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AULA 01. A PRIMEIRA GUERRA MUNDIALdocx

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AULA 01 – A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
Introdução
Nesta aula, veremos os fatores que levaram à Primeira Guerra Mundial, bem como o desenvolvimento deste conflito e seus efeitos, que marcariam não só a Europa, mas o mundo contemporâneo.
Ao final desta aula, você será capaz de:
1 - Definir os antecedentes da Primeira Guerra Mundial;
2 - Reconhecer as diversas fases do conflito;
3 - Analisar as mudanças geopolíticas do pós-guerra.
Para entendermos a Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e 1918, temos que, inevitavelmente, voltarmos ao panorama político e econômico da Europa no século XIX. 
 Estudamos este período em Contemporânea I, lembra?
Logo, sabemos que, no século XVIII, a Inglaterra fizera a Revolução Industrial  - e que foi a pioneira neste processo, mas não foi a única. Logo, os demais países europeus – e alguns fora do continente, como o Japão e os Estados Unidos – seguiram o exemplo inglês, na chamada Segunda Revolução Industrial do século XX.
A industrialização desenvolveu uma nova demanda, tanto de mercados consumidores quanto de matérias-primas. A Europa voltou-se, então, para os continentes que ainda não haviam se industrializado, notadamente, a África e a Ásia. Iniciava-se o imperialismo, uma política de colonização que caracterizaria toda a segunda metade do século XIX e estaria diretamente ligada a eclosão do mais sangrento conflito visto ate então: a Primeira Guerra Mundial.
Reflexão: Qual a diferença deste conflito para os vários que eclodiram anteriormente e que tem tido lugar na Europa desde a Idade Moderna? Por que a Primeira Guerra Mundial inaugura um novo momento na História Contemporânea? Hobsbawm considera que podemos estabelecer o início do século XX, de fato, a partir de 1914, o que nos faz entender a importância deste conflito. Até então, ainda que tivesse passado por guerras, tanto interna quanto externamente, a Europa vivia, desde o século XIX, um período de paz relativa em seu próprio continente. Na Inglaterra, esse período ficou conhecido como Pax Britannica e compreende quase todo o reinado da rainha Vitória. A Belle Époque fortaleceu esta ideia, com o desenvolvimento cultural e um otimismo de que a ciência e as inovações tecnológicas iriam servir, cada vez mais, a propósitos pacíficos.
Não foi o que se viu. Esse período de prosperidade e paz aparente chegou ao fim com a Primeira Guerra. Nas palavras de Hobsbawm: “Tudo isso mudou em 1914. A primeira Guerra Mundial envolveu todas as grandes potências, e na verdade todos os Estados europeus, com exceção da Espanha, os Países Baixos, os três países da Escandinávia e a Suíça. E mais: tropas do ultramar foram, muitas vezes pela primeira vez, enviadas para lutar e operar fora de suas regiões. Canadenses lutaram na França, australianos e neozelandeses forjaram a consciência nacional em uma península do Egeu – “Gallipoli” tornou-se seu mito nacional - e, mais importante, os Estados Unidos rejeitaram a advertência de Washington quanto a “complicações europeias” e mandaram seus soldados para lá, determinando assim, a forma da História do século XX.
Indianos foram enviados para a Europa e o Oriente Médio, batalhões de trabalhadores chineses vieram para o Ocidente, africanos lutaram no exército francês. Embora a ação militar fora da Europa não fosse muito significativa a não ser no Oriente Médio, a guerra naval foi mais uma vez global: a primeira batalha travou-se em 1914, ao largo das Ilhas Falkland, e as campanhas decisivas, entre submarinos alemães e comboios aliados, deram-se sobre e sob os mares do Atlântico Norte e do Médio.”
