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Introdução O termo Burocracia surgiu no século XVIII, onde o termo era visto como uma conotação negativa, designando aspectos de poder dos funcionários de uma administração estatal aos quais eram atribuídas funções especializadas, sob uma monarquia absoluta. Burocracia, em geral, é um modelo burocrático de organização surgiu como uma reação contra a crueldade, o nepotismo e os julgamentos tendenciosos e parcialistas, típicos das práticas administrativas desumanas e injustas do início da Revolução Industrial. A Teoria Burocrática foi formalizada por Max Weber um sociólogo alemão, emprestando a administração uma conceituação lógica e formal para dirigir um sistema social, ou seja, a empresa. Segundo ele, a Burocracia é o único modo de organizar eficientemente um grande número de pessoas, e, assim, expande-se inevitavelmente com o crescimento econômico e político. A Teoria da Burocracia tem como finalidade: organizar detalhadamente e de dirigir rigidamente as atividades das empresas com a maior eficiência possível sistema de controle social baseado na racionalidade (adequação dos meios para se alcançar os fins) tendo em vista a eficiência na obtenção dos resultados esperados. Breve Histórico do tema A Teoria da Burocracia desenvolveu-se na Administração por volta da década de 1940, após o renascimento, em função dos seguintes aspectos: A fragilidade e parcialidade tanto da Teoria Clássica como da Teoria das Relações Humanas, ambas oponentes e contraditórias entre si, mas sem possibilitarem uma abordagem global, integrada e envolvente dos problemas organizacionais. Ambas revelam dois pontos de vista extremistas e incompletos sobre a organização, gerando a necessidade de um enfoque mais amplo e completo, tanto da estrutura como dos participantes da organização. Tornou-se necessário um modelo de organização racional capaz de caracterizar todas as variáveis envolvidas, bem como o comportamento dos membros dela participantes, e aplicável não somente à fábrica, mas a todas as formas de organização humana e principalmente às empresas. O crescente tamanho e complexidade das empresas passou a exigir modelos organizacionais mais bem definidos. Alguns historiadores verificaram que a "indústria em grande escala depende da sua organização, da Administração e do grande número de pessoas com diferentes habilidades. Milhares de homens e mulheres devem ser colocados em diferentes setores de produção e em diferentes níveis hierárquicos: os engenheiros e administradores no alto da pirâmide e os operários na base. Devem executar tarefas específicas, devem ser dirigidos e controlados. Tanto a Teoria Clássica como a Teoria das Relações Humanas mostraram-se insuficientes para responder à nova situação, que se tomava mais complexa. O ressurgimento da Sociologia da Burocracia, a partir da descoberta dos trabalhos de Max Weber, o seu criador. Segundo essa teoria, um homem pode ser pago para agir e se comportar de certa maneira preestabelecida, a qual lhe deve ser explicada com exatidão, muito minuciosamente e em hipótese alguma permitindo que suas emoções interfiram no seu desempenho. A Sociologia da Burocracia propôs um modelo de organização e os administradores não tardaram em tentar aplicá-lo na prática em suas empresas. O crescente tamanho e complexidade das empresas passaram a exigir modelos organizacionais mais bem- definidos. O ressurgimento da Sociologia da Burocracia, a partir da descoberta dos trabalhos de Max Weber. Em seu livro A Ética Protestante e o “Espírito” do Capitalismo, Weber defendia a importância do papel da política na vida social, sendo esta realizada através de uma burocracia eficiente e controlada pela democracia, condição que justifica a origem de um sistema legal voltado para o capitalismo. Ele define o espírito do capitalismo como as ideias e hábitos que favorecem, de forma ética, a procura racional de ganho econômico. Referencial teórico Weber enumerou algumas características de uma organização ideal do ponto de vista da burocracia: Formalização: todas as atividades de uma organização devem estar definidas por escrito (rotinas e procedimentos) e a organização deve operar de acordo com um conjunto de leis ou regras (regulamentos, regimento interno, estatutos, etc.). / Divisão do Trabalho: cada empregado tem um cargo com um conjunto de atribuições, deveres e responsabilidades oficiais e delimitados. Princípio da Hierarquia: Cada empregado recebe ordens que guiam suas ações. Cada função mais baixa está sob controle e supervisão da mais alta. Cada funcionário tem apenas um único chefe. Daí forma-se a estrutura piramidal da burocracia. Impessoalidade: o funcionário ideal desempenha com imparcialidade no relacionamento com outros ocupantes de cargos. A burocracia enfatiza os cargos e não as pessoas que os