Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
~ ~ DE DIREITO _ DAS OBRIGA OES DE DIREITO _ DAS OBRIGA OES MARIA PAULA GOUVEIA ANDRADE Meslrc cm Direito Assistente Universitária Adv<lga<la PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 2.ª edição (revista e aumentada) l!ti] QUIDJURIS SOCIEDADE EDITORA 2010 Título: Autora: Editora e Distribuidora: Capa: Impressão e acabamentos: Prática de Direito das Obrigações Questões teóricas e hipóteses resolvidas 2:' edição (revista e aumentada) Maria Paula Gouveia Andrade Quid Juris? -Jt· - Sociedade Editora Ld." Rua Sarmento Beires, n." 45-G Apartado 9803 1911-701 Lisboa telef. 21 840 54 H /21 840 54 20 fax. 218405423 e-mail: geral@quidjuris.pt WWW .quidjuris.pt João Carrôlo Gráfica Almondina Depôsito legal n.º 304 714/10 ISBN: 978 - 972 - 724 - 4S9 - 8 >! :lo podem ser reprodw.id.1s ou d.ifuudid.-i.s, por qu:tlquer processo dcctróuico, llK>C:11lÍco 011 fotogrâfico, incluindo fotocópia, qu:úsquer p:Íginas deste livro, sem ;iutoriz:ição d:i cditor:i. Exceptu.-i-sc :i tr:w.scriçáo de curt:is p:iss:igen._~, desde que mcncion:w.do o titulo d.1 obr:i, e os nomes d:i :iutor:i e d..-i editor:i. MARIA PAULA GOUVEIA ANDRADE Mestre c:m Direito Assistente Universitária Advogada PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 2.ª edicão o (revista e aumentada) a!;<">/j Hn•{i ''¾l~ >'/ '<~i!j ',",l ,~; -,-· :::ú Qi:,:- <FAJ QUIDJURIS SOCIEOAOS EOITORA Outras obras da Autora: • ·"Da autorizaçÇ-o para movimentação de contas de depósito à ordem; um pro- blema de responsabilidade civil do comitente I Do contrato de tradução". ELCLA Editora, Porto, 1991 (fora do mercado): • '"Dicionário Jurídico Inglês-Português". (com o Dr. Álvaro Dias Saraiva). ELCLA Editora. Porto. 1991; 2.ª edição, revista e aumentada, ELCLA Editora. Porto, 1998 (esgotado): • ''Dicionário Jurídico Francês-Português". (com o Dr. Álvaro Dias Saraiva). USUS Editora, Lisboa, 1993: 2." edição, revista e aumentada. TEMPUS EDITORES, Lisboa. 1996 (esgotado): • "Algumas considerações sobre o regime jurídico do art. º 134. º do Código Penal", USUS Editora. Lisboa, 1993 (fora do mercado): • ""Da ofensa do crédito e do bom nome- contributo para o estudo do art. º 484. º do Código Civil". TEMPUS EDITORES, Lisboa, 1996 (esgotado): • ''Dicionário Jurídico Francês-Português". QUID JURIS. Lisboa. 2002 (esgotado): • ''Dicionário Jurídico Português-Inglês I Inglês-Português". QUID JURIS, Lisboa. 2003: 3." edição. revista e aumentada, QUID JURIS. Lisboa. 2008: • '"Dicionário Jurídico Português-Francês I Francês-Português". QUID JURIS. Lisboa. 2008: • '"Formulários de Contratos Civis". QUID JURIS, 8." ed. revista e aumentada. Lisboa, 2008: • '"Prática de Direito Administrativo". QUID JURIS. Lisboa. 2008: 2." edição. QUID JURIS. Lisboa. 2009: • "Prática de Direito Penar'. (com o Dr. Jorge Gregório). QUID JURIS. Lisboa. 2008: 2." edição. QUID JURIS. Lisboa. 2009: • "Prática de Direito das Sucessões". QUID JURIS. Lisboa. 2008: 2." edição. QUID JURIS. Lisboa. 2009: • '"Prática de Direito das Obrigações". QUID JURIS. Lisboa. 2008: 2.ª edição. QUID JURIS, Lisboa. 2010. INTRODUÇÃO O Direito das Obrigações enquanto ramo principal do Direito Ci,:il reveste- -se hoje de um.a enorme relevância atenta por um lado a multiplicidade de fontes das obrigações e, por outro, as novas formas negociais "fruto dos tempos" que obrigam a adaptar soluções antigas a novos problemas, rudo determinando o conhecimento da lei, da doutrina e da jurisprudência, sem o qual nada se roma possível. _\ pres<.:"ntC obra surge num contexto de "trabalho em aula" mais não constituindo do que um guia para os Estudantes de Dire1to das Obrigações, \Tisando possibilitar-lhes um estudo acompanhado num.1. óptica mais prática.. que as recentes inovações introduzidas no Ensino C niversitário por forca da Convenção de Bolonha preconizam. Estamos pois perante um "auxiliário de Direim das Obrigações" que reúne questões teóricas, casos práticos e exames e bem assim alguns acórdãos julgados mais emblemáticos, importando salientar que as questões, casos e exames ora apresentados não são todos de autoria da Signatária., circulando muiros ddes no meio académico, e cabendo referir "expressis \Trbis" que a proposra de resposta ou de resolução vertida no presente rexto é dos ensinamentos dos _\urores indicados na Bibliografia mencionada a final ou retirada da Jurispru- dência nb âmbito de trabalho de recolha e de pesquisa a propósito de casos pretéritos ou pendentes, sendo que quando possível por ser conhecida se indicou a fonte. Assim e como o seu próprio nome indica, os presentes ''casos pr:iricos·'' não são mais do que 1sso: questões e casos práticos daborados t.: crarados a propósito da matéria preleccionada nas aulas de Direito das Obrigações ministradas pela Signatária, primeiro na Faculdade de Direito e, mais reccnrc:- mente, na Universidade Lusófona em sede de curso de pós-graduação. Trata-se de material complementar de apoio aos .:\lunos não dispens:J.rldo portanto, nem substiruindo, os habituais elementos de esrudo que devem fazer s PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÓES - OUESTÓES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS parte e acompanhar qualquer esrudantc do Ensino Superior: os manuais aco n- selhados na Bibliografia., os elementos e apontamentos retirados da exposiç ão oral efecruada nas aulas, as monografias específicas existentes sobre a gener a- lidade dos temas \·ersados no programa da cadeira: deverão ser apenas um e só wn, e nunca o único, material de apoio a que os esrudames devem recorr er para preparare;:n as suas avaliações._,\ sua finalidade não é só essa., nem seque r essa é a sua missão principal. Uma última palavra em sede de razão de ordem: o Direito das Obrigações é um mundo em constante c\·olução e cumpre reconhecer que um só volum e não permite abarcar todas as questões teóricas que suscita. Optámos portanto por tratar daquelas que mais importância têm,. quer em sede teórica, quer do ponto vista prático: contratos e responsabilidade conr.ratu al, e os diversos tipos de incumprimento, e a responsabilidade extracontratua l. .-\bordam-se sumariamente outros institutos do Direito Obrigacional. Também em sede de Jurisprudência sekccionada a opção foi a mesma., versando os acórdãos seleccionados sobre a responsabilidade civil. _,\ .-\utora, Lisboa,Janeiro 2010. 1. QUESTÕES TEÓRICAS RESOLVIDAS CAPÍTULO 1 PARTE GERAL: NOÇÕES GERAIS: OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO, ELEMENTOS DAS OBRIGAÇÕES, EFICÁCIA EXTERNA DAS OBRIGAÇÕES; AUTONOMIA PRIVADA 1. Defina "crédito", "débito", "prestação e "obrigação". Uma obrigação estabelece-se entre credor e devedor. Ao direito do credor chama-se crédito, e é o direito de exigir e receber a prestação (que é o comportamento devido). O devedor tem um débito (ou dívida. quando consista em entrega de dinheiro). Ao deoito também se chama obrigação. sendo que este termo designa por vezes o conjunto do crédito e do débito (art.0 397.º). 2. O que é uma "obrigação" (art.º 397.º CCiv.)? É o vínculo jurídico pelo qual uma pessoa deve realizar um acro no interesse de outra. que tem o direito de lhe exigir essa realização e de lhe reclamar indemnização por danos sofridos em caso de incumprimento. 3. Quais os vários sentidos do termo "obrigação"? O termo '"obrigação"' pode ser usado em diversos sentidos. Assim: A) ENQUANTO DEVER JURÍDICO. é a necessidade imposta pelo direito objectivo a uma pessoa de observar determinado comportamento. Ao dever jurídico que corresponde o direito de exigir chama-se 9 10 PAÁT\CA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTôES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS obrigação civil e o detentor desse direito pode obter junto dos tribunais ou autoridades subordinadas a estes providências coercivas aptas a satisfazero seu interesse. Tem como reverso, no lado activo, um direito subjectivo "stricto sensu ", que se traduz no poder de pretender ou exigir de outrem um comportamento positivq (acção) ou negativo (abstenção ou omissão). O dever juridico que respeita a um direito de pretender diz-se obrigação natural; não sendo esta exigível no tribunal, pode contudo o credor conservar a prestação devida a título de pagamento. ou seja: o credor possui a "'soluti retentio". não podendo pois o devedor que tenha cumprido voluntariamente a prestação gozar da "conditio indebiti" (não tem a possibilidade de repetir o indevido) (art.º' 304.0 , 402.º, 403.º, 476.º, 817.0 e 1245.º CCiv.). Os direitos subjectivos propriamente ditos ou "stricto sensu" podem ainda ser: a) Direitos absolutos: direitos os quais actuam sobre todas as pessoas. tendo efeitos "erga ornnes", independentemente da existência de uma relação juridica em particular. sendo opo- níveis contra todos, a estes correspondendo uma obrigação passiva universal Em caso de violação de um direito abso- luto. o lesante fica obrigado nos termos da responsabilidade extracontratual (excepruando nos direitos pessoais). Como exemplos de direitos absolutos encontramos os direitos de personalidade. os direitos reais, os direitos de família (excepto quando não sejam poderes-dever). b) Direitos relativos: direitos que apenas actuam contra pessoas certas e determinadas, tendo como tal efeitos "inter partes", sendo apenas oponíveis a um círculo delimitado de pessoas (aos dois contraentes, num contrato bilateral). Trata-se de direitos obrigacionais e em caso de violação de um direito relativo, o lesante constitui-se em responsabilidade contratual. Como exemplos temos os direitos de crédito. s) EM SENTIDO TÉCNICO: diz-se obrigação a relação juridica por virtude da qual uma ou mais pessoas podem exigir de outra ( ou outras) a realização de uma prestação (art.º 397.