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.  p. 31
Hobsbawm se refere, neste trecho, ao conselho de George Washington, primeiro presidente norte-americano, explicitado em seu testamento político, de 1796. Washington acreditava que os Estados Unidos deveriam evitar, ao máximo, as alianças entre países estrangeiros, que acabariam por comprometer a integridade do país que lutaria em guerras que não eram, na verdade, suas. Havia, então, preocupação em fortalecer a nação recém-independente, evitando, ao máximo, a politica bélica exterior. Isso significa que desde o século XVIII, o presidente via na Europa um continente em ebulição, propenso a guerras e queria, portanto, evitar perdas humanas e materiais em seu próprio país. Como vemos, esta política isolacionista preconizada pelo primeiro presidente não foi seguida, e após a Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos se envolveram nos mais diversos conflitos ao longo do planeta.
As grandes potências europeias eram, então, a Inglaterra, a França, a Rússia e a Alemanha. Tanto seus processos industriais quanto sua política imperialista foram diversificados, por diferentes motivos. A Inglaterra aproveitou por um longo tempo sua supremacia econômica e marítima, mas logo foi ameaçada pela Alemanha, cuja unificação, em 1871, transformara em um império forte cuja indústria baseava-se na formação de carteis. Economicamente, os grandes conglomerados estimulados pelo Estado alemão, seriam sólidos o bastante para fazer frente ao mercado inglês. Investindo na indústria pesada e estimulando a associações entre os bancos e as indústrias, a Alemanha deu um salto de desenvolvimento. A construção de uma intensa malha ferroviária tornou o país economicamente ágil e mais integrado. Além disso, logo se percebeu a necessidade de aprimorar a educação, voltando à formação de indivíduos capazes de promover grandes inovações, tanto tecnológicas quanto cientificas.
No caso francês, a industrialização voltou-se, sobretudo, para produtos de luxo, já que havia uma tradição em remeter a França como lugar de civilidade e sofisticação. Dessa forma, o mercado francês era único, e não entrava em concorrência com os ingleses, por exemplo. A Rússia é um caso à parte. Embora tivesse uma pequena industrialização, a maioria de sua população era camponesa. O sistema de governo era a monarquia czarista, totalitária e centralizadora. Era uma potência muito mais pelo seu tamanho e contingente populacional do que, propriamente, pela questão bélica. Esta situação valeu-lhe a alcunha de “gigante com pés de barro”.
Ao lado do investimento industrial, estas potências também buscaram fortalecer seus exércitos e suas indústrias bélicas. Não à toa, o período compreendido entre finais do século XIX até a eclosão da guerra ficou conhecido como Paz Armada. Havia o temor de que a disputa territorial e as questões internacionais originassem um conflito. O não esperado era que este conflito envolvesse tantos países e levasse 4 anos para ser resolvido. Diante desta conjuntura, foram empreendidas várias politicas de alianças, buscando evitar um conflito de grandes proporções.
1873: Otto von Bismarck, o marechal de ferro, que fora um dos principais responsáveis pela unificação alemã, firmou, em 1873, a Liga dos Três Imperadores, composta pela Alemanha, Rússia e Áustria-Hungria.
1878: A aliança proposta por Otto, porém, durou pouco. Sendo rompida em 1878, em grande parte devido ao desacordo entre a Rússia e a Áustria-Hungria acerca dos Balcãs.
1882: Foi firmada uma nova aliança, da qual a Rússia não mais faria parte, sendo substituída pela Itália. Este acordo foi chamado de Tríplice Aliança.
Em vista dos pactos políticos alemães, este país acabou se configurando em uma fonte de temor das demais potências, em especial, Inglaterra e França. A França guardava grande ressentimento devido à guerra franco-prussiana, ocorrida no final do século XIX e da qual saíra derrotada. Esta derrota implicou na perda territorial francesa, que teve que ceder a região da Alsácia-Lorena, rica em minério, para o Império Alemão. Esta perda motivou o chamado revanchismo francês, um dos fatores que levariam à Primeira Guerra.
1904: Temendo o avanço de um “inimigo comum” Inglaterra e França deixaram de lado as hostilidades históricas e se aliaram na Entente Cordiale, em 1904. A adesão da Rússia à entente deu origem à outra aliança,a Tríplice Entente. Configurava-se assim, o panorama político europeu, que acabou sendo dominado por dois poderosos blocos aliados.
