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INTRODUÇÃO À ECONOMIA Ricardo Moysés Resende FEAD Belo Horizonte 2010 EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA R433i Resende, Ricardo Moysés Introdução a Economia / Ricardo Moysés Resende. Belo Horizonte: EAD/Fead, 2009. 132 p. ISBN 978-85-99419-23-4 I. Título II. Economia CDU 331 Publicado por FEAD Copyright©2010 FEAD Diretor-Geral José Roberto Franco Tavares Paes Capa Dia de Mercado (1878), de Victor Gabriel Gilbert. Óleo sobre tela. Coleção particular. Fonte: Art Renewal Center. Todos os direitos reservados ao Sistema Integrado de Ensino de Minas Gerais – SIEMG Rua Cláudio Manoel, 1.162 – Savassi – Belo Horizonte – MG Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, armazenada ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, seja ele eletrônico, mecânico, fotocópia ou gravação, sem autorização do SIEMG. Atenção: pode acontecer de algum desses sites indicados não estar mais disponível devido ao dinamismo que caracteriza essa fonte de informação. A Faculdade FEAD apresenta novo projeto, fundamentado em aspectos metodológicos da auto-aprendizagem, e inaugura os cursos de graduação na modalidade a distância. Estudar na modalidade a distância é adquirir, além de conhe- cimento do conteúdo apresentado, competências hoje exigidas no campo profissional e pessoal: autonomia, interação, determi- nação, gerenciamento da própria formação e atualização conti- nuada. A Instituição que se propõe formar empreendedores apresen- ta atitude inovadora e ensina pelo próprio exemplo. O projeto FEAD de Educação a Distância vem sendo desenvolvido desde 2004 e, agora, torna-se realidade. Buscar atingir a meta da qualidade em todos os projetos edu- cacionais é o que move a comunidade FEAD. Projeto de muitas mãos e mentes, trabalho conjunto de professores, coordenadores, funcionários, empresas parceiras e direção, na busca de produzir o que há de consubstancial em aprendizagem na modalidade a distância. Sinta-se, em definitivo, participante e construtor deste novo tempo. Faça parte do seu mundo. Bem-vindo ao século XXI! Professor José Roberto Franco Tavares Paes Direção-Geral Sou o professor Ricardo Moysés Re- sende, bacharel em Ciências Econômi- cas pela Newton Paiva, pós graduado, pela PUC/MG, em Política Econômica, máster em Economia pela Universida- de Enrico Matei/Milão/Itália, mestre em Economia Rural pela Universidade Federal de Viçosa. Fui professor titular de economia nas Faculdades Integra- das Newton Paiva, professor de eco- nomia na FUMEC para o Curso de Engenharia, professor de economia no SESI/MG, nos cursos preparatórios para concursos públicos Maurí- cio Trigueiro, Queiroz e Orville Carneiro e professor de pós gradu- ação na FACICOM- Faculdade de Ciências Contábeis de Caratin- ga, na UNA e nas Faculdades Novos Horizontes. Tive participação no Centro de Pesquisas da Newton Paiva e da UNA. Fui assessor do Departamento de Economia da Newton Paiva, professor no curso de graduação na UNA e diretor econômico financeiro da SEPLAN MG – Secretaria de Planejamento do Estado de Minas Gerais. Fui chefe do Departamento de Economia do Centro Uni- versitário UNA e coordenador do curso de Ciências Econômicas. Estou na FEAD há 5 anos, lecionando economia para os cursos de Administração. Espero que você aproveite bastante seu cur- so e me coloco à sua disposição para qualquer necessidade que você tenha em relação ao seu curso e sua disciplina. Pretendo, à medida do possível, conhecê-lo pessoalmente, visto que nossos encontros serão virtuais. Aproveito a oportunidade para deixá-lo à vontade para apresentar sugestões em relação ao curso e ao mate- rial e desejar-lhe boa sorte. Abraços carinhosos, Ricardo. Fo to : J oã o M ar co s D ad ic o Sumário AULA 1 • Por que estudar Economia .....................................................................................9 AULA 2 • Os bens econômicos .......................................................................................... 13 AULA 3 • Os recursos produtivos ....................................................................................... 17 AULA 4 • Sistema Econômico ........................................................................................... 21 AULA 5 • A questão econômica da escassez ......................................................................... 25 AULA 6 • Os agentes econômicos / O fluxo circular da renda ..................................................... 29 AULA 7 • O mercado em ação ......................................................................................... 33 AULA 8 • Teoria da oferta ............................................................................................... 37 AULA 9 • O equilíbrio do mercado ..................................................................................... 41 AULA 10 • Teoria das elasticidades ..................................................................................... 45 AULA 11 • Elasticidade-renda e elasticidade cruzada da demanda ............................................... 51 AULA 12 • Os custos da produção e a Teoria do Lucro ............................................................... 55 AULA 13 • A Macroeconomia ............................................................................................. 59 AULA 14 • Contabilidade Social ......................................................................................... 65 AULA 15 • A renda nacional e o Produto Interno Bruto .............................................................. 69 AULA 16 • Aplicando os conceitos do PIB e PNB ...................................................................... 73 AULA 17 • O PNB real, nominal e per capital ......................................................................... 77 AULA 18 • Política monetária ............................................................................................ 81 AULA 19 • Economia monetária ......................................................................................... 85 AULA 20 • A estrutura e o funcionamento do sistema financeiro .................................................. 89 AULA 21 • O sistema finaceiro nacional................................................................................ 93 AULA 22 • O mercado de capitais e a bolsa de valores .............................................................. 97 AULA 23 • A política fiscal .............................................................................................. 101 AULA 24 • O balanço de pagamentos.................................................................................. 105 AULA 25 • Teoria da inflação ........................................................................................... 109 AULA 26 • Taxa de câmbio .............................................................................................. 113 AULA 27 • O Brasil e a abertura comercial ........................................................................... 117 AULA 28 • Economia brasileira: as crises do início da década de 90 e o programa de privatizações .......121 AULA 29 • O custo Brasil ................................................................................................ 125 AULA 30 • Risco país ..................................................................................................... 129 INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 1 Por que estudar Economia? Objetivos • Descrever alguns dos principais motivos pelos quais deve-se estudar economia. • Descrever e classificar as necessidades humanas. • Conceituar Economia. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 10 Por que estudar Economia? Nesta aula,iniciamos nosso estudo de Economia. O objetivo da aula de hoje é entender a importância do seu estudo e os motivos pelos quais devemos estudá-la. Pode-se dizer que este estudo tem diversos motivos: Para ajudar a compreender melhor o mundo: a apli- cação das ferramentas da Economia pode ajudá-lo a en- tender eventos globais e cataclismos como guerras, fome, epidemias e depressões, e também a compreender muito do que se passa com você local e pessoalmente. A Econo- mia tem o poder de ajudar a entender esses fenômenos porque eles resultam, em grande parte, das escolhas que fazemos quando estamos sob condições de escassez. Mais à frente, você verá que a questão básica da Eco- nomia é como lidar com o problema humano da escassez de recursos. Proporcionar autoconfiança: as pessoas que jamais estudaram Economia muitas vezes têm a impressão de que forças misteriosas e inexplicáveis conduzem suas vidas, jo- gando-as de um lado para outro, como se fossem uma bo- linha em uma máquina de fliperama, determinando se são ou não capazes de conseguir um emprego, qual será seu salário, se conseguirão comprar uma casa. Se você é uma dessas pessoas, você terá oportunidade de perceber como tudo isso mudará. Depois de aprender Economia, você poderá se sur- preender com o fato de não deixar mais de lado a seção de economia de seu jornal simplesmente porque ela pare- ce estar escrita em uma linguagem incompreensível. Você poderá se descobrir ouvindo relatórios econômicos com espírito crítico, encontrando erros de lógica. Quando compreender bem Economia, você terá ad- quirido um senso de domínio sobre o mundo e, com isso, sobre sua própria vida. Realizar mudanças sociais: se o seu interesse é cons- truir um mundo melhor, a Economia é indispensável. A Economia pode ajudar a entender as raízes de problemas sociais graves como desemprego, fome, pobreza, doen- ça, drogas e crimes violentos, explicar por que os esforços dedicados a resolvê-los falharam e permitir criar soluções novas e mais eficazes. Ajudar na preparação para outras carreiras: nos últi- mos 20 anos, a Economia tornou-se popular também entre aqueles que planejam fazer carreira em Política, Relações Internacionais, Direito, Medicina, Engenharia, Psicologia e outras profissões. E por um bom motivo: os profissionais de todas essas áreas muitas vezes se deparam com ques- tões econômicas. Por exemplo: os advogados cada vez mais lidam com sentenças baseadas no princípio de eficiência econômica. Formar economistas: os economistas são contratados por bancos para avaliar os riscos de investimentos no exte- rior; por empresas de manufaturas para ajudar na determi- nação de novos métodos de fabricação, comercialização e formação de preço de seus produtos; por órgãos governa- mentais para ajudar a criar políticas de combate ao crime, à doença, à pobreza e à poluição; por organismos internacio- nais para ajudar a criar programas de auxílio a países menos desenvolvidos; pelos meios de comunicação para comentar e ajudar o público a interpretar eventos globais, nacionais e locais e até mesmo por organizações sem fins lucrativos para oferecer conselhos sobre como obter maior eficiência no controle de custos e no levantamento de recursos. O economista pode atuar, também, como consultor autônomo. O conceito de Economia Agora que iniciamos nosso estudo de Economia, você deve estar se perguntando: o que é Economia? É de senso comum que a Economia lida com questões como: • por que existe desemprego em um país? • qual a função do governo em uma sociedade? • o que é a bolsa de valores? • por que devemos pagar imposto de renda? Mas o que é exatamente Economia? O que ela estuda, na realidade? Quais são os seus métodos? A ciência econômica estuda a interação entre os in- divíduos e a sociedade quando ambos decidem utilizar recursos escassos na produção de bens e serviços, a fim de distribuí-los na sociedade, satisfazendo a necessidade de todos. A essência desta aula é discutir o problema da escas- sez dos recursos, as necessidades humanas e como a eco- nomia procura satisfazê-las. O problema central da economia gira em torno da escassez. Você sabe o que é escassez? Escassez é uma falta. Recursos escassos são aqueles que não são abundantes na natureza. AULA 1 • Por que estudar Economia? 11 As pessoas e a sociedade têm necessidades. Entretan- to, como os recursos utilizados na produção dos produtos e serviços que serão utilizados para satisfazer essas neces- sidades são escassos, é preciso desenvolver uma maneira de alocá-los convenientemente, sob pena de não haver disponibilidade desses recursos para todos os indivíduos, pois com os recursos existentes no mundo não é possível produzir tudo que as pessoas e as sociedades necessitam. A Economia, então, se ocupa da questão da satisfação das necessidades dos indivíduos e da sociedade. Os principais elementos da atividade econômica são: • as necessidades humanas; • os recursos produtivos (ou fatores de produção). Assim, para entender o que é Economia, precisamos entender o que são necessidades humanas e o que são recursos produtivos. Estudaremos agora estes dois tópi- cos; depois retornaremos à definição de Economia. Necessidades humanas Você sabe o que e quais são as necessidades huma- nas? Necessidade humana é a carência de algo aliada ao desejo de satisfazê-la. Por exemplo: alimentação, vestuá- rio, eletrodomésticos, educação etc. A sociedade como um todo também apresenta neces- sidades específicas, como: justiça, forças de defesa externa e polícia, infra-estrutura de transportes etc. Como você viu, as necessidades humanas podem ser divididas em dois grandes grupos: as necessidades do indi- víduo e as necessidades da sociedade. As necessidades do indivíduo podem ser naturais: • comer • ter um local para morar • etc. Podem ser também sociais, aquelas que decorrem da vida em sociedade: • vestir roupas da moda • ter um carro de certo tipo • etc. As necessidades sociais, por sua vez, podem classifica- das em coletivas ou públicas. Coletivas são aquelas que partem do indivíduo e pas- sam a ser da sociedade na medida em que têm de ser sa- tisfeitas para um grupo grande de indivíduos, como trans- porte público, educação etc. Públicas são aquelas que surgem da própria socieda- de, como defesa nacional e ordem pública. Observe que essa classificação leva em conta apenas aquele que tem a necessidade (o indivíduo ou a socieda- de), isto é, o requerente. Outra forma de classificar as ne- cessidades humanas é quanto à sua natureza. Neste caso, podemos dividi-las em necessidades vitais ou primárias e necessidades civilizadas ou secundárias. As necessidades vitais ou primárias são aquelas es- senciais à própria vida, como alimentação, enquanto as necessidades secundárias ou civilizadas são aquelas que aumentam o bem-estar do indivíduo, como as atividades de lazer. Toda essa classificação está descrita no quadro abai- xo: Tipos de necessidades Segundo o requerente natural comer e dormir Necessidades do indivíduo coletivas transporte e educação Necessidades da sociedade social convívio social públicas ordem pública ou defesa nacional conservação da vidaNecessidades vitais e primárias aumentam o bem-estar do indivíduo Necessidades civilizadas ou secundárias Segundo a natureza INTRODUÇÃO À ECONOMIA 12 A satisfação das necessidades humanas força os mem- bros de uma sociedade a organizarem-se em torno de ati- vidades produtivas, isto é, as pessoas devem produzir bens e serviços que atendam às necessidades dos membros da sociedade. Essa produção deve ser, de alguma forma, dis- tribuída aos membros da sociedade para seu consumo. Você acabou de ver dois conceitos fundamentais na Economia:produção e consumo, que levam aos proble- mas básicos de como a produção é organizada – seja em uma empresa ou em uma sociedade como um todo –, e de como esses bens produzidos são distribuídos. Definição de Economia Agora podemos conceituar Economia. Economia pode ser definida como a ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem uti- lizar recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre as várias pessoas e grupos da sociedade, com a finalidade de satisfazer as necessidades humanas. Podemos dizer que a Economia estuda a melhor ma- neira de utilizar os recursos disponíveis – que, como vimos, são escassos – para satisfazer da melhor maneira possível as necessidades dos indivíduos e das sociedades, ou seja, de aproveitar os recursos de maneira a obter o máximo de bem-estar para todos. A Economia é o estudo da escolha sob condições de escassez. Ao lado do conceito de Economia está o conceito de sistema econômico, que é, em poucas palavras, a organi- zação econômica de uma sociedade. Um sistema econômico pode ser entendido como o conjunto de relações técnicas, básicas e institucionais que caracterizam a organização econômica de uma sociedade. Independentemente do seu tipo, todo sistema econômico deve, de algum modo, desempenhar cinco funções bási- cas, determinando: • o que se deve produzir; • como se deve organizar a produção; • como devem ser distribuídos os produtos; • como devem ser racionados os bens no período em que a oferta é fixa; • como se deve sustentar e/ou expandir a capacida- de produtiva. Resumo Nesta aula você viu diversos motivos pelos quais de- vemos estudar Economia: ajuda a compreender o mundo, proporciona auto-confiança, ajuda a realizar mudanças sociais, ajuda na preparação para outras carreiras e forma economistas, que são profissionais de grande demanda no mercado. Viu que o problema básico da Economia é a escassez de recursos para satisfazer as necessidades, o que obriga as sociedades a organizar a produção de bens e serviços de forma a satisfazer, da melhor maneira possível, essas necessidades. Atividades 1. Enumere algumas razões para estudar Economia e descreva quais destas razões são mais relevantes para você. 2. Por que se diz que os recursos são escassos? 3. Conceitue Economia. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 2 Os bens econômicos Objetivos • Conceituar bem econômico e diferenciá- lo de bem livre. • Classificar os bens econômicos segundo seu caráter, sua natureza e sua função. • Conceituar serviços. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 14 Bens econômicos Na primeira aula você viu que o problema fundamen- tal da Economia é o problema da escassez. Trata-se do fato de que a necessidade humana por bens e serviços é ilimita- da, enquanto os recursos econômicos são limitados. Observe que escassez é um conceito relativo; quando falamos em necessidade humana, queremos dizer o de- sejo de obter alguma coisa, isto é, a vontade de satisfazer uma certa sensação de carência, mesmo que para outra pessoa essa carência possa parecer um luxo. Recursos produtivos são os fatores ou elementos bá- sicos utilizados para produzir os bens e serviços Há bens que estão disponíveis em quantidade suficien- te para todos, como o ar que respiramos. Bens escassos são aqueles que não existem em quantidade suficiente para sa- tisfazer os desejos dos indivíduos. Estes últimos são os bens que interessam à Economia, no sentido de que ela se ocupa com o problema de encontrar a melhor forma de produzi-los e distribui-los a fim de atender as necessidades humanas. A Economia, portanto, se ocupa com a problema do emprego eficiente dos recursos disponíveis para resolver o dilema entre: • a escassez dos bens econômicos e • os desejos ilimitados da sociedade. O antagonismo entre essas duas realidades é a razão de existir da Economia. Se todos os bens necessários fos- sem abundantes e os desejos da sociedade fossem limita- dos, todos poderiam ser atendidos livremente. A realida- de, no entanto, é que poucos bens são livres. Observe que mesmo bens considerados livres podem se tornar, aos poucos, bens econômicos. A água potável, por exemplo, poderia ser considerada abundante em mui- tos locais do planeta. Hoje, entretanto, a água potável é um bem escasso e há uma preocupação mundial com ela. O ar que respiramos ainda é considerado livre, mas a cres- cente poluição do ar força as sociedades a empregarem recursos para despoluição, o que irá transformar o próprio ar em um bem econômico, pois exigirá o emprego de re- cursos para não chegar à escassez. Tipos de bens Você já viu que os bens podem ser classificados, quan- to ao ser caráter, em: • bens econômicos: têm utilidade, escassez e são transferíveis. Por exemplo: matérias-primas, má- quinas, capital. • bens livres: bens disponíveis em quantidade sufi- ciente para satisfazer a todos; são abundantes na natureza e não têm preço. Por exemplo: a água. A classificação anterior leva em conta o caráter do bem. Os bens livres são aqueles cujo consumo não possui restrições, ou seja, existem com tal abundância que não se submetem a um sistema de preços. Os bens classificados como econômicos, por sua vez, são de consumo restrito e têm preço, que é, a princípio, estipulado pelas leis de mercado vigentes. A Economia trata apenas dos bens econômicos, devi- do ao fato de sofrerem o problema da escassez. Os bens livres, por existirem em grande quantidade na natureza, não fazem parte do objeto de estudo da Economia. Uma outra divisão dos bens tem como critério sua natureza; distingue-os entre os que atendem diretamente as necessidades humanas e aqueles que são usados para produzir outros bens. Bens de capital são aqueles que permitem a amplia- ção da capacidade produtiva, levando ao próprio funcio- namento do sistema econômico. Bens de consumo são aqueles que se destinam ao consumo final por parte dos indivíduos. Um mesmo bem pode ser considerado de capital ou de consumo, de acordo com a sua utilização: se for usado como insumo, é um bem de capital; do contrário, pode ser considerado um bem de consumo. Veja o caso do automóvel. Quando é utilizado estritamente como instrumento de prestação de serviços (por um taxista, por exemplo), é um bem de capital; contudo, o mesmo veícu- lo utilizado, se usado por uma família para seu lazer, é um bem de consumo. Os bens de consumo podem ser classificados como duráveis ou não duráveis. Como a própria denominação sugere, os bens de consumo duráveis têm maior tempo de utilização; é o caso do veículo de uso particular, eletrodo- mésticos etc. Já os não-duráveis são os de curta vida útil, como alimentos e vestuário. Em resumo: • bens de consumo são aqueles que atendem direta- mente às necessidades humanas. São classificados como duráveis os que permitem uso prolongado, como carros, eletrodomésticos etc.; e não-duráveis AULA 2 • Os bens econômicos 15 os que acabam em pouco tempo, como os alimen- tos. • bens de capital são aqueles utilizados na fabricação de outros bens, ou seja, não atendem diretamente às necessidades das pessoas, como as máquinas e ferramentas. Uma terceira classificação dos bens é quanto à sua função: se eles estão prontos para uso ou consumo ou se devem ainda sofrer algum processo de transformação. • bens intermediários são aqueles que são transfor- mados ou agregados na produção de outros bens. São consumidos para se converterem em outro bem de consumo ou capital, ou seja, são as maté- rias-primas que serão processadas para a produção de um bem final. O trigo na produção do pão e outros alimentos é um ótimo exemplo de bem in- termediário, assim como o cimento na produção de umacasa. • bens finais são aqueles que já sofreram as trans- formações necessárias e estão prontos para uso ou consumo. Estão nesse grupo os alimentos já prepa- rados ou a casa do grupo anterior. Essa classificação está descrita no quadro a seguir: Tipos de bens Os bens podem ainda ser classificados em privados e públicos. Bens privados são aqueles usados ou consu- midos privadamente, como eletrodomésticos e peças de vestuário. Bens públicos são usados coletivamente por um grupo, como um parque ou uma piscina pública. Devemos considerar também as atividades que não se destinam diretamente à criação de bens físicos, isto é, não produzem um bem material: são os serviços. Atualmen- te, este segmento vem crescendo, ocupando boa parte da parcela produtiva da economia e envolvendo grande par- cela dos trabalhadores. Serviços são as atividades que se destinam a satis- fazer as necessidade humanas mas não criam objetos materiais. A atividade de serviços pode estar relacionada à dis- tribuição de produtos, como os setores de distribuição e vendas; à educação (professores) e entretenimento (ato- res, músicos etc.); à área de saúde (médicos, dentistas, en- fermeiros etc.); à área financeira (bancos, financeiras etc.) e muitas outras. Resumo Nesta aula voltamos ao tema da escassez de recursos; você viu o antagonismo existente entre essa escassez e as necessidades humanas, que são ilimitadas. Desse antago- nismo surge a necessidade do estudo econômico. Viu também o conceito de bem econômico, que é o objeto básico de estudo da Economia. Os bens econômi- cos podem ser classificados de várias formas: quanto ao seu caráter (em bens livres e bens econômicos), quanto à sua natureza (em bens de capital e bens de consumo), quanto à sua função (em bens intermediários e bens fi- nais). Os serviços são as atividades que não criam objetos materiais, mas atuam para satisfazer, direta ou indireta- mente, as necessidades humanas. Atividades 1. Conceitue bem econômico. Por que a Economia não se preocupa com os bens livres? 2. Um artigo de luxo pode ser considerado uma necessi- dade humana? Sua produção e distribuição são objeto da Economia? 3. Imagine uma fábrica de tecidos. Relacionar seus bens intermediários e seus bens finais. 4. O que são serviços? Como eles se diferenciam dos bens? Segundo seu caráter Bens livres Bens econômicos Segundo sua natureza Bens de capital DuráveisBens de consumo Segundo sua função Bens intermediários Bens finais Não-duráveis INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 3 Os recursos produtivos Objetivos • Conceituar recurso produtivo. • Classificar população em ativa e inativa em empregados. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 18 Definição e características Vamos iniciar esta aula com a definição de recursos produtivos. Como você já viu, a sociedade deve produzir os bens e serviços de que necessita. Para tal, emprega re- cursos como terra, máquinas, trabalho etc. Recursos produtivos são os fatores ou elementos bá- sicos utilizados para produzir os bens e serviços. Os recursos também são chamados fatores de produ- ção. Portanto, trabalho, máquinas, matérias-primas, di- nheiro, todos são recursos produtivos. Enfim, tudo aquilo que é utilizado para produzir é um recurso produtivo. Os recursos produtivos possuem três características básicas: 1. São escassos: por isso, devem ser alocados crite- riosamente para atender às necessidades. A escas- sez torna necessária uma avaliação cuidadosa de quais necessidades devem ser satisfeitas, em que medida e em que ordenação. 2. São versáteis: os recursos podem ser aproveitados de variadas formas. O trabalho, por exemplo, pode ser empregado em quase todos os tipos de pro- dução. Entretanto, quanto mais especializado for, maiores serão as restrições ao seu uso. Em outras palavras: quanto maior a especificidade de um fa- tor de produção, maiores serão suas limitações de utilização. 3. Podem ser combinados: na maioria das vezes, para produzir um mesmo bem deve-se combinar diversos fatores de produção. Classificação dos recursos produtivos Os recursos produtivos são tradicionalmente classifi- cados em três grandes segmentos: • terra; • capital; • trabalho. O recurso terra Este recurso deve ser entendido em um sentido am- plo. Incluímos aqui não só a terra cultivável e urbana como também todos os recursos minerais que a terra contém. Os recursos oriundos da natureza estão na base de todos os bens produzidos em um sistema econômico. Compõem o fator terra todos os recursos minerais, hídricos, energéticos e o próprio espaço físico utilizado pela empresa. O recurso capital O recurso capital indica a participação de instrumen- tos de transformação dos recursos primários de produção e envolve toda a gama de máquinas e equipamentos, ins- talações e edificações destinados à finalidade de produzir (transformar). O recurso trabalho O recurso trabalho é capacidade produtiva física e intelectual dos trabalhadores presente, direta ou indireta- mente, na produção de todo tipo de bens. Mesmo aque- les que aparentemente não o envolvem, por terem uma produção extremamente mecanizada, têm na sua origem o trabalho intelectual humano como fonte de elabora- ção. População Denomina-se população de uma região o conjunto de seres humanos que vivem nessa região. É preciso dis- tinguir população ativa e população inativa. A população inativa é formada por aquelas pessoas que somente consomem, isto é, não participam do proces- so produtivo. Incluem-se aqui os aposentados, estudantes, pessoas que não estão em idade de trabalhar e os fisica- mente incapacitados para trabalhar. A população ativa é formada pelas pessoas que participam do processo produtivo. Divide-se em em- pregados – os que estão efetivamente trabalhando – e desempregados – aqueles que reúnem todas as con- dições para trabalhar, mas que no momento não estão trabalhando. É possível ainda dividir os empregados em emprega- dos no sentido estrito – aqueles que têm trabalho remu- nerado fixo – e empregados ativos marginais – aqueles que fazem serviços periódicos. O quadro a seguir resume estas classificações de po- pulação. AULA 3 • Os recursos produtivos 19 O contingente da população em idade de trabalhar é delimitado em geral pela faixa etária que vai dos 14 aos 60 anos. A taxa de ocupação compreende o quociente entre o número de pessoas ocupadas e o total de habitantes, o que aponta para a proporção da população que, com seu trabalho, é responsável pelo total da produção dos bens da comunidade. Segundo Castro & Lessa1, a taxa de ocupa- ção no Brasil é próxima a 32%; em países mais maduros, como a França e a Inglaterra, é de cerca de 42%. Cabe observar também que o Brasil é um país em que cerca de 30% da população encontra-se entre 0 e 14 anos2, fora, portanto, da faixa de população ativa (IBGE, 2000). Bens de capital Na aula passada, você viu que os bens econômicos podem ser divididos em bens de consumo e bens de ca- pital. Estes últimos, também chamados bens de produção, são os bens que não atendem diretamente às necessidades humanas mas são utilizados na produção de outros bens. Vamos estudar agora com mais detalhes os bens de capital. Observe que, em Economia, o termo capital se refere a capital físico, isto é, máquinas, equipamentos e edifí- cios, e não capital financeiro. Um ativo bancário de uma empresa não constitui recurso produtor de bens; portanto, não é capital no sentido que se dá em Economia. O capital empregado na produção é dividido em ca- pital fixo e capital circulante. Capital fixo são os instrumentos, máquinas, equipa- mentos, edifícios etc. empregados na produção; tipica- mente duram vários ciclosde produção. Capital circulante são os bens em processo de pre- paração para consumo, como matérias-primas e estoques disponíveis. Como você pode ver, em Economia é importante dis- tinguir capital ou capital físico de capital financeiro. Da mesma forma, deve distinguir capital de capital humano. Capital humano envolve tudo que diz respeito ao aprimoramento da capacidade produtiva dos trabalhado- res, como educação e formação profissional. As empresas investem na formação profissional de seus empregados para incrementar sua capacidade produtiva. Completa o quadro de tipos de capital o capital finan- ceiro, que pode ser definido como os fundos disponíveis para a compra de capital físico. Um dinheiro guardado que pode ser utilizado para a compra de uma máquina, por exemplo. O quadro a seguir classifica os vários tipos de recurso capital existentes. População População inativa População ativa Desempregados Empregados ou população ocupada Empregados ativos marginais Empregados no sentido estrito Tipo de capital Capital físico Capital humano Capital financeiro Capital fixo Capital circulante 1. A. Castro & C. Lessa, Introdução à Economia – uma abordagem estruturalista. Editora Forense Universitária, 37ª edição. 2. Dados do IBGE de 2000 – ver http://www.ibge.gov.br/brasil_em_sintese. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 20 Resumo Nesta aula você estudou o conceito de recurso produ- tivo e a classificação tradicional em recurso terra, recurso trabalho e recurso capital. Em seguida, analisou cada um desses recursos. Viu o conceito de população ativa e inativa, emprega- dos e desempregados, empregados propriamente ditos e empregados ativos marginais. Estudou ainda os bens de capital, diferenciando capi- tal fixo e capital circulante. Conceituamos também capital humano e capital financeiro. Atividades 1. Conceitue os três fatores de produção que constituem os recursos produtivos. 2. Dê exemplos de recursos terra, trabalho e capital en- volvidos na produção de algum produto. Você conhece algum produto que possa ser produzido sem utilizar conjuntamente estes três fatores produtivos? 3. O que é taxa de ocupação de uma população? 4. Conceitue e diferencie capital físico, capital financeiro e capital humano. