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Trabalho Direito de Família Do casamento

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Prévia do material em texto

CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIHORIZONTES 
Fauez Shafir Leonardo Seif Eddine 
 
 
 
 
 
DO CASAMENTO 
Impedimentos matrimoniais, causas suspensivas, casamento 
inexistente, casamento nulo e casamento anulável 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2017 
 
Fauez Shafir Leonardo Seif Eddine 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
DO CASAMENTO: 
Impedimentos matrimoniais, causas suspensivas, casamento 
inexistente, casamento nulo e casamento anulável 
 
 
Trabalho apresentado como atividade 
complementar à disciplina Direito de Família, 
sendo requisito para obtenção de nota no curso de 
bacharel em Direito do Centro Universitário 
Unihorizontes. 
 
 
Professor: Carlos Henrique Fernandes Guerra 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Belo Horizonte 
2017
 
 
SUMÁRIO 
 
1 Proposição ......................................................................................... 4 
 
2 Diferencie: impedimentos matrimoniais e causas suspensivas do 
casamento. ............................................................................................ 7 
2.1. Impedimentos matrimoniais .............................................................................. 7 
2.2 Causas suspensivas do casamento ................................................................ 11 
 
3 Diferencie: casamento inexistente; casamento nulo e casamento 
anulável. .............................................................................................. 15 
3.1 Do casamento inexistente ................................................................................ 15 
3.2 Do casamento nulo ........................................................................................... 18 
3.3 Do casamento anulável..................................................................................... 19 
 
4 José poderia ter dois casamentos válidos ao mesmo tempo? .... 26 
 
5 Caso fosse verificado que o primeiro casamento celebrado foi 
com a mulher do Rio de Janeiro, qual seria a consequência jurídica 
para o casamento celebrado entre José e a mulher de São Paulo? 27 
 
 REFERÊNCIAS ................................................................................. 28 
 
 
4 
 
1 Proposição 
 
Com base no texto abaixo e no Direito de Família, responda, de modo 
fundamentando, as seguintes perguntas: 
 
O Verdadeiro José 
 
José morreu, com justeza poética, num avião da Ponte Aérea, a meio caminho entre 
São Paulo e Rio. Coração. Morreu de terno cinza e gravata escura, segurando a 
mesma pasta preta com que desembarcava no Santos Dumont todas as segundas-
feiras, durante anos. Só que desta vez a pasta preta desembarcou sobre o seu peito, 
na maca, como uma lápide provisória. 
 
- O velho Paulista... - disseram seus colegas de trabalho, no velório, lamentando a 
perda do companheiro tão sério, tão eficiente, tão trabalhador. Seu apelido no Rio era 
Paulista. 
 
A mulher e o filho de 18 anos mantiveram uma linha de sóbria resignação durante 
todo o velório. Aquele era o estilo de José. Nada de arroubos ou demonstrações de 
sentimento. Sobriedade. Foi idéia do filho que o enterrassem de colete. 
 
- A verdade - cochichou um dos sócios de José na empresa - é que ele nunca se 
adaptou aos hábitos cariocas... 
 
- Sempre foi um paulista desterrado - concordou alguém. 
 
- Desterrado?- estranhou um terceiro. - Mas vivia lá e cá... 
 
Foi nesse ponto que entraram no velório, aos prantos, uma senhora e uma moça, 
ambas vestindo jeans iguais e carregando as grandes bolsas de couro com que 
tinham viajado de São Paulo. 
 
- Carioca! - gritou a mais velha, precipitando-se na direção do caixão. 
 
- É você, Carioca? 
 
- Papai! - gritou a mais moça, debruçando-se sobre o solene defunto. 
 
Consternação geral. 
 
Dr. Lupércio, o advogado da família, conseguiu que as duas mulheres de José se 
reunissem em algum lugar afastado da camara ardente. O mais difícil foi arrancar a 
segunda mulher - na ordem de chegada ao velório - de cima do caixão. Em pouco 
5 
 
tempo confirmou-se o óbvio. José tinha outra família em São Paulo. A filha tinha 15 
anos. A mulher do Rio foi seca: 
 
- A legítima sou eu. 
 
- Meu bem... - começou a dizer a outra. 
 
- Não me chame de seu bem. Nós nem nos conhecemos. 
 
- Calma, calma - pediu o Dr. Lupércio. 
 
- Agora eu sei por que o Carioca nunca quis me trazer ao Rio... – disse a outra. 
 
- O nome dele é José. Ou era, até acontecer isto - disse a primeira, não se sabendo 
se falava da morte ou da descoberta da segunda família. 
 
- Lá em São Paulo toda a turma chama ele de Carioca. 
 
- "Turma?" - estranhou a primeira. No Rio eles não tinham turma. Raramente saíam 
de casa. Um ou outro jantar em grupo pequeno. Concertos, às vezes. Geralmente 
estavam na cama antes das dez. 
 
Na câmara ardente, o filho de José evitava o olhar da sua meia-irmã. Os dois eram 
parecidos. Tinham os traços do pai. A moça, com os olhos ainda cheios de lágrimas, 
comentara que aquela era a primeira vez que via o pai de gravata. O filho ia dizer que 
não se lembrava de jamais ter visto o pai sem gravata, mas achou melhor não dizer 
nada. Era uma situação constrangedora. 
 
- Pobre do papai - disse a moça, soluçando. - Sempre tão brincalhão... 
 
O filho entendia cada vez menos. 
 
O apelido dele, em São Paulo, era Carioca. Descia em Congonhas todas as quintas-
feiras de camiseta esporte. No máximo com um pulôver sobre os ombros. Uma vez 
chegara até de bermudas e chinelos de dedo. Gostava de encher o apartamento de 
amigos, ou sair com a turma para um restaurante ou uma boate. E se alguém 
ameaçasse ir embora, dizendo que "Amanhã é dia de trabalho", ele berrava que 
paulista não sabia viver, que paulista só pensava em dinheiro, que só carioca sabia 
gozar a vida. Com sua alegre informalidade, fazia sucesso entre os paulistas. 
Inclusive nos negócios, apesar do mal-estar que causava sua camisa aberta até o 
umbigo, em certas salas de reuniões. Todas as segundas-feiras voava para o Rio. 
 
Dizia que precisava pegar uma praia, respirar um pouco. 
 
6 
 
- Você não estranhava quando ele voltava do Rio branco daquele jeito? - perguntou a 
legítima. 
 
- Ele dizia que não adiantava pegar cor na praia, ficava branco assim que pisava em 
Congonhas - disse a outra. 
 
As duas sorriram. 
 
Mais tarde, em casa, o Dr. Lupércio refletiu sobre o caso. 
 
- Um herói de dois mundos - sentenciou. 
 
A mulher, como sempre, não estava ouvindo. O Dr. Lupércio continuou: 
 
- No Rio, era o paulista típico. Uma caricatura. Sim, é isto! 
O Dr. Lupércio sempre se agitava quando pegava uma tese no ar com seus dedos 
compridos. Era isso. No Rio, ele era uma caricatura paulista. A imagem carioca do 
paulista. Em São Paulo, era o contrário. 
 
- E mais. Quando fazia o papel do paulista proverbial, no Rio, era gozação. Quando 
fazia o carioca em São Paulo, era estratégia de venda. 
 
O advogado, no seu entusiasmo, apertou com força o braço da mulher, que disse "Ai, 
Lupércio!". 
 
- Você não vê? Ele estava sendo cariocamente malandro quando fazia o paulista, e 
paulistamente utilitário quando fazia o carioca. Um gigolô do estereótipo! Uma síntese 
brasileira! Mas qual dos dois era o verdadeiro José? 
 
Duas viúvas dormiam sozinhas. A do Rio sem o seu José, aquela rocha de critérios e 
responsabilidades em meio à inconsequência carioca. A de São Paulo sem o seu 
Carioca, aquele sopro de ar marinho no cinza paulista. 
 
As duas suspiraram. 
 
