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Conceitos de ética e moral

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AULA 1
Conceitos de ética e moral
O termo ética deriva de éthos, que significa modo de ser, e, por isto, define-se com frequência a ética como a doutrina dos costumes ou hábitos adquiridos pelo homem, o estudo da ética é centrado na sociedade e no comportamento humano. As reflexões sobre esse tema começaram na antiguidade, os filósofos mais famosos, como Demócrito e Aristóteles, falaram sobre a ética como meio de alcançar a felicidade. Segundo Aristóteles , toda “ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade”.
 A conceituação de moral, por sua vez, abrange os costumes, ou seja, representa o conjunto das regras de conduta admitidas numa época ou por um grupo de homens. Ela distingue-se do que é investigado no campo ético, na medida em que “este último domínio se ocupa de uma moral ligada aos fatos, incorporando valores aceitos pelos homens ao se inter-relacionarem socialmente” . Moral é a diferenciação de intenções, decisões e ações entre aquelas que são distinguidas como próprias e as que são impróprias
Ética grega
Baseava-se na razão como fundamento universal para os princípios que regem a nação humana. 
Entre os pré-socráticos, por exemplo, Heráclito utiliza o vocábulo éthos para situar a condição do homem “como aquela que necessita de um lugar” ou “morada”, definindo um “modo de estar” no mundo. Depois de Sócrates o sentindo de ética se afasta do que costumava ser , sentido originário de morada quanto de equilíbrio das paixões, tal como Heráclito e Demócrito respectivamente entendiam. Este avanço foi possível sob a elaboração de um método, denominado maiêutica, que levasse os diversos cidadãos a uma vida virtuosa.
Com Aristóteles, a ética torna-se uma disciplina filosófica. O objeto da ética consiste em investigar as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los à orientação prática da conduta humana. A ética platônica gira em torno da aspiração dos homens à felicidade.
Ética cristã e moderna
A transformação do cristianismo na religião oficial de Roma no século IV trouxe novos sentidos para as doutrinas éticas gregas. Nesse período, os pensadores cristãos conceberam uma nova ética que encontra em Deus os princípios da vida moral. A esta nova ética denomina-se teonomia (théos, em grego, significa Deus). A ética cristã de igualdade é lançada no momento histórico em que os homens conhecem as maiores desigualdades: a divisão entre escravos e homens livres, ou entre servos e senhores feudais.
Na sua ética, S. Tomás de Aquino parte do princípio da existência de Deus, porque nenhuma ética é possível sem uma metafísica qualquer, S. Tomás de Aquino parte da lógica sustentada da liberdade do ser humano ― o livre arbítrio ― o que para mim é ideia agradável. O ser humano é livre; Deus não lhe tolheu a liberdade. O ordenamento finalista do universo não elimina nem diminui a liberdade do Homem. Santo Agostinho percebe que o verdadeiro caminho para a felicidade esta em amar a Deus e seguir os passos deixados por Jesus Cristo, Podemos perceber em Agostinho, que a Ética como ciência dos atos morais mostra-se ligada ao pensamento cristão. Bem parecido com S. Tomás. 
A história da ética ganha um novo rumo, entre os séculos XIV e XVI (Renascimento) a partir da valorização do homem nas ciências e nas artes. Retomam-se algumas tendências éticas antigas no início da Renascença, demarcando-se o início do que se conhece como ética moderna. É na época que surge a burguesia, com a Revolução Francesa, dando início ao capitalismo. No plano espiritual, há a perda do papel de guia atribuído à Igreja Católica, pois a religião deixa de ser a forma ideológica dominante. Logo passa ser centro da filosofia a ciência, Nicolau Maquiavel chamou atenção sobre o papel da ação política – visando a sobrevivência de um grupo, não de indivíduos isolados – na formação dos conceitos éticos.
Thomas Hobbes defende a tese de que o homem é antissocial, comportando-se sempre para satisfazer seu interesse pessoal e absorvendo aquilo que é bom ou vantajoso para si: egoísmo ético. Baruch Espinosa buscou na correspondência alma-corpo fundamentos de uma ética voltada para o exercício da liberdade, afirmando que são os homens que causam as paixões, não que estas devam estar subjugadas à razão ou vice-versa.
