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ATOS ILÍCITOS - PRONTO

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FACULDADE DE DIREITO DO VALE DO RIO DOCE – FADIVALE
CURSO DE DIREITO
ATOS ILÍCITOS
Arthur Guedes Barbosa – 20109
Stenio Oliveira Garcia - 20089
 
Sthefany Moraes Quintela - 20072
João Paulo Pinheiro Amaral – 20117
Yago Batista Aredes Neves - 20070
Luis Elias de Meira Filho - 19862
Eliziomar Pascoal da Silva
Erica Barbosa Milholo – 18784
Brenda Lorrany G Oliveira
Governador Valadares – MG
Abril/2014
Arthur Guedes Barbosa - 20109
Stenio Oliveira Garcia - 20089
Sthefany Moraes Quintela – 20072STE
João Paulo Pinheiro Amaral - 20117
Yago Batista Aredes Neves - 20070
Luis Elias de Meira Filho - 19862
Eliziomar Pascoal da Silva
Erica Barbosa Milholo - 18784
Brenda Lorrany G Oliveira
ATOS ILÍCITOS
Trabalho acadêmico apresentado à disciplina de Direito Civil II da Faculdade de Direito do Vale do Rio Doce (FADIVALE) como requisito para obtenção de conhecimentos na referida disciplina. 
Governador Valadares – MG
Abril/2014
SUMÁRIO
	1 INTRODUÇÃO...................................................................................................
	4
	2 ATOS ILÍCITOS ................................................................................................
	5
	3 RESPONSABILIDADE CIVIL ...........................................................................
3.1 A EXCLUSÃO OU DIMINUIÇÃO DA RESPONSABILIDADE.........................
	7
9
	4 ABUSO DE DIREITO .......................................................................................
	11
	5 MODALIDADES DO ATOS ABUSIVOS...........................................................
5.1 SUBSTANCIAL PERFOMANCE.....................................................................
5.2 VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM – A PROIBIÇÃO DE COMPORTAMENTO CONTRADITÓRIO.............................................................
5.3 TU QUOQUE..................................................................................................
5.4 SUPRESSIO - INEXIGIBILIDADE DE UM DIREITO PELO SEU NÃO EXERCÍCIO...........................................................................................................
5.5 VIOLAÇÃO POSITIVA DO CONTRATO ........................................................
5.6SURRECTIO - QUEBRA ANTECIPADA DO CONTRATO OU INADIMPLEMENTO ANTECIPADO DA OBRIGAÇÃO........................................
5.7 DUTY TO MITIGATE THE LOSS....................................................................
	17
17
19
 21
22
23
27
28
	6 O ABUSO DE DIREITO NA PRÁTICA ................................................................... 
	30
	7 EXCLUDENTES DA ILICITUDE CIVIL
7.1 LEGÍTIMA DEFESA. ......................................................................................
7.2 EXERCÍCIO REGULAR DE UM DIREITO......................................................
7.3 ESTADO DE NECESSIDADE........................................................................
	31
31
32
32
	8 CONCLUSÃO....................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................
	34
36
1 INTRODUÇÃO
	O presente trabalho tem visa apresentar o estudo dos seguintes temas: Ato Ilícito, Responsabilidade Civil, Abuso de Direito e Excludente de Ilicitude. Os atos ilícitos no Direito produzem efeitos jurídicos que não são pretendidos pelo agente, mas sim imposto pelo ordenamento jurídico, onde criam-se deveres, sendo a primeira conseqüência do ato ilícito o dever de reparar. Tratando-se de culpa o ordenamento jurídico pátrio vigora a regra geral de que o dever de ressarcir pela prática de atos ilícitos decorre da culpa. Portanto, o ato ilícito qualifica-se pela culpa. Não havendo culpa, não haverá responsabilidade. Já o risco é que todo prejuízo deve ser atribuído e reparado por quem causou, independente de culpa, dispensando qualquer juízo de valor sobre a culpa do responsável que materialmente causou o dano. Com isso a responsabilidade civil é a garantia de pagamento de uma dívida, não tendo nenhuma ligação com a culpa.
 Aprofundando-se mais sobre o tema, sobreleva esclarecer que a ilicitude civil é categoria autônoma e independente e que, consequentemente, nem todo fato ilícito civil repercutirá no âmbito do Direito Penal. É preciso desvincular o fato ilícito da responsabilidade civil, desatrelando os institutos.
	Veremos também abuso do direito e o da boa-fé objetiva. Sublinha-se que, na seara contratual, a boa-fé ganha destaque como elemento constitutivo do abuso, ou seja, nas relações contratuais o abuso passa a ser definido pela contrariedade à boa-fé e, mais especificamente, à confiança e à justiça contratuais. Com base nesse critério, algumas formas de abuso do direito são aqui analisadas: a teoria do adimplemento substancial, venire contra factum proprium, tu quoque, supressio, violação positiva do contrato, surrectio e duty to mitigate the loss. Adverte-se, todavia, que a boa-fé não é o único parâmetro para aferição do ato abusivo, apesar de constituir um dos principais critérios aptos a configurar a ocorrência de abuso do direito. 
	Por fim veremos que não constitui atos ilícitos os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido, ou em estado de necessidade.
2 ATOS ILÍCITOS
	O atual Código Civil apresentou uma conceituação subjetiva da ilicitude em seu art. 186, como abaixo:
 “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”
 	Os atos jurídicos lícitos desencadeiam conseqüências jurídicas independentemente da vontade do agente (art.185, CC). Se os agentes dos negócios e atos jurídicos, por ação ou omissão, praticam atos antijurídicos (contra o Direito), com ou sem intenção expressa de prejudicar, ocasionando danos a outrem, estamos lidando com atos ilícitos.
 	A ação ou omissão ilícita pode acarretar indenização, podendo ser punida no campo penal. A violação de um direito, quando ofende a sociedade ou a coletividade, pode ser punida no campo penal, sendo o dano causado a particular, punível na seara do direito civil.
 	O fato ou ato ilícito surge de uma contrariedade ao direito, com uma violação da ordem jurídica, detectada de maneira objetiva. Subjetivamente, podemos perceber a necessidade da imputabilidade do agente, dizendo respeito à capacidade de compreensão da ilicitude do ato praticado (culpa lato sensu).
	O ilícito civil pode de decorrer da violação de um dever jurídico originado de duas fontes: i) resultado de um dever proveniente diretamente do sistema jurídico, sejam as regras e/ou princípios; ii) ou como resultado de um dever emanado da própria vontade individual manifestada em negócio jurídico. Daí se depreende dois tipos de ilícito civil: o contratual, baseado na transgressão de um contrato; e o extracontratual, oriundo de violação de norma jurídica (legal).
 	Para se configurar o ilícito civil é imprescindível comprovar a presença de alguns elementos essenciais: 
a conduta do agente (comissiva ou omissiva) contrária ao ordenamento jurídico;
a culpa lato sensu, incluso o dolo, e a culpa strito sensu (imperícia, imprudência e negligência);
o dano causado a terceiro (de ordem patrimonial ou não-patrimonial);
o nexo causal entre a conduta culposa e o prejuízo imposto ao ofendido.
