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O PROCESSO PENAL NO BRASIL COLÔNIA O sistema jurídico que vigorou durante todo o período do Brasil Colônia foi o mesmo que existia em Portugal: tratava-se de um corpo jurídico complexo desenvolvido por influência dos códigos romanos e visigóticos. As Ordenações do Reino eram compilações das leis de Portugal e fundamentavam a estrutura judiciária do Ancien regime. Ordenações reais As Ordenações Reais se constituíram nas: a) Ordenações Afonsinas (1446): Afonso V b) Ordenações Manuelinas (1521): Manuel I c) e, por último, fruto da união das Ordenações Manuelinas com as leis extravagantes em vigência, as Ordenações Filipinas, que surgiram como resultado do domínio castelhano. Ficaram prontas ainda durante o reinado de Filipe I, em 1595, mas entraram efetivamente em vigor em 1603, no período de governo de Filipe II. Ordenações afonsinas (1446) O primeiro conjunto normativo-penal que vigorou no Brasil foi composto pelas Ordenações Afonsinas, do século XV, cujo modelo estava no Corpus Iuris de Justiniano, apresentando claro conteúdo de Direito Romano. Ordenações Manuelinas (1521) As Ordenações Afonsinas foram substituídas pelas Ordenações Manuelinas, mantendo muitas das disposições anteriores. Ordenações Filipinas (1595) Durante o reinado de Felipe II foram editadas as Ordenações Filipinas, única das três Ordenações do Reino que teve aplicação efetiva no Brasil, tendo vigência até o advento do Código Criminal do Império, em 1830. Estruturação da Justiça no Brasil Colônia 1533-1535: Convencido de que a povoação permanente era o único modo de assegurar a posse do Brasil contra rivais estrangeiros, D. João III, Rei de Portugal entre 1521-1557, dividiu o território brasileiro em 15 (quinze) partes entre 1533-1535 e doou os respectivos territórios a 12 (doze) fidalgos portugueses. A carta de doação concedia aos proprietários ampla jurisdição civil e criminal, a ser exercida por pessoas que eles nomeassem: um magistrado superior (Ouvidor) e outros funcionários da Justiça: escrivães, tabeliães e meirinhos. Era possível a nomeação de um segundo ouvidor naqueles casos em que o crescimento da população justificasse. Apesar de não se constituírem em poderes propriamente feudais, eram retrógrados (semelhantes às justiças senhoriais) e não colaboravam para a consolidação do poder real. 1549: vendo que este sistema de colonização implantado não dava resultados, D. João III criou um governo geral para o Brasil. A nova distribuição de poder ocorreu da seguinte forma: Governador-Geral, chefe do governo e centro administrativo; Provedor-Geral, dirigindo as finanças; Capitão-Mor da Costa, encarregado da defesa do litoral e, mais tarde, um Alcaide-Mor, tendo o comando das armas; Ouvidor-Geral, presidindo a Justiça. Assim, pressionado pelo fracasso dos proprietários em razão da ineficácia na administração da justiça e na colonização, em 1549, D. João III centralizou o governo do Brasil na figura do Governador-Geral, provendo essa nove forma de governo de funcionários apropriados. O primeiro Governador-Geral nomeado foi Tomé de Sousa. Junto com o Governador-Geral veio o Desembargador Pero Borges, que desempenhou a função de administrador da Justiça, no cargo de Ouvidor-Geral. A esse governo geral, situado na cidade de Salvador, ficaram sujeitas todas as capitanias. 1500-1580: Desembargo do Paço Casa da Suplicação Ouvidor-Geral Ouvidor em cada Capitania Tribunal da Relação da Bahia 1573: no reinado de D. Sebastião, o Brasil foi dividido em dois governos gerais, um para o Norte, cuja capital era Salvador, outro para o Sul, cuja capital era o Rio de Janeiro. Em fins da década de 1580 surgiu o projeto de instalação de um tribunal no Brasil. A criação da Relação da Bahia, determinada em 1588, foi, contudo, obstada, pela força dos ventos e das marés, que dispersaram a frota responsável pela condução dos primeiros desembargadores. 