Nos séculos XVIII e XIX, o francês Jean-Jacques Rousseau e os alemães Immanuel Kant e Friedrich Hegel são os principais filósofos a discutir a ética. Para Kant, ética é a obrigação de agir segundo regras universais, comuns a todos os seres humanos por ser derivadas da razão. O fundamento da moral é dado pela própria razão humana: a noção de dever.
Duas outras importantes contribuições para o domínio ético são encontradas ainda no século XIX: Friedrich Nietzsche e de Franz Brentano, Friedrich Nietzsche os vê encarnados no cristianismo, socialismo e igualitarismo democrático e sustenta que são formas de uma moral a ser superada mediante a formulação de um ponto vista além do bem e do mal. Já para Brentano, seria possível se estabelecer leis universais de caráter axiológico, na medida em que há um subjetivismo ético que se relaciona a uma teoria objetiva do valor. Este é enunciado sob atos de preferência (valorização) ou repugnância (desvalorização); assim, a experiência que algo seja bom inclui um aspecto subjetivo (para alguém) e a intenção que leva um homem a preferir algo.
Ética contemporânea e relativismo ético
A ética contemporânea teve inicio em meados do sec. XIX, o novo pensamento ético começou a contestar o racionalismo absoluto e assumir existência de uma parte inconsciente em todos os homens, a ética se defronta com uma enorme variedade de tendências morais derivadas das mais diversas culturas.
A Ecologia Social demonstra que as relações deste com a sociedade passam necessariamente pela sanidade de suas relações não só com os demais membros de sua espécie, como também pelo modo relacional que estabelece consigo próprio e com seu ambiente. O esfacelamento deste conjunto inviabiliza qualquer tentativa de desenvolvimento.
Diversos autores, nos mais variados campos do conhecimento, tem ressaltado a importância de estabelecer-se uma relação ética com os recursos sociais, humanos e naturais que reponha uma hierarquia de valores morais e filosóficos como parâmetros do desenvolvimento. Para outros autores, os desenvolvimentos social e cultural estão mais diretamente associados à instituição de uma ética social.
Relativismo ético - é uma das posturas éticas mais generalizadas, tanto a nível acadêmico como no cotidiano de todos nós. Define que os valores éticos variam de grupo a grupo, de classe social a classe social etc, o relativismo é a recusa de qualquer proposição filosófica ou ética de valor universal e absoluto. Tudo o que se diga ou faça é relativo ao lugar, à época e demais circunstâncias nas quais o homem se encontra.
AULA 2 Bioética – história e princípios básicos
Um novo padrão ético associado diretamente a ações voltadas para a área da saúde e da preservação da vida: A Bioética.
Bioética – história
A bioética começou a ganhar força após a Segunda Guerra Mundial, devida as práticas nazistas executadas em nome da ciência, depois disso ganhou força a ideia de que a ciência não pode ser mais importante que o homem e assim as tecnologias e desenvolvimentos técnicos devem ser controlados para acompanhar a consciência da humanidade . 
O termo “Bioética” deu-se em 1971, do biólogo e oncologista americano Van R. Potter. Em sua origem, o termo é a conjugação das palavras gregas bios (vida) + ethos (relativo à ética) e sua concepção compreende o campo disciplinar compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos seres humanos e dos animais não humanos. O objetivo principal da Bioética é discutir as questões relativas à vida e a saúde, principalmente as que surgiram a partir de inovações tecnológicas posteriores aos debates éticos tradicionais, sob um enfoque humanista. 
Bioética– princípios básicos
A ética industrial decorrente da disseminação de valores capitalistas e da incessante busca por mais desenvolvimento tecnológico, estabeleceu nas sociedades ocidentais uma ideologia chamada de teoria utilitarista, através da qual a vida humana passa a ser concebida como objetivando a maximização da qualidade. Com isso, o debate ético sobre a sacralidade da vida humana começa a perder sentido em detrimento do quanto pode ser feito para que as pessoas em geral vivam mais e melhor
Para solucionar questões éticas práticas, decorrentes de conflitos e controvérsias da interação humana e de suas práticas médicas ou científicas, a bioética se fundamenta em uma tríplice atuação: (1) descritiva, voltada para a  descrição e análise destes conflitos; (2) normativa, com relação a tais conflitos, no duplo sentido de proscrever os comportamentos que podem ser considerados reprováveis e de prescrever aqueles considerados corretos; e (3) protetora, no sentido de amparar, na medida do possível, todos os envolvidos em alguma disputa de interesses e valores, priorizando, quando isso for necessário, os mais “fracos”. 