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 4 Sistema Econômico Objetivos • Identificar e responder às questões eco- nômicas fundamentais: • Quais são três as maneiras pelas quais as sociedades se organizam a fim de resolver suas questões econômicas fundamentais: a economia de merca- do, a economia planificada central- mente e a economia mista. • O que, quanto, como e para quem produzir. • Explicitar por que, em razão da escas- sez, a Economia é uma ciência ligada a problemas da escolha. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 22 Introdução Na aula anterior procuramos conceituar Economia. Você se lembra de que é uma ciência que estuda a melhor administração dos recursos escassos, a fim de satisfazer as ilimitadas necessidades humanas? Nesta aula você irá estudar um pouco sobre os siste- mas econômicos. Como funciona o Sistema Econômico Antes de iniciarmos o estudo do funcionamento do sistema econômico, vale a pergunta: você saberia concei- tuar um sistema econômico? Sistema econômico é a forma política e social em que está organizada a sociedade, a fim de organizar a produ- ção, a distribuição e o consumo dos bens e serviços produ- zidos de modo a aumentar o bem-estar da sociedade. Ou seja, é através do sistema econômico que a socie- dade define como se processa a produção dos recursos para atender as necessidades humanas. São elementos básicos do sistema econômico: • Fatores de Produção: terra, capital e trabalho. • Unidades de Produção: empresas e famílias que produzem e consomem os bens. • Governo: conjunto de instituições políticas, jurídi- cas e sociais que normatizam o funcionamento da sociedade. Estes são os elementos básicos de um sistema econô- mico. Os sistemas econômicos podem ser divididos em três tipos principais, com relação à forma em que ele or- ganiza sua produção. Sistema de Economia Capitalista ou Economia de Mercado Este sistema é regido pelas forças de mercado (ofer- ta e demanda), predominando a livre iniciativa; nele, e a propriedade dos fatores de produção é privada. A eco- nomia norte-americana e a inglesa, entre outras, são bons exemplos. Este é um tipo de sistema que deixou para o mercado definir como resolver o problema da escassez de recursos, quem produz, o que é produzido e quem consome. Sistema Socialista, Economia Centralizada ou Economia Planificada As questões econômicas fundamentais são resolvidas pôr um órgão central de planejamento; nesse sistema, a propriedade dos fatores de produção é pública. Como exemplo temos a economia da antiga União Soviética e de Cuba. Neste tipo de sistema, é o governo quem define a pro- dução e o consumo. Sistema de economia mista A partir dos anos 30, passaram a predominar os sis- temas de economia mista, com forte atuação do Estado na alocação e distribuição dos recursos, bem como na produção de bens e serviços. A Suécia, a Dinamarca e a Finlândia são referência desse tipo de sistema. Esta é uma classificação dada por alguns autores, que entendem que é um sistema capitalista mas com forte par- ticipação do governo. Definição de Sistema Econômico Como você já viu, um sistema econômico pode ser entendido como o conjunto de relações sociais e insti- tucionais que caracterizam a organização econômica de uma sociedade. Independentemente do seu tipo, todo sistema econômico deve, de algum modo, desempenhar cinco funções básicas, determinando: 1. O que se deve produzir; 2. Como se deve organizar a produção; 3. Como devem ser distribuídos os produtos; 4. Como devem ser racionados os bens no período em que a oferta é fixa; 5. Como deve ser sustentada e expandida a capacida- de produtiva. Vamos analisar agora cada uma destas funções. Determinação do que se deve produzir É, basicamente, determinar quais são as necessidades dos consumidores; em essência, a economia deve estabe- lecer um conjunto de valores para os diferentes tipos de bens e serviços considerando, essencialmente, sua escas- sez e sua utilidade para os consumidores. AULA 4 • Sistema Econômico 23 Organização da produção A organização da produção envolve: • procurar canalizar os recursos disponíveis para as atividades produtoras dos bens mais desejados; • usar os recursos eficientemente. Distribuição do produto a) A questão da renda: a renda de um indivíduo de- pende de duas coisas: • das quantidades dos diferentes recursos que pode empregar no sistema produtivo; • do quanto recebe por eles. b) Assim, a distribuição total da renda depende da forma como os indivíduos podem dispor dos recur- sos que possuem. Racionamento no curto prazo O racionamento (controle temporário sobre algo es- casso) deve ser feito de duas formas: • deve distribuir o suprimento entre os diversos con- sumidores; • deve repartir, pelo período de tempo entre uma “oferta” e outra, o suprimento dado. Manutenção do crescimento do sistema econômico A manutenção refere-se a conservar intacta a força produtiva da máquina econômica, através de uma provi- são para depreciação (reposição de algo que foi desgas- tado por sua utilização); a ampliação diz respeito a um aumento contínuo das espécies e quantidades de recursos disponíveis dentro da economia, juntamente com a cons- tante melhora das técnicas de produção. A diferença ente a sociedade capitalista e a socialista é que no modelo capitalista o mercado é quem define as cinco características citadasacima; no socialista, é o gover- no quem o faz. Com isso, pode-se afirmar, em síntese, que a Econo- mia deve responder a três grandes questionamentos: 1. O que produzir e em que quantidade? Deve-se es- colher entre as possibilidades de produção de uma economia de modo a satisfazer o mais adequada- mente à sociedade. 2. Como produzir tais bens e serviços? Toda socie- dade deve determinar quem vai ser o responsável pela produção, qual a tecnologia a ser empregada, qual o tipo de organização da produção etc. 3. Para quem produzir, ou em outras palavras: quem será o consumidor? Devem ser definidos o públi- co-alvo e as maneiras através das quais o produto deverá atingi-lo. O funcionamento da economia É a produção de bens e serviços para satisfazer as ne- cessidades humanas, levando em conta a eficiência produ- tiva, isto é, o aproveitamento ótimo dos recursos existentes de produção, e a eficiência alocativa, que diz respeito a uma combinação adequada de produtos finais gerados no sentido de otimizar a satisfação das necessidades de con- sumo e as exigências do processo de acumulação de uma sociedade. Em síntese, a Economia demonstra à sociedade como esta deve se organizar para melhor utilizar e aproveitar os recursos produtivos, pois desta forma mais bens serão pro- duzidos e mais necessidades humanas serão atendidas. O mundo econômico: macro e micro Uma questão importante que surge na esfera do estu- do econômico diz respeito às distinções entre as preocu- pações macro e microeconômicas. Contudo, vale salientar que, embora aparentemente distantes, no fundo ambas tratam do mesmo objeto: o sistema econômico. Como os nomes já sugerem, a Microeconomia trata do compor- tamento das unidades econômicas individuais, enquanto a Macroeconomia trata do conjunto da economia como um todo. A Microeconomia ocupa-se da análise do comporta- mento das unidades econômicas, como as famílias – ou consumidores – e as empresas. Estuda também os mer- cados em que operam os demandantes e ofertantes de serviços. Ela considera a atuação das diferentes unidades eco- nômicas (famílias e empresas) como se fossem unidades individuais. A Macroeconomia, ao contrário, ocupa-se do com- portamento global do sistema econômico refletido em um número reduzido de variáveis, como o produto total de INTRODUÇÃO À ECONOMIA 24 uma economia, o emprego, o investimento, o consumo, o nível geral de preços etc. Por exemplo, se o Ministério da Fazenda anuncia que a inflação caiu 2% em relação ao mês anterior e que o número de empregos aumentou, está destacando o que, em sua opinião, são os aspectos mais significativos da evolução global da economia. De qualquer forma, deve-se ressaltar que a Microe- conomia e a Macroeconomia são dois ramos da mesma disciplina, a Economia, e, como tal, ocupam-se das mes- mas questões, ainda que se fixem em aspectos distintos, pois uma trabalha com o aspecto individual e a outra com o coletivo. Resumo Um sistema econômico se orienta pela percepção de que as necessidades humanas são ilimitadas enquanto, por outro lado, os recursos econômicos e de produção são es- cassos (limitados). Daí advêm os três problemas econômi- cos fundamentais que qualquer tipo de economia tem de responder: o quê, como e para quem produzir. Esses problemas fundamentais existem devido ao fato de que os recursos produtivos são escassos. Você se lembra do que já foi falado sobre o problema da escassez para a Economia? Como em uma sociedade as pessoas necessitam e de- sejam consumir bens e serviços, a Economia, através do sistema econômico (que é uma forma de organização da sociedade para a produção), busca atender ao máximo possível esses desejos e necessidades, definindo o que é produzido e em que quantidade, evitando assim o des- perdício, visto que os recursos são escassos, mas as neces- sidades não. A Microeconomia: trabalha com o comportamento econômico de forma individualizada. Estuda, por exem- plo, o comportamento de um consumidor individual, como ele gasta sua renda etc. Também trata a empresa de forma individual, estudando seus custos de produção, seu lucro etc. Por sua vez, a Macroeconomia trata do comportamen- to coletivo da economia. Estuda o problema da inflação, da dívida externa etc. Na Macroeconomia não importa o que um consumidor ou uma empresa fazem, mas a socie- dade como um todo. Atividades 1. Explique de que consiste um sistema econômico. 2. Procure explicar as principais diferenças entre as socie- dades capitalista e socialista. 3. Em sua opinião, algum destes sistemas conseguiu atin- gir seus objetivos? 4. Considere algumas questões econômicas atuais e iden- tifique se devem ser estudadas pela Microeconomia ou pela Macroeconomia. 5. Dê exemplos de um problema microeconômico e de um macroeconômico. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 5 A questão econômica da escassez Objetivos • Entender como lidar com o problema da escassez dos recursos produtivos através do estudo das curvas de possibilidades de produção. • Conhecer o problema da escassez na economia. • Conhecer a curva de possibilidades de produção. • Verificar como se dá o crescimento eco- nômico de uma sociedade. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 26 Introdução O problema econômico fundamental é a questão da escassez, que surge porque as necessidades humanas são ilimitadas, enquanto os recursos econômicos utilizados para produzir os produtos e serviços a serem utilizados na satisfação das necessidades humanas acabam se tornando (e alguns são) limitados. Esse é um problema de disparida- de entre os desejos humanos e os meios disponíveis para satisfazê-los. O problema econômico da escassez A escassez é um conceito relativo, pois existe em uma sociedade o desejo das pessoas em adquirir uma quanti- dade de bens e serviços maior que a sua disponibilidade. Desta forma, afirmamos ser relativa a escassez dos recursos em relação aos desejos e às necessidades humanas. Escassez do ponto de vista econômico A Economia considera o problema de falta de bens e serviços como uma escassez relativa, uma vez que os bens e serviços são escassos em relação ao desejo dos indivídu- os, que são ilimitados. A curva de possibilidade de produção A necessidade de escolha Normalmente os agentes econômicos têm que optar entre o que consumir e o que produzir. Nesse contexto, surge o conceito de custo de oportunidade de um bem ou serviço, que nada mais é do que a quantidade de um bem que deve ser sacrificada no consumo para que as pessoas possam obter outro bem, mantendo-se o mesmo grau de satisfação. Não se preocupe se esse conceito não ficou muito claro, pois ele será mais explicado através das curvas de possibilidades de produção. A curva ou fronteira de possibilidades de produção Uma curva – também denominada fronteira – de possibilidades de produção mostra as diversas opções de consumo que são fornecidas à sociedade. Essa curva re- presenta o limite máximo de produção de uma sociedade em um certo período de tempo, dadas as condições de produção. Uma economia está situada sobre a fronteira (produ- ção máxima) quando todos os fatores de produção de que ela dispõe estão sendo utilizados para a produção de bens e serviços. Para você entender melhor, suponha uma determina- da situação em uma economia que tenha uma certa tec- nologia disponível e uma quantidade fixa de fatores de produção. Nessa economia podem ser produzidos dois tipos de bens: alimentos e máquinas. Se, em um deter- minado momento, opta-se por produzir mais alimentos, é preciso que se desloquem fatores produtivos da outra atividade – produção de máquinas – para que seja possível tal expansão. Portanto, aumentar a produção de um bemtem seu custo para a sociedade em termos das quantida- des do outro que deixaram de ser produzidas. Este é o custo de oportunidade. Para sua melhor visualização vamos analisar o gráfico a seguir. Tabela 1 Opção Alimentos Máquinas Custo de Oportunidade A 0 10 - B 1 9 1 C 2 7 2 D 3 4 3 E 4 0 4 Máquina Alimento A E B C Z Y D O AULA 5 • A questão econômica da escassez 27 Essa curva que se forma a partir da ligação entre os pontos A, B, C, D e E representa as opções oferecidas à sociedade para consumo dos bens e a necessidade de es- colha entre elas. Como você pode notar, um aumento na produção de alimentos, passando do ponto A para o ponto B, implica necessariamente uma redução na produção de máquinas e vice-versa. O fato de os pontos estarem sobre a curva mostra que a produção é eficiente, ou seja todos os recursos estão sendo empregados eficientemente. Assim surge o conceito de custo de oportunidade, mostrando a quantidade de um bem que deverá ser sa- crificada para que se possa produzir outro tipo de bem. O custo de oportunidade é crescente, pois quando é aumen- tada a produção de um determinado bem os fatores de produção transferidos dos outros produtos se tornam cada vez menos aptos para a nova finalidade, isto é, a transfe- rência vai ficando cada vez menos produtiva. Você pode, então, analisar os pontos daquela curva da seguinte forma: no ponto O, chamado de pleno desem- prego, a economia não está usando nenhum dos recursos de produção de que dispõe, ou seja, produção zero. O ponto Y significando que a economia está operando com capacidade ociosa, isto é, alguns recursos disponíveis não estão sendo utilizados. Neste caso, a produção fica abaixo da capacidade disponível. Os pontos A, B, C, D e E são chamados de pleno em- prego. É a situação ideal para a economia, em que todos os recursos disponíveis estão sendo utilizados. O ponto Z, ou ponto futuro, representa um nível im- possível de produção no momento, pois está acima da capacidade de recursos disponíveis. Esse ponto só será alcançável em períodos futuros, quando houver aumento ou melhora dos recursos disponíveis. Devido ao fato de a necessidade de escolha estar re- lacionada ao problema da escassez, que impõe limites à capacidade produtiva de uma sociedade, esta por sua vez terá de fazer escolhas entre as alternativas de produção. O crescimento da Economia Para que possamos entender como ocorre o cresci- mento econômico, torna-se necessária a utilização de duas premissas básicas: • Em um “país” em que a maioria da capacidade produtiva é utilizada na satisfação das necessida- des correntes (consumo), pouco se investe e há um crescimento lento na capacidade de produção para o futuro. Isso ocorre geralmente nos países mais pobres, onde a população possui maior ne- cessidade de consumo e sobram poucos recursos para a poupança. • Em um “país” em que a maioria da capacidade produtiva é utilizada na produção de bens de ca- pital, o resultado é um crescimento mais rápido da capacidade de produção, pois as pessoas, por te- rem um melhor padrão de vida, não têm tanta ne- cessidade de consumo e podem poupar mais. Essas situações podem ser visualizadas no seguinte gráfico: Considere a situação atual desse “país” através da cur- va A0/B1. O ponto w representa o máximo que se pode produzir de bens de consumo e capital ao mesmo tempo com os atuais recursos disponíveis. A curva A1/B2 somente será atingida se surgirem novos recursos produtivos ou se a população tivesse reduzido o consumo de bens de consu- mo no passado, visando ao aumento dos bens de capital. Resumo O problema econômico por excelência é a escassez. Esta surge porque as necessidades humanas são ilimitadas e os recursos produtivos são limitados, impondo assim à sociedade uma escolha no consumo. A escassez é um conceito relativo, pois existe o desejo de adquirir uma quantidade de bens e serviços maior que a sua disponibilidade. Para que esse problema fosse iden- tificado, foram criadas as curvas de possibilidades de pro- dução, que mostram as quantidades de bens que podem ser consumidos pela população. Bens de capital Bens de consumo B2 A1A-1 A0 B0 B1 w O INTRODUÇÃO À ECONOMIA 28 A curva de possibilidade de produção, também co- nhecida como curva de fronteira, reflete as opções que se oferecem à sociedade e a necessidade de escolher entre elas. Uma economia está situada sobre a curva quando todos os fatores de que dispõe estão sendo utilizados para a produção de bens e serviços. Se todos os recursos estão sendo plena e eficiente- mente utilizados, a produção de uma quantidade maior de um bem significa necessariamente produção menor de outro bem, isto é, tenderá a um custo de oportunidade, que é a quantidade de outros bens ou serviços a que se deve renunciar para obter o bem ou serviço desejado ou necessário. Atividades 1. Relacione algumas situações que podem causar deslo- camento positivo ou negativo em uma curva de possi- bilidade de produção. 2. Elabore um orçamento mensal relacionando todas as suas despesas. 3. Você lembra de alguma situação em que teve de abrir mão de alguma coisa para conseguir outra? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 6 Os agentes econômicos / O fluxo circular da renda Objetivos • Definir os agentes econômicos e os seto- res da Economia. • Entender o funcionamento do sistema de mercado através dos fluxos real e mone- tário. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 30 Introdução Os agentes econômicos são aqueles que participam do processo de funcionamento do sistema econômico. São as empresas, as pessoas, o governo etc.; enfim, todos os membros de uma sociedade. Os agentes econômicos são classificados em: • Unidades familiares: são representados pelas fa- mílias que consomem bens e serviços produzidos pelas empresas. A Economia considera família todo recurso de produção de trabalho, ou seja as pesso- as (a mão-de-obra e intelectual humana). • Empresas: são agentes econômicos para os quais convergem os recursos de produção disponíveis, com o objetivo de atender às necessidades de con- sumo. As empresas são os agentes que mobilizam os recursos e contratam as pessoas para iniciar o processo produtivo. • Setor Público: é o agente coletivo que contrata o trabalho de unidades familiares e que adquire uma parcela da produção das empresas para pro- porcionar bens e serviços úteis à sociedade como um todo. Existem nos níveis municipal, estadual e federal. Além disso, é o setor público quem norma- tiza o funcionamento de uma sociedade econômi- ca. As famílias ou unidades familiares Dentro de um sistema econômico, os agentes podem ser classificados basicamente como econômicos e priva- dos. Os agentes econômicos privados básicos são as em- presas e as unidades familiares. As atribuições essenciais das famílias consistem em, de um lado, consumir os bens e serviços oferecidos pelas em- presas, dentro dos limites de sua disponibilidade financeira (orçamento); de outro, em oferecer seus recursos produ- tivos, quase sempre a sua força de trabalho e qualidade intelectual, às empresas. As empresas Nas sociedades primitivas, a produção era feita de modo artesanal e muitas vezes realizada individualmente. Atualmente, praticamente toda produção é desenvolvida por empresas dos mais variados tipos e estruturas. Assim sendo, pode-se dizer que empresa é a unidade de pro- dução básica que contrata trabalho e recursos produtivos com o fim de fabricar e vender bens e serviços. Além dis- so, as empresas modernas contam com possibilidades de organizar os complexos processos de produção e distri- buição exigidos pelas sociedades atuais, contando cada vez maiscom as possibilidades de produção em massa e ganhos de escala. O setor público A esfera governamental, composta de órgãos e de ad- ministrações públicas, pode ser classificada em pelo menos três esferas: as administrações municipais, as estaduais e a central (federal). Além dessa classificação básica, existe ou- tra, um pouco mais abrangente (descrita no quadro abai- xo), que detalha as várias classificações do setor público: Setor público a) Setor público produtivo 1) Empresas estatais financeiras 2) Empresas estatais não-financeiras b) Administração pública 1) Entes territoriais: estados, municípios e territó- rios; 2) Previdência social: sistema de previdência social e outras administrações; 3) Administração central: governo da União e demais organismos de caráter nacional. A partir deste quadro, podemos tomar como exemplo o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, que é uma entidade pública financeira, e a CEMIG, que é uma em- presa estatal não-financeira. As funções do setor público, qualquer que seja a sua instância, são muito importantes e diversificadas. Na atu- alidade, a participação do Estado na sociedade desenvol- ve-se das mais variadas formas, estendendo-se para além da função de guardião do bom desempenho da atividade econômica para converter-se em verdadeiro empresário. Como empresário, o setor público oferece à comuni- dade certos bens com características particulares: os bens públicos. Tais bens podem ser entendidos como aqueles que são proporcionados a todas as pessoas sem distinção de necessidade. O custo do bem público é pago através dos impostos que recolhemos. Por eles, o governo ofere- AULA 6 • Os agentes econômicos / O fluxo circular da renda 31 ce o bem público sem perguntar quem o utiliza ou não, quem quer ou não, mas todos o pagam via sistema tributá- rio. Como exemplo, podemos citar a defesa nacional. O Estado desempenha, ainda, um papel regulador na economia; através de suas políticas econômicas, procura permitir o crescimento estável e contínuo da economia, o pleno aproveitamento dos recursos escassos etc. Os setores da Economia Para melhor análise e acompanhamento, a Economia é geralmente dividida em 4 setores. São eles: • setor Primário: agricultura, mineração, extrativis- mo. • setor Secundário: indústrias • setor Terciário: serviços, comércio. • setor Quaternário: novo setor da economia, diz respeito à educação, faculdades, institutos de pes- quisa. E você, pertence a qual setor econômico? O fluxo circular da renda A economia capitalista funciona através do mercado. É através deste que os preços são determinados. O funcionamento de uma economia de mercado é baseado em um conjunto de regras pelas quais se com- pram e vendem os bens e serviços, assim como os recursos produtivos. A ação conjunta dos agentes econômicos é que determina os preços de mercado dos bens e serviços transacionados na economia. Por exemplo, caso exista algum bem cuja procura seja maior que sua disponibilidade de venda (oferta), seu preço de mercado aumenta. Dessa forma, é a ação dos agen- tes familiares e empresas que determinam o preço de um bem no mercado. Mercado: local onde são negociados os bens, servi- ços e fatores produtivos. É no mercado que os indivíduos se reúnem para realizar as operações de oferta e deman- da (compra e venda). Como em todo tipo de mercado existem os dois tipos de agentes econômicos, compradores e vendedores, estes se dividem em dois tipos: mercado de produtos e merca- do de fatores. O mercado de produtos Os mercados de produtos são fundamentais para de- terminar o que será produzido na economia. É represen- tado pelo fluxo real. O fluxo real apresenta as unidades familiares forne- cendo recursos às empresas, que por sua vez suprem as unidades familiares de bens e serviços finais. Mercado de recursos de produção Esses mercados são os mais relevantes para determinar como e para quem serão produzidos os bens e serviços. Este mercado é representado pelo fluxo monetário. Quanto ao fluxo monetário, ele se baseia no fato de que existe a moeda como meio de pagamento, que fará o papel de intermediação entre as empresas e as famí- lias. As empresas remuneram as famílias pelos recursos de produção empregados; estas transferem para as empresas os ganhos recebidos ao pagarem pelos bens e serviços ad- quiridos. Podemos sintetizar os fluxos conforme o diagrama abaixo Fluxo real Fluxo monetário Como você pode ver no diagrama, existe uma inter- relação entre as famílias e as empresas no sistema econô- mico. No sistema de mercado, é importante que todos os bens e serviços tenham seus preços definidos, e estes serão sempre dados pelo mercado. Essa definição será dada, en- tão, através da interação entre os mercados de bens de Família Remunera os fatores de produção Fornece fatores de produção $ pelos bens e serviços Consome os bens e serviços produzidos Empresa INTRODUÇÃO À ECONOMIA 32 consumo (mercado de produtos) e os mercados de fatores de produção (mercado de fatores). Com isso são definidos os três problemas básicos do sistema econômico: o que será produzido, como será a produção e para quem será direcionada. O processo de alocação de recursos Uma das mais importantes atividades do sistema eco- nômico é a alocação de seus recursos produtivos, ou seja, como eles serão utilizados e combinados para a produção dos bens e serviços, pois, por serem escassos (como vimos anteriormente), temos que aproveitá-los ao máximo possí- vel e da melhor forma. A alocação de recursos do sistema econômico se divi- de em três etapas distintas: a) O que produzir A partir do momento que os consumidores revelam suas preferências ao comprar determinados bens e servi- ços, as empresas se orientam para definir o que será então produzido. São as empresas que definem os produtos que serão produzidos. Por exemplo, que tipos de carros, de roupas etc. b) Como produzir A definição de como será realizada a produção é feita pelas empresas, que concorrem entre si em busca de um lucro cada vez maior. Com isso, a concorrência impulsiona as empresas a buscar a melhor alocação (combinação) dos recursos produtivos, o que lhes permitirá produzir com aproveitamento máximo, ou seja, um mínimo de custo. Dessa forma, é então escolhido o processo mais ade- quado de produção, quer dizer, quais máquinas e maté- rias-primas são utilizadas na produção. c) Para quem produzir A distribuição do fruto do processo produtivo depen- de da capacidade de cada um dos agentes para obter a maior parcela possível da produção. Por exemplo, quais pessoas irão adquirir os bens e em quais quantidades. Resumo No sistema econômico existem três agentes que reali- zam a tarefa de gerenciar a utilização dos recursos produ- tivos e executar a produção dos bens e serviços que serão consumidos pelas pessoas a fim de satisfazerem suas ne- cessidades. São eles as famílias, as empresas e o governo. Além destes agentes, a economia é dividida em quatro setores que classificam todas as atividades econômicas: o setor primário, o secundário, o terciário e o quaternário. Atividades 1. O que é transacionado no mercado de fatores de pro- dução e no mercado de bens? 2. Em qual dos mercados a empresa participa como ofer- tante de bens e serviços? 3. Você acha que o sistema de mercado é justo? 4. Você conhece outro sistema que possa substituir o sis- tema de mercado? 5. Qual a função das famílias na sociedade? E a das em- presas? E a do governo? 6. Por que o governo intervém no sistema econômico? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 7 O mercado em ação Objetivos • Definir demanda. • Diferenciar os conceitos de demanda e quantidade demandada.INTRODUÇÃO À ECONOMIA 34 Teoria da demanda Demanda são as várias quantidades de bens ou serviços que os consumidores estão dispostos e ap- tos a adquirir no mercado, em função de vários níveis de preços possíveis, em um determinado período de tempo, coeteris paribus. Você percebeu que no final da definição de demanda aparece uma expressão em latim, coeteris paribus. Não se preocupe, não vamos estudar latim. Essa expressão signi- fica: tudo o mais permanecendo constante ou inalterado. Isso quer dizer que, para efeito de análise, consideram-se mantidas constantes todas as demais variáveis que pode- riam afetar a demanda/consumo – como a renda do con- sumidor, a vontade, a moda etc. Supõe-se, assim, que o consumidor está disposto a comprar o produto apenas em função do seu preço, e qualquer outra variável que possa afetar seu consumo naquele momento foi mantida cons- tante. Para que serve isto? Como você verá a seguir, a deman- da pode sofrer influência de diversas variáveis ao mesmo tempo. Fazendo isso, isolamos algumas delas para saber exatamente o efeito do preço sobre o consumo e, assim, podermos construir o gráfico da função demanda. Fatores que determinam a demanda Dx = f (Px, R, Py,V, N...) Onde: Dx: demanda por um produto x Px: é o preço do bem em questão; R: é a renda do consumidor; Py: é o preço dos bens correlatos (substitutos ou com- plementares); V: é a vontade do consumidor de comprar N: é sua necessidade. Tabelas e curva de demanda Uma tabela de demanda descreve as diferentes com- binações entre as quantidades de bens e serviços que os consumidores estão dispostos a adquirir, aos vários preços possíveis, num certo período de tempo. Tabela 1: Demanda por carne Preço (R$/kg) Quant. (kg/mês) 1,00 12 2,00 10 3,00 6 4,00 2 Gráfico 1: curva de demanda por carne O gráfico mostra que, à medida que o preço do pro- duto aumenta, a quantidade demandada diminui. Assim, a curva de demanda é dada pela representação gráfica da relação entre a quantidade demandada de um bem em um dado período de tempo e o seu preço. Lei da demanda: existe uma relação inversa entre preço e quantidade demandada. Você percebeu o que é a demanda? Nada mais é do que uma curva que representa as quantidades adquiridas de um produto pelos consumido- res em função dos diversos preços possíveis. A quantidade demandada A quantidade demandada por um produto X está rela- cionada somente ao preço desse produto. QDx = f (Px) Em que: QDx: quantidade demandada por um produto x Px : é o preço do produto x Q P 2 1 10 12 Demanda AULA 7 • O mercado em ação 35 Pelo que você viu, podemos conceituar melhor a lei da demanda, que diz que: “A quantidade demandada varia única e exclusiva- mente em função do preço e de forma inversa em rela- ção a ele, ou seja, se o preço de um produto aumenta, sua quantidade demandada diminui, se o preço dele di- minui, sua quantidade demandada aumenta”. Dessa forma, há uma relação indireta entre preço e quantidade demandada. Mudança na quantidade demandada versus mudança na demanda Existe uma pequena diferença entre demanda e quan- tidade demandada. Acredito que você vá entender com facilidade. Mudança na quantidade demandada Mudança na quantidade demandada é um desloca- mento ao longo de uma mesma curva de demanda. A variação no preço de um produto, tudo o mais per- manecendo constante, pode ser mostrado como um movi- mento ao longo da curva de demanda, ou seja, quando o preço do produto varia, ocorre uma variação ao longo da curva de demanda, porém a curva permanece a mesma. Damos o nome de quantidade demandada a esse des- locamento ao longo de uma curva de demanda, causado pelo efeito preço. Gráfico 2. Curva de demanda pelo bem Y Na situação exposta no gráfico, quando o preço do produto y passou de 3 para 4, a quantidade que o consumi- dor estava disposto a adquirir diminuiu de 6 para 2. A esta quantidade damos o nome de quantidade demandada. Não se esqueça de que toda vez que nos referimos a gráficos de demanda, oferta e equilíbrio de mercado (que serão vistos nas próximas aulas) o eixo P do gráfi- co representa o preço do produto e o eixo Q representa as quantidades. Mudanças (deslocamentos) da demanda A demanda (que também pode ser chamada de pro- cura) por uma mercadoria não é influenciada apenas por seu preço. Existe uma série de outras variáveis que podem fazer com que ela se altere. Estas alterações, ou desloca- mentos da curva de demanda podem acontecer devido a: • renda; • preço de bens correlacionados; • hábitos, gostos e preferências; • moda; • número de consumidores. Quando alguns dos fatores que estavam sendo man- tidos constantes (coeteris paribus) na definição da curva de demanda sofrem alterações, há mudanças da própria curva de demanda. Essas mudanças são denominadas alte- ração da demanda, e ocorrem através do deslocamento da curva, para a direita (deslocamento positivo ou aumento da demanda) ou para a esquerda (deslocamento negativo ou diminuição da demanda). Exemplos de alterações da demanda Deslocamento da curva de demanda por aumento na renda do consumidor Q P 4 3 2 6 Q/t P (R$) P Q0 Q1 D0 D1 INTRODUÇÃO À ECONOMIA 36 Nesta situação, mesmo com o preço constante, a quantidade demandada passou de Q0 para Q1 (aumen- tou). Isso pode indicar que o consumidor passou a com- prar mais do produto não em função do preço, mas sim devido a um aumento em sua renda. Mudança na preferência ou gosto do consumidor A curva de demanda se deslocou de D0, curva ini- cial, para D1, nova curva de demanda. O preço continuou constante, mas o consumidor passou a comprar mais do produto em função de sua vontade. Resumo Nesta aula, definimos demanda e quantidade deman- dada. Vimos que a demanda é uma curva que represen- ta todas as possíveis quantidades de um produto que o consumidor esteja disposto a comprar em função de uma série de fatores, como preço, renda etc. Quantidade de- mandada é aquilo que o consumidor compra apenas em função do preço. Assim, mudança na demanda é um deslocamento na curva devido a diversos fatores, e mudança na quantidade demandada é um deslocamento ao longo de uma mesma curva de demanda apenas em função do preço. Atividades 1. Você concorda que o tamanho do mercado consumi- dor pode ser considerado como um fator que afeta a demanda por um produto? 