 
ef.ores à expulsão dos Hicsos, cor-
Décima OitaYa, Décima 1 ona e Vigésima 
ie:Selliam a Terceira Idade de Ouro do Egipto. 
a \·ez unido sob reis fortes e capazes, alargou 
- ara leste. até à Palestina e à Síria (e por isso se 
bém o período do Império). Durante os anos 
- =- - !io poder e da prosperidade, entre c. 1500 a.C. e o 
_ ::-e..::ado de Ramsés III , em 1162 a.C., foram levados a 
- o_ado projectos arquitectónicos, localizados na 
- ~ :lOYa capital, Tebas, onde os sepulcros reais alcan-
plendor material nunca igualado. 
-~ ~za diúna dos faraós assenta agora em bases novas, 
"ação com o deus Amon, cuja identidade se fundira 
:: deus-Sol Ra, tomando-se a divindade suprema que 
-"---~-..::." o- deuses menores, tal como o faraó se impunha à 
- _zz rO\incial. Desta reestruturação resultaria, porém, 
-~perada ameaça à autoridade real, pois os sacerdotes 
- ~;:J R a constituíram uma casta tão poderosa e rica que 
podia manter-se no trono com o seu consentimento. 
ou Amenhotep IV, a figura mais notável da 
_ - Oitava Dinastia, tentou dominá-los, proclamando a 
:: - m só Deus, o disco solar Aton. Mudou o próprio 
- ~ara Akhenaton, fechou os templos de Amon e trans-
..:. :apitai para o centro do Egipto, perto da moderna 
- - -- - :\.;nama. Mas a tentativa de fundar uma nova crença 
- ?-tica não passou do seu reinado (1365-1347 a.C.) e os 
ores cedo restauraram a ortodoxia. Durante o 
- = ;>eríodo de declínio, a partir de c. 1000 a.C., os sacerdo-
-z. .aram um poder cada vez maior no estado, até que, 
- _ C:omínios grego e romano, a civilização egípcia termi-
- :!IDa imensa confusão de doutrinas religiosas esotéricas. 
A arte da Monarquia Nova abrange uma vasta série de 
estilos de vária qualidade e ora manifesta um rígido confor-
mismo ora a mais brilhante criatividade, desde a pesada 
ostentação até ao mais delicado requinte. Tal como na arte 
da Roma Imperial, quinze séculos depois, é quase impossível 
encontrar uma obra totalmente representativa. Diferentes 
correntes se entrelaçam de modo tão complexo que a escolha 
de quaisquer monumentos sempre parecerá arbitrária. 
A Arquitectura 
O TEMPLO DA RAINHA HATSHEPSUT. Entre os 
empreendimentos arquitecturais dos primeiros anos da 
Monarquia Nova, um há que sobressai: o templo funerário 
da rainha Hatshepsut, construído c. 1480 a.C., na base das 
falésias de Deir-el-Bahari (gravs. 74 e 75) e dedicado a Amon 
e a outras divindades. O crente é conduzido ao santuário 
- uma pequena câmara rasgada profundamente na rocha -
através de três amplos pátios em sucessivos níveis ascenden-
tes, unidos por rampas ladeadas por longas colunatas, uma 
via processional, reminiscência das de Gizé, mas com a mon-
tanha por fundo , em vez de pirâmides. É a magnífica união 
da arquitectura humana com a arquitectura natural - veja-se 
como as rampas e as colunatas como que ecoam a configura-
ção da falésia - que toma este templo o rival de qualquer 
dos monumentos da Monarquia Antiga. 
O TEMPLO DE LUXOR. Os monarcas seguintes continua-
ram a construir templos funerários, mas consagraram a 
maior parte dos seus esforços arquitecturais aos imensos 
templos imperiais de Amon, o deus supremo tradicional-
mente reconhecido como o pai do faraó. O templo de Luxor, 
n 
... ' ' 
! 