Para objetivar estas atuações, a Bioética se sustenta em alguns conceitos básicos:
O princípio do duplo efeito: uma situação frequente é a ocorrência de uma determinada ação que acarreta em dois efeitos concomitantes, um bom e outro mau. Apesar de buscarmos o primeiro resultado, ele sempre trás consigo um efeito colateral indesejável, porém inseparável. Este princípio estabelece as condições pelas quais se considera ética uma ação boa que promove efeitos negativos. O mal pode ser o meio do de produção do bem, o efeito negativo é aceito eticamente como consequência de um ato bom, mas nunca aceito como ato(negativo) em si, mas para isso os benefícios também precisam ser maiores que os malefícios da ação . 
 O princípio da totalidade: Este princípio se origina do sistema psicológico da Gestalt que sustenta que “o todo é mais do que a soma de suas partes”. O princípio de totalidade é um modo de afirmar que podemos legitimamente sacrificar a parte do corpo se for necessário preservar a saúde de todo o corpo.
Meios ordinários e extraordinários de tratamento: meios ordinários de preservar a vida são todos os remédios, tratamentos e operações que oferecem benefício razoável para o paciente e que pode ser obtido e usado sem excessivo gasto, dor ou outros inconvenientes. De outro lado, meios extraordinários são aqueles remédios, tratamentos e operações que não podem ser obtidos sem gasto excessivo, dor ou inconveniente ou que se usados não ofereceriam uma razoável esperança em beneficiar alguém. É importante lembrar que estas são definições éticas e não médicas. Na medida em que só se justifica a aplicação de um meio extraordinário se os meios ordinários já tiverem sido tentados e demonstrados sua ineficácia no caso em questão.
Justiça: A justiça é o conceito pelo qual cada um deve receber o que lhe é merecido por direito ou pela ação de seus atos. Existem três tipos de justiça. Comutativa, que exige honestidade nos vários tipos de trocas tais como salários e preços. Retributiva, que exige que se pague o que é devido. Exige punição por violar a lei e obriga aos que roubam retornar o que foi roubado. Distributiva, que regula a partilha dos problemas e benefícios sociais. Este é o aspecto mais crítico para a bioética, mas a justiça distributiva, em particular, tem se demonstrado uma área bastante sensível, na medida em que a obtenção de recursos de saúde interfere diretamente em muitas questões e problemas inerentes à Bioética.
Santidade da vida humana: Sendo algo de respeito e valor , uma vez que qualquer intervenção ou interferência na vida humana deve ser avaliada e testada em referência a esta questão central. O mais importante é a consciência da necessidade de respeito e preservação na aplicação de ações e direitos associados a este valor. Daniel Callahan identificou cinco elementos críticos no conceito de santidade (ou dignidade) da vida humana:
Sobrevivência da espécie humana. 
Preservação das linhas familiares. 
O direito dos seres humanos terem proteção de seus companheiros. 
Respeito por escolhas pessoais e autodeterminação, que inclui integridade mental e emocional.
Inviolabilidade corporal: Meu corpo, com seus órgãos, sou eu mesmo.
AULA 3 Avaliação de riscos e benefícios em pesquisas biomédicas
 Surgimento da pesquisa biomédica
Uma das consequências impostas aos criminosos nazistas ao fim da guerra foi o chamado julgamento de Nuremberg. Mundialmente conhecido, este foi constituído por um tribunal militar internacional que efetuou os julgamentos dos primeiros criminosos de guerra (dentre eles 20 médicos) e ocorreu entre 1945 e 1946 na cidade alemã de Nuremberg. Em função deste julgamento, foi elaborado em 1947, o chamado Código de Nuremberg. Em síntese, ele determinava que deveria haver consentimento prévio e voluntário de todos os sujeitos envolvidos em pesquisas e para garantir que não haveria indução à participação, os sujeitos deveriam receber informações sobre riscos, objetivos e procedimentos experimentais. Determinava também que toda pesquisa deveria apresentar a possibilidade de resultados não alcançáveis por outros procedimentos não invasivos e exigia a realização de experimentos anteriores em animais. Esta foi a primeira legislação moderna que visou o controle sobre atuações científicas de riscos em seres humanos.
