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~ 
~ 
DE DIREITO _ 
DAS OBRIGA OES 
DE DIREITO _ 
DAS OBRIGA OES 
MARIA PAULA GOUVEIA ANDRADE 
Meslrc cm Direito 
Assistente Universitária 
Adv<lga<la 
PRÁTICA 
DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
QUESTÕES TEÓRICAS 
E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
2.ª edição 
(revista e aumentada) 
l!ti] 
QUIDJURIS 
SOCIEDADE EDITORA 
2010 
Título: 
Autora: 
Editora 
e Distribuidora: 
Capa: 
Impressão 
e acabamentos: 
Prática de Direito das Obrigações 
Questões teóricas e hipóteses resolvidas 
2:' edição (revista e aumentada) 
Maria Paula Gouveia Andrade 
Quid Juris? -Jt· - Sociedade Editora Ld." 
Rua Sarmento Beires, n." 45-G 
Apartado 9803 
1911-701 Lisboa 
telef. 21 840 54 H /21 840 54 20 
fax. 218405423 
e-mail: geral@quidjuris.pt 
WWW .quidjuris.pt 
João Carrôlo 
Gráfica Almondina 
Depôsito legal n.º 304 714/10 
ISBN: 978 - 972 - 724 - 4S9 - 8 
>! :lo podem ser reprodw.id.1s ou d.ifuudid.-i.s, por qu:tlquer processo dcctróuico, llK>C:11lÍco 011 
fotogrâfico, incluindo fotocópia, qu:úsquer p:Íginas deste livro, sem ;iutoriz:ição d:i cditor:i. 
Exceptu.-i-sc :i tr:w.scriçáo de curt:is p:iss:igen._~, desde que mcncion:w.do o titulo d.1 obr:i, e os 
nomes d:i :iutor:i e d..-i editor:i. 
MARIA PAULA GOUVEIA ANDRADE 
Mestre c:m Direito 
Assistente Universitária 
Advogada 
PRÁTICA 
DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 
QUESTÕES TEÓRICAS 
E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
2.ª edicão 
o 
(revista e aumentada) 
a!;<">/j Hn•{i ''¾l~ >'/ '<~i!j ',",l ,~; -,-· :::ú Qi:,:- <FAJ 
QUIDJURIS 
SOCIEOAOS EOITORA 
Outras obras da Autora: 
• ·"Da autorizaçÇ-o para movimentação de contas de depósito à ordem; um pro-
blema de responsabilidade civil do comitente I Do contrato de tradução". ELCLA 
Editora, Porto, 1991 (fora do mercado): 
• '"Dicionário Jurídico Inglês-Português". (com o Dr. Álvaro Dias Saraiva). 
ELCLA Editora. Porto. 1991; 2.ª edição, revista e aumentada, ELCLA Editora. Porto, 
1998 (esgotado): 
• ''Dicionário Jurídico Francês-Português". (com o Dr. Álvaro Dias Saraiva). 
USUS Editora, Lisboa, 1993: 2." edição, revista e aumentada. TEMPUS EDITORES, 
Lisboa. 1996 (esgotado): 
• "Algumas considerações sobre o regime jurídico do art. º 134. º do Código 
Penal", USUS Editora. Lisboa, 1993 (fora do mercado): 
• ""Da ofensa do crédito e do bom nome- contributo para o estudo do art. º 484. º 
do Código Civil". TEMPUS EDITORES, Lisboa, 1996 (esgotado): 
• ''Dicionário Jurídico Francês-Português". QUID JURIS. Lisboa. 2002 
(esgotado): 
• ''Dicionário Jurídico Português-Inglês I Inglês-Português". QUID JURIS, 
Lisboa. 2003: 3." edição. revista e aumentada, QUID JURIS. Lisboa. 2008: 
• '"Dicionário Jurídico Português-Francês I Francês-Português". QUID JURIS. 
Lisboa. 2008: 
• '"Formulários de Contratos Civis". QUID JURIS, 8." ed. revista e aumentada. 
Lisboa, 2008: 
• '"Prática de Direito Administrativo". QUID JURIS. Lisboa. 2008: 2." edição. 
QUID JURIS. Lisboa. 2009: 
• "Prática de Direito Penar'. (com o Dr. Jorge Gregório). QUID JURIS. Lisboa. 
2008: 2." edição. QUID JURIS. Lisboa. 2009: 
• "Prática de Direito das Sucessões". QUID JURIS. Lisboa. 2008: 2." edição. 
QUID JURIS. Lisboa. 2009: 
• '"Prática de Direito das Obrigações". QUID JURIS. Lisboa. 2008: 2.ª edição. 
QUID JURIS, Lisboa. 2010. 
INTRODUÇÃO 
O Direito das Obrigações enquanto ramo principal do Direito Ci,:il reveste-
-se hoje de um.a enorme relevância atenta por um lado a multiplicidade de 
fontes das obrigações e, por outro, as novas formas negociais "fruto dos tempos" 
que obrigam a adaptar soluções antigas a novos problemas, rudo determinando 
o conhecimento da lei, da doutrina e da jurisprudência, sem o qual nada se 
roma possível. 
_\ pres<.:"ntC obra surge num contexto de "trabalho em aula" mais não 
constituindo do que um guia para os Estudantes de Dire1to das Obrigações, 
\Tisando possibilitar-lhes um estudo acompanhado num.1. óptica mais prática.. 
que as recentes inovações introduzidas no Ensino C niversitário por forca da 
Convenção de Bolonha preconizam. 
Estamos pois perante um "auxiliário de Direim das Obrigações" que reúne 
questões teóricas, casos práticos e exames e bem assim alguns acórdãos julgados 
mais emblemáticos, importando salientar que as questões, casos e exames ora 
apresentados não são todos de autoria da Signatária., circulando muiros ddes 
no meio académico, e cabendo referir "expressis \Trbis" que a proposra de 
resposta ou de resolução vertida no presente rexto é dos ensinamentos dos 
_\urores indicados na Bibliografia mencionada a final ou retirada da Jurispru-
dência nb âmbito de trabalho de recolha e de pesquisa a propósito de casos 
pretéritos ou pendentes, sendo que quando possível por ser conhecida se indicou 
a fonte. 
Assim e como o seu próprio nome indica, os presentes ''casos pr:iricos·'' 
não são mais do que 1sso: questões e casos práticos daborados t.: crarados a 
propósito da matéria preleccionada nas aulas de Direito das Obrigações 
ministradas pela Signatária, primeiro na Faculdade de Direito e, mais reccnrc:-
mente, na Universidade Lusófona em sede de curso de pós-graduação. 
Trata-se de material complementar de apoio aos .:\lunos não dispens:J.rldo 
portanto, nem substiruindo, os habituais elementos de esrudo que devem fazer 
s 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÓES - OUESTÓES TEÓRICAS
 E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
parte e acompanhar qualquer esrudantc do Ensino Superior: os manuais aco
n-
selhados na Bibliografia., os elementos e apontamentos retirados da exposiç
ão 
oral efecruada nas aulas, as monografias específicas existentes sobre a gener
a-
lidade dos temas \·ersados no programa da cadeira: deverão ser apenas um e 
só 
wn, e nunca o único, material de apoio a que os esrudames devem recorr
er 
para preparare;:n as suas avaliações._,\ sua finalidade não é só essa., nem seque
r 
essa é a sua missão principal. 
Uma última palavra em sede de razão de ordem: o Direito das Obrigações 
é um mundo em constante c\·olução e cumpre reconhecer que um só volum
e 
não permite abarcar todas as questões teóricas que suscita. 
Optámos portanto por tratar daquelas que mais importância têm,. quer em 
sede teórica, quer do ponto vista prático: contratos e responsabilidade conr.ratu
al, 
e os diversos tipos de incumprimento, e a responsabilidade extracontratua
l. 
.-\bordam-se sumariamente outros institutos do Direito Obrigacional. 
Também em sede de Jurisprudência sekccionada a opção foi a mesma., 
versando os acórdãos seleccionados sobre a responsabilidade civil. 
_,\ .-\utora, 
Lisboa,Janeiro 2010. 
1. QUESTÕES TEÓRICAS RESOLVIDAS 
CAPÍTULO 1 
PARTE GERAL: NOÇÕES GERAIS: OBRIGAÇÃO, 
OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO, 
ELEMENTOS DAS OBRIGAÇÕES, 
EFICÁCIA EXTERNA DAS OBRIGAÇÕES; AUTONOMIA PRIVADA 
1. Defina "crédito", "débito", "prestação e "obrigação". 
Uma obrigação estabelece-se entre credor e devedor. Ao direito do 
credor chama-se crédito, e é o direito de exigir e receber a prestação (que é 
o comportamento devido). O devedor tem um débito (ou dívida. quando 
consista em entrega de dinheiro). Ao deoito também se chama obrigação. 
sendo que este termo designa por vezes o conjunto do crédito e do débito 
(art.0 397.º). 
2. O que é uma "obrigação" (art.º 397.º CCiv.)? 
É o vínculo jurídico pelo qual uma pessoa deve realizar um acro no 
interesse de outra. que tem o direito de lhe exigir essa realização e de lhe 
reclamar indemnização por danos sofridos em caso de incumprimento. 
3. Quais os vários sentidos do termo "obrigação"? 
O termo '"obrigação"' pode ser usado em diversos sentidos. Assim: 
A) ENQUANTO DEVER JURÍDICO. é a necessidade imposta pelo direito 
objectivo a uma pessoa de observar determinado comportamento. 
Ao dever jurídico que corresponde o direito de exigir chama-se 
9 
10 
PAÁT\CA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTôES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
obrigação civil e o detentor desse direito pode obter junto dos 
tribunais ou autoridades subordinadas a estes providências 
coercivas aptas a satisfazero seu interesse. Tem como reverso, 
no lado activo, um direito subjectivo "stricto sensu ", que se traduz 
no poder de pretender ou exigir de outrem um comportamento 
positivq (acção) ou negativo (abstenção ou omissão). O dever 
juridico que respeita a um direito de pretender diz-se obrigação 
natural; não sendo esta exigível no tribunal, pode contudo o credor 
conservar a prestação devida a título de pagamento. ou seja: o 
credor possui a "'soluti retentio". não podendo pois o devedor 
que tenha cumprido voluntariamente a prestação gozar da 
"conditio indebiti" (não tem a possibilidade de repetir o indevido) 
(art.º' 304.0 , 402.º, 403.º, 476.º, 817.0 e 1245.º CCiv.). 