 
3 RESPONSABILIDADE CIVIL
	Os fatos ou atos ilícitos produzem efeitos no âmbito jurídico, podendo resultar em danos ou prejuízos a outrem. A infração de uma norma pode ter conseqüências penais e/ou civis – a indenização civil, no campocivil (Venosa, 2013).
 	A responsabilidade civil decorre da infração de norma legal no campo civil, com geração ou não de indenização. As conseqüências de um ato jurídico ilícito podem ser indenizantes, caducificantes, invalidantes ou autorizantes, dentre outros (Rosenvald, 2013).
 	O efeito mais comum de um ato ilícito, em nosso meio, é o indenizante. Estipula-se um quantum indenizatório, baseado no dano causado e, dependendo, na culpa do agente (Venosa, 2013). O efeito caducificante encontra-se na perda do poder familiar de pai que viola o dever de cuidado do filho. Já o invalidante, é aquele decorrente da invalidade absoluta do negócio jurídico, não gerando indenização. A conseqüência autorizante encontramos na revogação da doação por ingratidão (art. 557, CC).
 	A responsabilidade civil pode ser dividida em contratual (ou objetiva) e extracontratual ou aquiliana (subjetiva). Como já referido anteriormente, a violação de um contrato gera o direito a indenização de outrem, caso ocorra dano, mesmo moral. Não se depreende daí, o pressuposto da existência da culpa para que se configure o dever de indenizar. O atual Código Civil, em seu art. 389, diz:
“Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”
 	O art. 927, CC, incluindo a teoria do risco, como uma variante da responsabilidade objetiva (Venosa, 2013), que dispõe:
“Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.”
 	A responsabilidade extracontratual ou aquiliana ( subjetiva) baseia-se no art. 186, CC, onde há uma ação ou omissão do agente conjugada com o dano, o nexo causal e a culpa. Não existindo tais pressupostos, não há o dever de indenizar.
 A existência de ação ou omissão voluntária, como um dos requisitos para a responsabilidade subjetiva, baseia-se em um ato ilícito ou uma série de atos. A conduta ativa constitui-se em dolo ou imprudência, e a passiva é representada pela negligência. A conduta omissiva ocorre quando o agente deixa de fazer ou agir de determinada forma. Decorre daí, a existência de dano ou prejuízo à vítima.
 	Um outro ponto importante da responsabilidade subjetiva é relação de causalidade entre o dano existente e a conduta do agente, também chamado nexo causal ou de causalidade. Deve-se apurar que não houve a intromissão de terceiros ou se a própria vítima causou o dano (Venosa, 2013).
 	A culpa, tanto o dolo, quanto a culpa estritamente falando, surge como elemento da responsabilidade civil e está relacionada à imputabilidade do agente, deixando de se responsabilizar os impúberes e os débeis mentais. Os atos provenientes de dolo ou culpa são indenizáveis, medindo-se o prejuízo causado e não a intensidade da conduta do agente (Venosa, 2013).
 	A culpa deve ser dosada, de acordo com o Código Civil, 2002, como se confere em seu artigo 944 caput e parágrafo único. Por isso, o grau da culpa passa a ter influência na estipulação da indenização.
 	As modalidades de culpa podem ser diversas, sendo a divisão entre culpa in concreto e in abstrato um divisor de águas, pois adota-se entre nós o primeiro conceito o vigente, ou seja, avalia-se a conduta do agente no caso ocorrido. Na culpa in abstrato, a referência de responsabilidade é o homem médio da sociedade.
 	As outras espécies de culpa são: in eligendo (má escolha do representante ou preposto); in vigilando (ausência de fiscalização sobre outrem, quando necessária ou determinada em lei); in committendo (ação positiva do agente) ou in omittendo (ação negativa do agente); in custodiendo (ausência de cuidado com relação a animal, pessoa ou coisa). Todas essas situações foram acolhidas em nossa legislação (Venosa, 2013).
3.1 A exclusão ou diminuição da responsabilidade
 	Presentes todos os requisitos à responsabilização, existem determinadas circunstâncias que excluem ou diminuem aquela. Não quer isto dizer que não tenha existido o ilícito, mas tão somente que tal fato ou ato jurídico ilícito não deverá resultar em indenização.
 		
	O art. 945 do Código Civil atual exprime:
 “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada, tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.”
	Tem-se aí a concorrência de culpas, ocorrendo a compensação da culpa da vítima com a culpa do agente no campo civil. Quando há culpa exclusiva da vítima, não se fala em indenização.
 	O caso fortuito ou força maior faz a culpa cessar, e com ela a responsabilidade. Depreende-se do art. 393, CC, que tais fenômenos possuem dois elementos: um de ordem interna, a inevitabilidade do evento, e outro de ordem externa, que é a ausência de culpa do agente (Venosa, 2013).
 	O art. 188, CC, estipula as excludentes de ilicitude que sejam: a legítima defesa, o exercício regular de um direito reconhecido e o estado de necessidade. Tais elementos excluem, também, a responsabilidade.
 	A legítima defesa não possui definição na lei civil, mas no art. 25 do Código Penal: ”Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.” Exclui-se a obrigação de reparar o dano, na esfera civil, tal instituto.
 	O estado de necessidade possui sua definição no artigo 24 do Código Penal: “Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.” Porém, apesar ser uma excludente de responsabilidade, não exclui o dever de indenizar.
 	A escusa de responsabilidade também se espalda no exercício regular de um direito reconhecido. Ou seja, quem exerce um direito não provoca o dano. O credor que, preenchendo as condições legais, requer a falência do devedor comerciante (Venosa, 2013). 
4 ABUSO DE DIREITO 
	A teoria do abuso do direito despontou no final do século XIX, para superar a concepções individuais, que defendiam que o direito subjetivo era o poder da vontade e da expressão maior da liberdade individual, sendo ilimitado – na fase inicial da vigência do Código de Napoleão – passa-se a observar, na França, decisões jurisprudenciais desfavoráveis aos titulares de direitos subjetivos sob o argumento de irregularidades no seu exercício. No entanto, apenas em 1915 a concepção do abuso do direito ganha ampla divulgação a partir de um notório julgado da Corte de Cassação francesa. Esse episódio ficou conhecido como o caso Clement Bayard, nome do proprietário de um terreno vizinho a um campo de pouso de dirigíveis que, sem qualquer justificativa, erguera no seu terreno, torres com lanças pontiagudas destinadas a danificar as aeronaves que sobrevoavam sua propriedade. Ao examinar a matéria, a Corte Francesa de Amiens condenou, por abuso do direito, a conduta do proprietário responsável pela construção das torres, alegando o exercício anormal do seu direito de propriedade.
	Essa teoria surge como uma construção da doutrina e da jurisprudência no decorrer do século XX. Mas é no Direito Medieval que vemos suas raízes, com os atos emulativos (aemulatio), que consistiam no exercício de um direito com objetivos de causar prejuízos a terceiros, ou seja, o abuso do Direito se daria quando o titular praticasse um ato com o único fim de prejudicar terceiros. A presença destes atos é observada, na era Medieval, no âmbito do direito de propriedade, onde buscava-se sua verdadeira função social.