ocupam, pois as pessoas entram e saem da organização, mas os cargos permanecem para garantir a continuidade e perpetuação. Competência Técnica: a seleção e a promoção dos empregados são baseadas na competência técnica e qualificação profissional dos candidatos, sem preferências pessoais. Daí a utilização de testes e concursos para preenchimento de cargos ou promoções. Profissionalização do funcionário: os funcionários da burocracia são profissionais pois são especialistas em face da divisão do trabalho; são assalariados de acordo com suas funções ou posição hierárquica; seus cargos constituem a sua principal atividade dentro da organização; são nomeados pelo seu superior imediato; seus mandatos são por tempo indeterminado e seguem carreiras dentro da organização. A Teoria da Burocracia concebida por Max Weber é imediatamente posterior às teorias Clássica e das Relações Humanas. Ela teve como ponto forte de origem a necessidade de uma abordagem generalista e integrada das organizações, fator praticamente não considerado pelas teorias anteriores. De um lado, a Teoria Clássica, com suas suposições extremamente negativas em relação à natureza humana, pregava uma administração centralizadora, total e exclusivamente responsável pela organização e uso dos recursos da empresa, padronizando as atividades e controlando-as através da persuasão, coação, punições e recompensas marginais. De outro, a Teoria das Relações Humanas considerava o homem como sendo o maior patrimônio das organizações, sendo motivado a produzir por sua própria natureza, pregando a descentralização e a delegação, a auto avaliação e a administração participativa. Weber, baseado em princípios protestantes, foi quem primeiro definiu a Burocracia não como um sistema social, mas como um tipo de poder suficiente para a funcionalidade eficaz das estruturas organizacionais, sejam estas pertencentes ao Governo ou de domínio econômico privado. A característica principal da Burocracia reside na racionalidade do ponto de vista das atividades desempenhadas na organização. A Teoria Clássica já abordava certa racionalidade, porém esta se manifestava apenas na mecanização dos processos e não na mecanização das atividades dos indivíduos. Na Burocracia a liderança se dá tipicamente a ponte de regras impessoais, escritas e através de uma estrutura hierárquica; o poder é legítimo e depende exclusivamente do grau de especialidade e competência técnica de quem o detém. Elementos da teoria burocrática Os elementos da teoria da burocracia são autoridade, poder, hierarquia, disciplina, ordem e controle. Características da teoria da burocracia A Burocracia, em síntese, busca amenizar as consequências das influências externas à organização e harmonizar a especialização dos seus colaboradores e o controle das suas atividades de modo a se atingir os objetivos organizacionais através da competência e eficiência, sem considerações pessoais. Sendo assim, as características são: Caráter legal das normas e regulamentos, que são estabelecidos previamente por escrito, abrangendo todas as áreas da organização, assim como prevendo as ocorrências e enquadrando-as dentrode um esquema definido capaz de regular tudo o que ocorre dentro da organização. Definem antecipadamente como a organização burocrática deverá funcionar. Caráter formal das comunicações: a burocracia é uma organização ligada por comunicações escritas. Daí o caráter formal: todos os procedimentos são feitos para proporcionar comprovação e documentação adequadas, bem como assegurar a interpretação homogênea das comunicações. Caráter racional e divisão do trabalho: as tarefas são desmembradas em tarefas simples. Há uma divisão sistemática do trabalho e do poder, estabelecendo as atribuições de cada participante: cada um tem um cargo específico, funções específicas e uma esfera de competência e responsabilidade. Impessoalidade nas relações: a distribuição das atividades é feita impessoalmente, ou seja, em termos de cargos e funções e não de pessoas envolvidas. As pessoas não são consideradas como pessoas, mas como ocupantes de cargos e de funções, já que pessoas vêm e vão e os cargos e funções permanecem ao longo do tempo. Hierarquia da autoridade: nenhum cargo fica sem controle ou supervisão, ou seja, cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um posto superior. A autoridade é inerente ao cargo e não ao indivíduo que o desempenha. O subordinado está protegido da ação arbitrária do seu superior, já que as ações de ambos se processam dentro de um conjunto mutuamente reconhecido de regras. Rotinas e procedimentos padronizados: regras e normas técnicas são fixadas para o desempenho de cada cargo, cujas atividades são executadas de acordo com rotinas e procedimentos. Competência técnica e meritocracia: a burocracia é uma organização na qual a escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência técnica e não em preferências pessoais. Daí a necessidade de exames, concursos, testes e títulos para admissão e promoção dos funcionários. Especialização da administração: o dirigente não é necessariamente o dono do negócio ou grande acionista da organização, mas um profissional especializado na sua administração. Profissionalização dos participantes: cada funcionário da burocracia é um profissional, pois: é um especialista, ou seja, cada funcionário é especializado nas atividades do seu cargo, que varia conforme o nível hierárquico; é assalariado; é ocupante de cargo; é nomeado pelo superior hierárquico, ou seja, é o superior hierárquico quem toma as decisões a respeito de seus subordinados; seu mandato é por tempo ilimitado; segue carreira dentro da organização; não possui a propriedade dos meios de produção e administração, ou seja, o administrador administra a organização, mas não é o proprietário dos meios de produção, e o funcionário utiliza as máquinas e equipamentos mas não é dono delas; é fiel ao cargo e identifica-se com os objetivos da empresa. As consequências previstas dessas características são a previsibilidade do comportamento humano e padronização do desempenho dos participantes. O sistema social racional puro de Weber pressupõe que as reações e o comportamento humano são perfeitamente previsíveis em função de tudo estar sob controle de normas racionais, legais e escritas. Weber salienta também a existência de chefes não-burocráticos, que indicam e nomeiam os subordinados, estabelecem regras, resolvem os objetivos que deverão ser atingidos e são eleitos ou herdam sua posição, como, por exemplo, os presidentes, diretores, reis. Vantagens da Burocracia Para Weber, as vantagens da burocracia são: • racionalidade quanto ao alcance dos objetivos (há uma divisão sistemática do trabalho e do poder, estabelecendo as atribuições de cada participante); • precisão na definição do cargo e na operação pelo conhecimento exato dos deveres; • rapidez nas decisões, já que cada um conhece o que deve ser feito e por quem; • interpretação homogênea garantida pela regulamentação específica e escrita; • uniformidade de rotinas e procedimentos, favorecendo a padronização, a redução de custos e erros; • redução do atrito entre pessoas; já que cada funcionário conhece o que é exigido dele e quais os limites entre suas responsabilidades e as dos outros; • confiabilidade, já que o negócio é conduzido através de regras conhecidas, e os casos similares são metodicamente tratados dentro da mesma maneira sistemática; • benefícios para as pessoas na organização (hierarquia é formalizada, as pessoas são treinadas para se tornarem especialistas, podendo encarreirar-se na organização em função de seu mérito pessoal e competência técnica). Disfunções da Burocracia Se para Weber a burocracia constitui a forma de organização eficiente por excelência, apresentando como principais vantagens a racionalidade, a precisão, a univocidade de interpretação, uniformidade de rotinas e procedimentos, constância e continuidade, entre outras; outros autores importantes, de outra parte, identifica consequências imprevistas ou disfunções que conduzem à ineficiência da organização burocrática. Tais anomalias de funcionamento da estrutura burocrática decorrem, segundo eles, da interação do elemento humano com o modelo burocrático preestabelecido. Sabemos que a burocracia, para Weber, é uma organização cujas consequências desejadas se resumem na previsibilidade do seu funcionamento no sentido de obter a maior eficiência da organização. Para outros autores, na burocracia existem consequências previstas e imprevistas, que recebeu o nome de Disfunções da burocracia, ou seja, anomalias e imperfeições no funcionamento da burocracia. São elas: • Internalização das regras e apego aos regulamentos: o funcionário age, esquecendo que a flexibilidade é uma das principais características de qualquer atividade racional. Os regulamentos passam a ser os principais objetivos do burocrata. • Excesso de formalismo e de papelório: o papelório constitui uma das maiores disfunções da burocracia, fazendo com que o leigo imagine que toda burocracia tem necessariamente um volume muito grande de papel. • Resistência às mudanças: o funcionário se acostuma a uma completa estabilidade e repetição daquilo que faz. Quando surge alguma possibilidade de mudança dentro da organização, essa tende a ser interpretada por ele como algo que desconhece, podendo trazer perigo a sua estabilidade e segurança. • Despersonalização do relacionamento: uma das características da burocracia é a impessoalidade no relacionamento, que enfatiza os cargos e não as pessoas que os ocupam. • Categorização como base do processo decisório: quem decide é sempre aquele que ocupa o posto hierárquico mais alto, mesmo