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ATIVIDADE ESTRUTURADA AULA 8

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Jullyanna Campana
DIREITO CIVIL VI 
ATIVIDADE ESTRUTURADA – AULA 8
Juliana, 30 anos, sofre de doença degenerativa já em fase bastante avançada, mas que ainda não lhe retirou ou diminuiu a capacidade. Certa de que doença não tem cura e de que não pretende prolongar artificialmente sua vida, Joana declara, em documento que escreveu de próprio punho e lido em voz alta e clara na presença de sua mãe, sua irmã e sua melhor amiga, que não quer ser submetida a qualquer procedimento médico que vise artificialmente prolongar sua vida. No mesmo ato, nomeia sua amiga Lúcia para tomar as providências necessárias ao cumprimento de suas determinações. Após a leitura, datado o documento, Joana e todos os presentes assinam. Pergunta-se:
Podem as formas testamentárias versar sobre direitos não patrimoniais?
Joana, ao negar o tratamento médico, está dispondo sobre um direito de personalidade. Pergunta-se: o que são direitos de personalidade; quais são as suas principais características?
O direito a vida, sem dúvida é direito fundamental, assim como o direito à saúde. Trata-se o direito à vida de direito absoluto? Justifique a sua resposta, destacando se Juliana poderia dele dispor em testamento.
O que é testamento vital ou biológico ou “living will”?
O testamento vital é testamento ou poderia ser aceito como tal? Explique sua resposta.
Entende-se testamento como ato de última vontade ou causa mortis, ou seja, negócio jurídico unilateral, revogável, em conformidade com a lei, na qual uma pessoa dispõe, no todo ou em parte, do seu patrimônio, para depois de sua morte, conforme art. 1.857 do Código Civil.
Apesar de o caput do artigo mencionar só conteúdo patrimonial o § 2º dispõe in verbis: “são válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.”
Portanto, expresso está em lei, de que é possível a realização de testamento que não verse sobre questões patrimoniais, ou seja, é admito em nosso ordenamento jurídico a realização de testamento sem qualquer questão patrimonial. O caráter não patrimonial é plenamente válido, de acordo com o Código Civil vigente. 
Uma vez que o mesmo traz várias hipóteses de disposições sem caráter patrimonial como, por exemplo: disposição de bem de família, reconhecimento de paternidade, instituição de fundação, nomeação de tutor para os filhos, a reabilitação do indigno, entre outras.
A vontade de Joana é plenamente possível, e quando manifestada está diretamente ligada aos direitos da personalidade, direitos subjetivos inerentes a toda pessoa humana, que se encontram elencados no artigo 5º, X da Constituição Federal e no Código Civil nos artigos 11 a 21.
Os direitos da personalidade são: o direito a vida, a saúde, a imagem, honra, dignidade, ao corpo, a integridade física e mental, identidade, privacidade, a memória, entre outros. 
Tais direitos possuem como características, art. 11 do CC, intransmissibilidade, irrenunciabilidade, inalienabilidade, vitaliciedade, absolutos porque são oponíveis erga omnes, indisponibilidade, impenhorabilidade.
Os direitos da personalidade, como direitos fundamentais, são tidos como absolutos, contudo há exceções, a própria Carta Magna traz a exceção quando autoriza a pena de morte em casos de guerra, o Código Penal também traz em situações excepcionais, portanto, só se pode concluir que de acordo com as circunstâncias analisadas é que chegaremos à caracterização, não pode o direito a vida e a saúde serem absolutos, mas sim relativos.
Analisando o caso de Juliana é compreensível que não deseje prolongar sua vida de forma parcial, pois sua capacidade, integridade, compreensão vão esgotando-se, e sendo possível evitar todo o constrangimento e sofrimento deve-se assim se feito. Invocando o Código Civil temos o art. 15 que preleciona que ninguém pode ser constrangido a submeter-se a tratamento médico ou intervenção cirúrgica, poderíamos aplicá-lo ao presente caso, além de que sendo nosso entendimento aqui o direito a vida relativo, uma vez que esta não seria plena e feliz, deve prevalecer à vontade, desejo da testadora.
Há uma ponderação de direitos, valores e princípios.
Temos tão logo a possibilidade de realização da vontade de Joana, através do testamento vital, que é um documento, redigido por uma pessoa no pleno gozo de suas faculdades mentais, com o objetivo de dispor acerca dos cuidados, tratamentos e procedimentos que deseja ou não ser submetida quando estiver com uma doença ameaçadora da vida, sendo aceito no Brasil, desde que esteja em conformidade com os requisitos formais, subjetivos e objetivos elencados na lei, art. 1.864 CC.
Importante demonstrar que diferentemente dos testamentos em geral, que são atos jurídicos destinados à produção de efeitos post mortem, os testamentos vitais são dirigidos à eficácia jurídica antes da morte do interessado.
A célebre professora Roxana Cardoso Brasileiro Borges traz como conceito de testamento vital:
“O documento em que a pessoa determina, de forma escrita, que tipo de tratamento ou não tratamento deseja para a ocasião em que se encontrar doente, em estado incurável ou terminal, e incapaz de manifestar sua vontade.” 
Essa liberdade foi reconhecida pelo Conselho de Justiça Federal, na V Jornada de Direito Civil, com o enunciado nº 527, que assim estatui: “é válida a declaração de vontade, expressa em documento autêntico, também chamado ‘testamento vital’ em que a pessoa estabelece disposições sobre o tipo de tratamento de saúde, ou não tratamento, que deseja no caso de se encontrar sem condições de manifestar a sua vontade”. Na justificativa apresentada para aprovação do Enunciado nº 527 explica-se que o negócio jurídico que deve ser formalizado por testamento ou qualquer outro documento autêntico - é possível valer-se desta disposição do art. 1.729, § único para admitir qualquer documento autêntico no sentido de retratar as declarações sobre o direito à autodeterminação da pessoa quanto aos tratamentos médicos que deseja submeter ou recusa expressamente.
Apesar de em nosso país não haver uma legislação, existe a resolução nº 1.995/2012 do Conselho de Medicina, que dispões sobre o testamento vital, que, considera a vontade do indivíduo como soberana, se não houver recomendação médica suficiente para sua contraposição. 
Se o indivíduo está em estado de lucidez, será ele a ordenar e autorizar a interrupção do tratamento, e essa cessação será providenciada pelo médico que o assiste. Para se prevenir sobre o respeito à sua vontade de não se submeter a tratamentos invasivos, inúteis, dolorosos e que prolonguem a vida sem dignidade, tem-se a pertinência da elaboração de testamento vital, que nada mais é do que a manifestação do indivíduo a respeito dos limites que pretende sejam observados em caso de moléstia grave que o acometa e que lhe cause inconsciência para, então, afirmar o momento da cessação dos cuidados médicos
Pelos princípios do Código Civil quanto à interpretação do testamento é indiscutível, que deve ser atendida as disposições naquilo que for cabível, por ser ato de última vontade do testador, sendo a recusa em tratamentos uma delas, não há diferenças quanto à interpretação e, assim, tal modalidade de testamento é mais eficaz e a que mais se adequa a realização do desejo.
Assim, olhando por ouro ângulo ao atender-se o testamento vital, estamos garantindo a pessoa dignidade, uma morte digna, o direito a memória, que se relaciona com a imagem e sentimentos guardados por amigos e parentes do falecido, a honra, todos direitos fundamentais estarão resguardados.

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