º CCiv.). Neste sentido. o termo obrigação abrange não apenas o lado passivo, o PARTE GERAL: NOÇÕES GERAIS; OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO dever de prestar, como o poder de exigir a prestação conferido à outra parte, sendo que quando se quer distinguir entre os dois lados da relação ( que são duas faces da mesma realidade) chama- -se crédito (direito de crédito) ao seu lado activo e débito (dívida) ao lado oposto. À pessoa que tem o poder de exigir a prestação dá-se o nome genérico de credor; à outra. sobre a qual incide o correlativo dever de prestar. chama-se devedor. (fonte: www.dgsi.pt). 4. O que é uma "obrigação natural" (art.º 402.º CCiv.)? Há obrigação natural "quando os tribunais entendem que uma conside- ração de moralidade merece ser satisfeita e o direito não a consagrou. A obri- gação natural compreende tudo o que não é nem uma mera obrigação civil munida de acção, nem uma pura liberalidade." (Vaz Serra, apud "Obriga- ções Naturais", in BMJ, 53-13. citando Planial. Riperte Radouant. "Obligations -2.0 • VII, ''fraíté Pratique de Droit Civil Français" n.º 983). São pressupostos das obrigações naturais o basear-se a obrigação num dever moral ou social e o seu cumprimento corresponder a um dever de justiça. É requisito negativo a sua não coercibilidade. Da obrigação natural, que não se limita a obrigações pecuniárias, mas a qualquer tipo, ainda que não remuneratório, estão arredadas as disposições das obrigações civis conectadas com a realização coactiva da prestação. Trata-se do "cumprimento ou reconhecimento voluntário - efectuado em obediência a um dever moral e de justiça, e não com o intuito de fazer uma liberalidade. Contudo, um escrúpulo de consciência meramente subjec- tivo não bastará para justificar uma obrigação natural. Seria ir demasiado longe. Importa que esse dever de consciência corresponda às concepções sociais, que se mostre objectivamente aprovado e tido como normal. Em re- sumo: compete à jurisprudência, de harmonia com as concepções predomi- nantes e nas circunstâncias concretas de cada situação, averiguar primeiro, se existe um dever moral ou social e, seguidamente, se esse dever moral ou social é tão importante que o seu cumprimento envolve um dever de justiça." (in "Direito das Obrigações", 10! ed., pág. 176). (fonte: www.dgsi.pt). 11 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBR!GAÇÔES - OUESTOES TEÓRICAS E HIPOTESES RES OLVIDAS 5. O que é e em que consiste a "repetição do indevido" (art. º 476.º CCiv.)? é o mesmo que a "repetição da prestação"? e a "não repetição do indevido" (art.º 403.º CCiv.)? Nos termos do art.º 476.º CCiv entende-se por "'repetição do indevido" a obrigação de restituição que existe quando alguém recebe uma prestação que lhe não era devida; sentido idêntico deve ser dado à "repetição da pres- tação", expressão utilizada nos casos em que haja lugar a reembolso do indevi- damente pago já a "não repetição do indevido" ocorre. a propósito das obriga- ções naturais. quando o devedor cumpriu espontaneamente, não podendo pois pedir de volta aquilo que pagou. (fonte: www.dgsi.pt). 6. Quais os elementos constitutivos da relação obrigacional? São os seguintes os elementos constitutivos da relação obrigacional: • Os sujeitos • O objecto O vínculo jurídico 1) Os sujeitos são os titulares, activo e passivo, (ou simultaneamente activo e passivo quando se trata por exemplo de obrigações nascidas de um contrato bilateral) da relação. Temos assim de um lado o credor e do outro o devedor: o credor é a pessoa a quem se proporciona a vantagem resultante da prestação. o titular do interesse (patrimonial, espiritual ou moral) que o dever visa satisfazer, ou seja: o titular do direito à prestação, o sujeito activo da relação de crédito; o devedor, como sujeito passivo da relação, quem está adstrito ao cumprimento da obrigação, é a pessoa sobre a qual recai o dever (específico) de efectuar aprestação. "Só o credor tem direito à prestação, e esta só do devedor pode ser exigida." A obrigação assume portanto um carácter relativo na medida em que vincula apenas determinadas pessoas, enquanto os direitos reais e os direitos de personalidade (como direitos absolutos que são) valem em relação a círculo indeterminado de pessoas. Pode todavia ocorrer que a pessoa do credor não seja determinada, mas somente determinável no momento em que a obrigação -12. PARTE GERAL: NOÇÕES GERAIS: OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO se constitui (art.º 511.º), como se sucede nas promessas públicas (art.º' 459.º ss.), nos contratos para pessoa a nomear (art.~ 452.º ss.), nos títulos ao portador e, em certo sentido na herança a deixar a nascituro. 2) O objecto: a prestação debitória O objecto da obrigação é a prestação devida ao credor. é o meio que satisfaz o interesse do credor, que lhe proporciona a vantagem a que ele tem direito. Regra geral, a prestação consiste numa actividade ou numa acção do devedor (entregar a coisa, realizar um obra, transmitir um crédito, patrocinar alguém numa causa), podendo todavia consistir numa abstenção, permissão ou omissão ( obrigação de não abrir estabelecimentos de certo ramo de comércio na mesma rua ou na mesma localidade; obrigação de não usar uma coisa recebida em depósito). a) O objecto imediato da obrigação consiste na actividade devida (a entrega da coisa, na cedência dela, na sua restituição. etc.). b) O objecto mediato da obrigação é a própria coisa, em si mesma considerada, ou seja, o objecto da prestação. por exemplo o carro, as jóias etc. 7. O que é o "Vmculo Obrigacional"? É o nexo que interliga os poderes do credor ao devedor. 8. O que é a ''prestação"? Entende-se por prestação a conduta ou comportamento humano a que o devedor está obrigado, o comportamento devido; num outro sentido (art.º 78 l.º CCiv.) é cada uma das fracções ou parcelas em que a prestação debitória se encontra dividida, cada uma com vencimento diferente, a fim de facilitaro cumprimento ao devedor. 9. Em que consiste a ''autonomia privada"? A autonomia privada traduz-se no poder criativo dado ao particular de se vincular em disciplina dos seus interesses. 13 PRATICA DE DIRE!TO DAS OBAIGAÇÔES - QUESTÕES TEOR!CAS E H!POTESES RESOLVIDAS É o poder "de auto regulamentação de interesses e relações exercido pelo próprio titular deles" a ser exercido nos linútes e com as finalidades as- sinadas pela junção social do contrato (Betti, "Teoria Geral", pág, 97), Desdobra-se em liberdade de celebração ou conclusão dos contratos (liberdade a contratar, como faculdade de realizar ou não determinado con- trato) e liberdade de.modelação do conteúdo contratual (liberdade contratual), perspectivando a escolha do tipo de negócio atinente à melhor e mais eficaz satisfação dos seus interesses e à maneira de preencher o seu conteúdo con- creto. Por isso o legislador atento à evolução histórica e à relevância prátíca da dinâmica da vida acolhe certos negócios e sua regulamentação em normas jurídicas. Cria tipos de negócios. oferecendo o seu regime legal à iniciativa das partes. Por isso tradicionalmente diz-se que os contratos típicos seriam aqueles para os quais existe uma disciplina legal e os aúpicos aqueles onde tal dis- ciplina não existe. Estes seriam construídos pela liberdade das partes, tradutora da sua iniciativa económica - art.0 405.º CCiv .. 14 Da leitura deste art.0 405.º resultam quatro faculdades: i) livre opção de escolha de qualquer tipo contratual. com submissão às suas regras imperativas- l . .a. parte do n. 0 l; ii) livre opção de celebrar contratos diferentes dos típicos, desig- nados por contratos aúpicos - 2.' parte do n.º 1; iii) possibilidade de introdução no tipo contratual de cláusulas defen- sivas dos interesses das partes, mas que não quebram a função sócio económica assumida pelo respectivo tipo-3.' parte do n.º l; Ou seja: cláusulas que "não prejudicam a causa do contrato ti pico (isto é: a função económico-social própria do contrato que a lei tem diante dos olhos ao fixar o seu regime) em que ele se integra" (A.Varela, "Centros Comerciais", 1995, pág. 47), poder este qualificado por Gorla como o '·poder do credor in fieri" ("li potere della volontá nella promessa com negozio giurídico", Bolonha, 1971, págs. 306 e 307); PARTE GERAL: NOÇÔES GERAIS: OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO iv) reunião no mesmo contrato de dois ou mais contratos úpicos ··sem embargo da eventual existência de normas imperativas pró- prias, no regime de ambos ou de um deles apenas" (A. Varela, ob. cit., pág. 46 e na globalidade das anteriores considerações: Rev. Leg. Jurisp. 128, págs. 370 ss.). Estes contratos mistos (art.º 405.º/2) podem, assim, dentro dos qua- drantes vertidos no art.º 405.º/L ser nominados ou inominados, consoante ··as tais regras dos dois ou mais negócios típicos. que os contraentes reúnem na mesma convenção negocial unitária, respeitam a causa (stricto sensu) de um dos contratos típicos ou escapam. na sua conjunção, à causa própria de cada um deles" (A. Varela. ob. cit.. pág. 47). É sabido que, ao contrário do Italiano, o CCiv. Português não inclui expressamente a ··causa"' entre os requisitos do contrato. Aqui a discutidíssima noção de "causa" foi primeiramente acolhida através daconcepção subjectivista francesa, como reveladora da posição das partes ao contratar. passando depois pela recepção objectivista germânica. como função económico-social determinante ao sancionamento da vontade das partes pelo Direito. Entre nós. M. Andrade considera a causa de um contrato um --conceito dispensável" e para M. Cordeiro "a causa do contrato não tem lugar no Direito Civil" ("Obrigações". vol. I. pág. 527). Não acompanhamos estas considerações: poderá ser uma posição subjectiva de causa, norteada por um subjectivisrno úpico: fim proporcionado pelo tipo contratual utilizado emergente da lei. como propugna Betti. "Teoria". vol. II. págs. 373 ss., ou poderá ser uma posição objectiva de causa: interesse prosseguido pelo negócio jurídico. atendível pelo Direito. como defende Castro Mendes ou, ainda, uma posição eclética: as partes ao escolherem determinado tipo contratual integram, no seu processo volitivo. a causa função tutelada pelo Direito (G Telles, "Manual". págs. 253 ss.). sendo esta a posição que tem vindo a ser entendida como a mais defensável. Assim. e concluindo. na estrutura do negócio jurídico temos de con- siderar a vontade, a declaração e a causa, entendida esta como função do ne- gócio, que se distingue da declaração. exprimindo a força dinâmica do acto, 15 PRÂTICA DE DIREITO DAS OSR!GAÇOES - OUESTÓES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS uma força que, embora gerando-se nele, se desenvolve e se realiza em mo- mento posterior, acabando por adquirir vitalidade autónoma e valor objectivo no mundo das relações sociais. {fonte: www.dqsi.pt). 