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Sistema Acusatório. Histórico

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Histórico
Fonte: 
SILVEIRA FILHO, Sylvio Lourenço da. Introdução ao
Direito Processual Penal. 2 ed. Florianópolis: Empório do
Direito, 2015.
Precedentes
 Mesmo fazendo parte do Império Romano entre os
séculos I a V, a romanização na Inglaterra foi pouco
intensa.
 Somente no final do século VI que a Inglaterra se
converte ao cristianismo, com a missão de Santo
Agostinho, no ano de 596.
 O direito inglês até então era pouco conhecido e
somente depois da conversão é que as suas leis são
redigidas.
Appel of felony
 O primeiro instituto suficientemente definível
sob o plano processual é o appeal of felony: a
pessoa a quem se atribuía a prática de um crime
grave (felony) era formal e solenemente acusada
pela própria vítima (ou, em caso de homicídio,
pelos parentes da vítima) perante a autoridade
jurisdicional competente, que poderia ser
territorial (corte da centena ou do condado),
feudal ou eclesiástica e, excepcionalmente
resolvida pela Curia regis.
 Se o acusado não admitisse espontaneamente a
própria responsabilidade, a disputa era decidida
recorrendo aos instrumentos consuetudinários
dos juízos de Deus
Hue and cry
 Por este procedimento, era determinada a execução
imediata do acusado que, iniciando a prática de um
crime grave, fosse preso em flagrante ou capturado por
um grupo de habitantes da cidade ou do vilarejo após a
sua fuga; os indivíduos eram encorajados e instados a
perseguir o suposto autor dos fatos pelos pedidos de
socorro e clamores das vítimas ou testemunhas.
Batalha de Hastings (1066)
 A conquista normanda propiciou a realização de profundas
reformas que manifestaram a opção política da monarquia
inglesa, objetivando alcançar a efetiva supremacia sobre
todo o território do reino, mediante a afirmação da justiça
régia.
 Relação de vassalagem peculiar: unia diretamente o rei
(proprietário originário de todas as terras do reino) e seus
súditos, dentro de um edifício social e político tipicamente
hierarquizado, que aproximava os feudatários superiores ou
barões (lords, tenantes in chief) e reconhecia várias figuras
de vassalos inferiores (tenants); na base encontrava-se o
restante dos homens livres, enquanto que uma pequena
parte da população era de condições servis.
 Foram esses fatores específicos que permitiram o
desenvolvimento do common law, que é, por oposição aos
costumes locais, o direito de toda a Inglaterra.
Henrique II: o surgimento do 
Common law
O common law aparece com a estrutura que é conhecida
até hoje a partir do reinado da dinastia Plantageneta,
inaugurada por Henrique II, que ocupou o trono inglês no
período de 1154 até a sua morte, em 1189. Com ele se
inaugura processo técnico utilizado para requerer as
jurisdições reais de Westminter, possibilitado pelos
seguintes fatores:
 a) a tendente centralização da justiça;
 b) a extensão da competência das cortes régias em
detrimento das cortes baronais e territoriais;
 c) o uso sistemático dos writs;
 d) o frequente emprego do instituto do júri.
Formas de exercício da jurisdição
 No decorrer do século XII, o costume era ainda conservado como
a única fonte do Direito inglês, destacando-se os costumes locais
anglo-saxônicos, os costumes das cidades nascentes (borough
costums) e os costumes dos mercadores (principalmente de
Londres), chamados lex mercatoria (posteriormente ley
merchant, merchant law).
 Competia à assembleia dos homens livres a aplicação do
costume, através da chamada county court (corte do condado)
ou hundred court (corte da centena, subdivisão dos
condados).
 O rei exercia apenas a “alta justiça”, por meio da Curia regis, que
promovia o julgamento de casos excepcionais, como a ameaça à
paz do reino ou em determinadas circunstâncias em que se
configurasse a impossibilidade de efetivação da justiça pelos
meios ordinários.