Em 1964, foi criada a Declaração de Helsinque, o mais atual e importante documento mundial sobre a ética em pesquisas na área da saúde e tem servido como base para quase que a totalidade de todos os procedimentos regulatórios sobre pesquisa biomédica. Este documento foi dividido em três partes principais:
Princípios Básicos : ressaltando os aspectos morais envolvidos nos procedimentos e experimentos científicos e na necessária proporcionalidade entre os riscos envolvidos e os benefícios advindos destas pesquisas.
Pesquisa clínica combinada com o cuidado profissional : o documento aborda a possibilidade da aplicação de meios extraordinários de tratamento (pesquisas experimentais) desde que previamente consentidos e que a pesquisa traga perspectiva de reversão da patologia do próprio paciente.
Pesquisa biomética não terapêutica envolvendo seres humanos : a declaração de Helsinque obriga o médico pesquisador a se responsabilizar pela saúde do paciente no qual os procedimentos experimentais são efetuados e considera que, apesar do necessário consentimento explicito, consciente e plenamente justificado do paciente, a responsabilidade sobre danos ou consequências é sempre do médico pesquisador. Podendo ainda o sujeito, objeto da pesquisa, cancelar seu consentimento ou solicitar seu encerramento a qualquer momento.
O primeiro documento a tratar de questões éticas relacionadas a pesquisas em seres humanos, foi em 1988. Era a Resolução N° 1 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamentava o credenciamento de centros de pesquisa e recomendava a criação de comitês de ética nas instituições de saúde. 
Uma nova Resolução foi criada a resolução 196/96 do conselho nacional de saúde. Este novo documento, que é ainda hoje a legislação regulatória geral vigente neste aspecto, nasceu de um amplo debate entre a comunidade científica e representantes da sociedade civil, e foi elaborado pelo Ministério da saúde com o intuito de normatizar as diretrizes de todas as pesquisas que envolvessem seres humanos no território nacional, a Resolução 196/96 instala ainda a Comissão de Ética em Pesquisa (CONEP) Tem função consultiva, deliberativa, normativa e educativa, atuando conjuntamente com uma rede de Comitês de Ética em Pesquisa .
O objetivo maior de todos estes documentos citados é assegurar os direitos à integridade e à preservação da dignidade dos pacientes e regulamentar os deveres e responsabilidades da comunidade científica e do Estado.
As pesquisas biomédicas
Em maior ou menor grau, estes riscos só se tornam aceitáveis quandoa finalidade da pesquisa o justificar pelos seguintes critérios básicos:
Se a pesquisa oferecer elevada possibilidade de entendimento, prevenção ou alívio do problema que afeta o sujeito
Se o benefício esperado for de grande importância ou se o benefício for igual ou maior que o de outra alternativa já conhecida.
Especificamente quando falamos de intervenções clínicas ou científicas em saúde, estes efeitos indesejáveis recebem o nome de “eventos adversos” que são definidos como complicações indesejadas decorrentes do cuidado prestado aos pacientes, não atribuídas á evolução natural da doença de base , podem ou não ser decorrentes de erros ou ocorrer como consequências diretas das intervenções sobre o sujeito. Reduzir sua ocorrência é, além da principal função da aplicação do Princípio da Precaução. O Princípio da Precaução determina que não podemos considerar que uma ação não tenha riscos pelo fato destes não terem sido avaliados e que, portanto, diante da ausência de certeza cientifica confirmada da inexistência de riscos, devem ser tomadas todas as medidas necessárias no sentido de evitá-los.
AULA 4 Transplante de órgãos e tecidos 
Transplante de órgãos e tecidos
O transplante de órgãos e tecidos implica uma sequência de eventos que, desde a doação até a efetivação do transplante, abarca alguns direitos fundamentais pertinentes ao doador e ao receptor. Estes direitos estão associados à integridade física e ao direito ao corpo, em particular à liberdade de consciência e ao poder de dipos do próprio corpo. 
A questão dos transplante frequentemente gera algumas questões éticas e gera debates.
Existem basicamente três fontes de órgãos e tecidos utilizáveis. Este material pode ser coletado de:
Animais :Neste caso chamamos de xenotransplantes. Os xenotransplantes, por enquanto, são apenas uma possibilidade teórica. Os defensores desta técnica ressaltam os argumentos de que esta possibilidade diminuiria muito o tempo de espera mas há implicações técnicas , como a rejeições e a possibilidade de transmissão de vírus não humano para os receptores, há ainda aspectos éticos envolvidos como o direito ou não de humanos em utilizar-se de animais para fins de retirada de órgãos.