	Todavia, a doutrina não foi unânime no acolhimento da teoria dos atos abusivos, umas tentamjustificar, outras negar. Assim, desenvolveram as chamadas “teorias negativistas” que não admitiam a idéia do abuso do direito e as chamadas “teorias afirmativas” que deram início ao reconhecimento da existência e da autonomia do abuso do direito. A doutrina anti-subjetivista, que negava a existência do conceito de direito subjetivo, não admitindo o abuso do direito, pois não se pode abusar daquilo que não existe; outros fundamentavam sua tese na contrariedade lógica dos termos “direito” e “abuso”, uma expressão contraditória em seus próprios termos, o pilar de sua teoria baseava-se na idéia de que um ato não pode ser, ao mesmo tempo, conforme e contrário ao Direito, sintetizando que “o direito cessa onde começa o abuso”. A concepção relativista dos direitos trata de um conceito amortecedor para aliviar os choques freqüentes entre a lei e a realidade. A chamada teoria subjetivista, que exclui qualquer limitação ao exercício dos direitos subjetivos que não esteja descrita na própria lei, salvo os limites de origem moral, exatamente porque estes se encontram fora do direito, lhes são externos. A teoria finalista constitui uma tese de transição para a identificação do ato abusivo, pois conjuga um critério subjetivo e um critério objetivo, revelado a partir da natureza teleológica dos direitos subjetivos, ou seja, da função social. Passa-se, então, a admitir uma limitação interna aos direitos subjetivos, que revela a relatividade de tais direitos, não mais admitindo seu caráter absoluto. Nessa linha, surge o pensamento: “quando há desvio da destinação econômica e social de cada direito” em outras palavras: identifica-se o abuso quando há “exercício anormal do direito”.
	Superada as várias formas negativistas e afirmativas, a doutrina moderna tenta justificar o abuso do direito na esfera do próprio direito subjetivo. 
	Aduz o jurista Josserand, que o verdadeiro critério do abuso do direito é retirado do desvio do direito de seu espírito, isto é, sua finalidade ou função social, segundo um conteúdo valorativo. Os direitos subjetivos deveria permanecer na essência de suas funções, sob pena de abuso do direito. Contribuindo com sua concepção para as bases estruturais do abuso do direito, quais sejam:
a titularidade de um direito subjetivo;
a sua utilização nos limites objetivos que lhe são traçados em lei, com respeito à letra da norma
a confrontação do elemento pessoal (subjetivo) com a função do fim do direito em causa (elemento social ou objetivo).
A grande dificuldade reside na detecção de qual elemento jurídico poderia servir como parâmetro de avaliação dos motivos ilegítimos da atuação do titular do direito.
	O Código de 1916 não dedicou atenção ao abuso de direito, apesar da teoria já ter sido consagrada mundialmente desde os meados do século XIX, na França e, posteriormente, na Alemanha, restringindo-se a uma tímida menção, no seu art. 160, I, que afirmava que não constituía ato ilícito aqueles praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido, admitindo assim a idéia do abuso de direito à proibição de atos irregulares, não tinha, expressamente, nenhuma regra que repudiasse o abuso do direito, mas, apesar disso, continha previsões que comprovavam a limitação a certos exercícios ilimitados. Para entender parte do instituto do abuso do direito deve-se pautar que o CC/16 era individualista, mas foram editadas algumas leis que norteavam para o conhecimento do ato abusivo, podendo-se citar o mais protetivo dos Códigos em vigor, qual seja o Código de Defesa do Consumidor. 
	O Código Civil de 2002, que tem suas bases jurídicas solidificadas na sociabilidade, operacionalidade e eticidade, inovou em relação ao texto do seu antecessor, consagrando expressamente a teoria do abuso de direito, positivando no artigo 187 o instituto do abuso de direito ao dizer que “também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. Na realidade o artigo 187 do ordenamento jurídico civilista brasileiro, tem nítida inspiração no direito português, em seu artigo 334 do Código luso que diz que “é ilegítimo o exercício dum direito quando o titular excede manifestamente os limites impostos pela boa-fé, pelos bons costumes, ou pelo fim social ou econômico deste direito”.
	Também pode ser vislumbrados indícios de abuso de direito na leitura do artigo 186 do Código Civil onde afirma que “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” e ainda, pode ser referido como atos que não constituiriam atos abusivos aqueles do artigo 188 do mesmo codex, a teor do que ocorria no artigo 160 do Código Civil de 1916:
Não constituem atos ilícitos: I – os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido; II – a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente; Parágrafo único: No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
	Escrevendo sobre o ato abusivo no Código Civil de 2002, comentando o artigo 187, aponta os requisitos que entende necessário para configuração do abuso do direito:
 conduta humana; 
 existência de um direito subjetivo;
 exercício desse direito de forma emolutiva (ou, pelo menos, culposo);
 dano para outrem;
 ofensa aos bons costumes e à boa-fé; 
 prática em desacordo com o fim social ou econômico do direito subjetivo.
	A doutrina divergia quando ia caracterizar a natureza jurídica do abuso de direito, entendendo a primeira corrente em classificá-lo como ato lícito, a segunda como ato ilícito e a terceira como uma espécie sui generis, ou tertium genus. Com o Código Civil de 2002 acabou com esta polêmica, afirmando, categoricamente, ser o instituto considerado um ilícito, pela leitura do artigo 187, é este o conceito que interessa.
	O abuso de Direito não pode ser argumentado em qualquer situação que se encontra a parte que foi prejudicada, sendo por esta razão, que o legislador resolveu positivá-lo, impondo limites que são verificados na própria leitura do artigo ao dizer que “... excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”.
	Ao fazer referência à boa-fé, aos bons costumes e à função econômica e social do direito, o artigo 187 elegeu esses como sendo os limites dentro dos quais o exercício do direito, para ser legítimo (lícito), deve ser dar. Ou seja, a regra do artigo 187, na realidade, exclui que o titular de um direito (qualquer que seja ele) possa, no exercício do direito, adotar uma certa conduta por ela discriminada como lícita. Convém observar, que o artigo utiliza-se da palavra “ou” para estabelecer que basta que se exceda qualquer um dos limites (ainda apenas um deles) para que o exercício seja reprovado.
	Talvez um dos temas mais interessantes e contraditórios trazidos na doutrina recente é a conceituação do instituto da boa-fé, quer seja objetiva ou subjetiva. Para tanto, cumpre, diferenciar a boa-fé objetiva da boa-fé subjetiva: Sabe-se que o papel dogmático da boa-fé subjetiva (ou “boa-fé psicológica”) diz respeito à tutela, em certas situações, do estado psicológico, estado de consciência caracterizado pela ignorância de se estar a lesar direitos ou interesses alheios em que pode estar um sujeito jurídico. A expressão traduz a idéia naturalista da boa-fé, aquela que é conotada à má-fé e que também se manifesta pela crença justificada na aparência de certa situação ou realidade jurídica. Diferentemente, a expressão boa-fé objetiva exprime o standart de lisura, correção, probidade, lealdade, honestidade – enfim, o que deve pautar as relações intersubjetivas regradas pelo direito. Daí a razão pela qual a boa-féobjetiva atue, concomitantemente, como (a) fonte de deveres de conduta (deveres de prestação e deveres de proteção) no termo obrigacional; (b) cânone para a interpretação dos negócios jurídicos; e (c) baliza para a averiguação da licitude no modo de exercício de direitos, vedando, por exemplo, o comportamento contraditório ou desleal.
