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( 8 ) Administração do Passivo Circulante Renata Ferreira A administração financeira de curto prazo, além de se preocupar com os investimentos em Ativo Circulante, deve analisar as fontes para financiar tais ativos. A estrutura ótima seria que recursos de capital próprio e de capital de terceiros de longo prazo financiem ativos não circulantes e os ativos cir- culantes permanentes (necessidades permanentes), ficando as fontes de financiamento de curto prazo para financiar os ativos circulantes temporários (ou necessidades sazonais). Na prática, a estrutura ideal nem sempre acontece. A tendência é que as empresas busquem fontes de curto prazo para financiares ativos circulantes, sejam eles permanentes ou sazonais, utilizando os recursos de longo prazo e capitais próprios para financiar ativos não circulantes. Dado o peso 254 G es tã o fin an ce ir a dos recursos de curto prazo como fonte de financiamento, cabe ao gestor financeiro a busca por estas fontes de recursos, objetivando a diversificação da carteira e a redução do custo das operações. O objetivo desta unidade é estudar as diversas fontes de recursos de curto prazo utilizadas no mercado brasileiro, com destaque para as operações comerciais, diversas formas de crédito bancário e títulos no mercado de capitais. Passivos Espontâneos Os passivos espontâneos originam-se com o anda- mento normal das operações da empresa. As principais fontes espontâneas de financiamento de curto prazo são: des- pesas a pagar e crédito comercial (contas a pagar junto a for- necedores). Geralmente, estas fontes espontâneas não geram despesas financeiras, ou seja, não há a incidência de juros pelo financiamento. São fontes de financiamento diretamente ligadas às vendas. Se as vendas da empresa aumentam, os gastos com fornecedores também aumentam em resposta às com- pras cada vez maiores, necessárias para produzir em níveis mais altos para atender a expansão das vendas. As despe- sas a pagar também tendem a aumentar com a expansão das vendas, visto que os salários crescem com as necessidades maiores de mão de obra para produção e vendas; os impostos crescem em virtude do aumento da mão de obra, das vendas e por causa do crescimento dos lucros. Gestão de Contas a pagar (crédito de fornecedores) O crédito de fornecedores representa a principal fonte de crédito comercial utilizada para financiar o capital de giro. Resulta de transações nas quais ocorrem compras de A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 255 mercadorias a prazo. Lemes Jr. et al (2010) enumeram diver- sas vantagens na utilização do crédito de fornecedores, den- tre elas: • Adequação: O valor do crédito comercial é estabe- lecido de acordo com o nível de atividade da empresa. Maior volume de vendas gera maiores compras e, por consequência, maiores volumes de crédito junto aos fornecedores, adequando os recursos às necessidades da empresa. • Fonte de crédito: A concessão de crédito faz parte das estratégias de vendas, e os fornecedores para ven- der precisam conceder crédito. Por isso, para a empresa sempre há a possibilidade de se conseguir recursos com esta fonte de financiamento. • Agilidade: As empresas são, em geral, menos buro- cratizadas e menos rigorosas na concessão de crédito do que as instituições financeiras, daí o crédito com fornne- cedores são normalmente mais fáceis. Também são menos rigososos nas penalidades em caso de atrasos de paga- mentos e mais flexíveis na necessidade de negociação. • Custos financeiros atrativos: Em termos gerais, o crédito comercial apresenta melhores condições para o tomador do que o crédito bancário. As compras a prazo podem ter custos financeiros explícitos ou não. Quando não está explícito, está inserido no preço da mercadoria. Uma forma de saber este custo é compa- rar o preço à vista com o preço a prazo. Como não há a incidência explícita de juros, o crédito com fornecedo- res não gera despesas financeiras. Segundo Gitman (2010), o objetivo da empresa é pagar tão lentamente quanto possível, sem prejudicar seu crédito. Isso significa que as contas devem ser saldadas no último dia 256 G es tã o fin an ce ir a possível, respeitando os prazos oferecidos pelo fornecedor. Com isso, a empresa está fazendo o uso máximo dos recursos do fornecedor (geralmente sem juros), sem prejudicar o cré- dito da empresa. Outro aspecto importante é o prazo concedido pelo