10, Defina "eficácia de um contrato" (art. º 406.º CCiv.). O contrato deve ser pontualmente cumprido, só podendo modificar-se ou extinguir-se por mútuo acordo das partes ou nos casos previstos na lei. Em relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos casos e termos especialmente previstos na lei. 11. Diga o que se entende por "eficácia relativa" ("eficácia obri- gacional"). A eficácia relativa dos contratos consiste no princípio segundo o qual e como regra os efeitos dos contratos se restringem às partes neles. entendidas estas como os contraentes originários. os seus herdeiros ou os seus sucessores. 12. Reporte-se aos direitos do credor e à eficácia externa das obrigações. O credor tem um direito subjectivo: o crédito. Quem viola ilicitamente um direito subjectivo alheio fica obrigado a indemnizar pelos danos a que der origem (art.º 483.º). Logo, um terceiro que viole o crédito, impedindo o credor de vir a receber a prestação a que tem direito, terá de indemnizá-lo nos termos desse art.° 483.°. Acresce que, se o terceiro incitar ou apoiar o devedor no incumprimento, esse terceiro será instigador ou cúmplice, e estes também são obrigados a indemnizar (art.º 490.°). A teoria da eficácia externa defende a responsabilidade civil de terceiros que lesem o credor conhêcendo a existência do crédito. Com efeito, o credor tem um direito subjectivo, tem uma posição de vantagem protegida pelo sistema jurídico, sendo que o ordenamento lbe reconhece a possibilidade de obter coercivamente a própria prestação devida (art.º' 817.° e 827.° ss.), e -16 PARTE GERAL'. NOÇÕES GERAIS: OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO não só um sucedâneo pecuniário. Deste modo, a posição do credor não é a de quem tem uma simples expectativa de ganho económico, mas sim a de quem tem um bem juridicamente protegido, pelo que a existência desta posição do credor tem de ser reconhecida por todos, o que implica que todos devem respeitá-lo, ou seja: abster-se de interferir sobre a prestação do devedor. sob pena de responsabilidade. 13. Distinga "direitos de crédito" e "direitos reais". Esta questão já não respeita ao problema da eficácia externa das obrigações, embora esteja com ela relacionada. É preciso ter em conta que mesmo quem defenda a eficácia externa continuará a reconhecer que existem importantes diferenças práticas ( ou seja: de regime) entre os direitos de crédito e os direitos reais. Em síntese, são as seguintes: Há meios de protecção ( contra terceiros) específicos dos direitos reais ou, pelo menos, dos direitos absolutos, sem paralelo no direito de crédito, como sejam a acção de reivindicação (art.° 1311.°), a acção negatória (sem artigo específico) e as acções constitutivas em que se exercem direitos reais de aquisição (art." 1410.° e 413.°). Esses meios de tutela específicos dos direitos reais não dependem de culpa. Pelo contrário, a responsabilidade civil depende normalmente de culpa (art.° 483.°). Portanto,mesmo quem defende a eficácia externa das obrigações só a defende no caso de haver culpa do terceiro. Não esquecer, por outro lado que, quando se pretende proteger o titular de um direito real através da responsabilidade civil, esta responsabilidade civil também depende de culpa (art.° 483.°). Mesmo em matéria de responsabilidade civil, parece haver uma dife- rença entre os direitos reais e os direitos de crédito. É que o lesante de um direito real será responsável ainda que ignore a existência desse direito real, desde que a ignorância seja negligente. Pelo contrário, um terceiro que lese o crédito só será responsável se efectivamente conhecer o crédito. 17 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÔES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPO TESES RESOLVIDAS 14. O "contrato a favor de terceiro" ( art."' 443.º ss. CCiv.) constitui excepção ao princípio da relatividade dos contratos? Pode afirmar-se que o contrato a favor de terceiro constitui uma excep- ção ao princípio da relatividade dos contratos, entendido este no sentido de que do contrato apenas resultam direitos e deveres específicos para as partes (art.º 406.º/2 CCiv.). Na verdade, o terceiro não é parte e, ainda assim, adquire logo o direito, embora possa depois rejeitar a promessa ( com a consequente extinção do seu direito), em nome do princípio invito beneficium non datur. Contudo, o contrato não deixa de ser oponível a terceiros, como qualquer contrato: terceiros devem abster-se de interferir com o contrato, podendo ser responsabilizados se, com conhecimento dele, interferirem ( segundo a tese da responsabilidade civil de terceiro por lesão do direito de crédito). Esta posição diferencia pois relati vida de e oponibilidade a terceiros dos contratos e dos próprios direitos de crédito deles decorrentes. Para a tese de que a rela- tividade do contrato significa que o mesmo é inoponível a terceiros, não pro- duzindo efeitos em relação a terceiros (nem em termos de direitos nem em termos de deveres). também haverá aqui excepção ao princípio da relatividade dos contratos. No contrato a favor de terceiro, o terceiro não é parte no contrato; no contrato para pessoa a nomear (art." 452.º e ss. CCiv.), o terceiro, quando a sua nomeação seja eficaz, vem a assumir a posição de parte (art.º 455.º/l CCiv. ); no contrato para pessoa a nomear o objectivo não é atribuir um bene- fício ao terceiro a nomear, razão por que, para este, a aquisição de um direito pelo contrato não opera automaticamente, dependendo antes da sua vinculação voluntária, por procuração ou ratificação (art.º 453.º/2 CCiv.), ao contrário do que sucede no contrato a favor de terceiro (art.º 444. 0/1 CCiv.). (fonte: www.dgsi.pt). 1S CAPITULO2 FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERÊNCIA, NEGÓCIOS UNlLATERAIS, GESTÃO DE NEGÓCIOS E ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA 15. O que são "Fontes de obrigações"? São os factos jurídicos de onde nasce o vínculo obrigacional (as principais são os contratos e a responsabilidade civil). 16. Refira-se, genericamente, aos contratos enquanto fonte das obrigações. Contrato é o acordo pelo qual '·duas, ou mais, partes ajustam reciproca- mente os seus interesses, dando-lhes uma regulamentação que a lei traduz em termos de efeitos jurídicos." Trata-se, pois, de um acto mediante o qual se cria um negócio jurídico entre as partes. de acordo com as respectivas vontades. Em termos técnicos, o contrato é um mecanismo de auto-regulamen- tação de interesses particulares, reconhecido e autorizado pela lei, que lhe confere uma força vinculativa. Desde que não viole qualquer dispositivo legal, o contrato constitui ·'Lei entre as partes". Depois de celebrado, só poderá ser modificado havendo acordo dos contraentes ou nos casos expressamente admitidos na lei. Na medida em que se trata de uma forma privativa de criação de obri- gações. estabelecem-se alguns princípios que regulam o seu funcionamento, 19 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBR!GAÇÔES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS de entre os quais surgem dois que assumem uma importância acrescida: o princípio da unidade e o da liberdade contratual. Dito de outra forma, e no que respeita a contratos. tudo o que for ne- gociado e estipulado entre as partes terá que ser objecto de apenas um contrato, impedindo-se deste modo que um determinado negócio seja tratado em dois ou três contratos distintos: tudo deve ser regulado num só contrato. Assim, caso seja necessário proceder a eventuais alterações do que tinha sido inicial- mente estabelecido tal só será possível através de aditamentos, que embora introduzam alterações no contrato inicialmente celebrado, têm efeitos retro- activos, não afectando nem a validade nem os efeitos que, entretanto, já se verificaram. O art.º 405.º CCiv. enuncia o princípio da liberdade contratual como a faculdade que as partes têm, dentro dos linútes da lei, de fixar livremente o conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos prescritos no Código ou incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver. Este princípio divide-se em duas vertentes: i) a liberdade de celebração (as partes são livres de aceitar submeter- -se ao contrato): e ii) a liberdade de estipulação (as partes são livres de negociar os diversos aspectos concernentes ao contrato em questão): é aliás esta característica que permite às partes celebrarem contratos mistos ( entendendo-se por contrato misto um só contrato com elementos próprios de mais do que um contrato típico) e uniões de contratos (nas quais existe uma pluralidade de contratos, típicos ou não, articulados entre si por força de uma relação de interdependência que preside ao modo como a sua execução terá, ou deixará de ter, lugar). Uma vez validamente celebrado, o contrato tem força obrigatória entre as partes: "pacta sunt servanda". Ou seja: nenhuma das partes se pode afastar unilateralmente daquilo a que se obrigou; e cada uma deve cumprir pontual- mente as suas obrigações (art.