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tubo & cia artigo Caderno Técnico: DUREZA ENSAIOS DE DUREZA SÃO DE EXECUÇÃO SIMPLES E RÁPIDA, PORÉM REQUEREM UMA ANÁLISE CRITERIOSA DE SEUS RESULTADOS. (*) WILLY ANK DE MORAIS e (**) ANTONIO SERGIO MAGNABOSCO A dureza dos materiais não é a ú- nica característica mecânica que os mesmos apresentam e nem a mais importante para o projeto mecânico. Mesmo assim, este ensaio apresenta algumas características que o tornam bastante empregado na caracteriza- ção dos materiais em geral: É um ensaio de realização fácil e rápida. A dureza é uma característica dire- tamente correlacionada com a resis- tência mecânica dos materiais, sen- do bastante útil em sua estimativa. A medição da dureza requer regi- ões amostradas relativamente pe- quenas e normalmente não implica na destruição ou restrição ao uso posterior da amostra. Por isso, no setor metal-mecânico, a dureza é bastante útil no controle de qualidade, seleção e até mesmo na especificação de materiais. Isso ocor- re especialmente quando os materiais estão sofrendo tratamentos termo- químicos (beneficiamento) ou quan- do empregados em condições de desgaste mecânico. Porém, para empregar convenien- temente os valores de dureza na prática, deve-se compreender sua forma de medição, a resposta do material durante o ensaio e a repre- sentatividade dos valores obtidos. Quando estas questões não são con- sideras, podem ocorrer perigosas inconsistências na seleção e análise dos materiais e na expectativa no seu desempenho conforme apontado pelos ensaios de dureza. Este artigo tem como objetivo e- xatamente demonstrar os perigos na utilização direta e simples dos valo- res obtidos em ensaios de dureza, mas também salientar suas virtudes. Figura 1. Esquema das três formas diferentes de se medir a dureza. Da esquerda para a direita: dureza por risco, penetração e rebote. De cima para baixio: início do processo de medição da dureza, resultados do teste de materiais duros e para materiais macios, respecti- vamente. TIPOS DE DUREZA Existem três maneiras de se quan- tificar a dureza: risco, penetração e rebote. A Figura 1 ilustra cada uma destas metodologias, cujo conceito básico é: Dureza por Risco: o material mais duro risca o mais macio, sendo que o material macio deixa o seu traço (pó) na superfície do mais duro. Dureza por Penetração: materiais macios cedem (deformam plasti- camente) quando um penetrador de um material mais duro é pressiona- do em sua superfície. Dureza por Rebote: superfícies de materiais duros conseguem devol- ver com maior facilidade a energia elástica de um corpo em queda li- vre, fazendo-o subir a uma altura similar a inicial (maior rebote). Nestes ensaios o grau de dureza do material é quantificado pela com- paração do grau de risco, penetração ou rebote obtido(s) quando se em- prega um material de comparação mais duro. A Figura 2 ilustra duas condições contrárias que podem ser observadas em ensaios empregando as metodologias descritas. Cada forma de medição de dureza possui suas características particula- res e, assim, empregáveis para situa- ções e materiais específicos. DUREZA POR RISCO O processo de medição por dureza mais conhecido e ainda amplamente utilizado foi desenvolvido pelo mine- ralogista vienense Friedrich MOHS (1773-1893). O princípio de funcio- namento é simples e está ilustrado na Figura 1: um mineral é mais duro quando risca a superfície de um mi- neral mais macio (como o diamante risca o vidro). Se o mineral que está sendo usado para riscar for mais macio, este deixa um traço na super- fície do outro mineral (como o traço deixado por um giz no quadro). Como forma de quantificar a du- reza neste escala, foram escolhidos 10 minerais relativamente conheci- dos, aos quais foram atribuídas dure- zas crescentes de 1 a 10. A medição é feita empregando-se uma peça de borda fina e cortante