for- necedor para o pagamento. É com este prazo que a empresa pode esticar o pagamento de suas compras e planejar o seu fluxo de caixa. Como geralmente no preço de compra já está refletido o custo do fornecedor, a empresa compradora está indiretamente pagando esse benefício. Por isso é importante analisar a relação preço x prazo para pagamento para deter- minar sua melhor estratégia de crédito comercial. Exemplo: A empresa “Pag Certo S/A” tem como principal forne- cedor a empresa ABC. O histórico da “Pag Certo S/A” mos- tra que as compras mensais são de 3.000 unidades e pagas à vista. O gerente financeiro identificou, ao elaborar o fluxo de caixa, dificuldades de caixa para os próximos três meses. As compras precisam ser realizadas para que as vendas não sejam prejudicadas. Cabe, então, ao departamento financeiro verificar qual alternativa de pagamento é mais vantajosa. O fornecedor ABC apresentou as seguintes possibilidades de pagamento: preço à vista R$ 68, preço para 30 dias R$ 71,40, preço para 60 dias R$ 76,40. A empresa traçou duas alternativas: Alternativa A: Comprar 3.000 unidades com prazo de 30 dias. Alternativa B: Comprar 3.000 unidades com prazo de 60 dias. Calcule o custo financeiro de cada alternativa e decida qual é a melhor alternativa. Resolução: O primeiro passo é calcular o valor final de cada alternativa. A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 257 Calculando o custo de cada alternativa: Assim, a melhor alternativa é o pagamento em 30 dias (Alternativa A), porque apresenta custo menor. Vamos lembrar como se calcula pela calculadora finan- ceira – HP 12C: Valor financiado À vista 30 dias 60 dias Alternativa A (204.000) - 214.200,00 - Alternativa B (204.000) - - 229.200,00 Alterantiva A Alternativa B FV = 214.200,00 FV = 229.200,00 PV = (204.000,00) PV = (204.000,00) n = 1 mês n = 2 meses i = ? i = ? i = 5% ao mês i = 6% ao mês Para Lembrar Este exercício pode ser resolvido pela fórmula dos juros compostos (FV = PV. (1+i)n, pela calculadora financeira ou pelo Excel. 258 G es tã o fin an ce ir a Gestão de Despesas a pagar A segunda espontânea de financiamento de curto prazo é representada por despesas a pagar, que são passivos gerados pela utilização de serviços cujo pagamento ainda não foi feita. Os itens mais comuns nesta categoria são: Crédito de impostos e obrigações sociais As empresas possuem prazos para recolher os impos- tos, contribuições e obrigações sociais devidos ao Governo em decorrência de sua atividade, tais como: Imposto de Renda (IR), Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), Contribuição para o Programa de Integração Social (COFINS), Programa de Integração Social (PIS), Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), entre outros. Estes prazos consti- tuem créditos sem custo para a empresa, sendo importante fonte espontânea de cobertura de capital de giro. No caso de problemas de caixa, existe a possibilidade de a empresa solicitar a dilatação dos prazosde pagamento e, nos casos de inadimplência, pode-se obter parcelamentos em condições vantajosas. Claro que os Governos não abrem mão da correção monetária e dos juros, por isso, é preciso anali- sar cada situação, pois além de um custo, situações deste tipo são arriscadas. Outros créditos operacionais Podemos incluir como fontes de crédito comercial, o pagamento de salários e compras por encomenda, por exem- plo. O pagamento de salários segue a legislação trabalhista e os acordos sindicais. A legislação estabelece o pagamento dos salários até o quinto dia útildo mês subsequente, a empresa A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 259 tem este período para “usar os recursos”. No caso de compras por encomenda, é comum a venda ou prestação de serviço com recebimento antecipado de parte dos valores. Crédito Bancário A captação de recursos de curto prazo através de cré- dito bancário é uma operação de empréstimo e pode ser feita junto a bancos comerciais, sociedades de crédito, financia- mento e investimentos (as chamadas financeiras) e os bancos de investimento. Por serem empréstimos, não há destinação específica para os recursos captados. O crédito bancário é uma fonte de financiamento nego- ciada e resulta da iniciativa do gestor financeiro (não é uma fonte espontânea). As operações de crédito bancário são for- malizadas através de contratos firmados entre o emprestador (a instituição bancária), o tomador do empréstimo (no caso a