Seres humanos vivos: São os chamados alotransplantes intervivos. Naturalmente implica na utilização de órgãos e tecidos específicos e na necessidade de respeitar-se ao preceito ético da não maleficência do doador. Isto é, não podemos promover uma doação se a mesma produzir no doador algum tipo de dano ou prejuízo a sua saúde geral.
Seres humanos mortos: Que chamamos de alotransplantes de doador cadáver. É de fato o mais comumente utilizado para a grande maioria dos casos e a principal questão ética envolvida diz respeito ao critério de morte, na medida em que esta precisa ser atestada para que se promova a remoção do órgão. O Conselho Federal de Medicina, através da Resolução CFM 1480/97, alterou o critério de morte que anteriormente estava vinculado à falência cardiorrespiratória para a morte encefálica.
Neste aspecto, a questão ética mais premente, se refere ao questionamento da prevalência e manutenção da voluntariedade e da espontaneidade no ato de doar ou se considerar o princípio pelo qual o bem-comum está acima da vontade individual e, consequentemente, se aceita a apropriação de órgãos de cadáveres.
As formas de obtenção de órgão são comumente distribuídas pelas seguintes modalidades:
Doação voluntária. A doação voluntária é aquela realizada através da vontade expressa do doador quando em vida, a legislação brasileira substituiu a doação voluntária pelo consentimento presumido.
Consentimento presumido. Esta abordagem baseia-se no princípio de que todo cidadão é doador de órgão, por definição. Esta abordagem possibilita que as equipes de saúde retirem os órgãos de cadáveres, no momento da morte, aumentando, assim, as chances de sucesso no transplante, a menos que tenha expressado vontade contrária. Em 1998 isso foi substituído pelo consentimento familiar, onde o cônjuge ou parente na linha sucessória assume a responsabilidade. 
Manifestação compulsória ou abordagem de mercado. defende o conceito de que todo cidadão deve fazer formalmente a opção entre ser ou não um doador e a abordagem de mercado defende a possibilidade de incentivos financeiros à família do doador como forma de estimular as doações voluntárias.
Podemos resumir os aspectos vinculados à questão da doação de órgãos a um conjunto de princípios éticos gerais, nos quais, se vinculam intrinsecamente as questões dos transplantes. São eles:
Princípio da intangibilidade corporal reflete a pertença do corpo à identidade pessoal, e como tal, merecedor da dignidade e da indisponibilidade inerente à pessoa humana. Desta forma, qualquer intervenção na integridade corporal é simultaneamente uma intervenção na integridade pessoal.
O princípio da solidariedade, que considera que o ato de doar órgãos inclui-se na possibilidade que os indivíduos têm de sacrificar sua individualidade em detrimento do bem da comunidade (de outros), desde que estas doações não impliquem em comprometimento da vida ou da saúde geral .
O princípio da totalidade que entende o corpo como uma unidade, sendo cada parte do mesmo avaliada de acordo com o todo. Assim, cada parte (membro, órgão ou função), só pode ser sacrificada em função da unidade do corpo, ou seja, desde que isso seja útil para o bem-estar de todo o organismo ou que em caso de doação a terceiros, não comprometa a integridade geral.
A estes princípios éticos gerais, somam-se ainda aspectos específicos que se traduzem em princípios do biodireito próprios para as situações de transplantes. Dentre eles, destacam-se:
O princípio da autonomia, pelo qual qualquer coleta de tecidos ou órgãos tem de passar pelo consentimento do doador.
O princípio da confidencialidade, pelo qual se preserva o direito do indivíduo doador em decidir qual a informação sua que autoriza a veiculação ao receptor e qual quer manter em anonimato.
O princípio da gratuidade, que estabelece que o órgão ou tecido apenas poderá ser dado e nunca vendido, visto que não se trata de objetos e sim partes da própria individualidade.  
O princípio da não discriminação, em que a seleção dos receptores só pode ser feita mediante critérios médicos. 
AULA 5 Ética e reprodução humana
Novas tecnologias
Os frequentes avanços tecnológicos na área da saúde se, por um lado, têm propiciado imensos benefícios para a sociedade, por outro lado, têm também feito surgir novos problemas e questões éticas a serem discutidas e consideradas. Novas questões que surgem a partir de novas possibilidades de intervenção do homem sobre os fatos. 