(VERÍSSIMO, Luis Fernando. As mentiras que os homens contam. Rio de Janeiro:Objetiva, 2001). 
7 
 
2 Diferencie: impedimentos matrimoniais e causas suspensivas do 
casamento. 
 
Ab initio, cumpre observar que o impedimento não se confunde com a incapacidade 
para o matrimônio, são institutos que tratam de situações diferentes. Em sucinta 
explicação, Tartuce (2017) esclarece que a incapacidade “impede que alguém se 
case com qualquer pessoa, enquanto os impedimentos somente atingem 
determinadas pessoas em determinadas situações”. Nessa esteira, observa 
Madaleno (2016) que “impedimento e incapacidade não são palavras sinônimas, 
porque a pessoa pode ter capacidade para casar, mas mesmo assim estar impedida 
de contrair núpcias”. Por fim, pontue-se que a incapacidade para o casamento está 
prevista no art. 1.517 do CC/02 c/c art. 3º do CC/02, enquanto que o impedimento 
para o casamento está regulado no art. 1.521, do mesmo diploma legal. 
 
Superada essa questão, passa-se ao mérito da pergunta. Não obstante ambos os 
institutos (impedimentos matrimoniais e causas suspensivas) serem previsões que 
buscam agravar a higidez da realização do casamento, quando este incide em suas 
hipóteses, seus preceitos são distintos e trazem consequências diferentes. 
 
2.1. Impedimentos matrimoniais 
 
Os impedimentos matrimoniais abarcam situações que são tidas como de maior 
gravidade, que afeta ao interesse social, além das partes envolvidas, trata-se de 
questão de ordem pública. É previsto em rol taxativo (numerus clausus) no art. 1.521 
do CC/02 e a sua principal consequência é a decretação da nulidade absoluta do 
instituto matrimonial (TARTUCE, 2017, p. 60). 
 
Ao passo do exposto, assim decidiu a egrégia turma do Tribunal de Justiça de Minas 
Gerais: 
 
Ementa: Apelação cível. Direito de família. Declaratória de nulidade de 
casamento. Padrasto e enteada. Parentes por afinidade. Casamento. 
Impossibilidade. Art. 1.521, inciso II, do Código Civil. Nulidade. Sentença 
mantida. - O parentesco por afinidade em linha reta não se rompe com o 
desfazimento do matrimônio, sendo nulo o casamento (grifo nosso) 
contraído por padrasto e enteada, nos termos do art. 1.521, inciso II, 
cumulado com o art. 1.548, ambos do Código Civil. (APELAÇÃO CÍVEL N° 
8 
 
1.0518.10.025538-0/001 - Comarca de Poços de Caldas - Apelante: 
M.A.M.R. - Apelado: Ministério Público do Estado de Minas Gerais - Relator: 
DES. WASHINGTON FERREIRA). 
 
As hipóteses que impedem o matrimônio, estão lastreados taxativamente nos incisos 
do art. 1.521 do atual Código Civil. A começar, são impedidos de casar “os 
ascendentes com os descendentes até o infinito, no caso de parentesco natural” 
(Tartuce, 2017, p. 60). No tocante a essa previsão, buscou-se tutelar a expectativa 
social que vê com maus olhos o relacionamento entre parentes tão próximos, 
evitando assim o incesto, além do mais, outra razão seria para evitar malformações 
congênitas da possível prole dessa união, conhecida como eugenia. 
 
Trilhando o mesmo artigo, previu o códex privado que “não podem casar os afins em 
linha reta” (Tartuce, 2017, p. 61). Isso se dá, pois nos termos do art. 1.595 do CC, o 
casamento (ou união estável) gera parentesco entre o cônjuge e os parentes do outro 
consorte. Destacando que é apenas na linha reta, pois a razão que justifica essa 
norma é apenas uma questão moral, logo, aos colaterais não há impedimentos. 
Assim foi firmado em precedente judicial no Tribunal de Justiça de Minas Gerais: 
 
Apelação cível. Direito de família. Declaratória de nulidade de casamento. 
Padrasto e enteada. Parentes por afinidade. Casamento. Impossibilidade. Art. 
1.521, inciso II, do Código Civil. Nulidade. Sentença mantida. - O parentesco 
por afinidade em linha reta não se rompe com o desfazimento do 
matrimônio, sendo nulo o casamento contraído por padrasto e enteada, 
nos termos do art. 1.521, inciso II (grifo nosso), cumulado com o art. 
1.548, ambos do Código Civil. (TJMG – ap. n° 1.0518.10.025538-0/001, Rel. 
Des. Washington Ferreira, DJ 27/03/2012) 
 
Ato contínuo, o aludido artigo crivou de impedido, não podendo casar “o adotante 
com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante; os 
ascendentes e descentes em caso envolvendo a adoção [inciso III]; o adotado com o 
filho do adotante [inciso V]” (Tartuce, 2017, p. 62). Tal previsão se dá, pois no atual 
ordenamento jurídico brasileiro, a adoção é similar à família natural, não havendo 
diferenças entre estes. Na hipótese do inciso III, Madaleno (2016) enceta que: 
 
Para a cultura e legislação brasileiras o vínculo adotivo guarda maior 
relevância, não admitindo sua ruptura em razão da relação afetiva surgida 
depois e desenvolvida ao patamar de uma união sexual, cuja aceitação 
repugnaria as convenções sociais brasileiras. Portanto, o adotante não pode 
casar com a ex-mulher ou o ex-marido da pessoa adotada, e nem esta pode 
casar com o ex-cônjuge do adotante (MADALENO, 2016, p. 196). 
 
9 
 
Ainda, esclarecendo o inciso V, Madaleno (2016, p. 196) diz que “sendo o filho 
adotivo comparado ao biológico, embora não possam ser sustentadas as restrições 
de origem eugênica, são aplicáveis as restrições de formulação ética”. Portanto, 
conclui-se que são aplicadas as mesmas regras do parentesco consanguíneo ao 
parentesco civil, inclusive para fins de impedimentos matrimoniais. 
 
Em sua tutela normativa, previu ainda o art. 1.521 no inciso IV, que são impedidos de 
contrair matrimônio “os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o 
terceiro grau inclusive” (BRASIL, 2002). Pauta-se tal restrição, a mesma condição de 
ordem ética e moral levantada quando do comento do inciso I, no qual a cultura 
brasileira, “com forte influência do cristianismo, reputa a união entre irmãos como 
imoral, incestuosa e contrária à natureza, afrontando a pureza que deve reinar nas 
famílias” (MADALENO, 2016, p. 197). 
 
Porém, cumpre ressalvar, que tal restrição civil encontrou um lenitivo no Decreto-Lei 
3.200/1941 quando previu a possibilidade de casamento entre tios e sobrinhos, “no 
sentido de que o casamento entre colaterais de terceiro grau pode ser realizado se 
não houver risco à prole, o que deve ser aprovado por uma junta médica formada por 
dois profissionais da área” (TARTUCE, 2017, p. 60). Tal permissão é conhecida na 
doutrina como casamento avuncular, ou seja, o casamento entre os colaterais de 
terceiro grau. Nesse sentido, posicionou-se o Superior Tribunal de Justiça de São 
Paulo: 
 
Apelação cível. Pedido de habilitação para casamento entre tio e sobrinha. 
Impedimento legal segundo o CC/16 e o CC vigente. Aplicação do Decreto-lei 
3.200/41. Interpretação de vigência do decreto, no sentido de que existe 
o impedimento legal, todavia desde que não haja prejuízo à prole, 
segundo atestado médico a ser aferido pelo Juiz. Exame pericial 
psiquiátrico e aconselhamento genético realizados (grifo nosso). 
Sanidade mental reconhecida [...] (TJSP - Ap 00130767920108260604 SP, 8ª 
Câmara de Direito Privado, Rel. Des. Silvério da Silva, DJ 12/03/2014). 
 
