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Tratamento farmacológico da dor - Analgésicos opióides - Profª Fernanda Cerqueira Sobre ópio e opioides... • 1950: uso do termo opioides – “Opium”: do ópio – “Oide”: semelhante – Compostos semelhantes ao ópio • O que é o ópio? – Suco espesso extraído de frutos imaturos de espécies da papoula – Poder hipnótico, utilizado há mais de 6 mil anos, “planta da alegria” Flor da papoula Bulbo da papoula Látex é ressecado para obtenção do ópio Sobre ópio e opióides... • Há 6 mil anos ou mais... – Uso medicinal do ópio – euforia, analgesia, indução do sono, melhora de diarréia • 1950: termo opióides • 1960: identificação dos receptores de opióides no SNC – Mecanismo de ação dos opióides • Mais tarde: definição refinada de opióide – Opióide: composto com atividade nos receptores opióides (agonista ou antagonista) – Opiáceo: compostos derivados do ópio – Analgésicos narcóticos: antigo nome dos opióides (por sua ação indutora de sono), uso atual para indicar drogas de abuso Composição do ópio • Morfina – processamento químico para obtenção de opióides de uso clínico ou mesmo ilegal (semi-sintéticos e sintéticos) • Codeína • Tebaína – matéria prima para síntese de opióides semi-sintéticos (hidrocodona, hidromorfona) • Alcaloides não analgésicos Aspectos químicos Morfina, codeína, tebaína Derivados semi-sintéticos Diamorfina (heroína) Oxicodona Naloxona (antagonista) Série das fenilpiperidinas Meperidina ou petidina Fentanil, alfentanil, sulfentanil Série da metadona Série dos benzomorfanos Pentazocina ciclazocina Derivados da tebaína Bupremorfina Etorfina Derivados sintéticos Receptores opióides Receptores de morfina (1960) Há substância endógena que ativa o receptor da morfina? Encefalinas (1975) Família de peptídeos opioides endógenos ou encefalinas Receptores opióides • Tipos – Receptor μ (MOPr) – Receptor δ (DOPr) – Receptor κ (KOPr) – OLR1 (NOPr) • Acoplados à proteína G • Localização – SNC (córtex e medula espinal) – Terminais nervosos periféricos – Modulação da via da dor nos níveis supraespinal (sistema de controle inibidor descendente), espinal (inibição da transmissão de impulsos nociceptivos) e periférico (inibição da atividade dos terminais nociceptivos aferentes) Receptores opióides Abertura de canais de potássio Redução do influxo de cálcio HIPERPOLARIZAÇÃO Inibição da adenilato ciclase Redução de AMPc Ativação da MAPK Alterações adaptativas de longo prazo (dependência) Receptores de opioides Receptor Efeitos fisiológicos (ativação) Receptor μ (MOPr) Analgesia Depressão respiratória, euforia, sedação, dependência Receptores mais abundantes Receptor δ (DOPr) Analgesia Atividade epiléptica Receptor κ (KOPr) Analgesia (espinal) Sedação, alucinações OLR1 (NOPr) Efeito anti-opioide (supraespinal) Analgesia (espinal) Imobilidade, comprometimento da capacidade de aprendizado Como os opioides (endógenos e sintéticos) atuam em seus receptores? • Afinidade diferencial pelos diferentes tipos de receptores (especificidade) • Eficácia diferencial nos diferentes tipos de receptores – AGONISTAS PUROS – AGONISTAS PARCIAIS – AGONISTAS-ANTAGONISTAS MISTOS – ANTAGONISTAS Efeitos sobre os sistemas orgânicos • Sistema nervoso central • Trato gastrointestinal • Outros • Protótipo: morfina Efeitos sobre o SNC Efeito Características Analgesia (MOPr) • Dor aguda e crônica • Mais efetivos em dores relacionadas a lesão tecidual, inflamação e tumores que em dores neuropáticas • Redução do componente afetivo da dor (sistema límbico, relacionado à euforia) Euforia (MOPr) • Sensação de bem-estar • Redução do componente de ansiedade e agitação relacionado à dor • Menos acentuada em pacientes familiarizados com dor crônica Depressão respiratória (MOPr) • Inibição do ritmo respiratório • Inibição da sensibilidade do centro respiratório ao CO2 • Causa mais comum de morte por intoxicação aguda por opióides Efeitos sobre o SNC Efeito Características Supressão do reflexo da tosse • Mecanismo desconhecido • Não correlacionado com efeito analgésico ou depressor respiratório Náuseas e vômitos • Estimulação da zona desencadeadora quimiorreceptora (“centro do vômito”) • Tendência de redução com uso continuado Constrição pupilar ou miose MOPr KOPr • Estimulação do núcleo oculomotor • Não ocorre tolerância em relação a este efeito • Sinal clínico de intoxicação por opioides Efeitos sobre o TGI Efeito Características Constipação intestinal • Aumento do tônus muscular e redução da motilidade de diversos segmentos do TGI