sobre uma face nova, recentemente fraturada. Assim o valor da dureza Mohs de um mineral testado estará compreendida entre: a dureza do primeiro mineral da escala que consegue riscá-lo e do último mineral que não risca. O ensaio é usado frequentemente em mineralogia para caracterizar minerais e gemas, que são materiais tipicamente cerâmicos. Os valores obtidos nesta medição são relativos, pois conforme apresentado na Tabela 1, a dureza dos minerais de referên- cia não varia homogeneamente. Tabela 1. Valores de dureza Mohs Valor Descrição Mohs Absoluto Mineral Referência 1 0,03 Talco Riscado pela unha 2 1,25 Gipsita 3 4,5 Calcita Riscado por um canivete 4 5 Fluorita 5 6,5 Apatita Riscado por lima de aço 6 37 Ortoclásio 7 120 Quartzo Risca o vidro 8 175 Topázio 9 1.000 Coríndon 10 140.000 Diamante Não é riscado Ref.: Schumann, W.; Rochas e Minerais. LTC, 1985. Materiais com durezas superiores a 8 na escala Mohs possuem boa resistência para aplicações práticas, pois a poeira presente no ambiente não consegue degradá-los já que as partículas mais duras presentes na poeira são de quartzo, que possui uma dureza menor que 8. Assim, minerais, gemas ou materiais cerâmi- cos com dureza acima de 8 não têm o brilho (rugosidade) e a precisão di- mensional (qualidade das bordas) alterados pela ação do tempo (poei- ra). Esta é uma característica impor- tante tanto para aplicações industriais quando para joalheria. Em termos industriais, materiais cerâmicos duros são empregados nas mais diversas aplicações especial- mente para usinagem e conformação devido à sua grande resistência ao desgaste (atrito). Alguns exemplos são os carbetos, nitretos e óxidos metálicos: SiC, SiN, SiO2, TiN, WC, Al2O3, etc. Estes materiais, apesar de não serem tipicamente caracterizados pela escala de Mohs, normalmente possuem durezas acima de 9. Por outro lado, materiais muito macios, tais como o talco e a grafita, ambos apresentam dureza 1 na escala de Mohs, são empregados como lubrificantes secos. Como a dureza é muito baixa, não é possível que estes materiais risquem as demais superfí- cies, interpondo-se entre elas de forma a não produzir contato e des- gaste. Apesar do seu aspecto prático, a medição de dureza por risco possui desvantagens, especialmente quando se considera a escala de Mohs: Nem toda superfície possui a mes- ma dureza, especialmente os mine- rais formados de cristais grandes, ao contrário da maioria dos metais. Materiais heterogêneos, tais como rochas, são formados de materiais de durezas variadas, assim sendo não possível aplicar este processo. A medição depende demasiada- mente da percepção do executor, pois existem minerais com durezas parecidas e a distinção não é fácil. No caso de gemas, ou materiais nos quais se necessita uma boa superfí- cie, o risco gerado pode inviabilizar o seu uso final. Apesar de largamente empregada para minerais, o processo de medi- ção de dureza por risco é impreciso demais para ser empregado de for- ma prática nos materiais metálicos e poliméricos. Os valores absolutos não são pro- porcionais, como mostrado no grá- fico da Figura 2. A dureza Mohs, apesar de sermais conhecida e mais antiga, não é a única forma de determinar a dureza pelo processo de risco. Existe uma forma empírica de quantificação da dureza através da utilização de risca- dores padronizados. Este ensaio é conhecido como ensaio de dureza por lima (‘file hardness test’) existindo normas, como por exemplo, a SAE J864, e ferramentas disponíveis co- mercialmente para a sua execução. Estas ferramentas possuem durezas variadas e seu uso leva a um resulta- do subjetivo e que deve ser emprega- do com considerável carga de julga- mento por parte de quem executa o teste. Além dos ensaios tradicionais de dureza por risco, o conceito da resis- Figura 2. Comparação entre a dureza Mohs e a microdureza por penetração VIckers. Estão indicadas as