Na senda do artigo 1.521, o Código Civil foi expressivo ao impedir de possuir novo 
casamento as pessoas já casadas no inciso VI. Logo se vê que foi consagrado no 
sistema jurídico brasileiro o princípio da monogamia. Portanto: 
 
a quebra desse princípio importa na fulminante nulidade do segundo 
matrimônio (grifo nosso), sem prejuízo das implicações advindas do crime 
10 
 
de bigamia do artigo 235 do Código Penal, classificado como crime grave o 
novo casamento sem estar dissolvido o anterior (MADALENO, 2016, p. 197). 
 
Entretanto, deve ser protegida a boa-fé putativa, quando um dos consortes não tinha 
conhecimento do impedimento matrimonial, incidindo os efeitos doparágrafo primeiro 
do artigo 1.561 do Código Civil, que aproveitam ao cônjuge de boa-fé, os efeitos do 
casamento até o dia da sentença de nulidade, tendo consequência ex tunc. 
 
Por fim, depreende-se da leitura do inciso VII, do artigo em comento que, são 
igualmente impedidas de casar “o cônjuge sobrevivente com o condenado por 
homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte” (BRASIL, 2002). Na 
assertiva desse dispositivo, tem-se a lição de Madaleno (2016, p. 198), anotando que 
o “homicídio ou tentativa de homicídio contra a pessoa de um dos cônjuges deve criar 
uma invencível incompatibilidade entre o outro cônjuge e o criminoso, que lhe 
destruiu o lar, e afeições, que deveriam ser muito caras”. Entrementes, é imperioso 
destacar que tal impedimento, segundo abalizado nas doutrinas, só ocorrerá em 
crime doloso e havendo trânsito em julgado da sentença penal condenatória. 
 
Ante a força normativa dos impedimentos matrimoniais, num modo geral, assim 
decidiu o Tribunal de Justiça de Minas Gerais: 
 
APELAÇÃO CÍVEL – TRANSCRIÇÃO DE CASAMENTO REALIZADO NO 
EXTERIOR – MULHER CASADA – IMPEDIMENTO ABSOLUTO – 
CASAMENTO NULO – PRODUÇÃO DE EFEITO NO BRASIL – 
IMPOSSIBILIDADE – DIVÓRCIO POSTERIOR – IRRELEVÂNCIA – 
EFEITOS EX TUNC – IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO – 
DESPROVIMENTO 
– Havendo impedimento dirimente absoluto, segundo a lei brasileira, 
para que a mulher contraísse novas núpcias, o casamento realizado 
no exterior é nulo e inapto a produzir efeitos no Brasil (grifo nosso). 
[...] 
(Apelação Cível nº 1.0105.14.004668-8/001 – Comarca de Governador 
Valadares – Apelantes: Luciany Gomes Porto Camilo, João Camilo Filho e 
outro, representados por Sandra Aparecida Monteiro Santos – Relator: 
Des. Barros Levenhagen. Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª Câmara 
Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade 
da ata dos julgamentos, em negar provimento ao recurso. 
Belo Horizonte, 9 de julho de 2015. – Barros Levenhagen – Relator). 
 
Por fim, relevante destacar que, conforme leitura do artigo 1.522, os impedimentos 
podem ser opostos por qualquer pessoa capaz, no processo de habilitação e até o 
momento da celebração do casamento, bem como pelo juiz, oficial de registro ou 
Ministério Público ex officio, caso tenham conhecimento de algum dos impedimentos. 
11 
 
 
2.2 Causas suspensivas do casamento 
 
Cumprido a análise dos impedimentos matrimoniais, passa-se agora, seguindo a 
proposta da questão, a analisar as causas suspensivas do casamento, que a 
diferenciará do instituto anterior estudado. 
 
A contrário sensu aos impedimentos, as causas suspensivas do casamento são 
situações consideradas de menor gravidade, que gera uma consequência mais 
branda entre os nubentes em relação aos impedimentos, ocorre para impedir a 
confusão patrimonial, sendo, portanto de ordem privada. Não geram nulidade 
absoluta ou relativa do casamento, mas a imposição do regime da separação total ou 
obrigatória e a suspensão do casamento (TARTUCE, 2017). 
 
As causas suspensivas, alocadas nos incisos I a V do artigo 1.523 do Código Civil, 
têm em mira proteger a prole de relacionamento anterior, e as pessoas postas sob 
tutela ou curatela, da confusão ou turbação de patrimônios, enquanto não cessar a 
representação e não forem prestadas as respectivas contas. 
 
O artigo mencionado acima preceitua, no inciso I, que não devem se casar “o viúvo 
ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens 
do casal e der partilha aos herdeiros” (BRASIL, 2002). O escopo do legislador foi 
evitar a confusão de patrimônios, pois o casamento precedido de inventário poderia 
dificultar a identificação do patrimônio entre o das proles existentes e o das vindouras. 
 
Porém, “sendo feita a prova de ausência de prejuízo para os envolvidos, o casamento 
poderá ser celebrado por qualquer regime, sem a imposição de sanções” (TARTUCE, 
2017, p. 64). Nessa esteira, foi a decisão do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: 
 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE CAUSA 
SUSPENSIVA DE CASAMENTO. INDEFERIMENTO DA INICIAL. ALEGADO 
EQUÍVOCO DO CARTORÁRIO AO CONSTAR NA CERTIDÃO DE ÓBITO 
DA NUBENTE A EXISTÊNCIA DE BENS A INVENTARIAR. INCIDÊNCIA DO 
ART. 1.523, I, § ÚNICO, DO CC. NECESSIDADE DE REALIZAÇÃO DO 
PEDIDO NA FORMA DE INVENTÁRIO NEGATIVO. OPORTUNIZAÇÃO DE 
EMENDA À INICIAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 284 DO CPC. SENTENÇA 
CASSADA. RECURSO DESPROVIDO. Não se olvide que o legislador 
inovou no novo Código Civil ao inserir o parágrafo único do art. 1.523, 
trazendo, na prática, a possibilidade de os nubentes solicitarem ao juiz 
12 
 
a não aplicação da causa suspensiva, sem que seja apenas via 
inventário negativo; porém, face a dúvida advinda com a informação 
constante na certidão de óbito, tem-se como prudente a realização de 
inventário negativo (grifo nosso). (TJ-SC - AC: 78736 SC 2007.007873-6, 
Terceira Câmara de Direito Civil, Rel. Des.: Sérgio Izidoro Heil, DJ: 
11/07/2007). 
 
Portato, tal norma visa coibir o casamento sem ter sido ultimada a partilha dos bens 
do anterior casamento, mas cuja infração não leva à anulação do matrimônio, embora 
caracterize irregularidade em sua celebração, e obrigue ao casamento pelo regime 
legal da separação de bens. 
 
Seguidamente, previu o inciso II do artigo sub examine “a viúva, ou a mulher cujo 
casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez meses depois do 
começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal” (BRASIL, 2002). A 
intenção foi evitar a confusão de sangue, a dúvida no caso de a mulher estar grávida, 
e de quem seria o filho. Esclarece Madaleno (2016, p. 202) que essa previsão era um 
“argumento justificável para uma época na qual o conhecimento científico ainda era 
incapaz de determinar com segurança extrema a paternidade ou a maternidade”. 
Anote-se que tal restrição normativa tende a desperecer, pois com os avanços da 
medicina, esta causa suspensiva mostra-se obsoleta. 
 
O prazo assinalado é decorrência da subsunção do artigo 1.597 do Código Civil, ao 
conferir um prazo máximo de trezentos dias para a gestação, de modo a evitar as 
incertezas na filiação. Contudo, se for provada a ausência de gravidez ou de 
nascimento de filho neste interregno, a causa suspensiva será afastada, posto que 
não haverá prejuízo para os envolvidos (TARTUCE, 2017, p. 65). 
 