	Em relação ao conceito de bons costumes, a dogmática, inicialmente, procurou aproximar o seu significado à própria idéia de boa-fé, associados que estariam tais elementos pela função de conectarem situações particulares de uma vivência ética àquilo que, abstratamente, configuraria o enunciado normativo.
 
	Outra matéria importante e adstrita ao ato abusivo são os efeitos oriundos da eficácia de serem reconhecidos, no negócio jurídico, que realmente uma das partes obrou em desconformidade legal, indo de encontro com os ditames estabelecidos pela boa-fé, bons costumes e o fim econômico e social. Nestes casos, os efeitos produzidos pelo reconhecimento do ato abusivo podem ser de eficácia: 
 indenizante;
 autorizante;
 nulificante;
 caducificante 
dissuasória.
	Diante dos fatos históricos narrados ao longo do estudo, culminando com a positivação do abuso de direito no Código Civil de 2002, viu-se que o instituto é por deveras importante, devendo ser estudado e compreendido a fim de que se torne uma importante fonte para os negócios jurídicos no liame da boa-fé, dos bons costumes e do fim econômico e social.
	Enfim, os pequenos equívocos do art. 187 do Código Civil não impedem uma interpretação do instituto do abuso de direito, na constitucionalização do Direito Civil, tendência marcante do nosso tempo e característica do Estado Social, permitindo que o sistema jurídico, atenda aos valores constitucionais.
5 MODALIDADES DO ATOS ABUSIVOS
	É importante tecer considerações acerca de alguns tipos específicos de atos abusivos, que embora reunidos ao derredor das cláusulas geral de boa-fé objetiva (CC, arts. 113 e 422), possuem características próprias, particulares. 
	Sobreleva, assim, que se atende para algumas peculiaridades no reconhecimento do abuso de direito, a partir de figuras específicas.
5.1 Substancial Performance
	A substantial performance teve origem no direito inglês, no século XVIII. De acordo com o ministro Paulo de Tarso Sanseverino, da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o instituto foi desenvolvido “para superar os exageros do formalismo exacerbado na execução dos contratos em geral”. 
	Embora não seja expressamente prevista no CC, a teoria tem sido aplicada em muitos casos, inclusive pelo STJ, tendo como base, além do princípio da boa-fé, a função social dos contratos, a vedação ao abuso de direito e ao enriquecimento sem causa.
Quando se verifica o inadimplemento da obrigação contratual surgem, em favor do credor, diversas opções. Seja a possibilidade de resolução com imposição de perdas e danos, a aplicação da cláusula penal como prefixação de prejuízos ou mesmo a própria opção do credor pela tutela específica, quando ainda for o objeto possível e a prestação remanescer útil para ele.
Portanto, a desconstituição de um negócio jurídico pela resolução contratual oriunda do seu inadimplemento é um direito potestativo do credor. Este direito potestativo é o poder de uma das partes de sujeitar a outra à sua deliberação unilateral, sem que o outro possa a isto se opor. Sendo assim, cada parte do negócio jurídico tem o direito de pleitear a resolução do contrato com todas as suas consequências quando há o inadimplemento pela contraparte.
A doutrina clássica jamais discutiu a possibilidade de imposição de limites ao exercício de um direito subjetivo ou de um direito potestativo, pois eles eram justamente concedidos pelo ordenamento jurídico para a satisfação de interesses particulares. Sendo que todo direito só pode ser reconhecido e prestigiado pelo ordenamento jurídico quando detiver uma função social. Com efeito, muitas vezes o exercício do direito satisfaz o interesse privado do seu titular, mas, simultaneamente, ofende as expectativas sociais pela qual o ordenamento concedeu esse direito.
A tese do inadimplemento mínimo é uma das formas de controle da boa-fé sobre a atuação de direitos subjetivos. Atualmente, é possível questionar a faculdade do exercício do direito potestativo à resolução contratual pelo credor, em situações caracterizadas pelo cumprimento de substancial parcela do contrato pelo devedor, mas em que, todavia, não tenha suportado adimplir uma pequena parte da obrigação. Apresenta-se abusivo o exercício de um direito pela parte que pretende ver resolvido um negócio jurídico somente porque a contraparte descumpriu, minimamente, suas obrigações. É o abuso do direito à rescisão de um contrato, porque os drásticos efeitos que podem decorrer afrontam o senso ético exigido das partes.
Bem por isso, JONES FIGUEIREDO ALVES vislumbra “a não razoabilidade de outra conduta, qual seja, a da atuação da parte contratante em pretender a resolução do contrato” quando o descumprimento foi mínimo. Ainda na doutrina pernambucana e com igual pensar, FABÍOLA SANTOS ALBUQUERQUE esclarece que “o inadimplemento da parte precisa ser perquirido objetivamente a fim de evitar abusos, pois a resolução afasta a possibilidade de manutenção do contrato e, por conseguinte, da incidência de princípios sociais”.
Segundo ARAKEN DE ASSIS, “a hipótese estrita de adimplemento substancial equivale, no direito brasileiro, grosso modo, ao adimplemento chamado de insatisfatório: ao invés de infração a deveres secundários, existe discrepância qualitativa e irrelevante na conduta do obrigado. O juiz avaliará a existência ou não da utilidade na prestação, segundo determina o art. 395, parágrafo único, do Código Civil. É bastante natural que, em alguns casos, se repute o descumprimento minimamente gravoso e pouco prejudicial ao projeto de benefícios recíprocos constantes do contrato”.
Para quem possui uma percepção nítida da boa-fé objetiva, deve incluir-se entre as atribuições do magistrado a análise de infração contratual, não sendo crível o desfazimento de uma significativa relação jurídico-econômica pelo fato do insignificante descumprimento da avença. Na falta de uma pequena parcela para o alcance do adimplemento, é coerente que o credor procure a tutela adequada à percepção da prestação faltante.
Em contratos de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária não são raras as situações em que o contratante praticamente liquida o débito, porém, ao final do negócio jurídico, sucumbe diante de pequena parcela do contrato. Em tese, o credor poderá ajuizar ação de reintegração de posse ou busca e apreensão e reaver o bem imóvel ou móvel, como consequência do surgimento da pretensão ao crédito, decorrente da lesão ao direito patrimonial. Nada obstante, a perda do bem vital é um sacrifício excessivo ao devedor, em face do pequeno vulto do débito.
5.2 Venire contra factum proprium – A proibição de comportamento contraditório
	Essa modalidade do abuso do direito decorre da ofensa ao princípio da confiança. Trata da proibição de comportamento contraditório. Por fim, analisa-se a proibição de venire contra factum proprium, outra especificação da teoria dos atos próprios. Essa se caracteriza pela vedação da mudança repentina da maneira de agir que tem por conseqüência a quebra da confiança legítima gerada na contraparte. E Apesar de não vir de forma expressa em nosso ordenamento jurídico, entende-se que é possível ser aplicado no direito brasileiro.
		
Observando a expressão venire contra factum proprium, evidencia-se de forma imediata que para aferir a totalidade da mesma é de obrigação um comportamento conforme uma boa-fé objetiva. A proibição de comportamento contraditório é modalidade de abuso de direito que surge da violação ao princípio da confiança.