faixas de durezas dos materiais de engenharia. tência ao risco dos materiais duros pode ser adaptado em ensaios tecno- lógicos. Este conceito está presente em ensaios para caracterizar a resis- tência de filmes/tintas depositadas sobre superfícies ou mesmo para determinar a resistência à abrasão de uma superfície contra um componen- te de dimensão padronizada em um meio específico. Este tipo de teste será abordado em um artigo posteri- or, dentro desta série. DUREZA POR PENETRAÇÃO A medição da dureza por penetra- ção é o método mais empregado pela indústria. Isso ocorre pela facilidade de se quantificar um parâmetro de dureza através de um número e tam- bém por ser um método que apresen- ta uma melhor sensibilidade para a análise dos materiais metálicos. O processo de dureza por penetra- ção basicamente quantifica a resis- tência do material à deformação plástica. Entretanto cada material possui uma resposta sob deformação plástica diferente. Uma forma de demonstrar este fato é através da aplicação da equação de Hollomon: (1) Onde: K é uma constante plástica de resistência, n é o expoente de encruamen- to do material, a tensão efetiva para obter a deformação verdadeira . A Tabela 2 indica alguns valores que ilustram o comportamento sob deformação plástica de alguns metais e também da dureza por penetração, que está associada aos valores de resistência mecânica dos metais através de uma constante (KH) des- crita pela equação: (2) Onde: SLR é o limite de resistência (MPa), KH é uma constante (entre 2 e 5) e HB é a dureza Brinell do material. Tabela 2. Valores médios de característi- cas mecânicas de alguns metais e ligas. Material K (MPa) n KH Aço baixo C 600 0,25 3,44 Aço médio C 750 0,20 3,43 Aço alto C 1000 0,10 3,42 Aço Inox Fer. 800 0,20 3,22 Alumínio puro 200 0,31 4,30 Ligas de Al Recoz. 400 0,15 4,00 Encruadas 3,85 c/ silício 250 0,12 3,60 Cobre puro 450 0,33 4,00 Ligas de Mg 650 0,28 4,20 Podem-se empregar os valores de K e n da Eq.1 (Hollomon) para obter a máxima tensão que pode gerar uma deformação homogênea (sem estric- ção) em tração pura (Fmáx=n): (3) Os valores de KH da Tabela 2 po- dem ser diretamente relacionados aos valores de SLR da Eq. 3, conforme mostrado no gráfico da Figura 3. Nesta figura a relação que pode ser percebida realmente indica que os ensaios de dureza por penetração estão intrinsecamente vinculados ao processo de deformação plástica dos materiais sendo testados. A influência do processo de de- formação plástica dos materiais, explicitada pela Equação de Hollo- mon, implica na necessidade de: existência de tabelas específicas para cada metal ou liga para correlacionar as várias escalas de dureza entre si. e diferentes constantes que relacio- nam a dureza Brinell (HB) ou Vic- kers com o limite de resistência me- cânica em tração (SLR). As normas ASTM E140, DIN 50150 e ISO 18265 trazem diferentes tabelas que correlacionam estas du- rezas entre si. A Figura 4 ilustra, genericamente, a relação entre diver- sas escalas de dureza entre si. DUREZA POR PENETRAÇÃO: variações Existem algumas pequenas varia- ções na medição da dureza por pene- tração no que diz respeito ao tipo de penetrador e ao que será medido posteriormente. Como o penetrador deve ser mais duro que o material em análise a escolha mais lógica para tal seria o diamante, mas por praticidade também é empregado aço temperado ou carbonetos duros. Enquanto estes últimos são esféricos, os penetrado- res de diamante só podem ser obtidos em geometrias específicas. Os pene- tradores esféricos oferecem uma medição de dureza mais homogênea. Padronizado em 1900, a dureza Brinell (HB) consiste na impressão Figura 3. Dependência entre o compor- tamento em deformação plástica (SLR) e em dureza (KH). Figura 4. Comparação entre diferentes escalas de dureza entre si: Brinell. Os valores são das durezas Brinell (em baixo) e da escala (Vickers, Mohs, Knoop, Rockwell C ou Rock- well B) em questão (em cima). Exemplo: 1.000HK 1.000HV 990HB. em uma superfície metálica lisa e isenta de óxidos com uma esfera de aço de 10 mm de diâmetro e uma carga de 3000kgf (3 ton.). A Figura 5 ilustra a interação entre o penetrador Brinell e uma amostra metálica. De acordo com o material, esta carga pode ser menor e a esfera de carboneto de tungstênio. O tempo de aplicação da carga é, geralmente, 30s. Após a remoção da carga, mede- se o diâmetro da impressão, com a utilização de um microscópio de baixa resolução, fazendo-se a média de duas leituras. A dureza Brinell é dada por: (4) Onde: P é a carga aplicada (kgf), D é o diâmetro do penetrador (mm), d é o diâmetro da impressão (mm) e t é a profundidade da impressão (mm). Logo, a unidade da dureza Brinell é kgf/mm2. É possível utilizar carga e/ou esfera de diâmetro diferentes dos padronizados, para tal deve-se manter o ângulo de contato entre o penetrador esférico e a superfície constante. Isto implica que se tenha: (5) O tamanho relativamente grande da impressão Brinell permite avaliar a dureza, praticamente independente de heterogeneidades locais e da rugo- sidade superficial do material. Con- tudo, seu uso não é recomendado para objetos pequenos. Além disso, a presença de tensões residuais, pre- sentes no material, ou oriundas da grande deformação plástica induzida pelo teste, altera o comportamento do material e reposta obtida no ensaio. O teste de dureza Rockwell é o mais amplamente utilizado, devido à sua velocidade, menor possibilidade de erros operacionais, pequeno tama- nho de impressão e capacidade de distinguir pequenas diferenças entre materiais duros. A principal característica do teste é o uso de uma pré-carga, empregada para ajustar o corpo de prova, mini- mizando a necessidade de preparação da superfície e reduzindo a tendência para a aderência do metal no pene- trador. Após a aplicação da carga principal, mede-se a profundidade de penetração em múltiplos de 810-5 polegadas (aproximadamente 2 m). Menores penetrações (ou seja, maio- res durezas) implicam em números de dureza grandes. Porém este é um número arbitrário, portanto sem unidades. Normalmente, são utilizados pene- tradores de diamante em forma côni- ca, com ponta levemente arredonda- da em um ângulo de 120º. Este é denominado penetrador de Brale. Também podem ser utilizadas esferas de aço com 1 /8 ou 1 /16 de polegada. As cargas usualmente utilizadassão 60, 100 e 150 kgf. Já que a dureza Rockwell é função da carga e do penetrador, torna-se necessária a especificação da combi- nação empregada e isso é convencio- nalmente feito com o uso de sufixos, como ilustrado na Tabela 3. Tabela 3. Exemplos de escalas Rockwell. HRX Penetrador P (kgf) Aplicações A Cone Diam. 60 Aço cemen- tado B Esfera 1/16” 100 Ligas Cu, aço macio C Cone Diam 150 Aço e f.f. duros D Cone Diam. 100 Aço fino e f.f. maleável E Esfera 1/8” 100 f.f., ligas de Al e Mg F Esfera 1/16” 60 Cu e chapas finas macias Os principais cuidados a serem tomados neste ensaio são: O penetrador e o suporte devem estar limpos e bem assentados; A superfície a ser testada deve estar limpa, seca, lisa e livre de óxidos. Contudo, não precisa de polimento; Medidas retiradas em superfícies cilíndricas devem ser corrigidas teó- rica ou empiricamente; Recomendando-se espessura de no mínimo 10 vezes a profundidade da impressão; Deve-se padronizar a velocidade de aplicação da carga, especialmente pa- ra materiais macios. Uma possibilidade importante na medição da dureza Rockwell é o emprego de corpos de prova grandes ou de superfícies não planas, como anéis e tubos. Nestes casos são ne- cessárias ajustes no procedimento de teste. Quando o um penetrador é força- do contra uma superfície curva o mesmo penetra de forma diferente do que normalmente faria em uma su- perfície plana. Se a superfície for convexa o