Os direitos subjectivos propriamente ditos ou "stricto sensu" 
podem ainda ser: 
a) Direitos absolutos: direitos os quais actuam sobre todas as 
pessoas. tendo efeitos "erga ornnes", independentemente da 
existência de uma relação juridica em particular. sendo opo-
níveis contra todos, a estes correspondendo uma obrigação 
passiva universal Em caso de violação de um direito abso-
luto. o lesante fica obrigado nos termos da responsabilidade 
extracontratual (excepruando nos direitos pessoais). Como 
exemplos de direitos absolutos encontramos os direitos de 
personalidade. os direitos reais, os direitos de família (excepto 
quando não sejam poderes-dever). 
b) Direitos relativos: direitos que apenas actuam contra pessoas 
certas e determinadas, tendo como tal efeitos "inter partes", 
sendo apenas oponíveis a um círculo delimitado de pessoas 
(aos dois contraentes, num contrato bilateral). Trata-se de 
direitos obrigacionais e em caso de violação de um direito 
relativo, o lesante constitui-se em responsabilidade contratual. 
Como exemplos temos os direitos de crédito. 
s) EM SENTIDO TÉCNICO: diz-se obrigação a relação juridica por 
virtude da qual uma ou mais pessoas podem exigir de outra ( ou 
outras) a realização de uma prestação (art.º 397.º CCiv.). Neste 
sentido. o termo obrigação abrange não apenas o lado passivo, o 
PARTE GERAL: NOÇÕES GERAIS; OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO 
dever de prestar, como o poder de exigir a prestação conferido à 
outra parte, sendo que quando se quer distinguir entre os dois 
lados da relação ( que são duas faces da mesma realidade) chama-
-se crédito (direito de crédito) ao seu lado activo e débito (dívida) 
ao lado oposto. À pessoa que tem o poder de exigir a prestação 
dá-se o nome genérico de credor; à outra. sobre a qual incide o 
correlativo dever de prestar. chama-se devedor. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
4. O que é uma "obrigação natural" (art.º 402.º CCiv.)? 
Há obrigação natural "quando os tribunais entendem que uma conside-
ração de moralidade merece ser satisfeita e o direito não a consagrou. A obri-
gação natural compreende tudo o que não é nem uma mera obrigação civil 
munida de acção, nem uma pura liberalidade." (Vaz Serra, apud "Obriga-
ções Naturais", in BMJ, 53-13. citando Planial. Riperte Radouant. "Obligations 
-2.0 • VII, ''fraíté Pratique de Droit Civil Français" n.º 983). 
São pressupostos das obrigações naturais o basear-se a obrigação num 
dever moral ou social e o seu cumprimento corresponder a um dever de 
justiça. É requisito negativo a sua não coercibilidade. 
Da obrigação natural, que não se limita a obrigações pecuniárias, mas 
a qualquer tipo, ainda que não remuneratório, estão arredadas as disposições 
das obrigações civis conectadas com a realização coactiva da prestação. 
Trata-se do "cumprimento ou reconhecimento voluntário - efectuado 
em obediência a um dever moral e de justiça, e não com o intuito de fazer 
uma liberalidade. Contudo, um escrúpulo de consciência meramente subjec-
tivo não bastará para justificar uma obrigação natural. Seria ir demasiado 
longe. Importa que esse dever de consciência corresponda às concepções 
sociais, que se mostre objectivamente aprovado e tido como normal. Em re-
sumo: compete à jurisprudência, de harmonia com as concepções predomi-
nantes e nas circunstâncias concretas de cada situação, averiguar primeiro, 
se existe um dever moral ou social e, seguidamente, se esse dever moral ou 
social é tão importante que o seu cumprimento envolve um dever de justiça." 
(in "Direito das Obrigações", 10! ed., pág. 176). 
(fonte: www.dgsi.pt). 
11 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBR!GAÇÔES - OUESTOES TEÓRICAS E HIPOTESES RES
OLVIDAS 
5. O que é e em que consiste a "repetição do indevido" (art. º 
476.º CCiv.)? é o mesmo que a "repetição da prestação"? e a 
"não repetição do indevido" (art.º 403.º CCiv.)? 
Nos termos do art.º 476.º CCiv entende-se por "'repetição do indevido" 
a obrigação de restituição que existe quando alguém recebe uma prestação 
que lhe não era devida; sentido idêntico deve ser dado à "repetição da pres-
tação", expressão utilizada nos casos em que haja lugar a reembolso do indevi-
damente pago já a "não repetição do indevido" ocorre. a propósito das obriga-
ções naturais. quando o devedor cumpriu espontaneamente, não podendo pois 
pedir de volta aquilo que pagou. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
6. Quais os elementos constitutivos da relação obrigacional? 
São os seguintes os elementos constitutivos da relação obrigacional: 
• Os sujeitos 
• O objecto 
O vínculo jurídico 
1) Os sujeitos são os titulares, activo e passivo, (ou simultaneamente 
activo e passivo quando se trata por exemplo de obrigações nascidas de um 
contrato bilateral) da relação. Temos assim de um lado o credor e do outro o 
devedor: o credor é a pessoa a quem se proporciona a vantagem resultante da 
prestação. o titular do interesse (patrimonial, espiritual ou moral) que o dever 
visa satisfazer, ou seja: o titular do direito à prestação, o sujeito activo da 
relação de crédito; o devedor, como sujeito passivo da relação, quem está 
adstrito ao cumprimento da obrigação, é a pessoa sobre a qual recai o dever 
(específico) de efectuar aprestação. 
"Só o credor tem direito à prestação, e esta só do devedor pode ser 
exigida." 
A obrigação assume portanto um carácter relativo na medida em que 
vincula apenas determinadas pessoas, enquanto os direitos reais e os direitos 
de personalidade (como direitos absolutos que são) valem em relação a círculo 
indeterminado de pessoas. Pode todavia ocorrer que a pessoa do credor não 
seja determinada, mas somente determinável no momento em que a obrigação 
-12. 
PARTE GERAL: NOÇÕES GERAIS: OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO
 
se constitui (art.º 511.º), como se sucede nas promessas públicas (art.º' 459.º 
ss.), nos contratos para pessoa a nomear (art.~ 452.º ss.), nos títulos ao portador 
e, em certo sentido na herança a deixar a nascituro. 
2) O objecto: a prestação debitória 
O objecto da obrigação é a prestação devida ao credor. é o meio que 
satisfaz o interesse do credor, que lhe proporciona a vantagem a que ele tem 
direito. Regra geral, a prestação consiste numa actividade ou numa acção do 
devedor (entregar a coisa, realizar um obra, transmitir um crédito, patrocinar 
alguém numa causa), podendo todavia consistir numa abstenção, permissão 
ou omissão ( obrigação de não abrir estabelecimentos de certo ramo de 
comércio na mesma rua ou na mesma localidade; obrigação de não usar uma 
coisa recebida em depósito). 
a) O objecto imediato da obrigação consiste na actividade devida 
(a entrega da coisa, na cedência dela, na sua restituição. etc.). 
b) O objecto mediato da obrigação é a própria coisa, em si mesma 
considerada, ou seja, o objecto da prestação. por exemplo o carro, 
as jóias etc. 
7. O que é o "Vmculo Obrigacional"? 
É o nexo que interliga os poderes do credor ao devedor. 
8. O que é a ''prestação"? 
Entende-se por prestação a conduta ou comportamento humano a que 
o devedor está obrigado, o comportamento devido; num outro sentido (art.º 
78 l.º CCiv.) é cada uma das fracções ou parcelas em que a prestação debitória 
se encontra dividida, cada uma com vencimento diferente, a fim de facilitaro cumprimento ao devedor. 
9. Em que consiste a ''autonomia privada"? 
A autonomia privada traduz-se no poder criativo dado ao particular de 
se vincular em disciplina dos seus interesses. 
13 
PRATICA DE DIRE!TO DAS OBAIGAÇÔES - QUESTÕES TEOR!CAS E H!POTESES RESOLVIDAS 
É o poder "de auto regulamentação de interesses e relações exercido 
pelo próprio titular deles" a ser exercido nos linútes e com as finalidades as-
sinadas pela junção social do contrato (Betti, "Teoria Geral", pág, 97), 
Desdobra-se em liberdade de celebração ou conclusão dos contratos 
(liberdade a contratar, como faculdade de realizar ou não determinado con-
trato) e liberdade de.modelação do conteúdo contratual (liberdade contratual), 
perspectivando a escolha do tipo de negócio atinente à melhor e mais eficaz 
satisfação dos seus interesses e à maneira de preencher o seu conteúdo con-
creto. 
Por isso o legislador atento à evolução histórica e à relevância prátíca 
da dinâmica da vida acolhe certos negócios e sua regulamentação em normas 
jurídicas. 
Cria tipos de negócios. oferecendo o seu regime legal à iniciativa das 
partes. 
Por isso tradicionalmente diz-se que os contratos típicos seriam aqueles 
para os quais existe uma disciplina legal e os aúpicos aqueles onde tal dis-
ciplina não existe. 
Estes seriam construídos pela liberdade das partes, tradutora da sua 
iniciativa económica - art.0 405.º CCiv .. 
14 
Da leitura deste art.0 405.º resultam quatro faculdades: 
i) livre opção de escolha de qualquer tipo contratual. com submissão 
às suas regras imperativas- l . .a. parte do n.
0 l; 
ii) livre opção de celebrar contratos diferentes dos típicos, desig-
nados por contratos aúpicos - 2.' parte do n.º 1; 
iii) possibilidade de introdução no tipo contratual de cláusulas defen-
sivas dos interesses das partes, mas que não quebram a função 
sócio económica assumida pelo respectivo tipo-3.' parte do n.º l; 
Ou seja: cláusulas que "não prejudicam a causa do contrato ti pico 
(isto é: a função económico-social própria do contrato que a lei 
tem diante dos olhos ao fixar o seu regime) em que ele se integra" 
(A.Varela, "Centros Comerciais", 1995, pág. 47), poder este 
qualificado por Gorla como o '·poder do credor in fieri" ("li potere 
della volontá nella promessa com negozio giurídico", Bolonha, 
1971, págs. 306 e 307); 
PARTE GERAL: NOÇÔES GERAIS: OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO 
iv) reunião no mesmo contrato de dois ou mais contratos úpicos 
··sem embargo da eventual existência de normas imperativas pró-
prias, no regime de ambos ou de um deles apenas" (A. Varela, 
ob. cit., pág. 46 e na globalidade das anteriores considerações: 
Rev. Leg. Jurisp. 128, págs. 370 ss.). 