º 406.º/l CCiv.). Os contratos têm eficácia obrigacional e eficácia real, para além de poderem ser fonte de relações de farm1ia e de direitos sucessórios. lo FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERENCIA Os contratos constituem, modificam ou extinguem relações obriga- cionais. Mas, para além disto, a constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada dá-se por mero efeito do contrato (eficácia real - art.º 485.º CCiv.). Contudo, o princípio da transferência imediata do direito real pode ser afastado pelas partes, na medida em que o vendedor pode reservar aproprie- dade da coisa vendida durante um certo período, normalmente até ao cumpri- mento integral das obrigações que recaiam sobre a outra parte (pagamento do preço, prestação de garantias, etc.). A cláusula de reserva de propriedade é particularmente frequente nas vendas a prestações (art.º 409.º CCiv.). Para que um contrato seja validamente celebrado é necessário que se verifiquem determinados requisitos de validade, ou seja. realidades sem as quais o contrato existe, mas não é válido, antes é nulo ou anulável. Existem dois tipos de requisitos de validade: os de ordem material (que asseguram a validade substancial do negócio que se pretende celebrar): e os de ordem formal (que determinam a validade do modo como o negócio é celebrado, ou seja, como tem que se apresentar frente aos outros). São requisitos de validade material: A) capacidade e legitimidade das partes: para poderem ser parte de uma relação jurídica, os sujeitos têm que ter capacidade (de exercício) para tal, ou não a tendo, têm que supri-la, nos termos e formas legalmente previstas. De igual modo, para realizar determinado acto jurídico - contrato - têm as partes que deter uma posição pessoal concreta em relação ao objecto do negócio, que justifique que o sujeito em questão se ocupe daquele objecto. Essaposição, designada por legitimi- dade, é o poder que alguém tem de celebrar determinado contrato (v.g.: compra e venda de um apartamento), derivado do facto de lhe pertencerem os interesses que serão matéria de tal contrato. A ilegitimidade, no negócio jurídico, conduz à nulidade (absoluta) do negócio, mas pode ser resolvida pela aquisição superveniente da legitimidade. A legitimidade pode ser: i) directa (resulta de uma relação entre a pessoa e o direito ou vinculação de que o negócio jurídico trata 21 PRÁTICA DE DIRE!TO DAS OBAIGAÇóES - QUESTÕES TEÓR!CAS E HIPOTESES RESO LVIDAS (v.g.: A é proprietário de um carro e vende-o); ii) ind irecta (decorre de uma relação entre o autor do negócio e de um a pessoa dotada de legitimidade. (v.g.: A tem uma casa e encarrega B d e a vender); B) o objecto negocial: nos termos do art.º 280.º CCiv .• o objecto negocial tem que preencher determinados requ isitos para que seja susceptível de ser alvo de uma contratualiza ção. A saber: i) tem que ser física e legalmente possível; ii) será lícito; iii) terá que ser determinável; iv) não poderá contrariar a ordem pública: v) deverá ser conforme aos bons costumes. Elemento essencial do contrato são as declarações das partes. porquanto são estas declarações que constituem o contrato . A declaração contratual divide-se nos seguintes elementos: i) a decla- ração propriamente dita, ou seja: o comportamen to; ii) o querer tal compor- tamento com sentido contratual e com os resulta dos que lhe são atribuídos. A declaração expressa é aquela que é feita por qua lquer meio directo de expressão da vontade: o destinatário da pro posta contratual escreve a declarar que a aceita. A declaração tácita é aquela que se deduz de fa ctos que. com toda a probabilidade, a revelam. Nos termos do art.º 218.º CCiv .. o silêncio não v ale como declaração negocial, a não ser que esse valor lhe seja atribuído po r lei, convenção ou uso. Portanto, se alguém recebe um livro em casa, com a indicação de que se nada disser dentro de um prazo de uma semana, se entenderá que o pretende comprar, o silêncio do destinatário não valerá c omo aceitação: ··quem cala não consente". (fonte: www.dgsi.pt). 17. Defina "Sinal" (art.º 442.º CCiv.) É a coisa entregue a um dos contraentes como garantia ou adiantamento do cumprimento das suas obrigações, conferindo maior segurança à efectiva- ção do negócio jurídico, assegurando-se, com a entr ega do sinal, o pontual 2Z FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFE RENCIA cumprimento das obrigações. O não cumprimen to pela parte leva à perda do sinal e confere a esta, no caso de incumprimento p ela contraparte. a restituição do sinal em dobro. 18. Defina e caracterize sucintamente as "prefe rências" (art." 414. º ss. CCiv.). À convenção pela qual alguém assume a obrigaç ão de dar preferência a outrem na venda de determinada coisa chama-s e pacto de preferência (art.º 414.º CCiv.). Ou seja: pacto de preferência é o co ntrato pelo qual alguém assume a obrigação de, em igualdade de condi ções. escolher determinada pessoa (a outra parte ou terceiro) como seu contr aente. no caso de se decidir a celebrar certo negócio. Na orientação mais autorizada, as preferências integra m-se na categoria de direitos a que os nossos autores têm chamado , por influência da doutrina alemã, direitos reais de aquisição, o que signifi ca tratar-se de direitos "que conferem aos respecti vos titulares o poder de adqu irir sobre determinada coisa, quando ocorrem outros pressupostos, um direit o real de gozo .. (Vaz Serra. RLJ. ano 103, págs. 471, nota 1: A.Varela, rev. cit., págs. 476; Revista dos Tribunais, ano 87. págs. 360; Acs. do S.T.J., de 2 7-10-1972. BMJ 220/163 e de 8-1-1974, in BMJ., 233/190). Os direitos legais de preferência conferem ao t itular a faculdade de, em igualdade de condições, se substituírem a q ualquer adquirente da coisa sobre que incidam. em certas formas de alienaçã o (venda. dação em cumpri- mento de prédio sujeito a preferência). Com essa finalidade, o obrigado à pre- ferência deve comunicar ao titular do direito o propósito de alienação e as cláusulas do respectivo contrato (art. 0 416.0 /1 CCiv.) e se o não fizer e. entretanto, se consumar a alienação o preferen te fica com a faculdade de. dentro de certo prazo (seis meses) fazer valer o se u direito contra o adquirente (art.º 1410.º/l CCiv.). A preferência nasce para o seu titular ''logo que s e efectua o contrato", radicando-se na pessoa a quem assiste. Isso mesmo resulta da obrigação imposta ao ve ndedor de comunicar ao titular do direito o projecto de venda e as cláu sulas do respectivo contrato (art.º 416.º/l CCiv.). 23 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS Os pactos de preferência despidos de eficácia real provam-se por docwnento escrito as-sinado pelo obrigado. O terceiro que adquiriu a coisa objecto da preferência constituir-se-á na obrigação de indemnizar o preferente? Na preferência legal o preferente beneficia, além do direito de crédito do comportamento do obrigado à preferência, de um direito potestativo que lhe permite fazer seu o negócio de alienação realizado com violação do direito de preferência. Por outro lado o art.º 421.0 /1 prescreve que: o direito de preferência pode, por convenção das partes, gozar de eficácia real se, res- peitando a bens imóveis ou a móveis sujeitos a registo, constar de escritura pública ou docwnento particular, nos termos da lei, e estiver registado nos termos da respectiva legislação. Tal como no direito legal de preferência, no direito convencional, o preferente, efectuada a alienação, pode substituir-se ao adquirente, desde que o direito de preferência respeite a imóveis ou móveis sujeitos a registo e respeite as imposições formais. bem como tenha sido registado nos termos das disposições do Código do Registo Predial. É a eficácia real do direito convencional de preferência que, assim. pode ser oposto a qualquer adquirente da coisa. No direito convencional de preferência sem eficácia real, o preferente tem apenas wn direito de crédito cuja violação dá exclusivamente direito a ser indemnizado dos prejuízos. Mas poderá, pela não execução de wn contrato, haver responsabilidade de um terceiro cúmplice do devedor? Esta questão coloca-se nos pactos de preferência com eficácia real ou meramente obrigacional. A problemática desta questão prende-se com os chamados efeitos externos das obrigações. Não obstante o preceituado no art.º 483.º CCiv., Vaz Serra escreve: poder-se-ia dizer que o terceiro. que concorreu conscientemente para avio- lação do pacto de preferência se constitui em responsabilidade, pois infringiu o dever de que nada se deve fazer que impeça o normal cwnprimento das obrigações contratuais, mas isso só será assim quando o terceiro não exerce um direito ou um poder legal, o que não acontece no caso em questão, pois todas as pessoas não exceptuadas na lei podem comprar ou vender. Só o terceiro de má fé pode ser responsável pela indemnização. 2.4 FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO OE PREFERÊNCIA Vaz Serra continua a ensinar que: Em princípio, conquanto possa parecer razoável que se admita wn direito de indemnização do credor da preferência contra o terceiro conhecedor dela. esse direito não se afigura de aceitar, uma vez que os direitos de crédito só valem, em princípio, contra o devedor. O credor da preferência só tratou com o devedor dela, não com o terceiro, es- tranho à convenção, e a quem os direitos obrigacionais daquele não vinculam. O terceiro nada tem a ver com o pacto de preferência. Comprando usa da sua liberdade de adquirir. que esse pacto não limita, por lhe ser alheio. Ainda que ao comprar conhecesse o direito de preferência, não tinha que se embaraçar com ele, pois só o devedor assumira a obrigaçãode respeitar ("Obrigação de Preferência", BMJ 76). Por sua vez. Manuel de Andrade escreve que: A responsabilidade do terceiro comprador só poderia ter justificação aceitável nos casos em ele tenha procedido de modo particularmente escandaloso para a consciência jurídica dominante. E o expediente técnico que a poderá legitimar em face do direito positivo será o abuso de direito. Parece assim que será de admitir a responsabilidade de terceiro se este adquiriu a coisa objecto da preferência com a intenção de impedir o exercício daquele direito pelo seu titular, pois bem se pode dizer que ele procedeu com abuso de direito - art.