empresa) e eventuais avalistas. São operações que possuem exigências prévias, como o fornecimento de documentação legal, informações cadastrais e financeiras. É comum as empresas recorreram a empréstimos de curto prazo para cobrirem as necessidades sazonais, devido principalmente à acumulação de estoques e contas a receber. À medida que os estoques e contas a receber são convertidos em caixa, são gerados os fundos necessários para liquidar o empréstimo. Gitman (2010) denomina este tipo de empréstimo de autoliquidáveis, já que “o emprego do dinheiro empres- tado cria o mecanismo pelo qual o empréstimo é restituído”. Lemes Jr. et al (2010) descrevem as condições contratu- ais das operações de crédito bancário. São elas: • Valor: O valor da operação é expresso em moeda nacional, pode ser definido como um teto (limite) que o tomador vai usando conforme suas necessidades, ou ser liberado de uma única vez. 260 G es tã o fin an ce ir a • Custos: Representam os juros, comissões, taxas e demais despesas cobradas pela instituição finan- ceira. Podem ser cobrados antecipadamente ou não. Os juros podem ser fixos ou flutuantes (ou seja, pré ou pós-fixados). • Encargos: Os encargos tributários também consti- tuem um custo da operação e devem ser considerados na análise. • Prazo: Os prazos da operação devem ser adequa- dos às necessidades da empresa, podem ser diluídos em parcelas e em certas ocasiões ser estabelecido um período de carência. • Garantias: Em algumas operações são estabelecidas garantias exigidas pelo emprestador que irão contri- buir para reduzir o risco da operação. Estas garantias podem chegar a 50% acima do valor emprestado. Nos empréstimos comuns, a empresa capta recursos e paga em parcelas que podem ser fixas ou variáveis. As formas de pagamento de empréstimos e finan- ciamentos são chamadas de Sistemas de Amortização. A Amortização é um processo financeiro pelo qual uma dívida Vamos Recordar? Quando tratamos de parcelas iguais (fixas), os plano podem ser: postecipados (quando o primeiro pagamento ocorre no final do primeiro período, ou seja, na data 1); antecipados (quando o primeiro pagamento da série de prestações iguais ocorre no ato, ou seja, na data zero); diferidos (ou planos com carência – quando o primeiro pagamento ocorre em uma data superior ao primeiro período). A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 261 ou obrigação é paga progressivamente por meio de parcelas, de modo que ao término do prazo estipulado o débito seja liquidado. Estas parcelas ou prestações são a soma de duas partes: a amortização ou devolução do principal emprestado e os juros correspondentes aos saldos do empréstimo ainda não amortizados. O sistema mais utilizado pelas instituições financeiras e pelo comércio em geral é caracterizado por pagamentos de prestações iguais, periódicas e sucessivas. Este sistema é cha- mado de Sistema de Amortização Francês ou Tabela Price. A parcela dos juros é obtida pela multiplicação da taxa de juros pelo saldo devedor do período anterior e a parcela da amortização pela diferença entre a prestação e os juros. Desse modo, os juros são decrescentes e as amortizações crescentes. Prestação = Amortização + Juros Você Sabia? O sistema Price tem esse nome em homenagem ao eco- nomista inglês Richard Price, o qual incorporou a teoria dos juros compostos às amortizações de empréstimos no Século XVIII. 262 G es tã o fin an ce ir a Exemplo: Uma empresa fez um empréstimo de curto prazo no valor de R$ 100.000, à taxa de 10% ao mês, para ser liquidado em quatro prestações mensais. 1º Passo Calcular o valor das prestações (pode ser feito pela fór- mula, pela calculadora financeira ou pelo Excel). Usando a fórmula de prestações postecipadas: Montar a planilha de financiamento: • Juros = saldo devedor x taxa de juros / Neste caso: J = 78.452,92 x 0,10 = R$ 7.845,29 • Amortização = prestação - juros / Amortização = 31.547,08 - 7.845,29 = R$ 23.701,79 • Prestação Calculada na Etapa anterior • Saldo Devedor = Saldo Anterior - Amortização / Saldo Devedor = 78.452,92 - 23.701,79 Saldo Devedor = Período Juros Amortizações Prestações Saldo devedor 0 100.000,00 1 10.000,00 21.547,08 31.547,08 78.452,92 2 7.845,29 23.701,79 31.547,08 54.751,13 3 5.475,11 26.071,97 31.547,08 28.679,16 4 2.867,92 28.679,16 31.547,08 0 A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 263 R$ 54.751,13 Também é possível obter os valores da tabela price pela calculadora