- .;:. Templo funerário de Hatshepsut, Deir el-Bahari. Décima Oitava Dinastia, c. 1480 a.C. 75. Planta do templo funerário 
da rainha Hatshepsut (segundo Lange) 
A Arte Egípcia 65 
7 6 . P á t i o e p i l ã o d e R a m s é s 1 1 ( c . 1 2 6 0 a . C . ) e c o l u n a t a e p á t i o d e A m e n h o t e p l i i 
( c . 1 3 9 0 a . C . ) T e m p l o d e A m u n - M u t - K h o n s u , L u x o r 
7 7 . P l a n t a d o T e m p l o d e A m u n - M u t - K h o n s u , 
L u x o r ( s e g u n d o N . d e G a r i s D a v i e s ) 
m a r g e m d e N i l o o p o s t a a T e b a s , d e d i c a d o a A m o n , a s u a 
. . 1 u l h e r M u t e a s e u f i l h o K h o n s u , f o i c o m e ç a d o c . 1 3 9 0 a . C . 
p o r A m e n ó f i s I l i e a u m e n t a d o e t e r m i n a d o u m s é c u l o m a i s 
: a r d e . A s u a p l a n t a é c a r a c t e r í s t i c a d o m o d e l o g e r a l d o s t e m -
p : o s e g í p c i o s t a r d i o s . D u a s p a r e d e s m a c i ç a s , d e f a c e s i n c l i n a -
d a s e m t a l u d e , e n q u a d r a m a p o r t a . E s t e c o n j u n t o é c o n h e -
~do p o r p i l ã o ( g r a v . 7 6 , a o f u n d o , à e s q u e r d a ) e c o n d u z a o 
p á t i o ( g r a v . 7 7 A ) , q u e é u m p a r a l e l o g r a m a p o r q u e R a m s é s 
l i . a o a c r e s c e n t á - l o a o t e m p l o p r o j e c t a d o p o r A m e n ó f i s I I I , 
i : õ e d e s ú o u l i g e i r a m e n t e o e i x o , c o n f o r m e o c u r s o d o N i l o . 
E ; : ; . L r a i i l o s e n t ã o n u m a g r a n d e s a l a d e c o l u n a s ( s a l a h i p ó s t i l a ) 
~. a s e g u i r . n o s e g u n d o p á t i o ( g r a v . 7 7 , B e C , e g r a v . 7 6 , 
_ : ? - . : : : : . ü " o e d i r e i t a ) , e m c u j o f u n d o s e e r g u e o u t r a s a l a c o l u n a d a . 
e ; ; o i s . c o m e ç a o t e m p l o p r o p r i a m e n t e d i t o : v á r i a s s a l a s e 
--P"=~ d i s p o s t a s s i m e t r i c a m e n t e r e s g u a r d a m o s a n t u á r i o , 
' . : " < J = ; : J E . .- ü m e m o q u a d r a d o d e q u a t r o c o l u n a s ( g r a v . 7 7 , à 
- o c o o c o n j u n t o d o s p á t i o s , s a l a s e s a n t u á r i o f i c a v a 
-~a:o p o r a l t o s m u r o s , a i s o l á - l o d o m u n d o e x t e r i o r . C o m 
~o d a f a c h a d a m o n u m e n t a l , e s t e e d i f í c i o f o i c o n c e b i d o 
;.::...~ s e : - \ i s t o d o i n t e r i o r . O s f i é i s , c o n f i n a d o s a o s p á t i o s , n ã o 
;;:~ d e i . . x a r d e s e m a r a v i l h a r p e r a n t e a f l o r e s t a d e c o l u n a s 
. - 1 . A n e E g í p c i a 
q u e l h e s o c u l t a v a o s r e c a n t o s o b s c u r o s d o s a n t u á r i o . A s 
c o l u n a s t i n h a m d e e s t a r m u i t o j u n t a s , p o r q u e s u p o r t a v a m o 
l i n t é i s d e p e d r a d a c o b e r t u r a e e s t e s e r a m f o r ç o s a m e n t e c u r -
t o s p a r a n ã o q u e b r a r e m p e l o p r ó p r i o p e s o . M a s o a r q u i t e c t o 
e x p l o r o u c o n s c i e n t e m e n t e e s t a c i r c u n s t â n c i a , f a z e n d o a s 
c o l u n a s m u i t o m a i s g r o s s a s d o q u e e r a p r e c i s o : o e s p e c t a d o r 
s e n t e - s e q u a s e e s m a g a d o p e l a s u a m a s s a i n g en t e . O e f e i t o é . 