Ainda no amparo do artigo 1.523, no inciso III, haverá suspensão para “o divorciado, 
enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal”. Da 
mesma forma que no inciso I, a preocupação é quanto a evitar a confusão de 
patrimônios, pois, o divórcio poderá ser concedido sem que haja prévia partilha de 
bens, conforme art. 1.581 do CC/02. De igual forma, se for constatado que não 
haverá prejuízo patrimonial, o casamento poderá ser celebrado sob qualquer regime 
a critério dos nubentes, segundo inteligência do parágrafo único do art. 1.523 do 
CC/02 (TARTUCE, 2017, p. 66). 
 
13 
 
Por fim, encerrando as hipóteses de causas suspensivas, foi exarado no inciso IV que 
não devem casar, sob pena de suspensão “o tutor ou o curador e os seus 
descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada 
ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as 
respectivas contas” (BRASIL, 2002). Justifica-se pela possibilidade de o tutelado ou 
curatelado ser impingido a contrair matrimônio, de modo a livrar o administrador dos 
bens da prestação de contas. 
 
Todavia, “desaparecendo o liame da tutela ou da curatela e, por evidente, prestadas e 
aprovadas as respectivas contas, a demonstrar a retidão no trato administrativodos 
bens do incapaz, cessa a causa suspensiva” (MADALENO, 2016, p. 211). De igual 
modo, da compreensão do parágrafo único do mesmo artigo, se ficar provado a 
inexistência de prejuízo, o juiz poderá afastar esta causa suspensiva. 
 
Ementa: APELAÇÃO. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE DIVÓRCIO 
LITIGIOSO. PARTILHA E ALIMENTOS. CASAMENTO. Afastada a nulidade 
alegada do casamento, reconhecida causa suspensiva, que visa a evitar a 
confusão de patrimônios, e a proteger quem pode ser prejudicado com 
o casamento, o regime legal, no caso, é o da comunhão parcial (grifo 
nosso). PARTILHA O casamento foi celebrando com afronta ao impedimento 
impediente do CCB/1916, que não dirime o casamento (isto é, não anula 
nem nulifica), mas impõe a submissão dos cônjuges ao regramento do 
regime da separação obrigatória (grifo nosso), no qual existe a comunhão 
de aquestos, por força da Súmula nº 377. Ou seja, os bens adquiridos 
onerosamente na constância do casamento devem ser partilhados 
igualitariamente. BENFEITORIAS Incidente, como visto, o regime da 
comunhão parcial de bens, de modo que as benfeitorias feitas no imóvel de 
residência do casal nesse interregno, devem ser indenizadas, por metade, à 
autora. ALIMENTOS. Em que pese o dever de mútua assistência, cabe à 
postulante comprovar satisfatoriamente que não detém condições de prover o 
próprio sustento. Na ausência de cumprimento do seu ônus probatório, 
flagrante a improcedência do pedido. RECURSO DA AUTORA 
DESPROVIDO, PROVIDO EM PARTE O DO RÉU. (Apelação Cível Nº 
70056334535, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: 
Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 23/10/2013). 
 
Por fim, adianta-se que, desaparecendo as causas suspensivas, a posteriori ao 
casamento, poderá os cônjuges propor ação de alteração de regime de bens, 
decidindo aquele que bem lhes aprouver. Ademais, as causas suspensivas só podem 
ser suscitadas no processo de habilitação, até 15 dias após os proclamas, podendo 
ser arguidas, tão somente, pelos parentes em linha reta e colateral até o segundo 
grau, consanguíneas ou afins. 
 
14 
 
Portanto, ante o exposto, é possível verificar, em síntese, que os impedimentos 
matrimoniais são de maior gravidade, enquanto as causas suspensivas são de menor 
gravidade. Sendo aqueles previstos em rol taxativo no art. 1.521 e estes no art. 1.523 
do Código Civil de 2002. As hipóteses de impedimentos buscam coibir a união entre 
os ascendentes com os descendentes até o infinito, bem como os colaterais até o 
terceiro grau, os afins em linha reta, assim como o adotante com quem foi cônjuge do 
adotado e o adotado com quem o foi do adotante, os ascendentes e descendentes 
em casos envolvendo adoção, o adotado com o filho do adotante, impede também as 
pessoas já casadas e o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou 
tentativa de homicídio contra o seu consorte. 
 
Já as causas suspensivas admoesta que não devem casar o viúvo ou viúva que tiver 
filho do cônjuge falecido enquanto não fizer o inventário dos bens do casal com a 
respectiva partilha, a viúva ou a mulher cujo casamento se desfez por nulidade 
absoluta ou relativa até dez meses depois do começo da viuvez ou da dissolução da 
sociedade conjugal. Ressalva também que não devem casar o divorciado enquanto 
não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do casal, e o tutor e o 
curador, bem como seus parentes com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto 
não cessada a tutela ou curatela, ou não estiverem saldadas as respectivas contas 
prestadas. 
 
Ocorrendo a hipótese de impedimento do casamento, será decretada a nulidade 
absoluta do matrimônio se essa tiver sido realizada, lado outro, verificando-se uma 
das causas suspensivas, será imposto o regime da separação total ou legal de bens. 
Os impedimentos, para inviabilizar a celebração do casamento, podem ser arguidos 
por qualquer pessoa capaz, bem como de ofício pelo Juiz, oficial de registro e o MP 
no processo de habilitação e até o momento da celebração do casamento. Já as 
causas suspensivas, pelos parentes em linha reta e colateral até o 2º grau 
(consanguíneos ou afins), só no processo de habilitação, até 15 dias após os 
proclamas. 
15 
 
3 Diferencie: casamento inexistente; casamento nulo e casamento 
anulável. 
 
Os três institutos, casamento inexistente, nulo e anulável, estão sublocados dentro da 
previsão de invalidade do casamento, pois a invalidade retira o valor do casamento, 
que se torna nulo ou anulado, conforme a gravidade do seu vício de origem, logo, em 
raciocínio oposto, o casamento é válido quando os seus elementos constitutivos 
estão em conformidade com a lei. 
 
3.1 Do casamento inexistente 
 
Passa-se a análise do casamento inexistente, já pontuando que “o ato inexistente é 
considerado um nada para o direito, pois não gera efeitos no âmbito jurídico” 
(TARTUCE, 2017, p. 81). Portanto, em casos tais, o suposto casamento celebrado 
nunca existiu, porquanto não gerou efeitos jurídicos válidos. Não há previsão legal 
expressa, sendo tal instituto erigido pela doutrina e jurisprudência pátria, capitulando 
que três são as hipóteses apresentadas a respeito do casamento inexistente. 
 
A primeira hipótese seria a do casamento realizada entre pessoas do mesmo sexo. 
Tal previsão doutrinária era encampada pela até então, forte cultura católico-cristã 
que não reconhecia na união homossexual, a entidade familiar. Assim, seria o caso, 
em exemplo dado pelo doutrinador Tartuce (2017, p. 82) que “imaginava-se o caso de 
um casamento entre homossexuais em que um se encontrava travestido de mulher e 
portava documentação falsa. O caso era tido como de inexistência do casamento, 
conforme a tradição jurídica brasileira”. 
 