Mesmo que nunca tenha sido comtemplado expressamente no ordenamento jurídico, o princípioda vedação do comportamento proibitório mantém um “contínuo flerte” com os juristas contemporâneos. Desse modo percebe-se que o venire contra factum proprium é consectário natural da repressão ao abuso de direito, sendo perfeitamente aplicável no direito brasileiro.
A vedação de comportamento contraditório obsta que alguém possa contradizer o seu próprio comportamento, após ter produzido, em outra pessoa, uma determinada expectativa. É, pois, a proibição da inesperada mudança de comportamento, contradizendo uma conduta anterior adotada pela mesma pessoa, frustrando as expectativas de terceiros. Enfim, é a consagração de que ninguém pode se opor a fato que ele próprio deu causa.
Dessa noção conceitual, é possível retirar os elementos essenciais para a proibição de comportamento contraditório:
Uma conduta inicial;
A legítima confiança despertada por conta dessa conduta inicial;
Um comportamento contraditório em relação à conduta inicial;
Um prejuízo, concreto ou potencial, decorrente da contradição.
Há uma sequência de dois comportamentos incoerentes entre si: um primeiro comportamento (o factum proprium), que desperta uma determinada confiança, e um outro sequencial (o venire), que assaca contra a confiança despertada anteriormente. Sanciona-se como inadmissível toda pretensão que, isoladamente analisada, estaria no campo da licitude, mas descamba para a ilicitude em face da sua compreensão à luz de um comportamento anterior praticado pelo mesmo sujeito.
Segundo JUDITH MARTINS-COSTA, o venire se insere na “teoria dos atos próprios”, segundo a qual se entende que a ninguém é lícito fazer valer um direito em contradição com a sua anterior conduta interpretada objetivamente.
Fundamenta-se a vedação de comportamento contraditório, incoerente, na tutela jurídica da confiança, impedindo que seja possível violar as legítimas expectativas despertadas em outrem. A confiança, por seu turno, decorre da cláusula geral da boa-fé objetiva. Essa lealdade de comportamento no mundo jurídico também é anotada por CARLYLE POPP, que, após relacionar a máxima do venire à figura do estoppel no Direito inglês, acaba por admitir que nas negociações preliminares poderá haver verificação simultânea do venire com a responsabilidade pré-contratual, quando uma das partes abusa da confiança da outra e, imotivadamente, provoque o encerramento das conversações, em comportamento tido como contraditório.
É preciso observar também que a solidariedade social, contemplada no art. 3º da Carta Constitucional, apresenta-se, por igual, como fundamento da proibição de comportamento contraditório por impor o respeito e consideração aos interesses de terceiros, impedindo comportamentos egoísticos.
Em se tratando de manifestação tipicamente abusiva, o venire pode implicar em diferentes efeitos jurídicos, como acontece com todo e qualquer ato ilícito. É possível efeitos caducificantes, indenizantes, invalidantes...
5.3 Tu Quoque
O tu quoque, que significa, literalmente, “até tu”, “também tu”, é uma expressão universalmente consagrada como forma de designar espanto, surpresa, decepção, com a atuação inconsciente de certa pessoa. Em sentido jurídico, a expressão refere-se à aplicação de critérios valorativos distintos para reger situações jurídicas substancialmente idênticas.
O tu quoque é um tipo específico de proibição de comportamento contraditório na medida em que, em face da incoerência dos critérios valorativos, a confiança de uma das partes é violada. Isto é, a parte adota um comportamento valorativamente distinto daquele outro adotado em hipótese objetivamente assemelhada.
Ocorre o tu quoque quando alguém viola uma determinada norma jurídica e, posteriormente, tenta tirar proveito da situação, com o fito de se beneficiar. Portanto, aí se encontra um acentuado aspecto de deslealdade, malícia, gerando a ruptura da confiança depositada por uma das partes no comportamento da outra, por conta dos critérios valorativos antes utilizados.
Um exemplo do tu quoque é a exceptio non adimplenti contractus (exceção do contrato não cumprido), não se permitindo ao contratante que não cumpriu com as suas obrigações da contraparte. Observando isoladamente a segunda conduta, estaria localizada no campo da licitude, apenas descambando para a ilicitude quando analisada à luz da conduta ilícita anteriormente praticada.
Há certa semelhança entre o tu quoque e o venire contra factum proprium, pois ambos são espécies da teoria dos atos próprios, que importa reconhecer a existência de um dever de adoção de uma linha de conduta uniforme, proscrevendo a duplicidade de comportamento. Porém é necessário diferenciar as duas figuras: O venire contra factum proprium se forma inicialmente por um ato lícito, conforme o direito positivo e, posteriormente, em razão da ofensa à boa-fé objetiva o ato posterior não pode ser admitido, sendo caracterizado como um ilícito; já no tu quoque o caminho é seguido inversamente pois surge de um ato ilícito e, posteriormente, se busca o exercício de um ato em conformidade ao direito, que se enquadrará como ilícito em razão da proteção à boa-fé.
O tu quoque age simultaneamente sobre os princípios da boa-fé objetiva e da justiça contratual, pois pretende não só evitar que o contratante faltoso se beneficie de sua própria falta, como também resguardar o equilíbrio entre as prestações. No campo do adimplemento das obrigações, guarda grande semelhança com a exceção do contrato não cumprido, eis que ambos objetivam preservar a proporcionalidade, o sinalagma contratual, e não apenas a confiança.
5.4 Supressio – Inexigibilidade de um direito pelo seu não exercício
Derivada do sistema jurídico alemão, a supressio (ou Verwirkung), é uma expressão cunhada no direito lusitano para designar o fenômeno jurídico da supressão de situações jurídicas específicas pelo decurso de tempo, obstando o exercício de direitos sob pena de caracterização de abuso. É o fenômeno da perda de determinada faculdade jurídica pelo decurso do tempo.
As primeiras ideias centrais sobre a matéria se originaram na Alemanha, por conta da superdesvalorização da moeda, no início do século XX. Como, naquele momento histórico, a diferença de poucos dias na aplicação da correção monetária importava em considerável mudança no valor da dívida, exigiu a jurisprudência alemã que o credor fosse rápido na cobrança de seus direitos.
A supressio ocorre quando há uma demora desleal no exercício de um direito. Isto é, “quando o titular de um direito deixa de exercê-lo, durante certo lapso de tempo, criando para a outra parte uma confiança razoável de que aquele direito não seria mais exercido”, conforme MARCELO DICKSTEIN.
A supressio aproxima-se do venire contra factum proprium, pois ambas atuam como fatores de preservação da confiança alheia. A diferença é que no venire a confiança em determinado comportamento é delimitada no cotejo com a conduta antecedente; já na supressio as expectativas são projetadas apenas pela injustificada inércia do titular por considerável decurso do tempo. 
A supressio guarda ainda semelhanças com institutos como a prescrição e a decadência, pois a base do problema está a discrepância entre uma regulação jurídica e a efetividade social, adaptando-se aquela em função desta em razão do tempo. Enquanto na prescrição e na decadência os critérios decisivos são o transcurso do tempo e a inatividade de seu titular, a supressio demanda a confiança da contraparte, motivada pela inatividade do opoente a ponto de lhe trazer a expectativa de que nunca exercitará o direito. Por isso que o tempo para a perda do direito não se submete a prazos rígidos. 