penetrador penetra mais, oferecendo um valor de dureza me- nor do que o real. Caso a superfície seja côncava o penetrador penetra menos e o valor da dureza será maior que o real. Para diâmetros maiores que 1 polegada a diferença é despre- zível. Quando são medidas durezas de materiais macios em diâmetro menores que 1polegada é necessário associar o valor da dureza medida ao diâmetro empregado e fatores de correção devem ser usados. Na dureza Vickers é empregado um penetrador de diamante em forma de pirâmide de base quadrada, com ângulo de 136º entre as faces opostas que gera uma impressão no formato de um losango regular. O valor da dureza é dado pela relação entre a carga aplicada e a área da impressão obtida conforme a equação: (6) Onde: P é a carga aplicada (kgf) e L é a medida média das diagonais da impres- são deixada no teste (mm). Já que o penetrador é de diamante, que é praticamente indeformável, o número de dureza obtido é o mesmo, qualquer que seja a carga utilizada desde que o material seja homogê- neo. Assim, em função da dureza do material, varia-se a carga, para que se tenha uma impressão regular, sem deformação e com tamanho facil- mente mensurável. Como a precisão da dureza de- pende da precisão da medida das diagonais (L) então os equipamentos de dureza Vickers contam com ins- trumentos óticos para uma medição mais acurada da região impressa. A dureza Vickers emprega uma escala contínua e gera uma impressão extremamente pequena que normal- mente não danifica a peça. Se bem executado o ensaio apresenta grande precisão da medida, pois o penetra- dor apresenta uma deformação nula. Assim é aplicável na medição de toda gama de dureza, para todos os materiais. As cargas empregadas variam en- tre 1 a 120kgf, normalmente. Porém, Figura 5. Perfil de deformações imposto por um penetrador esférico, empregado na dureza Brinell (ASM International). desde que se tenham disponíveis equipamentos precisos o suficiente, é possível aplicar cargas menores. Desta forma, empregando-se cargas de poucos quilogramas ou mesmo alguns gramas é possível medir a dureza em: qualquer espessura de material; superfícies (alteradas ou tratadas); fases diferentes na microestrutura; camadas para determinar o gradiente e profundidade de tratamento. O ensaio exige a preparação cui- dadosa do material. Além da aplica- ção em pesquisa, a dureza Vickers é utilizada para medição da variação estrutural de materiais (por exemplo, obtida em tratamentos termo- químicos ou na soldagem), na análise de materiais muito duros ou muito moles e nos ensaios de materiais finíssimos. É necessário que os lados do lo- sango impresso sejam retilíneos. Lados abaulados podem ser obtidos em função da orientação cristalina dos grãos (cristais) ou na presença de tensões residuais, como mostrado na Figura 6. Além disso, materiais mui- to frágeis podem apresentar trinca- mento nas laterais da impressão. Em algumas aplicações, o comprimento das trincas formadas é empregado como uma forma de determinar a tenacidade à fratura do material. A microdureza Vickers ou Kno- op é uma técnica de medição de dureza em pequenas áreas. Graças ao tipo de penetrador empregado, po- dem-se utilizar cargas pequenas entre 10gf e 1kgf e gerar uma impressão pequena o suficiente para determinar a dureza localizadamente. Assim, os objetivos desta técnica podem ser resumidos em três: Determinação de dureza individual de microconstituintes; Medida de gradientes de dureza em superfícies carbonetadas; Verificação da dureza de peças deli- cadas (exemplo: molas de relógios). A diferença entre as durezas Kno- op e Vickers é o tipo de penetrador empregado, que gera formatos de impressões diferentes. No caso da dureza Knoop, a impressão é na forma de um losango, com a razão entre as diagonais de 4,29 para 30,53, para uma profundidade de 1. Esta geometria alongada permite a medi- ção da dureza