HP 12C: O primeiro passo é calcular a prestação na calculadora: Atenção! Sem apagar os dados do cálculo da prestação podemos calcular o saldo devedor após o pagamento da segunda par- cela, por exemplo: Além dos empréstimos comuns, as principais modali- dades de crédito bancário de curto prazo são: 264 G es tã o fin an ce ir a Desconto de títulos A operação de desconto de títulos, atualmente, também chamada de antecipação de recebíveis, envolve basicamente a negociação de um titulo representativo de um crédito de algum momento anterior à sua data de vencimento, ou seja, é a antecipação de recebimento de crédito através da cessão dos direitos a um banco (ASSAF NETO, 2010). Ao efetuar uma venda a prazo, as empresas emitem títulos (ou duplicatas ou boletos) correspondentes ao valor da venda e cuja função é ser o instrumento de cobrança da venda; se a venda for parcelada, serão emitidas tantas dupli- catas quantos forem os vencimentos e com os respectivos valores. As duplicatas tornam- -se títulos negociáveis e a operação de crédito de desconto de duplicata é a operação em que estes títulos são vinculados. A duplicata exerce, portanto, o papel de garantia ofe- recida pela empresa para a operação, pois é endossada ao banco, que passa a ter o privilégio do seu recebimento. Lemes Jr. et al (2010) descrevem que, apesar de apresen- tarem custos elevados, as operações de desconto são muito utilizadas por empresas em função das seguintes vantagens: • Reduzem ou evitam despesas de cobrançae há maior interesse do banco; • Facilitam e agilizam as operações de obtenção dos recursos, pois duplicatas de bons pagadores são facil- mente descontáveis; e • Como faz prévia seleção das duplicatas a serem negociadas, o banco auxilia na avaliação de crédito dos clientes; As operações de desconto praticadas pelos bancos comerciais costumam apresentar os seguintes custos/encar- gos financeiros: A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 265 Esses custos/encargos financeiros são referenciados, para o cálculo de seus valores, pelo critério dos juros simples. Já para a apuração do custo efetivo da operação é adotado o regime de juros compostos. A fórmula para apuração do des- conto bancário é: Sendo: D = valor do desconto N = valor nominal do título d = taxa de desconto n = prazo para o vencimento do título VL = Valor líquido Liberado = N – D Exemplo: Considere um título no valor de R$ 30.000 a ser descontado três meses antes de seu vencimento. A taxa nominal de desconto bancário é 3,5% ao mês e o IOF seja 1,5% ao ano. Calcule o valor liberado e o custo efetivo da operação. O custo efetivo da operação pode ser calculado de duas formas: . Relação entre os juros e o valor nominal do título. . É expressa, geralmente em termos mensais e empregada de forma linar (assim como os juros simples. Taxa de desconto (nominal) . Percentual calculado linearmente sobre o valor nominal do título e cobrado no ato da libera- ção dos recursos. Imposto sobre operações financeiras - IOF . Cobradas por muitas instituições visando cobrir certas despesas e abertura, concessão e controle do crédito. . Calculado de uma única vez sobre o valor do título e descon- tada na liberação dos recursos. Taxa administrativa D = N.d.n Valor nominal do título R$ 30.000 Desconto D = 30.000 x 0,025 x 3 = (R$ 3.150) IOF = 30.000 x 0,015 x 3/2 = (R$ 112,50) Valor líquido liberado R$ 26.737,50 266 G es tã o fin an ce ir a Método 1: Pela fórmula Transformando a taxa em mensal pela fórmula da taxa equivalente: Taxa equivalente: i = (1 + i)q/n - 1 Taxa equivalente = (1 + 0,12200)1/3 - 1 = 0,03912 Custo efetivo mensal = 3,91% ao mês Método 2: Pelo conceito de juros compostos FV = 30.000,00 PV = 26.737,50 n = 3 meses i =? Vamos calcular pela calculadora financeira – HP 12C: Para relembrar Pode ser resolvido pela fórmula de juros compostos FV = PV(1+i)n, pela calculadora financeira ou pelo Excel. A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 267 Desconto de uma carteira de títulos Raramente a empresa envia ao banco apenas uma duplicata. É comum a empresa efetuar o desconto de vários títulos, compondo-se o que se chama “borderô de duplica- tas”. A metodologia de cálculo pode ser realizada individual- mente, ou seja, calculando-se o desconto de cada título e no final soma-se os valores líquidos, ou podemos apurar o valor pelo conceito de prazo médio. Exemplo: Considere que uma empresa apresente ao banco para desconto