5.5 Violação Positiva do Contrato
	Com supedâneo na abstração e generalidade do princípio da boa-fé, alarga-se o conceito de abuso do direito e, a reboque, o conceito de adimplemento contratual.
Adimplir significa atender a todos os interesses envolvidos na obrigação, abarcando tanto os deveres ligados à prestação propriamentedita, como àqueles relacionados à proteção dos contratantes em todo o desenvolvimento do processo obrigacional. O descumprimento dos deveres anexos provocará inadimplemento, com o nascimento da pretensão reparatória ou o direito potestativo a resolução do vínculo.
Apesar das variações doutrinárias, os deveres laterais podem ser classificados em três categorias: deveres da proteção, cooperação e informação. Os deveres de proteção relacionam-se ao acautelamento patrimonial e pessoal da contraparte. Acontece com muita frequência na responsabilidade pré-contratual, quando ainda não há um dever de prestação, mas já exige um cuidado com a integridade do eventual parceiro. Nos deveres de cooperação pressupõem que as partes não pratiquem atos capazes de frustrar as finalidades materializadas no contrato, com isso exige-se um comportamento leal entre os contraentes para que possam ser alcançados os objetivos convencionados. Já os deveres de informação obrigam cada contratante a conceder ao outro amplo conhecimento acerca dos fatos relacionados ao objeto do contrato, para que todas as decisões possam ser fruto de uma vontade livre e real. Portanto, os deveres laterais alcançam todos os interesses conexos à execução do contrato. Excluem-se de seu âmbito todos aqueles deveres que não possam ser relacionados como necessários à realização da prestação.
A lesão aos deveres genéricos de proteção, cooperação e informação repercute na chamada violação positiva do contrato. Cuida-se de uma terceira modalidade de inadimplemento das obrigações. Para MENEZES CORDEIRO, a expressão “perturbação das prestações” é uma fórmula doutrinária conhecida pelos obrigacionistas, em que ficariam abrangidas as hipóteses de incumprimento definitivo, mora e cumprimento defeituoso. Trata-se de “espaço cômodo para abranger diversas eventualidades que impliquem a falta de cumprimento”.
Enquanto o inadimplemento absoluto e a mora concernem ao cumprimento do dever de prestação, a violação positiva do contrato aplica-se a uma série de situações práticas de inadimplemento que não se relacionam com a obrigação principal. Em uma monografia acerca do tema, JORGE CESA FERREIRA DA SILVA conclui que “a violação positiva do contrato, no direito brasileiro, corresponde ao inadimplemento decorrente do descumprimento de dever lateral, quando este dever não tenha uma vinculação direta com os interesses do credor na prestação”. Também é conhecido o modelo da violação positiva do contrato como adimplemento ruim ou insatisfatório, pois apesar de alcançar-se o cumprimento do dever de prestação, sobejaram frustrados o exercício da boa-fé e a salvaguarda da confiança alheia.
O Código Civil de 2002 partiu de um modelo de obrigações ainda forjado em paradigmas da metade do século XX. Portanto, não houve oportunidade de codificar as doutrinas mais recentes, incluindo-se aí a violação positiva do contrato, cuja base científica é inequívoca. É algo a se lamentar pois a perfeita delimitação dos diversos modelos jurídicos propicia conexões mais claras e seguras. De qualquer forma, a correta hermenêutica da função integrativa da boa-fé objetiva remete à aceitação da violação positiva do contrato pela janela da cláusula geral do art. 422 do Código Civil.
A violação positiva do contrato como rompimento da relação de confiança que conecta as partes, mesmo que não atrelada aos deveres de prestação, deverá ser identificada em seus efeitos patrimoniais com o inadimplemento, para que dela possa se extrair o direito da parte ofendida à resolução do vínculo obrigacional ou, mesmo, à oposição da exceptio non adimpleti, inclusive com todas as consequências da responsabilidade civil, sobremaneira o dever de indenizar em prol do lesado. É válido exemplificar a violação positiva do contrato com base em três interessantes situações descritas abaixo:
Médico realiza tratamento e alcança a cura do paciente. Porém, a técnica empregada é extremamente dolorosa, quando existiam meios alternativos na ciência para se alcançar idêntico resultado sem que isto implicasse sofrimento para o paciente;
Uma empresa contrata com agência de publicidade a colocação de outdoors pela cidade para a exibição de um novo produto. Todos os anúncios são colocados em locais de difícil acesso e iluminação, em que poucas pessoas tenham a possibilidade de visualizar a propaganda;
Proprietário de haras adquire valioso cavalo e, em razão de falha no transporte, o animal chega a seu novo endereço magro e fragilizado.
Nos três casos não podemos falar em inadimplemento absoluto, pois as prestações de fazer e de dar foram adimplidas. Explica ARAKEN DE ASSIS, que “a terapêutica dolorosa e demorada ou o retorno insignificante da publicidade em consideração ao seu potencial, sem dúvida, ocasionam dano inconfundível com o produzido pela ausência e pela ausência e pelo equívoco da terapia ou pela má inserção da mensagem da propaganda”. Nos exemplos retratados o adimplemento se deu de forma ruim, insatisfatória, ofendendo deveres instrumentais diretamente vinculados à realização da prestação, sejam eles, deveres de proteção (1º caso), colaboração (2º caso), ou ambos (3º caso). Insere-se dentro dos deveres laterais, “o dever de não destruir o patrimônio de outra parte com a execução do contrato, ou o de não informar as eventuais consequências danosas do mau uso da máquina instalada, ou o de instalar a máquina de modo a melhor atender os interesses do adquirente”.
No campo da violação positiva do contrato, é possível também inserir a interessante figura do inadimplemento antecipado da obrigação, também chamada “quebra antecipada do contrato”. As partes avençaram o momento para o adimplemento de suas respectivas obrigações, porém, em instante anterior ao termo pactuado, um dos contratantes já demonstra inequívoca intenção de não cumprir a sua prestação, pois pratica uma conduta concludente no sentido de inadimplemento. A recusa antecipada ao cumprimento da obrigação é também uma forma de violação ao princípio da boa-fé, pois a conduta que denota a falta de interesse de uma das partes em cumprir o dever de prestar é certamente uma lesão ao dever de confiança que inspira qualquer relação negocial.
No sistema common law , há o instituto do anticipatory breach (ruptura antecipada), que permite ao contratante, que previamente saiba da intenção de inadimplemento do outro, ajuizar ação de resolução contratual, já a partir do momento em que se caracterizou a negativa ao cumprimento. Daí entendermos viável o exercício do direito resolutório quando, pelas circunstâncias do negócio jurídico, uma das partes constata inequivocamente, pelo comportamento da outra, que esta não cumprirá sua prestação. Seria uma espécie de antecipação de inadimplemento, em face da verificação de que um dos contratantes adota atitudes que futuramente inviabilizarão a satisfação de sua obrigação. Se uma das partes cometer uma violação fundamental à obrigação, a outra parte poderá decretar a sua resolução. Ao invés de aguardar o inadimplemento já revelado, antecipa a prestação jurisdicional e libera-se do vínculo, além de demandar as perdas e os danos, minorando os efeitos nocivos do descumprimento da obrigação. 