º 334.º CCiv. ("Teoria Geral das Obrigações", 3.' ed., pág. 62). No pacto de preferência, o obrigado à preferência está adstrito a uma prestação que consiste em escolher o titular do direito de preferência para contraparte, caso decida efectuar o contrato a que a relação de preferência se reporta (e o preferente se disponha a contratar nos termos em que terceiro o faria). Sendo o contrato de preferência limitado à celebração pelo obrigado de determinado negócio jurídico com relação a certos bens ou interesses - aqueles que constam do pacto - não existe a obrigação de comunicar à contraparte o projecto de negócio, nem se o contrato que o obrigado realizar for outro que não o constante do contrato de preferência, nem se os bens forem diversos dos contratualmente definidos. No âmbito meramente obrigacional, ··se o obrigado à preferência vender a coisa a terceiro sem notificar a outra parte ou apesar desta ter em tempo 25 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HlPOTESES RESOLVIDAS declarado preferir, incorrerá perante ela em responsabilidade contratual, devendo indemnizá-la pelos prejuízos que lhe advierem da violação do pacto. O preferente tem de se contentar com essa indemnização, não podendo chamar a si a coisa alienada". Com efeito, ··o pacto de preferência só constitui um direito real de aquisição quando !bê foi conferida eficácia real; caso contrário, esse pacto tem natureza meramente obrigacional, havendo apenas direito a indemnização por perdas e danos em caso de inobservância do mesmo". A comunicação para preferência é um dever legal ou convencional que se espera que as partes cumpram bem na sua vida normal, sem terem de indacrar sobre os meandros das discussões doutrinais ou jurisprudenciais a o esse respeito. Como sustentou Oliveira Ascensão, não se devem impor formalismos com que as pessoas normais não devam contar e que, por isso, provavelmente não irão cumprir. Se alguém está obrigado a dar preferência quando pretenda vender, o que tem de fazer, na leitura de uma pessoa normal ( cfr., aliás, o paralelo com as regras da interpretação negocial do art.º 236.º), é dar ao preferente a oportunidade de preferir antes dessa projectada venda. Exigir mais do que isso seria criar "'insegurança jurídica'', ou seja, seria potenciar o aumento do número de litígios e de soluções judiciais inesperadas no momento em que se agiu, tendo os sujeitos agido com normalidade e confiando na correcção jurídica do seu comportamento, i.e.: em direito privado, tendo agido de boa fé. A tese de que o obrigado à preferência deveria informar o preferente da identidade do terceiro "porque isso pode interessar ao preferente" é uma tese que prova demais, já que também pode interessar ao preferente saber coisas acerca do terceiro, sendo certo que o prazo do art.º 416.º/2 não chega para que o preferente o investigue por si. Nas preferências legais quanto a compras e vendas, a finalidade da lei não é proteger o preferente contra a possibilidade de surgirem pessoas menos recomendáveis na relação de que nasce a preferência. Basta pensar que a lei dá preferência na venda, mas não, p. ex., no arrendamento ou noutras formas de fazer entrar terceiros naquela relação. As finalidades da lei são facilitar o acesso de certas pessoas à propriedade (caso dos arrendatários), propiciar a extinção de situações objectivas potencialmente litigiosas ou facultar que a propriedade sobre certos bens chegue a entidades especialmente vocacionadas 2.G FONTES DAS OSRIGAÇOES: CONTRATOS, CONTRATO•PROMESSA, PACTO DE PREFERENCIA (v.g.: em certos direitos de preferência a favor de entidades públicas). Todas estas finalidades legais são absolutamente alheias à identidade do comprador projectado. Uma das poucas excepções a isto será a do art. 0 1409.º. O problema do conteúdo da comunicação para preferência insere-se no tema geral das informações devidas no âmbito do direito privado. Nesta matéria. rege sobretudo a cláusula geral da boa fé, é ela que deve reger o comportamento das partes. Basta esta referência à boa fé para concluir que os formalismos devem aqui ser limitados. Além disso, o próprio preferente está obrigado a agir de boa fé. Ora, parece uma exigência elementar de boa fé que, nos casos em que o preferente tenha algum interesse em saber a identidade do comprador projectado, pergunte ao obrigado à preferência sobre essa identidade. Se o obrigado à preferência, depois, se recusar. sem motivo a dar essa identificação, a comunicação para preferência não poderá ser tida por completa. Mas se, pelo contrário, o preferente não manifesta interesse em saber quem é o comprador e, depois de decorrido o prazo para preferir, porventura por conselho de algum jurista profissional, vem sustentar a invalidade da comunicação, parece que não merece tutela. (fonte: www.dgsi.pt). 19. Defina "contrato para pessoa a nomear'' (art. ~ 452.º ss. CCiv.) O art.º 452.º CCiv. estabelece no seu n.º 1 que, ao celebrar o contrato, pode uma das partes reservar o direito de nomear um terceiro que adquira os direitos e assuma as obrigações provenientes desse contrato. O contrato para pessoa a nomear será aquele em que uma das partes se reserva o direito de designar um terceiro que adquira os direitos e assuma as obrigações que lhe assistem, como se o contrato tivesse sido celebrado com ele (art.º 452.º CCiv.). Este contrato produz todos os seus efeitos entre os contraentes e, apenas entre eles, porque enquanto não houver designação de outra pessoa, os contraentes são os outorgantes no contrato. Distingue-se, assim, de outros contratos próximos, como a represen- tação, contrato a favor de terceiro, mandato sem representação e do próprio contrato-promessa. 27 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS Na verdade, o contrato para pessoa a nomear é definitivo entre as partes mas a pessoa a nomear ou que seja nomeada não é parte no contrato-promessa porque a nenhuma promessa se obrigou. Ponto importante a salientar é que no contrato para pessoa a nomear o outorgante apenas se reserva o direito de nomear um terceiro, sem qualquer compromisso. conferindo-se a si próprio uma faculdade. Desta natureza afluem somente os efeitos referidos no art.º 455.º/2 CCiv. que estabelece que não sendo feita a declaração de nomeação nos termos legais o contrato produz os seus efeitos relativamente ao contraente originário, desde que não haja estipulação em contrário. O terceiro adquire, com eficácia retroactiva, a posição da parte que vem substiruir. Ou seja: rudo se passa como se o substituído nunca tivesse intervindo, sendo o substiruto a parte originária. Para que estes efeitos se produzam, necessário será que haja a designação do substiruto, e que este ratifique (aprove) a nomeação, ou que haja procuração anterior à celebração do contrato dirigido a esta nomeação (art." 453. 0 e 454.º CCiv.). (fonte: www.dgsi.pt). 20. Defina e caracterize o "Negócio Jurídico Unilateral". O CCiv. Pormguês não define negócio jurídico unilateral, sendo várias as definições que a Doutrina e a Jurisprudência fornecem: todavia, os negó- cios unilaterais são genericamente fonte de obrigações. desde logo pela sua inclusão sistemática na secção II do capítuloII do Código, dedicado às fontes. "Não obstante a declaração formal contida naquele normativo [ o art.º 457 .º], o CCiv. acabou por instiruir um sistema que generaliza os actos unilaterais como forma de constimir obrigações. Consequentemente não é possível falar em típicidades nem em numerus clausus de negócios unilaterais" (Menezes Cordeiro, Direito das Obrigações, 1980, 1.0 vol., pág. 560). E continua: "Só há tipicidade normativa estrita nas áreas em que a lei estatua, apenas, com recurso a tipos normativos, isto é, prevendo categorias delimitadas de eventos a que associe, depois, os efeitos jurídicos. Essas 2.8 FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTAATO~PROMESSA, PACTO DE ?REFERENCIA categorias devem vir referenciadas por forma determinada, com descrição precisa dos seus traços específicos. Quando, numa série pretensamente úpica, surjam categorias de tal forma abstractas que lhes sejam reconducúveis eventos qualitativamente diferentes em quantidades indetermináveis, a tipici- dade é meramente aparente. "Tomemos o exemplo claro do Direito Penal. É sabido reinar aí uma tipicidade de factos criminosos, por imposição constirucional. Mas essa tipi- cidade só será efectiva se a lei penal estaruir sempre descrevendo. com precisão, os eventos a que associa as penas (v.g.: homicídio, furto, fogo posto, etc.). A tipicidade perder-se-ia por completo se, ao lado dos tipos legais de crimes surgisse um tipo abstracto; v.g.: toda a actividade nociva é punida. Se assim sucedesse, o legislador perderia. por completo, o efectivo controlo sobre os actos, considerados criminosos: um número indeterminado de actividades qualitativamente distintas poderia cair na alçada da lei penal e faltaria, comple- tamente, qualquer ·numerus clausus'". "Apliquemos. agora, este raciocínio aos actos unilaterais". "Indubitavelmente, o art.º 457 .