s e m d ú v i d a , i m p r e s s i o n a n t e m a s t o r n a - s e p e s a d o s e o o p u -
s e r m o s à s p r i m e i r a s o b r a s - p r i m a s d a a r q u i t e c t u r a e g í p c i a . 
B a s t a c o m p a r a r a s c o l u n a s p a p i r i f o r m e s d a c o l u n a t a d e 
A m e n ó f i s I I I à s s u a s r e m o t a s a n t e c e s s o r a s d o P a l á c i o S e t e n -
t r i o n a l d e Z o z e r ( g r a v . 6 0 ) , p a r a s e v e r q u e e m L u x o r p o u c o 
f i c o u d o g é n i o d e l m h o t e p . 
A A R Q U I T E C T U R A D E T I J O L O . O g i g a n t i s m o m a c i ç o 
d o s t ú m u l o s e d o s t e m p l o s l e v a - n o s a p e n s a r q u e o s E g í p c i o s 
c o n s t r u í r a m s o b r e t u d o e m p e d r a . O r a , a n ã o s e r q u e m o t i v o s 
r e l i g i o s o s e x i g i s s e m u m a d u r a b i l i d a d e a b s o l u t a , e l e s t a m b é m 
e m p r e g a v a m a d o b e s c o z i d o s a o s o l , m a t e r i a l m a i s c o n v e -
n i e n t e e e c o n ó m i c o . A s r e a l i z a ç õ e s d e a r q u i t e c t u r a d e t i j o l o 
a t r a í r a m p o u c a a t e n ç ã o a t é h o j e e g r a n d e p a r t e f o i d e s t r u í d a , 
m a s a s p o u c a s e d i f i c a ç õ e s b e m c o n s e r v a d a s , c o m o a s d o s 
a r m a z é n s a n e x o s a o t e m p l o f u n e r á r i o d e R a m s é s I I ( g r a v . 7 8 ) , 
a t e s t a m u m d o m í n i o c o m p l e t o d a s t é c n i c a s d e c o n s t r u ç ã o 
c o m e s t e m a t e r i a l . A s a b ó b a d a s d e b e r ç o , c o m u m v ã o d e 4 
m e t r o s , s ã o p r o v a d e u m a p e r í c i a q u e s ó m u i t o m a i s t a r d e o s 
R o m a n o s a l c a n ç a r i a m . 
A k h e n a t o n 
R a r o s s ã o o s v e s t í g i o s d a s g r a n d e s c o n s t r u ç õ e s p r o j e c t a d a s 
p o r A k h e n a t o n . M a s d e v e t e r s i d o t ã o r e v o l u c i o n á r i o n o s 
s e u s g o s t o s a r t í s t i c o s c o m o f o i n a s s u a s c r e n ç a s r e l i g i o s a s , 
f o m e n t a n d o c o n s c i e n t e m e n t e u m n o v o e s t i l o e u m n o v o i d e a l 
79. O Irmão do Defunto 
(pormenor de um baixo-relevo de calcário). 
c. I 375 a.C. Túmulo de Ramsés, Tebas 
80. Relralo de Akhena/On (Amenhotep IV) 
c. I 360 a. C. Calcário, 
alt. 0,08 m. Museus do Estado, Berlim 
78. Armazéns de tijolo, templo funerário de Ramsés li, • 
Tebas (Oeste). c. 1260 a.C. 