Estes contratos mistos (art.º 405.º/2) podem, assim, dentro dos qua-
drantes vertidos no art.º 405.º/L ser nominados ou inominados, consoante 
··as tais regras dos dois ou mais negócios típicos. que os contraentes reúnem 
na mesma convenção negocial unitária, respeitam a causa (stricto sensu) de 
um dos contratos típicos ou escapam. na sua conjunção, à causa própria de 
cada um deles" (A. Varela. ob. cit.. pág. 47). 
É sabido que, ao contrário do Italiano, o CCiv. Português não inclui 
expressamente a ··causa"' entre os requisitos do contrato. 
Aqui a discutidíssima noção de "causa" foi primeiramente acolhida 
através daconcepção subjectivista francesa, como reveladora da posição das 
partes ao contratar. passando depois pela recepção objectivista germânica. 
como função económico-social determinante ao sancionamento da vontade 
das partes pelo Direito. 
Entre nós. M. Andrade considera a causa de um contrato um --conceito 
dispensável" e para M. Cordeiro "a causa do contrato não tem lugar no Direito 
Civil" ("Obrigações". vol. I. pág. 527). 
Não acompanhamos estas considerações: poderá ser uma posição 
subjectiva de causa, norteada por um subjectivisrno úpico: fim proporcionado 
pelo tipo contratual utilizado emergente da lei. como propugna Betti. "Teoria". 
vol. II. págs. 373 ss., ou poderá ser uma posição objectiva de causa: interesse 
prosseguido pelo negócio jurídico. atendível pelo Direito. como defende Castro 
Mendes ou, ainda, uma posição eclética: as partes ao escolherem determinado 
tipo contratual integram, no seu processo volitivo. a causa função tutelada 
pelo Direito (G Telles, "Manual". págs. 253 ss.). sendo esta a posição que 
tem vindo a ser entendida como a mais defensável. 
Assim. e concluindo. na estrutura do negócio jurídico temos de con-
siderar a vontade, a declaração e a causa, entendida esta como função do ne-
gócio, que se distingue da declaração. exprimindo a força dinâmica do acto, 
15 
PRÂTICA DE DIREITO DAS OSR!GAÇOES - OUESTÓES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
uma força que, embora gerando-se nele, se desenvolve e se realiza em mo-
mento posterior, acabando por adquirir vitalidade autónoma e valor objectivo 
no mundo das relações sociais. 
{fonte: www.dqsi.pt). 
10, Defina "eficácia de um contrato" (art. º 406.º CCiv.). 
O contrato deve ser pontualmente cumprido, só podendo modificar-se 
ou extinguir-se por mútuo acordo das partes ou nos casos previstos na lei. 
Em relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos casos e termos 
especialmente previstos na lei. 
11. Diga o que se entende por "eficácia relativa" ("eficácia obri-
gacional"). 
A eficácia relativa dos contratos consiste no princípio segundo o qual 
e como regra os efeitos dos contratos se restringem às partes neles. entendidas 
estas como os contraentes originários. os seus herdeiros ou os seus sucessores. 
12. Reporte-se aos direitos do credor e à eficácia externa das 
obrigações. 
O credor tem um direito subjectivo: o crédito. Quem viola ilicitamente 
um direito subjectivo alheio fica obrigado a indemnizar pelos danos a que 
der origem (art.º 483.º). Logo, um terceiro que viole o crédito, impedindo o 
credor de vir a receber a prestação a que tem direito, terá de indemnizá-lo 
nos termos desse art.° 483.°. Acresce que, se o terceiro incitar ou apoiar o 
devedor no incumprimento, esse terceiro será instigador ou cúmplice, e estes 
também são obrigados a indemnizar (art.º 490.°). 
A teoria da eficácia externa defende a responsabilidade civil de terceiros 
que lesem o credor conhêcendo a existência do crédito. Com efeito, o credor 
tem um direito subjectivo, tem uma posição de vantagem protegida pelo 
sistema jurídico, sendo que o ordenamento lbe reconhece a possibilidade de 
obter coercivamente a própria prestação devida (art.º' 817.° e 827.° ss.), e 
-16 
PARTE GERAL'. NOÇÕES GERAIS: OBRIGAÇÃO, OBRIGAÇÃO NATURAL, PRESTAÇÃO 
não só um sucedâneo pecuniário. Deste modo, a posição do credor não é a de 
quem tem uma simples expectativa de ganho económico, mas sim a de quem 
tem um bem juridicamente protegido, pelo que a existência desta posição do 
credor tem de ser reconhecida por todos, o que implica que todos devem 
respeitá-lo, ou seja: abster-se de interferir sobre a prestação do devedor. sob 
pena de responsabilidade. 
13. Distinga "direitos de crédito" e "direitos reais". 
Esta questão já não respeita ao problema da eficácia externa das 
obrigações, embora esteja com ela relacionada. É preciso ter em conta que 
mesmo quem defenda a eficácia externa continuará a reconhecer que existem 
importantes diferenças práticas ( ou seja: de regime) entre os direitos de crédito 
e os direitos reais. Em síntese, são as seguintes: 
Há meios de protecção ( contra terceiros) específicos dos direitos reais 
ou, pelo menos, dos direitos absolutos, sem paralelo no direito de crédito, 
como sejam a acção de reivindicação (art.° 1311.°), a acção negatória (sem 
artigo específico) e as acções constitutivas em que se exercem direitos reais 
de aquisição (art." 1410.° e 413.°). 
Esses meios de tutela específicos dos direitos reais não dependem de 
culpa. 
Pelo contrário, a responsabilidade civil depende normalmente de culpa 
(art.° 483.°). Portanto,mesmo quem defende a eficácia externa das obrigações 
só a defende no caso de haver culpa do terceiro. Não esquecer, por outro 
lado que, quando se pretende proteger o titular de um direito real através da 
responsabilidade civil, esta responsabilidade civil também depende de culpa 
(art.° 483.°). 
Mesmo em matéria de responsabilidade civil, parece haver uma dife-
rença entre os direitos reais e os direitos de crédito. É que o lesante de um 
direito real será responsável ainda que ignore a existência desse direito real, 
desde que a ignorância seja negligente. Pelo contrário, um terceiro que lese 
o crédito só será responsável se efectivamente conhecer o crédito. 
17 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÔES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPO
TESES RESOLVIDAS 
14. O "contrato a favor de terceiro" ( art."' 443.º ss. CCiv.) constitui 
excepção ao princípio da relatividade dos contratos? 
Pode afirmar-se que o contrato a favor de terceiro constitui uma excep-
ção ao princípio da relatividade dos contratos, entendido este no sentido de 
que do contrato apenas resultam direitos e deveres específicos para as partes 
(art.º 406.º/2 CCiv.). Na verdade, o terceiro não é parte e, ainda assim, adquire 
logo o direito, embora possa depois rejeitar a promessa ( com a consequente 
extinção do seu direito), em nome do princípio invito beneficium non datur. 
Contudo, o contrato não deixa de ser oponível a terceiros, como qualquer 
contrato: terceiros devem abster-se de interferir com o contrato, podendo ser 
responsabilizados se, com conhecimento dele, interferirem ( segundo a tese 
da responsabilidade civil de terceiro por lesão do direito de crédito). Esta 
posição diferencia pois relati vida de e oponibilidade a terceiros dos contratos 
e dos próprios direitos de crédito deles decorrentes. Para a tese de que a rela-
tividade do contrato significa que o mesmo é inoponível a terceiros, não pro-
duzindo efeitos em relação a terceiros (nem em termos de direitos nem em 
termos de deveres). também haverá aqui excepção ao princípio da relatividade 
dos contratos. 
No contrato a favor de terceiro, o terceiro não é parte no contrato; no 
contrato para pessoa a nomear (art." 452.º e ss. CCiv.), o terceiro, quando a 
sua nomeação seja eficaz, vem a assumir a posição de parte (art.º 455.º/l 
CCiv. ); no contrato para pessoa a nomear o objectivo não é atribuir um bene-
fício ao terceiro a nomear, razão por que, para este, a aquisição de um direito 
pelo contrato não opera automaticamente, dependendo antes da sua vinculação 
voluntária, por procuração ou ratificação (art.º 453.º/2 CCiv.), ao contrário 
do que sucede no contrato a favor de terceiro (art.º 444.
0/1 CCiv.). 
(fonte: www.dgsi.pt). 
1S 
CAPITULO2 
FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, 
PACTO DE PREFERÊNCIA, NEGÓCIOS UNlLATERAIS, 
GESTÃO DE NEGÓCIOS E ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA 
15. O que são "Fontes de obrigações"? 
São os factos jurídicos de onde nasce o vínculo obrigacional (as 
principais são os contratos e a responsabilidade civil). 
16. Refira-se, genericamente, aos contratos enquanto fonte das 
obrigações. 
Contrato é o acordo pelo qual '·duas, ou mais, partes ajustam reciproca-
mente os seus interesses, dando-lhes uma regulamentação que a lei traduz 
em termos de efeitos jurídicos." 
Trata-se, pois, de um acto mediante o qual se cria um negócio jurídico 
entre as partes. de acordo com as respectivas vontades. 
Em termos técnicos, o contrato é um mecanismo de auto-regulamen-
tação de interesses particulares, reconhecido e autorizado pela lei, que lhe 
confere uma força vinculativa. Desde que não viole qualquer dispositivo legal, 
o contrato constitui ·'Lei entre as partes". 
Depois de celebrado, só poderá ser modificado havendo acordo dos 
contraentes ou nos casos expressamente admitidos na lei. 
Na medida em que se trata de uma forma privativa de criação de obri-
gações. estabelecem-se alguns princípios que regulam o seu funcionamento, 
19 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBR!GAÇÔES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
de entre os quais surgem dois que assumem uma importância acrescida: o 
princípio da unidade e o da liberdade contratual. 
Dito de outra forma, e no que respeita a contratos. tudo o que for ne-
gociado e estipulado entre as partes terá que ser objecto de apenas um contrato, 
impedindo-se deste modo que um determinado negócio seja tratado em dois 
ou três contratos distintos: tudo deve ser regulado num só contrato. Assim, 
caso seja necessário proceder a eventuais alterações do que tinha sido inicial-
mente estabelecido tal só será possível através de aditamentos, que embora 
introduzam alterações no contrato inicialmente celebrado, têm efeitos retro-
activos, não afectando nem a validade nem os efeitos que, entretanto, já se 
verificaram. 
O art.º 405.º CCiv. enuncia o princípio da liberdade contratual como a 
faculdade que as partes têm, dentro dos linútes da lei, de fixar livremente o 
conteúdo dos contratos, celebrar contratos diferentes dos prescritos no Código 
ou incluir nestes as cláusulas que lhes aprouver. 