º CCiv. pretendeu instimir urna tipicidade de actos unilaterais; estes seriam apenas viáveis quando expressamente permitidos por lei. derivando daí o seu "numerus clausus". O sistema só ficaria. no entanto, completo. caso o Código tivesse, em todo o complexo normativo consagrado tipos estritos de negócios unilaterais. Porque. caso surja alguma possibilidade genérica de celebrar actos unilaterais, o Código vem destruir depois, mediante urna excepção total, aquilo que tão laboriosa- mente comunicara no seu art.º 457.º". Sabemos já que isso sucede por força de proposta contrarual. Esta não pode deixar de ser considerada como negócio unilateral; e como o seu con- teúdo é totalmente livre não é possível falar de proposta com um tipo. Pelo contrário, ela integrará um número indeterminado de tipos negociais (proposta de compra e venda, de locação, de sociedade, etc.) meramente exemplifi- cativos". "E não se diga que da proposta contrarual nascem, apenas, direitos potestativos e não verdadeiros créditos. Efectivamente, a noção de crédito e a de direito potestativo não são incompatíveis, sendo viável a existência de créditos potestativos. Basta, para tanto, que a uma pessoa sejam conferidos 29 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBR!GAÇÔES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS poderes sobre outra, em termos de aproveitar prestações. O facto de, uma vez celebrado um contrato, surgirem direitos diferentes dos resultantes da proposta apenas justifica a distinção entre actos unilaterais e bilaterais. Mas nunca a confusão entre eles. muito menos a supressão de um deles" . ··Para além deste argumento, que temos por fundamental. outros podere- mos encontrar através da ponderação de figuras pacificamente consideradas como integrando casos de negócios unilaterais. Pensa-se, por exemplo, no testamento. Esse negócio é totalmente atípico, uma vez que, por seu inter- médio, pode ser conseguido um número indeterminado de efeitos. A espe- cialidade de ser "mortis causa" não lhe franqueia. de forma alguma, as portaS da tipicidade normativa. O mesmo se poderá concluir do art.º 459.º (Promessa fJública) e do art.º 463.º (Concurso público); os conteúdos desses negócios não estão, de forma alguma, tipificados na lei. O facto de exigirem alguns requisitos de celebração não os transforma em elementos dum "numerus clausus"'. Pensa-se que também a celebração dos contratos obedece a regras''. "No fundo, e para além dos aspectos técnicos que não devem ser esque- cidos, há que contestar, no nosso direito. o entendimento clássico do princípio "invito non datur beneficium" (a ninguém poderia ser imposto um benefício contra vontade). De inúmeras disposições do CCiv. resulta que as pessoas podem ser beneficiadas por outro, independentemente de acordo; só que. naturalmente, podem, também, recusar o benefício". .. Assim sucede no caso do destinatário da proposta contratual; assim sucede, também, na hipótese do beneficiário do contrato a favor de terceiro". "A única ideia útil que se poderia retirar de uma eventual limitação aos negócios unilaterais é a de que as pessoas podem obrigar-se unilateralmente, mas não podem obrigar outras, sem o consentimento destas". Na nossa ordem jurídica. existem casos em que o legislador submete a perfeição da declaração unilateral à recepção do destinatário e outros em que não é feita tal exigência. Dito de outra forma. uma distinção que impera nos negócios unilaterais é a que se estabelece entre negócios unilaterais receptícios (recipiendos) e negócios unilaterais não receptícios. Os primeiros pressupõem que a declara- ção de vontade tenha de ser dirigida e comunicada a certa pessoa; enquanto nos segundos basta a emissão da declaração, sem ser necessário comunicá- -la a quem quer que seja. 30 FONTES OAS OBRJGAÇÓES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERÊNCIA Assim, são não receptícios, isto é, não carecem de ser dirigidos e levados ao conhecimento de pessoa determinada, --o testamento, o acto de instituição das fundações, a promessa pública, a aceitação e o repúdio da herança". Nos negócios receptícios a declaração "só é eficaz se for e quando for dirigida e levada ao conhecimento de certa pessoa··. enquanto nos não receptícios a declaração produz efeitos logo que é emitida. (fonte: www.dgsi.pt). 21. Defina "Concurso público" (art.º 463.º CCiv.). O concurso público é uma modalidade especial de negócio jurídico unilateral ( ou seja: um negócio constituído por uma declaração negocial dirigida à produção de efeitos jurídicos), em que se oferece uma prestação como prémio de um concurso, sendo necessário fixar prazo para a apresen- tação dos concorrentes. sob pena de invalidade (art.º 463.0 /1 infine): distingue- -se do concurso para a celebração de um contrato na medida em que este se traduz num convite à apresentação de propostas ou ofertas por todos os interessados, inserindo-se no processo de formação de um negócio jurídico bilateral ou contrato. (fonte: www.dgsi.pt). 22. Derma e caracterize sucintamente a "promessa pública" (art. º 459. º CCiv.) Entende-se por promessa pública a declaração feita mediante anúncio divulgado entre os interessados, na qual o autor se obriga a dar uma recom- pensa ou gratificação a quem se encontre em determinada situação ou pratique certo facto. positivo ou negativo. A lei determina que essa situação implica imediatamente e sem neces- sidade de aceitação do beneficiário, a vinculação do promitente a essa pro- messa (art.º 459.0 /1 CCiv.). Portanto, a promessa pública é um negócio unilateral constitutivo de obri- gações não se confundindo. por isso, com outras declarações negociais diri- gidas ao público (art.º 230.º/3): estas apresentam-se como partes integrantes 31 PRÁT!CA OE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS do processo de formação de um contrato sendo que, apenas com a conclusão daquele, se constituem obrigações. Uma vez emitida, a declaração tem como efeito a constituição imediata de uma obrigação, ficando o promitente desde logo vinculado à promessa (art.º 459.º/l CCiv.), mesmo ignorando quemé o beneficiário, que só virá a ser determinado posteriormente. Está-se, por isso, perante uma obrigação de sujeito activo indeterminado mas determinável (art.º 511.º CCiv.), vindo a ocorrer essa determinação quando se souber quem se encontra na situação prevista ou quem vem a praticar o referido facto. (fonte: www.dgsi.pt). 23. Caracterize brevemente a "Gestão de negócios" (art.º' 464.º ss. CCiv.). Dá-se gestão de negócios quando uma pessoa assume a direcção de negócio alheio, no interesse e por conta do dono, sem para tal estar autorizado (art.º 464.º CCiv.), podendo afirmar-se que esta fonte autónoma de obrigações está sujeita a 03 requisitos: i) que alguém assuma a direcção de negócio alheio: ii) no interesse e por conta do dono do negócio; iii) sem autorização deste. A gestão de negócios traduz-se numa ingerência na esfera jurídica de outrem, que tem como nota típica mais destacada a falta de autorização (legal ou convencional), nesse aspecto se distinguindo a actuação do gestor da activi- dade do núncio, do procurador, do representante, do mandatário ou do repre- sentante legal, sendo da essência do instituto da gestão de negócios uma intervenção não autorizada na direcção de negócio alheio. A actividade do gestor de negócios pode ter porobjecto, não só a prática de negócios jurídicos, mas também a realização de actos jurídicos não nego- ciais e até de simples actos materiais. O dono do negócio terá de reembolsar o gestor das despesas que haja feito e dos prejuízos que tenha sofrido, tanto no caso de ter aprovado a gestão, como no de se mostrar que a actuação deste foi regularmente exercida. (fonte: www.dgsi.pt). 32 FONTES DAS OBR!GAÇOES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERENCIA 24. Refira-se ao "Enriquecimento sem causa" (art.% 473.º ss. CCiv.). Aquele que sem causa justificativa enriquecer à custa de outrem é obrigado a restituir aquilo com que injustamente se locupletou (art.º 473.º/l CCiv.). Ressalta deste preceito legal que é necessá.rio, para que se verifique o enriquecimento sem causa, que exista uma obrigação em que é devedor o enriquecido e credor aquele que suporta o enriquecimento. Terão assim de se verificar três requisitos cumulativos essenciais: i) existência de um enriqueci- mento; ü) que esse enriquecimento se obtenha à custa de outrem e, iii) falta de causa justificativa. Para que o enriquecimento sem causa ocorra, terá de existir vantagem de alguém. que essa vantagem se obtenha à custe de outrem e falta de causa justificativa. A obrigação de restituir com base no enriquecimento sem causa tem carácter subsidiário: se alguém obtém um enriquecimento à custa de outrem, sem causa, mas a lei faculta ao empobrecido algum meio especifico de des- fazer a deslocação patrimonial, será a esse meio que ele deverá recorrer, não se aplicando as normas dos art.º' 473.º ss. CCiv .. Cunha Gonçalves (''Tratado de Direito Civil"', IV, pág. 743) escreveu que: "Em caso de dúvida deve presumir-se que o enriquecimento derivou de justa causa e ao autor incumbe a prova de que o seu detrimento foi produzido ··sine causa", no mesmo sentido podendo ver-se Pires de Lima e Antunes Varela, ··código Civil Anotado", I, 4.> ed., pág. 456 e Rodrigues Bastos, "Notas ao Código Civil", II, pág. 269. Exemplo típico é o caso em que a deslocação patrimonial assenta sobre um negócio jurídico nulo ou anulável: a própria declaração de nulidade ou anulação do acto devolve ao património de uma das partes os bens ( ou o respectivo valor) com que a outra se poderia enriquecer à sua custa. Mas o carácter subsidiário da restituição fundada no enriquecimento tem de ser conjugado com as regras processuais a que obedece a iniciativa das partes. nos termos do art.º 264.