Fracionamento da Curia Regis
A Curia regis era, portanto, a corte das grandes
personagens e dos grandes casos; tratava-se de uma
jurisdição extraordinária. Contudo, bem cedo foram
destacadas seções especializadas da Curia para se
ocuparem de determinadas matérias:
 a) o Tribunal do Tesouro (Scaccarium ou Court of
Exchequer), que apreciava questões de finanças e
fiscais;
 b) o Tribunal das Queixas Comuns (Court of Common
Pleas), que julgava questões entre particulares sobre a
posse da terra;
 c) o Tribunal do Banco do Rei (King’s Bench), juízo
itinerante, que julgava os crimes contra a paz do reino.
Assize de Claredon (1166) e a 
Assize de Northampton (1176)
 Writs emitidos por Henrique II, criando os respectivos
tribunais.
 A acusação pública em matéria criminal já não mais
deveria ser entregue a um funcionário do rei, porém à
comunidade local reunida, ou seja, a um júri.
 Assim, o dever de identificar e de acusar os autores de
delitos graves passa pertencer exclusivamente à
comunidade local – que, no caso de inobservância, era
sancionada em sua totalidade.
Petty Jury de acusação
 As circunscrições territoriais (hundred, em latim
centenea) em que eram subdivididos os condados
(county) do reino, eram obrigadas a formar o seu
respectivo júri (jury ou em latim iurata), que era
representado pela reunião de habitantes da
comunidade, obrigados sob juramento, a dizer a
verdade (vere dicere) e composto inicialmente por
12 homens livres (lawful men, em latim boni
homines), que posteriormente será chamado
Petty Jury de acusação.
Tarefa dos jurados
 Deveriam comparecer periodicamente perante os
juízes reais itinerantes (itinerant justices; no latim,
iusticiarii itinerantes ou errante), por ocasião das
visitas que eles regularmente eram obrigados a fazer
em circuitos predeterminados (circuits).
 Deveriam apresentar aos juízes itinerantes a lista dos
indiciados e de todos aqueles surpreendidos em
flagrante na prática dos delitos graves e informar-lhes,
sempre sob juramento, sobre qualquer pessoa acusada
ou suspeita de roubo, de homicídio, de furto, ou de
ocultamento de assaltante, assassino ou ladrão (§ 1 da
Assize de Claredon).
Indictment
 O ato de acusação que emanava do Petty Jury recebia o
nome de indictment (do latim indicare), seguindo daí
em diante, a tradição do processo inspirado pelos
juízos de Deus. Em regra, o juízo de Deus se
consubstanciava na forma da ordália da água.
 O Petty Jury das centenas não decidia sobre a culpa ou
inocência do acusado: era apenas um júri de acusação
(jury of presement).
Grand Jury de acusação
 Os júris das centenas foram gradativamente modificados
por um fórum mais amplo, formado por um número
superior de jurados, convocados a representar não somente
a centena perante o juízo régio, porém o condado inteiro.
 Esta assembleia do condado recebeu o nome de Grand Jury,
que conservou todas as funções do júri das centenas;
todavia, foi acentuado o seu papel decisório sobre a
acusação. Diversamente do Petty Jury de acusação, os
jurados não se limitavam a apresentar os acusados para
submetê-los aos juízos régios: deveriam determinar, de
tempos em tempos, caso a caso, se a acusação era
fundada e admissível e se subsistiam os pressupostos
mínimos para que os acusados ou suspeitos da prática
de um delito seriam processados. A deliberação ocorria
a portas fechadas, com uma maioria de 12 homens, que ao
fim foi estabilizado em 23 jurados.
Bills of indictment
 Para decidir se enviariam ou não o acusado a julgamento,
além de investigar o fato em sua memória histórica, os
membros do Grand Jury levavam em consideração as
informações recebidas oralmente ou mesmo na forma
escrita, através dos bills of indicment, que se
constituíam em documentos apresentados aos
acusadores pelas vítimas dos delitos.
 Acaso os jurados considerassem verídicos (true) os
conteúdos de determinado bill, anotavam no seu verso a
expressão “billa vera” e exerciam a acusação; do contrário,escreviam “ignoramus” e encerravam o processo.
Surgimento do Júri de julgamento
 É entre o final do século XII e o fim do século XIII que se
verifica, no trial indicment, o nascimento e a consolidação
de um processo evolutivo de extraordinária importância,
que resultará no mais famoso e célebre dos instituos
ingleses e marcará indelevelmente a experiência histórica
do common law: o júri popular de julgamento.