o seguinte borderô de duplicatas: A taxa de desconto é de 3,2% ao mês, o IOF é de 1,5% ao ano. Qual o valor liberado e o custo efetivo da operação? O primeiro passo é calcularmos o prazo médio da ope- ração. Para calcular o prazo médio precisamos apurar N x n (valor do título x prazo): Duplicata Valor do título Vencimento A R$ 20.000 60 dias B R$ 15.000 45 dias C R$ 18.000 30 dias D R$ 12.000 25 dias E R$ 25.000 50 dias F R$ 30.000 75 dias Total R$ 120.000 Duplicata Valor do título Vencimento N x n A R$ 20.000 60 dias R$ 1.200.000 B R$ 15.000 45 dias R$ 675.000 C R$ 18.000 30 dias R$ 540.000 D R$ 12.000 25 dias R$ 300.000 E R$ 25.000 50 dias R$ 1.250.000 F R$ 30.000 75 dias R$ 2.250.000 Total R$ 120.000 R$ 6.215.000 Prazo médio = ∑N . n Prazo médio = 6.215.000 = 51,791 dias ∑N 120.000 268 G es tã o fin an ce ir a Podemos calcular o prazo médio pela calculadora HP 12C: Depois de calcular o prazo médio, basta apurar o des- conto considerando: N = total do borderô de duplicatas = 120.000,00 n = prazo médio = 51,791 dias d = 3,2% ao mês IOF = 1,5% ao ano Valor nominal dos títulos R$ 120.000 Desconto D = 120.000 x 0,032 x 51,791/30 = (R$ 6.629,25) IOF = 120.000 x 0,015 x 51791/360 = (R$ 258,96) Valor líquido liberado R$ 113.111,79 A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 269 Custo efetivo da operação: FV = 120.000 PV = 113.111,79 n = 51,791/30 i =? Custo efetivo = 3,48% ao mês Crédito Rotativo ou Conta Garantida Os créditos rotativos são operações simplificadoras da utilização de empréstimos junto aos bancos. Funcionam como uma conta corrente, com limite de crédito e prazo pre- estabelecido, dentro do qual a empresa pode efetuar saques a descoberto para atender suas necessidades de caixa, sem maiores burocracias (LEMES JR. et al, 2010), ou seja, repre- senta uma conta de saldo devedor, em que o cliente saca a descoberto e os juros são calculados periodicamente sobre o saldo médio utilizado (ASSAF NETO, 2008). Os encargos financeiros são elevados, porém são pagos apenas pelo período durante o qual a conta permanece deve- dora. A determinação dos encargos financeiros sobre os valo- res devedores é geralmente processada por capitalização simples por meio do denominado “método hamburguês”. O cálculo dos juros é feito pela fórmula: Sendo: J = juros do período SD = Saldo Devedor i = taxa de juros proporcional diária n = número de dias em que o saldo permanece devedor J = SD x i x n 270 G es tã o fin an ce ir a Exemplo: Considere que a empresa que apresenta uma conta garantida com limite de R$ 500.000, os encargos financeiros fixados para a operação são juros nominais de 5,5% ao mês, debitados ao final de cada mês, e uma taxa de abertura de cré- dito (TAC) no valor de 2% cobrada no ato e incidente sobre o limite. No período de utilização foram realizadas as seguin- tes movimentações: Dia 02: saque de R$ 200.000 (data de abertura da conta) Dia 13: saque de R$ 60.000 Dia 20: saque de R$ 120.000 Dia 26: saque de R$ 75.000 Calcule o total de jurosque serão cobrados no dia 30: Saldo de R$ 210.000 permaneceu entre os dias 02 e 13, portanto: dias em utilização = 13 – 2 = 11 dias Operações de Fomento Comercial - factoring As operações de fomento mercantil ou factoring cons- tituem uma modalidade de assistência financeira de curto prazo, cujos benefícios concentram-se potencialmente nas micro, pequenas e médias empresas, pela dificuldade de obterem acesso à oferta de recursos de giro pelo mercado. Representa a compra de direitos creditórios ou ati- vos, representativos de vendas mercantis a prazo (valores a Dia Movi- mentação Saldo Dias em utilização Juros 02 10.000 10.000 TAC ** TAC = 500.000x0,02=10.000 02 200.000 210.000 11 J=210.000x0,055x11/30=4.235,00 13 60.000 270.000 7 J=270.000x0,055x7/30=3.465,00 20 120.000 390.000 6 J=390.000x0,055x6/30=4.290,00 26 75.000 465.000 4 J=465.000x0,055x4/30=3.410,00 30 - Total de juros = R$ 15.400,00 A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 271 receber) das empresas produtoras. Segundo Assaf Neto (2010) esta atividade procura “reequilibrar o fluxo monetário da empresa carente de liquidez imediata, por meio da canaliza- ção dos valores aplicados e contas a receber (realizável) para seu disponível”. Lemes Jr. et al (2010) apresentam a definição legal de factoring, adotada pela Lei 8.991,de 20/01/1995: Factoring é a “prestação contínua de serviços ou de ala- vancagem mercadológica, ou de seleção de riscos, conjugada