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MATERIAL PENAL 1 6

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ESPÉCIES DE CONDUTA
CRIME DOLOSO (art. 18, I do CP)
Art. 18 - Diz-se o crime: 
Crime Doloso 
I - doloso, quando o agente quis o resultado (Teoria da vontade explica dolo direto) ou assumiu o risco de produzi-lo;(Teoria do consentimento explica dolo eventual)
Conceito de Dolo: Dolo é a vontade livre e consciente dirigida a realizar ou aceitar realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. Lembrando que a liberdade da vontade (conduta) é questão que deve ser analisada na culpabilidade, não tendo nada a ver com o dolo que se encontra no fato típico.
Elementos do Dolo: 
-Elemento Intelectivo: Nada mais é do que a consciência;
-Elemento Volitivo: Consiste na vontade (querer ou aceitar)
Dolo ≠ desejo: No dolo, o agente quer o resultado delitivo como conseqüência direta ou indireta de sua própria conduta; Já no desejo, o agente aguarda o resultado como conseqüência de comportamento alheio a sua participação.
Teorias do Dolo
Teoria da Vontade: Dolo é a vontade consciente de querer praticar a infração penal.
Teoria da Representação: Fala-se em dolo sempre que o agente prevendo o resultado como possível continua agindo. Crítica: Esta teoria é ampla, abrangendo a culpa consciente, ou seja, para esta teoria a culpa consciente é o próprio dolo.
Teoria do Consentimento ou Assentimento: Fala-se em dolo sempre que o agente prevendo o resultado como possível continua agindo assumindo o risco de produzi-lo, excluindo a chamada culpa consciente. Assim, corrige a crítica feita a teoria da representação.
Prevalece que segundo o art. 18, I do CP, o Brasil adotou duas teorias, ou seja, a teoria da vontade para explicar o dolo direto (quando o agente quis o resultado) e a teoria do consentimento para explicar o dolo eventual (quando o agente assumiu o risco de produzi-lo)
Segundo LFG o Brasil adota as três teorias, de forma que adotamos a teoria da representação no chamado dolo de segundo grau.
Espécies de Dolo
Dolo Direto ou Determinado: Se configura quando o agente prevê um determinado resultado, dirigindo sua conduta na busca de realizá-lo. (ex: O agente prevê a morte e dirigiu sua conduta visando matar). É também chamado de dolo de 1º grau.
 Dolo Indireto ou Indeterminado: O agente com sua conduta não busca realizar resultado certo e determinado. Há duas espécies: 
			b.1 - Dolo alternativo: O agente prevê uma pluralidade de resultados dirigindo sua conduta buscando realizar qualquer um, com a mesma vontade. (ex: o agente prevê lesão e morte, dirigindo sua conduta buscando realizar a lesão ou a morte, ou seja, o agente quer tanto a lesão quanto a morte, com a mesma intensidade de vontade) a realização de qualquer um dos resultados satisfaz o agente.
			b.2 - Dolo Eventual: O agente prevê pluralidade de resultados dirigindo sua conduta na busca de realizar um deles, assumindo o risco de realizar os demais. (ex: o agente prevê lesão e morte, porém dirige a conduta buscando a lesão - o que ele quer, mas assume o risco da morte). O agente age com intensidade de vontade diferente.
Dolo de 2º Grau: É também conhecido como dolo de conseqüência necessária. Consiste na vontade do agente dirigida a determinado resultado, efetivamente desejado, em que a utilização dos meios para alcançá-lo inclui, obrigatoriamente, efeitos colaterais de verificação praticamente certa (o agente não deseja imediatamente os efeitos colaterais, mas tem por certa a sua ocorrência caso se concretize o resultado pretendido). “o dolo do agente quanto aos efeitos colaterais é de 2º grau”. (ex: Morte de irmãos siameses, com relação a vítima pretendida o agente responde por homicídio com dolo de 1º grau, quanto a outra responderá por homicídio com dolo de 2º grau, e ainda, em concurso formal.)
Qual a diferença do dolo de 2º grau para o dolo eventual? No dolo de 2º grau o resultado paralelo é certo e necessário, já no dolo eventual o resultado paralelo é incerto, eventual, possível e desnecessário.
Dolo Cumulativo: O agente pretende alcançar dois ou mais resultados em seqüência, ou seja, trata-se de uma hipótese de progressão criminosa.
Dolo de Dano: A vontade do agente é causar efetiva lesão ao bem jurídico.
Dolo de Perigo: O agente atua com a intenção de expor a risco o bem jurídico.
Dolo Genérico: O agente tem vontade de realizar a conduta descrita no tipo sem fim específico. (ex: art. 121 do CP)
Dolo Específico: O agente tem vontade de realizar a conduta descrita no tipo com um fim específico. (ex: art. 299 do CP – Falsidade ideológica). Atualmente nada mais é do que elemento subjetivo do tipo.