Todavia, numa verdadeira revolução conceitual, decorrente do avanço social, passou-
se a admitir e a reconhecer nas relações homoafetivas o caráter precípuo de família. 
Tal foi o marco propulsor dado pelo STF após a decisão que julgou à ADI 4.277/2009 
e à ADPF 132/2008, admitindo união entre pessoas do mesmo sexo. É o que se 
percebe da leitura da ementa da ADI 4.277/2009, in verbis: 
 
1. ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL 
(ADPF). PERDA PARCIAL DE OBJETO. RECEBIMENTO, NA PARTE 
REMANESCENTE, COMO AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. 
16 
 
UNIÃO HOMOAFETIVA E SEU RECONHECIMENTO COMO INSTITUTO 
JURÍDICO. CONVERGÊNCIA DE OBJETOS ENTRE AÇÕES DE 
NATUREZA ABSTRATA. JULGAMENTO CONJUNTO. Encampação dos 
fundamentos da ADPF nº 132-RJ pela ADI nº 4.277-DF, com a finalidade de 
conferir “interpretação conforme à Constituição” ao art. 1.723 do Código Civil. 
Atendimento das condições da ação. 2. PROIBIÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO 
DAS PESSOAS EM RAZÃO DO SEXO, SEJA NO PLANO DA DICOTOMIA 
HOMEM/MULHER (GÊNERO), SEJA NO PLANO DA ORIENTAÇÃO 
SEXUAL DE CADA QUAL DELES. A PROIBIÇÃO DO PRECONCEITO 
COMO CAPÍTULO Supremo Tribunal Federal. DO CONSTITUCIONALISMO 
FRATERNAL. HOMENAGEM AO PLURALISMO COMO VALOR SÓCIO-
POLÍTICO-CULTURAL. LIBERDADE PARA DISPOR DA PRÓPRIA 
SEXUALIDADE, INSERIDA NA CATEGORIA DOS DIREITOS 
FUNDAMENTAIS DO INDIVÍDUO, EXPRESSÃO QUE É DA AUTONOMIA 
DE VONTADE. DIREITO À INTIMIDADE E À VIDA PRIVADA. CLÁUSULA 
PÉTREA. 
[...] 
Ante a possibilidade de interpretação em sentido preconceituoso ou 
discriminatório do art. 1.723 do Código Civil, não resolúvel à luz dele 
próprio, faz-se necessária a utilização da técnica de “interpretação 
conforme à Constituição”. Isso para excluir do dispositivo em causa 
qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, 
pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família. 
Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as 
mesmas consequências da união estável heteroafetiva(grifo nosso). 
(STF – ADI: 4277 DF, Relator: Min. AYRES BRITTO, Data de Julgamento: 
05/05/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-198 DIVULG 13-10-
2011 PUBLIC 14-10-2011 EMENT VOL-02607-03 PP-00341). 
 
Logo, afastou-se a condição de inexistência quando ocorrida a união por pessoas do 
mesmo sexo, vez que segundo ato normativo constitucional, deve-se facilitar a 
conversão da união estável em casamento, conforme leitura do art. 226, § 3º da 
CRFB/88. Logo, a análise dessa hipótese é para fins metodológicos, numa visão 
história, considerando que hoje não se cogita mais da inexistência da união entre 
pessoas do mesmo sexo. 
 
Superada essa análise, outra hipótese de inexistência de casamento, ventilada pela 
doutrina hodierna é a ausência de vontade. Em outras palavras, a declaração de 
vontade deve restar inequivocamente manifestada, tanto que verificada alguma 
dúvida ou vacilo à pergunta formulada pela autoridade celebrante, este suspende 
imediatamente o ato, conforme assegura o art. 1.538 do CC/02, que no mesmo passo 
impede a retratação no mesmo dia pelo nubente que motivou a suspensão da 
cerimônia nupcial. 
Na jurisprudência, é oportuno citar a apelação cível n° 590001350, ocasião em que a 
Sexta Câmara do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, por maioria, declarou a 
inexistência do casamento realizado entre V.R. e M.N. Pois, E.N., falsamente 
passando-se por V.R., casou-se com M.N. O casamento é inexistente analisando-se 
17 
 
sobre a ótica do V.R., que não soube que casou, e morreu sem conhecer o que se 
passara, ou seja, houve ausência de vontade. O juiz a quo havia declarado anulável o 
casamento, entretanto, entendeu a colenda turma que se tratava de hipótese de 
casamento inexistente Conforme se infere do excerto da decisão abaixo: 
 
1. DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. 2. CASAMENTO. - CASAMENTO 
INEXISTENTE. - NULIDADE. - AUSENCIA TOTAL DE CONSENTIMENTO. – 
PESSOA QUE SE SERVE DE IDENTIDADE E DOCUMENTACAO FALSA. – 
ANULABILIDADE. DISTINCAO. 3. ATO JURÍDICO. NULIDADE. 4. 
PRESCRIÇÃO. PRAZO. TERMO INICIAL. 
[...] 
Estou encarando o problema pela perspectiva da inexistência do casamento 
por absoluta falta de consentimento de V.R., porque este não compareceu, e, 
a considerar-se que este casamento existe e é válido, o resultado que 
teríamos é que V.R. teria casado sem saber que casou [...] a verdade é que o 
casamento não existiu, porque o outro nubente não expressou o 
consentimento, uma vez que nem sequer estava presente [...]. Entretanto, 
quando se trata de nulidade absoluta ou de inexistência de ato jurídico, o juiz 
não fica absolutamente limitado pelos termos do pedido (TJ-RS – REEX: 
590001350 RS, Relator: Adroaldo Furtado Fabrício, Data de Julgamento: 
19/02/1991, Sexta Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do 
dia). 
 
Por fim, tem-se a inexistência de casamento quando celebrado por autoridade 
totalmente incompetente. Aqui há incompetência quanto a matéria, logo, absoluta. E 
por ser matéria absoluta, o casamento realizado por autoridade incompetente não 
pode ser convalidado, porque sequer existiu, vez que não realizado em observância 
ao rito legal. Cumpre trazer à lume que há alguns doutrinadores que entendem ser a 
incompetência para realização do casamento não um ato inexistente, mas sim de 
nulidade absoluta, vez que ocorre um desrespeito à forma, o que poderia ser 
convalidado se feito de boa-fé. Mas apesar desse posicionamento contrário, é 
majoritário ainda o entendimento de que o casamento realizado por autoridade não 
habilitada é ato inexistente (TARTUCE, 2017, 86). 
 
Importante destacar que não há previsão normativa regulando ação de inexistência 
de casamento, o que é lógico, “pois o ato inexistente é um nada para o Direito”, mas 
mesmo assim, em certos casos, será necessária ação específica para afastar algum 
efeito deste ato que não existe (TARTUCE, 2017, 87). 
 
 
 
18 
 
3.2 Do casamento nulo 
 
Encerrado a análise do casamento inexistente, passa-se ao estudo do casamento 
nulo, instituto taxativamente previsto no art. 1.548 do Código Civil que, ocorrendo 
será decretado a nulidade absoluta do casamento. 
 
Prima face tem se a nulidade do casamento contraído por enfermo mental sem o 
necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil, previsão que estava 
alocada no inciso I do artigo em comento. A norma buscava proteger aqueles que não 
tinham vontade ou discernimento suficiente para compactuar com o ato a ser 
celebrado (MADALENO, 2016, p. 231) 
 
Todavia, tal hipótese foi revogada com o advento da Lei. nº. 13.146/2015, que 
modificou o art. 3º e 4º do CC/02, estipulando, em síntese, que todas as pessoas 
passam a ser, em regra, plenamente capazes para o Direito Civil, passando a ser 
absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil apenas os 
menores de 16 anos. Portanto, ficou afastada a nulidade do casamento por 
incapacidade mental (TARTUCE, 2017, p. 88/89). Foi no aporte da nova redação 
dada pela Lei 13.146/15 que assim decidiu a turma do Tribunal de Justiça do Rio 
Grande do Sul, aduzindo em síntese: 
 
APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA CASAMENTO. 
REQUERENTE QUE TEVE RECONHECIDA LIMITAÇÃO MENTAL EM 
ANTERIOR SENTENÇA DE INTERDIÇÃO. DEFERIMENTO DO PEDIDO. 
Sentença recorrida que foi proferida quando já estava em vigência a Lei nº 
13.146/15, que revogou a hipótese de nulidade do casamento de pessoa com 
deficiência mental, até então prevista no artigo 1.548, I do Código Civil e 
incluiu expressamente a possibilidade de casamento na hipótese em 
comento, nos termos do § 2º do 1.550. 
Caso em que é de rigor o deferimento da autorização para o casamento. 
DERAM PROVIMENTO. 
(TJRS - Nº 70070435912 (Nº CNJ: 0253785-24.2016.8.21.7000) 2016/Cível – 
Rel. Des. Rui Portanova). 
 
