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Analise Anda-me o amor tomando a própria vida, como se, amando, eu existisse mais. E leva-me o Destino em voz traída, como se houvera encontros desiguais. A multidão me cerca, e, renascida, já dela terei fome de sinais. E, mal a noite se demora ardida, o medo e a solidão me esfriam tais as cinzas desse amor que sacrifico. Não é futura a só miséria. A queixa também não é: e apenas acontece no vácuo imenso que este amor me deixa, quando maior, quando de si mais rico, se dá de mundo em mundo, e lá me esquece. Este poema de amor não e lamento. Este poema de amor não é lamento nem tristeza distante, nem saudade, nem queixume traído nem o lento perpassar da paixão ou pranto que há-de transformar-se em dorido pensamento, em tortura querida ou em piedade ou simplesmente em mito, doce invento, e exaltada visão da adversidade. É a memória ondulante da mais pura e doce face (intérmina e tranquila) da eterna bem-amada que eu procuro; mas tão real, tão presente criatura que é preciso não vê-la nem possuí-la mas procurá-la nesse vale obscuro.
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