.:~ beleza ao escolher os seus artistas. O contraste com o pas-
o torna-se mais do que evidente se opusermos o baixo-
--eleYo da grav. 79 (cabeça do túmulo de Ramsés, da época 
:"::::la~ de Amenhotep III) ao do Retrato de Akhenaton (grav. 80) 
penas dez anos posterior. O primeiro revela o melhor estilo 
-;adicional, e a maravilhosa subtileza do talhe- a precisão e 
~uinte das linhas - faz que, à primeira vista, a cabeça de 
·henaton nos pareça uma caricatura grosseira. É, de facto , 
uma manifestação extrema do novo ideal, com os traços 
estranhamente cadavéricos e os contornos ondulantes bem 
vincados. Podemos, contudo, perceber certa· relação com o 
busto, merecidamente célebre, da sua mulher, Nefertiti 
(grav. 81 ), uma das obras-primas do "estilo de Akhenaton". 
Este distingue-se não tanto pelo maior realismo como pelo 
novo sentido da forma, buscando quebrar a rigidez da imobi-
lidade tradicional. Não só os contornos mas também a confi-
A Arte Egípcia 67 
8 1 . A R a i n h a N e f e r t i t i . c . 1 3 6 0 a . C . C a l c á r i o ; a l t . 0 , 5 1 m 
M u s e u d o E s t a d o B e r l i m 
g u r a ç ã o p l á s t i c a p a r e c e m m a i s f l e x í v e i s e d e s c o n t r a í d o s , a n t i -
g e o m é t r i c o s , p o r a s s i m d i z e r . V o l t a m o s a e n c o n t r a r e s t a s 
q u a l i d a d e s n o d e l i c i o s o f r a g m e n t o d e u m a p i n t u r a m u r a l d a s 
p r i n c e s a s , f i l h a s d e A k h e n a t o n ( g r a v . 8 2 , e s t . 7 ) . O s g e s t o 
j o v i a i s e a n a t u r a l i d a d e d a s a t i t u d e s p a r e c e m u m d e s a f i o a 
t o d a s a s r e g r a s d a d i g n i d a d e f a r a ó n i c a . 
A v e l h a t r a d i ç ã o r e l i g i o s a d e p r e s s a f o i r e s t a u r a d a d e p o i s 
d a m o r t e d e A k h e n a t o n , m a s a s i n o v a ç õ e s a r t í s t i c a s q u e e l e 
e n c o r a j a r a p e r s i s t i r a m a i n d a p o r a l g u m t e m p o . A c e n a d o 
o p e r á r i o s t r a n s p o r t a n d o u m a p e s a d a t r a v e ( g r a v . 8 3 ) , d a 
s e p u l t u r a d e H o r e m h e b , e m S a c a r á , r e v e l a u m a e x p r e s s i v i -
d a d e e u m a l i b e r d a d e a t é e n t ã o i m p e n s á v e i s . 
8 2 . A s F i l h a s d e A k h e n a t o n ( v . e s t . 7 ) i n s t i t u t o O r i e n t a l , 
U n i v e r s i d a d e d e C h i c a g o 
8 3 . T r a b a l h a d o r e s T r a n s p o r t a n d o u m a T r a v e , d o t ú m u l o d e H o r e m h e b . S a c a r á . c . 1 3 2 5 a . C . M u s e u C í v i c o , B o l o n h a 
6 8 A A r t e E g í p c i a 
Tutankhamon 
- :~ o rosto do sucessor de Akhenaton, Tutankhamon, tal 
_ -o aparece no seu ataúde feito de ouro (grav. 84, est. 8), 
_:sa um eco do estilo do monarca herético. Falecido aos 
:.~~oito anos, Tutankhamon deve a nomeada ao facto aci-
:.:-Lal de ter sido o único faraó cujo túmulo foi de~coberto 
o nos nossos dias, com quase todo o recheio. As enor-
-.:"S riquezas das sepulturas (só o caixão de ouro deste sobe-
·-o pesa mais de 113 quilos) atraíram saqueadores desde a 
~.meira Monarquia. O que nos impressiona mais hoje, no 
·de. é a sua requintada execução, o rico jogo das incrus-
-ões de cores variadas sobre as superfícies de ouro polido. 
