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SEGREGAÇÃO SOCIAL

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SEGREGAÇÃO SOCIAL:
As crianças vivem, hoje, nas grandes cidades brasileiras, uma espécie de apartheid social. Há 50 anos, o filho do porteiro estudava na mesma escola dos moradores do prédio em que seu pai trabalhava. Estudava e brincava junto com a vizinhança. Aprendia as mesmas lições. Seu pai não era apenas o porteiro, mas acima de tudo o pai do (a) fulano (a). Portanto, duplamente respeitado. As crianças ganhavam com a convivência e a troca de experiências. Tinham a oportunidade de aprender a lidar com as diferenças sociais e de contorná-las nas suas brincadeiras, depurando a sensibilidade. 
A indústria e a propaganda da época ainda não tinham atingido as crianças, transformando-as em fervorosas consumidoras. Assim, as relações eram mais simples entre elas. Os (as) amigos (as) não precisavam ter muitas bugingangas e quinquilharias eletrônicas para brincar, bastava que fossem parceiros, gostassem de bola, de amarelinha ou de corda. As brincadeiras eram na rua, na porta de casa ou do prédio. Na adolescência juntavam-se em grupos.
Certamente, vez ou outra, as diferenças de poder aquisitivo ou da educação familiar pesavam e causavam frustração. Mas, isto também faz parte do crescimento humano. Em compensação, aprendia-se a valorizar comportamentos como solidariedade e respeito, independentemente da condição social. Em determinado momento, os caminhos desses jovens se separavam. As dificuldades financeiras levavam os mais pobres ao trabalho mais cedo. 
O que mudou de lá para cá? 
Com o tempo, a urbanização transformou casas em prédios e ruas calmas em perigosas. As escolas públicas perderam a qualidade e os pais, que puderam ou conseguiram pagar, buscaram os colégios particulares. Depois, a violência cresceu e os condomínios e as famílias se fecharam hoje, as chances de uma criança de classe média conviver nas grandes cidades com uma de condição social diferente são infinitamente menores. A pobreza do jeito que a conhecíamos também mudou. Desceu na escala. 
Nos centros urbanos, as dificuldades de transporte e o custo da moradia, empurraram o pobre para as chamadas comunidades e ele passou a ser confundido com a violência local. E, com frequência, influenciado ou atingido também por ela. 
As crianças desde cedo percebem que os pobres estão excluídos do ambiente que ela e sua família de classe média vivem e frequentam. Porém, só bem mais tarde descobrem que os pobres também estão excluídos de muitos outros serviços tão necessários ao desenvolvimento humano.  
A convivência mais próxima que crianças e jovens de hoje têm com as diferenças sociais é com os empregados que trabalham na sua casa, no prédio ou na escola. E com frequência esses laços são de desconfiança mútua, portanto sem maiores vínculos. De resto, conhecem a mendicância e a violência que veem nas ruas ou que já experimentaram em assaltos. Para alguns jovens, que vivem padrões sociais bem diversos, a oportunidade de convivência ainda pode surgir, por incrível que pareça, na universidade pública, considerando a abertura do sistema de educação universitária no sentido de acolher alunos oriundos das escolas municipais, estaduais e federais.
Algumas universidades já oferecem cursos de preparação para o vestibular em comunidades carentes de modo a reduzir o desnivelamento dos alunos que se beneficiam dessa abertura e, assim, garantir não só sua entrada como também sua permanência nas universidades. Mas o passo mais importante para reverter a segregação social é a recuperação da educação pública básica, oferecendo uma educação que não se limite à instrução e que seja boa para todas as classes sociais.

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