com precisão muito maior do que a dureza Vickers, além da possibilidade de medir a dureza em distâncias mais curtas. A Figura 7 ilustra os aspectos dos penetradores Vickers e Knoop, além de ilustrar uma aplicação prática para ambos os casos. Na determinação da microdureza, a superfície tem que ser cuidadosa- mente preparada, com polimento metalográfico e tomando-se o cuida- do de não haver encruamento super- ficial para não causar o efeito distor- cional mostrado na Figura 6. DUREZA POR REBOTE A dureza pode ser empiricamente associada à resposta elástica ou ao comportamento plástico do material. Durante os métodos tradicionais de medição de dureza por penetração o material é conformado plasticamente, daí o vínculo direto deste tipo de dureza ao comportamento plástico do material e indiretamente ao seu limite de resistência. Por outro lado, a dureza por rebote possui um caráter dinâmico e está associada com a capacidade de devo- lução de energia (reversivelmente) pela superfície do material. Esta capacidade está diretamente vincula- da ao comportamento elástico do material, neste caso à sua rigidez ou dureza. Assim, alguns ensaios de dureza dinâmicos ou por rebote, foram de- senvolvidos, porém poucos são usa- dos na prática, sendo os dois mais comuns a dureza Shore e Leeb. O escleroscópio (em inglês Scle- roscope) para medição da dureza foi concebido por Albert Shore em 1907 e ainda é empregado freqüentemente para medir a dureza de amostras grandes tais como peças de aço for- jado ou barras/tarugos de metal. Neste ensaio um martelo de diamante é solto de uma altura fixa sobre a superfície do material sendo testado. A altura do rebote alcançado pelo martelo quantifica a dureza do mate- rial, exatamente como esquematizado na Figura 1. A qualidade superficial para a rea- lização dos ensaiosde dureza Shore deve ser adequada para a obtenção de resultados concisos e a superfície adequada varia com a dureza da amostra. As superfícies de teste de materiais macios não precisam de um acabamento superior; porém peças de alta dureza, como aços temperados, de necessitam de superfícies polidas para a execução dos testes. Ensaios em materiais macios de- vem ser feitos em amostras de maior espessura, para serem obtidos resul- tados de dureza consistentes. Mesmo em materiais endurecidos, deve-se considerar a possível influência de um eventual núcleo mais macio. Chapas finas de aços temperados, com espessuras a partir de 0,25mm, por exemplo, podem ter sua dureza eficientemente medida pelo método Shore, desde que a dureza seja ao menos 30HS. Na execução do ensaio de dureza por rebote é importante manter um alinhamento vertical do dispositivo Figura 6. Exemplos de impressões Vickers que podem ser obtidas. A ideal é a do centro, sem distorções. Figura 7. Penetradores Vickers (acima) e Knoop (abaixo), impressões geradas e possí- veis aplicações na determinação de microdurezas. de teste. Daí, recomendar-se apoiá-lo em três pontos, dois dos quais devem ser ajustáveis para facilitar o nivela- mento. Vibrações também devem ser evitadas, pois interferem na queda do martelo durante o teste, causando leituras inconsistentes. Outro método de medição é a du- reza Leeber, que emprega um apare- lho portátil contendo um pequeno impactador, o qual é impulsionado por uma mola na superfície a ser testada. Assim, o nivelamento influ- encia menos nos resultados da dureza Leeb que é definida como: (7) Onde: HLX é a dureza Leeb, VI e VR as velocidades de Impacto e Rebote, respec- tivamente, e X é um sufixo que indica o dispositivo empregado. Existem alguns tipos de dispositi- vos de dureza Leeb, cada qual ade- quado para um determinado tipo de material. Por viabilizar a medição das velocidades, os dispositivos de dureza Leeb são eletrônicos. OUTROS MÉTODOS Além dos três métodos tradicio- nais de medição da dureza, é possível empregar medidas ultrassônicas