OBS: Atualmente está em desuso a classificação de dolo genérico e específico, falando-se apenas em dolo. O antigo dolo específico é atualmente o dolo acrescido de elemento subjetivo do tipo.
Dolo Geral: Conhecido como erro sucessivo. Ocorre quando o agente, supondo já ter alcançado o resultado por ele visado, pratica nova ação que efetivamente o provoca. Trata-se de erro de tipo acidental sobre o nexo causal.
	Dolo Antecedente
	Dolo Concomitante
	Dolo Subseqüente
	- Anterior à conduta;
- NUCCI: Não interessa para o direito penal, pois consiste em mera cogitação. Exceção: Embriaguez não acidental completa.
	- Ao tempo da conduta;
- Segundo NUCCI o dolo tem que estar presente durante a conduta.
	- Posterior à conduta;
- Não interessa para o direito penal.
Embriaguez não acidental completa: Exceção em que há dolo antecedente, porém devemos considerar a conduta.
m) Dolo de Propósito: Dolo refletido.
n) Dolo de Ímpeto: É o dolo repentino, servindo como atenuante de pena.
o) Dolo normativo: É o dolo adotado pela Teoria Neokantista, espécie de dolo que integra a culpabilidade, tendo como elementos: 
			- Consciência;
			- Vontade;
			- Consciência atual da ilicitude (elemento normativo do dolo)
p) Dolo Natural: É o dolo adotado pela Teoria Finalista, espécie de dolo que integra o fato típico como componente da conduta, tendo como elementos:
			- Consciência;
			- Vontade;
			Obs.: despido de elemento normativo, por isso é chamado de dolo natural.
O doente mental tem consciência e vontade dentro do seu precário mundo valorativo, visto que se entendermos que o doente mental não tem dolo estamos afirmando que o fato se quer é típico, sendo impossível impor a ele medida de segurança, para qual pressupõe fato típico e ilícito.
CRIME CULPOSO
Conceito: O crime culposo consiste numa conduta voluntária que realiza um fato ilícito não querido ou aceito pelo agente, mas que foi por ele previsto (culpa consciente) ou lhe era previsível (culpa inconsciente), e que podia ser evitado se o agente atuasse com o devido cuidado.
O Art. 33, II do CPM traz um ótimo conceito de crime culposo.
Art. 33, II do CPM
II - culposo, quando o agente, deixando de empregar a cautela, atenção, ou diligência ordinária, ou especial, a que estava obrigado em face das circunstâncias, não prevê o resultado que podia prever ou, prevendo-o, supõe levianamente que não se realizaria ou que poderia evitá-lo.
Elementos do crime culposo:
Conduta humana voluntária; Lembrando que a vontade do agente circunscreve-se à realização da conduta e não a produção do resultado (o agente não quer e nem assume o risco de produzir o resultado).
Violação de um dever de cuidado objetivo, ou seja, o agente atua em desacordo com o esperado pela lei e pela sociedade. Tem-se como forma de violações do dever de cuidado a imprudência (agir descuidado; afoiteza), negligência (falta de precaução – não agir como esperado) e imperícia (falta de aptidão técnica para o exercício de arte/oficio/profissão). Lembrando que a denúncia deverá sempre apontar e descrever a modalidade de culpa existente no fato, sob pena de ser considerada inepta.
OBS: Se a inicial trouxer uma modalidade de culpa e a instrução comprovar a existência de outra, deverá o juiz aplicar a mutatio libelli, ou seja, deverá ocorrer o aditando da denúncia, e posteriormente reabrir a instrução. 
OBS: Segundo Juarez Tavares o crime culposo é o direito penal da negligência, ou seja,essa é o gênero das demais formas de violação do dever de cuidado (imprudência e imperícia).
Resultado naturalístico. Lembrando que em regra os crimes culposos exigem o resultado naturalístico (modificação no mundo exterior), porém há EXCEÇÕES, por exemplo, o disposto no art. 38 da Lei 11.343/06 (crime culposo sem resultado naturalístico)
Art. 38 da Lei 11.343/06
Art. 38.  Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa.
	Crime material
	O tipo penal descreve a conduta + resultado naturalístico (é indispensável)
	Crime formal
	O tipo penal descreve a conduta + resultado naturalístico (é dispensável)
	Crime de mera conduta
	O tipo penal descreve uma mera conduta (não tem resultado naturalístico)
Nexo causal
Previsibilidade: Consiste na possibilidade de conhecer o perigo, sendo diferente de previsão. Lembrando que esse elemento pertence somente aos crimes culposos com culpa inconsciente, visto que a culpa consciente não tem esse elemento, uma vez que nessa há efetiva previsão e não mera previsibilidade.