Retardo do esvaziamento gástrico • Possibilidade de retardo da absorção de fármacos Contração da vesícula biliar e esfíncter biliar • Piora de cólica biliar Outros efeitos Efeito Características Liberação de histamina (mastócitos) Independente de receptores opióides Urticária, prurido, broncoconstrição, hipotensão Depressão do centro vasomotor Hipotensão e bradicardia Espasmo de músculo liso Ureter, bexiga, útero Imunossupressor Possível aumento do risco de infecção Tolerância • Definição • Desenvolve-se poucos dias após administração repetida – Mais acentuada para analgesia, depressão respiratória, náuseas e vômitos, euforia (vs constipação intestinal e miose) – Tolerância cruzada entre alguns opióides (ação sobre o mesmo receptor) • Mecanismos – Dessensibilização dos receptores MOPr – Alterações adaptativas celulares, sinápticas e em redes de neurônios • Consequência: aumento da dose do opióide para controle de dor Dependência • Estado em que a suspensão do opióide determina efeitos fisiológicos, que constituem a síndrome de abstinência • Manifestações clínicas – Irritabilidade, diarréia – Comportamentos anormais (movimentos involuntários, agressividade), agitação – Tremores • Raramente a dependência resulta em abuso ou compulsão (dependência psicológica), nos pacientes em uso de opióides como analgésicos Farmacocinética • Absorção oral variável – Morfina: errática e lenta; preparações de liberação lenta para uso no tratamento de dor crônica – Oxicodona: preparação de liberação prolongada – Codeína: boa absorção oral • Efeito de primeira passagem extenso com administração oral • Meia-vida curta (3 a 6 horas): Morfina • Metabolismo hepático, alguns metabólitos ativos • Excreção renal Farmacocinética • Administração parenteral – Intravenosa, intramuscular – Intratecal: redução dos efeitos sedativos e depressores respiratórios; * Uso para tratamento de dor intensa e aguda * Bomba para uso sob demanda (analgesia controlada pelo paciente) • Ajuste da dose para obtenção de analgesia sem sedação • Controle da dose máxima de infusão • Redução da ansiedade (auto- regulação) Quais os efeitos adversos dos opióides? Previsíveis a partir dos mecanismos de ação • Sedação, coma • Depressão respiratória • Constipação intestinal • Náuseas e vômitos • Prurido • Euforia • Dependência e tolerância • Irritação no sítio de aplicação Antagonistas de opióides • Tipos – Naloxona – Naltrexona – Metilnaltrexona – Alvimopan • Ligação ao receptor, sem atividade intrínseca – antagonismo da ação de opioides endógenos ou exógenos Antagonistas: naloxona • Antagonista puro • Ligação aos três receptores clássicos (MPOr, KPOr, DPOr) • Efeitos clínicos – Indivíduos saudáveis: nulos – Estímulo nociceptivo: hiperalgesia (antagonismo dos opioides endógenos) • Uso clínico – Tratamento da depressão respiratória causada por superdosagemde opióides – Reversão da depressão respiratória de neonatos cujas mães usaram opióides no trabalho de parto Antagonistas: naltrexona • Antagonista puro • Ligação aos três receptores clássicos (MPOr, KPOr, DPOr) • Duração de ação prolongada (> naloxona) • Uso clínico – Pacientes que estão se recuperando de abuso de opioides (antagonizar efeito de dose administrada em recaída) – Tratamento de prurido crônico (hepatopatia) Antagonistas: metilnaltrexona e alvimopan • Antagonistas do receptor MPOr • Não atravessam barreira hematoencefálica • Uso em conjunto com opióides para evitar os efeitos adversos periféricos (constipação, náuseas e vômitos) Agonistas: codeína • Boa absorção oral • Potência analgésica de 20% da morfina • Baixo potencial de abuso • Raramente causa euforia • Constipação intestinal • Uso: dores mais leves, antitussígeno • Combinação com analgésicos (paracetamol) Tramadol • Indicado para o tratamento da dor moderada: dores pós-parto, pós-operatório • Menos depressão respiratória e constipação • Pode facilitar convulsão em pacientes predispostos Fentanil, alfentanil, sufentanil • Ação potente, semelhante à da morfina • Início de ação rápido, duração de ação curta • Uso em anestesia – Administração intra-tecal • Sistemas de infusão intra-tecal em dor crônica grave • Sistema transdérmico (pellet no subcutâneo) em dor crônica grave Metadona • Administrção por via oral • Potência semelhante à da morfina, duração de ação mais prolongada • Uso clínico – Dor grave – Tratamento da dependência de heroína (duração mais prolongada resulta em síndrome de abstinência menos acentuada)
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