1609: A Relação da Bahia foi efetivamente criada em 7 de março de 1609 como um tribunal de apelação na colônia, à semelhança da Relação de Goa, estabelecida em 1554. Na verdade, a Relação de Goa, foi primeiro tribunal de apelação estabelecido fora dos limites de Portugal, numa tentativa de reduzir o volume dos processos e agilizar a aplicação da justiça nas possessões ultramarinas. Segundo o regimento de 1609, a Relação da Bahia era presidida pelo Governador-Geral do Estado do Brasil, e sua estrutura era composta de dez desembargadores. Tribunal da Relação do Rio de Janeiro 1751: A Relação da Bahia manteve-se como o único tribunal superior da colônia até 1751, quando foi criada a Relação do Rio de Janeiro. Passariam as duas relações a dividir a jurisdição do Estado do Brasil, cabendo ao Rio de Janeiro todo o território ao sul da Bahia 1808: Com a chegada de D. João VI ao Brasil (fugindo das invasões napoleônicas), a Relação do Rio de Janeiro foi transformada em Casa de Suplicação, pelo alvará de 10 de maio de 1808, sua jurisdição passou a incluir também os agravos ordinários e as apelações do Pará, Maranhão, ilhas de Açores e Madeira, bem como os da Relação da Bahia, que até então eram remetidos para a Casa de Suplicação de Lisboa. Processo Penal no Brasil Imperial Proclamada a independência em 1822, o Brasil continuou a reger-se pelas leis e demais atos da metrópole portuguesa, conforme determinou a Assembleia Constituinte, pelo art. 1º, da Lei de 20 de outubro de 1823, enquanto não se organizassem novos códigos ou não fossem revogados aqueles atos legislativos. Assim, continuaram a vigorar as Ordenações Filipinas, cujo livro V se ocupava, especialmente, em seus 143 títulos, dos crimes, das penas e do processo penal. Constituição de 1824 1824: Com o advento da primeira Constituição do Brasil, outorgada por D. Pedro I em 25 de março de 1824, o artigo 179, n. XVIII, instituía: “Organizar-se-ha quanto antes um Código Civil, e Criminal, fundado nas bases solidas da Justiça e Equidade.” Essa orientação constitucional espelhava as transformações que ocorriam no sistema penal europeu (continental), incorporadas pelo Império brasileiro. Isso porque, com a perspectiva de estruturação do Estado brasileiro nos moldes europeus e norte-americanos, os crimes já não podiam ser considerados uma falta moral ou religiosa, mas deveriam ser, precisamente, a violação à lei do Estado (infração penal), que necessitava de tecnologias de disciplina mais eficazes contra os que desafiavam as ordens legais e não se submetiam à administração do Estado. Códigos E assim surgem o Código Penal (1830) e o Código de Processo Criminal no território brasileiro. A elaboração desses diplomas legais contou, sobretudo, com a participação de bacharéis egressos dos cursos da Universidade de Coimbra, em Portugal, trazendo para a administração e para justiça os ideais iluministas europeus, base das transformações que ocorriam no campo do Direito na Europa na transição do século XVIII para o XIX. Código de Processo Criminal 1832: Complementando o Código Penal de 1830 e as instituições policiais criadas, após a abdicação de D. Pedro em 1831, o Código de Processo, de 1832, consagrou as conquistas mais avançadas com relação à justiça criminal: enfatizando a criação de instituições locais, funcionários eletivos e justiça independente, o código processual confiou aos juízes de paz as funções básicas de repressão criminal e procedimento penal. As funções do juiz de paz, cargo criado em 1827, foram bastante ampliadas pelo Código. Os juízes, eleitos pelos cidadãos ativos da localidade, passaram a exercer, também, o papel de polícia local, com o poder de