Este princípio divide-se em duas vertentes: 
i) a liberdade de celebração (as partes são livres de aceitar submeter-
-se ao contrato): e 
ii) a liberdade de estipulação (as partes são livres de negociar os 
diversos aspectos concernentes ao contrato em questão): é aliás 
esta característica que permite às partes celebrarem contratos 
mistos ( entendendo-se por contrato misto um só contrato com 
elementos próprios de mais do que um contrato típico) e uniões 
de contratos (nas quais existe uma pluralidade de contratos, 
típicos ou não, articulados entre si por força de uma relação de 
interdependência que preside ao modo como a sua execução terá, 
ou deixará de ter, lugar). 
Uma vez validamente celebrado, o contrato tem força obrigatória entre 
as partes: "pacta sunt servanda". Ou seja: nenhuma das partes se pode afastar 
unilateralmente daquilo a que se obrigou; e cada uma deve cumprir pontual-
mente as suas obrigações (art.º 406.º/l CCiv.). 
Os contratos têm eficácia obrigacional e eficácia real, para além de 
poderem ser fonte de relações de farm1ia e de direitos sucessórios. 
lo 
FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERENCIA 
Os contratos constituem, modificam ou extinguem relações obriga-
cionais. Mas, para além disto, a constituição ou transferência de direitos 
reais sobre coisa determinada dá-se por mero efeito do contrato (eficácia 
real - art.º 485.º CCiv.). 
Contudo, o princípio da transferência imediata do direito real pode ser 
afastado pelas partes, na medida em que o vendedor pode reservar aproprie-
dade da coisa vendida durante um certo período, normalmente até ao cumpri-
mento integral das obrigações que recaiam sobre a outra parte (pagamento 
do preço, prestação de garantias, etc.). A cláusula de reserva de propriedade 
é particularmente frequente nas vendas a prestações (art.º 409.º CCiv.). 
Para que um contrato seja validamente celebrado é necessário que se 
verifiquem determinados requisitos de validade, ou seja. realidades sem as 
quais o contrato existe, mas não é válido, antes é nulo ou anulável. 
Existem dois tipos de requisitos de validade: os de ordem material 
(que asseguram a validade substancial do negócio que se pretende celebrar): 
e os de ordem formal (que determinam a validade do modo como o negócio 
é celebrado, ou seja, como tem que se apresentar frente aos outros). 
São requisitos de validade material: 
A) capacidade e legitimidade das partes: para poderem ser parte 
de uma relação jurídica, os sujeitos têm que ter capacidade (de 
exercício) para tal, ou não a tendo, têm que supri-la, nos termos 
e formas legalmente previstas. 
De igual modo, para realizar determinado acto jurídico - contrato 
- têm as partes que deter uma posição pessoal concreta em relação 
ao objecto do negócio, que justifique que o sujeito em questão 
se ocupe daquele objecto. Essaposição, designada por legitimi-
dade, é o poder que alguém tem de celebrar determinado contrato 
(v.g.: compra e venda de um apartamento), derivado do facto de 
lhe pertencerem os interesses que serão matéria de tal contrato. 
A ilegitimidade, no negócio jurídico, conduz à nulidade (absoluta) 
do negócio, mas pode ser resolvida pela aquisição superveniente 
da legitimidade. 
A legitimidade pode ser: i) directa (resulta de uma relação entre 
a pessoa e o direito ou vinculação de que o negócio jurídico trata 
21 
PRÁTICA DE DIRE!TO DAS OBAIGAÇóES -
QUESTÕES TEÓR!CAS E HIPOTESES RESO
LVIDAS 
(v.g.: A é proprietário de um carro e vende-o); ii) ind
irecta (decorre 
de uma relação entre o autor do negócio e de um
a pessoa dotada 
de legitimidade. (v.g.: A tem uma casa e encarrega B d
e a vender); 
B) o objecto negocial: nos termos do art.º 280.º
 CCiv .• o objecto 
negocial tem que preencher determinados requ
isitos para que 
seja susceptível de ser alvo de uma contratualiza
ção. A saber: i) 
tem que ser física e legalmente possível; ii) será
 lícito; iii) terá 
que ser determinável; iv) não poderá contrariar a 
ordem pública: 
v) deverá ser conforme aos bons costumes. 
Elemento essencial do contrato são as declarações
 das partes. porquanto 
são estas declarações que constituem o contrato
. 
A declaração contratual divide-se nos seguintes 
elementos: i) a decla-
ração propriamente dita, ou seja: o comportamen
to; ii) o querer tal compor-
tamento com sentido contratual e com os resulta
dos que lhe são atribuídos. 
A declaração expressa é aquela que é feita por qua
lquer meio directo 
de expressão da vontade: o destinatário da pro
posta contratual escreve a 
declarar que a aceita. 
A declaração tácita é aquela que se deduz de fa
ctos que. com toda a 
probabilidade, a revelam. 
Nos termos do art.º 218.º CCiv .. o silêncio não v
ale como declaração 
negocial, a não ser que esse valor lhe seja atribuído po
r lei, convenção ou uso. 
Portanto, se alguém recebe um livro em casa, com a
 indicação de que 
se nada disser dentro de um prazo de uma semana,
 se entenderá que o pretende 
comprar, o silêncio do destinatário não valerá c
omo aceitação: ··quem cala 
não consente". 
(fonte: www.dgsi.pt). 
17. Defina "Sinal" (art.º 442.º CCiv.) 
É a coisa entregue a um dos contraentes como garantia
 ou adiantamento 
do cumprimento das suas obrigações, conferindo
 maior segurança à efectiva-
ção do negócio jurídico, assegurando-se, com a entr
ega do sinal, o pontual 
2Z 
FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, 
CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFE
RENCIA 
cumprimento das obrigações. O não cumprimen
to pela parte leva à perda do 
sinal e confere a esta, no caso de incumprimento p
ela contraparte. a restituição 
do sinal em dobro. 
18. Defina e caracterize sucintamente as "prefe
rências" (art." 
414. º ss. CCiv.). 
À convenção pela qual alguém assume a obrigaç
ão de dar preferência 
a outrem na venda de determinada coisa chama-s
e pacto de preferência (art.º 
414.º CCiv.). Ou seja: pacto de preferência é o co
ntrato pelo qual alguém 
assume a obrigação de, em igualdade de condi
ções. escolher determinada 
pessoa (a outra parte ou terceiro) como seu contr
aente. no caso de se decidir 
a celebrar certo negócio. 
Na orientação mais autorizada, as preferências integra
m-se na categoria 
de direitos a que os nossos autores têm chamado
, por influência da doutrina 
alemã, direitos reais de aquisição, o que signifi
ca tratar-se de direitos "que 
conferem aos respecti vos titulares o poder de adqu
irir sobre determinada coisa, 
quando ocorrem outros pressupostos, um direit
o real de gozo .. (Vaz Serra. 
RLJ. ano 103, págs. 471, nota 1: A.Varela, rev. 
cit., págs. 476; Revista dos 
Tribunais, ano 87. págs. 360; Acs. do S.T.J., de 2
7-10-1972. BMJ 220/163 e 
de 8-1-1974, in BMJ., 233/190). 
Os direitos legais de preferência conferem ao t
itular a faculdade de, 
em igualdade de condições, se substituírem a q
ualquer adquirente da coisa 
sobre que incidam. em certas formas de alienaçã
o (venda. dação em cumpri-
mento de prédio sujeito a preferência). Com essa
 finalidade, o obrigado à pre-
ferência deve comunicar ao titular do direito o 
propósito de alienação e as 
cláusulas do respectivo contrato (art.
0 416.0 /1 CCiv.) e se o não fizer e. 
entretanto, se consumar a alienação o preferen
te fica com a faculdade de. 
dentro de certo prazo (seis meses) fazer valer o se
u direito contra o adquirente 
(art.º 1410.º/l CCiv.). 
A preferência nasce para o seu titular ''logo que s
e efectua o contrato", 
radicando-se na pessoa a quem assiste. 
Isso mesmo resulta da obrigação imposta ao ve
ndedor de comunicar 
ao titular do direito o projecto de venda e as cláu
sulas do respectivo contrato 
(art.º 416.º/l CCiv.). 
23 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
Os pactos de preferência despidos de eficácia real provam-se por 
docwnento escrito as-sinado pelo obrigado. 
O terceiro que adquiriu a coisa objecto da preferência constituir-se-á 
na obrigação de indemnizar o preferente? 
Na preferência legal o preferente beneficia, além do direito de crédito 
do comportamento do obrigado à preferência, de um direito potestativo que 
lhe permite fazer seu o negócio de alienação realizado com violação do direito 
de preferência. Por outro lado o art.º 421.0 /1 prescreve que: o direito de 
preferência pode, por convenção das partes, gozar de eficácia real se, res-
peitando a bens imóveis ou a móveis sujeitos a registo, constar de escritura 
pública ou docwnento particular, nos termos da lei, e estiver registado nos 
termos da respectiva legislação. 
Tal como no direito legal de preferência, no direito convencional, o 
preferente, efectuada a alienação, pode substituir-se ao adquirente, desde 
que o direito de preferência respeite a imóveis ou móveis sujeitos a registo e 
respeite as imposições formais. bem como tenha sido registado nos termos 
das disposições do Código do Registo Predial. É a eficácia real do direito 
convencional de preferência que, assim. pode ser oposto a qualquer adquirente 
da coisa. 
No direito convencional de preferência sem eficácia real, o preferente 
tem apenas wn direito de crédito cuja violação dá exclusivamente direito a 
ser indemnizado dos prejuízos. 
Mas poderá, pela não execução de wn contrato, haver responsabilidade 
de um terceiro cúmplice do devedor? 
Esta questão coloca-se nos pactos de preferência com eficácia real ou 
meramente obrigacional. A problemática desta questão prende-se com os 
chamados efeitos externos das obrigações. 
Não obstante o preceituado no art.º 483.º CCiv., Vaz Serra escreve: 
poder-se-ia dizer que o terceiro. que concorreu conscientemente para avio-
lação do pacto de preferência se constitui em responsabilidade, pois infringiu 
o dever de que nada se deve fazer que impeça o normal cwnprimento das 
obrigações contratuais, mas isso só será assim quando o terceiro não exerce 
um direito ou um poder legal, o que não acontece no caso em questão, pois 
todas as pessoas não exceptuadas na lei podem comprar ou vender. 
Só o terceiro de má fé pode ser responsável pela indemnização. 