A segunda e última hipótese de nulidade prevista no art. 1.548 do diploma legal em 
comento é a do casamento celebrado com infringência a impedimento matrimonial, 
previsão que já foi analisada na primeira assertiva, quando do estudo das causas de 
impedimento matrimonial. Assim, será nulo o casamento se incidir em qualquer das 
dirimentes absolutas ventiladas no artigo 1.521, incisos I a VII, do Código Civil. 
Todavia, cumpre observar que, ainda que nulo de pleno direito o matrimônio atingido 
19 
 
por vício essencial de validade, o artigo 1.561 do Código Civil protege o cônjuge de 
boa-fé ao lhe reconhecer todos os efeitos do casamento até a data da sentença de 
nulidade (TARTUCE, 2017, p. 91/93). 
 
3.3 Do casamento anulável 
 
Por fim, ainda no amplexo da invalidade do casamento, têm-se os casamentos 
anuláveis, elencados no art. 1.550 do CC/02, estes encerrados em rol taxativo, não 
permitindo serem aventadas outras hipóteses que não daquelas já enumeradas no 
referido artigo. Por não ser de ordem pública, como a do casamento nulo, é possível 
a convalidação do ato, se retificado o que gerou a anulabilidade (MADALENO, 2016, 
p. 232). 
 
Será anulável o “casamento contraído por quem não completou a idade mínima para 
casar” (BRASIL, 2002). É a expressão in verbis do inciso I, pois de acordo com o 
artigo 1.517 do Código Civil é de dezesseis anos a idade nupcial mínima para 
casamento, havendo a necessidade de autorização de ambos os pais enquanto não 
atingida a maioridade civil dos dezoito anos de idade. Todavia, ainda que o 
contraente não tenha atingido a idade núbil para se casar, deste inciso o código civil 
abriu uma exceção no art. 1.520, especificamente para evitar a imposição ou o 
cumprimento de pena criminal e no caso de gravidez (MADALENO, 2016, p. 233). 
 
A pena criminal é relativa aos crimes de sedução, estupro e corrupção de menores, e 
o casamentoservia como causa de exclusão da punibilidade do artigo 107 do CP, 
entretanto, o artigo 5º da Lei n. 11.106/2006 revogou os incisos VII e VIII do artigo 
107 do Código Penal. Em seguida veio a Lei 12.015/2009 que foi determinante para 
afastar a hipótese de exceção no caso de evitar a imposição ou cumprimento de pena 
criminal, que conjugado com o novo art. 225, também do Código Penal, passou a 
prevê que havendo pessoa vulnerável, a ação penal do crime sexual é pública, logo, 
não há mais possibilidade de renúncia ou perdão tácito, que decorreria do ato 
incompatível com a pretensão de ver o agente punido, no caso, com a celebração do 
casamento (TARTUCE, 2017, p. 58). 
 
20 
 
Na esteira das novas determinações legais penais em detrimento da previsão civil, 
entendeu a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça: 
 
RECURSO ESPECIAL. CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. ART. 217-
A DO CÓDIGO PENAL. VÍTIMA MENOR DE 14 ANOS. PRESUNÇÃO 
ABSOLUTA DE VIOLÊNCIA. DÚVIDA SOBRE A PRÁTICA DE CONJUNÇÃO 
CARNAL. ALTERAÇÃO DO JULGADO. NECESSIDADE DE 
REVOLVIMENTO FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA N. 7 DO STJ. 
RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO. 1. No julgamento do REsp repetitivo 
n. 1.480.881/PI, de minha relatoria, a Terceira Seção desta Corte Superior 
sedimentou a jurisprudência, então já dominante, pela presunção absoluta da 
violência em casos da prática de conjunção carnal ou ato libidinoso diverso 
com pessoa menor de 14 anos. 2. No caso dos autos, o Tribunal de origem, 
em nenhum momento, reconheceu ter havido a prática da conjunção carnal e 
expôs a segunda tese (de presunção relativa de violência) apenas na 
aventada hipótese de ter havido o ato sexual. Vale dizer, a Corte de origem 
teve dúvida – devidamente fundamentada pela desarmonia da palavra da 
vítima com os depoimentos prestados pelas outras testemunhas – acerca da 
efetiva cópula vaginal (ou de qualquer outro ato libidinoso). 3. Para a 
desconstituição da conclusão alcançada pelo TJMG – afirmar que houve, 
sim, conjunção carnal entre a vítima e o recorrido – implicaria o reexame das 
provas acostadas aos autos, o que é vedado pela Súmula n. 7 desta Corte. 4. 
Recurso especial não provido. (STJ – REsp.: 1361564 MG 2013/0010777, 
Relator: Ministro Rogério Schietti Cruz, data de julgamento: 12/04/2016, T6 – 
SEXTA TURMA). 
 
Ainda da análise do inciso I, pelo artigo 1.551 do Código Civil, não será anulado o 
casamento por motivo de idade de que tenha resultado gravidez, por ser preferível 
manter a unidade familiar instituída, nos termos do art. 226, caput, da CF/88. Assim 
poderá ser convalidado o casamento contraído por menor, se de deste resultou 
gravidez. 
 
De gizar-se, no mesmo diapasão, o inciso II preconiza que será anulável o casamento 
“do menor em idade núbil, não autorizado pelo seu representante legal” (BRASIL, 
2002). Será anulável, pois o menor púbere, ou seja, aquele que tem entre 16 e 18 
anos é relativamente capaz, não carecendo mais de autorização judicial para se 
casar, mas sim apenas da expressa autorização de seus pais ou outro representante 
legal. Frisa-se que não observado esses termos, “o prazo para a propositura da ação 
anulatória é decadencial de cento e oitenta dias, ação que somente pode ser 
proposta pelo incapaz, por seus representantes legais ou por seus herdeiros 
necessários” (TARTUCE, 2017, 95). 
 
Cumpre observar que anulado o casamento, anula-se também a emancipação que 
nesse caso, é corolário do matrimônio, subsunção lógica pelo fato de que o que 
21 
 
ensejou a emancipação foi anulado e, portanto, perdeu seus efeitos. Ressalva-se por 
fim de que o casamento não será anulado se os representantes legais tiverem 
presenciado a celebração, bem como ter expressado de alguma forma a aprovação 
da realização desse (MADALENO, 2016, p. 234). 
 
Também, da codificação substantiva, extrai-se do inciso III que será anulável o 
casamento inquinado por vício de vontade ou do consentimento, ou seja, o erro 
essencial quanto à pessoa do outro cônjuge, bem como se essa se realizou sob 
coação moral. A análise desse vício deve ser feito no caso a caso, pelo comando do 
art. 152 do CC/02, levando em consideração o sexo, a idade, a experiência, a saúde 
e o temperamento do coagido conjugado com o art. 1.557 do mesmo diploma, que 
traz um rol de situações caracterizadoras do erro essencial sobre a pessoa. Em 
melhores palavras, esclarece Madaleno dizendo: 
 
O erro é uma falsa representação da realidade e faz com que uma pessoa 
acabe por manifestar uma vontade diferente daquela a ser realmente 
externada se tivesse conhecimento exato da situação. O erro vicia a vontade 
que não se fez livre e nem soberana, e, para determinar a anulação do 
casamento, o erro há de ser substancial, fundamental, para a manifestação e 
escusável, como ordena o artigo 139 do Código Civil (MADALENO, 2016, p. 
234/235). 
 
Em breve apontamento, considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro 
cônjuge, conforme esclarece o art. 1.557, “no que diz respeito a identidade, honra e 
boa fama do outro cônjuge, sendo esta uma informação de conhecimento ulterior pelo 
nubente e que torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado” 
(TARTUCE, 2017, p. 97). Aqui, pode-se citar, como exemplo os viciados em tóxicos, 
bem como os viciados em jogos de azar, entre outros. Também, considera erro 
essencial “a ignorância de crime anterior ao casamento e que por sua natureza torne 
insuportável a vida conjugal”, redação dada pelo inciso II. Aqui, não será necessário o 
trânsito julgado, mas tão somente a repercussão social, a ojeriza do crime. 
 