com a aquisição de créditos de empresas resultantes de suas vendas mercantis ou de prestação de serviços a prazo”. São operações em que as empresas realizam a trans- ferência efetiva de créditos emitidos contra clientes (duplica- tas a receber) para a Factoring (também chamado de Agente Factor), que assume o risco do não recebimento. Legalmente, não são consideradas operações de crédito, mas sim opera- ções de cessão de direitos. Ou seja, além da transferência dos valores a receber, ocorre a transferência dos riscos inerentes a estes ativos. São três os agentes envolvidos em uma operação de factoring: As principais modalidades de operações de factoring são: . Empresa compradora do bem ou serviço vendido pela empresa (cliente da factoring) Comprador . Cliente da empresa de fomento comercial - vendedora do bem ou serviço. Cliente . Empresa de fomento comercial - ou casa Factoring. Factoring 272 G es tã o fin an ce ir a Operações liquidadas no vencimento A empresa negocia seus valores a receber com a facto- ring e recebe a importância convencionada somente no ven- cimento dos referidos títulos, ou seja, não existe nenhuma antecipação de valores à empresa compradora. A empresa de factoring, além da garantia da operação, contribui com seus serviços de análise econômico-financeira das contas, análise de riscos e cobranças. As despesas são descontadas quando do pagamento do título. Esta modalidade também é chamada de maturity. É a denominação da modalidade convencional, bastante semelhante à operação de desconto de títulos. Assim como o desconto de duplicatas, empresa factoring antecipa o paga- mento dos títulos adquiridos pela empresa-cliente, porém a diferença é que não há o envolvimento de crédito e sim uma antecipação de valores futuros. O agente factor assume todos os direitos e riscos sobre o recebimento dos títulos. Adiantamento de títulos a serem emitidos É uma operação semelhante a um empréstimo de curto prazo para capital de giro. Envolve um adiantamento de recursos por conta de vendas ainda não realizadas. A empresa compromete-se a pagar a operação com duplicatas que serão emitidas no futuro. factoring contra a entrega de mercadorias Esta modalidade envolve um fornecedor de estoques, um vendedor de produtos (empresa-cliente da factoring) e um comprador. Recebendo a empresa-cliente um pedido de um comprador e não tendo em estoques os produtos para atender ao pedido, ela pode consultar o factor sobre a viabilidade de pagar seu fornecedor e o reembolso à casa de factoring ocor- rerá somente após a realização da venda. A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 273 Administração do caixa Esta modalidade, também chamada de trustee, ocorre quando a casa de factoring se torna gestora do caixa da empresa. Os custos das operações de factoring tendem a ser maiores do que de uma operação de empréstimo obtido junto às instituições financeiras, isso porque a casa de factoring assume o risco da inadimplência do devedor e, claro, cobra por isso. Nas operações convencionais, os custos e despesas envolvidos são: • Comissão de Factoring: visa cobrir as despesas ope- racionais de análise, seleção e cobrança de crédito. Geralmente, o pagamento desta despesa é efetuado mediante uma porcentagem fixa calculada sobre o valor nominal dos títulos negociados. • Juros por antecipações: são pagos antecipadamente e calculados de acordo com o critério de desconto ban- cário. A taxa de juros da operação depende das taxas de mercado e do risco da operação. • Reserva de caução: consiste na retenção do valor do adiantamento concedido à empresa-cliente e cal- culado sobre o valor nominal do título. Geralmente, varia entre 5% e 15% do valor nominal dos títulos, esta reserva é liberada quando do recebimento dos títu- los e é justificada para garantir a fidelidade dos títulos negociados. Existem diversos benefícios para as empresas que uti- lizam as operações de factoring: 274 G es tã o fin an ce ir a Vantagens das operações de factoring • Maior flexibilidade de financiamento: como o agente factoring é quem assume o risco da operação, sua preocupação maior é com o devedor e não com a empresa-cliente. Isso torna as operações mais flexí- veis, desde que o devedor seja uma empresa de repu- tação creditícia. Empresas que não se enquadram neste nível de reputação têm seus títulos recusados pelo agente factor. • Garantia de recebimento e consequente eliminação do risco. • Dispensa