A resolução antecipada não é expressa em nossa legislação, não podendo ser confundida com o tradicional instituto do vencimento antecipado do débito. Este é restrito a situações que induzam o devedor à insolvência, conforme se extrai do art. 333 do Código Civil. Já o inadimplemento antecipado verifica-se mesmo quando o devedor ainda for solvente, mas exteriorizar objetivamente a sua vontade de descumprir a obrigação. No Brasil, a fragilidade doutrinária sobre o tema pode ser explicada pela ênfase que se concede ao princípio da conservação do negócio jurídico, que culmina por postergar qualquer medida da parte lesada apenas para o período posterior àquele que as partes convencionaram. Para evitar a concretização da lesão que já é razoavelmente esperada, conta o interessado com a tutela inibitória das obrigaçõesde fazer ou dar.
5.6 Surrectio – Quebra antecipada do contrato ou inadimplemento antecipado da obrigação
	É o surgimento de uma situação de vantagem para alguém em razão do não exercício por outrem de um determinado direito, ceceado a possibilidade vir a exercê-lo posteriormente. Fazendo surgir um direito para um terceiro pela reiterada omissão do titular, beneficiando quem depositou confiança na continuidade daquele procedimento omissivo. Nesse caso estamos diante de um exercício continuado de uma situação jurídica do ordenamento jurídico implica nova fonte de direito subjetivo, estabilizando-se tal situação para o futuro. 
	Ademais, a boa-fé objetiva permite seja invocada a exceção relativamente a um inadimplemento que, embora não tenha ainda ocorrido, pode se prever que, efetivamente, se verificará no futuro, podendo hoje ser considerado um fato certo, inevitável. Vale dizer, a exceção pode ser estendida para o caso de inadimplemento antecipado, isto é, para a chamada quebra antecipada do contrato (surrectio). Fique claro, no entanto, que tal extensão só se pode dar diante de circunstâncias concretas que assegurem que, fatalmente, a prestação está fadada a não ser cumprida.
	
	Analisando o conceito de surrectio e procurando diferenciar bem da supressio, Marcelo Colombelli Mezzomo, nos apresenta a seguinte explicação: A surrectio, ao contrário da supressio, representa uma ampliação do conteúdo obrigacional. Aqui, a atitude de uma das partes gera na outra a expectativa de direito não pactuada. Ordinariamente, a doutrina tem apontado para a necessidade da presença de três requisitos: "Exige-se um certo lapso de tempo, por excelência variável, durante o qual se atua uma situação jurídica em tudo semelhante ao direito subjetivo que vai surgir; requer-se uma conjunção objetiva de fatores que consistem, em nome do Direito, a constituição do novo direito; impõe-se a ausência de previsões negativas que impeçam a surrectio".
	Conclui-se, portanto que a surrectio é o instituto jurídico que faz surgir um direito que anteriormente não existia, seja em razão de contrato, ou seja, em razão do ordenamento jurídico. Ou seja, diante da inércia, da não manifestação, mesmo sendo contrária a norma jurídica, nos deparamos com o nascimento de um direito da norma em razão da inércia. Essa idéia já se encontra assentada na expressão jurídica, o direito não socorre a quem dorme.
5.7 Duty to mitigate the loss
            Outra modalidade específica do abuso do direito é o duty to mitigate the loss ou, em vernáculo, o dever do credor de mitigar as suas próprias perdas. Não há dúvidas de que o credor tem diversos direitos, dentre os quais, exigir o cumprimento integral da obrigação e o respectivo atendimento de seu interesse creditício. Todavia, se o credor se comporta de maneira excessiva, comprometendo e agravando a situação jurídica do devedor, estará caracterizado o abuso do direito. É aplicação efetiva e direta da boa-fé objetiva, impondo um comportamento ético ao credor, consistente em não prejudicar o devedor.
Certamente, o dever anexo da cooperação e lealdade impõe ao credor atuar, concretamente, para não agravar a situação do devedor. Por isso, quando o seu comportamento implica em agravamento da situação do devedor, haverá abuso do direito de ser credor, produzindo as consequências naturais do ato ilícito objetivo.
Segundo LEONARDO DE MEDEIROS GARCIA, o duty to mitigate the loss “consiste na obrigação do credor em buscar evitar o agravamento do devedor”, acrescentando que “o credor de uma obrigação precisa colaborar com o devedor na tomada de medidas cabíveis para buscar que o dano sofrido se restrinja as menores proporções possíveis”.
Naturalmente, não se exige que o comportamento do credor decorra do elemento subjetivo, pouco interessado se teve, ou não, culpa. Até porque seria quase impossível evidenciar que o credor teve culpa em prejudicar, reflexamente, a si mesmo.
No Direito do Consumidor o superendividamento é exemplo eloquente de abuso do direito em razão do duty to mitigate the loss, pois no momento em que o banco concede crédito a um cliente que já se encontra em dívida, amplia-se a chance de incorrer em insolvência civil. Também será caso de abuso do direito por violação do duty to mitigate the loss a situação de inércia do autor de uma ação que obtém do juiz uma tutela antecipatória, fixando multa diária para o devedor, e deixa assomar um valor considerável de parcelas. Não se perdoará o descumprimento da obrigação pelo devedor, apenas estabelecendo o magistrado limites éticos para o exercício do direito.
6 O ABUSO DE DIREITO NA PRÁTICA
	A aplicação da teoria do abuso de direito se espraia por diferentes campos, inclusive transcendendo os limites do Direito Civil, para ganhar espaço no Direito Público, como no Direito Processual, Administrativo ou Internacional, por exemplo.
Efetivamente, é possível detectar ampla aplicação em sede civil, valendo enunciar, para fins de fixação da matéria, algumas hipóteses concretas: mudança de domicílio do genitor separado ou divorciado com o intuito de frustrar o direito de visitas do genitor não guardião; envio de mensagens eletrônicas não solicitadas, por e-mail, apresentando produtos ou serviços para comercialização, periodicamente, e não raro, em grande quantidade; inserção pelo credor de cláusula proibitiva da segunda hipoteca em contrato hipotecário; a abertura pelo proprietário de poço em seu terreno com o fito de prejudicar nascente de água em prédio vizinho; e a utilização pelo titular da maioria do capital societário de expediente que não lhe confira vantagens, apenas para lesar o patrimônio dos sócios minoritários.
No âmbito consumentarista, é possível a configuração de publicidade abusiva, inclusive com eventual responsabilidade do veículo de comunicação e da eventual celebridade que dela participou. Outra prática abusiva extremamente comum neste âmbito é a inserção de cláusulas abusivas nas relações contratuais. Conforme o art. 51 do Código de Defesa do Consumidor, as cláusulas abusivas são nulas de pleno direito, quando nocivas, danosas, ao consumidor por evidenciar uma atuação antijurídica, contrária ao direito pelo fornecedor de produtos ou serviços. Exemplo típico de cláusula abusiva nos contratos de consumo são as cláusulas de não indenizar, exonerando o fornecedor de qualquer responsabilidade por danos causados à parte do consumidor.
7 EXCLUDENTES DA ILICITUDE CIVIL
	O Direito Civil reconhece situações nas quais a ilicitude resta afastada. São hipóteses excludentes de antijuricidade, cobrindo o fato com o manto da licitude, assim como no sistema penal.