Vida humana
As questões éticas envolvidas nos procedimentos ligados à reprodução humana abarcam uma série de aspectos, mas seu conceito básico é: o objetivo da reprodução é a geração da vida.
A vida humana para Igreja católica: em 1987, fica formalmente estabelecido que, pela perspectiva da Igreja, o início da vida humana se dá no momento em que ocorre a fecundação. Mais recentemente, em 2008, publica outro documento sobre aspectos de Bioética ligados à dignidade humana onde reforça este entendimento e considera como lícitas as tecnologias de fertilização que auxiliam os casais a procriarem desde que estas respeitem a preservação do ato procriativo em si e considera moralmente ilícitas as tecnologias que dissociam a procriação do ato sexual como a criogenia ou a fecundação “in vitro”.
Além da perspectiva eclesiástica há ainda outros critérios de abordagens mais direcionadas aos aspectos do desenvolvimento embrionário. Alguns destes critérios vinculam o início da vida humana:
Reprodução assistida
É o nome dado para tratamentos oferecidos por exemplo para pessoas com problemas de infertilidade etc. Em 1978 com o nascimento de Louise Brown (o primeiro bebê proveta ) as técnicas de fertilização “in vitro” chegaram ao conhecimento do grande público e também ganharam mais interesse nas pesquisasmédicas especializadas
A partir da década de 90 as sociedades médicas mundiais passaram a inserir diretrizes éticas relativas às tecnologias de reprodução em suas normatizações. No Brasil, em 1992, o Conselho Federal de Medicina, seguindo as mais avançadas legislações mundiais e igualmente fundamentado no Relatório Warnock, instituiu com a Resolução CFM 1358/92, as Normas Éticas para Utilização das Técnicas de Reprodução Assistida. 
Uma série de ramificações temáticas de cunho ético está associada, de modo mais ou menos direto à questão da reprodução assistida. Existem aspectos éticos vinculados ao:
- Consentimento informado.
- Seleção de sexo da criança.
- A doação de espermatozoides, óvulos, embriões.
- A seleção dos embriões com bases na evidência da possibilidade de doenças congênitas. A maternidade substitutiva.
- A clonagem.
- A criopreservação de embriões.
- E muitos outros.
Algumas questões ainda precisam ser bem melhor definidas em muitos aspectos. A doação de gametas por ex. A Resolução CFM 1957/10 instituiu que a doação deve ser preservada em anonimato entre receptores e doadores, com a explicação que evitaria problemas futuros com repercussões no desenvolvimento psicológico da criação, uns defendem que assim os pais podem crias seus filhos exclusivamente em função e suas influencias socioculturais, outros discordam e afirmam que o desconhecimento de sua origem genética interfere na percepção de sua identidade pessoal.
Outra questão associada à reprodução assistida envolve a possibilidade de gestação em casais homossexuais femininos. A legislação autoriza que mulheres utilizem sêmen doado para gestação independente da existência de vínculo familiar formal. Há, no entanto, intenso debate ético neste aspecto, que envolve o conceito de família, a admissão do casamento entre homossexuais e a equivalência de procedimentos para adoção e fertilização.
As questões éticas envolvidas seriam então fundamentalmente as mesmas: limites da intervenção do Estado em adoções e doações de gametas feitos de modo informal e ética em escolher características físicas das crianças por parte dos futuros pais adotivos ou fertilizados.
Aborto
No sentido inverso da reprodução como criação da vida, o aborto se associa a ela pelo enfoque conceitual ou ideológico do princípio da vida humana e de quando a interrupção gestacional é simplesmente um procedimento clínico e quando passa a ser um crime contra a vida. Os abortos são legais (estupro e risco de vida materno) e propostas que flexibilizam estas condições estendendo-as à existência de anomalias fetais que implicam na possibilidade de doenças congênitas graves e irreversíveis (anencefalia, por exemplo).
.Os debates éticos a respeito do aborto estão longe de ser encerrados e tanto na esfera jurídica quanto filosófica dificilmente encontraremos consenso em um aspecto que depende tão diretamente de valores morais, religiosos e culturais.
Independente de qualquer valor, esta é uma realidade que não pode ser ignorada e que transforma a questão do aborto não apenas em um dos temas mais delicados e polêmicos da Bioética como também, cada vez mais, em uma questão de saúde pública.

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