a manutenção de saldos médios e outras formas de reciprocidade exigidas pelas instituições bancárias: na relação com os bancos é comum a exis- tência de custos disfarçados, resultantes de exigências facilitadoras das operações de crédito, isso não acon- tece com as operações de factoring. • As operações de factoring podem gerar uma economia para a empresa em relação aos gastos com a instalação e ao funcionamento de um departamento de cobrança, o qual passa a ser de responsabilidade do agente factor (pelo menos em relação aos títulos negociados). Como os custos da operação são elevados, é preciso que a empresa quantifique todas as vantagens da operação e as compare com os custos, obtendo assim os encargos líqui- dos do factoring. A decisão final sobre a contratação destes serviços ocorrerá após a comparação destes encargos líqui- dos com os custos das demais modalidades de crédito ofere- cidas pelo mercado financeiro. Mercado de Capitais: commercial Papers As empresas também podem utilizar o mercado de capitais para obter recursos para financiar suas atividades. A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 275 Os títulos de curto prazo são a commercial paper que constitui- se, na prática, em uma nota promissória de curto prazo emi- tida por uma Sociedade por Ações (S.A) para financiar seu capital de giro. A garantia do título é o próprio desempenho da empresa, e os títulos podem ser adquiridos pelas institui- ções financeiras para sua carteira própria ou repasse a seus clientes investidores. A principal vantagem do emitente do título é a pos- sibilidade de tomar recursos a um custo muitas vezes infe- rior às taxas de juros praticadas nos empréstimos bancários. Segundo Assaf Neto (2010), o barateamento das taxas pagas ao commercial paper ocorre, em grande parte, pela eliminação da intermediação bancária no processo de captação e aplica- ção de recursos. Os principais investidores de commercial paper são as carteiras de bancos, fundos de pensão e seguradoras. São atraídos pela diversificação que o título pode proporcio- nar em suas carteiras de investimento e a curta maturidade. O prazo mínimo da nota promissória é de 30 dias, e seu prazo máximo é de 180 dias. A rentabilidade da nota promissória não possui cupom de juros. Seu rendimento pode ser pré-fixado (na forma de deságio em relação de face da nota promissória na época de sua negociação), ou pós-fixado (na forma de correção do valor de face) por indexadores como o DI, SELIC, TR e TJLP. As notas promissórias são muito difundidas nos EUA e largamente utilizadas pelas empresas americanas. Instituídas pela primeira vez nos EUA em Nova Iorque e Boston em 1790, porém só foram reconhecidas em 1830, quando suas transa- ções passam a ser publicadas no Financial Register of the United States. As notas promissórias negociadas no mercado de capi- tais foram instituídas no Brasil em 1990 e não podem ser emitidas por instituições financeiras, sociedadescorretoras, 276 G es tã o fin an ce ir a distribuidoras de valores mobiliários e sociedades de arren- damento mercantil (empresas de leasing). Os commercial papers negociados em Bolsas de Valores estão previstos na Instrução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) nº 217, de 2/ago/1994 e não estão sujeitos à tabela de corretagem adotada pelos membros das Bolsas de Valores. Os custos de emissão desses títulos são, em geral, formados pelos juros pagos aos aplicadores, comissões e des- pesas diversas (publicações, taxas de registro na CVM etc.). Estes papéis costumam ser negociados com descontos, sendo seu valor de face pago por ocasião do resgate. Os títulos podem ser adquiridos no mercado ou por meio de fundos de investimentos. Exemplo: O departamento financeiro de uma empresa de capi- tal aberto identificou uma necessidade de capital de giro de R$ 3.000.000 para os próximos 60 dias, e decidiu captar tal montante através de uma emissão de commercial paper, nas seguintes condições: • Valor: R$ 3.000.000; • Prazo: 60 dias; • Taxa de registro na CVM: 0,4%; • Despesas diversas com publicações e distribuição: R$ 5.000; • Remuneração oferecida aos aplicadores é uma taxa de desconto de 0,90% ao mês Calcular o valor líquido recebido pela empresa e a taxa real efetiva de emissão deste commercial paper. A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 277 • Valor líquido recebido: Valor Nominal ................................................................. 