Ainda do cotejo do art. 1.557, é reputado erro essencial “a ignorância, anterior ao 
casamento, de defeito físico irremediável, que não caracterize deficiência, ou de 
moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou pela herança, capaz de pôr em risco 
a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência”. Aqui, tem-se situação, por 
exemplo, daquele que portador de DST`s, como sífilis, hepatite, AIDS, não informou 
ao cônjuge de sua condição antes do casamento. Note-se que o inciso IV do artigo 
22 
 
sub studio foi revogado pela Lei nº. 13.146/15 que “mencionava a ignorância, anterior 
ao casamento de doença mental grave que, por sua natureza, tornasse insuportável a 
vida em comum”. Neste passo, seria o exemplo de pessoa com esquizofrenia, 
paranoia entre outros, que pela referida lei, passou a ser capaz, tornando o 
casamento válido se ocorrido nessa hipótese (TARTUCE, 2017, p. 98). 
 
Nesse sentido, da compreensão do que vem a ser erro essencial, foi como decidiu a 
Primeira Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal: 
 
ERRO QUANTO À IDENTIDADE, A HONRA E BOA FAMA DO OUTRO 
CÔNJUGE, QUE TORNE A VIDA EM COMUM INSUPORTÁVEL, 
CONDUZINDO A SATISFAÇÃO DESSES PRESSUPOSTOS À 
INVALIDAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO TRADUZIDO NO ENLACE 
MATRIMONIAL ( CC , ART. 1.557 , I E II ). 4.APREENDIDO QUE, NO 
MOMENTO DO ENLACE, O VARÃO DESCORTINAVA CONDUTAS SOCIAL 
E PROFISSIONAL IRREPREENSÍVEIS, APARENTANDO SE TRATAR DE 
JOVEM PROMISSOR POR EXERCER E TER EXERCITADO RELEVANTES 
FUNÇÕES PÚBLICAS DECORRENTES DOS CARGOS EM COMISSÃO 
QUE OCUPARA, INDUZINDO À ESPOSA ESSA EXPECTATIVA, E QUE, 
PASSADOS POUCOS MESES DO ENLACE, VIERA A CONSORTE SER 
DESPERTADA PARA REALIDADE COM O COMUNICADO DA PRISÃO EM 
FLAGRANTE DO MARIDO SOB A ACUSAÇÃO DE ESTAR ENREDADO NA 
PRÁTICA DE FATO ILÍCITO TRADUZIDO NA TRAFICÂNCIA DE 
SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES, OS FATOS INDUZEM À O 
INVALIDAÇÃO DO CASAMENTO SOB O PRISMA DA SUBSISTÊNCIA 
DE ERRO ESSENCIAL SOBRE A PESSOA DO MARIDO (grifo nosso). 
5.APURADO QUE, ALIADO AO FATO DE QUE DESCONHECIA A VIDA 
CLANDESTINA DO MARIDO, OS FATOS QUE SE DESCORTINARAM, 
DENUNCIANDO SUA PERSONALIDADE E QUE ESTAVA ENVOLVIDO EM 
ATIVIDADESILÍCITAS CUJA GÊNESE ERA ANTECEDENTE AO 
CASAMENTO, ENSEJAM A QUALIFICAÇÃO DE QUE O ENLACE 
DERIVARA DE ERROESSENCIAL DA ESPOSA SOBRE A PESSOA DO 
CONSORTE E QUE OS FATOS EM QUE SE ENVOLVERA ELE, ALÉM DE 
AFETAREM A HONORABILIDADE E DIGNIDADE DO CASAL, TORNARAM 
A VIDA EM COMUM INSUSTENTÁVEL, POIS DESTRUÍRA QUALQUER 
CONFIANÇA QUE A ESPOSA PODERIA DISPENSAR AO CONSORTE, 
ENSEJANDO, ENTÃO, A INVALIDAÇÃO DO CASAMENTO NA FORMA 
AUTORIZADA PELO LEGISLADOR CIVIL. 6.APELAÇÃO CONHECIDA E 
PROVIDA. UNÂNIME. (TJ-DF – APC: 20120110468770 DF 0013385-
26.2012.8.07.0001, Relator: TEÓFILO CAETANO, Data de Julgamento: 
21/08/2013, 1ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE: 
02/09/2013. Pág. 61). 
 
Da coação moral, é possível colher o seus exatos termos da leitura do art. 1.558 do 
CC/02 no qual preleciona que “é anulável o casamento em virtude de coação, quando 
o consentimento de um ou de ambos os cônjuges houver sido captado mediante 
fundado temor de mal considerável e iminente para a vida, a saúde e a honra, sua ou 
de seus familiares” (BRASIL, 2002). Neste sentido, por simples hermenêutica literal, 
não serão consdierados coação moral para o matrimônio o temor de mal a bens ou a 
23 
 
pessoas que não seja da família do consorte contraente, bem como, o mero temor 
reverencial, conjugação do art. 1.558 c/c art. 153 do Código Civil vigente (TARTUCE, 
2017, 96). 
 
Arrimando essa hipótese, assim decidiu o Tribunal de Minas Gerais a um caso em 
que o nubente se apresentava em situação de debilidade emocional quando da 
celebração do casamento: 
 
CASAMENTO – NECESSIDADE DE EXISTÊNCIA DE VONTADE LIVRE – 
COAÇÃO EXERCIDA PARA FORÇAR SUA CELEBRAÇÃO – ANULAÇÃO – 
COABITAÇÃO – NÃO DESNATURAÇÃO DA COAÇÃO – Constituindo o 
casamento uma das formas de manifestação de contrato civil mais 
sérias e solenes, não pode prescindir de uma clara e definida vontade 
livre para a sua celebração, devendo ser anulado, portanto, quando 
restar comprovada a ocorrência de coação para forçar a sua realização 
(grifo nosso). A circunstância de o casal haver coabitado por cerca de 45 
dias, como marido e mulher, não desnatura a coação e nem lhe retira os 
efeitos previstos em lei, já que não traduz tal coabitação, acomodação ou 
assentimento ao casamento, cuja validade só poderia ser questionada após 
haver cessado o temor. (TJMG – AC 69.075 – 2ª C. – Rel. Des. Lellis 
Santiago) (JM 95-96/158). 
 
Por fim, de gizar-se que o prazo para anular o casamento nessa hipótese, sob vício 
de vontade, “é decadencial de quatro anos, contados da celebração do casamento”. 
Portanto, contrario sensu aos negócios jurídicos em geral, em que o termo inicial para 
o prazo decadencial é contado quando da cessação da coação, o prazo da coação 
aqui discutida será a parte da celebração do matrimônio. 
 
Trilhando os incisos do artigo sub studio, tem-se no inciso IV que haverá anulação do 
casamento “do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o 
consentimento”. Nesse diapasão adverte Tartuce (2017): 
 
Conforme ressaltado, essa previsão continua a englobar os ébrios habituais, 
entendidos como os alcoólatras, e os viciados em tóxicos (art. 4º, II, do CC, 
atualizado com a Lei 13. 146/2015). Todavia, o comando não incide mais 
para as pessoas com discernimento mental reduzido e aos excepcionais sem 
desenvolvimento completo, constantes do art. 4º, incisos II e III, da 
codificação, antes da recente alteração (TARTUCE, 2017, p. 99). 
 