2.4 
FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO OE PREFERÊNCIA 
Vaz Serra continua a ensinar que: Em princípio, conquanto possa parecer 
razoável que se admita wn direito de indemnização do credor da preferência 
contra o terceiro conhecedor dela. esse direito não se afigura de aceitar, uma 
vez que os direitos de crédito só valem, em princípio, contra o devedor. O 
credor da preferência só tratou com o devedor dela, não com o terceiro, es-
tranho à convenção, e a quem os direitos obrigacionais daquele não vinculam. 
O terceiro nada tem a ver com o pacto de preferência. Comprando usa 
da sua liberdade de adquirir. que esse pacto não limita, por lhe ser alheio. 
Ainda que ao comprar conhecesse o direito de preferência, não tinha 
que se embaraçar com ele, pois só o devedor assumira a obrigaçãode respeitar 
("Obrigação de Preferência", BMJ 76). 
Por sua vez. Manuel de Andrade escreve que: A responsabilidade do 
terceiro comprador só poderia ter justificação aceitável nos casos em ele 
tenha procedido de modo particularmente escandaloso para a consciência 
jurídica dominante. E o expediente técnico que a poderá legitimar em face 
do direito positivo será o abuso de direito. 
Parece assim que será de admitir a responsabilidade de terceiro se este 
adquiriu a coisa objecto da preferência com a intenção de impedir o exercício 
daquele direito pelo seu titular, pois bem se pode dizer que ele procedeu com 
abuso de direito - art.º 334.º CCiv. ("Teoria Geral das Obrigações", 3.' ed., 
pág. 62). 
No pacto de preferência, o obrigado à preferência está adstrito a uma 
prestação que consiste em escolher o titular do direito de preferência para 
contraparte, caso decida efectuar o contrato a que a relação de preferência se 
reporta (e o preferente se disponha a contratar nos termos em que terceiro o 
faria). 
Sendo o contrato de preferência limitado à celebração pelo obrigado 
de determinado negócio jurídico com relação a certos bens ou interesses -
aqueles que constam do pacto - não existe a obrigação de comunicar à 
contraparte o projecto de negócio, nem se o contrato que o obrigado realizar 
for outro que não o constante do contrato de preferência, nem se os bens 
forem diversos dos contratualmente definidos. 
No âmbito meramente obrigacional, ··se o obrigado à preferência vender 
a coisa a terceiro sem notificar a outra parte ou apesar desta ter em tempo 
25 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HlPOTESES RESOLVIDAS 
declarado preferir, incorrerá perante ela em responsabilidade contratual, 
devendo indemnizá-la pelos prejuízos que lhe advierem da violação do pacto. 
O preferente tem de se contentar com essa indemnização, não podendo chamar 
a si a coisa alienada". 
Com efeito, ··o pacto de preferência só constitui um direito real de 
aquisição quando !bê foi conferida eficácia real; caso contrário, esse pacto 
tem natureza meramente obrigacional, havendo apenas direito a indemnização 
por perdas e danos em caso de inobservância do mesmo". 
A comunicação para preferência é um dever legal ou convencional que 
se espera que as partes cumpram bem na sua vida normal, sem terem de 
indacrar sobre os meandros das discussões doutrinais ou jurisprudenciais a 
o 
esse respeito. Como sustentou Oliveira Ascensão, não se devem impor 
formalismos com que as pessoas normais não devam contar e que, por isso, 
provavelmente não irão cumprir. Se alguém está obrigado a dar preferência 
quando pretenda vender, o que tem de fazer, na leitura de uma pessoa normal 
( cfr., aliás, o paralelo com as regras da interpretação negocial do art.º 236.º), 
é dar ao preferente a oportunidade de preferir antes dessa projectada venda. 
Exigir mais do que isso seria criar "'insegurança jurídica'', ou seja, seria 
potenciar o aumento do número de litígios e de soluções judiciais inesperadas 
no momento em que se agiu, tendo os sujeitos agido com normalidade e 
confiando na correcção jurídica do seu comportamento, i.e.: em direito privado, 
tendo agido de boa fé. 
A tese de que o obrigado à preferência deveria informar o preferente 
da identidade do terceiro "porque isso pode interessar ao preferente" é uma 
tese que prova demais, já que também pode interessar ao preferente saber 
coisas acerca do terceiro, sendo certo que o prazo do art.º 416.º/2 não chega 
para que o preferente o investigue por si. 
Nas preferências legais quanto a compras e vendas, a finalidade da lei 
não é proteger o preferente contra a possibilidade de surgirem pessoas menos 
recomendáveis na relação de que nasce a preferência. Basta pensar que a lei 
dá preferência na venda, mas não, p. ex., no arrendamento ou noutras formas 
de fazer entrar terceiros naquela relação. As finalidades da lei são facilitar o 
acesso de certas pessoas à propriedade (caso dos arrendatários), propiciar a 
extinção de situações objectivas potencialmente litigiosas ou facultar que a 
propriedade sobre certos bens chegue a entidades especialmente vocacionadas 
2.G 
FONTES DAS OSRIGAÇOES: CONTRATOS, CONTRATO•PROMESSA, PACTO DE PREFERENCIA 
(v.g.: em certos direitos de preferência a favor de entidades públicas). Todas 
estas finalidades legais são absolutamente alheias à identidade do comprador 
projectado. Uma das poucas excepções a isto será a do art.
0 1409.º. 
O problema do conteúdo da comunicação para preferência insere-se 
no tema geral das informações devidas no âmbito do direito privado. Nesta 
matéria. rege sobretudo a cláusula geral da boa fé, é ela que deve reger o 
comportamento das partes. Basta esta referência à boa fé para concluir que 
os formalismos devem aqui ser limitados. Além disso, o próprio preferente 
está obrigado a agir de boa fé. Ora, parece uma exigência elementar de boa 
fé que, nos casos em que o preferente tenha algum interesse em saber a 
identidade do comprador projectado, pergunte ao obrigado à preferência sobre 
essa identidade. Se o obrigado à preferência, depois, se recusar. sem motivo 
a dar essa identificação, a comunicação para preferência não poderá ser tida 
por completa. Mas se, pelo contrário, o preferente não manifesta interesse 
em saber quem é o comprador e, depois de decorrido o prazo para preferir, 
porventura por conselho de algum jurista profissional, vem sustentar a 
invalidade da comunicação, parece que não merece tutela. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
19. Defina "contrato para pessoa a nomear'' (art. ~ 452.º ss. CCiv.) 
O art.º 452.º CCiv. estabelece no seu n.º 1 que, ao celebrar o contrato, 
pode uma das partes reservar o direito de nomear um terceiro que adquira os 
direitos e assuma as obrigações provenientes desse contrato. 
O contrato para pessoa a nomear será aquele em que uma das partes se 
reserva o direito de designar um terceiro que adquira os direitos e assuma as 
obrigações que lhe assistem, como se o contrato tivesse sido celebrado com 
ele (art.º 452.º CCiv.). 
Este contrato produz todos os seus efeitos entre os contraentes e, apenas 
entre eles, porque enquanto não houver designação de outra pessoa, os 
contraentes são os outorgantes no contrato. 
Distingue-se, assim, de outros contratos próximos, como a represen-
tação, contrato a favor de terceiro, mandato sem representação e do próprio 
contrato-promessa. 
27 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
Na verdade, o contrato para pessoa a nomear é definitivo entre as partes 
mas a pessoa a nomear ou que seja nomeada não é parte no contrato-promessa 
porque a nenhuma promessa se obrigou. 
Ponto importante a salientar é que no contrato para pessoa a nomear o 
outorgante apenas se reserva o direito de nomear um terceiro, sem qualquer 
compromisso. conferindo-se a si próprio uma faculdade. 
Desta natureza afluem somente os efeitos referidos no art.º 455.º/2 
CCiv. que estabelece que não sendo feita a declaração de nomeação nos 
termos legais o contrato produz os seus efeitos relativamente ao contraente 
originário, desde que não haja estipulação em contrário. 
O terceiro adquire, com eficácia retroactiva, a posição da parte que 
vem substiruir. Ou seja: rudo se passa como se o substituído nunca tivesse 
intervindo, sendo o substiruto a parte originária. Para que estes efeitos se 
produzam, necessário será que haja a designação do substiruto, e que este 
ratifique (aprove) a nomeação, ou que haja procuração anterior à celebração 
do contrato dirigido a esta nomeação (art." 453.
0 
e 454.º CCiv.). 
(fonte: www.dgsi.pt). 
20. Defina e caracterize o "Negócio Jurídico Unilateral". 
O CCiv. Pormguês não define negócio jurídico unilateral, sendo várias 
as definições que a Doutrina e a Jurisprudência fornecem: todavia, os negó-
cios unilaterais são genericamente fonte de obrigações. desde logo pela sua 
inclusão sistemática na secção II do capítuloII do Código, dedicado às fontes. 
"Não obstante a declaração formal contida naquele normativo [ o art.º 
457 .º], o CCiv. acabou por instiruir um sistema que generaliza os actos 
unilaterais como forma de constimir obrigações. 
Consequentemente não é possível falar em típicidades nem em numerus 
clausus de negócios unilaterais" (Menezes Cordeiro, Direito das Obrigações, 
1980, 1.0 vol., pág. 560). 
E continua: "Só há tipicidade normativa estrita nas áreas em que a lei 
estatua, apenas, com recurso a tipos normativos, isto é, prevendo categorias 
delimitadas de eventos a que associe, depois, os efeitos jurídicos. Essas 
2.8 
FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTAATO~PROMESSA, PACTO DE ?REFERENCIA 
categorias devem vir referenciadas por forma determinada, com descrição 
precisa dos seus traços específicos. Quando, numa série pretensamente úpica, 
surjam categorias de tal forma abstractas que lhes sejam reconducúveis 
eventos qualitativamente diferentes em quantidades indetermináveis, a tipici-
dade é meramente aparente. 
"Tomemos o exemplo claro do Direito Penal. É sabido reinar aí uma 
tipicidade de factos criminosos, por imposição constirucional. Mas essa tipi-
cidade só será efectiva se a lei penal estaruir sempre descrevendo. com 
precisão, os eventos a que associa as penas (v.g.: homicídio, furto, fogo posto, 
etc.). A tipicidade perder-se-ia por completo se, ao lado dos tipos legais de 
crimes surgisse um tipo abstracto; v.g.: toda a actividade nociva é punida. Se 
assim sucedesse, o legislador perderia. por completo, o efectivo controlo sobre 
os actos, considerados criminosos: um número indeterminado de actividades 
qualitativamente distintas poderia cair na alçada da lei penal e faltaria, comple-
tamente, qualquer ·numerus clausus'". 
"Apliquemos. agora, este raciocínio aos actos unilaterais". 