prender, formalizar a culpa e julgar. Em casos de urgência podiam convocar a Guarda Nacional e a polícia.Acima do juiz de paz, instituiu-se a figura do juiz municipal, escolhido pelo presidente da Província. O fortalecimento da figura dos juízes de paz, entretanto, desagradou a vários setores da sociedade, que criticavam a atribuição de tanto poder a homens nem sempre instruídos e quase sempre sujeitos aos interesses dos grandes proprietários de escravos e terras que os elegiam. Reformas de 1841 e 1871 O Código de Processo Criminal foi alterado duas vezes. A primeira reforma ocorre logo apos D. Pedro II assumir o trono, aos 14 anos, sendo editada a Lei 261, de 3/12/1841: a reforma subtraiu dos juizes de paz as atribuições de investigar para entregá-las aos chefes de Policia e seus delegados. Naquele momento da historia o fortalecimento do aparato policial repressivo foi medida reacionária centralizadora. A reforma de 1841 fortaleceu o aparato repressivo do Estado, numa época de crise na sociedade, agravada por rebeliões que agitaram o país com abdicação do primeiro imperador em 1831. Os liberais estavam profundamente descontentes e iniciou-se em 1845 um movimento para nova reforma que só viria a se concretizar em 1871. Foi a Lei n.º 2.033, de 20/09/1871 que criou o inquérito policial como forma de se proceder na instrução preliminar. A Lei n.º 2.033 foi regulamentada pelo Decreto 4.824, de 28/11/1871, que definiu o inquérito policial, no seu art. 42: “O inquerito policial consiste em todas as diligencias necessarias para o descobrimento dos factos criminosos, de suas circumstancias e dos seus autores e complices; e deve ser reduzido a instrumento escripto, observando-se nelle o seguinte”. Criação do Supremo Tribunal de Justiça A Constituição de 1824 representou um avanço na organização da justiça brasileira, estabelecendo a independência do Poder Judiciário e diretrizes sobre a criação de um tribunal superior (art. 163 da Constituição de 1824 ). O referido preceito constitucional foi cumprido com a sanção da Lei de 18 de setembro de 1828 pelo Imperador D. Pedro I, que dispôs sobre o Supremo Tribunal de Justiça e suas atribuições. A estruturação do poder judiciário só teve início em 1828, com a criação do Supremo Tribunal de Justiça, que foi instalado no ano seguinte com 17 juízes letrados, as principais atribuições eram conceder ou denegar revistas nas causas julgadas pelos tribunais da relação nas hipóteses de práticas de atos nulos ou de notória injustiça. Foi extinto com o advento da República, com a criação do Supremo Tribunal Federal, pelo Decreto nº 1, de 26.02.1891. Processo Penal no Brasil República O art. 34, § 23, da Constituição de 1891, implicitamente outorgou aos Estados-membros a competência para legislar sobre matéria processual, instituindo o pluralismo processual no Brasil. O Código de Processo Criminal do Paraná foi criado pela Lei 1.916, de 23 de fevereiro de 1920, sancionado pelo Presidente do Estado, Affonso Alves de Camargo, publicado na mesma data, compondo-se de 739 artigos e assentou-se no projeto elaborado pelo Professor Francisco Ribeiro de Azevedo Macedo. Os Estados, em geral, mantiveram com poucas variantes a organização judiciária e policial e o processo do tempo do império. As regras referentes à organização judiciária e ação penal estavam uniformizadas em âmbito geral, pela Constituição e pelo Código Penal da República (Dec. 847, de 11/10/1890), respectivamente. 1934: a Constituição de 1934 aboliu a possibilidade de os Estados terem o seu próprio Código, impondo ao país um novo estatuto, que ficou pronto em 1941. O Código de 1941 foi elaborado ainda sob a vigência da Constituição de 1937, durante o último período da Era Vargas, conhecido como Estado Novo.
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