3.000.000 Desconto: D = N x d x n D = 3.000.000 x 0,0090 x 2 ............ (54.000) Taxa de registro na CVM = 3.000.000 x 0,004 ....... (12.000) Despesas diversas ......................................................... (5.000) Valor líquido ..................................................................... 2.929.000 • Custo Efetivo: PV = 2.929.000 FV = 3.000.000 n = 2 i = ? Podemos calcular pela calculadora financeira, Excel, fórmula dos juros compostos ou ainda: É HORA DE FIXAR: Considere que uma empresa está com problemas de caixa para os próximos três meses e terá que captar recursos no mercado financeiro. O gestor financeiro analisou as opor- tunidades e decidiu que ao invés de captar os recursos em uma só fonte, criará uma carteira de financiamento de curto prazo, através das seguintes captações: a) Desconto de duplicatas Para o desconto, foram apresentadas as seguintes duplicatas: i = 3.000.000 ½- (1,02424)½ - 1 = 0,01205 = 0,0205% ao mês 2.929.000( ) 278 G es tã o fin an ce ir a O banco cobra uma taxa de desconto de 3,5% ao mês mais o IOF de 1,5% ao ano. Calcule o valor liberado e o custo da operação. b) Utilização de conta garantida A empresa decidiu utilizar a conta garantida apenas no primeiro mês. A empresa conseguiu um limite de R$ 700.000 e a taxa de juros nominais é de 6,5% ao mês. As movimentações do período foram: Calcule o total de juros pagos. c) Emissão de commercial papers. Valor emitido: R$ 1.000.000; Prazo: 90 dias; Taxa de registro na CVM: 0,5%; Remuneração oferecida aos aplicadores é uma taxa de 0,80% ao mês. Calcule o valor liberado e o custo efetivo da operação. Duplicata Valor Vencimento A R$ 200.000 40 dias R$ 8.000.000 B R$ 75.000 35 dias R$ 2.625.000 C R$ 65.000 50 dias R$ 3.250.000 D R$ 60.000 60 dias R$ 3.600.000 Total R$ 400.000 R$ 17.475.000 Data Movimentação 01 Saque de R$ 300.000 09 Saque de R$ 100.000 15 Saque de R$ 70.000 24 Saque de R$ 90.000 28 Saque de R$ 40.000 A dm in ist ra çã o do P as siv o Ci rc ul an te 279 RESOLUÇÃO: a) Desconto de Duplicatas: Prazo médio = 17.475.000/400.000 = 43,6875 dias Valor Nominal dos Títulos R$ 400.000 Desconto D = 400.000 x 0,035 x 43,6875/30 = (R$ 20.387,50) IOF = 400.000 x 0,015 x 43,6875/360 = (R$ 728,13) Valor líquido liberado R$ 378.884,37 Custo efetivo da operação: FV = 400.000 PV = 378.884,37 n = 43,6875/30 i = ? Custo efetivo = 3,794% ao mês b) Conta Garantida: Duplicata Valor Vencimento A R$ 200.000 40 dias R$ 8.000.000 B R$ 75.000 35 dias R$ 2.625.000 C R$ 65.000 50 dias R$ 3.250.000 D R$ 60.000 60 dias R$ 3.600.000 Total R$ 400.000 R$ 17.475.000 Dia Movi- mentação Saldo Dias em utilização Juros 01 300.000 300.000 8 J = 300.000 x 0,065 x 8/30 = 5.200 09 100.000 400.000 6 J = 400.000 x 0,065 x 6/30 = 5.200 15 70.000 470.000 9 J = 470.000 x 0,065 x 9/30 = 9.165 24 90.000 560.000 4 J = 560.000 x 0,065 x 4/30 = 4.853,33 28 40.000 600.000 2 J = 600.000 x 0,065 x 2/30 = 2.600 Total de juros = R$ 27.018,33 280 G es tã o fin an ce ir a c) Commercial Papers Custo efetivo: R ef eR ênci as ASSAF NETO, A. Finanças Corporativas e Valor. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010. ASSAF NETO, A. Matemática Financeira e suas aplicações. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GITMAN, L. Princípios de Administração Financeira. 12. ed. São Paulo: Addison Wesley Brasil, 2010. LEMES JR., A. B. et al. Administração Financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2010. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JAFFE, J. F. Administra- ção Financeira – corporate finance. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. SAMANEZ, C. P. Matemática Financeira: aplicação à análise de investimentos. 4. ed. São Paulo: Pearson - Prentice Hall, 2007. Valor nominal 1.000.000,00 Desconto D = 1.000.000 x 0,008 x 3 (24.000,00) Taxa registro CVM 1.000.000 x 0,005 = (5.000,00) Valor liberado 971.000,00 i = 1.000.000 ⅓- 1 = (1,02987)⅓ - 1 = 0,00986 = 0,986% ao mês 971.000( ) ( 1 ) Introdução à Gestão Financeira e Fundamentos do Cálculo Financeiro ( 2 ) Cálculo Financeiro em Contexto Inflacionário ( 3 ) Análise das Demonstrações Financeiras ( 4 ) Ponto de Equilíbrio e Alavancagem ( 5 ) Planejamento Financeiro e Orçamento de Caixa ( 6 ) Administração do Capital de Giro e a Gestão das Disponibilidades ( 7 ) Administração das Contas a Receber e dos Estoques ( 8 ) Administração do Passivo Circulante
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