 O fenômeno do recurso ao instituto do júri não somente
para apresentar os acusados aos juízes régios, porém para
decidir se o réu é culpado ou inocente (guilt or innocent),
começa ainda durante o reinado de Henrique II.
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 Naquele período, em cada centena, tem início a
convocação ocasional de um segundo corpo de jurados
– que eventualmente poderia ser composto também
por integrantes do jury of presement –, formado por 12
habitantes do lugar (ou vicini) e encarregados, no
decorrer de discussões iniciadas por um indicment ou
em seguida a um appel of felony, de emitir um vere
dictum nos casos criminais.
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 Em regra, o acusado deveria ter a iniciativa da sua defesa,
que era assegurada não mais mediante o submetimento aos
juízos de Deus, mas recorrendo ao testemunho dos jurados.
 Dizia-se que o acusado puts himself on the country (no
latim, ponit se super patriam), ou seja, submete-se ao
decisivo testemunho dos seus pares (vicini).
 O vere dictum do corpo de jurados possuía o valor de uma
verdadeira e própria prova e consistia, em boa medida,
numa espécie de declaração ou depoimento, sob
juramento, relativo ao quanto os 12 vicini sabiam e
acreditavam em relação ao fato imputado ao réu e, mais
precisamente, em relação à sua culpa ou inocência.
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 De qualquer modo, deveriam pronunciar um veredito seco
– “culpado” ou “inocente” –, pois os juízes itinerantes não
aceitavam o non liquet (ou seja, o não está claro). Aqueles
jurados que eventualmente não emitissem o veredito eram
detidos, sem direito a alimentação e qualquer fonte de calor
até que decidissem pronunciar um veredito formalmente
aceitável.
 O emprego desta segunda forma de júri (que assinala,
dentre outros fatores, um progressivo abandono dos juízos
de Deus), afirma-se de modo cada vez mais decisivo a partir
das primeiras décadas do século XIII, em particular após a
promulgação do cânone 18 do IV Concílio de Latrão de 1215.
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 O Statute of Westminter I de 1275 regulou a
possibilidade de recusa, pelo acusado, ao trial by jury;
entretanto, neste caso, o réu era detido numa prisão
para aí sofrer uma peine forte et dure, que consistia em
ficar nu, tendo os membros superiores e inferiores
atados e com um grande bloco de ferro colocado sobre
a sua barriga, sendo alimentado apenas de pão
bolorento e água suja.
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 De outro lado, naqueles casos em que o réu se
declarava inocente e resolvia submeter-se ao júri, os 12
jurados eram imediatamente convocados, depois de
sorteados numa lista (panel) formada por 48 a 72
nomes; os integrantes da panel eram escolhidos pelo
sheriff dentre os freeholders (titulares de terras não
submetidos à vínculos feudais) da centena durante as
sessões da Assize.
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 Em seguida, era colhido o juramento dos 12
componentes do Petty Jury e, então, o crier (oficial) da
corte, instava a quem quisesse apresentar as provas em
torno da acusação que se manifestasse, pronunciando
em voz alta – no inglês da época – a fatídica fórmula:
“if any can give evidence, or can saie any thing against
the prisioner, let him come nowe, for he standeth upon
his deliverance” (“Se alguém puder testemunhar ou
tiver algo a dizer contra o prisioneiro, que venha
agora, pois ele está sob julgamento”).
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 Dali em em diante, se efetivamente houvesse acusação, o
acusador, as testemunhas convocadas, após uma rápida
intervenção do presidente da corte e depois de os vicini
prestarem o juramento, era iniciada a instrução.
 Enquanto os jurados expunham as respectivas versões
sobre os fatos, o réu podia livremente interferir, rebater e
contraditar, defendendo-se em primeira pessoa.
 Era assegurado aos jurados o debate do caso entre si e com
o juiz, segundo a modalidade de discussão e de
contraposição dialética sintetizada pela ideia da
“altercation” (altercação, contenda, disputa).
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 Neste contexto, o acusado parecia obter vantagem tão
somente pela presença dos jurados e, em particular, por
alguma das características específicas do procedimento.
 A primeira pode ser identificada no instituto da recusa,
disciplinada por alguns estatutos, entre eles um de 1305 e
outro de 1351, que receberá o título de Challenge of Jurors
Act.