2. Qual a importância do estudo da demanda para uma empresa? 3. De que maneira a moda pode afetar a demanda por um produto? 4. Explique por que quando o preço de um produto dimi- nui, a quantidade demandada aumenta mas a deman- da permanece a mesma. Q/t P Q1 Q0 D0 D1 P0 INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 8 Teoria da oferta Objetivos • Definir oferta. • Diferenciar oferta de quantidade oferta- da. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 38 Introdução Na aula anterior, trabalhamos o conceito de demanda. A demanda atua sempre a partir da ótica do consumidor, ou seja, é tudo aquilo que as pessoas desejam adquirir. Nesta aula, iremos trabalhar com a ótica do vendedor, ou seja, a oferta, que representa tudo aquilo que as pesso- as desejam vender. Teoria da oferta Oferta são as várias quantidades de um bem ou ser- viço que os vendedores desejam e são capazes de vender (ofertar), durante um período de tempo, a todos os possí- veis preços alternativos, coeteris paribus. Você se lembra da condição coeteris paribus? Significa que as demais variáveis que podem afetar a oferta de um bem, exceto seu preço, foram mantidas constantes ou inalteradas. Fatores que determinam a oferta A oferta por um bem ou serviço pode ser definida como: Sx = f (Px,Pr, Cc, T, ...) Onde: Sx é a oferta do bem Px é o preço do bem em questão; Pr é o preço dos recursos produtivos; Cc refere-se às condições climáticas; T é o estado da tecnologia, Tabela e a curva de oferta Mostra as quantidades máximas que os vendedores colocarão no mercado, por unidade de tempo, em função dos vários preços. Diferentemente da curva de demanda, a curva de oferta é inclinada positivamente, indicando que quanto maior o preço, maior a quantidade de bens que os produtores estarão dispostos a colocar no mercado. Tabela de oferta por carne Preço (R$/kg) Quant. (kg/mês) 1,00 2 2,00 4 3,00 6 4,00 10 Portanto, a lei da oferta diz que: A quantidade ofertada de um produto cresce se o preço dele aumenta, e cai se o preço diminui. Assim, se há uma relação indireta entre preço e quantidade de- mandada, há uma relação direta entre preço e quantidade ofertada. A curva de oferta À medida que o preço da carne aumenta de 1 para 2, sua quantidade ofertada passa de 2 para 4, pois quando há um nível maior de preço o vendedor terá maior interesse em ofertar seu produto. Note bem, dizemos que ele tem maior interesse em vender, e não que ele conseguirá ven- der. Somente depois que unirmos a demanda com a oferta e chegarmos ao mercado é que saberemos a quantidade e o preço que serão efetivados. Quantidade ofertada A quantidade ofertada por um produto X está relacio- nada ao preço desse produto. QSx = f (Px) Onde: QSx é a quantidade ofertada por um produto x Px é o preço do produto x Voltemos então à lei da oferta: A quantidade ofertada varia única e exclusivamente em função do preço e de forma direta em relação a ele, ou seja, se o preço de um produto aumenta, sua quan- tidade ofertada aumenta; se o preço dele diminui, sua quantidade ofertada também diminui. Q P 2 4 1 2 Curva da oferta AULA 8 • Teoria da oferta 39 Mudanças na curva de oferta versus mudanças da curva de oferta Mudanças na quantidade ofertada (ao longo da curva de oferta) Somente as variações no preço do produto em ques- tão podem gerar variações ao longo da curva de oferta, mantendo a curva de oferta constante. A isto chamamos alterações na quantidade ofertada. Veja o exemplo a seguir. Nesta situação, o preço do produto aumentou, pas- sando de P0 para P1; sua quantidade ofertada aumentou, passando de Q0 para Q1, mas a curva de oferta permane- ceu constante. A este deslocamento ao longo de uma curva de oferta, causado devido ao efeito preço, damos o nome de quan- tidade ofertada. Mudança da curva de oferta (deslocamento da curva) Os principais fatores que podem levar ao deslocamen- to ou alterações da curva de oferta são: 1. Tecnologia - Uma inovação tecnológica geralmente reduz o custo de produção, o que gera aumento da oferta, com conseqüente aumento na quantidade ofertada. Por exemplo, uma empresa dispõe de certa quantida- de de recursos financeiros para produzir certa quantidade de uma mercadoria. Caso ocorra uma inovação tecnológi- ca, essa empresa poderá, com os mesmos recursos, produ- zir mais unidades dessa mercadoria. Graficamente temos Veja que, ao mesmo preço P0, a curva se desloca de S0 para S1. Neste caso houve um deslocamento positivo ou um aumento da oferta, com as quantidades ofertadas passan- do de Q0 para Q1. Este aumento NÃO foi devido ao pre- ço do produto, mas sim à nova tecnologia. 2. Impostos e/ou subsídios: 2.a. Aumento dos impostos e/ou redução de subsí- dios governamentais aumento dos custos redução da oferta Veja que a curva de oferta se reduz de S0 para S1. Q P1 P0 P Q1Q0 Q P Q0 Q1 S0 S1 P0 Q P Q1 Q0 S1 S0 P0 INTRODUÇÃO À ECONOMIA 40 2.b. Redução dos impostos e/ou aumento dos subsí- dios redução dos custos aumento da oferta. Neste caso, a curva de oferta aumentou de S0 para S1. 3. Preços dos fatores de produção: 3.a. Aumento do preço dos fatores aumento nos custos redução da oferta. A curva de oferta reduziu de S0 para S1. 3.b. Redução dos preços dos fatores aumento da oferta. 4. Mudanças no clima - um clima ruim pode gerar quebra de safra e reduzir a oferta de algum bem agrícola, por exemplo. Quando alguns dos fatores que estavam sendo manti- dos constantes (coeteris paribus) na definição da curva de oferta sofrem alterações, há mudanças da própria curva de oferta. Essa mudança na curva de oferta é denominada alteração da oferta e ocorre através do deslocamento da curva, para a direita (deslocamento positivo ou aumento da demanda) ou para a esquerda (deslocamento negativo ou diminuição da oferta). Resumo Nesta aula definimos oferta e quantidade ofertada. Vimos que a oferta é uma curva que representa todas as possíveis quantidades de um produto que o produtor ou vendedor está disposto a oferecer em função de uma série de fatores, como preço, clima, tecnologia etc. A quanti- dade ofertada é aquilo que o vendedor vende apenas em função do preço. Assim, mudança da oferta é um deslocamento da cur- va devido aos diversos fatores; mudança na quantidade ofertada é um deslocamento ao longo de uma mesma cur- va de oferta apenas em função do preço. Atividades 1. Explique por que quando o preço de um produto au- menta a quantidade ofertada também aumenta. 2. Explique como e por que mudanças climáticas podem afetar a oferta de um bem. 3. Qual a diferença entre demanda e oferta de um bem? Q/u.t. P Q1 Q0 S1 S0 P0 Q/u.t. P Q0 Q1 S0 S1 P0 Q/u.t. P Q0 Q1 S0 S1 P0 Q/u.t. P Q1 Q0 S1 S0 P0 INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 9 O equilíbrio do mercado Objetivos • Determinar o equilíbrio de um mercado. • Diferenciar excesso e escassez de produ- tos no mercado. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 42 Introdução Nesta aula você vai começar a entender o funciona- mento do mercado. Para começar, você saberia definir mercado? Mercado é oferta e procura. É compra e venda. É onde se reúnem compradores e vendedores para realizar transações. O equilíbrio do mercado Embora seja relevante o estudo em separado da oferta e demanda para compreender com maior profundidade os fatores que exercem influência sobre elas, é de extrema relevância analisar as duas óticas (do vendedor e do com- prador) conjuntamente, a fim de determinar o preço e a quantidade de equilíbrio do mercado. Graficamente temos O gráfico mostra a determinação do preço de equi- líbrio de um mercado, onde Pe representa o preço que equilibra o mercado e Qe as quantidades transacionadas em um mercado em equilíbrio. Observe que ao preço P1 (acima do preço de equilíbrio Pe), os vendedores estão dispostos a vender 0qb da mercadoria, mas os comprado- res somente estão dispostos a comprar 0qa. O diferencial representado entre os pontos a e b no gráfico representa excesso de oferta no mercado, e a tendência, nesse caso, é de queda do preço do produto. Por outro lado, ao preço P2, os consumidores estarão dispostos a comprar 0qd, mas somente encontrarão 0qc no mercado. Analogamente à análise precedente, o diferencial entre c e d representa escassez do produto (ou excesso de demanda), o que pro- picia a elevação de preço. Assim, o preço Pe é o chamado preço de equilíbrio; representa uma situação em que QD = QO, ou seja, as quantidades demandadas e ofertadas são iguais. Excesso e escassez de produtos no mercado Podem ocorrer algumas situações em que o mercado de um produto não opere em equilíbrio. Neste caso pode- mos ter excesso ou escassez deste produto no mercado. Excesso: se os vendedores tentarem estabelecer um preço acima de Pe, surgirá um excedente de bens não vendidos (excesso de oferta). Para eliminar esse excedente, o mercado reduzirá seuspreços; com isso, os consumidores estarão estimulados a aumentar sua compras, eliminando-se assim o excesso de oferta. Escassez: a qualquer preço inferior a Pe, a quantida- de demandada será maior do que a ofertada e haverá falta de produto. Os consumidores que não quiserem ficar sem o produto estarão dispostos a, quando deparados com sua escassez, oferecer preços mais altos ou aceitar que os pro- dutores tentem eliminar a situação de escassez aumentan- do os preços. Graficamente temos qb q (u.t.) P1 Pe P2 qa qc Demanda 0 qe qd c d e ba Oferta quantidade preço Qe Pe escassez do produto excesso de oferta ponto de equilíbrio do mercado AULA 9 • O equilíbrio do mercado 43 Mercado em equilíbrio: o mercado estará em equi- líbrio unicamente ao preço Pe e à quantidade Qe. A essa combinação preço-quantidade, não há excesso nem es- cassez do produto, o mercado está estabilizado. A tendência das forças de mercado em estabelecer um preço para o qual a quantidade demandada seja igual à quantidade ofertada é chamada função de racionamen- to do sistema de preços. Alterações no equilíbrio do mercado Expansão da demanda com oferta constante Exemplo: um aumento salarial estimula a demanda. As- sim, tem-se demanda maior que oferta, gerando escassez de produto. O mercado terá que aumentar o preço, atingindo um novo Pe (B). Retração da oferta com demanda constante Exemplo: redução no preço dos recursos produtivos aumenta a oferta, gerando excesso de bens não vendidos; logo, o mercado terá que diminuir o preço para atingir o novo Pe (B). Expansão de oferta e demanda 1º momento: deslocamento positivo da oferta S0 para S1, gerando excesso de bens não vendidos. O mercado di- minuirá os preços, atingindo o Pe (B). 2º momento: expansão da demanda, gerando escas- sez de produto e aumento do preço, atingindo o Pe (C), um novo ponto de equilíbrio, onde Qd será igual a Q0. Retração desigual da oferta e demanda 1º momento: deslocamento negativo da oferta, ge- rando escassez de produtos. O mercado aumentará os preços, atingindo o Pe (B). 2º momento: retração da demanda, gerando excesso de produto e diminuição do preço, atingindo o Pe (C). Resumo O mercado, num sistema econômico, é formado pelas pessoas que querem comprar e pelas que querem vender bens e serviços, ou seja, os consumidores e os vendedores. Naturalmente nos referimos às suas intenções de compra e venda, que estão representadas nas curvas de deman- da e de oferta, respectivamente. Assim, o mercado pode ser definido como o encontro da oferta com a demanda por bens e serviços em uma economia. O resultado desse encontro é a determinação do preço a que cada bem ou serviço será negociado, assim como as quantidades tran- sacionadas. Qtd P A B S0 D1 D0 Qtd P B A S0 S1 D0 Qtd P B A S0 S1 D0 D1 C INTRODUÇÃO À ECONOMIA 44 Conforme estudamos, as curvas de oferta e procura expressam uma relação entre preços e quantidades. En- tretanto, essa relação não é efetiva e sim potencial, pois tanto produtores quanto consumidores estão apenas ex- pressando as quantidades dos bens que ofertariam ou con- sumiriam a determinados preços. Portanto, com a análise isolada das curvas de oferta e demanda, não é possível de- terminar a quantidade em que cada bem será comprado e vendido, nem a que preço será negociado. Para lembrar: demanda são as várias quantidades de bens/serviços que os consumidores estão dispostos e aptos a adquirir em função dos vários níveis de preços possíveis, em um determinado período de tempo, coeteris paribus. Os economistas, ao estabelecerem uma relação entre a quantidade ofertada de um bem e o seu preço de mer- cado, obtiveram a curva de oferta, ou a função oferta. De acordo com a lei da oferta, quanto maior for um preço de um bem maior será a quantidade ofertada desse bem. Do mesmo modo, quanto menor for o preço de bem, menor será a quantidade ofertada. Em outras palavras, há uma relação direta entre o preço de um bem e a quantidade ofertada. Atividades 1. Por que, em períodos de safra, os preços dos produtos agrícolas sofrem acentuadas quedas? 2. Partindo de uma situação inicial de equilíbrio, um aumento na oferta provoca diminuição no preço e aumento na quantidade de equilíbrio. Qualifique a afirmativa (se verdadeira ou falsa), justifique-a e de- monstre-a graficamente. 3. Partindo de uma situação inicial de equilíbrio de mer- cado de uma mercadoria, o que acontece com o preço e a quantidade de equilíbrio quando o preço dos fato- res de produção dessa mercadoria aumenta? Explique e demonstre graficamente. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 10 Objetivos • Analisar a elasticidade da demanda. • Definir o conceito de elasticidade. • Identificar a elasticidade-preço da de- manda. Teoria das elasticidades INTRODUÇÃO À ECONOMIA 46 Introdução A elasticidade é uma medida de sensibilidade. Ela mede o quanto varia a quantidade demandada ou ofer- tada de um produto. Essa medida é sensível em relação a uma variação no preço desse mesmo produto, à renda do consumidor ou ao preço de um outro produto relacionado àquele que estamos analisando. Em outras palavras, o estudo da elasticidade mostra o que pode acontecer com a quantidade demandada — elasticidade da demanda — ou ofertada — elasticidade da oferta — de um bem quando ocorrerem alterações no mer- cado como: variações de preço ou renda do consumidor. Este conceito lhe pareceu confuso? Não se preocupe. Você irá estudar detalhadamente a elasticidade nas próxi- mas aulas. Matematicamente, o conceito de elasticidade ex- pressa uma relação entre duas variáveis inter-relaciona- das. A elasticidade-preço da demanda A lei da demanda, que está expressa através da curva de demanda, é muito importante para o conhecimento da Economia, pois reflete o comportamento do consumidor no mercado. Entretanto, essa lei não seria de grande utilidade se não tivesse uma aplicação prática. Você já aprendeu que, se o preço de um bem au- menta, a quantidade demandada por esse bem conse- qüentemente diminui; por outro lado, se o preço do bem diminui, sua quantidade demandada aumenta. Entretanto, não dissemos nada a respeito da dimensão da variação do preço do bem, isto é, de quanto foi o aumento ou dimi- nuição, nem a respeito da dimensão da variação da quan- tidade demandada. Para resolver esse problema, existe o conceito de elas- ticidade, que indica o reflexo na quantidade das variações ocorridas no preço de um bem. Formalmente A elasticidade-preço da demanda de um bem é a ra- zão entre a variação percentual na quantidade demanda- da de um bem e a variação percentual no preço desse bem, coeteris paribus. Você se lembra da condição coeteris paribus? No caso da elasticidade, somente o preço do bem é que irá variar; os demais fatores que podem influir no ato de compra de um consumidor (como a renda, a vontade, a necessidade, entre outros) permanecem constantes. Algebricamente A elasticidade-preço da demanda pode ser represen- tada por: Epd = ∆Q / Q ∆P / P onde: Epd = elasticidade-preço da demanda; Q = quantidade demandada; P = preço do bem; ∆AQ = variação na quantidade demandada; ∆P = variação no preço do bem. Para que o conceito de elasticidade-preço da deman- da fique mais claro, veja este exemplo. Considere a curva de demanda por carne no gráfico a seguir: Suponha que os consumidores estejam sobre o ponto A na curva de demanda, onde adquirem, ao preço de R$ 200,00, 5kg de carne por semana. Considere, agora, que o preço do produto subiu para R$ 300,00. Note que, devido a esse aumento de preço, os consumidores passaram para o pontoB da curva de demanda, adquirindo apenas 3kg de carne por semana. Qx Px A B 300 200 3 5 AULA 10 • Teoria das elasticidades 47 A partir deste ponto, para calcularmos o valor da elas- ticidade-preço da demanda da carne, temos de fazer o seguinte raciocínio: A variação percentual na quantidade demandada é obtida pelo emprego da fórmula ∆Q / Q — lembre-se de que esta é o numerador da fórmula da elasticidade. ∆Q é igual à variação da quantidade, partindo da quantidade final; portanto, ∆Q = 3 - 5, ou seja, ∆Q = -2. A quantidade Q é a inicial; logo, Q = 5. Então, a va- riação percentual na quantidade será: ∆Q / Q = 3 - 5 / 5 = - 2 / 5 = -0,4 = -40% Portanto, a diminuição percentual na quantidade de- mandada decorrente do aumento de preço foi de 40%. A variação percentual no preço é calculada pela mes- ma fórmula. ∆Q é a variação no preço, partindo-se do final: ∆Q = 300 - 200. Então, ∆Q = 100. P é o preço ini- cial; logo, P = 200. Então, a variação percentual no preço será: ∆Q / P = 300 - 200 / 200 = 100 / 200 = 0,5 = 50% Com isso, a elevação percentual no preço foi de 50%. Finalmente, a elasticidade-preço da demanda por car- ne é: epd = (∆Q / Q) / (∆Q / P) = -0,4 / 0,5 = -0,8 Então, a elasticidade é igual a -0,8. A elasticidade-preço é um conceito que mede a re- ação do consumidor às variações de preços em termos percentuais. Caso já sejam conhecidos com antecedência os valo- res das variações de preço e quantidade em termos per- centuais, não precisamos fazer esse cálculo e poderemos utilizar a mesma fórmula de maneira direta. Epd = ∆Q% / ∆P% Assim, em nosso exemplo, o preço da carne aumen- tou 50% – de R$ 200,00 para R$ 300,00. Os consumi- dores reagiram a esse aumento diminuindo a quantidade demandada em 40%; ou seja, o consumo, que antes era de 5kg por semana, com o aumento do preço do produto, caiu para 3kg por semana. A elasticidade-preço da deman- da é -0,8, que é o resultado da divisão de -0,4 por 0,5. Epd = -40%/50% = -0,8 É importante que você lembre que: O sinal negativo que surge no valor da elasticida- de-preço da demanda indica a lei da demanda, isto é, a relação inversa existente entre as variações de preços e as variações nas quantidades demandadas. Ou seja, se o preço sobe, a quantidade cai, e se o preço cai, a quanti- dade sobe. De fato, um aumento de 50% no preço causa uma redução de 40% na quantidade demandada. Tipos de elasticidade-preço da demanda No exemplo que vimos anteriormente, a reação dos consumidores na demanda por carne foi proporcional- mente menor do que o aumento de preços, pois, enquan- to o aumento no preço da carne foi de 50%, a diminuição na quantidade demandada por carne foi de 40%. Isso fica evidente pelo valor da elasticidade, que é, sem considerar- mos o sinal negativo, 0,8 (menor do que 1); isso significa que o numerador da fórmula da elasticidade é menor do que o denominador. Entretanto, existem alguns bens cuja variação percen- tual na quantidade demandada é maior que a variação percentual nos preços. Nesse caso, a elasticidade-preço da demanda desses bens é maior do que 1; isso acontece porque o numerador é maior do que o denominador da fórmula da elasticidade. Com base no valor da elasticidade-preço da deman- da, sem considerarmos o sinal, a demanda dos bens pode ser classificada em três categorias: • demanda com elasticidade unitária: bens cuja elasticidade-preço da demanda é igual a 1; ou seja, bens cuja quantidade demandada varia na mesma proporção que o preço. Por exemplo: se o preço do bem varia 10%, sua quantidade demandada irá variar os mesmos 10%; • demanda inelástica: bens cuja elasticidade-preço da demanda é menor do que 1; ou seja, bens cuja quantidade demandada varia em uma proporção INTRODUÇÃO À ECONOMIA 48 menor do que o preço. Por exemplo: se o preço do bem varia 10%, sua quantidade demandada irá variar, por exemplo, 8%; • demanda elástica: bens cuja elasticidade-preço da demanda é maior do que 1; são os bens cuja quan- tidade demandada varia numa proporção maior do que o preço. Por exemplo: se o preço do bem va- riar 10%, sua quantidade demandada irá variar, por exemplo, 12%. Ficou claro o conceito apresentado anteriormente? A partir de agora podemos dizer que existem bens que apresentam demanda elástica, inelástica ou unitária. Veja este exemplo: o valor do coeficiente de Epd da gasolina é de –0,1. Assim, podemos afirmar que a de- manda por gasolina é inelástica. Já viagens internacionais apresentam um coeficiente de Epd de –1,5. Neste caso, podemos afirmar que sua demanda é elástica. O valor da elasticidade é um critério interessante para determinar o grau de essencialidade dos bens. É de se es- perar que um bem cujo consumo seja essencial à subsis- tência das pessoas tenha demanda inelástica, isto é, me- nor do que 1; isso significa que as pessoas não reduzem consideravelmente o consumo desses bens, mesmo com aumento de preços. É o caso dos alimentos da chamada cesta básica. Por outro lado, se considerarmos um bem cuja de- manda é elástica, veremos que as pessoas reduziram seu consumo em proporção maior que o aumento de preços; com isso, podemos caracterizar esse bem como supérfluo, ou, então, saber que existem bons substitutos para ele no mercado. Fatores determinantes da elasticidade- preço da demanda Existem alguns fatores que podem fazer com que a de- manda por um bem seja mais elástica ou inelástica. Esses fatores podem atuar conjuntamente ou de forma isolada, como podem também reforçar uns aos outros ou um tender a anular o outro. Outro ponto importante que merece ser destacado é o fato de que um bem pode apresentar demanda elástica para um consumidor e, ao mesmo tempo, apresentar uma demanda inelástica para outro. Os principais fatores ou variáveis que influenciam no coeficiente de elasticidade-preço da demanda por um bem são: Importância do bem Quanto mais importante for o bem para o consumi- dor, mais inelástica tende a ser sua demanda. Exemplo: sal de cozinha. Mesmo com aumento no preço, o consumo permanece o mesmo, pois a demanda é muito inelástica. Proporção da renda gasta com o consumo do bem É interessante que você observe que se os gastos fei- tos com um bem representarem pouco no orçamento dos consumidores, esse bem terá uma demanda inelástica. O sal também serve para exemplificar essa variável: o pro- duto custa relativamente tão pouco que as pessoas não vão alterar o consumo desse bem mesmo que seu preço aumente consideravelmente. Assim, quanto menor for o peso do bem no orçamento do consumidor, mais inelásti- ca tende a ser sua demanda. Por exemplo: se você compra um produto que pesa muito em sua renda e um outro que pesa pouco, caso os dois aumentem de preço, você ten- derá a comprar a mesma quantidade do que pesa pouco na renda e deixará de comprar muito daquele que pesa mais. Assim, quanto menor for a proporção de sua renda gasta com um determinado produto, mais inelástica será sua demanda; e quanto mais o produto pesar proporcio- nalmente em sua renda, mais elástica tenderá a ser sua demanda. Possibilidade de substituição do bem Quanto mais produtos substitutos existirem no merca- do, mais elástica tende a ser sua demanda. Por exemplo: se um produto subir de preço mas possuir muitos substitutos ou similares, os consumidores podem deixar de comprá-lo e optar por consumir seus substitutos. Assim, sua demanda irá cair muito e tenderá a ser mais elástica. Relação entre receita total e grau de elasticidade Vamos estudar agora uma das aplicações da elastici- dade-preço. Em que situação você considera que compensa para uma empresa aumentar ou reduzir seu preço de venda visando aumentar seus lucros? O estudoda elasticidade pode resolver essa questão. Você tem idéia de qual é o papel da elasticidade da demanda em termos da formação de preços nas empre- sas? A elasticidade da demanda é importante porque cria AULA 10 • Teoria das elasticidades 49 um parâmetro que auxilia na formulação e na política de preços de acordo com uma variação percentual. Imagine que a receita total de um empresário mostre o quanto ele irá arrecadar através da venda de seus produtos no mercado. Dessa forma, sua receita pode ser afetada pelo coeficiente de elasticidade do produto. Tome como exemplo um bem que apresente deman- da elástica. Caso o preço desse bem aumente 20%, sendo sua demanda elástica, sua quantidade demandada deverá cair em um valor percentual superior a 20%. Você concorda? Lembra do conceito de demanda elástica? Suponha que a quantidade demandada se reduza 30%, pois para a demanda ser elástica a variação percen- tual da quantidade demandada deve ser maior que a do preço. Nessa situação, o que ocorrerá com a receita total desse vendedor? Ela irá se reduzir, pois os 30% que ele perderá com a redução de suas vendas não serão cobertos com o que ele vai ganhar vendendo seu produto 20% mais caro. Mas se a demanda pelo seu produto fosse inelástica, caso esse vendedor aumentasse o preço 20%, suas vendas iriam cair 15%, por exemplo. Assim, os 20% a mais que ele ganharia vendendo seu produto mais caro compensariam os 15% de queda nas vendas. Desta forma, podemos concluir que: • Demanda elástica: A redução no preço tende a aumentar a renda total, pois o aumento percentual na quantidade vendida será maior que a redução percentual do preço. O aumento no preço tende a reduzir a receita total. • Demanda inelástica: O aumento no preço pro- voca um aumento da renda total, e a redução de preço diminui na mesma proporção. • Demanda unitária: O aumento ou redução do preço não afeta a renda total. Resumo Você viu nesta aula que a elasticidade é uma medi- da de sensibilidade, ou seja, mede o quanto uma variável se altera em relação a outra. No caso de Economia, ela mede o quanto a quantidade de um bem varia quando, por exemplo, o preço desse bem for alterado. A elasticidade-preço mede a variação percentual na quantidade demandada de um produto dada uma varia- ção no preço desse produto. É importante que você tenha percebido que a elastici- dade-preço da demanda é uma medida relacionada à res- posta dos consumidores a alterações de preços (aumento ou queda) de produtos (bens ou serviços). Isto é, mudan- ças nos preços provocam alterações no comportamento de compra. A elasticidade-preço pode ser representada por meio de números ou coeficientes. Esses coeficientes medem a variação percentual da quantidade demandada de um de- terminado bem por uma unidade de tempo, resultante de uma dada variação percentual no preço desse bem. Preço e quantidade são inversamente relacionados; portanto, o coeficiente elasticidade-preço da demanda é um número negativo. A demanda é considerada elástica quando um au- mento de 10% no preço do produto, por exemplo, causar uma redução percentual maior que 10% em sua quantida- de demandada. Já a demanda inelástica ocorre quando um aumento de 10% no preço de um produto faz sua quantidade de- mandada reduzir menos de 10%. Se a demanda for unitária, o percentual de variação na quantidade demandada será igual ao do preço do bem. Atividades 1. Sabendo que a elasticidade-preço da procura de um determinado bem é igual a -1,5, marque a opção cor- reta e justifique sua resposta. a) Uma elevação no preço deste bem resulta numa elevação de sua quantidade demandada em pro- porção maior do que a elevação do preço. b) Uma elevação no preço deste bem resulta numa redução de sua quantidade demandada numa pro- porção menor do que a elevação do preço. c) Uma redução no preço deste bem resulta numa redução de sua quantidade demandada numa pro- porção maior do que a redução do preço. - ΔQ/Q ΔQ P ΔP/P ΔP Q epd = = . epd > 1 : demanda elástica epd < 1 : demanda inelástica epd = 1 : demanda unitária INTRODUÇÃO À ECONOMIA 50 d) Uma redução no preço deste bem resulta numa elevação de sua quantidade demandada numa proporção menor do que a redução do preço. e) Uma redução do preço deste bem resulta numa elevação de sua quantidade demandada numa proporção maior do que a redução do preço. 2. Calcule o valor da elasticidade-preço da procura de serviços de hotelaria, imaginando que sua quantidade demandada aumente 10% quando seu preço se reduz 5%. A demanda por esse produto é elástica, inelástica ou unitária? O que acontece com a receita total de um determinado hotel, caso a direção do estabelecimen- to decida fazer uma promoção e diminuir o preço das diárias? 3. Analise a afirmativa seguinte e marque a opção correta, justificando sua resposta. A elasticidade-preço da procura do produto a é igual a -0,1. Se o preço desse produto aumentar 2%, sua quantidade procurada deverá: a) diminuir 2%. b) aumentar 2%. c) diminuir 20%. d) diminuir 0,2%. e) aumentar 0,2%. 4. Se o acréscimo percentual na quantidade demandada de uma mercadoria for menor que a queda percentual no seu preço, podemos afirmar que o coeficiente de elasticidade-preço da demanda desse bem é maior do que 1 e a demanda por ele é inelástica? Justifique sua resposta. 5. Se a elasticidade-preço da demanda de um bem for igual a -0,5, qual será a variação na demanda por esse bem caso haja uma queda de 5% em seu preço? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 11 Elasticidade-renda e elasticidade cruzada da demanda Objetivos • Conceituar elasticidade-renda. • Conceituar elasticidade cruzada da de- manda. • Aplicar esses conceitos e classificar os diferentes tipos de bens existentes. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 52 Introdução Na aula anterior, você estudou a elasticidade-preço da demanda. Existem ainda outros tipos de elasticidade, que analisam o efeito das variações da renda e do preço de um produto sobre a quantidade demanda de outro produto, que pode ser um substituto ou complemento do produto analisado. Nesta aula, estudaremos esses dois tipos de elastici- dade. Elasticidade renda da demanda (ER) Expressa a variação percentual da quantidade deman- dada de um bem resultante de uma variação percentual da renda disponível do consumidor, coeteris paribus. Ou seja, o valor do coeficiente de elasticidade renda mostra o quanto a quantidade demandada de um produto irá variar quando a renda do consumidor também sofrer uma variação. Se o valor desse coeficiente for negativo, dizemos que o bem é inferior, ou seja, um aumento na renda causa uma redução no consumo do bem, e uma redução na renda causa um aumento no consumo. Como exemplo, imagine um produto de baixa qua- lidade. Se o consumidor passar a ganhar mais, irá natu- ralmente substituí-lo por produto melhor. Nessa situação, o produto que foi substituído será considerado um bem inferior. Se o valor do coeficiente for positivo e variar entre 0 e 1, o bem é dito normal, ou seja, o consumidor gasta uma parte do aumento da renda no consumo deste bem. Para entender melhor essa classificação, suponha que uma pessoa não compre carne todos os dias. No entanto, uma vez que a renda dessa pessoa aumente, ela poderá gastar uma parte desse aumento comprando um pouco mais de carne. Se o valor do coeficiente for positivo e maior que 1, isso significa que o consumidor gasta uma proporção maior no consumo desse bem do que o percentual do aumento de sua renda. Veja este exemplo: o consumidor tem um aumento de renda e resolver fazer uma viagem, gastando mais do que o que ganhou com o aumentode sua renda. Neste caso, a viagem será para ele um bem superior. Dependendo do nível de renda do consumidor, o valor da elasticidade renda pode variar consideravelmente, e o que é considerado bem inferior para algumas pessoas talvez possa ser superior para outras. Assim, • um bem pode ser de luxo para pessoas de baixo nível de renda; • um bem pode ser necessário para aquelas que têm nível de renda intermediário; ou, ainda, • um bem pode ser inferior para pessoas de alto nível de renda. Elasticidade cruzada da demanda (Ecxy) Esse coeficiente identifica a variação da quantidade da demanda do bem X em decorrência da variação do preço do bem Y, que mantém com X uma relação de com- plementaridade ou de substituição. Ou seja, o coeficiente de elasticidade cruzada mede a variação percentual na quantidade demandada do bem x decorrente da variação percentual no preço do bem y, coeteris paribus. A elasticidade cruzada também é chamada elasticida- de-preço cruzada da demanda. Se o valor do coeficiente de elasticidade cruzado for positivo, os bens são considerados substitutos. Se esse va- lor for negativo, eles serão complementares. Não se preocupe com esses conceitos agora, pois você irá estudá-los a seguir. Er < 0 : bem inferior Er > 0 : bem normal ou necessário Er > 1 : bem supérfulo ou de luxo ΔQ/Q ΔQ R ΔR/R ΔR Q Er = = . ΔQx/Qx ΔQx Py ΔPy/Py ΔPy Qx Er = = . Ecxy > 0 : bens substitutos Ecxy < 0 : bens complementares Ecxy = 0 : bens não relacionados AULA 11 • Elasticidade-renda e elasticidade cruzada da demanda 53 Veja um exemplo: Antes Depois Preço Qtd Preço Qtd Café ( Y ) 40 50 60 30 Chá ( X ) 20 40 20 50 Elasticidade cruzada: bens substitutos e bens complementares O conceito de elasticidade, que expressa a reação dos consumidores às variações no preço dos bens e na renda dos mesmos, pode ser utilizado também para verificar a existência de relações de complementação e substituição entre os bens. Os bens substitutos são aqueles que, do ponto de vista do consumidor, podem ser trocados por outros no momento do consumo, proporcionando igual satisfação ou satisfação semelhante. A manteiga e a margarina são exemplo de bens substitutos, pois ambas cumprem o mes- mo papel nos hábitos alimentares, proporcionando satisfa- ção igual ou semelhante para a pessoa que consome esses produtos. Neste caso, um aumento no preço da manteiga leva a uma diminuição em seu consumo, fazendo com que os consumidores desse produto deixem de comprá-lo devido ao aumento de preço, e optem por adquirir margarina. Outros exemplos de bens substitutos são o café e o chá, a carne de porco e a carne de boi etc. Dois ou mais bens são considerados complemen- tares quando precisam ser consumidos juntos para que o consumidor tenha satisfação, ou seja, o consumo de um dos bens implica necessariamente o consumo do outro. Assim, o automóvel e o combustível, a máquina fotográfi- ca tradicional e o filme, por exemplo, que habitualmente são consumidos juntos pelas pessoas, são considerados bens complementares. Para esse tipo de bem, o aumento no preço de um deles leva a uma redução em seu consumo e, conseqüen- temente, a uma redução no consumo de seu complemen- tar. Por exemplo, se for reduzido o preço da máquina fo- tográfica, pode aumentar seu consumo e também o con- sumo de filmes para máquinas. Note que, no caso de determinados bens, a variação no preço de um deles não causa modificações na deman- da do outro. O aumento no preço das calças, por exem- plo, não tem nenhuma conseqüência direta sobre a quan- tidade demandada de pão. Aplicando a fórmula de elasticidade cruzada a este caso, você verifica que o resultado é zero, pois o numera- dor da fórmula ∆Q / Q é igual a zero, já que a demanda por pão não se modificou. Assim, como o zero não tem sinal positivo ou negativo, os dois bens não apresentam relação alguma, seja de complementaridade ou de subs- titutibilidade. O quadro a seguir apresenta um resumo das relações entre os bens e o sinal das elasticidades cruzadas. Bens complementares e bens substitutos Sinal da elasticidade Relação entre os bens ec= + Bens substitutos ec= - Bens complementares ec= 0 Bens sem relação entre si Resumo Você estudou na aula de hoje a elasticidade renda e viu que ela mede a variação percentual na quantidade demandada de um bem dada uma variação na renda do consumidor. Ecxy = . = . = 0,5 ∆%Qr Py 10 40 ∆%Py Qr 20 40 ΔQ R ΔR Q ER = x Er < 1 = bem inferior Er > 0 = bem normal Er > 1 = bem superior Er = 0 = bem de consumo saciado Renda ∆%R Qtd ∆%Qtd Er 8.000 12.000 16.000 20.000 24.000 28.000 32.000 50 33,3 25 20 16,67 14,29 5 10 15 18 20 19 18 100 50 20 11,1 -5 -5,26 2 1,5 0,8 0,56 -0,3 INTRODUÇÃO À ECONOMIA 54 Estudou também a elasticidade cruzada e viu que a elasticidade-preço cruzada da demanda, ou simplesmen- te elasticidade cruzada, mede a variação da quantidade demandada de um bem em relação a uma variação no preço de um outro bem. A fórmula algébrica da elasticidade cruzada é: ou Ecxy = (∆Qy/ Qy) / (∆Px / Px), onde: ECxy = elasticidade cruzada entre os bens x e y; ∆Qy = variação na quantidade demandada do bem y; Qy = quantidade demandada do bem y; ∆Px = variação do preço do bem x; Px = preço do bem x. Preste atenção ao fato de que, comparando esta fór- mula com a fórmula da elasticidade-preço da demanda, a única diferença entre as duas é que a elasticidade cruzada se refere a dois bens, enquanto a elasticidade-preço da demanda se refere a um mesmo bem. Concluímos, então, que as relações de complementari- dade implicam uma elasticidade cruzada com sinal negati- vo, enquanto as relações de substitutibilidade são expressas por elasticidades cruzadas com sinal positivo. Atividades 1. Exemplifique alguns tipos de bens substitutos e com- plementares que você conhece. 2. O que poderia acontecer com o consumo de gasolina se houvesse redução no preço dos automóveis? 3. Você concorda como a afirmação de que o preço de um bem pode afetar o consumo de outro bem? Jus- tifique sua resposta e dê um exemplo que ilustre sua opinião. ∆Q = Q-Qº = 10-5 = 5 ∆R = R-Rº = 12.000-8.000 = 4.000 5 8.000 Er = x = 2 4.000 5 ∆qr ∆%qr Qv Py ∆qr Ecxy = = = • ∆%py ∆py Qr ∆py Py INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 12 Os custos da produção e a Teoria do Lucro Objetivos • Conhecer os conceitos básicos de cus- tos. • Determinar como se dá a formação do lucro. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 56 Introdução Após o estudo da Teoria da Demanda, vamos estudar um pouco as empresas, buscando conhecer um pouco so- bre custos de produção e lucro. Custo de produção Para as empresas produzirem seus bens e serviços a serem comercializados, elas necessitam reunir os fatores de produção e combiná-los escolhendo uma técnica mais eficiente. Partindo da premissa de que esses fatores são bens econômicos e precisam ser comprados, é natural considerar que tal processo gera custos. A empresa sempre irá buscar otimizar seu comporta- mento, isto é, produzir sempre da melhor maneira possí- vel. Ao fazer isso, a empresa trabalha na busca da maxi- mização dos lucros. Assim, para cada nível de produção a empresa procura realizar um nível ótimo de custos, em que ela atinja a distânciamáxima entre as receitas e o cus- to total de produção. Sendo assim, o custo total de produção é a melhor e mais econômica combinação dos fatores por meio da qual se obtém determinada quantidade de produto. Veja um exemplo: Vendas Preço unitário Receita total 100 20 2.000 200 19 3.800 300 18 5.400 400 17 6.800 500 16 8.000 Observe que a receita total, que representa a arre- cadação da empresa, sendo obtida pela multiplicação do preço pelo número de unidades vendidas, aumenta à me- dida que aumentam as quantidades vendidas. Entretanto, pode acontecer que em um determinado momento o au- mento da produção não compense, pois pode ser que os custos aumentem em proporção maior que a receita. Para realizar a produção, o empresário precisa adqui- rir os fatores de produção, pagando por eles um determi- nado preço. Assim, se calcularmos os gastos dos empresários com os fatores de produção, teremos o seu custo de produção, ou custo total. Imagine que o fator capital seja adquirido por R$ 3,00 a unidade e que o fator trabalho seja contratado a R$ 2,00 a unidade. Então, utilizando os dados do quadro a seguir, podemos calcular o custo de produção, que chamaremos CT. Fatores de produção Custo total Quantidade produzida Capital Trabalho CT 5 6 7 32 6 7 8 37 7 8 9 42 Pelo quadro, para uma produção de 5 unidades do bem o empresário emprega 6 unidades de capital, que vão lhe custar R$ 18,00 (6 x R$ 3,00), e emprega 7 unidades de trabalho, que lhe custarão R$ 14,00 (7 x R$ 2,00). Por- tanto, o custo total para produzir 5 unidades do bem é de R$ 32,00 (R$ 18,00 + R$ 14,00). O mesmo raciocínio se aplica para as outras quantidades produzidas. Para fazer frente aos custos, o empresário precisa ven- der seu produto, a fim de obter sua receita, que é o resul- tado dessas vendas. A receita também pode ser definida como a quantidade produzida multiplicada pelo preço de mercado. Suponha que cada unidade do bem seja vendida ao preço de R$ 8,00. Assim, se o empresário produzir 6 uni- dades, sua receita total será de R$ 48,00 (6 x R$ 8,00). Veja o exemplo: Quantidade Capital Trabalho CT RT 5 6 7 32 40 6 7 8 37 48 7 8 9 42 56 A partir dos elementos apresentados até agora, pode- mos examinar o elemento que estimula o empresário a produzir e, portanto, a oferecer bens e serviços no mer- cado. Esse elemento é o lucro, que é a diferença entre os custos de produção e a receita do empresário. Natural- mente o empresário só irá produzir quando sua receita for maior que seu custo. Caso contrário, se o custo for maior que a receita, o empresário terá prejuízo e não se sentirá estimulado a produzir. Voltando ao nosso exemplo, ao produzir 5 unidades do bem, o empresário tem uma receita de R$ 40,00 e um AULA 12 • Os custos da produção e a Teoria do Lucro 57 custo de R$ 32,00. Portanto, seu lucro é de R$ 8,00 (R$ 40,00 – R$ 32,00). No quadro a seguir, demonstramos o lucro total do empresário, representado por LT, para cada nível de produção. Quantidade Capital Trabalho CT RT LT 4 5 6 27 32 5 5 6 7 32 40 8 6 7 8 37 48 11 7 8 9 42 56 14 Tipos de custos Custo de oportunidade ou custo implícito O custo de oportunidade mede o valor das oportu- nidades perdidas em decorrência da escolha de dada al- ternativa de produção em lugar de outra. Neste caso, se o proprietário de uma máquina tiver a opção de vendê-la e receber por essa operação um rendimento maior do que a receita que a máquina pode gerar, sua opção será desfa- zer-se da máquina. Custo privado ou custo explícito O custo privado de produção se constitui no gasto ex- plícito realizado pela empresa para a aquisição dos recur- sos necessários à produção. São custos que afetam as de- cisões dos proprietários das firmas, pois resumem os gastos reais da empresa na compra ou no aluguel dos insumos necessários. Custo social O custo social é decorrente de uma análise macro- econômica e se constitui no custo que toda a sociedade deve suportar para que os recursos limitados sejam usados para produzir bens e serviços a serem colocados à sua dis- posição. O lucro Considerando que o objetivo primordial das empresas é a maximização do lucro, produzir a maior quantidade possível de um produto qualquer, sujeita às menores des- pesas possíveis decorrentes da combinação dos fatores no processo produtivo paralelamente à obtenção da maior receita total possível pela venda de seus produtos, é sem dúvida a condição desejada. Inicialmente, a RT é insuficiente para cobrir o CT. No momento seguinte, o lucro aumenta até atingir o ponto máximo. Mas em seguida volta a cair, devido à economia de escala e à redução dos preços dados pela escala de procura, já que o mercado só absorve maior volume de quantidade produzida por preços mais baixos. Qtd Receita Custo Lucro CT RT Temos, então, que inicialmente a empresa começa a trabalhar com prejuízo, visto que a RT é menor que seu CT. A seguir, atinge seu ponto de equilíbrio, situação em que sua receita total se iguala ao custo total. Nesta situação a empresa não apresenta lucro nem prejuízo. Somente no momento seguinte é que a empresa atin- girá sua faixa de lucro, em que a receita total irá superar o custo total da produção. Resumo Você estudou nesta aula um pouco sobre os custos de produção e lucro. Viu que existem diferentes classificações de custos. Concluímos que, para o empresário obter lucro em sua operação, sua receita deve cobrir seus custos de produção. Atividades 1. Diferencie custo explícito de custo implícito. 2. Qual a diferença entre custo privado e custo social? 3. O que você entende por lucro? Como ele pode ser cal- culado? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 13 A Macroeconomia Objetivos • Distinguir Macroeconomia e Microecono- mia. • Identificar as principais identidades ma- croeconômicas. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 60 Introdução Até a última aula, você estudou conceitos relativos à Microeconomia. Na aula de hoje, começaremos a traba- lhar com o ramo da ciência econômica denominado Ma- croeconomia. À Macroeconomia interessam as atividades econômi- cas globais de uma sociedade; pertence à Macroeconomia a análise do comportamento dos agregados econômicos como um todo, como a renda, o produto, o consumo, o nível de investimentos etc. Em termos gerais, pode-se dizer que a Macroecono- mia procura explicar o comportamento da economia a partir das variáveis agregadas, ao contrário da Microeco- nomia, que, como você viu, estuda as variáveis de forma individual. Macroeconomia e Microeconomia A Macroeconomia trata da evolução da economia como um todo, analisando a determinação e o compor- tamento dos grandes agregados, como renda e produto nacionais, investimento, poupança e consumo agregados, nível geral de preços, emprego e desemprego, estoque de moeda e taxas de juros, balanço de pagamentos e taxa de câmbio. Ao dedicar-se a esses grandes agregados, a Macroe- conomia, diferentemente da Microeconomia, não se pre- ocupa com o comportamento das unidades econômicas individuais, como as famílias e as empresas, com a fixação de preços nos mercados, com os efeitos dos monopólios e oligopólios etc. A Macroeconomia trata os mercados de forma global Por exemplo, ao calcular o valor do produto nacional, considera um agregado de mercados agrícolas, industriais e de serviços; se estivéssemos trabalhando com os parâ- metros da Microeconomia, estudaríamos apenas um seg- mento de mercado. Veja este outro exemplo: tome como referência o mercado de trabalho. A Macroeconomia preocupa-se com a oferta e a demanda de mão-de-obra e com a de- terminação dos salários e nível de emprego, mas não trata das diferenças como qualificação, sexo, idade, origem de força de trabalhoetc. Apesar do aparente contraste, não há conflito entre a Micro e a Macroeconomia, dado que o conjunto da eco- nomia é a soma de seus mercados individuais. A diferença é primordialmente uma questão de enfoque. Podemos sintetizar da seguinte forma: Microeconomia: é a parte da Economia que estuda o comportamento individual dos agentes econômicos, como indivíduos, empresas, consumo individual e produ- ção e custos. Em resumo, é o ramo que se preocupa com o comportamento individual dos agentes que atuam na economia. Macroeconomia: é a parte da Economia que estuda o comportamento da sociedade como um todo, analisando a renda total, o consumo agregado etc. Quais são as principais identidades macroeconômicas? Para facilitar o raciocínio, ao formular os modelos ma- croeconômicos considera-se em primeiro lugar a economia como restrita a dois setores, isto é, fechada, sem comércio externo; e sem governo. Depois, inclui-se o governo; por último, o setor externo, considerando a economia aberta, e levando em conta a existência do governo. Trataremos dessas situações a seguir. Economia a dois setores (fechada e sem governo) Vamos, a partir de agora, introduzir a poupança e o investimento no sistema econômico. É importante que você lembre que: poupança é a par- cela da renda que não é gasta em bens de consumo e que investimento é a poupança utilizada na aquisição de bens de capital, ou seja, na atividade produtiva das empresas. Isto torna o nosso modelo um pouco mais real, apesar de estarmos trabalhando com uma economia ainda bas- tante simples, em que não existe o governo e nem há rela- ções com outros países. Assim, do ponto de vista da Renda Nacional (RN), te- mos que toda a renda gerada poderá ter apenas duas des- tinações: o consumo (C) ou a poupança (S), ou seja: RN = C + S (1) Pelo lado do produto, as empresas podem, por exem- plo, ter reservado parte de sua produção para investimen- AULA 13 • A Macroeconomia 61 to, financiando a aquisição de bens de capital com as pou- panças das famílias. Nessas condições, tudo que é produzido – o Produto Nacional (PN) – somente pode ter dois destinos: consumo (C) e investimento (I). Assim, temos: PN = C + I (2) Por definição, o Produto Nacional é igual à Renda Na- cional; logo, podemos concluir que: RN = PN (3) então, C + S = C + I (4) portanto, S = I (5) Isso significa que, nesse tipo de economia, fechada e sem governo, a poupança é igual ao investimento. Em ou- tras palavras: a parte da renda que sobra após o consumo (que é a poupança), será canalizada para o investimento. A princípio, pode parecer coincidência essa igualdade entre a poupança e o investimento, uma vez que as razões que levam uma pessoa a poupar são diferentes das razões que levam as empresas a investir. Normalmente, o ato de investir está associado a questões de rentabilidade e risco, ao passo que o ato de poupar está ligado a segurança, a precaução etc. Em termos contábeis, essa igualdade sempre irá ocor- rer. Você consegue visualizar o que estamos falando? Veja um exemplo. Suponha uma economia cuja Renda Nacional seja de $ 500. Suponha que as famílias gastem $300 em bens de consumo (C = $ 300) e poupem $ 200 (S = $ 200). Suponha também que as empresas desejam investir $100. Nesse caso, a poupança não é igual ao investimen- to, pois foram poupados $ 200 e investidos $ 100. En- tretanto, a poupança é igual ao investimento (formação de capital) mais a variação de estoques, o que também é considerado um investimento. Veja então como isso ocorre: Com relação ao produto nacional, não se esqueça de que produto é igual a renda; no valor de $ 500, $ 100 são despesas de investimento realizadas pelas empresas. Sobram, então, $ 400 em bens que as empresas desejam vender às famílias. Os consumidores, entretanto, desejam gastar apenas $ 300 em bens de consumo, poupando os $ 200 restantes. Por essa razão, as empresas não venderão tudo que desejam, estocando assim mercadorias no valor de $ 100. Assim, podemos afirmar que houve um investi- mento não planejado (uma variação de estoques) no valor de $ 100. Desta forma, S = I A poupança é igual a $ 200 e o investimento realizado é de $ 200, sendo composto por $ 100 de formação de capital e $ 100 de variação de estoques. É possível também afirmar que o investimento plane- jado pelas empresas, no valor de $ 100, difere do investi- mento realizado, no valor de $ 200. A Economia a três setores (com o setor público) Até este momento, tudo que uma pessoa recebia como rendimento era gasto com consumo ou poupança. Mas a partir de agora vamos introduzir o setor governo, fazendo com que as pessoas possam ter suas rendas au- mentadas ou reduzidas. Você sabe o que são subsídios e tributos? Subsídios são os pagamentos que o governo fornece às famílias, como pensões, aposentadorias ou ajudas de custos. Tributos são os pagamentos que as famílias fornecem ao governo, através do pagamento de impostos, taxas etc. Com isso, os subsídios aumentam a renda das pes- soas e os tributos fazem a renda diminuir. O governo é considerado o terceiro setor da economia. Mas note que, mesmo com sua entrada na economia, continuamos a ter uma economia fechada. Equilíbrio da economia a três setores (fe- chada e com governo) Vamos considerar agora uma economia um pouco mais sofisticada, introduzindo o governo, mas ainda sem relações comerciais com outros países. Nesta nova economia, o governo também realiza des- pesas de consumo e de investimento, que denominaremos gastos do governo (G). INTRODUÇÃO À ECONOMIA 62 Assim, temos: PN = C + I + G (6) Ou seja, tudo que é produzido pela economia desti- na-se ao consumo das unidades familiares e investimento das empresas, bem como ao consumo e investimento do governo. O governo, por sua vez, a fim de poder realizar suas despesas de consumo e investimento, necessita de re- ceita que, via de regra, como você viu há pouco, é obtida mediante os tributos (T) pagos pela sociedade. Matematica- mente, temos a igualdade RN = C + S + T (7) que nos mostra que a Renda Nacional é destinada ao con- sumo, à poupança e aos tributos pagos ao governo. Dessa forma, temos: RN – T = C + S (8) Considere (RN – T) a renda disponível do setor pri- vado, que é o que sobra da renda após o pagamento dos tributos. Combinando (6) e (7), temos uma identidade que é equivalente à equação (4) para uma economia com go- verno: C + I + G = C + S + T (9) que resulta em: I + G = S + T (10) ou ainda: G – T = S – I (11) Essa identidade 11 pode ser interpretada desta ma- neira: • o excesso das despesas do governo (G) sobre a re- ceita de impostos (T), isto é, o déficit do orçamento do governo, é contabilmente idêntico ao excesso de poupança (S) sobre o investimento privado (I). A identidade (11) mostra que, em uma economia fe- chada com governo, qualquer desequilíbrio no orçamento do governo repercute sobre o setor privado da economia, pois o governo retira recursos desse setor para cobrir seu déficit. Economia a quatro setores (aberta e com governo) Para explicar este tópico, considere o caso de uma economia completa, isto é, de uma economia que, além dos setores privado e público, possua também o setor ex- terno, ou seja, mantenha relações comerciais com outros países. Normalmente, em uma economia aberta, a produção é destinada ao consumo interno e o excedente é destina- do à Exportação (X). Desse modo, o Produto Nacional, isto é, tudo que é produzido dentro do país, é destinado a Consumo (C), In- vestimento (I), Governo (G) e também à Exportação (X). Podemos, então, reformular a identidade do produto e da despesa da seguinte forma: PN = C + I+ G + X (12) Por outro lado, sabemos que nenhum país é auto- suficiente em produtos e recursos naturais. Para poder atender à demanda interna, ou seja, às necessidades do consumidor, alguns produtos são importados (M). Dessa forma, parte da Renda Nacional é destinada à aquisição de alguns produtos, o que nos permite escrever a seguinte identidade: RN – T = C + S + M (13) ou RN = C + S + T + M (14) A combinação das identidades (12) e (14) nos leva a: C + I + G + X = C + S + T + M (15) ou então, I + G + X = S + T + M (16) de onde se deduz que: (G – T) = (S – I) + (M – X) (17) AULA 13 • A Macroeconomia 63 A identidade (17) nos mostra um importante aspecto: o déficit do governo (G – T), pode ser financiado pela poupança líquida interna (S – I) ou pela poupança líquida externa (M – X). Não se assuste, estamos trabalhando com fórmulas, mas não há motivos para você se preocupar, pois o as- sunto, além de ser muito interessante já que é atual, não é difícil. Retornaremos aos conceitos de produto e renda na próxima aula; você verá como são calculados. Resumo Você viu nesta aula que a Macroeconomia faz parte do ramo da ciência econômica que estuda o comporta- mento global da sociedade. É por meio dela que se calcula o produto e a renda de uma nação. Estudamos também o funcionamento de uma econo- mia sem o governo, uma economia fechada e aberta. Atividades 1. Relacione as principais funções do governo na econo- mia de um país. 2. Você concorda que, em uma economia fechada e sem governo, a poupança é igual ao investimento? 3. O que você entende por uma economia fechada e sem governo? 4. O que poderia acontecer com o setor público caso o volume dos subsídios fornecidos fosse maior que a re- ceita tributária? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 14 Contabilidade Social Objetivos • Conhecer os conceitos da contabilidade social. • Conhecer a formação do Produto Nacio- nal Bruto. • Conhecer as principais contas nacionais. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 66 Introdução Estudaremos nesta aula algumas noções de Conta- bilidade Social, pois é a partir da contabilização das ati- vidades realizadas na economia do país que surgem as informações que permitem a formulação e execução da política econômica. A Macroeconomia é utilizada para avaliar o resultado da atividade econômica global e calcular a riqueza de uma nação. Assim, dentro de sua área de estudo surgiu a Contabi- lidade Social, que é uma ramificação da Macroeconomia que cuida de buscar medidas que permitam, de forma simplificada, mostrar o quanto a economia produziu, con- sumiu, poupou, exportou etc. Podemos definir Contabilidade Social como o registro contábil da atividade produtiva de um país, num dado pe- ríodo de tempo. A Contabilidade Social, antigamente chamada Con- tabilidade Nacional, é um instrumental que permite men- surar a totalidade das atividades econômicas de uma eco- nomia. A importância da Contabilidade Social Assim como ocorre com uma empresa, a realização da contabilidade das atividades de um país é de fundamental importância, porque é a partir dessa contabilidade que surgem informações para a formulação e execução da po- lítica econômica. A Contabilidade Social trabalha com algumas contas básicas. Essas contas constituem a medida oficial do fluxo de produto e renda da economia. No Brasil, essa contabilidade era realizada pelo Centro de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, no período de 1947 a 1986; a partir daí essa responsabilidade passou para a Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Fundação Getúlio Vargas trabalhava com cinco con- tas nacionais; eram as contas de: produção, apropriação, capital, setor externo e governo; o IBGE, visando enqua- drar o Brasil no padrão da ONU, excluiu a conta do gover- no, passando a trabalhar com quatro contas básicas. Essas contas são: • Conta de produção: determina o produto nacional e a despesa nacional; • Conta de apropriação: determina a renda nacional disponível e mostra como a renda é distribuída en- tre consumo e poupança; • Conta de capital: é equivalente à identidade entre poupança e investimento; • Conta de transações com o exterior: mostra as transa- ções econômicas entre o Brasil e o resto do mundo. Grande parte dos agregados macroeconômicos que estudaremos, como consumo e investimento, é definida nessas contas, que fornecem também o referencial pra a análise do nível de atividade econômica. Considerações a respeito da Contabilidade Social Ao elaborar as Contas Nacionais, alguns princípios ou pressupostos básicos devem ser observados: 1. procura-se medir tão somente a produção do pró- prio período. Assim, o valor de transações com bens produzidos em períodos anteriores – por exemplo, automóveis usados – não é computado nas contas nacionais; 2. são computadas apenas as transações com bens e serviços finais, ou seja, excluem-se da contabilida- de os bens e serviços intermediários; 3. as transações referem-se a um fluxo por unidade de tempo, normalmente um ano; 4. os valores das transações financeiras não são con- siderados nas contas nacionais, uma vez que tais transações são consideradas transferências entre aplicadores e tomadores, não representando, por- tanto, acréscimos à produção real da economia. O Produto Nacional Bruto (PNB) O Produto Nacional Bruto (PNB) é dado pelo valor de mercado de todos os bens e serviços finais produzidos por uma economia em um dado período de tempo, ge- ralmente um ano. O PNB é a medida básica da atividade econômica de um país. Quanto maior a quantidade de recursos disponíveis e a eficiência na sua utilização, maior será o Produto Nacio- nal gerado e, conseqüentemente, maior deverá ser o nível de bem-estar geral da nação, já que maior será o conjunto de opções oferecidas aos consumidores no atendimento de suas necessidades. AULA 14 • Contabilidade Social 67 O cálculo do PNB é importante, pois permite avaliar o desempenho da economia em diferentes períodos. Medindo o Produto Nacional Considerando que o PNB calcula tudo aquilo que é produzido por um país, como automóveis, produtos agrí- colas, bebidas, serviços etc., como, então, podemos medi- lo, ou seja, como podemos somar produtos e serviços he- terogêneos? O denominador comum usado para tornar possível a soma dos vários bens e serviços produzidos na economia é o preço de cada um deles, expresso em unidades monetá- rias. O que fazemos é calcular o valor monetário de cada bem para depois somar o total desses valores, chegando, dessa forma, ao conceito de Produto Total para um deter- minado ano. Assim, o valor da produção de automóveis será dado pela quantidade produzida de automóveis multiplicada pelo seu preço. O mesmo raciocínio deve ser estendido aos outros bens. Exemplificando: suponha uma economia bastante simples, que produza apenas cinco tipos de bens. Cálculo do PNB Bem Preço ($) Quantidade A 50,00 200 B 10,00 3 C 8,00 60 D 0,50 250 E 30,00 13 O PNB nessa economia hipotética será dado por: PNB = (Pa x Qa) + (Pb x Qb) + (Pc x Qc) + (Pd x Qd) + (Pe x Qe) Substituindo as siglas da expressão acima por seus res- pectivos valores, obteremos: PNB = ($ 50,00 x 200) + ($ 10,00 x 3) + ($ 8,00 x 60) + ($ 0,50 x 250) + ($ 30,00 x 13) PNB = $ 11.025,00 O cálculo do PNB feito para essa economia simples pode ser utilizado em uma economia mais complexa, incluindo bens (como livros e camisas) e serviços (como transporte etc.), desde que tenham preços e, portanto, possam ser somados, conforme apresentado. O problema da dupla contagem Ao medir a produção de um país,surge um grande problema: a possibilidade de computarmos mais de uma vez um bem do Produto Nacional, acabando por supe- restimá-lo. Devemos, portanto, excluir os chamados bens intermediários do nosso cálculo, uma vez que eles estão incluídos no valor do produto final. Exemplificando: devemos apenas considerar o valor do automóvel como parte do PNB. O valor dos compo- nentes utilizados em sua montagem, como pneus, aço, vidro, produzidos por outras empresas, já está incluído no preço do veículo. Se incluíssemos o valor dos bens inter- mediários no calculo do PNB, estaríamos incorrendo no erro da dupla contagem. Existem duas maneiras de evitar o problema da dupla contagem: 1. excluindo os produtos intermediários: ao calcular o Produto Nacional, devemos incluir somente os bens finais, nunca os produtos intermediários. 2. computando somente o valor adicionado: nesse caso, levamos em consideração os valores adicionados ao produto à medida que ele passa pelos vários estágios do processo produtivo. O quadro a seguir fornece um exem- plo de como evitar o problema da dupla contagem utili- zando o método do valor adicionado. Para uma empresa, o valor adicionado ao produto consiste no valor de suas vendas menos o valor de suas compras de bens interme- diários de outras empresas. Em nosso exemplo, fazemos a suposição de que os produtores de trigo não compram bens intermediários de outras firmas. Para você entender melhor, veja um exemplo: Estágios de produção Receitas de vendas Compras in- termediárias Valor adicionado (a) (b) (a) – (b) 1. produção de trigo $ 700 $ 0 $ 700 2. produção de farinha $ 1.000 $ 1.000 $ 300 3. produção de pão $ 1.400 $ 1.000 $ 400 4. VALOR ADICIONADO $1.400 INTRODUÇÃO À ECONOMIA 68 Por esses dados, podemos dizer que o fazendeiro ven- de sua produção de trigo a um moinho por $ 700. O dono do moinho, por sua vez, processa o trigo transformando- o em farinha, vendendo-o posteriormente a uma padaria por $ 1.000. O padeiro, por sua vez, utiliza-se da farinha para fabricar os pães, vendendo-os aos consumidores por $ 1.400. Temos então que o valor adicionado na produção de trigo é de $ 700; na produção de farinha adicionam-se $ 300; na produção de pão, finalmente, adicionam-se $ 400. A soma dos valores adicionados em cada estágio de produção totaliza $ 1.400, que é igual ao valor do pão, que é o produto final. Esse resultado não é fruto do acaso e origina-se do fato de que os dois métodos evitam a con- tagem dos bens intermediários. O valor adicionado a um produto em cada estágio de produção é a soma dos custos dos fatores de produção. Em suma, podemos afirmar que o PNB é o valor de mercado de bens e serviços finais produzidos na economia em um determinado período de tempo. Resumo Nesta aula você viu o que é a Contabilidade Social e como se dá o cálculo do Produto Nacional em um país. Definimos também o conceito de produto nacional, que é tudo aquilo produzido com recursos de uma econo- mia em um certo período de tempo, e vimos que na con- tabilidade o produto nacional se iguala à renda nacional, que por sua vez é igual à Despesa Nacional. Atividades 1. Procure listar o PNB de alguns países e explique a im- portância do estudo do PNB. 2. Explique por que o produto é igual à renda nacional. 