"Indubitavelmente, o art.º 457 .º CCiv. pretendeu instimir urna tipicidade 
de actos unilaterais; estes seriam apenas viáveis quando expressamente 
permitidos por lei. derivando daí o seu "numerus clausus". O sistema só 
ficaria. no entanto, completo. caso o Código tivesse, em todo o complexo 
normativo consagrado tipos estritos de negócios unilaterais. Porque. caso 
surja alguma possibilidade genérica de celebrar actos unilaterais, o Código 
vem destruir depois, mediante urna excepção total, aquilo que tão laboriosa-
mente comunicara no seu art.º 457.º". 
Sabemos já que isso sucede por força de proposta contrarual. Esta não 
pode deixar de ser considerada como negócio unilateral; e como o seu con-
teúdo é totalmente livre não é possível falar de proposta com um tipo. Pelo 
contrário, ela integrará um número indeterminado de tipos negociais (proposta 
de compra e venda, de locação, de sociedade, etc.) meramente exemplifi-
cativos". 
"E não se diga que da proposta contrarual nascem, apenas, direitos 
potestativos e não verdadeiros créditos. Efectivamente, a noção de crédito e 
a de direito potestativo não são incompatíveis, sendo viável a existência de 
créditos potestativos. Basta, para tanto, que a uma pessoa sejam conferidos 
29 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBR!GAÇÔES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
poderes sobre outra, em termos de aproveitar prestações. O facto de, uma 
vez celebrado um contrato, surgirem direitos diferentes dos resultantes da 
proposta apenas justifica a distinção entre actos unilaterais e bilaterais. Mas 
nunca a confusão entre eles. muito menos a supressão de um deles" . 
··Para além deste argumento, que temos por fundamental. outros podere-
mos encontrar através da ponderação de figuras pacificamente consideradas 
como integrando casos de negócios unilaterais. Pensa-se, por exemplo, no 
testamento. Esse negócio é totalmente atípico, uma vez que, por seu inter-
médio, pode ser conseguido um número indeterminado de efeitos. A espe-
cialidade de ser "mortis causa" não lhe franqueia. de forma alguma, as portaS 
da tipicidade normativa. O mesmo se poderá concluir do art.º 459.º (Promessa 
fJública) e do art.º 463.º (Concurso público); os conteúdos desses negócios 
não estão, de forma alguma, tipificados na lei. O facto de exigirem alguns 
requisitos de celebração não os transforma em elementos dum "numerus 
clausus"'. Pensa-se que também a celebração dos contratos obedece a regras''. 
"No fundo, e para além dos aspectos técnicos que não devem ser esque-
cidos, há que contestar, no nosso direito. o entendimento clássico do princípio 
"invito non datur beneficium" (a ninguém poderia ser imposto um benefício 
contra vontade). De inúmeras disposições do CCiv. resulta que as pessoas 
podem ser beneficiadas por outro, independentemente de acordo; só que. 
naturalmente, podem, também, recusar o benefício". 
.. Assim sucede no caso do destinatário da proposta contratual; assim 
sucede, também, na hipótese do beneficiário do contrato a favor de terceiro". 
"A única ideia útil que se poderia retirar de uma eventual limitação aos 
negócios unilaterais é a de que as pessoas podem obrigar-se unilateralmente, 
mas não podem obrigar outras, sem o consentimento destas". 
Na nossa ordem jurídica. existem casos em que o legislador submete a 
perfeição da declaração unilateral à recepção do destinatário e outros em que 
não é feita tal exigência. 
Dito de outra forma. uma distinção que impera nos negócios unilaterais 
é a que se estabelece entre negócios unilaterais receptícios (recipiendos) e 
negócios unilaterais não receptícios. Os primeiros pressupõem que a declara-
ção de vontade tenha de ser dirigida e comunicada a certa pessoa; enquanto 
nos segundos basta a emissão da declaração, sem ser necessário comunicá-
-la a quem quer que seja. 
30 
FONTES OAS OBRJGAÇÓES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERÊNCIA 
Assim, são não receptícios, isto é, não carecem de ser dirigidos e levados 
ao conhecimento de pessoa determinada, --o testamento, o acto de instituição 
das fundações, a promessa pública, a aceitação e o repúdio da herança". 
Nos negócios receptícios a declaração "só é eficaz se for e quando for 
dirigida e levada ao conhecimento de certa pessoa··. enquanto nos não 
receptícios a declaração produz efeitos logo que é emitida. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
21. Defina "Concurso público" (art.º 463.º CCiv.). 
O concurso público é uma modalidade especial de negócio jurídico 
unilateral ( ou seja: um negócio constituído por uma declaração negocial 
dirigida à produção de efeitos jurídicos), em que se oferece uma prestação 
como prémio de um concurso, sendo necessário fixar prazo para a apresen-
tação dos concorrentes. sob pena de invalidade (art.º 463.0 /1 infine): distingue-
-se do concurso para a celebração de um contrato na medida em que este se 
traduz num convite à apresentação de propostas ou ofertas por todos os 
interessados, inserindo-se no processo de formação de um negócio jurídico 
bilateral ou contrato. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
22. Derma e caracterize sucintamente a "promessa pública" (art. º 
459. º CCiv.) 
Entende-se por promessa pública a declaração feita mediante anúncio 
divulgado entre os interessados, na qual o autor se obriga a dar uma recom-
pensa ou gratificação a quem se encontre em determinada situação ou pratique 
certo facto. positivo ou negativo. 
A lei determina que essa situação implica imediatamente e sem neces-
sidade de aceitação do beneficiário, a vinculação do promitente a essa pro-
messa (art.º 459.0 /1 CCiv.). 
Portanto, a promessa pública é um negócio unilateral constitutivo de obri-
gações não se confundindo. por isso, com outras declarações negociais diri-
gidas ao público (art.º 230.º/3): estas apresentam-se como partes integrantes 
31 
PRÁT!CA OE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
do processo de formação de um contrato sendo que, apenas com a conclusão 
daquele, se constituem obrigações. 
Uma vez emitida, a declaração tem como efeito a constituição imediata 
de uma obrigação, ficando o promitente desde logo vinculado à promessa 
(art.º 459.º/l CCiv.), mesmo ignorando quemé o beneficiário, que só virá a 
ser determinado posteriormente. 
Está-se, por isso, perante uma obrigação de sujeito activo indeterminado 
mas determinável (art.º 511.º CCiv.), vindo a ocorrer essa determinação 
quando se souber quem se encontra na situação prevista ou quem vem a 
praticar o referido facto. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
23. Caracterize brevemente a "Gestão de negócios" (art.º' 464.º 
ss. CCiv.). 
Dá-se gestão de negócios quando uma pessoa assume a direcção de 
negócio alheio, no interesse e por conta do dono, sem para tal estar autorizado 
(art.º 464.º CCiv.), podendo afirmar-se que esta fonte autónoma de obrigações 
está sujeita a 03 requisitos: i) que alguém assuma a direcção de negócio 
alheio: ii) no interesse e por conta do dono do negócio; iii) sem autorização 
deste. 
A gestão de negócios traduz-se numa ingerência na esfera jurídica de 
outrem, que tem como nota típica mais destacada a falta de autorização (legal 
ou convencional), nesse aspecto se distinguindo a actuação do gestor da activi-
dade do núncio, do procurador, do representante, do mandatário ou do repre-
sentante legal, sendo da essência do instituto da gestão de negócios uma 
intervenção não autorizada na direcção de negócio alheio. 
A actividade do gestor de negócios pode ter porobjecto, não só a prática 
de negócios jurídicos, mas também a realização de actos jurídicos não nego-
ciais e até de simples actos materiais. 
O dono do negócio terá de reembolsar o gestor das despesas que haja 
feito e dos prejuízos que tenha sofrido, tanto no caso de ter aprovado a gestão, 
como no de se mostrar que a actuação deste foi regularmente exercida. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
32 
FONTES DAS OBR!GAÇOES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERENCIA 
24. Refira-se ao "Enriquecimento sem causa" (art.% 473.º ss. 
CCiv.). 
Aquele que sem causa justificativa enriquecer à custa de outrem é 
obrigado a restituir aquilo com que injustamente se locupletou (art.º 473.º/l 
CCiv.). 
Ressalta deste preceito legal que é necessá.rio, para que se verifique o 
enriquecimento sem causa, que exista uma obrigação em que é devedor o 
enriquecido e credor aquele que suporta o enriquecimento. Terão assim de se 
verificar três requisitos cumulativos essenciais: i) existência de um enriqueci-
mento; ü) que esse enriquecimento se obtenha à custa de outrem e, iii) falta 
de causa justificativa. 
Para que o enriquecimento sem causa ocorra, terá de existir vantagem 
de alguém. que essa vantagem se obtenha à custe de outrem e falta de causa 
justificativa. 
A obrigação de restituir com base no enriquecimento sem causa tem 
carácter subsidiário: se alguém obtém um enriquecimento à custa de outrem, 
sem causa, mas a lei faculta ao empobrecido algum meio especifico de des-
fazer a deslocação patrimonial, será a esse meio que ele deverá recorrer, não 
se aplicando as normas dos art.º' 473.º ss. CCiv .. 
Cunha Gonçalves (''Tratado de Direito Civil"', IV, pág. 743) escreveu 
que: "Em caso de dúvida deve presumir-se que o enriquecimento derivou de 
justa causa e ao autor incumbe a prova de que o seu detrimento foi produzido 
··sine causa", no mesmo sentido podendo ver-se Pires de Lima e Antunes 
Varela, ··código Civil Anotado", I, 4.> ed., pág. 456 e Rodrigues Bastos, 
"Notas ao Código Civil", II, pág. 269. Exemplo típico é o caso em que a 
deslocação patrimonial assenta sobre um negócio jurídico nulo ou anulável: 
a própria declaração de nulidade ou anulação do acto devolve ao património 
de uma das partes os bens ( ou o respectivo valor) com que a outra se poderia 
enriquecer à sua custa. Mas o carácter subsidiário da restituição fundada no 
enriquecimento tem de ser conjugado com as regras processuais a que obedece 
a iniciativa das partes. nos termos do art.º 264.º CPC, não podendo o tribunal, 
em princípio, afastar-se dos factos alegados e do pedido do autor. 
Na tipologia de enriquecimento sem causa de que nos dá notícia 
Menezes Leitão ("O Enriquecimento sem Causa no Código Civil de 1966"' 
33 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÓES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
in Comemoração dos 35 Anos do Código Civil e dos 25 Anos da Reforma de 
1977, vol. III - Direito das obrigações, págs. 15/37) faz-se alusão ao caso do 
enriquecimento --resultante de despesas efectuadas em coisa alheia"; tal 
enriquecimento por benfeitorias imporia, no entanto, ··a necessidade de protec-
ção contra enriquecimentos não desejados" (pág. 26). 