84. Tampa do Caixão de Tutankhamon 
(pormenor; v. est. 8). Museu Egípcio, Cairo 
Única no seu género é também a arca pintada proveniente 
do mesmo túmulo, onde o jovem príncipe está representado 
em cenas de combate e de caça (grav. 85), temas de longa 
tradição, interpretados aqui com espantosa frescura. Enquanto 
o rei e o seu carro sobressaem rigidamente do habitual fundo 
nu, coberto de hieroglifos, esse mesmo fundo transforma-se à 
direita num deserto, cuja superfície está coberta por um pon-
tilhado que sugere a areia. Variadas plantas alastram pelo 
solo e os animais correm em debandada, sem nenhumas 
. linhas de terra a cortar-lhes a fuga. 
É um aspecto da pintura egípcia raramente visto nas pare-
des dos túmulos. Talvez esta dispersão de formas vivas sobre 
um fundo de paisagem exista apenas nas cenas - em escala 
miniatura! - da arca de Tutankhamon e, mesmo aí, devem-
-se ao estilo de Akhenaton. Como perduraram estas paisa-
gens com animais através dos períodos seguintes, não o 
sabemos, mas a sua parecença com as miniaturas islâmicas 
executadas dois mil anos mais tarde é demasiadamente fla-
grante para que a possamos deixar passar ignorada. 
85. Tutankhamon na Caça. Arca pintada do túmulo do faraó, Tebas, c. 1340 a.C. 
Comprimento da cena 0,51 m Museu Egípcio, Cairo 
A Arte Egípcia 69 
3 
, 
O P R O X I M O 
O R I E N T E A N T I G O 
~ogazkoy 
G A N A T Ó L I A 
R U S S I A 
-1~ " ú 
~~ 
~-1 
~LAGOVAN 
A . T i G A E : ) Q _ L A G O 
~~ ~ , \ ) U R M I A 
Ç a t a l H ü y ü k 
2 ° 1 , N i n i v e • 6 ' b r S h a r r u k i n 
-9~ ~ ~ N i m r u d 
~&""-9-1~ ' \ , ASS!~IA 
)-~<5'A S § U \ I _ , . - - - . . _ _ 
T e e r ã o 
S I R I A 
~Ak~d 
B a g d a d e [ ( . ; - e l A s m a r 
( ) >" ~tesiphon 
P t O R S I A 
L u r i s t ã o 
• J e r i c ó 
( L _ M A R M O R T O 
'1()>~ ~ · B a b y l . o n ~ 
a~ S u m ' k r · \ S u s a 
( 1 . l . L á g a s h · · \ 
U
" - - \ . ~~---·- , ? E l a m , 
r l i k ' - . . , · / · " ' 
U r \ ~·-- Naksh-i-Ru~t\m 
"-.___,,'J~~ • 
A N T I G A L I N H A D E C O S T A . . . \ , 
M A R 
V E R M E L H O 
A R Á B I A 
o M i l t s ' 2 0 0 
A A R T E S U M É R I A 
· - o d e i x a d e s e r e s t r a n h o e s u r p r e e n d e n t e q u e o . H o m e m 
· : . - . - O : " l a s u r g i d o à l u z d a H i s t ó r i a e m d o i s l o c a i s d i f e r e n t e s 
s e a o m e s m o t e m p o . E n t r e 3 5 0 0 e 3 0 0 0 a . C . , q u a n d o o 
E~pto e s t a \ · a a s e r u n i f i c a d o s o b o p o d e r f a r a ó n i c o , n a s c i a 
: . : : . . - a g r a n d e c i v i l i z a ç ã o n a M e s o p o t â m i a , a " t e r r a d e e n t r e -
; ; - r i o s - _ E d u r a n t e t r i n t a s é c u l o s c o n s e c u t i v o s , o s d o i s c e n -
- , u s ; - : , . - a i s m a n t i v e r a m c a r a c t e r e s d i f e r e n t e s a p e s a r d e t e r e m 