 Pela recusa, o acusado poderia obter um júri que lhe
parecesse, se não favorável, ao menos não hostil, recusando
de forma imotivada (peremptory challenge) até 35 jurados
(ou 20 jurados nos felonies).
Procedimento perante o Júri de 
julgamento
 Outros jurados poderiam ser recusados cum causa
(challenges to the polls) e existia ainda a possibilidade
de recusa da lista inteira, sustentando-se a ausência de
imparcialidade do sheriff que a organizou (challenge to
array).
 Já a segunda característica, mais importante e talvez
ligada à matriz ordálica do júri, consistia na
necessidade de unanimidade do veredito de
condenação entre os 12 jurados do Petty Jury,
sendo a decisão de absolvição definitiva e não
impugnável.
Separação do Júri
 Ao final do século XIII, o recurso ao vere dictum do
Petty Jury é assaz difuso e generalizado no território
inglês e, em 1351, através do já citado Statute Chalenge
of Jurors Act, o rei Eduardo III sanciona a
separação entre os dois institutos, estabelecendo
que os membros do Grand Jury de acusação (jury
of presement) não mais poderiam fazer parte do
Petty Jury de julgamento.
Modificação das funções do Júri
 O sistema medieval do júri formado por indivíduos
que tinham conhecimento dos fatos (ou que eram
instados a obter informações sobre eles) não poderia
sobreviver ao decurso do tempo, pois pressupunha
uma sociedade estática e uma forma de organização
social e territorial que estava sendo lentamente
dissolvida.
Modificação das funções do Júri
 Os jurados passam a possibilitar àqueles que
efetivamente tinham presenciado o crime – a começar
pela própria vítima – comparecessem na audiência
perante a corte para que relatassem o que havia
ocorrido, sem que o júri nada soubesse do caso
discutido.
 Tudo isso era tendencialmente concentrado numa
única cena (day in court) e, durante o ato, o acusador e
as testemunhas – no início, apenas as testemunhas de
acusação – eram ouvidos e as provas exibidas perante o
júri. Este modo de agir passou a ser adotado na metade
do século XV e se consolidou no período da dinastia
Tudor (séculos XV-XVI)
Modificação das funções do Júri
 Com isso, por iniciativa dos próprios jurados, o vere
dictum passou por uma modificação, transmutado-se
em verdict, que consistirá na definição da questão de
fato (issue of fact), e assim nas decisivas declarações de
inocência ou de culpa na prática de crime e a
consequente responsabilidade dos acusados.
 Em vez de ser um júri de prova, o Petty Jury torna-se a
instituição que deveria ouvir as testemunhas (oral
evidence) e poderia julgar apenas o que tivesse sido
objeto de prova.
Consolidação do Trial on
indictment
 Neste período, os trials on indictment eram efetivamente
céleres. O exame de cada caso singular durava pouco mais
de dez minutos e o corpo de jurados levava pouquíssimos
minutos para decidir. Era recorrenteque num só day in
court fosse discutida uma pluralidade de casos, muitas
vezes capitais (normalmente 6 ou ou 7, mas, algumas vezes,
até 12).
 Os jurados – que eram livres para fazer anotações –, após
acompanhar cada debate em sequência, preparavam numa
reunião única, o veredito para todos os casos
acompanhados. À leitura dos vereditos seguia, enfim, as
sentenças proclamadas pelo presidente da corte.
O Júri Moderno
 Foi no século XVIII que começou a ganhar forma a
moderna concepção deste notável instituto inglês,
devendo o júri, como órgão imparcial, silencioso e
passivo, embasar o seu veredicto exclusivamente
sobre as provas apresentadas e debatidas no
decorrer das audiências. Esta modificação ocorreu
de forma gradual e se consolidou de modo definitivo
no decorrer do século XIX.
 O desenvolvimento desse sistema peculiar e rigoroso
denota, acima de tudo, a força da centralização do
poder determinada pelo estilo de governo normando,
pois, naquele período histórico o regime inglês já era
absolutista (sendo o rei suserano), o que irá ocorrer na
Europa ocidental bem mais tarde.