E Menezes Leitão refere a este propósito que no âmbito da categoria 
do enriquecimento resultante de despesas efectuadas por outrem --coloca-se 
com especial acuidade o problema do enriquecimento imposto, uma vez que. 
se por um lado o enriquecido vem a beneficiar da despesa realizada pelo 
empobrecido, por outro não tem normalmente possibilidade de impedir a 
sua realização, o que leva a considerar ocorrer a imposição de um enriqueci-
mento forçado. Essa imposição do enriquecimento coloca problemas valora-
ti vos específicos, uma vez que a tutela do enriquecido contra esta imposição 
do enriquecimento pode justificar neste caso um diferente entendimento dos 
pressupostos e do objecto da obrigação de restituição. 
Propugna-se que só em caso de boa fé do enriquecido é que fará sentido 
estabelecer uma protecção contra a imposição do enriquecimento [ ... ]. Já 
havendo boa fé do enriquecido, a aplicação do limite do enriquecimento [ ... J 
deverá tomar em conta a planificação subjectiva do enriquecido, não se con-
siderando haver um enriquecido efectivo se o incremento do valor não tem 
para ele qualquer utilidade. Na determinação desta planificação subjectiva é 
especialmente relevante a poupança de despesas, uma vez que o enrique-
cimento subsiste se o enriquecido planeava efectuar despesas que desse modo 
poupou". 
A obrigação de restituir, fundada no injusto locupletamento à custa alheia, 
exige que alguém tenha obtido uma vantagem de carácter patrimonial. sem 
causa que a justifique (ou porque nunca a teve ou porque, tendo-a inicialmente, 
a perdeu depois) e que esse enriquecimento tenha sido obtido à custa de quem 
requer a restituição. 
Mesmo aceitando que a nossa lei exige que o enriquecimento tenha 
sido obtido imediatamente à custa do empobrecimento daquele que se arroga 
o direito à restituição, não devendo haver de permeio, entre o acto gerador 
do prejuízo dele e a vantagem alcançada pela outra parte, um outro acto jurí-
dico, situações haverá que justifique que uma deslocação patrimonial indirecta 
suporte a restituição do injustamente locupletado. 
34-
FONTES DAS OBRIGAÇÕES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE PREFERÊNCIA 
Nesta deslocação patrimonial indirecta não pode perder-se de vista o 
relacionamento. a interligação existente entre o património terceiro. o empo-
brecido e o enriquecido. 
O direito à restituição do que foi obtido sem causa justificativa está 
sujeito ao prazo de prescrição do art.º 482.º CCiv. de três anos. ··a contar da 
data em que o credor teve conhecimento do direito que lhe compete e da 
pessoa do responsável". 
Assim, o enriquecimento é sem causa se não se traduzir na consequência 
legal de qualquer facto jurídico que a lei preveja como idóneo para o gerar. 
ou seja, razoavelmente adequado a uma aquisição ou liberação, porque, nesse 
caso, seria a sua causa justificativa. 
Em qualquer caso. importa distinguir a factualidade integrante da causa 
de pedir enriquecimento sem causa, articulada pelas partes como suporte do 
pedido formulado em sede jurisdicional, da mera argumentação com base nos 
princípios que envolvem o instituto em análise. 
De qualquer forma, o enriquecimento não tem de advir sempre e neces-
sariamente duma prestação do empobrecido ou de terceiro. 
Como ensina Antunes Varela, a deslocação patrimonial é todo o acto 
por virtude do qual se aumenta o património de alguém à custa de outrem. 
seja qual for a forma por que o aumento se opera. podendo consistir até 
numa poupança de despesa ou de uso, indevido e sem qualquer contrapartida, 
decoisa alheia, caso em que não haverá, propriamente, um valor a sair do 
património de um para entrar no do outro (Das Obrigações em Geral. L pág. 
400). 
Portanto, nos casos de enriquecimento por ingerência ou intromissão 
em coisa alheia, e continuando a citar Antunes Varela: --o enriquecimento 
consiste na obtenção de uma vantagem de carácter patrimonial, seja qual for 
a forma que essa vantagem revista, podendo traduzir-se no uso de coisa alheia, 
na instalação de coisa alheia. O enriquecimento é injusto porque, segundo a 
ordenação substancial dos bens aprovada pelo Direito. ele deve pertencer a 
outro." (ob. cit., págs. 484 ss.). 
Na verdade, segundo a teoria da destinação, afectação ou ordenação 
que caracteriza determinados direitos. como os direitos reais, tudo quanto 
diga respeito à rentabilização e ao destino dos bens cabe, em princípio, ao 
respectivo proprietário. de maneira que se um terceiro se intromete no uso 
35 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
do bem, sem o consentimento daquele, ficará, por isso, obrigado a indemnizá-
-lo, restituindo-lhe o valor de exploração, ainda que o proprietário não tenha 
tirado qualquer proveito desses bens. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
25. O que é uma "deslocação patrimonial"? 
É todo o acto por virtude do qual se aumenta o património de alguém 
à custa de outrem, seja qual for a forma por que o aumento se opera. 
Esta expressão não significa porém que o enriquecimento se traduza 
forçosamente numa deslocação de valores do património do lesado para o 
património do enriquecido, e que o direito à restituição consista, como alguns 
autores afirmam, num simples direito de recuperação material, ou seja, num 
mero retomo ao património do credor de valores que de lá saíram indevida-
mente. embora muitas vezes assim suceda: i) quando o enriquecimento nasce 
de acto praticado por terceiro; ii) quando o enriquecimento consiste na 
poupança de uma despesa. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
26. Refira-se ao carácter subsidiário da obrigação de restituir 
(art.º 474.º CCiv.) 
O enriquecimento sem causa pressupõe que alguém se tenha locupletado 
injustificadamente à custa alheia. 
Trata-se de uma fonte autónoma de obrigações prevista no art.º 473.º/ 
/1 CCiv .. 
Pressupõe um enriquecimento obtido à custa de outrem sem que se 
perfile qualquer causa justificativa, sendo que, tratando-se de causa residual, 
só releva se a lei não "facultar ao empobrecido outro meio de ser indemnizado 
ou restituído., ( art.º 4 7 4. º CCiv.) -cfr., por todos, Vaz Serra - ''Enriquecimento 
sem causa" BMJ 81-5 e 82-5; Almeida Costa, in "Direito das Obrigações", 
6.' ed., 409, A. Varela, apud. ·'Das Obrigações em Geral", I, 10.' ed., pág. 
470 e Galvão Telles ("Direito das Obrigações", 5.' ed., pág. 161). 
36 
FONTES DAS OSR!GAÇOES: CONTRATOS, CONTRATO-PROMESSA, PACTO DE ?REFERENCIA 
Há, assim, uma deslocação patrimonial. quer resultante de acto jurídico 
não negocial. quer de mero acto material, em consequência do qual o 
"accipiens'' aumenta o seu património à custa de outrem ("'a danno di un' 
altra persona") sem qualquer causa. obrigacional ou negocialmente clausu-
lada, que a justifique. 
À vantagem patrimonial do enriquecido contrapõe-se o empobreci-
mento do que foi privado do bem ou do património. 
Analisando o requisito da ausência de causa. Almeida Costa ( ob. cit.. 
pág. 418, nota 1) acentua: ··Por causa de uma prestação pode entender-se: ou 
o fim subjectivo pela qual se efectua a prestação ( o cumprimento de uma 
obrigação, a entrega de um empréstimo, uma atribuição gratuita - ·causa 
sol vendi, credendi, donandi' - na terminologia latina): ou a relação jurídica 
de que resulta caber a prestação a quem a recebe. Teremos numa hipótese ou 
na outra, respectivamente, causa de prestação em sentido subjectivo e em sen-
tido objectivo. Esta segunda modalidade é a que interessa para efeito de 
enriquecimento sem causa.·· 
Nota de seguida o "distinguo" entre "causa de uma prestação·• e "causa 
de uma obrigação". 
A causa da deslocação patrimonial só releva para os efeitos do art.º 473.º/ 
/1 CCiv. na ausência de relação obrigacional, negocial ou legal e. designada-
mente. tratando-se de prestação sem qualquer finalidade úpica tutelada. 
Finalmente, a pretensão de enriquecimento é subsidiária ( ou residual). 
isto é: só é possível se inexistir um meio alternativo para ressarcimento dos 
prejuízos (v.g., declaração de nulidade, de anulação. de cumprimento)-cfr .. 
"inter alia", Leite de Campos, "A Subsidiariedade da Obrigação de Restituir 
o Enriquecimento", págs. 171 e 326. Por isso é que quando a deslocação tem 
por base um negócio jurídico. embora nulo ou anulável. a própria declaração 
de nulidade ou de anulação faz reintegrar no património de cada uma das 
partes os bens ou valores com que a outra se poderia locupletar (art.º 289.º 
CCiv.) tendo até maior eficácia, por retroactiva, do que a acção por enrique-
cimento. cujos efeitos não podem exceder o locupletamento, à data de veri-
ficação de algum dos factos do art.º 480.ºla)-b) CCiv .. 
Ou seja: o instituto do enriquecimento sem causa surge-nos como fonte 
autónoma das obrigações. sendo certo que. de acordo com o princípio da subsi-
diariedade. o empobrecido só pode recorrer à acção de enriquecimento à custa 
37 
PRÁTICA DE DIREITO DAS OBRIGAÇÕES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
de outrem. quando não tenha outro meio para cobrir os seus alegados pre-
juízos. 
Para terminar esta breve análise, deve ainda referir-se que a alegação e 
prova dos requisitos do enriquecimento cumpre ao empobrecido. nos termos 
do art.º 342.º CCiv .. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
3e 
A 
CAPÍTUL03 
RESPONSABILIDADE CIVIL: 
OS VÁRIOS TIPOS DE RESPONSABILIDADE CIVIL 
27. Quais são as várias modalidades de responsabilidade civil'? 
No instituto da responsabilidade civil. ex.isre uma dicotomia tradicional, 
mantida até hoje nos vários países. entre responsabilidade obrigacional 
( ou "contratual") e responsabilidade extra-obrigacional ( ou "extra-contra-
tual", "delitual" ou "aquiliana"). Questiona-se se existirão casos intermédios 
entre as responsabilidades obrigacional e extra-obrigacional. 
Além desta divisão tradicional entre responsabilidade obrigacional e 
extra-obrigacional, e cruzando-se com ela, outras modalidades de responsa-
bilidade civil existem que têm subjacentes diferentes princípios de responsa-
bilização. 