-~iecido c o n t a c t o e n t r e s i d e s d e o p r i n c í p i o e d e a n d a -
o s o s s e u s d e s t i n o s p o r m a i s d e u m a v i a . T e r ã o 
e r m e n t e s i d o p r e s s õ e s i d ê n t i c a s a s q u e f o r ç a r a m o s 
~es d e u m a e o u t r a r e g i ã o a a b a n d o n a r o m o d o d e 
-~ c o : : \ e o l i t i c o ( v . g r a v . 2 3 ) . M a s o v a l e d o T i g r e e d o 
' : : . _ : : " ' 2 . : . . . " 5 n ã o s e p a r e c e c o m o d o N i l o - e s t r e i t a f a i x a d e 
·=-- -~.o f é . - t i l p r o t e g i d a d e a m b o s o s l a d o s p o r d e s e r t o s - , é 
: a l a r g a e p o u c o p r o f u n d a , c o m r a r a s d e f e s a s n a t u -
e n t r e c r u z a m o s d o i s r i o s e s e u s a f l u e n t e s , 
h · e l d e q u a l q u e r l a d o . 
O P r ó x i m o O r i e n t e A n t i g o 
O s f a c t o r e s g e o g r á f i c o s n ã o f a v o r e c i a m a s s i m a u n i f i c a ç ã o 
p o l í t i c a . S ó m i l a n o s d e p o i s d e t e r c o m e ç a d o a c i v i l i z a ç ã o 
m e s o p o t â m i c a a p a r e c e r a m c h e f e s c o m e s s a a m b i ç ã o e n e r r : 
à c u s t a d e g u e r r a s q u a s e p e r m a n e n t e s c o n s e g u i r a m r e a l i z á - l a 
p o r m u i t o t e m p o . P o r i s s o , a h i s t ó r i a p o l í t i c a d a a n t i g a 
M e s o p o t â m i a n ã o p o s s u i a c o e r ê n c i a q u e a r e a l e z a d i v i n a 
d e u a o E g i p t o . A s r i v a l i d a d e s l o c a i s , a s i n c u r s õ e s e s t r a n g e i -
r a s , o a p a r e c i m e n t o r e p e n t i n o e a q u e d a n ã o m e n o s r á p i d a 
d o p o d e r m i l i t a r f o r m a r a m - l h e a s u b s t â n c i a . S o b r e u m 
f u n d o t ã o a g i t a d o é a i n d a m a i s n o t á v e l a c o n t i n u i d a d e d a s 
t r a d i ç õ e s c 4 l t u r a i s e a r t í s t i c a s . E s s a h e r a n ç a c o m u m d e v e - s e . 
e m g r a n d e p a r t e , a o s p i o n e i r o s d e s t a c i v i l i z a ç ã o , o s c h a m a -
d o s S u m é r i o s , d o n o m e d a r e g i ã o - S u m é r i a - q u e e l e s 
h a b i t a r a m , p e r t o d a c o n f l u ê n c i a d o T i g r e e d o E u f r a t e s . 
A o r i g e m d o s S u m é r i o s p e r m a n e c e o b s c u r a . A s u a l í n g u a 
n ã o e s t á a p a r e n t a d a a q u a l q u e r o u t r a j á c o n h e c i d a . u m 
p o u c o a n t e s d o q u a r t o m i l é n i o a . C . , c h e g a r a m à M e s o p o t â m i a 
~ridional, vindos da Pérsia, e nos mil anos seguintes fun-
__ ;am aí certo número de cidades-estados e desenvolveram 
_ ::ua escrita própria, de caracteres cuneiformes (em forma 
=-~ cunha) gravados em tabuletas de barro. Esta fase de 
~""' ição, correspondente ao Período Pré-Dinástico do 
::::-= ·pto, é designada por "protoliterária" e conduz ao 
-c:iodo dinástico arcaico, de c. 3000 a 2340 a.C. 