º CPC, não podendo o tribunal, em princípio, afastar-se dos factos alegados e do pedido do autor. Na tipologia de enriquecimento sem causa de que nos dá notícia Menezes Leitão ("O Enriquecimento sem Causa no Código Civil de 1966"' 33 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÓES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS in Comemoração dos 35 Anos do Código Civil e dos 25 Anos da Reforma de 1977, vol. III - Direito das obrigações, págs. 15/37) faz-se alusão ao caso do enriquecimento --resultante de despesas efectuadas em coisa alheia"; tal enriquecimento por benfeitorias imporia, no entanto, ··a necessidade de protec- ção contra enriquecimentos não desejados" (pág. 26). E Menezes Leitão refere a este propósito que no âmbito da categoria do enriquecimento resultante de despesas efectuadas por outrem --coloca-se com especial acuidade o problema do enriquecimento imposto, uma vez que. se por um lado o enriquecido vem a beneficiar da despesa realizada pelo empobrecido, por outro não tem normalmente possibilidade de impedir a sua realização, o que leva a considerar ocorrer a imposição de um enriqueci- mento forçado. Essa imposição do enriquecimento coloca problemas valora- ti vos específicos, uma vez que a tutela do enriquecido contra esta imposição do enriquecimento pode justificar neste caso um diferente entendimento dos pressupostos e do objecto da obrigação de restituição. Propugna-se que só em caso de boa fé do enriquecido é que fará sentido estabelecer uma protecção contra a imposição do enriquecimento [ ... ]. Já havendo boa fé do enriquecido, a aplicação do limite do enriquecimento [ ... J deverá tomar em conta a planificação subjectiva do enriquecido, não se con- siderando haver um enriquecido efectivo se o incremento do valor não tem para ele qualquer utilidade. Na determinação desta planificação subjectiva é especialmente relevante a poupança de despesas, uma vez que o enrique- cimento subsiste se o enriquecido planeava efectuar despesas que desse modo poupou". A obrigação de restituir, fundada no injusto locupletamento à custa alheia, exige que alguém tenha obtido uma vantagem de carácter patrimonial. sem causa que a justifique (ou porque nunca a teve ou porque, tendo-a inicialmente, a perdeu depois) e que esse enriquecimento tenha sido obtido à custa de quem requer a restituição. Mesmo aceitando que a nossa lei exige que o enriquecimento tenha sido obtido imediatamente à custa do empobrecimento daquele que se arroga o direito à restituição, não devendo haver de permeio, entre o acto gerador do prejuízo dele e a vantagem alcançada pela outra parte, um outro acto jurí- dico, situações haverá que justifique que uma deslocação patrimonial indirecta suporte a restituição do injustamente locupletado. 34- FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERÊNCIA Nesta deslocação patrimonial indirecta não pode perder-se de vista o relacionamento. a interligação existente entre o património terceiro. o empo- brecido e o enriquecido. O direito à restituição do que foi obtido sem causa justificativa está sujeito ao prazo de prescrição do art.º 482.º CCiv. de três anos. ··a contar da data em que o credor teve conhecimento do direito que lhe compete e da pessoa do responsável". Assim, o enriquecimento é sem causa se não se traduzir na consequência legal de qualquer facto jurídico que a lei preveja como idóneo para o gerar. ou seja, razoavelmente adequado a uma aquisição ou liberação, porque, nesse caso, seria a sua causa justificativa. Em qualquer caso. importa distinguir a factualidade integrante da causa de pedir enriquecimento sem causa, articulada pelas partes como suporte do pedido formulado em sede jurisdicional, da mera argumentação com base nos princípios que envolvem o instituto em análise. De qualquer forma, o enriquecimento não tem de advir sempre e neces- sariamente duma prestação do empobrecido ou de terceiro. Como ensina Antunes Varela, a deslocação patrimonial é todo o acto por virtude do qual se aumenta o património de alguém à custa de outrem. seja qual for a forma por que o aumento se opera. podendo consistir até numa poupança de despesa ou de uso, indevido e sem qualquer contrapartida, decoisa alheia, caso em que não haverá, propriamente, um valor a sair do património de um para entrar no do outro (Das Obrigações em Geral. L pág. 400). Portanto, nos casos de enriquecimento por ingerência ou intromissão em coisa alheia, e continuando a citar Antunes Varela: --o enriquecimento consiste na obtenção de uma vantagem de carácter patrimonial, seja qual for a forma que essa vantagem revista, podendo traduzir-se no uso de coisa alheia, na instalação de coisa alheia. O enriquecimento é injusto porque, segundo a ordenação substancial dos bens aprovada pelo Direito. ele deve pertencer a outro." (ob. cit., págs. 484 ss.). Na verdade, segundo a teoria da destinação, afectação ou ordenação que caracteriza determinados direitos. como os direitos reais, tudo quanto diga respeito à rentabilização e ao destino dos bens cabe, em princípio, ao respectivo proprietário. de maneira que se um terceiro se intromete no uso 35 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS do bem, sem o consentimento daquele, ficará, por isso, obrigado a indemnizá- -lo, restituindo-lhe o valor de exploração, ainda que o proprietário não tenha tirado qualquer proveito desses bens. (fonte: www.dgsi.pt). 25. O que é uma "deslocação patrimonial"? É todo o acto por virtude do qual se aumenta o património de alguém à custa de outrem, seja qual for a forma por que o aumento se opera. Esta expressão não significa porém que o enriquecimento se traduza forçosamente numa deslocação de valores do património do lesado para o património do enriquecido, e que o direito à restituição consista, como alguns autores afirmam, num simples direito de recuperação material, ou seja, num mero retomo ao património do credor de valores que de lá saíram indevida- mente. embora muitas vezes assim suceda: i) quando o enriquecimento nasce de acto praticado por terceiro; ii) quando o enriquecimento consiste na poupança de uma despesa. (fonte: www.dgsi.pt). 26. Refira-se ao carácter subsidiário da obrigação de restituir (art.º 474.º CCiv.) O enriquecimento sem causa pressupõe que alguém se tenha locupletado injustificadamente à custa alheia. Trata-se de uma fonte autónoma de obrigações prevista no art.º 473.º/ /1 CCiv .. Pressupõe um enriquecimento obtido à custa de outrem sem que se perfile qualquer causa justificativa, sendo que, tratando-se de causa residual, só releva se a lei não "facultar ao empobrecido outro meio de ser indemnizado ou restituído., ( art.º 4 7 4. º CCiv.) -cfr., por todos, Vaz Serra - ''Enriquecimento sem causa" BMJ 81-5 e 82-5; Almeida Costa, in "Direito das Obrigações", 6.' ed., 409, A. Varela, apud. ·'Das Obrigações em Geral", I, 10.' ed., pág. 470 e Galvão Telles ("Direito das Obrigações", 5.' ed., pág. 161). 36 FONTES DAS OSR!GAÇOES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE ?REFERENCIA Há, assim, uma deslocação patrimonial. quer resultante de acto jurídico não negocial. quer de mero acto material, em consequência do qual o "accipiens'' aumenta o seu património à custa de outrem ("'a danno di un' altra persona") sem qualquer causa. obrigacional ou negocialmente clausu- lada, que a justifique. À vantagem patrimonial do enriquecido contrapõe-se o empobreci- mento do que foi privado do bem ou do património. Analisando o requisito da ausência de causa. Almeida Costa ( ob. cit.. pág. 418, nota 1) acentua: ··Por causa de uma prestação pode entender-se: ou o fim subjectivo pela qual se efectua a prestação ( o cumprimento de uma obrigação, a entrega de um empréstimo, uma atribuição gratuita - ·causa sol vendi, credendi, donandi' - na terminologia latina): ou a relação jurídica de que resulta caber a prestação a quem a recebe. Teremos numa hipótese ou na outra, respectivamente, causa de prestação em sentido subjectivo e em sen- tido objectivo. Esta segunda modalidade é a que interessa para efeito de enriquecimento sem causa.·· Nota de seguida o "distinguo" entre "causa de uma prestação·• e "causa de uma obrigação". A causa da deslocação patrimonial só releva para os efeitos do art.º 473.º/ /1 CCiv. na ausência de relação obrigacional, negocial ou legal e. designada- mente. tratando-se de prestação sem qualquer finalidade úpica tutelada. Finalmente, a pretensão de enriquecimento é subsidiária ( ou residual). isto é: só é possível se inexistir um meio alternativo para ressarcimento dos prejuízos (v.g., declaração de nulidade, de anulação. de cumprimento)-cfr .. "inter alia", Leite de Campos, "A Subsidiariedade da Obrigação de Restituir o Enriquecimento", págs. 171 e 326. Por isso é que quando a deslocação tem por base um negócio jurídico. embora nulo ou anulável. a própria declaração de nulidade ou de anulação faz reintegrar no património de cada uma das partes os bens ou valores com que a outra se poderia locupletar (art.º 289.º CCiv.) tendo até maior eficácia, por retroactiva, do que a acção por enrique- cimento. cujos efeitos não podem exceder o locupletamento, à data de veri- ficação de algum dos factos do art.º 480.ºla)-b) CCiv .. Ou seja: o instituto do enriquecimento sem causa surge-nos como fonte autónoma das obrigações. sendo certo que. de acordo com o princípio da subsi- diariedade. o empobrecido só pode recorrer à acção de enriquecimento à custa 37 PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS de outrem. quando não tenha outro meio para cobrir os seus alegados pre- juízos. Para terminar esta breve análise, deve ainda referir-se que a alegação e prova dos requisitos do enriquecimento cumpre ao empobrecido. nos termos do art.º 342.º CCiv .. (fonte: www.dgsi.pt). 