que nada saiba a respeito do problema a ser resolvido. • Superconformidade às rotinas e aos procedimentos: isso conduz a uma rigidez no comportamento do burocrata, levando à perda da iniciativa, criatividade, inovação e flexibilidade. • Exibição de sinais de autoridade: uniforme; localização da sala, banheiro, estacionamento, refeitório etc. podem ser usados como meios de identificar quais são os principais chefes da organização. • Dificuldade no atendimento a clientes e conflitos com o público: atendimento padronizado, de acordo com regulamentos e rotinas internos, faz com que o cliente se irrite com seus problemas particulares e pessoais. Contribuição do tema pra organizações Alvin Gouldner, sociólogo e filósofo, realizou uma pesquisa que lhe permitiu concluir que não há um único tipo ou modelo de burocracia, mas uma enorme variedade de graus diferentes de burocratização. Durante longos anos, a empresa fora administrada de maneira muito informal, com intervalos de almoço amplos, horários de entrada e saída bem folgados, permissão para os empregados para utilizarem material da companhia para uso próprio, política de não demitir ninguém e de somente admitir novos funcionários considerando laços de famílias, de amizade e residência da comunidade semi-rural em que se situava a empresa. Antes de 1948, o padrão de atitudes do pessoal para com a fábrica era favorável e positivo. Os operáriosconsideravam as normas disciplinares da fábrica como "lenientes", suaves e orientadas para os objetivos da produção e internalizavam o seu papel por um conjunto de normas técnicas. O padrão de comportamento dos operários se caracterizava por um sistema de julgamentos, atitudes e sentimentos positivos que predispunham a uma reação favorável dos operários à fábrica e a uma confiança nos seus superiores. Em 1948 assumiu um novo gerente (Peele), que veio alterar substancialmente essa situação. Ele era bastante apoiado pelos executivos do escritório central, chegando a pressioná-lo sob este aspecto. O controle do gerente sobre os supervisores tornou cerrado o controle sobre os operários. Estes passaram a modificar substancialmente as suas atitudes para com a organização. A supervisão fechada desenvolvida por Peele passou a encerrar a administração dentro de um círculo vicioso: 1. O supervisor exercer uma supervisão cerrada e sob pressão sobre o operário; 2. O supervisor passa a receber o operário como uma pessoa não motivada para o trabalho; 3. O supervisor passa a vigiar e a controlar com mais pressão o operário para obter dele maior rendimento; 4. Esse cerco e essa pressão despertam o rancor ou a apatia no operário; 5. O supervisor passa a perceber mais intensidade o operário como uma pessoa não motivada para o trabalho. Em relação à conclusão, a hipótese central de Gouldner é de que a supervisão cerrada deteriora as relações entre superior e subordinado e viola as normas informais do grupo. Por outro lado, a excessiva formulação de regras burocráticas funciona como um símbolo de desconfiança nas pessoas e nas suas intenções. Considerações finais Considera-se que a grande contribuição de Max Weber para a Teoria da Burocracia foi a identificação e hierarquização das estruturas de autoridade. Ao fazê-lo, o autor identificou as razões do desenvolvimento das organizações burocráticas e o seu avanço sobre as demais, além das características que chamou de "tendências variáveis de burocracia". Apesar das críticas e disfunções constatadas na sua teoria, é verdade que as organizações atuais não conseguem fugir do conjunto de características que Weber atribui à burocracia e que acabam se revelando indispensáveis para seu funcionamento. Apesar disto as pessoas passaram a dar o nome burocracia aos defeitos do sistema, o que contrapõe a visão do autor. Para ele a burocracia moderna não se trata apenas de uma forma avançada de organização administrativa racional, mas sim uma forma de dominação legal. É importante ressaltarmos que a Teoria da Burocracia, não somente "abriu as portas" para a melhoria nas estruturar organizacionais públicas e privadas, como também, ofereceu uma contribuição consistente para o desenvolvimento da estrutura administrativa em nosso país, pois ajudou a combater as práticas patrimonialistas que atrasavam o avanço da administração pública brasileira. E ainda podemos dizer que sua teoria contribuiu de forma consistente para a compreensão da natureza das organizações sociais e humanas. Referências bibliográficas CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral da Administração. 7. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. SILVA, Reinaldo O. da Silva. Teorias de Administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. WEBER, Marx. O que é burocracia. CONSELHO FEDERAL DE ADMINISTRAÇÃO CFA
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