~J:\DIÇÕES ARQUEOLÓGICAS. Infelizmente, os res-
~ materiais da civilização sumeriana são poucos, compa-
-::Cos aos do Egipto antigo. Como não dispunham de 
-eera, os Sumérios ergueram casas de adobes e madeira, de 
-odo que pouco ficou da sua arquitectura, a não ser os ali-
::::'::-ces. Tão pouco sentiram as preocupações dos Egípcios 
-e o Além, embora já fossem descobertas em Ur várias 
~. ulturas ricamente guarnecidas- câmaras subterrâneas 
- badadas- do Período Dinástico Arcaico. O que sabe-
=:os desta civilização provém, na maior parte, de restos tra-
z:;;"'os à luz pelo acaso das escavações, incluindo inúmeros 
·~::nos gravados em placas de argila. Contudo, já adquiri-
- os conhecimentos bastantes para traçar um quadro das 
~ações deste povo disciplinado, vigoroso e inventiva. 
RELIGIÃO. Cada cidade-estado tinha um deus local, 
_:>.:JSiderado como seu "rei" e senhor. Possuía também um 
_-e e humano para governá-la, o intendente do soberano 
.::...·.ino. O deus era uma espécie de defensor dos seus fiéis 
..:.:: o das outras divindades que regiam as forças da Natu-
-=za: o vento, o tempo, a água, a fertilidade, os astros. 
~ conceito de propriedade divina não era uma simples fic-
_;o religiosa, acreditava-se à letra que o deus era proprietá-
_, do território da cidade e também do trabalho e da pro-
86. O Templo Branco e o seu zigurate, 
Uruk (Warka). c. 3500-3000 a.C. 
87. Planta do Templo Branco 
e seu zigurate 
(segundo H. Frankfort) 
dução dos habitantes, submetidos às suas ordens através do 
intendente humano. É um sistema económico conhecido por 
"socialismo teocrático", uma sociedade planificada cujo cen-
tro administrativo era o templo. Este procedia ao ajusta-
mento da mão-de-obra e dos recursos públicos necessários 
aos empreendimentos da comunidade, como a construção 
de diques ou de valas de irrigação, e armazenava e distri-
buía uma parte considerável das colheitas. Tudo isso exigia 
a manutenção de pormenorizados documentos escritos. Por 
isso, não é de admirar que os textos das inscrições sumeria-
nas primitivas sejam mais de índole económica e administra-
tiva que - religiosa, embora a escrita fosse um privilégio 
sacerdotal. 
A ARQUITECTURA. O papel dominante do templo 
como centro da vida espiritual e temporal é-nos dado a 
conhecer de um modo nítido pela planta das cidades. As 
casas aglomeravam-se em torno da área sagrada, vasto con-
junto arquitectural que tanto compreendia templos como 
oficinas, armazéns e residências dos escribas. A meio, sobre 
um terraço alto, ficava •o templo do deus. Estes terraços, os 
zigurates, cedo atingiram a altura de verdadeiras colinas 
artificiais comparáveis às pirâmides do Egipto pela imensi-
dade do esforço exigido e pelo efeito de gigantescos marcos 
avultando na planície monótona. 
O mais famoso, a bíblica Torre de Babel, foi completa-
mente destruído, mas subsiste outro, muito a nterior, cons-
truído c. 3000 a.C., e, portanto, vários séculos mais antigo 
que a primeira pirâmide, erguido em Warka, o lugar da 
cidade sumeriana de Uruk (a Erech da Bíblia). É um mon-
tículo de mais de 12 metros de altura, cujos íngremes flan-
cos estão reforçados por sólidos muros de tijolo. Escadarias 
O Próximo Oriente Antigo 71 
8 8 . I n t e r i o r d a c e i f a d o T e m p

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