 Por outro lado, era evidente que surgissem os embates
com os barões (grandes vassalos do rei) e, ainda, com a
Igreja, que mantinha sua autonomia judiciária, pois
não consentia em se sujeitar aos Tribunais reais; tanto
assim que Henrique II foi ameaçado de excomunhão
logo após a morte de Thomas Becket, bispo de
Cantenbury que, defendendo os interesses da Igreja
Católica, apresentou forte oposição ao rei.
A crise da coroa: Rei João I
 A grande crise experimentada pela coroa inglesa ocorre
no reinado de João I, o Sem-Terra, usurpador do trono
de seu irmão primogênito Ricardo, o Coração de Leão
(o verdadeiro sucessor de Henrique II, pai de ambos)
 Assim que assume o trono, João Sem-Terra institui um
novo imposto sobre os nobres que falhavam na sua
obrigação de fornecer soldados e material militar à
coroa, o que causou um enorme desagrado aos barões.
 Além disso, João Sem-Terra perdeu territórios sob
domínio inglês na França e criou um grande
desconforto com a Igreja na interfererência da escolha
do Arcebispo de Cantenbury, não aceitando o
candidato do Papa Inocêncio III, Estevam Langton;
esse ato lhe valeu a excomunhão em 1211, tendo ainda o
Papa colocado a Inglaterra sob interdito.
 João contratacou com o confisco dos bens eclesiásticos.
Porém, os barões haviam encarado a repreensão da
Igreja católica como um incentivo à revolta.
 Sem saída e objetivando não perder o apoio de Roma, o
rei submeteu-se ao Papa em 1213, e dividindo seu reino
em feudos à Santa Sé, torna-se vassalo do Sumo
Pontífice. Após o fracasso na tentativa de recuperar os
domínios ingleses perdidos na França, acaba por
enfrentar a rebelião dos barões, os quais obrigaram-
no, em 15 de junho de 1215, a assinar, outorgar e
jurar aMagna Charta Libertatum.
Magna Charta Libertatum
 Composta por 63 artigos, a Magna Charta Libertatum
define e confirma as prerrogativas e direitos
costumeiramente observados, seja dos senhores
feudais, da Igreja, das cidades e de todos os homens
livres contra o rei da Inglaterra.
 Formalmente, é de um documento bastante
semelhante aos acordos juramentados que eram
realizados entre senhores e vassalos, relativamente
frequentes no mundo feudal europeu; porém,
diferentemente do que ocorria em casos análogos,
sobretudo no continente, as concessões e as liberdades
impostas ao soberano foram estendidas a todos os
“homens livres”.
Nas matérias do direito penal e processual penal, as regras da
Magna Charta exprimem algumas linhas mestras, claramente
reconhecíveis a fim de definir as características da justiça penal
régia, em particular:
 o direito à proteção da lei e dos costumes pelo Reino através da
jurisdição régia;
 o direito de obter, com celeridade e gratuitamente, a justiça das
cortes régias;
 a proteção contra as decisões arbitrárias dos magistrados e dos
funcionários do reino;
 o direito de ser julgado pelos próprios pares ou pelos próprios
membros da comunidade;
 a subordinação à lei e ao juízo dos pares nos provimentos sobre
os bens e sobre a liberdade pessoal dos liberi homines;
 a proporcionalidade entre pena e delito, no mínimo na pena
pecuniária.
 E é assim que, no âmbito processual penal do common
law, temas como o reconhecimento e a efetividade dos
direitos, a celeridade dos julgamentos, a oralidade e a
publicidade do procedimento, a participação popular
na administração da justiça, a presunção de inocência,
o papel da defesa técnica, as regras probatórias, a
eficácia das sanções penais, etc. assumem singular
preeminência histórica.
 Franco Cordero: as técnicas estabelecidas na cultura do
ritual acusatório pressupõem um ambiente onde os
indivíduos detêm algo: corpos sociais com metabolismo
regulado, imunes à angústia, crises de identidade e seus
respectivos arrebatamentos. Trata-se de um método ligado
a pessoas psiquicamente sãs e, também, descomplicadas.
Tudo encontra-se no flair play. A partir daí, uma constante
formalística é detectável em tempos e lugares diversos.
Tanto mais pesam os ritos, quanto menos conta o órgão
judiciante. Operação pública, trial, debate: essa máquina
cênica exclui delongas, perplexidades, impasses; os
envolvidos exigem técnicas controláveis, discursos claros,
conclusões precisas e tempos breves.

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