ou determinação do grau de cedência de superfícies com aplicação de cargas variadas. No teste de borrachas, por exem- plo, é empregada uma escala especial de dureza conhecida como IRHD (International rubber hardness de- grees). Os ensaios consistem na medição da diferença entre a profun- didade da penetração causada por um penetrador esférico na superfície com aplicação de uma pequena carga, seguida pela aplicação de uma força de grande magnitude. NATUREZA LOCALIZADA A medição de dureza é um ensaio de natureza localizada, que pode não representar as características mecâni- cas do material sendo analisado. Por isso, torna-se necessária a medição de uma maior quantidade de valores de dureza de uma mesma amostra. A Tabela 4 ilustra um exemplo desta situação. Foram testadas 8 amostras homogêneas, na superfície da quais foi desenhado um círculo de 50mm de diâmetro, subdividido em oito partes. Foram medidas alterna- damente 4 valores de durezas Vic- kers com 5 e 10kgf igualmente espa- çadas ao longo do perímetro destes círculos. As amostras foram posteri- ormente testadas em tração. Tabela 4. Resultados de comparação entre medições de dureza Vickers com 5 e 10kgf. Amostra HV 5kgf HV 10kgf SLE (MPa) SLR (MPa) 1 198 195 582 667 2 191 192 548 635 3 199 199 556 644 4 194 194 560 635 5 193 194 562 639 6 190 196 558 644 7 194 199 565 642 8 213 209 555 633 Média 196 197 561 642 Desvio 1,1% 0,6% 1,8% 1,7% Os resultados ilustram que, apesar de iguais, os valores de dureza Vic- kers apresentam uma maior dispersão com menor carga. Isso ocorre, por- que o volume de material testado é ligeiramente menor do que quando é empregada uma carga de 10kgf. Estes resultados foram obtidos no laboratório da UNISANTA, em con- dições especiais. Normalmente, na prática, a diferença entre os valores medidos é bem maior. À medida que o material tornar-se cada vez mais heterogêneo, o ensaio de dureza é cada vez menos repre- sentativo das características mecâni- cas de todo o material. Porém, em aplicações interessantes, é justamente o caráter localizado do ensaio de dureza que pode ser explorado. A Figura 8 exemplifica ensaio de dureza empregado para analisar uma junta soldada para definir um critério de qualidade e aceitação. Em ativi- dades de análise de falhas, um dos autores percebeu, por exemplo, que valores de gradientes de dureza supe- riores a 200HV/mm tendem a causar problemas mecânicos a longo tempo que geralmente levam estruturas soldadas à ruptura por fadiga. Assim sendo, o ensaio de dureza torna-se fundamental para o controle de pro- cessos de solda, tratamentos superfi- ciais, quantificação de superfícies para aplicações em situações de desgaste, entre outras. CONCLUSÕES A medição e utilização da dureza pode ser uma grande aliada aos pro- cessos de controle de produção, re- cebimento e qualidade. Existem vários métodos disponíveis e varia- ções adequadas para os diferentes tipos de materiais. Apesar de sua natureza localizada e potencialmente pouco representativa das característi- cas de todo o material, a medição de dureza apresenta grandes vantagens para os processos de controle de qualidade pela sua versatilidade, rapidez e capacidade de quantificar heterogeneidades. (*) Doutorando, Mestre, Eng o Meta- lurgista, Téc. em Metalurgia. Es- pecialista em Produto da Usimi- nas-Cubatão, Prof. Adjunto da Faculdade de Engenharia da UNISANTA, Consultor Técnico da Inspebras e Diretor da divisão técnica “Aplicações de Materi- ais” da ABM. E-mail: will- yank@unisanta.br; wil- ly.morais@usiminas.com e will- yank@inspebras.com. (**)Mestre, Especialista, Eng o Meta- lurgista,. Engenheiro de Produto Sênior da Usiminas-Cubatão. asmagna@gmail.com. Figura 8. Perfil de microdureza em uma junta soldada (à esquerda) ilustrando um pe- queno gradiente de dureza na junta soldada da peça (15HV/mm).
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