3. Qual o problema da dupla contagem para uma econo- mia? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 15 A renda nacional e o Produto Interno Bruto Objetivos • Conhecer o conceito de Renda Nacional. • Verificar como o PIB de uma economia é calculado. • Conhecer a diferença entre PIB e PNB. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 70 Introdução Em nossa aula de hoje daremos seqüência à aula an- terior; estudaremos aqui a Renda Nacional e o Produto Interno Bruto (PIB). A identidade básica da Contabilidade Social Segundo o conceito econômico, podemos atribuir o conceito de renda ao conjunto de itens representativos da remuneração paga aos proprietários dos recursos de pro- dução. Você se recorda quais são os recursos de produção de um sistema econômico? Eles são: terra, trabalho, capital, tecnologia e capaci- dade empresarial. Como cada recurso desses é utilizado na produção dos bens e serviços que serão produzidos e consumidos pelo sistema econômico, esses recursos têm que ter uma remuneração por suas utilizações. Essa remuneração cha- ma-se renda. A renda é formada por: • Aluguel: o pagamento pela utilização do fator terra. É a remuneração dos bens imóveis. • Salário: a remuneração pela utilização do fator trabalho. É o pagamento feito aos proprietários do fator trabalho, ou trabalhadores. • Juros: remuneração do fator capital. • Royalty: remuneração do fator tecnologia. • Lucro: remuneração dos empresários. Se somarmos a renda recebida por todos os indivíduos de uma sociedade, em um determinado período de tem- po, obteremos a Renda Nacional relativa a esse período, que representa nada mais do que aquilo que foi gerado de renda dentro da economia. As empresas, utilizando os fatores de produção dis- poníveis, produzirão bens e serviços que serão oferecidos aos indivíduos. Denomina-se, portanto, Produto Nacional o valor de toda a produção gerada pelas empresas. Como em uma economia fechada e sem governo, su- põe-se que toda a renda dos indivíduos é destinada ao consumo; esse consumo retratará o total das despesas efe- tuadas pelos indivíduos na aquisição dos bens e serviços produzidos pelas empresas. Assim, surge o conceito de Despesa, que representa o pagamento pelos bens e serviços adquiridos pelos indiví- duos às empresas; ou seja, é o gasto das famílias. A soma de todos os pagamentos efetuados dentro de uma econo- mia, em um determinado período de tempo, chama-se Despesa Nacional. Surge então uma identidade muito utilizada pela Con- tabilidade Social, definindo que, dentro deste tipo de eco- nomia a dois setores, a Renda Nacional é igual ao Produto Nacional, que por sua vez é igual à Despesa Nacional. Assim, temos: PN = RN = DN Esta é a Identidade Básica da Contabilidade Nacio- nal. O Produto Interno Bruto (PIB) Quantas vezes em sua vida você já ouviu falar ou leu alguma coisa sobre o PIB? Pois agora está na hora de você aprender um pouco mais sobre ele. O Produto Interno Bruto representa o somatório de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do ter- ritório nacional, em um determinado período de tempo (geralmente um ano), sem considerar a propriedade dos recursos de produção. Essa definição quer dizer que faz parte do PIB de um país tudo aquilo que é produzido dentro de seu território, independentemente de a produção pertencer ao país ou ter sido produzida com recursos (dinheiro, máquinas, em- presas) nacionais ou estrangeiras. Desta maneira, tudo aquilo que foi produzido dentro do país passa a fazer parte do PIB daquele país. Calculando o PIB Você já deve ter escutado alguém dizer que o PIB do Brasil é de US$ 500 bilhões. Mas o que isto quer dizer? Isto significa que tudo aquilo que foi produzido dentro do país naquele ano equivale a esse valor. Mas como é feito esse cálculo? AULA 15 • A renda nacional e o Produto Interno Bruto 71 O PIB, na verdade, é calculado multiplicando toda a produção interna do país pelo preço de cada produto ou serviço produzido. PIB = ∑ PREÇO X QUANTIDADE Você deve estar se perguntando: mas como posso so- mar automóveis com laranjas e cortes de cabelo? A resposta é simples: basta transformá-los em um va- lor monetário. Veja um exemplo: Suponha que, em um determinado país, no ano de 2005 tenham sido produzidos os seguintes produtos e ser- viços, com suas respectivas quantidades: Automóveis: 2.000 unidades Laranjas: 5.000 toneladasCortes de cabelo: 3.000 unidades Suponha ainda que o preço de cada automóvel seja de $ 10.000, que cada tonelada de laranja custe $ 15 e que cada corte de cabelo custe $ 5. Dessa maneira, para calcular o valor do PIB faz-se o seguinte cálculo: 2.000 automóveis X $ 10.000 = $ 20.000.000 5.000 toneladas de laranjas X $ 15 = $ 75.000 3.000 cortes de cabelo X $ 5 = $ 15.000 Valor total do PIB = 20.000.000 + 75.000 + 15.000 Assim, podemos afirmar que o PIB desse país em 2005 foi de $ 20.090.000. Mas para que serve esse cálculo do PIB? Serve para saber o que foi produzido dentro de cada país. Sendo assim, e calculado em uma única moeda (que é o dólar norte-americano), pode-se comparar o valor da produção interna de cada economia. Através do cálculo do PIB, podemos saber se a economia do país está cres- cendo ou não. ATENÇÃO: O PIB serve apenas para medir o que é produzido dentro de uma economia, ou seja, ele mede o tamanho da economia de cada país, se a economia é grande, se produz muito, qual o tipo de produção etc. Ele não pode ser utilizado para medir a riqueza do país. A diferença entre o PIB e o PNB Na verdade, os conceitos de PIB E PNB são muito pró- ximos e, às vezes, deixam dúvidas. É importante entendê-los melhor. PNB: O Produto Nacional Bruto é dado pelo valor de todos os bens e serviços finais produzidos por uma economia, em um dado período de tempo (geralmente de um ano), independentemente do território onde eles foram produzidos. PIB: O Produto Interno Bruto (PIB) é dado pelo valor de todos os bens e serviços finais produzidos dentro de uma economia, em um dado período de tempo (geral- mente de um ano), sem considerar a propriedade dos recursos de produção. Conseguiu perceber a diferença? O PIB considera tudo aquilo que foi produzido dentro do país, sem considerar quem é o proprietário da produção. Já o PNB considera tudo aquilo que foi produzido apenas com recursos do próprio país, sem se importar o local onde foi realizada a produção. A partir desse ponto, podemos concluir que o PIB pode ser utilizado para medir o tamanho da economia do país, e o PNB pode ser utilizado para medir a riqueza do país. Resumo Estudamos na aula de hoje a identidade básica da Contabilidade Social, que afirma que a Renda Nacional é igual ao Produto Nacional, que é igual à Despesa Na- cional. Vimos também como o PIB de um país pode ser cal- culado e qual é a diferença de conceito entre o PIB e o PNB. Atividades 1. Faça uma pesquisa: identifique os maiores PIBs do mundo e a posição do Brasil. Procure também sobre os valores do PNB brasileiro. 2. É possível afirmar que um país tem um PIB grande e não é desenvolvido? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 16 Aplicando os conceitos do PIB e PNB Objetivos • Transformar o PIB em PNB. • Conhecer os conceitos de renda enviada e recebida do exterior. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 74 Introdução Nas aulas anteriores você viu como são calculados o PIB e o PNB de uma nação. Nesta aula iremos trabalhar com esses dois agregados econômicos, enfatizar as principais diferenças entre eles e aprender como se faz a transformação do PNB em PIB e vice versa. Revendo os conceitos de PIB E PNB Na verdade, os conceitos de PIB E PNB são muito pró- ximos e algumas vezes deixam dúvidas. Vamos tentar entendê-los melhor. O Produto Nacional Bruto (PNB) é dado pelo valor de todos os bens e serviços finais produzidos por uma eco- nomia, em um dado período de tempo (geralmente um ano), independentemente do território onde eles foram produzidos. Desta forma, quando se calcula o PNB de um país, conta-se apenas aquilo que foi produzido com recursos de produção do país, não importando se a produção foi realizada dentro das fronteiras dessa nação ou em outro país. O que importa é aquilo que o país tem produzido e que pertence a ele. É através desse valor do PNB é que se pode ter uma melhor idéia da riqueza do país. O Produto Interno Bruto (PIB) é dado pelo valor de todos os bens e serviços finais produzidos dentro de uma economia, em um dado período de tempo (geralmente um ano), sem considerar a propriedade dos recursos de produção. No cálculo do PIB, considera-se apenas o que foi pro- duzido dentro das fronteiras do país, não importando se os fatores utilizados na produção são de propriedade do país ou se são de uma outra nação. Assim, o PIB mede somente o tamanho da economia do país ao calcular tudo aquilo que foi produzido dentro dele, mas não mede a riqueza do país, pois a parte da pro- dução realizada com fatores de produção internacionais não pertence à nação. Pode-se dizer, então, que o PIB mede o desempenho, a grandeza da economia da nação, mas não a sua riqueza. Conseguiu perceber a diferença? O PIB considera tudo aquilo que foi produzido den- tro do país, mas sem considerar quem é o proprietário da produção. Já o PNB considera tudo aquilo que foi produzido apenas com recursos do próprio país, sem se importar com o local onde foi realizada a produção. Existem alguns países, como Suíça, Suécia, Finlândia, que apresentam baixo valor de PIB e um alto PNB. Mas como isso pode ser interpretado? Esses países são considerados ricos, mesmo tendo um PIB baixo. Isso quer dizer que a produção interna (den- tro de suas fronteiras) é pequena, mas não importa, pois existem empresas desses países espalhadas pelo mundo inteiro e produzindo renda para eles. Como esse cálculo é realizado? Transformando o PIB em PNB Tome a seguinte equação: PIB – RENDA ENVIADA AO EXTERIOR + RENDA RECEBIDA DO EXTERIOR = PNB A renda enviada ao exterior é a parte daquilo que foi produzido dentro do país mas que não pertence ao país, pois os recursos não são nacionais. Exclui-se então essa renda para conhecer o que foi produzido dentro do país apenas com fatores de produção nacional. Já a renda recebida do exterior representa tudo aquilo que foi produzido com recursos nacionais, mas cuja pro- dução foi realizada fora do país. Nesse caso, inclui-se o valor dessa produção, pois foi realizada com recursos de produção nacionais mas não foi contada no PIB, pois foi realizada fora do país. Exemplo: Um país apresenta um PIB de US$ 700 bilhões. Sua renda enviada ao exterior foi de US$ 200 bilhões e a renda recebida do exterior foi de US$ 150. Qual foi o valor de seu PNB? PIB – renda enviada ao exterior + renda recebida do exterior = PNB 700 – 200 + 150 = 650 Isso significa que, dentro desta economia, foram pro- duzidos US$ 700 bilhões em bens e serviços. Desse to- AULA 16 • Aplicando os conceitos do PIB e PNB 75 tal, US$ 200 bilhões não pertencem ao país, pois foram produzidos com recursos de produção estrangeiros, e US$ 150 bilhões pertencem ao país mas não foram incluídos no PIB, pois foram produzidos no exterior. O valor do PNB, de US$ 650 milhões, representa tudo aquilo que o país produziu e que pertence a ele, não im- portando o local onde esta produção foi realizada, sen- do portanto considerada como a sua riqueza. Em síntese, podemos dizer que o PIB mede tudo aquilo que foi produzido dentro do país, independente de quem é o proprietário da produção. O PNB mede tudo aquilo que foi produzido com recursos do próprio país, independente do local onde foi realizada a produção. Analise sobre o PIB no Brasil O Produto Interno Bruto do Brasil somou R$ 1,938 trilhão em 2005, tendo uma alta de 9,6%, se comparado ao R$ 1,767 trilhão de 2004, segundo cálculos do Institu- to Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2003, a soma de todas as riquezas produzidas no país havia ficado em R$ 1,556 trilhão. O Brasil já chegou a ser, nos anos de 1996/1997, a oi- tava maior economia do mundo, segundovalores do PIB. Essa posição foi caindo, chegando a atingir a 15ª, voltando a recuperar posições a partir de 2003. O Brasil melhorou sua posição no ranking mundial das maiores economias entre 2003 e 2004, passando da 15ª para a 12ª posição. Calculado em dólares, o PIB brasileiro totalizou US$ 605 bilhões em 2004, considerando um dólar médio de R$ 2,9257 no ano passado. À frente do Brasil estão Estados Unidos, Japão, Alema- nha, Reino Unido, França, Itália, China, Espanha, Canadá, México e Austrália. Em 2003, o Brasil aparecia atrás de todos esses países e também da Índia, Coréia do Sul e Holanda. Resumo Na aula de hoje voltamos a definir o PIB (Produto Interno Bruto) como um indicador de expansão da eco- nomia. É representado pelo somatório de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional durante um determinado período de tempo (geralmente um ano), sem considerar quem é o proprietário dos fatores de produção. O PIB representa o que foi produzido den- tro do país, mas não necessariamente aquilo que pertence ao país, pois parte dessa produção pode ter sido realizada com recursos estrangeiros. Vimos também que o PNB (Produto Nacional Bruto) representa tudo aquilo que foi produzido com fatores na- cionais, independentemente do local onde foi realizada a Maiores Economias do Mundo - 2004 BRASIL SOB 3 POSIÇÕES No ranking da maiores economias do mundo Posição em 2004 País PIB em 2004 (em bilhões de US$) Posição em 2004 País PIB em 2004 (em bilhões de US$) 1º EUA 11.757 9º Canadá 957 2º Japão 4.780 10º México 649 3º Alemanha 2.734 11º Austrália 622 4º Reino Unido 2.113 12º Brasil 605 5º França 2.026 13º Índia 594 6º Itália 1.669 14º Coréia 582 7º China 1.543 15º Holanda 577 8º Espanha 971 16º Rússia 535 Fonte: FMI e Consultoria GRC Visão INTRODUÇÃO À ECONOMIA 76 produção. O PNB é a renda que efetivamente pertence a um determinado país. Para obter o valor do PNB basta retirar do PIB o valor da produção que foi feita dentro do país com recursos estrangeiros e acrescentar o que foi pro- duzido com recursos nacionais mas fora do país. A partir deste ponto, podemos concluir que o PIB pode ser utilizado para medir o tamanho da economia do país e o PNB pode ser utilizado para medir a riqueza do país. Você estudou também que a diferença entre o PIB e o PNB está no valor da renda enviada e recebida do exterior. Atividades 1. Pode um país apresentar um alto valor do PIB e não ser um país rico? 2. Por que o Brasil apresenta um PIB alto e um baixo PNB? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 17 O PNB real, nominal e per capita Objetivos • Distinguir os conceitos de PNB real e PNB nominal. • Conhecer o que é o PNB per capita. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 78 Introdução O PNB foi definido anteriormente como o valor de mercado dos bens e serviços finais produzidos pela eco- nomia, em um determinado período de tempo. Em outras palavras, o PNB á avaliado em termos monetários, levando em conta o preço de cada bem, no período em que esse bem foi produzido. Essa é a medida satisfatória, se quiser- mos saber o valor do PNB de um ano qualquer. Sabemos, porém, que, ano a ano, o produto nacional pode variar, devido a aumento de preços, a um aumento na quantidade de bens e serviços ou a ambos. Por essa razão, é importante que saibamos que parte do aumento corresponde à quantidade de bens e serviços produzidos e que outra parte corresponde à variação de preços. Como, então, os profissionais resolvem essa situação? Este será o principal objetivo da aula de hoje. PNB real e PNB nominal Imagine que, em uma economia hipotética, se produ- zam apenas dois produtos: automóveis e trigo. Suponha também que, para 2000, os dados de produção total dessa economia sejam os seguintes: Quadro 1 PNB Nominal de 2000 (PNB de 2000 medido a preços de 2000) Preço Quantidade Produto Automóveis $ 0,50 200 $ 100,00 Trigo $ 1,50 300 $ 450,00 PNB $ 550,00 O PNB de 2000 é, portanto, de $ 550,00, e é cha- mado PNB Nominal ou PNB a Preços Correntes, porque é medido com os preços do próprio ano em que foi pro- duzido. Imagine agora que, em 2001, essa economia apresen- te os seguintes dados de produção: Quadro 2 PNB Nominal de 200 (PNB de 2001 medido a preços de 2001) Preço Quantidade Produto Automóveis $ 0,75 250 $ 187,50 Trigo $ 1,80 330 $ 594,00 PNB $ 781,50 Temos, então, que o PNB de 2001 é de $ 781,50, e é chamado PNB Nominal, porque foi medido aos preços de 2001. De posse dessas informações podemos concluir que o PNB Nominal de 2001, de $ 781,50, teve um aumento de 42,09% em relação ao PNB de 2000, de $ 550,00. Con- tudo, muito desse aumento resulta da elevação de preços ocorrida de um ano para o outro, não refletindo, portanto, um aumento físico da produção, ou seja, o produto real da economia não aumentou tanto quanto a comparação dos valores nominais desses dois períodos parece indicar. Como, então, fazemos para resolver esse problema? O caminho para contornar esse tipo de problema con- siste em tomar os preços de determinado ano (ano-base) e usá-los através das séries de medições do PNB em dife- rentes anos. No nosso exemplo, poderíamos usar os preços de 2000 para calcular o PNB de 2001. Assim procedendo, es- taríamos eliminando a variação de preços ocorrida de um ano para outro. Veja, então, como fica o nosso exemplo: Quadro 3 PNB Nominal de 2001 (PNB de 2001 medido a preços de 2000) Preço Quantidade Produto Automóveis $ 0,50 250 $ 125,00 Trigo $ 1,50 330 $ 495,00 PNB $ 620,00 Assim, quando calculamos o PNB Real em 2001, ava- liando-o pelos preços de 2000, encontramos um PNB de $ 620,00, o que indica um aumento de 12,72% em vez de um aumento de 42,09%. Esse aumento de 12,72% é uma medida melhor do aumento da produção física da economia. Dessa forma, fica solucionado o problema das mudanças irreais no produto total devido a variações do nível de preços. Na prática, para superar esse problema, os economis- tas utilizam um índice de preço que nos dá uma estimativa da variação no nível geral de preços da economia. Esse ín- dice terá o valor de 100 em um ano-base e mostrará a va- riação geral ocorrida nos preços a partir dessa base 100. Exemplificando: suponha que o ano de 2000 tenha sido escolhido como ano-base. Nesse caso, o índice desse ano seria 100. Se, no ano seguinte, o índice fosse de 140, isso significaria que, em média, os preços teriam aumenta- do em 40% nesse ano (2001). Uma vez tendo o índice de preços, podemos utilizá-lo para deflacionar o PNB Nominal (ou a preços correntes) e AULA 17 • O PNB real, nominal e per capita 79 encontrar o PNB Real (ou a preços constantes). Para tanto, vamos nos valer dos dados do Quadro 4. Quadro 4 Como se calcula o PNB Real (em $ milhões) Ano PNB Nominal (preços correntes em $ milhões) Índice de preços PNB Real (preços constantes – 1999) 1999 206.458,80 100 206.458,8 x 100 = 100 206.458,80 2000 274.348,00 117,3 274.348,00 x 100 = 117,30 223.885,70 2001 359.856,80 137,7 359.856,80 x 100 = 137,70 261.333,90 Observamos então que, entre 1999 e 2000, os pre- ços cresceram, em média, 17,3%. Se dividirmos o PNB Nominal de 2000 pelo índice de preços (117,3) e multipli- carmos esse resultado por 100 (para compensar o uso das porcentagens), encontraremos o PNB de 2000 medido a preços de 1999. A conclusão a que se chega é de que, entre 1999 e 2000, o aumento do PNB foi causado em grande parte pelo aumento de preços; podemos dizer também que, a pre- ços constantes de 1999, o Produto Nacional aumentou de $ 206.458,80 para $ 233.885,70, aumento este de 13,2%. Podemos, então, definir o PNB Nominal e o PNBReal: PNB Nominal: mede o valor da produção aos preços prevalecentes no período durante o qual o bem é pro- duzido. PNB Real: mede o valor da produação em qualquer período, aos preços de um ano-base. Ele dá uma estima- tiva da variação real ou física na produção entre anos específicos, excluindo o efeito do aumento nos preços. O PNB per capita Além do cálculo do valor do PNB de uma economia, podemos calcular esse valor por indivíduo, fornecendo a média de quanto cada pessoa contribui ou apropria do valor do produto. O PNB per capita é obtido dividindo-se o PNB pela população: PNB per capita = PNB população O PNB pela ótica da despesa O PNB pode ser medido como a despesa total com produção final da economia. Essa despesa da sociedade com bens e serviços divide-se em: gastos pessoais em con- sumo, gastos com investimento efetuados pelas empresas, gastos do governo em bens e serviços e exportações líqui- das. Consumo (C) As despesas em consumo efetuadas pelas famílias constituem o maior componente da demanda agregada no Brasil. Os gastos com consumo dividem-se em três itens básicos: • bens duráveis: televisores, geladeiras, automóveis etc.; • bens não duráveis: alimentos, roupas, combustíveis etc.; • serviços: educação, corte de cabelo, assistência médica etc. Investimento ( I ) O investimento é a despesa em bens que aumenta a capacidade produtiva da economia e, portanto, a oferta de produtos no período seguinte. Ele é um fluxo de capital novo na economia que é acrescentado ao Estoque de capital (que é a quantidade de capital produtivo existente). É também chamado Taxa de Acumulação de Capital e Formação Bruta de Capi- tal. O investimento inclui as despesas em novas edifica- ções (novas fábricas e instalações) e em novos equipa- mentos (novos caminhões, novos tornos, novas máquinas, novos instrumentos etc.). O investimento inclui também a variação nos estoque de bens mantidos pelas empresas. Você sabe que os bens produzidos mas não vendidos são classificados como estoques. Por essa razão, aumentos nos estoques representam bens que foram produzidos no período e, por isso, devem ser incluídos no cômputo do INTRODUÇÃO À ECONOMIA 80 Produto Nacional. Assim, quando as empresas acumulam estoques de seus produtos, consideramos esses estoques como bens comprados pelas próprias empresas, o que faz com que o produto que assume a forma de estoque seja igual a uma despesa no valor do produto estocado, que é chamada, como já dissemos, investimento em estoque. Depreciação Sabemos que o estoque de capital de uma economia está em constante desgaste, ou seja, as ferramentas, má- quinas, edificações e outros instrumentos de produção uti- lizados durante o ano se depreciam. Por essa razão, parte das despesas de investimento destina-se à substituição do capital desgastado e, por isso, não aumenta o estoque de capital da economia. Devido a isso, temos duas definições de investimento: • Investimento Bruto (IB) que é igual às despesas com novas edificações, novos equipamentos etc., somado à variação de estoques; e • Investimento líquido (IL), que é igual ao investi- mento bruto menos a depreciação. Assim, temos: IL = IB - depreciação Você deve notar, portanto, que é o investimento líqui- do que aumenta o estoque de capital da economia. Gastos governamentais (G) As despesas governamentais em bens e serviços tam- bém são um importante componente da demanda agrega- da da economia. São incluídas nesse item despesas com educação, segurança, justiça, construção de estradas, hos- pitais etc. Devemos observar que por governo entendem- se apenas as funções típicas do Estado, como administra- ção direta, judiciário, legislativo etc. As empresas estatais que produzem e oferecem bens e serviços cobrando uma tarifa ou um preço são tratadas na Contabilidade Nacional como empresas do setor privado. Exportações líquidas (X – M) Finalmente, é possível introduzir os chamados compo- nentes externos: as exportações (X) e as importações (M). As exportações correspondem à venda de parte da nossa produção para o exterior e que constituem deman- da por produção interna. As despesas de importação cons- tituem-se em aquisições de produção realizada em outros países. Desta forma, o valor do PNB pode ser calculado da seguinte maneira: PNB = C + I + G + (X - M) Resumo Você viu nesta aula que o PNB é o somatório de todos os bens e serviços produzidos por um país. Ele pode ser calculado em termos reais e nominais. De forma sintética, podemos escrever que: Produto Nacional = C + I + G + X – M = Despesa Nacional Assim, o PNB, descontada a depreciação, é o agrega- do econômico que define o valor dos bens e serviços finais realmente acrescentados à riqueza nacional. Consiste na produção líquida total gerada pela economia de um país no período de um ano. Inclui as despesas de consumo de bens e serviços do setor privado (C), os gastos do governo em bens e serviços (G) e as despesas em investimentos líquidos (IL), excluindo-se os fundos destinados à depre- ciação. Atividades 1. O que você entende por depreciação? 2. Qual a diferença entre PNB e PNB per capita? 3. A quais fatores podemos atribuir o aumento no PNB de um país? 4. O que representa um PNH Real? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 18 Política Monetária Objetivos • Reconhecer o que é a política monetá- ria. • Entender quais são seus principais ins- trumentos. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 82 Introdução Estudaremos nesta aula algumas das aplicações práti- cas da Macroeconomia. Uma delas está na política econômica, normalmente separada em política fiscal e política monetária. Através dessas políticas torna-se possível iniciar a aplicação da teo- ria econômica na realidade prática. Especificamente nesta aula vamos rever alguns conceitos da Macroeconomia e estudar a política monetária e os modelos derivados dela. Nas próximas aulas estudaremos a política fiscal. Revisão de Macroeconomia Conceitos Importantes Como você já viu, o Produto Interno Bruto (PIB) é um indicador de expansão da economia. É representado pelo somatório de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional, durante um determinado período de tempo, geralmente um ano, sem considerar quem é o proprietário dos fatores de produção. O PIB representa o que foi produzido dentro do país, mas não necessariamente aquilo que pertence ao país, pois parte dessa produção pode ter sido realizada com recursos es- trangeiros. O Produto Nacional Bruto (PNB) representa tudo aqui- lo que foi produzido com fatores nacionais, independen- temente do local onde foi realizada a produção. O PNB é a renda que efetivamente pertence a um determinado país. Para obter o valor do PNB, basta retirar do PIB o valor da produção que foi feita dentro do país com recursos es- trangeiros e acrescentar o que foi produzido com recursos nacionais mas fora do país. Tem-se, então, a seguinte equação: PIB – RENDA ENVIADA AO EXTERIOR + RENDA RECEBIDA DO EXTERIOR = PNB A renda enviada ao exterior é a parte daquilo que foi produzido dentro do país, mas não pertence ao país, pois os recursos não são nacionais. A renda recebida do exterior representa tudo aquilo que foi produzido com recursos nacionais, mas cuja pro- dução foi realizada fora do país. Em síntese, podemos dizer que o PIB mede tudo aquilo que foi produzido dentro do país, independente de quem é o proprietário da produção; o PNB mede tudo aquilo que foi produzido com recursos do próprio país, independente do local onde foi realizada a produção. A partir de agora você pode estudar a política econô-mica. A Política Monetária A política econômica, como foi dito, pode se dar atra- vés de política fiscal ou monetária, ou ainda das duas con- juntamente. Na aula de hoje estudaremos a monetária. Definição Política monetária refere-se ao conjunto de medidas adotadas pelo governo no que tange ao controle da oferta de moeda na economia. Seu principal objetivo pode ser de estimular ou conter o crescimento econômico de uma economia. Antes de iniciar o estudo da política monetária, torna- se necessário um breve estudo sobre moeda. Você sabe o que é moeda? Moeda: é um instrumento que, por ter aceitação geral, serve para intermediar as transações econômicas, dentre outras funções. Do ponto de vista econômico, podemos conceituá-la da seguinte forma: Mas para que serve a moeda? Funções da moeda • Instrumento ou meio de troca: é utilizada para in- termediar as transações econômicas; • Reserva de valor: pode ser guardada para ser utili- zada num momento posterior; • Unidade de conta: auxilia na realização da conta- bilização financeira. A demanda por moeda A demanda de moeda por parte dos agentes econô- micos é necessária para o cumprimento das necessidades diárias desses agentes, que também podem optar pela pre- ferência de não gastá-la no presente e aplicá-la de alguma forma, objetivando um maior rendimento no futuro atra- vés da incidência de juros. Os motivos pelos quais os agentes econômicos de- mandam moeda são: AULA 18 • Política monetária 83 Transação: para a realização de gastos diversos, como alimentação, transporte, lazer etc. Precaução: para efetuarem poupança realizada por parte das pessoas para se precaverem da ocorrência de possíveis eventualidades (saúde, acidentes), ou mesmo para consumo futuro. Especulação: para realizarem aplicações no mercado financeiro, tais como certificados de depósito bancário (CDB), fundos de ações, caderneta de poupança etc., visando obtenção de lucro futuro. A oferta de moeda A quantidade de dinheiro que é ofertada na econo- mia é determinada pelo Banco Central, a autoridade mo- netária máxima, juntamente com os bancos comerciais, visando atender às necessidades da população e o bom desempenho do sistema econômico. Essa quantidade de dinheiro que é ofertada na eco- nomia é também denominada meios de pagamento. Você sabe o que significa meios de pagamento? Meios de pagamento referem-se ao total de moeda que está em circulação na economia e tem liquidez ime- diata, ou seja, que pode ser utilizada a qualquer momen- to. São dados pelo somatório de dinheiro em poder do público e os depósitos à vista em conta corrente nos ban- cos comerciais. Os instrumentos de política monetária Os instrumento de política monetária são os meca- nismos que podem ser utilizados pelo governo com o ob- jetivo de retirar ou colocar mais moeda em circulação na economia, fazendo assim com que o produto desta possa reduzir ou expandir. Eles são: a) Depósitos compulsórios: os bancos comerciais são obrigados a reter e a recolher junto ao Banco Central um determinado percentual sobre o total de depósitos à vista realizados diariamente. Esse recolhimento visa suprir possíveis dificuldades de caixa dos bancos e dar socorro ou auxílio aos bancos em momentos de dificul- dade. Um aumento dos percentuais das reservas obrigatórias ocasionará diminuição dos meios de pagamento ofer- tados na economia, gerando uma redução no consumo com conseqüente redução no ritmo de crescimento do país. Se o percentual de reserva reduzir, irá acontecer o contrário, expandindo a economia. b) Operações de Mercado Aberto (open market): consistem na compra e venda, por parte do Banco Central, de títulos governamentais no mercado finan- ceiro, tais como: LFT (Letras Financeiras do Tesouro), LBC (Letras do Banco Central) etc., visando regular o fluxo de circulação de moeda na economia. Como exemplo temos: • Compra de títulos públicos: o Banco Central efe- tua pagamentos em dinheiro aos banqueiros porta- dores dos títulos do governo, aumentando assim a liquidez dos meios de pagamento na economia, in- duzindo a expansão dos investimentos produtivos. • Vendas de títulos públicos: o Banco Central recebe dinheiro pelos títulos, reduzindo o montante de dinheiro em circulação na economia, o que provo- ca uma redução dos investimentos produtivos. c) Política de redesconto: Refere-se a empréstimos que o Banco Central faz aos bancos comerciais para atender às necessidades momentâneas de caixa quan- do estes apresentam perdas na câmara de compensa- ção de cheques. Através do redesconto, o Banco Central consegue re- gular diariamente as operações realizadas pelos ban- cos comerciais, podendo assim aumentar ou reduzir a quantidade de moeda em circulação na economia. Sintetizando, podemos afirmar que: A política monetária adotada por um governo pode ser restritiva ou expansiva. • Política monetária restritiva é aquela em que as medi- das adotadas pelo governo visam reduzir o crescimento da quantidade de moeda em circulação, elevando con- seqüentemente a taxa de juros da economia, implican- do redução do ritmo de crescimento do produto da economia. Como exemplo temos um aumento na taxa de redesconto. • Política monetária expansiva: é aquela em que as medidas implementadas pelo governo visam aumen- tar a quantidade de moeda em circulação, causando redução na taxa de juros devido ao excesso de oferta de moeda, implicando em aumento no ritmo do cres- cimento do produto da economia. Como exemplo po- demos citar uma redução no compulsório bancário. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 84 Resumo Estudamos nesta aula o que é a política monetária, e vimos que é através dela que o governo pode estimular o crescimento ou a retenção econômica de um país. Dessa forma, circulando mais ou menos moeda no sistema econômico, o consumo poderá ser aumentado ou reduzido, influenciando assim nas taxas de juros, na infla- ção e no crescimento do PIB. Atividades 1. O que você entende por política econômica? 2. Conceitue o que é política monetária. 3. Diferenciar política monetária restritiva e expansiva. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 19 Economia Monetária Objetivos • Reconhecer os principais elementos da intermediação financeira, seu surgimen- to e funcionamento. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 86 Introdução A partir desta aula, começaremos a estudar a área mo- netária e financeira da Economia. Você verá como se deu o surgimento do sistema financeiro, como é a estrutura do sistema financeiro nacional, quais as características da po- lítica monetária e do mercado de capitais, segmento que contempla as bolsas de valores. Nesta aula iremos estudar a intermediação financeira. Para que você possa entender com mais clareza este assunto, contarei uma história sobre o surgimento do sis- tema financeiro. Imagine a situação de um pescador que vive isolado em uma ilha deserta, vivendo apenas com o fruto de seu trabalho. Suponha que esse pescador entre em contato com pessoas que vivem em uma ilha próxima à sua. Ele percebe que, naquela ilha, existem pessoas que produzem outros tipos de produtos em quantidade maior do que necessitam para consumo. O pescador percebe ainda que as pessoas que vivem na ilha vizinha são carentes de peixes. Ele, então, busca estabelecer contato com aquelas pessoas da ilha, visando realizar uma troca de produtos. Com isso, ele fica obrigado a produzir mais peixes e a es- tocá-los, formando assim uma poupança, porque agora ele dispõe de oportunidades mais amplas para aplicar a poupança que fizer. Imagine também que a população da ilha vizinha já utili- za um tipo qualquer de moeda. Esse ativo financeiro permite ao pescador desdobrar a operaçãode troca em duas opera- ções distintas: a operação de venda e a operação de compra. Com o uso da moeda, ele não precisa procurar pessoas que queiram peixes e ofereçam em troca exatamente os produ- tos desejados por ele. Através da utilização da moeda como instrumento de troca, a coincidência de desejos torna-se des- necessária para a realização do negócio. O pescador pode, então, simplesmente vender seus peixes a quem esteja disposto a comprá-los e, com o di- nheiro recebido pela venda, adquirir os produtos de que necessita. Nesse sistema de trocas através da utilização da mo- eda, é possível ao pescador acumular dinheiro, pois a moeda funciona como uma reserva de valor e de poder aquisitivo. Caso não existisse a moeda, ele não poderia acumular valor ou realizar uma poupança: como ele fa- ria para guardar seus peixes na ilha, se ele não possui um freezer? Com o passar do tempo, iriam apodrecer, e nosso pescador perderia todas as suas reservas. O que é acumulação de moeda? A acumulação de moeda é uma reserva, uma poupan- ça que as pessoas ou empresas realizam para efetuarem gastos no futuro. Como é possível realizar essa acumulação? A acumulação de moeda somente é possível caso os gastos dos agentes econômicos em consumo e/ou em inves- timentos sejam menores que suas receitas, ou seja, basta gastar menos do que recebe e haverá poupança. No caso do pescador: se a renda que auferiu na venda dos peixes for maior que seus gastos com as compras que irá realizar, ele formará um excedente financeiro, que cha- maremos de poupança. Suponha, agora, que o próprio comerciante que lhe compra os peixes necessite ampliar seu estabelecimento e não disponha de recursos suficientes para realizar esse investimento. Em situação inversa à do nosso pescador, o comerciante deseja fazer gastos em consumo, pois terá que realizar um investimento em seu negócio superior à sua receita. Nessa situação, será necessário tomar dinheiro em- prestado. Sabendo disso, o pescador, que tem aquela poupança acumulada, resolve emprestar dinheiro a esse comerciante mediante uma remuneração (que futuramen- te chamaremos de juros), num prazo previamente estabe- lecido. A partir deste momento, o dinheiro passa a render ju- ros, e dentro de algum tempo o pescador terá o suficiente para investi-lo; por exemplo, comprando um barco que lhe possibilitará pescar muito mais e melhorar, assim, seu nível de consumo e poupança. Nesse restrito mercado, o pescador está atuando como ofertante de recursos; o comerciante, como toma- dor de recursos. Numa sociedade dessas dimensões e simplicidade, o contato entre tomadores e ofertantes de recursos é direito e sem custo de transação, embora nada assegure ao pes- cador que ele está aplicando sua poupança na alternativa mais compensadora, embora na situação em que vive não existam outras formas de aplicação para seus recursos. Da mesma forma, o comerciante não tem nenhuma garantia de que esteja obtendo empréstimo ao menor custo (taxa de juros) possível. Não se pode ainda afirmar que a oportunidade de investimento do comerciante – ampliação de suas instalações – seja a alternativa mais rentável de apli- cação de seus recursos. AULA 19 • Economia monetária 87 Até aqui, a história mostra que a introdução da moeda facilitou as trocas e permitiu sua expansão, ampliando as oportunidades para poupar e investir recursos. Da mesma forma, permitiu que os recursos ociosos se tornassem pro- dutivos pela sua aplicação em investimento, propiciando ganhos tanto para o poupador como para o tomador de recursos, incentivando assim atitudes de poupança e de investimento. A comunidade como um todo beneficiou-se com o aumento da capacidade produtiva, com reflexos diretos sobre o nível de renda e de bem-estar. Em qualquer comunidade sempre existirão indivíduos e setores que, por gastarem menos que sua renda, estarão oferecendo suas poupanças para aqueles que, por gasta- rem mais do que possuem, necessitam de recursos para cobrir seus gastos. Mas, à medida que a comunidade se amplia, o contato entre quem oferta e quem demanda recursos vai se distan- ciando, e a conexão entre eles torna-se difícil, mais cara. Assim, surge a necessidade de que se estabeleçam pessoas e instituições especializadas na tarefa de conectá-los. Surge então a intermediação financeira. Está aí a idéia básica de um sistema financeiro e o prin- cípio de intermediação financeira: conectar, no mercado, agentes tomadores e ofertantes de recursos. É através dessa intermediação financeira que se desenvolve o sistema fi- nanceiro, assunto este que veremos na próxima aula. A intermediação financeira Na verdade, após o surgimento da moeda, os primei- ros intermediários financeiros que surgiram foram os cor- retores de valores, e os primeiros ativos financeiros que apareceram foram as obrigações primárias. Mas o que são ativos financeiros? Ativos são um conjunto de bens, valores e crédito que fazem parte do patrimônio de uma empresa ou de uma pessoa. Já os ativos financeiros são aqueles ativos que repre- sentam direitos decorrentes de obrigações assumidas por agentes econômicos, obrigações essas geralmente nego- ciadas no mercado financeiro. Como exemplo temos os CDBs e as debêntures, entre outros. E o que são as obrigações primárias? Obrigações primárias são todos e quaisquer títulos emitidos por unidades econômicas não financeiras, isto é, emitidos pelos tomadores de recursos. O contrato de empréstimo que o comerciante assina é uma obrigação primária. Em vez de contrato de empréstimo, poderíamos nos referir a uma nota promissória, que exerceria basica- mente a mesma função, já que os primeiros intermediários financeiros eram apenas os tomadores e emprestadores de recursos, que realizavam negócios entre si e sem interme- diários. Quando o sistema financeiro é apenas iniciante e so- mente existem ativos financeiros primários, os agentes fi- nanceiros limitam-se a oferecer recursos nas condições esti- puladas pelos ofertantes últimos de recursos. Pode ocorrer que as exigências de tomadores e ofer- tantes de recursos sejam divergentes em termos de prazo, volumes, taxas de retorno etc. Nesta situação surge a ne- cessidade de aumentar as opções para esses agentes, sendo preciso incentivar a poupança, ao oferecer aos que podem poupar oportunidades de aplicar seu dinheiro de forma que sejam satisfeitas suas exigências em termos de prazos, volu- mes, risco, etc. e incentivar o investimento, oferecendo aos que estão dispostos a investir recursos nos volumes e nos prazos desejados e, além disso, ao menor custo possível. Para compatibilizar essas necessidades conflitantes, nascem os intermediários financeiros, que, emitindo obri- gações contra si próprios – obrigações indiretas – tomam recursos no mercado oferecendo aos emprestadores finais uma carteira de títulos capaz de satisfazer suas necessi- dades. Os recursos captados são canalizados para os to- madores últimos em volumes e prazos adequados às suas necessidades. Resumo Estudamos nesta aula como se deu, de forma rudi- mentar, o surgimento da intermediação financeira e do sistema financeiro. Vimos que a idéia básica de uma intermediação fi- nanceira é conectar, no mercado, agentes tomadores e ofertantes de recursos. E é através dessa intermediação financeira que se desenvolve o sistema financeiro. Atividades 1. Como você explicaria o que é sistema financeiro? Qual é seu papel na sociedade? 2. O que leva as pessoas a emprestar seus recursos finan- ceiros ou a tomá-los emprestado? 3. Por que a moeda facilitou o desenvolvimento da inter- mediação financeira? INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 20 A estrutura e o funcionamento do sistema financeiro Objetivos • Conhecer o funcionamento do sistemafinanceiro. • Verificar como ele é estruturado. • Conhecer suas segmentações. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 90 Introdução Nesta aula, nosso objetivo é conceituar sistema finan- ceiro e apresentar sua estrutura e suas segmentações. Sistema financeiro Podemos conceituar sistema financeiro como: Um conjunto de instituições e instrumentos finan- ceiros que possibilitam a transferência de recursos dos ofertantes para os tomadores e criam condições para que os títulos tenham liquidez no mercado. Você sabe o que significa liquidez? Liquidez é capacidade de um ativo transformar-se em dinheiro rapidamente. A moeda é liquida por exce- lência. Um automóvel tem certo grau de liquidez, pois você consegue transformá-lo em dinheiro (vendê-lo) com certa rapidez. Uma casa, por sua vez, não possui mui- ta liquidez, pois não é fácil transformá-la em dinheiro rápido, demandando um período de tempo maior para vendê-la e transformá-la em dinheiro. Conseguiu entender o conceito de liquidez? Então vamos continuar a aula. Os tomadores últimos de recursos são aqueles que se encontram em posição de déficit financeiro, isto é, são aqueles que pretendem gastar mais recursos do que pos- suem. Eles precisam do complemento de poupanças de outros para executar seus planos. Os ofertantes últimos de recursos são aqueles que se encontram em posição de superávit financeiro, isto é, são aqueles que pretendem gastar menos do que possuem. As instituições e instrumentos financeiros Em geral, as instituições que operam no sistema finan- ceiro são classificadas em dois grupos: as bancárias ou mo- netárias e as não-bancárias ou não-monetárias. A principal diferença entre elas é que às monetárias é facultado o direito de criação de moedas e meios de paga- mentos, e às não monetárias isso não é permitido. Como se faz para criar meios de pagamentos? A criação de meios de pagamento é realizada pelo Ban- co Central, que emite moeda, e pelos bancos comerciais, que estão autorizados a receber depósitos à vista. A cria- ção de meios de pagamento pelo Banco Central é bastante simples de entender, uma vez que ela se reflete na própria emissão do papel-moeda. Já a criação da moeda por parte dos bancos comerciais é um pouco diferente. Para enten- dê-la, veja um exemplo. Suponha que um indivíduo deposite em um banco comercial R$ 100.000,00. O fato de esse indivíduo reali- zar o deposito não significa a criação de meios de paga- mento, uma vez que ele estará simplesmente trocando um ativo monetário (dinheiro) por outro (depósito à vista). Porém, o banco sabe que pode emprestar parte des- ses depósitos, porque seu cliente nunca saca seus recur- sos todos de uma única vez, mas sim ao longo do tempo. Assim, o banco mantém em caixa parte desse depósito, para atender aos saques do depositante, parte ele recolhe ao Banco Central como um recolhimento obrigatório, e o restante ele empresta a tomadores, que poderão fazer o que quiser com o dinheiro. Entretanto, existe no sistema financeiro um efeito multiplicador desse dinheiro que funciona da seguinte for- ma: caso uma pessoa solicite um empréstimo bancário, o banco ira utilizar o dinheiro depositado por outra pessoa para emprestar ao solicitante. Assim, foi criado um meio de pagamento na economia sem existir a criação física de dinheiro. Desse modo, pelo efeito multiplicador, o depósito ini- cial de R$ 100.000,00 transforma-se em vários outros de menor porte, aumentando assim os meios de pagamento da economia sem que o banco central tenha emitido mais moeda. Este é o que chamamos mecanismo básico de cria- ção de moeda bancária ou escritural. Esse tipo de moeda tem esse nome pelo fato de não existir a moeda física, mas apenas a escrita na contabilidade bancária. Por esse pro- cesso, os bancos comerciais, mantendo encaixes inferiores aos seus depósitos, tornam os meios de pagamento várias vezes superiores ao saldo do papel-moeda emitido. Isso porque, quando o banco concede um empréstimo com base em seus depósitos à vista, o dinheiro passa a per- tencer ao tomador do empréstimo sem que o depositante perca seu direito de saque. As instituições financeiras não-monetárias, por sua vez, não possuem a faculdade de criar moeda, por não AULA 20 • A estrutura e o funcionamento do sistema financeiro 91 terem o poder de emissão de papel-moeda nem estarem autorizadas a receber depósitos à vista. Classificação dos instrumentos financeiros Os instrumentos financeiros podem ser classificados em ativos financeiros monetários e ativos financeiros não- monetários. a) ativos financeiros monetários: é o papel-moeda em poder do público somado aos depósitos à vista nos bancos comerciais. Surge daí o conceito de meios de pagamento. Meios de pagamento são o papel-moeda em poder do público mais os depósitos à vista no Banco do Brasil e nos bancos comerciais. b) ativos financeiros não monetários: são todos os de- mais tipos de ativos, como letras de câmbio, duplicatas, depósitos de poupança, certificados de depósito a pra- zo etc. Enquanto os instrumentos monetários só podem ser emitidos pelas instituições monetárias (Banco Central e bancos comerciais), os não monetários são predominante- mente emitidos por instituições financeiras não monetárias e empresas de modo geral, podendo também ser emitidos por pessoas físicas ou instituições financeiras monetárias. Por exemplo: um certificado de depósito a prazo (ativo financeiro não monetário) tanto pode ser emitido por um banco comercial (instituição monetária) como por um banco de investimento (instituição não monetária). Sintetizando, podemos afirmar que: Ativos financeiros são todos os instrumentos finan- ceiros emitidos diretamente pelos tomadores de recur- sos ou pelas instituições financeiras que exercem a cone- xão entre esses tomadores e os ofertantes. Segmentação dos mercados financeiros De acordo com certas características, os mercados financeiros podem ser subdivididos em quatro mercados específicos. a) Mercado de crédito Mercado onde são efetuados os financiamentos a curto e médio prazos de consumo corrente, bens duráveis e capital de giro das empresas. Atuam nes- te mercado os bancos comerciais e as financeiras. b) Mercado de capitais Mercado onde são efetuados os financiamentos do capital fixo das empresas. Nesse mercado está concentrada a maior parte das operações das ins- tituições financeiras não monetárias. Neste tipo de mercado são realizadas as operações do mercado de ações. c) Mercado monetário Mercado onde se realizam as operações de curto e curtíssimo prazos. Nele são financiadas as neces- sidades momentâneas de caixa dos bancos comer- ciais e do Tesouro Nacional. Nele ocorrem as ope- rações de “mercado aberto”, ou open market. Esse mercado funciona como instrumento de política monetária do governo; através dele o Banco Cen- tral atua sobre o nível de liquidez da economia, vendendo ou comprando títulos para aumentá-la ou reduzi-la. d) Mercado cambial Mercado onde são realizadas operações que envol- vem a necessidade de conversão de moedas entre países. Basicamente são operações de curto prazo, e as instituições que nele atuam são os bancos co- merciais e as instituições autorizadas pelo Banco Central. As operações do mercado cambial são de compra e venda de moeda estrangeira. Resumo Na aula de hoje você estudou que o sistema financeiro é um conjunto de instituições e instrumentos financeiros que possibilitam a transferência de recursos dos ofertantes para os tomadores e criam condições para que os títulos tenham liquidez no mercado. Estudou também o conceito de liquidez, viu o que são ativos financeiros e quais as segmentações do sistema financeiro.O mercado financeiro representa todo tipo de opera- ção que envolve os chamados títulos de renda fixa (certifi- cados de depósitos, letras de câmbio, Obrigações Reajus- táveis do Tesouro Nacional etc.). INTRODUÇÃO À ECONOMIA 92 O mercado de capitais designa aquele em que se ope- ra com títulos de renda variável, isto é, com ações de com- panhias. Esse tipo de referência atribui ao mercado de ca- pitais apenas as operações destinadas a canalizar recursos Tipo de mercados Finalidade Intermediário financeiro Mercado de crédito Financiamento do consumo e do capital de giro das empresas bancário e não bancário Mercado de capitais Financiamento de capital de giro e capital fixo não bancário Mercado monetário Controle de liquidez monetária da economia bancário e não bancário Mercado cambial troca de moeda es- trangeira em nacional e vice-versa bancário e auxiliares Atividades 1. Explique o conceito de ativo. 2. Defina o que você entendeu por liquidez. 3. Cite exemplos de ativos que possuem maior e menor liquidez. 4. Diferencie os quatro tipos de mercado existentes no sistema financeiro. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 21 O sistema financeiro nacional Objetivos • Conhecer o sistema financeiro brasilei- ro. • Verificar como é sua estrutura e seu fun- cionamento. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 94 Introdução Nesta aula, nosso objetivo é conhecer a estrutura e o funcionamento do sistema financeiro nacional. Um sistema financeiro geralmente é formado por ins- tituições e instrumentos financeiros que permitem a inte- ração entre os agentes financeiros que desejam ofertar e demandar recursos. No Brasil, os principais agentes financeiros são: • Bancos comerciais e múltiplos, cooperativas de cré- dito, caixas econômicas e empresas de factoring, bancos de investimentos e desenvolvimento, operadores de lea- sing, consórcios e companhias de crédito imobiliário. Estrutura do sistema financeiro nacional O sistema financeiro nacional é composto pelas se- guintes instituições: Conselho Monetário Nacional (CMN) É a entidade superior do sistema financeiro nacional. É uma entidade normativa, tendo como função principal a fixação das diretrizes da política monetária e de crédito. Funções do Conselho Monetário Nacional As principais funções do CMN são: • Autorizar o Banco Central a emitir papel-moeda; • Determinar as normas da política cambial; • Criar condições para que sejam garantidas a sol- vência e a liquidez das instituições financeiras na- cionais; • Harmonizar as decisões de política monetária e fis- cal; • Nortear a política monetária e a taxa de juros no país. Constituição do Conselho Monetário Na- cional O conselho é formado pelos seguintes representantes: • Ministro da Fazenda, que é o presidente do conse- lho; • Ministros do Planejamento, Agricultura, Trabalho e Previdência; • Presidentes do Banco Central, da Comissão de Valores Mobiliários, do Banco do Brasil, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal; • Seis membros nomeados pelo presidente da Repú- blica; • Representante da classe trabalhadora. O Banco Central do Brasil (Bacen) O Banco Central do Brasil foi criado em 1964. Suas principais atividades e funções são: • Por receber depósitos compulsórios dos bancos comerciais, fornecer empréstimos de liquidez e redescontos e regulamentar o funcionamento da compensação de cheques, é chamado de Banco dos Bancos; • Superintendente do sistema financeiro nacional, pois adapta seu desenvolvimento às reais necessi- dades da economia, fiscaliza, controla e autoriza o funcionamento das instituições financeiras, decre- tando intervenção quando houver irregularidades; • Executor da política monetária, pois regula a ex- pansão dos meios de pagamento através da fixação das taxas de depósitos compulsórios, dos redescon- tos e das operações de compra e venda de títulos públicos; • Banco emissor, pois é a única autoridade monetá- ria com poder de emitir moeda no país; • Banqueiro do governo, pois financia o Tesouro Na- cional, mediante a colocação de títulos públicos, administra as dívidas interna e externa, é o depo- sitário das reservas internacionais e representa o governo brasileiro junto às instituições financeiras internacionais (inclusive para negociar a dívida ex- terna). Comissão de Valores Mobiliários (CVM) A CVM é a instituição nacional responsável pelo de- senvolvimento, disciplina e fiscalização do mercado de valores mobiliários, que é basicamente o mercado de ações. Compete ainda à Comissão de Valores Mobiliários fiscalizar a emissão e a distribuição de valores mobiliários, a negociação e intermediação de valores mobiliários; a negociação e o funcionamento das bolsas de valores e a auditoria nas companhias abertas. A CVM regula as matérias expressamente previstas na Lei das Sociedades por Ações (Lei 6.404/76). AULA 21 • O sistema financeiro nacional 95 Banco do Brasil O Banco do Brasil é uma sociedade de economia mista; suas ações são negociadas livremente em bolsa de valores. Fazem ainda parte das atividades do Banco do Brasil: • Executar as políticas de crédito rural e industrial; • Realizar os serviços de compensação de cheques e as operações cambiais; • Financiar exportações; • Atuar como banco comercial. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) O BNDES é um banco público vinculado ao Ministé- rio do Planejamento e exerce uma função de fomento aos investimentos necessários ao desenvolvimento do país. O banco conta com recursos próprios e os decorrentes de empréstimos de entidades nacionais e estrangeiras. Dentro do banco de desenvolvimento, existe um setor chamado Finame, que é uma agência especial de financia- mento industrial, que tem como finalidade básica a com- pra e venda de equipamentos industriais. Fazem parte ainda do sistema financeiro nacional al- gumas instituições de caráter operativo ou de intermedia- ção, compostas pelas instituições bancárias, não-bancárias e auxiliares, as quais operam em segmentos específicos dos mercados monetários, de crédito, de capitais, e cam- bial. Entre as principais podemos destacar: a) Os bancos múltiplos são bancos que podem ope- rar simultaneamente como banco comercial, de investimentos, de crédito imobiliário, de crédito, financiamento e investimento, de arrendamento mercantil (leasing) e desenvolvimento. Os bancos múltiplos foram criados pela Resolução 1524 do Bacen, em 1988. b) Os bancos comerciais são as instituições mone- tárias que têm o poder de criação de moeda es- critural. Eles recebem depósitos à vista e efetuam empréstimos de curto prazo, cobranças e transfe- rências de fundos entre cidades e regiões. c) As Caixas econômicas federais e estaduais, além de desempenhar as funções de banco comercial, atuam no financiamento habitacional. d) Os Bancos de investimento apresentam a função de financiamento de capital fixo ou de movimento através da capitação de recursos externos (RDBs e CDBs). Esses bancos administram fundos de inves- timentos de renda fixa e de ações. e) Companhias de crédito, financiamento e investi- mento são basicamente as financeiras, que têm por finalidade principal o financiamento ao consumo, captando recursos no mercado através das letras de câmbio. f) As Bolsas de valores são associações civis sem fins lucrativos cujo objetivo é garantir as transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários. Caso você tenha algum interesse em saber mais so- bre bolsas de valores e mercados de ações, não se preocupe: este será o objeto de estudo de uma de nossas próximasaulas. g) As sociedades corretoras promovem a compra e venda de títulos de valores mobiliários e os nego- ciam no pregão das bolsas de valores, com autori- zação de terceiros. h) Companhias de seguros são as companhias res- ponsáveis pela venda de seguros e pela indeniza- ção de eventuais perdas e danos nos bens segura- dos. Resumo Estudamos na aula de hoje o que é o sistema finan- ceiro nacional, suas principais funções e como este é es- truturado. Atividades 1. Defina o papel do sistema financeiro nacional. 2. Comente as principais diferenças entre o Banco Central e o Banco do Brasil. 3. Quais são os membros que compõem o CMN? Quais suas principais funções? INTRODUÇÃO À ECONOMIA O mercado de capitais e a bolsa de valores AULA 22 Objetivos • Explicitar o que é a bolsa de valores. • Definir o que são ações. • Identificar os principais tipos de ações. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 98 Introdução Estudaremos nesta aula o mercado de capitais; é neste segmento de mercado que opera a bolsa de valores, onde são negociadas as ações de diversas companhias. A estrutura do atual sistema financeiro nacional entrou em vigor em 1964, quando o governo militar iniciou uma série de medidas visando ajustar as instituições nacionais e regular o mercado, com o objetivo de atender às necessi- dades de desenvolvimento do Brasil. Nesse período foi realizada uma reforma monetária e financeira no Brasil, criando, através da Lei 4.595, o Con- selho Monetário Nacional e o Banco Central do Brasil. Foi realizada também uma reforma no mercado de capitais, através da Lei 4.728. Com isso, a partir desse período, fi- cou estabelecido o atual formato da bolsa de valores. A bolsa de valores A bolsa de valores é uma sociedade civil sem fins lu- crativos, constituída por corretoras de valores, para forne- cer infra-estrutura ao mercado de ações. A bolsa de valores possui autonomia financeira, pa- trimonial e administrativa, estando sujeita à supervisão e controle da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), enti- dade que fiscaliza as bolsas assim como o Banco Central fiscaliza o mercado financeiro e os bancos comerciais. As bolsas obedecem às diretrizes e normas do Conselho Mo- netário Nacional. Principais funções da bolsa de valores A primeira função da bolsa de valores é manter um local adequado para que seus membros realizem as ope- rações de compra e venda de ações. Outras funções são: fiscalizar o cumprimento das disposições legais, aplicar penalidades cabíveis, quando houver infrações e, por último, dar ampla divulgação das operações realizadas, proporcionando a transparência in- dispensável ao mercado de capitais. Qualquer negociação com ações (compra e venda) tem de ser obrigatoriamente feita através de uma corretora de valores, associada à bolsa de valores e detentora de um título para participar do mercado acionário. Nenhum ci- dadão (pessoa física) pode participar das negociações por conta própria. As negociações na bolsa de valores As negociações realizadas na bolsa são feitas em um local chamado pregão, isto é, um local mantido pelas bolsas onde os operadores das corretoras, reconhecidos e habilitados por elas, executam as ordens recebidas dos clientes, que são os aplicadores. No pregão comercializam-se basicamente ações. Pregão é aquele local que você vê na televisão, com um monte de pessoas gritando ao telefone e olhando um enorme telão cheio de números. Nesse momento, essas pessoas – os corretores autorizados – estão comprando e vendendo ações. Você saberia dizer o que é uma ação? Ações são títulos de propriedade que representam a menor parte em que pode ser dividido o capital de uma empresa registrada em bolsa. Qualquer empresa pode vender ação na bolsa? Não. Para que uma empresa possa emitir ações, ela tem que ser regida pela Lei das Sociedades Anônimas (Lei das S.A.). Essas empresas são chamadas também empresas de capital aberto. Ou seja, a empresa deixa de ser limitada (Ltda.), de um ou poucos donos, e passa a ser uma S.A., empresa de muitos proprietários. Mas o que eu ganho comprando uma ação? É importante lembrar que, ao adquirir uma ação na bolsa, você está investindo numa aplicação de renda vari- ável, em um mercado de risco, em que os ganhos não são certos e podem existir perdas. É uma aplicação totalmente diversa de uma aplicação de renda fixa, em que a remu- neração do capital é garantida. As perdas e ganhos e a liquidez de uma ação vai de- pender de sua cotação no mercado e do momento em que você pretende negociar; portanto, é de vital impor- tância que o investidor efetue uma análise do desempe- nho econômico da empresa em questão, e dos diversos fatores que podem afetar as cotações daquela companhia no mercado acionário. Então qual a vantagem de investir em ações? A principal vantagem é que a remuneração pode ser bem maior do que a de outras aplicações financeiras. Por que o valor de uma ação varia tanto? Principalmente devido à lei da oferta e demanda. O mercado de ações segue as leis naturais de mercado, que AULA 22 • O mercado de capitais e a bolsa de valores 99 estão fundamentadas na oferta e na procura de um bem. Assim, se existirem muitas pessoas desejando comprar uma certa ação, seu preço irá subir. Se muitos desejarem vendê- la, seu preço deverá cair. Mas existem também determinadas pessoas que ope- ram e podem influenciar os preços das ações; são, portan- to, peças importantes no processo, pois delas dependerá o lucro ou prejuízo de cada investidor. Mas o valor de uma ação também está diretamente relacionado ao desempenho econômico-financeiro e as perspectivas de lucro da empresa que a emitiu. Se a em- presa apresenta lucros e tende a crescer, o valor de sua ação irá aumentar. Principais participantes do mercado de ações Os agentes que operam nesse tipo de mercado são classificados em: • Investidor: é quem aplica seus recursos na bolsa com a expectativa de obter vantagens para melhor remunerar seu capital. • Corretor: é o responsável por realizar os negócios para seus clientes. • Manipulador/insider: é aquele que realiza mano- bras visando alterar o preço das ações, aproveitan- do-se do fato de estar mais inteirado do mercado e às vezes obter informações privilegiadas. • Especulador: é quem aplica para ganhar, se pos- sível rapidamente (em curtíssimo prazo), contudo dentro das regras de mercado. As ações Ações são títulos representativos do capital social de uma empresa, representando a menor parte do capital de uma empresa. Uma ação representa a menor parte em que é divi- dido o capital de uma empresa; quando alguém compra uma ação, torna-se acionista da empresa e um de seus donos. As ações são, portanto, títulos de propriedade, repre- sentados por um certificado que confere ao seu possuidor uma parcela de participação no controle, nos bens e nos lucros da empresa, bem como nas suas obrigações. Esse título ou certificado pode ser vendido ou transfe- rido para terceiros, ou seja, é negociável e representativo da propriedade de uma fração do capital social de uma companhia. Tipos de ações Ações preferenciais Ação preferencial é um tipo de ação cujos titulares de- têm certos privilégios, principalmente o direito de receber um retorno periódico fixo. Ações preferenciais garantem ao acionista a prioridade no recebimento dos dividendos e, em caso de dissolução da empresa, têm também prio- ridade (em relação aos acionistas possuidores de ações ordinárias) no reembolso do capital. Em compensação, o proprietário de uma ação preferencial não tem direito a voto nas assembléias deliberativas da empresa, não parti- cipando, portanto, de sua direção. Existem três casos em que os acionistaspreferenciais passam a ter direito a voto. São eles: • Quando a empresa passa três anos consecutivos sem pagar dividendos; • Quando são títulos conversíveis; • Quando os estatutos assim estabelecem. As ações preferenciais têm representado um papel importantíssimo para as empresas brasileiras, que, em sua maioria, são familiares, pois com isso os proprietários po- dem aumentar o capital acionário sem enfraquecer a em- presa, visto que não perdem o controle acionário. As ações preferenciais oferecem esse dividendo fixo por ação, que independe dos lucros obtidos pela empresa. Ações ordinárias As ações ordinárias são aquelas possuídas pelos verda- deiros donos da empresa – estes são os últimos a receber qualquer distribuição de lucros. Essas ações se caracterizam principalmente pelo direi- to a voto que dão aos seus possuidores, além da participa- ção nos lucros da sociedade. O acionista possuidor dessas ações tem responsabi- lidades e obrigações correspondentes ao montante das ações possuídas. Normalmente, a cada ação corresponde um voto, e o fato de poder votar permite que o seu titular tome parte ativa na administração da sociedade, influa na modifica- ção de estatutos, decida a escolha de diretores, autorize vendas de bens do ativo etc. Tanto as ações ordinárias quanto as preferências po- dem ser: INTRODUÇÃO À ECONOMIA 100 • Ao portador: são as ações que pertencem à pessoa que as está portando, pois não indicam o nome de seu proprietário. • Nominativas: são aquelas emitidas com o nome do comprador e que podem ser transferidas através de um termo lavrado no livro de transferências de ações nominativas. • Nominativas endossáveis: são as ações que contêm um endosso (assinatura) do proprietário para trans- ferir sua titularidade. Os rendimentos das ações As principais remunerações que um proprietário de ação possui são: Bonificações É o recebimento de uma parte do lucro em forma de um certo número de ações, proporcional à quantidade já possuída, resultante do aumento de capital, da incorpora- ção de reservas ou de lucros suspensos. Quando o capital da empresa é aumentado, o acionis- ta tem o direito de manter sua participação proporcional ao número de ações que possuía antes do aumento. Para o patrimônio da empresa nada representa, uma vez que há apenas transferências de um valor inscrito em uma conta (do patrimônio líquido) para outra (conta de capital). Dividendos São uma parcela do lucro que uma empresa distribui ao final de cada exercício, de acordo com a decisão de sua diretoria (e oficializada numa AGE – Assembléia Geral Extraordinária) e está relacionada ao lucro acumulado. Se a empresa decidir expandir-se e necessitar de re- cursos para investimentos, a sua diretoria pode optar pelo reinvestimento do lucro que seria distribuído, deixando assim de pagar dividendos. A legislação brasileira vincula a distribuição de divi- dendos ao mínimo de 25% dos lucros registrados. Resumo Nesta aula você estudou a bolsa de valores, que é a responsável pelo controle e organização do mercado de capitais. Viu que as ações representam a menor parte do capital de uma empresa e que o investimento nelas, apesar de poder apresentar grande rentabilidade, é de alto risco. Atividades 1. Em sua opinião, o que leva uma pessoa a comprar ações de uma empresa? 