	O art. 188 do Código Civil prevê três causas de exclusão de ilicitude. São elas:
Art. 188. Não constituem atos ilícitos:
I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;
II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável para a remoção do perigo.
		Afastando-se a antijuridicidade das condutas praticadas em:
 legítima defesa própria;
 exercício regular de um direito;
 estado de necessidade.
		
7.1 Legítima Defesa 
	A Lei civil não define o que seja a legítima defesa, para tanto, é necessário verificar o artigo 25 do CP. Se o ato é praticado contra o agressor em legítima defesa, não pode ser o agente civilmente responsabilizado. Quem pratica um ato em legítima defesa real, contra um agressor, não adentra à zona da ilicitude, apesar do dano causado, fica impedido da reparação do dano, por esta está preservando sua própria pessoa ou patrimônio. Entretanto, é importante ressaltar que se uma terceira pessoa for atingida injustamente, neste caso, quem agiu em legítima defesa tem que reparar o dano causado ao inocente. 
	A legítima defesa,deve ser a uma ofensa atual ou iminente, bem como proporcional à injusta agressão, com uso moderado dos meios à disposição do agente. Vale ressaltar que o Direito Civil não admite a legítima defesa putativa ou de terceiro, somente a legítima defesa própria. Na esfera civil, o excesso, a extrapolação da legítima defesa, por negligência ou imprudência, configura a situação do art. 186 do Código Civil.
7.2 Exercício regular de um direito
	O ato praticado em exercício regular de um direito está inserido no campo da licitude, contudo vale dizer, que o exercício irregular ou excessivo de um direito caracteriza abuso do direito, é necessário impor os limites da boa-fé´objetiva, os bons costumes, sem desviar dos fins sociais. Ex: se um prestador de serviço, bombeiro para apagar fogo numa casa, invade outra para ter melhor acesso, quem responde ao dano, indenizando será o Estado. Art. 37, §6º da CF. Se o agente do dano tiver causado o dano com culpa ou dolo, o Estado indenizará a vítima e terá direito de regresso em face do causador do dano.  O agente age no estrito cumprimento de um dever legal e causa um dano injusto a outrem. Em algumas hipóteses o Estado tem sido chamado a indenizar conforme o art. 37, §6º da CF, já que é responsável pelos atos de seu agente. O agente agindo com dolo ou culpa dá ao Estado o direito de ação regressiva. 
		
7.3 Estado de necessidade
	O estado de necessidade é quando se causa um dano em face da pessoa que te fez agir em estado de necessidade. O estado de necessidade é um excludente da ilicitude, mas no civil tem-se o dever de indenizar, pois neste, trata-se de uma excludente da responsabilidade.  Muito embora a lei mencione que o estado de necessidade não constitui ato ilícito, por vezes o agente que age em estado de necessidade vai ser chamado a indenizar. Toda vez que causar um dano injusto a uma pessoa inocente. Art.188 do CC c/c 929 e 930. Seu conceito está no artigo 24 do CP, art. 929, 930 do CC. Ex.: Bebê está caindo da janela e eu que passava na rua arrombo o prédio para salvá-lo. Eu causei um dano a todos os moradores, porém diante de um perigo eminente, eu agi motivado por um estado de necessidade. Você o autor é chamado como causador direto do dano, mas o pai do bebê é chamado à ação de regresso.  Não precisa ser dois processos, quando se trata de ação de regresso o juiz homologa no mesmo processo-economia processual.
	São elementos dos estado de necessidades:
 perigo atual ou iminente;
 causado por outrem;
 inevitabilidade de conduta diversa;
 preservação de um direito próprio, existencial ou patrimonial;
 inexistência de dever jurídico de enfrentar o perigo. 
	O fato praticado em estado de necessidade que implicar em sacrifício de um bem jurídico pertencente a um terceiro, apesar de lícito, haverá o dever de reparar o dano causado.
8 CONCLUSÃO
	O ato ilícito tem papel relevante para o ordenamento que visa coibir a sua prática ao mesmo tempo que regular as suas conseqüências. Os efeitos do ato ilícito vão variar de acordo com o ramo que o disciplina, no âmbito civil, com as transformações ocorridas ao longo dos séculos, a preocupação é com a vítima dos danos provocados pela conduta culposa do ofensor.
	O conceito de ato ilícito civil decorre da lei e não pode ser confundido com a noção de antijuridicidade, mais ampla. Por essa razão, a despeito de novas teorias que buscam reconstruir a idéia de ato ilícito, os seus elementos estão definidos no artigo 186 do Código Civil e continuam sendo a conduta voluntária do agente, comissiva ou omissiva, culposa, o dano causado e o nexo de causalidade entre o dano e a conduta. A conseqüência da prática do ato ilícito é o dever de indenizar que impõe ao ofensor reparar integralmente os danos sofridos pela vítima, seja de ordem patrimonial ou extra patrimonial. 
	A responsabilidade civil consagrou o princípio da reparação integral do dano, e estabelece que a indenização mede-se pela extensão do dano, afastando-se, portanto, do caráter punitivo.
	O ato ilícito, a responsabilidade civil, assim como demais institutos do direito civil, devem ser interpretados à luz da normativa constitucional e sua tábua axiológica, verificando não apenas a estrutura como sua função
	É necessário que o Código Civil brasileiro trate mais especificamente sobre a aplicação de todas as modalidades do abuso de direito, pois os julgados sobre o referido tema se baseiam, quase sempre, na boa-fé objetiva e no escopo de coibir o abuso de direito, sendo, desta forma, um direito muito subjetivo.
	O indivíduo, como convive em sociedade, deve ter seus direitos respeitados, assim como tem a obrigação de limitar suas condutas de forma a não prejudicar direitos de terceiros. 
	Dessa forma, pelo instituto da Responsabilidade Civil, dentro próprio Ordenamento Jurídico, há possibilidade do causador de um dano reparar sua conduta lesiva através da indenização. 
	Portanto, o conhecimento dessas regras é de grande valia para as pessoas, que dia-a-dia amargam prejuízos em função da conduta lesiva de outros indivíduos, e que podem encontrar na Responsabilidade Civil, a chance de ter seus prejuízos devidamente compensados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FARIAS, Cristiano Chaves de. e ROSENVALD, Nelson, Curso de Direito Civil, v.1, 11 edição, 2013, Editora JusPODIVM, Salvador, Bahia. Pág. 686 a 732
NEGREIROS, Teresa. “O princípio da boa-fé contratual”. In: MORAES, Maria Celina Bodin de (Coord.). Princípios do direito civil contemporâneo. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 221-253.
REALE, Miguel. Boa-fé no Código Civil. 2003. Disponível em: http://www.migalhas.com.br/mostra_noticia_articuladas.aspx?cod=2543. Acesso em: 14 out. 2013.
TEPEDINO, Gustavo (Org.). Direito Civil Contemporâneo: novos problemas à luz da legalidade constitucional: anais do Congresso Internacional de Direito Civil-Constitucional da Cidade do Rio de Janeiro. São Paulo: Atlas, 2008, p. 57-95
VENOSA, Sílvio de Salvo, Direito Civil:parte geral, 13 ed, São Paulo:Atlas, 2013. – (Coleção direito civil; v.1) pág. 549 a 563

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