Assim: 
A) Responsabilidade subjectiva: art.º' 483.º (extra-obrigacional). 
798.º (obrigacional) e 227.º (pré-contratual): assenta na "culpa·• 
( ou "ilicitude subjectiva") do responsável. Salientam-se. pela sua 
importância, os art.º' 484.º a 486.º e 491.º a 493.º; 
B) Responsabilidade pelo risco: art.º' 502.º, 503.º ss. e 509.º ss., 
além de várias disposições de legislação extravagante: assenta 
no perigo especial próprio de certas coisas ou actividades, e que 
vincula quem as utiliza no seu interesse. Deve distinguir-se a 
responsabilidade pelo risco (que é objectiva). dos casos especiais 
39 
PRÁTICA DE D!REITO DAS OBRtGAÇÓES - QUESTÕES TEÓRICAS E HIPÓTESES RESOLVIDAS 
de responsabilidade subjectiva associados a uma actividade 
perigosa (art.0 493.º/2). 
C) Responsabilidade civil do principal ou responsabilidade por 
facto de outrem: art.º' 500.º e 800.º, bem como 165.º. 501.º e 
998.º CCiv .. além do art.º 6.º/5 CSC e L 67 /2007. 31.12: trata-se 
de responsabilidade objectiva por danos causados a terceiros por 
um --comissário". "'agente". --auxiliar", "'representante legal'", 
"titular de um órgão". etc .. e que vincula o "principal", ou seja: a 
pessoa para quem o comissário, auxiliar, etc. actua. Deverá referir-
-se que a responsabilidade por facto de outrem não é um caso de 
responsabilidade pelo risco, porquanto não depende de nenbuma 
coisa ou actividade especialmente perigosa. 
D) Responsabilidade civil pelo sacrifício: inclui duas sub moda-
lidades distintas: i) Responsabilidade por factos lícitos: art.º' 
339.º/2 CCiv. e 62.°/2 CRP(nestes casos, fica objectivamente 
responsável o agente ou o beneficiário de um acto lícito que 
sacrifica um bem de outrem em vista de um interesse superior); 
ii) Responsabilidade por danos sofridos em actividade no inte-
resse de outrem: art.º' 468.º/l, infine, e 1167 .ºld) CCiv. (aqui 
assiste-se à responsabilização objectiva do titular do interesse 
visado em certa actividade pelos danos sofridos por quem actua 
bem como a uma responsabilização por um sacrifício sofrido em 
proveito de outrem. embora o sacrifício seja meramente eventual 
e não directamente causado. Estes casos de obrigação de indem-
nizar acompanham. por regra. uma obrigação de reembolso de 
possíveis despesas. Esta modalidade de responsabilidade civil 
não ocorre nos casos em que o interessado remunera o resultado 
de certa actividade, designadamente no contrato de empreitada. 
Como nota final, refira-se que existem casos de responsabilidade cuja 
inserção numa destas modalidades não é fácil. Assim sucede com a responsa-
bilidade civil do produtor (DL 383/89. de 6 de Novembro) e a responsabilidade 
"equitativa'' de inimputáveis (art.° 489.º). 
40 
~ 
RESPONSABILIDADE CJVIL: OS VÁRIOS TIPOS DE RESPONSABiLIDADE ClVIL 
28. Reporte-se à "responsabilidade extracontratual". 
A responsabilidade extracontratual abrange os casos de ilícito civil. 
Deriva, mormente, da violação por acção ou omissão, de um dever ou vínculo 
juridico geral, de um daqueles deveres de conduta impostos a todas as pessoas 
e que correspondem aos direitos absolutos, ou até da prática de certos actos 
que, embora lícitos produzem dano a outrem ( entre outros. Antunes Varela, 
"Das Obrigações em Geral", 2." ed., vol. I, págs. 398 e ss.). 
O que está em causa é a violação por acção ou omissão, de um dever 
ou vínculo juridico geral um daqueles deveres de conduta impostos a todas 
as pessoas e que correspondem aos direitos absolutos. 
"Aquele que com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de 
outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios 
fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação" 
(art.0 483. 0 /1). 
São destarte, pressupostos do dever indemnizatório: a) violação de 
um direito ou interesse albeio; b) ilicitude; e) vínculo de imputação do facto 
ao agente; d) dano; e) nexo de causalidade entre o facto e o dano (Antunes 
Varela, op. cit, pág. 356; Rodrigues Bastos, "Notas ao Código Civil", II vol.. 
pág. 282). 
A reparação dos prejuízos causados pela prática de um acto ilícito, 
imputável a alguém a título de dolo ou de negligência. compreende, por tra-
dição. as seguintes realidades. se bem que. por vezes. elas se encontrem um 
bocado confundidas entre si: a) Danos emergentes, os quais incluem os "pre-
juízos directos" e as "despesas imediatas" ou necessárias; b) Ganbos ces-
santes; e) Lucros cessantes; d) Custos de reconstituição ou de reparação; e) 
Danos futuros;.f) Prejuízos de ordem não patrimonial (art.º' 483.º. 495.º e 
496.º CCiv). 
No domínio da responsabilidade civil extracontratual por actos ilícitos 
a obrigação de indemnizar só existe quando, cumulativamente. estejam pre-
sentes, como requisitos, a ilicitude do facto danoso, a culpa e o nexo de causa-
lidade entre o facto e os danos sofridos pelo lesado (art.º 483.º CCiv.) 
41 
PRATICA DE D!REITO DAS OBRlGAÇÓES - QUESTÕES TEÓRICAS E HlPóTESES RESOLVIDAS 
29. O que é o "Dano"? 
"Dano" é a ofensa de bens ou interesses alheios protegidos pela ordem 
jurídica; é a perda in natura que o lesado sofreu em consequência de certo 
facto nos interesses (materiais, espiriruais ou morais) que o direito viola ou a 
norma infringida visam rutelar" (Antunes Varela, in "Das Obrigações em 
Geral", voL !, 7." ed., pág. 591). 
Estudando o conceito de "dano", Castro Mendes manifestou a sua 
preferência pelo termo "prejuízos" e chama a atenção para as duas vias usadas 
para o definir, conduzindo uma a ·prejuízo em si' e a outra a ·prejuízo reparável'. 
O prejuízo em si é um mal, um evento nocivo, surge como o género, a 
categoria de que o prejuízo jurídico faz parte. A "differentia specifica" deste 
em relação ao género é a sua relevância jurídica e não a sua reparabilidade. 
O prejuízo jurídico é um mal causado a algo que a lei protege. Este 'algo' é 
o chamado ·objecto do facto danoso' e constitui a diferença específica do 
dano ("Do Conceito Jurídico de Prejuízo", in Jornal do Foro, 1953, pág. 9). 
O dano não pode ser concebido como uma diferença de valor patrimo-
nial (a defeituosa tradução da definição de Paulus induziu a tal - ··damnum 
et damnatio ab ademptione et quase diminutione patrimonii dieta sunt"): 
para o direito o dano não interessa apenas no seu aspecto de 'diferença', 
aspecto matemático ou abstracto: mas interessa toda a individualização do 
objecto efectivamente lesado, a qual será a base da reparação futura (págs. 
14 e 15). E porque o direito não tutela bens, mas interesses (''hominis causa 
ornne ius constitutum est", segundo Modestino) e o interesse, grosso modo, 
é a reacção ou posição da pessoa perante o bem, o dano não é a subtracção 
pura e simplesmente, mas a subtracção, enquanto priva o homem de uma 
utilidade, como escreveu von Tuhr (págs. 16 e 17). 
Gomes da Silva com razão separa do objecto do prejuízo a causa da 
relevância jurídica do mesmo e esta, a causa da relevância jurídica é a frus-
tração dum fim humano, entendendo-se · certo fim· como 'todos os fins lícitos 
que se podem alcançar mediante a utilização do bem em causa' ("O dever de 
prestar e o dever de indemnizar", pág. 123). 
Enquanto lesão dum interesse, o dano não é a ofensa mas a consequência 
nociva da ofensa. 
(fonte: www.dgsi.pt). 
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RESPONSABILIDADE CIVIL: OS VÁRIOS 11POS OE RESPONSABIUDADE CIVIL 
30. Def"ma "danos não patrimoniais". 
Também designados por "danos morais", ou ··prejuízos de natureza 
não patrimonial", são os prejuízos (como dores físicas. desgostos morais. 
vexames, perda de prestígio ou de reputação, complexos de ordem estética) 
que. sendo insusceptíveis de avaliação pecuniária. porque atingem bens (como 
a saúde. o bem estar. a liberdade. a beleza, a honra. o bom nome) que não 
integram o património do lesado, apenas podem ser compensados com a 
obrigação pecuniária imposta ao agente, sendo esta mais uma satisfação do 
que uma indemnização", correspondendo àquilo que. na linguagem jurídica 
se costuma designar por ··pretium doloris", ou ressarcimento tendencial da 
angústia. da dor física, da doença, ou do abalo psíquico-emocional resultante 
de uma situação de "luto"' (transporte afectivo e das faculdades psíquicas 
originado por uma situação de perda de objecto ou do "ser" amado - cfr. 
Antunes Varela, "Das Obrigações em Geral'', 6.' edição. I. pág. 571). 
O dano não patrimonial não reside em factos, situações ou estados 
mais ou menos abstractos aptas para desencadear consequências de ordem 
moral ou espiritual sofridas pelo lesado, mas na efectiva verificação dessas 
consequências. 
Assim, os danos não patrimoniais podem consistir em sofrimento ou 
dor, física ou moral. provocados por ofensas à integridade física ou moral 
duma pessoa, podendo concretizar-se, por exemplo. em dores físicas, des-
gostos por perda de capacidades físicas ou intelectuaís. vexames. sentimemos 
de vergonha ou desgosto decorrentes de má imagem perante outrem. estados 
de angústi~ etc .. 
A lei refere-se expressamente a dano grave (art.º 496.º/l CCiv.). 
Dano grave não terá que ser considerado apenas aquele que é "exor-
bitante ou excepcional", mas também aquele que "sai da mediania, que 
ultrapassa as fronteiras da banalidade". Um dano considerável que, no seu 
mínimo, espelha a intensidade duma dor, duma angústia. dum desgosto, dum 
sofrimento moral que, segundo as regras da experiência e do bom senso. se 
torna inexigível em termos de resignação. 
Isto significa que, em sede de compensação por danos não patrimoniais. 
por não se estar perante a lesão de interesses susceptíveis de avaliação 
pecuniária, o dano não

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