As potências europeias disputavam mercados e territórios, já que a industrialização constante demandava cada vez mais recursos. Neste sentido, um dos principais fatores para a eclosão da guerra foi, sem dúvida, a política imperialista. Por ter se unificado tardiamente, Alemanha e Itália também entraram tarde na disputa de territórios e consideravam suas posses insatisfatórias, exigindo novos territórios coloniais. Algumas regiões estratégicas estavam no centro desta disputa. O caso mais notório é da região dos Balcãs, que era habitada por diversas minorias étnicas. Os alemães sufocavam as rebeliões destas minorias pela independência da região. Por outro lado, a Rússia estimulava esta independência, pois teria o poder da Alemanha diminuído e poderia fazer novos aliados no frágil equilíbrio político europeu.
O estopim da Primeira Guerra foi o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono Austro-húngaro.  Em 1914, em uma tentativa de acalmar os ânimos, Francisco Ferdinando viajou até Sarajevo, capital da Bósnia – que estava sob seu domínio – para consolidar a posse da região e legitimar a expansão da Áustria-Hungria.  Em junho de 1914, ele foi assassinado pelo sérvio Gavrilo Princip, que pertencia a uma organização nacionalista sérvia, denominada Mão Negra. Em represália, a Áustria-Hungria declarou guerra a Sérvia, que obteve apoio imediato da Rússia. Teve início o conflito. Este evento foi o estopim de um conflito iminente. Todo o quadro de alianças, apoios, invasões e anexações, oriundos da prática imperialista, foram, de fato, os fatores responsáveis pela eclosão da guerra. Ainda que tenha sido um evento que envolvesse, diretamente, Sérvia e Áustria-Hungria, não podemos esquecer que estes países estavam amparados por poderosas alianças – Tríplice Aliança e Tríplice Entente – que, por sua vez, tiverem que honrar seu compromisso político e envolver-se diretamente no conflito.
Tradicionalmente, identificamos duas fases na Primeira Guerra: a guerra de movimento e a guerra de posição, também chamada de guerra de trincheira. Alguns historiadores defendem haver ainda uma terceira fase, ofensiva, com a entrada dos Estados Unidos no conflito. A guerra de movimento, iniciada em 1914, marca a marcha alemã em direção à França. Para isso, foi necessário invadir a Bélgica, que até então, era neutra, para chegar ao território francês. Por essa razão, a Bélgica uniu seus esforços à Tríplice Entente, a fim de expulsar os alemães. Após vencer os franceses, os alemães se preparam para enfrentar o inimigo que julgavam mais temível, pela extensão de seu exército, a Rússia.
No final de 1914, teve inicio uma nova fase: a guerra de posição ou de trincheira. Cada exército avançava pouco. Os territórios conquistados tinham que ser arduamente mantidos. Milhares de soldados ficavam entrincheirados, em enormes condições de insalubridade, o que aumentava, sobremaneira, o número de mortos. Muitos soldados eram obrigados a passar dias em trincheiras lamacentas, sujeitos ao frio, à fome e às doenças, que matavam tanto quanto as balas do inimigo. Há muitos relatos deste período. Vários soldados – alemães, ingleses e franceses – escreviam as suas famílias, descrevendo os horrores da guerra. Muitos, não voltaram jamais a vê-las novamente. As condições das trincheiras: Os soldados dividam as trincheiras com ratos, cadáveres de seus companheiros, a fome, a lama e a umidade constante. As meias e as botas, sempre úmidas, permitiam a formação de inúmeras doenças, cuja mais temida era chamada de “pé de trincheira”. A circulação sanguínea dos pés entrava em colapso e levava à gangrena e a amputações. O conflito parecia não ter fim.
Em 1915, a Itália deixa a Tríplice Aliança e se alia a Entente. A ela haviam sido prometidos territórios do império Austro-húngaro, que, se derrotado, perderia parte de suas possessões. Em 1917, este panorama mudou. Embora, não seja uma fase, stricto sensu, alguns historiadores entendem este período como fase ofensiva. Foi marcada, sobretudo, pela saída da Rússia do conflito. Isso ocorreu porque, neste mesmo, ano foi deflagrada a Revolução Russa, que deporia o czar e instauraria um novo governo, não sem hostilidades.