Tipicidade (art. 18, p. único do CP)
Art. 18, p. único do CP
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. (no silêncio só se pune a modalidade dolosa, ou seja, sem previsão legal só se pune a modalidade dolosa)
Nos delitos culposos a ação do tipo não está determinada legalmente, seus tipos são, por isso, “abertos” (necessidade de complementação), já que os juízes têm de complementá-los no caso concreto. De acordo com a maioria, o tipo aberto não fere o princípio da legalidade/taxatividade, pois tem um mínimo de determinação necessária. Tem um crime culposo que a ação negligente já está descrita no tipo, ou seja, a receptação culposa (Art. 180, §3º do CP)
Art. 180, §3º do CP
§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso. (tem doutrinador que por isso o chama de tipo fechado)
A previsibilidade subjetiva, analisada sob o prisma subjetivo do autor do fato, levando em consideração seus dotes intelectuais, sociais e culturais, não é elemento da culpa, mas será considerada pelo magistrado no juízo da culpabilidade.
Espécies de culpa
Culpa Consciente: O agente prevê o resultado, mas espera que ele não ocorra, supondo poder evitá-lo com a sua habilidade (chamada de culpa com previsão).
Culpa Inconsciente: O agente não prevê o resultado, que, entretanto, era previsível (culpa sem previsão, mas com previsibilidade)
Culpa Própria: É aquela em que o agente não quer e nem assume o risco de produzir o resultado.
Culpa Imprópria: Tem natureza jurídica de descriminante putativa por erro evitável. É aquela em que o agente, por erro evitável, fantasia certa situação de fato, supondo estar agindo acobertado por uma excludente de ilicitude (descriminante putativa por erro evitável) e, em razão disso provoca intencionalmente o resultado. Apesar da ação ser dolosa, o agente responde por culpa em razão de política criminal (art. 20, §1º, 2ª parte do CP). É também chamada de culpa por assimilação, equiparação ou extensão. A estrutura do crime é dolosa, porém ele é punido como se culposo fosse. Por isso há doutrina que admite a tentativa na culpa imprópria.
Art. 20, §1º do CP – 2ª parte
§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo.
	
	Consciência
	Vontade
	Dolo direto
	Previsão
	Querer
	Dolo Eventual 
	Previsão 
	Aceitar (assumir o risco)
	Culpa Consciente 
	Previsão (culpa com previsão)
	Sem querer e sem aceitar (acreditando poder evitar)
	Culpa Inconsciente
	Sem previsão, porém com previsibilidade.
	Sem querer e sem aceitar o resultado.
Diferença entre dolo eventual e culpa consciente: Tal diferença está no campo da vontade e não da consciência, visto que nos dois institutos o agente prevê, porém no dolo eventual o agente prevê a produção do resultado e assume o risco de produzi-lo e na culpa consciente o agente prevendo o resultado acredita fermente poder evitá-lo.
O STJ tem entendido que o racha de carro é considerado dolo eventual.
Os tribunais superiores têm entendido que a Embriaguez ao volante com resultado morte é caso de culpa consciente (sem querer e sem aceitar, acreditando pode evitar o resultado).
Compensação de Culpas: Não existe no direito penal a compensação de culpas, ou seja, a culpa concorrente da vítima não isenta o agente de pena, mas poderá atenuar a pena/responsabilidade. (Art. 59 do CP)
Art. 59 do CP
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime:
Crime Preterdoloso (art. 19 do CP)
Art. 19 do CP
Art. 19 - Pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente
Conceito: Trata-se de uma espécie de crime agravado pelo resultado. No crime preterdoloso o agente pratica o crime distinto do que havia planejado cometer advindo resultado mais grave decorrente de culpa. Cuida-se de espécie de crime agravado pelo resultado, havendo concurso de dolo e culpa no mesmo fato (Figura híbrida - dolo no antecedente - conduta e culpa no conseqüente - resultado). 
São crimes agravados pelo resultado:
Crime doloso agravado dolosamente; (ex: homicídio qualificado)
Crime culposo agravado culposamente; (ex: Incêndio culposo agravado por morte culposa)
Crime culposo agravado dolosamente; (ex: Homicídio culposo agravado pela omissão de socorro)
Crime doloso agravado culposamente. (ex: Lesão corporal seguida de morte mesmo bem jurídico). Esta hipótese é chamada de crime preterdoloso.
Elementos do Preterdolo:
Conduta dolosa visando resultado menos grave;
Resultado culposo mais grave do que o planejado/projetado;
Nexo causal.
Lembrando que o resultado (ex: morte) deve ser previsível, ou seja, se o resultado mais grave for decorrente de caso fortuito ou força maior não se imputa a agravação ao agente (ex: o agente só responde pela lesão – lutador cubano que desfere um golpe no arbitro por se sentir prejudicado com o resultado da luta, porém esse cai e é ferido por um prego que estava prendendo o tatame) Lembrando que esse resultado mais grave deve ser ao menos culposo. 
Ex: o agente dá um soco na vítima dentro de uma boate querendo apenas lesioná-lo, embora a vítima cai e bate a cabeça na quina da mesa e morre, o agente responde também pelo resultado morte produzido – lesão corporal seguida de morte).
E ainda, a contravenção de vias de fato (ex: empurrão) fica absorvida pelo resultado morte, respondendo o agente por homicídio culposo.

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