2. Por que as ações sofrem valorização e desvalorização? 3. Quais são as ações mais importantes que você conhe- ce? 4. Procure nos jornais quanto a bolsa rendeu na última semana e no mês passado. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 23 A política fiscal Objetivos • Identificar o que é uma política fiscal. • Observar qual é seu mecanismo de fun- cionamento. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 102 Introdução Até esta aula, você estudou o lado monetário da eco- nomia, através do estudo da política monetária. Agora verá um outro enfoque de política econômica que pode ser implementado pelo governo: a política fiscal. Definição e funcionamento da política fiscal A política fiscal diz respeito a todos os instrumentos de que o governo dispõe para a arrecadação de recursos e a efetivação dos gastos públicos. Ou seja, quando utilizamos o conceito de política fiscal estamos falando das receitas e das despesas do setor público. Política fiscal é a política de receitas e despesas do governo, mediante a aplicação de tributos sobre os agentes econômicos e controle de suas despesas com a sociedade. As principais formas de financiamento do setor público O governo, para poder realizar seus gastos, precisa ar- recadar recursos. As principais formas de receitas do setor público são: • Sistema tributário: através dos impostos e taxas, que são os principais instrumentos de arrecadação do setor público. • Banco Central: através de emissões monetárias para realizar despesas e cobrir déficits no orçamen- to federal. • Mercado Financeiro: mediante a venda de títulos públicos realizada ao sistema financeiro. • Bancos e organismos Internacionais: pela contrata- ção de empréstimos no exterior. O governo e o funcionamento do mercado No mundo moderno, o papel do setor público tem sido decisivo no sentido de orientar a atividade econômi- ca, controlar os abusos cometidos por parte dos produto- res, controlar os preços dos bens de primeira necessidade e conter o processo inflacionário. O setor público atua também fomentando o crescimento econômico através de investimentos públicos e privados. Para que isso possa ocorrer, o governo utiliza algumas ferramentas ou políticas de atuação no intuito de obter receitas. A principal delas é o sistema tributário. Incidência tributária é a carga de impostos paga pe- los produtores e pelos consumidores. Esses impostos se classificam da seguinte forma: a) Impostos indiretos: são os impostos que incidem sobre o consumo ou vendas. Esse tipo de imposto não discrimina o tipo de consumidor, quanto ele tem de renda etc., taxando os produtos da mesma forma. Como exemplo temos o ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, o IPI – Imposto sobre Produtos Industrializados e o ISS – Imposto sobre Serviços. Suponha que um litro de leite custe R$ 2,00 e que incida sobre ele um imposto de 18%. Um consumidor que tenha renda de R$ 20.000,00 e um outro que tenha renda de R$ 300,00 irão pagar a mesma alíquota de impos- to, 18%. Só que esses R$ 0,36 de imposto pesam muito mais no bolso do consumidor mais pobre do que no do consumidor que ganha mais. b) Impostos diretos: são os impostos incidentes so- bre a renda do consumidor. Como exemplo temos o IR – Imposto de Renda. Nesse caso, o imposto não é mais cobrado sobre o consumo, e sim sobre a renda da pessoa. Quem ganha mais paga mais. Os impostos indiretos são considerados “regressivos” em relação à renda, porque penalizam as classes menos favorecidas, ou seja, o imposto embutido no preço de uma cerveja é o mesmo para quem ganha um salário mínimo e para quem ganha vinte salários. Já os impostos diretos são “progressivos”, ou seja, quem ganha mais, paga mais – é o caso do Imposto de Renda. Os impostos sobre as vendas podem ainda ser classi- ficados como: • Imposto específico: representa um valor fixo em reais por unidade vendida, independente do valor da mercadoria. Exemplo: se o imposto for de R$ 100,00, esse será o valor fixo cobrado sobre qual- quer mercadoria, não importa o quanto ela custe. • Imposto Ad Valorem: é um percentual aplicado (alíquota) sobre o valor da venda (é o caso do IPI e do ICMS). Neste caso, o valor do imposto acompa- nha o valor da mercadoria. Por exemplo, se a alí- quota do IPI para automóveis for de 10%, um carro AULA 23 • A política fiscal 103 no valorde R$ 10.000,00 pagará R$ 1.000,00 de imposto; já um carro que custe R$ 30.000,00 terá imposto de R$ 3.000,00. A política fiscal e seus efeitos sobre o sistema econômico Da mesma forma que obtém receitas, o governo deve realizar gastos para a sociedade; são os chamados gastos públicos. Mas com o quê o governo gasta dinheiro? Você deve estar pensando. Ele gasta com a chamada máquina administrativa: é o pagamento de salários dos funcionários públicos, as des- pesas de água, energia, material de escritório. Gasta tam- bém com as obras públicas, investimentos na sociedade, pagamento de pensões e aposentadorias. Política distributiva: Conjunto de medidas realiza- das pelo setor público que visam modificar a distribuição da renda entre os indivíduos e grupos sociais dentro da sociedade. Geralmente o governo busca realizar gastos no intuito de distribuir a renda na sociedade. Podemos classificar as principais formas de política distributiva através de: a) Transferências: são os pagamentos realizados pelo governo sem a contrapartida de quem os recebe, como o pagamento de aposentadorias. b) Intervenção direta de mercado: se dá através de subsídios, garantias de preços mínimos ao produto- res etc. São gastos que o governo realiza na busca de ajustar o funcionamento do mercado. Tipos de política fiscal A política fiscal adotada por um governo pode ser res- tritiva ou expansiva. • Política fiscal restritiva é aquela em que as medidas adotadas pelo governo visam reduzir o crescimento da quantidade de dinheiro na economia, implicando a redução do ritmo de crescimento do produto da economia. Um exemplo é o aumento dos tributos. • Política fiscal expansiva é o tipo de política em que as medidas implementadas pelo governo visam au- mentar a quantidade de dinheiro em circulação, implicando aumento no ritmo do crescimento do produto da economia. Um exemplo é o aumento nos gastos públicos. Resumo É através da política fiscal que o governo pode estimu- lar o crescimento ou a retenção econômica de um país. Circulando mais ou menos dinheiro no sistema econômi- co, o consumo poderá ser aumentado ou reduzido, in- fluenciando assim no crescimento do PIB. Atividades 1. Faça uma análise da atual política fiscal adotada pelo governo brasileiro. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 24 O balanço de pagamentos Objetivos • Identificar o que é um balanço de paga- mentos. • Conhecer sua estrutura e principais con- tas. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 106 Introdução Nesta aula retornaremos à Macroeconomia e tratare- mos da economia internacional. O objetivo desta aula é conhecer e compreender a estrutura do balanço de paga- mentos de um país. Após a evolução e o crescimento do comércio inter- nacional, a partir do momento em que um país começa a comercializar com outros, surge a necessidade de es- tabelecer controles sobre esse fluxo de comércio e dos pagamentos realizados através dessas relações comerciais internacionais. Mas um país somente se relaciona com outro via co- mércio? Não, os países podem realizar empréstimos, ajudas, doações entre si. Um país pode também receber emprésti- mos de organismos internacionais como o Banco Mundial (BIRD), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros. Desta forma, todas as transações realizadas entre o país e o resto do mundo devem ser registradas em alguma contabilidade interna desse país. Para realizar esse controle – e também o de entrada de pessoas, dinheiro, mercadorias etc. – existe o balanço de pagamentos, que é o registro contábil de todas as tran- sações de um país com o resto do mundo num determina- do período de tempo. Assim, no balanço de pagamentos estão registradas as importações e exportações de mercadorias realizadas pelo país, o pagamento e recebimento de fretes, juros, royal- ties, o ingresso de capitais estrangeiros sob a forma de em- préstimos, investimentos e qualquer outro tipo de negócio realizado com o exterior. Você sabe o que é frete? Fretes são as despesas do país com o transporte de mercadorias para outros países. E o que significa royalty? Royalties representam a remuneração paga ao exterior pelo uso da tecnologia ou de um nome, de uma marca de produto inventados fora do país, pagando pela sua repro- dução ou utilização. O balanço de pagamentos É o registro de todas as transações do país com o resto do mundo. Todas as entradas de recursos monetários no país são contabilizadas com o sinal positivo (+) e todas as saídas são contabilizadas com o sinal negativo (-). Balanço de pagamentos é o registro sistemático de todas as transações econômicas realizadas entre um país e os demais, em um determinado período de tempo, nor- malmente de um ano, e calculadas em dólares norte-ame- ricanos. Estrutura do balanço de pagamentos A estrutura padrão de um balanço de pagamentos é a seguinte: a) Balança comercial a.1) Exportação a.2) Importação b) Balança de serviços b.1) Viagens internacionais b.2) Fretes b.3) Seguros b.4) Rendas de capital (juros, lucros e aluguéis) b.5) Serviços diversos c) Transferências unilaterais (donativos) d) Balanço de transações correntes ou saldo em transações correntes (A + B + C) e) Movimento ou balanço de capital autônomo e.1) Investimentos de longo prazo e.2) Investimento de curto prazo e.3) Reinvestimento e.4) Empréstimos e financiamentos e.5) Amortizações f) Erros e omissões g) Saldo do balanço de pagamento (D + E + F) h) Movimento de capital compensatório (-G) h.1) Haveres e obrigações no exterior h.2) Empréstimos de regularização h.3) Atrasados comerciais Análise da estrutura do balanço de pagamentos A balança comercial compreende o comércio de mercadorias, registrando todas as mercadorias que entram e saem do país via importação e exportação. A balança de serviços registra todos os serviços pa- gos e/ou recebidos pelo país. Subdivide-se em serviços de fatores (que trata da remuneração a fatores de produção externos – juros, lucros, assistência técnica e royalties) e serviços não-fatores (que são os pagamentos diversos a empresas estrangeiras). AULA 24 • O balanço de pagamentos 107 Transferência unilateral trata dos saldos de doações entre países, remessas feitas por empregados migrantes para suas famílias no país de origem ou recursos enviados a parentes no exterior. Balanço de transações correntes (BTC) é uma con- ta que registra o subtotal das três primeiras contas. Caso seu valor seja negativo (BTC<0), pode se afirmar que o país apresenta poupança externa positiva, pois indica que o país aumentou seu endividamento externo, absorvendo recursos reais do resto do mundo, permitindo financia- mento do consumo e de investimentos, absorvendo bens e serviços do exterior. Sendo seu valor positivo (BTC>0), pode-se afirmar que há uma poupança externa negativa para o país, indicando que foram enviados mais bens e serviços para o exterior do que recebidos. Movimento de capital é a conta que registra os sal- dos dos capitais das firmas estrangeiras que entram e saem do país. São eles: investimento ou capital de longo prazo, Reinvestimento, Empréstimo e financiamento de médio e longo prazo e Amortizações. Erros e omissões é uma conta utilizada para fazer a correção de valores que não foram registrados ou foram feitos com erros. Saldo do balanço de pagamento é a soma do Balan- ço de transações correntes + Movimento ou balanço de capital autônomo + Erros e omissões. Movimento de capital compensatório é a contrapar- tida de igual valor, mas de sinal contrário (-G). Subdivi- de-se em Variações nas reservas (que registra as variações nos haveres em moeda estrangeira e ouro possuídos pelo país); operaçõesde regularização (que se refere a opera- ções realizadas com instituições internacionais) e atrasados comerciais (que se refere ao não-pagamento de um com- promisso no prazo). Não se preocupe se ficou um pouco confuso, pois va- mos analisar as contas com mais detalhes. A primeira conta registra as importações e exporta- ções de mercadorias e é chamada de balança comercial. As importações são lançadas a débito, pois envolvem a compra de divisas. As exportações são lançadas a crédito, já que envolvem a venda de divisas. Você sabe o que são divisas? Divisa é o nome que se dá a todas as moedas estran- geiras. Neste ponto, convém observar que quando uma em- presa compra divisas para pagar um importação, essas divisas saem do país. Podemos então utilizar a expressão “compra de divisas” como sinônimo de saída de divisas e a expressão “venda de divisas” como sinônimo de entrada de divisas. A segunda conta registra as despesas e receitas decor- rentes do pagamento e do recebimento de fretes, juros etc. Essa conta recebe o nome de balança de serviços. Nesta conta são registradas todas as importações e exportações que o país realiza mas somente de serviços, visto que as de mercadorias são registradas na balança comercial. O critério de lançamento continua o mesmo: quando o país efetua pagamentos, precisa comprar divisas; esta operação é lançada a débito. Caso contrário, é lançada a crédito. A terceira conta é chamada de transferências unilate- rais, pois registra transações sem contrapartida, como as remessas feitas por imigrantes às suas famílias no exterior, as doações de um país para outro etc. A balança comercial, a balança de serviços e as trans- ferências unilaterais formam a balança de transações cor- rentes, que registra o subtotal das transações realizadas entre o país e o mundo com bens e serviços. Uma última conta é a chamada conta ou balança de capitais, que registra a entrada e saída direta de divisas do país, dado o fato de que as transações entre dois países não se limitam a mercadorias e serviços. Quando uma empresa estrangeira resolve abrir uma filial no país, por exemplo, ela precisa fazer um investi- mento em forma de divisas. Além disso, os empréstimos obtidos no exterior junto a entidades privadas ou públicas também significam entrada de divisas, sem contrapartida na saída de bens ou serviços. Os empréstimos contraídos no exterior devem ser amortizados, o que significa saída de divisas. O mesmo acontece com as filiais de empresas estrangeiras que, ao remeterem lucros para as sedes, tam- bém dão origem à saída de divisas. Todas essas situações são exemplos de transações que envolvem saída e entrada de divisas, mas não significam recebimento e envio de mercadorias ou serviços. Assim, para registrar essas operações, temos a balança de capitais, que é a última parte do balanço de pagamentos. O critério de registro é o mesmo: a saída de divisas é lançada a débito e a entrada, a crédito. Importância do balanço de pagamentos Através do balanço de pagamentos torna-se bem mais fácil verificar qual a real situação de um país, inclusive no comércio internacional. Ele reflete a situação econômica e financeira do país. Serve para os investidores, bancos, INTRODUÇÃO À ECONOMIA 108 organismos internacionais verificarem a conveniência ou não e o risco de realizar negócios com aquele país. Resumos Estudamos na aula de hoje que assim como as empre- sas, os países também realizam seus balanços, no intuito de verificar como ficou a situação dos negócios realizados com o resto do mundo. A este balanço realizado por uma economia da-se o nome de Balanço de Pagamentos, onde são registradas to- das as transações econômicas realizadas entre o país e o resto do mundo. Atividades 1. Faça uma análise das principais contas do atual balan- ço de pagamentos da economia brasileira. Você pode encontrar esses dados na internet. 2. Qual o atual valor das importações e das exportações brasileiras? 3. Apresente uma proposta de sugestão para o Brasil au- mentar suas exportações. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 25 Teoria da Inflação Objetivos • Conceituar inflação. • Identificar seus tipos, causas e conse- qüências. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 110 Introdução Encerrando nossos estudos sobre o lado monetário da economia, estudaremos na aula de hoje um pouco sobre a inflação, um problema que atormenta há muitos anos a vida do povo brasileiro e a economia do país. O conceito de inflação Inflação pode ser definida como um aumento acentu- ado, contínuo e generalizado no nível de preços da eco- nomia. Ou seja, inflação significa aumento de preço. A infla- ção é dinâmica, não pode ser confundida com altas espo- rádicas de preços. Deve ser também: generalizada, isto é, em todos os produtos; contínua, com os preços subindo constantemente e de forma considerável. Tipos de Inflação Não é muito simples caracterizar o tipo de inflação, devido à evidência das diversas fontes e dos diversos mo- tivos que causam a inflação, variando também em função das condições de cada país, ou de cada época. Os principais tipos ou causas da inflação são: Inflação de custos A inflação de custos é o processo inflacionário gera- do pela elevação dos custos de produção, especialmen- te dos salários ou dos preços das matérias-primas. Pode ser associada a uma inflação tipicamente de oferta, pois o nível de demanda permanece o mesmo, mas os custos de produção aumentam, sendo repassados aos preços dos produtos. As causas mais comuns de inflação de oferta são rela- cionadas a: • aumentos salariais: se os aumentos nos salários fo- rem maiores do que os aumentos na produtividade dos trabalhadores, esse custo deverá ser repassado aos preços. salários > produtividade nos custos de produção. nos preços dos bens e serviços • aumento nos custos das matérias-primas: temos como exemplo aumento nos preços dos produtos agrícolas não sazonais ou devido a fortes chuvas, geadas ou secas, que destroem parte da produ- ção, levando à falta de produtos no mercado e a aumento de preços. Pode ser causado também pela desvalorização cambial, que causa aumento no preço das matérias-primas importadas. • tipo de estrutura de mercado: está associado ao poder de algumas empresas de terem monopólio ou oligopólio, fazendo com que dominem o mer- cado e possam elevar seus lucros via aumentos de preços. Inflação de Demanda A inflação de demanda é o processo inflacionário ge- rado pelo aumento ou excesso de consumo. Esse aumento de consumo pode ser causado por aumento no volume dos meios de pagamento da economia, fazendo com que a demanda cresça antes que a produção esteja em ple- na capacidade, o que impede que a maior demanda seja atendida. Com isso, aumentam os preços e, por extensão, os salários e os rendimentos em geral, dando origem a uma espiral inflacionária. Esse tipo de inflação relaciona-se ao excesso de de- manda agregada em relação à produção disponível de bens e serviços, ou seja maior demanda do que oferta, fazendo com que faltem produtos e se aumentem os pre- ços. Para combater um processo de inflação de demanda, a política econômica deve basear-se em instrumentos que provoquem redução de demanda agregada por bens e ser- viços, como o aumento nas taxas de juros. Graficamente, podemos representar uma inflação de demanda da seguinte forma: P2 P6 P3 P4 P5 S D2 D1 P Q Onde: P são os preços Q as quantidades D a demanda S a oferta AULA 25 • Teoria da Inflação 111 Então, à medida que a demanda aumenta com a ofer- ta constante, os preços sobem. InflaçãoInercial Inflação inercial é o processo inflacionário gerado pelo reajuste pleno de preços, de acordo com a inflação observada no período imediatamente anterior, em que os contratos contêm cláusulas de indexação ou correção que restabelecem seus valores reais após intervalos fixos de tempo. Na medida em que esses intervalos são cada vez me- nores e os reajustes cada vez maiores e concedidos com a mesma intensidade para todos os preços, estes tendem a ficar cada vez maiores. Como exemplo de inflação inercial temos: um au- mento na demanda pode elevar o preço, que por sua vez faz com que os trabalhadores pressionem por aumento salarial, que irá aumentar o custo de produção, que será repassado ao preço. Conseqüências provocadas pela inflação Num processo inflacionário intenso, a velocidade de aumento de preço entre os vários bens e serviços da eco- nomia são diferentes entre os setores, e alguns são mais onerados que outros. Uma das distorções mais sérias provocadas pela infla- ção diz respeito à redução relativa do poder aquisitivo das classes que dependem somente de seus salários, visto que estes são fixos e possuem prazos legais de reajuste. Assim, com a inflação e até que o salário sofra um reajuste, o assa- lariado perde grande parte de seu poder de compra. Os comerciantes e o próprio governo têm condições de repassar os aumentos de custos provocados pela infla- ção, enquanto os assalariados não têm este poder. Vale destacar ainda que as altas taxas de inflação pro- vocam expectativas negativas quanto ao futuro econômi- co, comprometendo o planejamento das empresas. Os custos sociais da inflação Considera-se que a inflação impõe, principalmente às camadas mais baixas da população, um custo ou prejuízo financeiro muito grande, como também ao setor privado e ao governo, um custo chamado custo social da inflação. Esse custo social pode implicar: • perda do poder de compra do salário; • aumento no custo da cesta básica; • diferente periodicidade com que as empresas alte- ram seus preços, acabando por elevar a variabilida- de dos preços; • leis tributárias: a inflação altera a receita tributária do governo; • a moeda, como é considerada padrão monetário e intermediária de troca, pode perder suas funções quando há inflação. A corrente estruturalista da inflação Existe uma determinada linha de pensamento na Eco- nomia que afirma que a inflação nos países subdesenvol- vimentos é causada por pressões nos custos de produção, pressões que são causadas principalmente por: • estrutura agrícola: a oferta de alimentos não res- ponde aos estímulos da demanda, gerando au- mentos nos custos de produção; • estrutura do comércio internacional: déficit crônico no balanço de pagamentos, causando descontroles na economia. • estrutura oligopolista de mercado: faz com que as empresas repassem todos os aumentos de custos aos preços finais, pois não existe concorrência para essas empresas. Para os estruturalistas, a inflação se localiza no compor- tamento do setor privado, e não no setor público. Principais formas de cálculo da inflação Para medir a inflação, geralmente são utilizados indi- cadores que procuram medir os aumentos de preço ocorri- dos na economia. No Brasil, os principais índices utilizados para medir a inflação são o IPC e o IGP. Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e Ín- dice Geral de Preços de Mercado (IGPM) Estes índices são calculados utilizando a seguinte me- todologia: • coletam dos preços de diversos tipos de bens e ser- viços; • transformam o preço dos bens e serviços em um índice que mede o nível geral de preços; • atribuem pesos distintos a diferentes itens, calcu- lando o preço de uma cesta de bens que um con- sumidor adquire. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 112 O IPC é o preço dessa cesta comparado com o preço da mesma cesta em determinado ano base. O que dife- rencia um índice de outro é a quantidade de produtos que entram na cesta e a renda da população. Por exemplo, considere um consumidor que adquire 5 maçãs e 2 laranjas. IPC = (5 x $ corrente maçã) + (2 x $ corrente laranja) (5 x $ maçã 03) + (2 x $ laranja 03) Nesse IPC, o ano base é 2003. O índice informa quan- to custa hoje comprar 5 maçãs e 2 laranjas comparativa- mente ao custo da mesma cesta em 2003. Resumo Nesta aula estudamos um pouco sobre inflação e a conceituamos como um aumento no preço dos bens e ser- viços da economia. Vimos ainda que a inflação apresenta alguns tipos ou causas diferentes e que ela prejudica não somente as pes- soas, mas também as empresas e até o governo. Atividades 1. Qual a principal diferença entre a inflação de demanda e a de custos? 2. Em sua opinião, qual tipo de inflação é mais comum no Brasil? Justifique sua resposta. 3. Procure em jornais e revistas e anote alguns índices de inflação no Brasil, atuais e de alguns anos atrás. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 26 Taxa de câmbio Objetivos • Definir o que é taxa de câmbio. • Verificar como essa taxa é formada. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 114 Introdução O objetivo principal desta aula é conhecer o que é taxa de câmbio, verificar como ela é formada e quais são as implicações de alterações nessa taxa para a economia do país. Conforme foi estudado em aulas anteriores, os países, que já comercializavam entre si, aumentaram ainda mais esse fluxo de comércio, com o crescimento do processo de globalização da economia. Mas você chegou a pensar em como um país faz para pagar ao outro? E como e em qual moeda recebe suas dívidas e ven- das? Foi assim que surgiu a necessidade de elaborar a taxa de câmbio; afinal, como receber dinheiro de outro país se esse dinheiro não tiver validade e não seja aceito em nosso país? Imagine a seguinte situação: dois países que possuem mo- edas diferentes realizam uma transação entre si. Torna-se neces- sário descobrir uma proporção de valor entre as moedas desses paises, para que seja possível a troca de bens e serviços pelas mo- edas. Dessa forma, para que uma empresa do Brasil possa pagar suas importações dos Estados Unidos, por exemplo, é necessário enviar dólares para os Estados Unidos. Mas como a empresa pode fazer isso? A empresa pode comprar dólares, junto ao Banco Central do Brasil, com os reais que possui. Mas qualquer pessoa pode ir ao Banco Central e com- prar o tanto de dólares que quiser e à hora que quiser? Não. Normalmente o Banco Central impõe regras de quais são as situações em que o dólar ou outra moeda estrangeira pode ser comprado e qual a quantidade que pode ser adquirida. O problema, então passa a ser estabelecer a relação de valor entre a moeda de seu país e a moeda do outro país, relação essa que recebe o nome de taxa de câm- bio. Determinação da taxa de câmbio A taxa de câmbio é a medida pela qual a moeda de um país pode ser convertida na moeda de outro país. Em outras palavras, a taxa de câmbio é o preço das divisas, das moedas estrangeiras. É o preço da moeda es- trangeira em termos da moeda nacional. Assim, se um dólar custasse R$ 20,00, por exemplo, a taxa de câmbio do dólar seria R$ 20,00, ou seja: US$ 1 = R$ 20,00 Se o euro custasse R$ 30,00, a taxa de câmbio do euro seria: 1 € = R$ 30,00 Neste momento você deve estar perguntando: Como é determinada a taxa de câmbio? Qual o mecanismo que determina o preço das divisas? A resposta é simples. Pelo fato de ser um preço, a taxa de câmbio é determinada através de nossa famosa lei da oferta e demanda, estudada em nossas primeiras aulas do curso, você se lembra? No Brasil, as empresas que exportam mercadorias para o exterior recebem seus pagamentos em dólares. En- tretanto, essas empresas precisam vender esses dólares, ou seja, trocá-lospor reais, para utilizá-los no país, visto que nossa moeda corrente é o real. Assim, os exportadores constituem a oferta de divisas no mercado de divisas, bem como as divisas oriundas da contratação de empréstimos externos, dos investimentos feitos em nosso país pelas multinacionais etc. Por outro lado, existem os importadores, pessoas ou empresas que querem comprar dólares para importar mer- cadorias do exterior. Essas pessoas compram os dólares com reais; isso constitui a demanda por moeda estrangeira no mercado de divisas, assim como o pagamento de em- préstimos externos contraídos etc. Se colocarmos a oferta de divisas e a demanda de divi- sas num gráfico de oferta e demanda, podemos visualizar o equilíbrio desse mercado, isto é, o ponto em que a oferta é igual à demanda. Esse ponto indica a taxa de câmbio, que é o preço da moeda estrangeira. No eixo vertical do gráfico, temos o preço da moeda estrangeira, no caso, o dólar, dado em reais; no eixo horizontal, a quantidade de moedas nego- ciadas a esse preço. AULA 26 • Taxa de câmbio 115 Gráfico de determinação da taxa de câmbio. Esse mesmo critério é adotado para todas as moedas estrangeiras; é através dele que se determina a taxa de câmbio. No Brasil, o valor da taxa de câmbio pode ser deter- minado pelo mercado de divisas, e/ou pelo Banco Central, através do sistema de taxa de câmbio administrada. Esse procedimento não causa maiores alterações, pois ao estabelecer a taxa de câmbio o Banco Central procura mantê-la o mais próximo possível da taxa que seria estabe- lecida no mercado de divisas. Resumo Estudamos nesta aula que a taxa de câmbio é a taxa utilizada para converter o valor da moeda de um país ao valor da moeda de outros países. Geralmente a oferta de moeda estrangeira é determi- nada pelos exportadores; a demanda, pelos importado- res. No Brasil, além do mercado cambial, o governo, atra- vés do Banco Central, pode também determinar o valor da taxa de câmbio. Atividades 1. Procure em jornais e revistas especializadas os valores das taxas de câmbio entre o real e as principais moe- das existentes. 2. Uma política de desvalorização da moeda nacional é benéfica aos importadores ou aos exportadores do país? Justifique. Taxa de câmbio Quantidade de divisas O D R$ 20 Mercado de divisas INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 27 O Brasil e a abertura comercial Objetivos • Descrever o desenvolvimento da eco- nomia brasileira no início da década de 1990. • Definir as características do Plano Collor. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 118 Introdução Nesta aula vamos procurar discutir e aplicar alguns conceitos estudados anteriormente, no intuito de analisar o processo de transformação da economia brasileira nos últimos anos, no período depois do Plano Collor, plano que iniciou o processo de abertura comercial do país. Após a euforia de crescimento da economia brasilei- ra no início dos anos 1970, o país entrou em um sério período de crise econômica, que se agravou no início da década de 80, culminando com um pedido de socorro do Brasil ao Fundo Monetário Internacional. Você se lembra do FMI? O FMI é o Fundo Monetário Internacional, instituição supranacional mantida pelos países membros com o obje- tivo de fornecer socorro momentâneo de recursos financei- ros aos países necessitados. É lógico que, após recorrer ao Fundo, o país fica nas mãos da sua política econômica. Mas para que o Brasil voltasse a crescer novamente, seu processo de desenvolvimento econômico requeria uma série de reformas estruturais, que seriam de extrema importância para alterar a estrutura produtiva do país. No entanto, muitas dessas reformas transformaram-se em problemas, em função do atraso tecnológico do Brasil, das barreiras alfandegárias protecionistas e do crescente endividamento externo e interno. As tentativas de remoção desses entraves, também chamados de pontos de estrangulamento, eram inócuas e muito tímidas, sendo sistematicamente derrotadas. Evolução da economia brasileira no início de 1990 Ao assumir o governo do país, o presidente Fernando Collor de Mello e sua equipe econômica iniciaram uma ampla reforma, visando remover as dificuldades estruturais da economia brasileira. Essa reforma passaria pela liberalização do comércio exterior, pela retomada das relações com a comunidade financeira internacional, pela privatização de empresas públicas e pela implantação de um programa de qualida- de e produtividade. Você sabe o que significa a palavra privatização? Privatizar uma empresa significa passar o controle de uma empresa pública ao setor privado da economia. Muitos segmentos da sociedade brasileira foram con- tra os programas de privatização realizados nos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso. A grande questão não é ser contra ou a favor, mas sim verificar qual é o papel do Estado na economia brasileira para saber quais empresas o governo deve possuir e quais deve privatizar. Você já pensou sobre isso? Se a idéia de privatização não está muito clara para você, não se preocupe, pois na próxima aula iremos traba- lhar mais sobre este assunto. No que se refere ao comportamento do setor externo brasileiro a partir de 1990, analise o seguinte: a) No ano de 1990, observou-se uma elevação das importações em 9,6% o que pode ser explicado como decorrência da política de abertura econô- mica implementada pelo governo logo ao assumir; b) As exportações reduziram-se no período, sendo que a balança comercial apresentou um superá- vit de US$ 1.077 bilhões, o pior resultado desde 1986. Você se lembra do que é a balança comercial? É a conta do balanço de pagamentos que registra o valor das importações e exportações de mercadorias rea- lizadas pelo país. No caso específico do Brasil, essa conta teve um desem- penho ruim em 1990 devido ao grande aumento nas impor- tações realizadas pelo país após a abertura comercial. c) Em 1992, as contas externas apresentaram um re- sultado melhor, tendo a balança comercial regis- trado um superávit de US$ 15,7 bilhões. O cres- cimento das exportações pode ser creditado em grande parte à adoção de uma política cambial mais realista. As importações apresentaram queda, devido ao baixo nível da atividade econômica no período. Você deve estar perguntando: o que é uma política cambial realista? É aquela que coloca a taxa de câmbio em um valor mais justo, permitindo que os produtos nacionais cotados em dólares fiquem mais baratos, fazendo com que seu preço internacional fique mais acessível, gerando assim aumento nas exportações. d) Em 1993, apesar do atraso cambial e da recupe- ração da atividade econômica interna, as exporta- AULA 27 • O Brasil e a abertura comercial 119 ções apresentaram ótimo desempenho, e as impor- tações se elevaram. O comportamento das importações foi, em parte, ex- plicado pela abertura comercial empreendida no início de 1990. As importações passaram de um patamar médio de US$ 9,4 bilhões no período de 1983/88 para US$ 17,2 bilhões e US$ 22 bilhões no período 1990/92 e 1993, res- pectivamente. O Plano Collor Quando da posse do presidente eleito Fernando Collor, em março de 1990, o Brasil vivia uma situação de inflação muito alta, chegando a 84% ao mês. As princi- pais causas dessa inflação estavam no déficit público muito elevado, na expansão monetária brasileira, e no elevado protecionismo às empresas nacionais, que não conheciam muito de perto a concorrência externa. Apesar desse quadro, o PIB brasileiro havia crescido em torno de 3,3% no ano de 1989, e o setor externo tinha registrado saldo comercial de US$ 16 bilhões nesse mes- mo período. O plano Ao assumir o governo, foi elaborado um plano econô-mico, mais conhecido como Plano Collor, que propunha as seguintes medidas, visando ajustar a economia brasi- leira: • Realizar um ajuste fiscal profundo, saindo de um déficit operacional de 6,9% do PIB para um supe- rávit de 1,3%, através de aumento substancial de impostos, redução de salários do funcionalismo, confisco da dívida interna e atraso de pagamentos ao setor privado; • Contração monetária, com bloqueios de ativos fi- nanceiros (conta corrente e investimentos) deposi- tados em bancos, em que US$ 110 bilhões seriam bloqueados, de um total de US$ 150 bilhões dis- poníveis; • Implantação de taxa de câmbio flutuante, livre negociação de salários, congelamento de preços e posterior liberação. O plano conseguiu reduzir a inflação de 84% para 10% em maio de 1990. Considerações finais Não se pode negar que alguns pontos da abertura comercial realizada pelo governo foram benéficas para a economia brasileira. Inicialmente, a redução das tarifas foi realizada de for- ma tímida, lenta e gradual até o final de 1992, quando o processo foi acelerado, com a finalidade de aumentar a competição dos produtos importados com os nacionais, visando auxiliar no combate à inflação. No que tange ao setor externo brasileiro, algumas questões passam pela reconsideração dos benefícios con- cedidos à indústria nacional, que até hoje é um pouco be- neficiada através de instrumentos como a política tarifária, a política não tarifária e controles cambiais. Esses instru- mentos resultam em perda de competitividade externa. Resumo Estudamos nesta aula um pouco do inicio do proces- so de abertura da economia brasileira, realizada pelo go- verno Collor a partir de 1990. Vimos também que nessa época o Brasil iniciou seu programa de privatizações, que, junto com a abertura comercial, buscava reduzir a inflação no país. Atividades 1. Explique em que sentido a abertura comercial poderia reduzir a inflação no Brasil. 2. Dê sua opinião sobre a privatização das empresas na- cionais. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 28 Economia brasileira: as crises do início da década de 90 e o programa de privatizações Objetivos • Descrever o desenvolvimento da eco- nomia brasileira no início da década de 1990. • Definir as características do Plano Collor. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 122 Introdução Nesta aula iremos complementar a aula anterior e es- tudar um pouco o programa de privatizações que ocor- reu na economia brasileira a partir do início da década de 1990. Estudamos na aula anterior que o governo Collor, ao assumir o poder em 1990, implantou no país um plano econômico de estabilização monetária e de reformas es- truturais que compreendiam reformas principalmente no setor público, no setor externo e no sistema financeiro. Através do confisco de 80% dos ativos financeiros do país, o governo buscou combater o déficit público e a in- flação brasileira. Esse choque monetário do Plano Collor teve um efeito quase imediato sobre a taxa de inflação e a redução da dívida interna. Contudo, a resposta favorável da inflação às medidas do plano foi temporária. Entre maio e junho de 1990 a taxa de inflação voltou a subir, atingindo 9% e chegando a 20% em janeiro de 1991. As medidas adotadas para a redução da dívida exter- na obtiveram resultados favoráveis, o que se deveu basi- camente ao crescimento da arrecadação tributária e aos cortes nos gastos públicos. Porém, a queda do nível da atividade econômica, a rápida desaceleração da taxa do crescimento do PIB e o fracasso da estabilização dos preços passaram a colocar em cheque a credibilidade do governo. Em fevereiro de 1991, com a inflação atingido uma taxa de 21%, foi realizada pelo governo uma tentativa de correção do plano, denominada Plano Collor II, cujas me- didas conseguiram conter a elevação da taxa de inflação ainda algum tempo. Dentro desse contexto, surgiu um programa que visa- va desonerar o Estado brasileiro e dar competitividade à indústria nacional, chamado PND – Programa Nacional de Desestatização, voltado a realizar privatizações. O programa de desestatização O que você entende com a palavra desestatização? Desestatizar significa tirar do Estado, ou seja passar o controle de uma empresa estatal para a iniciativa privada. Para que você possa compreender melhor a história, vamos ver por que o governo brasileiro começou a ter muitas empresas públicas. A estatização da economia brasileira ocorreu através do controle do capital de importantes empresas pelo Es- tado, com o governo assumindo participações minoritárias no capital de empresas privadas, controlando bancos e ate indústrias. Em muitos casos, essa intervenção se efetivou através de monopólios ou do controle quase absoluto da atividade. A intervenção estatal atingiu setores como energia elé- trica, petróleo, ferrovias, siderurgia, mineração e teleco- municações, entre outros. Esse processo de estatização da economia brasileira se iniciou principalmente a partir de 1930, quando se deu a decolagem do desenvolvimento industrial brasileiro, e se consolidou durante o período 1955/1961, no governo de Juscelino Kubitschek, quando, através do Plano de Metas, buscou-se esgotar o processo de industrialização do Bra- sil. Isso ocorreu de forma mais intensa em um período da economia brasileira em que a intervenção do setor público era um componente importante para a consolidação de alguns setores básicos para o país. O surgimento do PND O PND (Programa Nacional de Desestatização) sur- giu em decorrência da constatação de que as estatais não estavam operando com eficiência, eram empresas lentas, improdutivas, com uma estrutura de custo muito inchada e pouco competitivas, além das dificuldades do setor pú- blico para mantê-las, devido ao enorme gasto efetivado com elas. Principais objetivos do PND O primeiro objetivo do programa de privatização era a desoneração do Estado, visando reduzir os gastos públi- cos, identificados como um dos principais componentes do processo inflacionário. Outro objetivo paralelo seria a redefinição do papel do Estado, buscando mantê-lo com suas atividades clás- sicas, como: educação básica, saúde pública, segurança e previdência social e tirando o Estado do setor produtivo da economia. O Programa de Desestatização elegeu como setores prioritários a siderurgia, a petroquímica e o de fertilizan- tes. Até junho de 1993, foram incluídas no programa 66 empresas, sendo desestatizadas 21 delas. AULA 28 • Economia brasileira: as crises do início da década de 90 e o programa de privatizações 123 No setor siderúrgico, a predominância estatal era quase absoluta; foram desestatizadas a Usiminas, a Com- panhia Siderúrgica de Tubarão, a Acesita e a Companhia Siderúrgica Nacional. No setor petroquímico, a presença estatal se dava através da Petroquisa, e através dela a Petrobras detinha o comando da indústria petroquímica. As empresas de serviços públicos não entraram na pri- meira fase do PND, pois ainda dependiam de aprovações e da regulamentação de uma nova lei. Segundo expectativas do governo, as alienações das empresas industriais gerariam uma arrecadação de US$ 17 bilhões, na primeira fase do PND. Resultados do programa Um dos principais objetivos do programa de desesta- tização, que era contribuir para a redução da dívida públi- ca, não foi alcançado na intensidade esperada. As políticas de combate à inflação via privatização não trouxeram re- sultados muito satisfatórios. O mesmo se pode dizer das tentativas de ajuste fis- cal. Os déficits fiscais se mantiveram e continuaram a se elevar. Conclusão O processo inflacionário brasileiro apresenta com- ponentes que nem sempre estão vinculados à situação econômica em curso no país,mas sim ao processo de indexação da economia brasileira, em que todos os preços estão atrelados a índices de inflação, fazendo com que as expectativas dos agentes econômicos quanto à inflação fu- tura indiquem que ela será cada vez mais elevada. Resumo Estudamos nesta aula um pouco do Plano Collor e vi- mos que um de seus objetivos básicos que era combater a inflação no Brasil via programa de privatização das em- presas estatais nacionais; isso não teve o resultado prático esperado. Atividades 1. Faça uma análise pessoal sobre o governo Collor. 2. Explique o motivo do governo brasileiro para realizar as privatizações. 3. Você é a favor ou contra as privatizações? Justifique sua resposta. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 29 O custo Brasil Objetivos • Explicar o conceito de custo Brasil. • Identificar seus principais componentes. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 126 Introdução Estudaremos, nesta aula, uma nova expressão que tem sido muito utilizada no Brasil nos últimos anos e que diz respeito a um sobrecusto pago pelas empresas e consu- midores brasileiros devido a alguns problemas inerentes à nossa economia. A isso damos o nome de custo Brasil. A economia brasileira acumulou, ao longo de muitos anos, um conjunto de ineficiências que prejudicaram em muito sua competitividade no setor externo. A partir dos anos 1990, após o processo de abertura comercial, uma nova fase na nossa economia se iniciou. O Brasil, até então considerado um país fortemente pro- tecionista, se viu diante de uma drástica abertura comer- cial, em que uma brusca redução nas tarifas de importação colocou a indústria brasileira frente a uma forte concor- rência externa. Essa transição, de uma indústria protegida para uma liberalizada, acarretou problemas diversos para os mais variados setores produtivos do país, pois eles não tiveram tempo suficiente para se ajustarem e se tornarem mais flexíveis nesta competição. Inicialmente, essa abertura foi bem recebida, tanto por empresários como pelos consumidores, haja vista a existência de uma demanda reprimida, que elevou o con- sumo interno, fazendo com que houvesse uma rápida ab- sorção dos produtos importados, bem como estimulou a produção interna. Tais medidas permitiam ao empresaria- do local a importação de bens de capital e insumos, funda- mentais para o aumento da produtividade das indústrias. Num segundo momento, com a continuidade do processo de abertura, o país começou a transformar seus superávits comerciais em déficits crescentes. Em vista des- se fator, o governo se viu obrigado a tomar determinadas medidas fiscais e monetárias de forte impacto na econo- mia, objetivando a diminuição do consumo e a redução do déficit comercial. Nesse contexto, as medidas adotadas pelo governo le- varam a indústria nacional a uma nova realidade, em que diversos custos pouco valorizados anteriormente passaram a ser observados e discutidos com maior preocupação por parte da indústria nacional, já que esta se encontrava to- talmente exposta à concorrência externa, o que ocasionou uma rápida perda de competitividade. Fatores como gas- tos com infra-estrutura de transportes, encargos sociais e entraves burocráticos, dentre outros, tornaram-se de fun- damental importância, fazendo parte da discussão entre vários segmentos empresariais e o governo, no tocante aos novos rumos da economia brasileira. O custo Brasil Normalmente as empresas possuem seus respectivos custos de produção. Porém, com o passar do tempo, fi- cou evidenciado que as empresas brasileiras possuíam um custo adicional que não estava diretamente relacionado à sua atividade produtiva. A partir daí surgiu então um novo conceito, o de custo Brasil, que diz respeito a um conjunto de fatores que influenciam de maneira significativa sobre todo o processo produtivo, levando a um aumento nos custos das empresas, elevando o preço final da mercadoria e trazendo como conseqüência perda da competitividade externa. Esse custo pode ser entendido também como um ônus adicional, que acaba sendo acrescido ao preço final das empresas, devido a características intrínsecas à inefici- ência do ambiente econômico interno do país. Tal custo nos leva a observar que as empresas nacio- nais, frente à concorrência externa, necessitam ser cada vez mais eficientes, pois esse sobrecusto observado impli- ca uma desvantagem competitiva em relação às empresas internacionais. Dentre os componentes mais significativos que carac- terizam o custo Brasil, podemos destacar: Infra-estrutura de transportes Os custos relativos aos sistemas de transporte portu- ários, rodoviários e ferroviários no Brasil fazem parte do que chamamos de custo Brasil. Segundo relatório do Ban- co Mundial publicado em 1996, os custos portuários au- mentam em 6% a 8% os custos dos exportadores de bens manufaturados que utilizam os portos de Santos e do Rio de Janeiro. Isso se deve ao fato de que, no sistema portuá- rio, existem vários componentes que oneram o custo final da mercadorias. São eles: a ineficiência administrativa em relação ao gerenciamento dos terminais e procedimentos operacionais/burocráticos; os altos custos de embarque e desembarque dos navios e da mão-de-obra; os atrasos al- fandegários, aliados ao não-cumprimento de cronogramas referentes à chegada de mercadorias, componentes que, em alguns casos, afetam diretamente determinados siste- mas de produção. Conforme vários estudos mostram, no sistema portuá- rio brasileiro existem taxas de contêineres que são o triplo das encontradas em países concorrentes, do Mercosul e de AULA 29 • O custo Brasil 127 outras partes do mundo; a produtividade da mão-de-obra é de 20% da registrada nos portos europeus: um navio, que em outros portos gasta em média 24 horas para carre- gar ou descarregar, no Brasil gasta quase duas semanas. Ainda como exemplo, podemos citar o porto de San- tos, no qual o custo de estiva saía por US$ 22,00, quando em Hamburgo era de US$ 4,20 por tonelada e, em Jack- sonville, era de US$ 5,60, em 1988. Segundo as transpor- tadoras, para o desembarque de um navio de contêineres de dois porões são necessárias 12 pessoas em média. No Brasil, em Santos, esse mesmo trabalho requer uma equi- pe de 26 estivadores a bordo, 22 em terra e 10 confe- rentes. Fazendo uma comparação de dez produtos muito exportados do Brasil, Argentina e Uruguai para os Estados Unidos, é em média 27% mais caro embarcar a partir do Brasil. Custo de carregamento de 300 contêineres Países Custo (US$) Montevidéu 68.762 Buenos Aires 98.190 Santos 190.331 Rio de Janeiro 191.790 Fonte: Empresas privadas de transporte marítimo - 1996 Além de todos esses problemas, grande parte da movimentação de cargas dentro do país se dá através do sistema rodoviário, fator esse que causa um aumento ain- da maior no custo final do produto a ser exportado ou consumido internamente, pois esse sistema de transporte registra preços de combustíveis significantes e demanda melhor manutenção das estradas, sem falar em outros fa- tores, como roubo de carga, atrasos etc. Transportes de grãos (soja, milho, trigo) Tipo Brasil (%) EUA (%) Custo padrão interna- cional (US$/TKU)* TKU - tonelada/km útil Rodoviário 74 16 40 Ferroviário 25 23 20 Hidroviário 1 61 10 Fonte: Custo Brasil - Mitos e Realidades - 1996 Encargos sociais Este item trata de diversos custos imputados às empre- sas, em função da contratação de mão-de-obra (encargos trabalhistas), contribuições sindicais e patronais que afe- tam seu custo total, levando o produto final a apresentar um custo mais elevado; é uma outra variável no que diz respeito ao custo Brasil. Acredita-se que as reformas dos encargos sociais te- riam algum efeito sobre os custos das empresas, consi- derando que60% destes encargos se dão em forma de transferência direta para os trabalhadores. A eliminação de alguns desses encargos fariam com que o custo de con- tratação de um empregado caísse cerca de 10%, levando a uma redução entre 4,3% e 10,5% nos custos totais das empresas. Sistema tributário A importância da questão tributária no custo Brasil está diretamente ligada ao problema do déficit público, já que este determina a capacidade de investimento e pou- pança do governo – o que pode levar a um aumento ou diminuição dos custos das empresas. As taxas de impostos a que estão sujeitas as empresas formais no país acabam por levar a um elevado nível de sonegação, da ordem de 50% da base tributária. Elas são oneradas de modo constante, com tributos das mais diver- sas ordens; o mais relevante é a contribuição sobre o fatu- ramento, que pode representar um aumento de cinco ve- zes no custo final da mercadoria e, em alguns casos, como na indústria automobilística, pode chegar a dez vezes, o que implica um aumento da ordem de 20% no preço final da mercadoria. Atualmente no Brasil a carga tributária está em torno de 40% do PIB. Regulação/burocracia Este é um fator também bastante relevante no caso bra- sileiro, pois se trata de um ônus imposto as empresas pela incerteza macroeconômica e pela instabilidade de regras e regulamentos no país. Como o empresário nacional possui pouca segurança jurídica e regulatória, estudos apresenta- dos pelo Banco Mundial afirmam que aqui se perde 1,5% de renda per capita real ao ano, afetando o planejamento de médio e longo prazo por parte das empresas. A redu- ção da incerteza seguramente poderia reduzir as taxas de juros e proporcionar aumento nas atividades produtivas, INTRODUÇÃO À ECONOMIA 128 pois as empresas estariam mais seguras em relação às re- gras vigentes para a implementação de novos projetos de investimento. Junto a isto devem ser destacados os pro- blemas da administração pública, pois sua ineficiência e a burocracia nos processos de fiscalização, bem como as constantes mudanças de regras e pouca regulamentação em áreas essenciais como ambiental e antitruste, levam à insegurança dos empresários, com conseqüente aumento dos custos. Dentre diversos casos, pode-se citar como exemplo uma empresa norte-americana, que possui de 5 a 10 fun- cionários trabalhando no setor contábil, ao passo que uma similar nacional necessita empregar aproximadamente 50 pessoas para exercer a mesma função, em vista das cons- tantes alterações nas normas inerentes ao setor. Assim, torna-se necessário destacar que a política econômica é um dos fatores mais relevantes em relação à decisão dos empresários na implantação dos seus pro- jetos, sendo importante que haja maior transparência nas informações divulgadas e nas regras a serem adotadas, para que se possa ter maior estabilidade na tomada das decisões. Resumo Você viu nesta aula que o custo Brasil está embutido nas distorções do nosso sistema tributário e na legislação trabalhista, dados o excesso e a rigidez dos encargos tra- balhistas; na precariedade do sistema de educação e de saúde; na obsolescência da infra-estrutura dos transportes; nos elevados custos portuários; e no estrangulamento do sistema energético, entre outros fatores. O custo Brasil tem sido uma expressão genérica para alguns fatos desfavoráveis à competitividade de setores ou de empresas da economia brasileira que não dependem das próprias empresas, ou seja, não dependem da quali- dade de seus produtos, de seus custos etc. Esses fatores não somente afetam as empresas, mas também trabalhadores, consumidores e todos aqueles re- lacionados ao processo produtivo, assim como o próprio governo, que perde receita e incorre em aumento de cus- tos, devido ao alto grau de burocracia que existe no país. Atividades 1. Você concorda com essa denominação, custo Brasil? Justifique. 2. Relacione sugestões para a redução do custo Brasil. INTRODUÇÃO À ECONOMIA AULA 30 Risco país Objetivos • Identificar a importância do cálculo do risco país. • Reconhecer as fórmulas de cálculo do risco Brasil. INTRODUÇÃO À ECONOMIA 130 Introdução Esta aula tem como objetivo demonstrar a fragilidade da economia brasileira diante do cenário econômico mun- dial. A economia brasileira sofre de problemas internos e externos e, por ser um país emergente, precisa atrair inves- timentos estrangeiros para sustentar sua economia. Assim, iremos estudar um determinado índice, chamado (no caso do Brasil) de risco Brasil, que influencia a decisão dos in- vestidores internacionais em investir no País. A atual economia mundial A economia mundial vem passando, nos últimos anos, por momentos de instabilidade, com tendência à desa- celeração econômica. O Brasil não está fora desse con- texto, pois, além de ser uma economia dependente da economia mundial, sofre ainda a influência de problemas internos, como foi a crise energética de 2001, a crise do álcool, do gás etc., problemas esses que desestabilizam sua economia. Em conseqüência do processo de globalização eco- nômica, os mercados estão muito mais interligados; qual- quer mudança no âmbito econômico, político e social que envolva a economia de um determinado país influencia a economia de outro. Assim, os países emergentes sofrem muito mais com as instabilidades econômicas, principalmente pela grande dependência do capital externo. Por isso, é necessário um grande esforço do governo brasileiro para atrair capital es- trangeiro, pois os investidores vão para aqueles países de economias mais atraentes e com menos riscos. O risco país Risco país é um índice que mede o nível de descon- fiança ou risco de investir recursos financeiros em um país (especialmente nos emergentes). Esse índice, chamado ris- co país, sinaliza para o investidor a capacidade de um país honrar seus compromissos. Quanto maior for esse número maior será a possibilidade do referido país não honrar seus compromissos. O problema é que isso afasta os investidores, fazendo com que o governo aumente a taxa de juros para atrair capital, o que prejudica o mercado interno. O risco pode então ser interpretado como um índice que mede a confiança do mercado mundial em relação à capacidade de um determinado país de arcar com seus compromissos externos. Quanto maior a possibilidade de não-pagamento de suas obrigações maior será o risco. Esse índice é utilizado como uma referência do pre- ço que os investidores devem exigir como remuneração do capital que eles pretendem investir em um país. Mas quando este índice foi criado e por quem? O risco país foi criado em 1992 pelo banco americano J.P. Morgan, no intuito de orientar seus clientes sobre a capacidade de um país quebrar, ou seja, de não assumir seus compromissos externos. Mas como ele é calculado? Para quais países? O índice é calculado em pontos, tendo como base uma cesta de títulos negociados no mercado. Assim, ao dar 630 pontos de risco a um país, o índice mostra que, para assumir o risco de investir no referido país, o inves- tidor deve receber um prêmio de 6,3 pontos percentuais de rendimento acima do que se paga de rendimento no mercado americano. Tecnicamente, o risco é a sobretaxa que se paga em relação à rentabilidade garantida pelos bônus do tesouro dos Estados Unidos, país considerado o mais solvente do mundo, ou seja, o de menor risco para uma aplicação. Sua conversão é simples: 100 unidades equivalem a uma sobretaxa de 1%. O risco é calculado através de um índice denomina- do Emerging Markets Bond Index (EMBI+), que mede o grau de perigo que um país representa para o investidor estrangeiro. Na América Latina, os índices mais significa- tivos são aqueles relativos às três maiores economiasda região: Brasil, México e Argentina. Outros países, como Rússia, Bulgária, Nigéria, Filipinas e Malásia, também são considerados no cálculo dos índices. Atualmente o índice é calculado para 23 países. As variáveis consideradas no cálculo do índice são: os rendimentos dos instrumentos da dívida de um país, principalmente o valor (taxa de juros) com que o país pre- tende remunerar os aplicadores em bônus representativos da dívida pública. AULA 30 • Risco país 131 Responsabilidade pelo cálculo do índice hoje O risco é calculado por agências de classificação de risco e bancos de investimentos. O J.P. Morgan, por exem- plo, possui filiais em diversos países latino-americanos e continua a elaborar essa classificação, hoje utilizada por diversas outras instituições. Quanto maior o risco do investimento, maior a taxa de retorno exigida. Essa é uma forma de compensar o in- vestidor pelo risco inerente a uma aplicação de retorno duvidoso. Para definir esse índice, os analistas utilizam modelos matemáticos e estatísticos que levam em conta a inflação do país; a quantidade e o volume de dívidas já contraídas, o comportamento das suas exportações, a situação política interna, enfim, um conjunto de variáveis que tentam expressar fatores que possam ter influência na capacidade de um país de assumir compromissos financei- ros acordados. Na economia, os efeitos da classificação de um risco perigoso implica uma retração do fluxo de investimento estrangeiro no país, gerando menor crescimento econômi- co, o que acarreta aumento do desemprego, diminuição dos salários dos trabalhadores e desvalorização da moeda nacional. Significado do risco país para os países emergentes No mundo financeiro, risco e retorno são as variáveis mais importantes, pois o investidor só aceita correr maio- res riscos se o retorno oferecido compensar o risco do investimento. Com isso, para atrair recursos provenientes dos investidores externos, o governo de um país emite os chamados títulos da dívida pública, no caso do Brasil cha- mados de C–Bond. Dessa maneira, o risco do país serve para fixar a di- ferença na taxa de juros que o governo terá que oferecer, também chamada prêmio de risco, em relação à rentabili- dade oferecida pelos títulos do tesouro norte-americano. As conseqüências da classificação de um alto risco para uma economia emergente são muito sérias, pois quanto maior o risco maior será a dificuldade para atrair investimentos externos, tão necessários para o crescimen- to econômico do país. O resultado é bem conhecido pelos países emergentes: eleva o desemprego e a violência, en- tre outros efeitos. No caso especifico do Brasil, esse índice é chamado risco Brasil. No período da campanha eleitoral de 2002, chegou a atingir 2.440 pontos, no momento em que Lula cresceu nas pesquisas eleitorais, devido ao fato de o PT pregar o não pagamento da divida externa brasileira. En- tretanto, atualmente está em torno de 400 pontos. No passado recente, durante suas crises, o Brasil sem- pre demonstrou fragilidade, o que tem como conseqüên- cia a perda de espaço nas exportações e o encarecimento das importações, devido ao aumento do valor do dólar causado pela desvalorização da moeda nacional. Resumo Estudamos nesta aula o risco país e vimos que ele é um indicador que tenta determinar o grau de instabilidade econômica de cada país. Esse índice sugere aos investidores e ao mundo das finanças o quanto se deve cobrar de um país para a aplica- ção de recursos em seus títulos financeiros, além do que é pago pelos títulos do tesouro norte-americano. A compa- ração é com os títulos do tesouro dos EUA por serem estes considerados de risco zero de “calote”; esses títulos são o piso da taxa a ser cobrada. O índice serve para o investidor como um orientador; o risco país indica ao investidor que o preço de se arris- car a fazer negócios em um determinado país é mais ou menos elevado. Quanto maior for o risco, menor será a capacidade do país de atrair investimentos estrangeiros. Para tornar o investimento atraente, o país tem que elevar as taxas de juros que remuneram os títulos representativos da dívida. Atividades 1. Pesquise em jornais ou revistas o valor atual do risco Brasil. Explique o que representa esse valor. 2. Você concorda que existe o risco Brasil? Justifique sua opinião. REFERÊNCIAS MOCHON, Francisco, TROSTER, Luís Roberto. Introdução à economia. São Paulo: Makron Books, 2003 ROSSETTI, J.P. Introdução à Economia. São Paulo, Atlas, 2000. GREMAUD, A.P. et al. Manual de economia. São Paulo: editora Saraiva,2003 REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES VASCONCELLOS, M.A. Economia: Micro e Macro: Editora Atlas, 2002. PASSOS, Carlos, NOGAMI, O. Princípios de economia. São Paulo.Thompson, 2003 MANKIW, N.G. Introdução a economia. Rio de Janeiro. Ed, Campus, 2000