Para lidar com sua própria guerra civil, a Rússia se retirou da Primeira Guerra, não sem prejuízos e enormes concessões. Além dos milhões de mortos – um dos fatores que provocaram o repúdio e a revolta da população russa – o governo, recém-empossado, assinou o Tratado de Brest-Litovsk, em que cedia à Alemanha parte de seu território, como a Estônia, a Lituânia, a Ucrânia e a Finlândia. A saída da Rússia parecia ser a oportunidade que os alemães esperavam para fortalecer seus bombardeios contra a Inglaterra. Mas a entrada definitiva dos EUA, na guerra, frustrou este intento. Embora apoiassem a Entente, os EUA ainda não haviam enviado tropas para o conflito, mas contribuíam, mandando suprimentos. Os alemães bombardearam navios norte-americanos e forçaram os EUA a assumir uma posição ofensiva. Foram então enviadas tropas e reforços militares decisivos para por fim ao conflito. A Alemanha acabara se isolando na guerra. Seus aliados, ou haviam abandonado a aliança ou estavam enfraquecidos com os anos de conflito. Em novembro de 1918, diante da superioridade dos aliados da Entente, foi assinado o Armistício de Compiègne.
A paz seria definitivamente selada, em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes.  O presidente norte-americano, Wodrow Wilson, era a favor de uma guerra sem vencedores e para isso estabeleceu os 14 Pontos de Wilson, uma lista de proposições que buscava a harmonia entre as potências europeias. Nela, pregava-se a criação de um órgão internacional, para mediar as questões diplomáticas internacionais. Mas o Tratado de Versalhes – embora tenha realmente implicado na criação da Liga das Nações – foi, sobretudo, um instrumento que subjugava e humilhava a Alemanha, que foi responsabilizada pelo conflito que dizimara milhares de pessoas. O país perdeu uma enorme parte de seu território, além de suas colônias, que foram distribuídas aos países aliados.
A Alemanha pós-guerra estava destroçada. As indenizações e a perda territorial conduziram o país à falência. O desemprego e a inflação levaram a população a um estado de fome e miséria. É neste contexto, sob as humilhantes condições de Versalhes, que emergem os movimentos nacionalistas, dentre os quais se destacaria o nazismo. Foi obrigada a pagar pesadas indenizações aos vencedores, principalmente à França e à Inglaterra. Suas forças armadas foram reduzidas ao mínimo e a força aérea alemã, extinta, além de ter sido proibida de produzir armamentos pesados. O Segundo Reich havia terminado e inaugurava-se o período da República de Weimar. Por essa razão, podemos localizar, no fim da primeira Guerra Mundial, as razões para a eclosão da Segunda Guerra.
A guerra terminava com um saldo de 9 milhões de mortos e mais do que o dobro deste numero de feridos. A intensidade do conflito pode ser notada pelo uso de novos armamentos e tecnologias, como os tanques, as metralhadoras e o uso do avião para fins militares. Os Estados Unidos saem do conflito fortalecidos e afirmam sua posição como potência do mundo Ocidental, salientada pelo enfraquecimento europeu. Ainda que tenham vencido, França, Inglaterra, Bélgica e outros países, que haviam se envolvido na luta, tiveram suas economias desorganizadas e precisavam reconstruir-se política e economicamente, o que acentuava a predominância dos norte-americanos, já que não havia ocorrido nenhuma batalha em seu território. E, em 1932, o brasileiro Alberto Santos Dumont suicidava-se no Guarujá, estado de São Paulo. O inventor não deixou nenhuma nota ou carta explicando as razões para seu ato, mas estima-se que tenha ficado devastado ao ver sua mais querida invenção, o avião, sendo usado para fins bélicos. A primeira Guerra Mundial faziamais uma vítima.
https://novahistoriacritica.blogspot.com.br/2012/01/as-consequencias-da-guerra.html

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