3e A CAPÍTUL03 RESPONSABILIDADE CIVIL: OS VÁRIOS TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL 27. Quais são as várias modalidades de responsabilidade civil'? No instituto da responsabilidade civil. ex.isre uma dicotomia tradicional, mantida até hoje nos vários países. entre responsabilidade obrigacional ( ou "contratual") e responsabilidade extra-obrigacional ( ou "extra-contra- tual", "delitual" ou "aquiliana"). Questiona-se se existirão casos intermédios entre as responsabilidades obrigacional e extra-obrigacional. Além desta divisão tradicional entre responsabilidade obrigacional e extra-obrigacional, e cruzando-se com ela, outras modalidades de responsa- bilidade civil existem que têm subjacentes diferentes princípios de responsa- bilização. Assim: A) Responsabilidade subjectiva: art.º' 483.º (extra-obrigacional). 798.º (obrigacional) e 227.º (pré-contratual): assenta na "culpa·• ( ou "ilicitude subjectiva") do responsável. Salientam-se. pela sua importância, os art.º' 484.º a 486.º e 491.º a 493.º; B) Responsabilidade pelo risco: art.º' 502.º, 503.º ss. e 509.º ss., além de várias disposições de legislação extravagante: assenta no perigo especial próprio de certas coisas ou actividades, e que vincula quem as utiliza no seu interesse. Deve distinguir-se a responsabilidade pelo risco (que é objectiva). dos casos especiais 39 PRÁTICA DE D!REITO DAS OBRtGAÇÓES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS de responsabilidade subjectiva associados a uma actividade perigosa (art.0 493.º/2). C) Responsabilidade civil do principal ou responsabilidade por facto de outrem: art.º' 500.º e 800.º, bem como 165.º. 501.º e 998.º CCiv .. além do art.º 6.º/5 CSC e L 67 /2007. 31.12: trata-se de responsabilidade objectiva por danos causados a terceiros por um --comissário". "'agente". --auxiliar", "'representante legal'", "titular de um órgão". etc .. e que vincula o "principal", ou seja: a pessoa para quem o comissário, auxiliar, etc. actua. Deverá referir- -se que a responsabilidade por facto de outrem não é um caso de responsabilidade pelo risco, porquanto não depende de nenbuma coisa ou actividade especialmente perigosa. D) Responsabilidade civil pelo sacrifício: inclui duas sub moda- lidades distintas: i) Responsabilidade por factos lícitos: art.º' 339.º/2 CCiv. e 62.°/2 CRP(nestes casos, fica objectivamente responsável o agente ou o beneficiário de um acto lícito que sacrifica um bem de outrem em vista de um interesse superior); ii) Responsabilidade por danos sofridos em actividade no inte- resse de outrem: art.º' 468.º/l, infine, e 1167 .ºld) CCiv. (aqui assiste-se à responsabilização objectiva do titular do interesse visado em certa actividade pelos danos sofridos por quem actua bem como a uma responsabilização por um sacrifício sofrido em proveito de outrem. embora o sacrifício seja meramente eventual e não directamente causado. Estes casos de obrigação de indem- nizar acompanham. por regra. uma obrigação de reembolso de possíveis despesas. Esta modalidade de responsabilidade civil não ocorre nos casos em que o interessado remunera o resultado de certa actividade, designadamente no contrato de empreitada. Como nota final, refira-se que existem casos de responsabilidade cuja inserção numa destas modalidades não é fácil. Assim sucede com a responsa- bilidade civil do produtor (DL 383/89. de 6 de Novembro) e a responsabilidade "equitativa'' de inimputáveis (art.° 489.º). 40 ~ RESPONSABILIDADE CJVIL: OS VÁRIOS TIPOS DE RESPONSABiLIDADE ClVIL 28. Reporte-se à "responsabilidade extracontratual". A responsabilidade extracontratual abrange os casos de ilícito civil. Deriva, mormente, da violação por acção ou omissão, de um dever ou vínculo juridico geral, de um daqueles deveres de conduta impostos a todas as pessoas e que correspondem aos direitos absolutos, ou até da prática de certos actos que, embora lícitos produzem dano a outrem ( entre outros. Antunes Varela, "Das Obrigações em Geral", 2." ed., vol. I, págs. 398 e ss.). O que está em causa é a violação por acção ou omissão, de um dever ou vínculo juridico geral um daqueles deveres de conduta impostos a todas as pessoas e que correspondem aos direitos absolutos. "Aquele que com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação" (art.0 483. 0 /1). São destarte, pressupostos do dever indemnizatório: a) violação de um direito ou interesse albeio; b) ilicitude; e) vínculo de imputação do facto ao agente; d) dano; e) nexo de causalidade entre o facto e o dano (Antunes Varela, op. cit, pág. 356; Rodrigues Bastos, "Notas ao Código Civil", II vol.. pág. 282). A reparação dos prejuízos causados pela prática de um acto ilícito, imputável a alguém a título de dolo ou de negligência. compreende, por tra- dição. as seguintes realidades. se bem que. por vezes. elas se encontrem um bocado confundidas entre si: a) Danos emergentes, os quais incluem os "pre- juízos directos" e as "despesas imediatas" ou necessárias; b) Ganbos ces- santes; e) Lucros cessantes; d) Custos de reconstituição ou de reparação; e) Danos futuros;.f) Prejuízos de ordem não patrimonial (art.º' 483.º. 495.º e 496.º CCiv). No domínio da responsabilidade civil extracontratual por actos ilícitos a obrigação de indemnizar só existe quando, cumulativamente. estejam pre- sentes, como requisitos, a ilicitude do facto danoso, a culpa e o nexo de causa- lidade entre o facto e os danos sofridos pelo lesado (art.º 483.º CCiv.) 41 PRATICA DE D!REITO DAS OBRlGAÇÓES - QUESTÕES TEÓRICAS E HlPóTESES RESOLVIDAS 29. O que é o "Dano"? "Dano" é a ofensa de bens ou interesses alheios protegidos pela ordem jurídica; é a perda in natura que o lesado sofreu em consequência de certo facto nos interesses (materiais, espiriruais ou morais) que o direito viola ou a norma infringida visam rutelar" (Antunes Varela, in "Das Obrigações em Geral", voL !, 7." ed., pág. 591). Estudando o conceito de "dano", Castro Mendes manifestou a sua preferência pelo termo "prejuízos" e chama a atenção para as duas vias usadas para o definir, conduzindo uma a ·prejuízo em si' e a outra a ·prejuízo reparável'. O prejuízo em si é um mal, um evento nocivo, surge como o género, a categoria de que o prejuízo jurídico faz parte. A "differentia specifica" deste em relação ao género é a sua relevância jurídica e não a sua reparabilidade. O prejuízo jurídico é um mal causado a algo que a lei protege. Este 'algo' é o chamado ·objecto do facto danoso' e constitui a diferença específica do dano ("Do Conceito Jurídico de Prejuízo", in Jornal do Foro, 1953, pág. 9). O dano não pode ser concebido como uma diferença de valor patrimo- nial (a defeituosa tradução da definição de Paulus induziu a tal - ··damnum et damnatio ab ademptione et quase diminutione patrimonii dieta sunt"): para o direito o dano não interessa apenas no seu aspecto de 'diferença', aspecto matemático ou abstracto: mas interessa toda a individualização do objecto efectivamente lesado, a qual será a base da reparação futura (págs. 14 e 15). E porque o direito não tutela bens, mas interesses (''hominis causa ornne ius constitutum est", segundo Modestino) e o interesse, grosso modo, é a reacção ou posição da pessoa perante o bem, o dano não é a subtracção pura e simplesmente, mas a subtracção, enquanto priva o homem de uma utilidade, como escreveu von Tuhr (págs. 16 e 17). Gomes da Silva com razão separa do objecto do prejuízo a causa da relevância jurídica do mesmo e esta, a causa da relevância jurídica é a frus- tração dum fim humano, entendendo-se · certo fim· como 'todos os fins lícitos que se podem alcançar mediante a utilização do bem em causa' ("O dever de prestar e o dever de indemnizar", pág. 123). Enquanto lesão dum interesse, o dano não é a ofensa mas a consequência nociva da ofensa. (fonte: www.dgsi.pt). 42 RESPONSABILIDADE CIVIL: OS VÁRIOS 11POS OE RESPONSABIUDADE CIVIL 30. Def"ma "danos não patrimoniais". Também designados por "danos morais", ou ··prejuízos de natureza não patrimonial", são os prejuízos (como dores físicas. desgostos morais. vexames, perda de prestígio ou de reputação, complexos de ordem estética) que. sendo insusceptíveis de avaliação pecuniária. porque atingem bens (como a saúde. o bem estar. a liberdade. a beleza, a honra. o bom nome) que não integram o património do lesado, apenas podem ser compensados com a obrigação pecuniária imposta ao agente, sendo esta mais uma satisfação do que uma indemnização", correspondendo àquilo que. na linguagem jurídica se costuma designar por ··pretium doloris", ou ressarcimento tendencial da angústia. da dor física, da doença, ou do abalo psíquico-emocional resultante de uma situação de "luto"' (transporte afectivo e das faculdades psíquicas originado por uma situação de perda de objecto ou do "ser" amado - cfr. Antunes Varela, "Das Obrigações em Geral'', 6.' edição. I. pág. 571). O dano não patrimonial não reside em factos, situações ou estados mais ou menos abstractos aptas para desencadear consequências de ordem moral ou espiritual sofridas pelo lesado, mas na efectiva verificação dessas consequências. Assim, os danos não patrimoniais podem consistir em sofrimento ou dor, física ou moral. provocados por ofensas à integridade física ou moral duma pessoa, podendo concretizar-se, por exemplo. em dores físicas, des- gostos por perda de capacidades físicas ou intelectuaís. vexames. sentimemos de vergonha ou desgosto decorrentes de má imagem perante outrem. estados de angústi~ etc .. A lei refere-se expressamente a dano grave (art.º 496.º/l CCiv.). Dano grave não terá que ser considerado apenas aquele que é "exor- bitante ou excepcional", mas também aquele que "sai da mediania, que ultrapassa as fronteiras da banalidade". Um dano considerável que, no seu mínimo, espelha a intensidade duma dor, duma angústia. dum desgosto, dum sofrimento moral que, segundo as regras da experiência e do bom senso. se torna inexigível em termos de resignação. Isto significa que, em sede de compensação por danos não patrimoniais. por não se estar perante a lesão de interesses susceptíveis de avaliação pecuniária, o dano não
Compartilhar