Nessa hipótese, o prazo decadencial para aforar a ação anulatória é de cento e 
oitenta dias, com termo inicial a partir do casamento celebrado, como se infere da 
leitura do art. 1.560, caput e § 1º do CC/02. Por fim, imperioso destacar que, a lume 
da Lei. 13. 146/15, as pessoas com deficiência pode se casar livremente. 
24 
 
 
Na senda das hipóteses da anulabilidade do casamento, o inciso V previu que poderá 
ser anulado o casamento “realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro 
contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre 
os cônjuges” (BRASIL, 2017). A revogação prevista nesse inciso só terá efeitos se 
realizada antes da celebração do casamento, pois se ocorrer após, será considerado 
ato perfeito, logo, não passível de anulação, se feito de boa-fé. De igual modo a 
anulação não ocorrerá se mesmo que a revogação do mandato tenha sido feita antes 
da celebração do casamento, os consortes vieram a coabitar posterior ao matrimônio. 
 
Para intentar a ação anulatória nesse caso, o prazo também é de cento e oitenta dias, 
“contado a partir do momento que chegou ao conhecimento do mandante a 
realização do casamento”, sendo o marco inicial de contagem, não a celebração do 
casamento, mas sim a partir que o consorte outorgante tomou conhecimento do 
casamento, conforme art. 1.560, § 2º do CC/02. De gizar-se que de igual modo 
poderá ser anulado o mandato que não respeitou à forma e à solenidade que é 
exigida para a sua confecção, nos termos do art. 166, IV e V, do CC/02 (TARTUCE, 
2017, p. 101). 
 
Encerrando o rol regulado pelo art. 1.550, o inciso VI aduz que será anulável o 
casamento celebrado por autoridade incompetente. Todavia, a incompetência tratada 
nesse inciso, é a incompetência relativa, vez que o casamento celebrado por 
autoridade absolutamente incompetente será ato inexistente, conforme se viu do 
questionário anterior. No tocante a incompetência relativa preleciona Tartuce: 
 
[...] trata apenas de incompetência relativa em relação ao local (ratione loci). 
A título de exemplo, pense-se o caso de um juiz de paz de uma determinada 
localidade que realiza o casamento em outra, fora de sua competência. Aqui 
também se enquadra a incompetência ratione personae, quando o substituto 
do juiz de casamento for incompetente (TARTUCE, 2017, p. 102). 
 
Ademais, para se anular o casamento realizado sob essa hipótese, o prazo 
decadencial é de dois anos, contados da data da celebração do casamento, nos 
termos do art. 1.560, II do CC/02. 
 
Diante de tudo que foi colacionado na segunda questão é possível verificar que o 
casamento inexistente e o casamento nulo tratam de situações de maior gravidade, 
25 
 
que não pode ser retificado, enquanto que o casamento anulável cuida de situações 
menos gravosas, podendo ser convoladas. O casamento inexistente não tem 
previsão legal, encontrando amparo na doutrina e na jurisprudência, lado outro, o 
casamento nulo está previsto no art. 1.548 e o casamento anulável no art. 1.550, 
ambos do Código Civil vigente. 
 
Em apertada síntese, o casamento será inexistente se houver ausência de vontade e 
se o casamento for celebrado por autoridade totalmente incompetente. 
Diametralmente o casamento será nulo se ocorrer infringência a impedimento 
matrimonial, vez que a Lei 13. 146/15 afastou a nulidade de casamento contraído por 
enfermo mental sem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil. 
E será anulável o casamento de quem não completou a idade mínima para casar, 
bem como do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante 
legal. Igualmente anulável será o casamento realizado por vício de vontade, e do 
incapaz de consentir ou manifestar de modo inequívoco o consentimento, também se 
realizado por mandatário sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação 
do mandato e não sobrevindo coabitação e por fim, será anulável o casamento 
realizado por autoridade relativamente incompetente. 
 
O casamento inexistente é considerado um nada para o direito, pois não gera efeitos 
no âmbito jurídico. Diferentemente a sentença de nulidade do casamento tem caráter 
declaratório, uma vez que reconhece apenas o fato que o invalida, produzindo efeitos 
extunc. O casamento anulável gera efeitos erga omnis. 
 
A ação de nulidade é imprescritível, não cessando jamais o direito de propô-lo, 
podendo ser alegada por qualquer interessado ou pelo Ministério Público. 
Diferentemente a anulabilidade é prescritível, sendo o seu prazo decadencial, tendo 
os seu termo inicial diferente em cada hipótese de anulabilidade, conforme arrolado 
nos incisos do art. 1.560 do CC/02, podendo ser requerido pelas partes diretamente 
interessadas no ato. 
26 
 
4 José poderia ter dois casamentos válidos ao mesmo tempo? 
 
Não, não poderia. Conforme se depreendeu quando da análise dos impedimentos do 
casamento, a legislação brasileira é clara ao expressar no inciso VI, do art. 1.521 do 
Código Civil, que não podem casar as pessoas casadas, impedimento decorrente do 
vínculo matrimonial e esta só se dissolvem pelo divórcio, pela morte, ou pela 
anulação ou nulidade do casamento, de sorte que ninguém pode contrair outro 
matrimônio enquanto não findar legalmente a sua relação precedente. 
27 
 
5 Caso fosse verificado que o primeiro casamento celebrado foi 
com a mulher do Rio de Janeiro, qual seria a consequência 
jurídica para o casamento celebrado entre José e a mulher de São 
Paulo? 
 
O corolário do casamento realizado sob uma das formas de impedimento é a nulidade 
absoluta do segundo casamento, logo, da conjugação do inciso VI do artigo 1.521 
com o artigo 1.548, ambos do Código Civil, o casamento entre José e a mulher de 
São Paulo seria declarado nulo. 
 
Todavia, seria protegida a boa-fé putativa desta, pois ela, conforme noticia o texto, 
não sabia do outro casamento, incidindo os efeitos do § 1º do artigo 1.561 do Código 
Civil, que aproveitam ao cônjuge de boa-fé até o dia da sentença de nulidade, os 
efeitos do casamento. 
28 
 
REFERÊNCIAS 
 
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em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 27 de 
out. de 2017. 
 
BRASIL. Lei nº. 13.146 de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão 
da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Disponível em: 
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso 
em: 27 de out. de 2017. 
 
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 
4.277. Relator: Min. Ayres de Britto. Brasília, 05 de maio de 2011. Disponível em: 
<https://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/20627236/acao-direta-de-
inconstitucionalidade-adi-4277-df-stf>. Acesso em: 27 de out. e3 2017. 
 
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº. 1361564. Relator: Min. 
Rogério Schietti Cruz. Brasília, 12 de abril de 2016. Disponível em: 
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/340001957/recurso-especial-resp-1361564-
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DISTRITO FEDERAL. Tribunal de Justiça. APC: 20120110468770. Relator: Des. 
Teófilo Caetano. Brasília, 21 de agosto de 2013. Disponível em: <https://tj-
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MADALENO, Rolf. Direito de Família. 7 ed. Rio de janeiro: Forense, 2016. 
 
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº. 1.0518.10.025538-0/001. 
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MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº. 1.0105.14.004668-8/001. 
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Barros Levenhagen. Belo Horizonte, 09 de julho de 2015. Disponível em: 
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Apela%C3%A7%C3%A3o-c%C3%ADvel-transcri%C3%A7%C3%A3o-de-casamento-
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Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/113390391/apelacao-civel-
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29 
 
 
RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº. 70070435912. 
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RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça. Apelação Cível n° 590001350. Relator: 
Des. Adroaldo Furtado Fabrício. Porto Alegre, 19 de fevereiro de 1991. Disponível 
em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5333283/reexame-necessario-reex-
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SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº. 2007.007873-6. Relator: 
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https://tj-sc.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/6095857/apelacao-civel-ac-78736-sc-
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2017. 
 
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº. 0013076-79.2010.8.26.0604. 
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Apelado: O juízo. Relator: Des. Silvério da Silva. São Paulo, 12 de março de 2014. 
Disponível em: < https://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/121557923/apelacao-apl-
130767920108260604-sp-0013076-7920108260604/inteiro-teor-121557932>. Acesso 
em: 27 de out. de 2017. 
 
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: Direito de Família. 12. ed. v. 5. Rio de Janeiro: 
Forense, 2017.

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