Buscar

Entrevista com Adulto Jovem com Síndrome de Asperger (Ciclo Vital)

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL
Ciclo Vital
Ana Carina Motta Klein
Aléxia Teixeira e Hanna Kemel
ENTREVISTA COM ADULTO JOVEM
Cachoeira do Sul - RS
2017
INTRODUÇÃO
O presente trabalho traz uma entrevista realizada com um adulto jovem, de 22 anos de idade e uma associação dos dados adquiridos e observados com o contéudo visto na disciplina de Ciclo Vital, como requesito para o curso de Psicologia do Campus ULBRA Cachoeira do sul.
Vale ressaltar que o entrevistado foi diagnosticado como portador de Síndrome de Asperger aos 15 anos de idade e possui consciência de seu diagnóstico, do qual será apresentada uma breve discussão sobre. O indivíduo, desde seu diagnóstico, frequenta consultas semanais com uma psicóloga especialista na Síndrome, sendo visível sua evolução em aspectos de comunicação e relações sociais.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO E ENTREVISTA
Nome: Murilo dos Santos.
Idade: 22 anos.
Data de nascimento: 25/05/1995.
Aplicação da entrevista:
O que você entende por “identidade”?
Resposta: Identidade é a coleção de tudo que faz “eu” ser “eu”, ou seja, o que me torna um indivíduo diferente de outros da minha mesma espécie.
Quais são as tarefas como adulto que você identifica que já realiza?
Resposta: Trabalhos, alguns pagamentos e responsabilidades.
Você trabalha? Estuda? Qual sua ocupação atual?
Resposta: Estudo, ciências da computação.
Você se considera independente? Por quê?
Resposta: Não, ainda tem muitas coisas que eu não sei fazer que me tornariam independente.
Você se considera maduro? Por quê?
Resposta: Não 100%, pois ainda tenho muito a aprender e muitas experiências para vivenciar.
Como é sua relação com sua família de origem? Descreva.
Resposta: Normalmente boa, minha família interage de forma positiva comigo na maioria dos casos, auxiliando se possível.
Em comparação com a sua adolescência, quais são as mudanças que você percebeu em sua vida?
Resposta: Eu obtive mais conhecimento e noção das minhas ações no mundo.
Quais são suas metas, desafios, preocupações atuais?
Resposta: Me graduar, e após a graduação, ou fazer um mestrado ou um curso técnico, e então arranjar um emprego que eu goste.
Como é sua relação com as redes virtuais e os eletrônicos? De quais você faz uso diariamente?
Resposta: Eu uso o computador para praticamente tudo, não somente entretenimento mas também para fazer trabalhos. Todos os dias. O celular também faz parte do meu dia a dia, mas com muito menos frequência.
Como você descreveria seu humor? 
Resposta: Varia entre bom e mal humor dependendo do que ocorre no dia.
DISCUSSÃO
 De acordo com Erikson, a vida adulta jovem é a conquista da intimidade, caso o indivíduo não a consiga, ele entra em isolamento. Nesta fase, ele já tem sua própria identidade pessoal e já está preparado para os vínculos que serão criados com outras pessoas. Para Erikson, o adulto jovem já possui maturidade o suficiente para lidar com as mudanças na vida, os relacionamentos íntimos, assim como com seus próprios medos.
Nesse período do adulto jovem, as mudanças fisiológicas diminuem e o auge ocorre nas mudanças nas estruturas morais e intelectuais. Sendo um período de descobertas quanto ao futuro, onde o adulto jovem é cobrado por responsabilidades de adultos, mas estando "engatinhando" na resolução de todas as questões e dificuldades que uma vida adulta traz. 
Levinson (1974, 1978) considera que a vida adulta é marcada por períodos de estabilidade e transição. 
Nessa fase do desenvolvimento humano, é claramente visível a questão das conquistas e de frustrações, a vida social está em seu ponto alto, estabelece metas e padrões de comportamento que serão definidos como eixo norteador de toda a caminhada. Alguns pontos importantes são definidos nessa etapa, como autonomia e responsabilidade plena, reconhecendo as necessidades próprias e alheias, os limites entre seus direitos e os dos demais.
Atualmente, as menores exigências de responsabilidade associada à assumpção destes papéis dominam a vida de muitos jovens, pelo que estes se encontram numa situação de “semi-adultos”, onde se perspectiva uma entrada na idade adulta progressiva, sem a pressão do compromisso com os tradicionais papeis de adulto nos domínios do trabalho e da família (Reitzle, 2006). A vivência de uma transição para a idade adulta “livre” contrasta com as atitudes relativas à vida adulta considerada rotineira, aborrecida e desinteressante (Guerreiro & Abrantes, 2004).
Segundo Bee (1997), ao adulto jovem cabe a tarefa de aprendizado e desempenho de três papeis fundamentais para a sua vida adulta: conjugal, parental e profissional. Nesse período, a maioria das pessoas deixa a casa dos pais para construir seu próprio lar, além de estabelecerem mais efetivamente as relações com parceiros íntimos. Em muitos casos, é nessa fase que constituem uma família, implicando na apropriação de papeis conjugais e parentais. É significativa a frequencia dos transtornos afetivos ou do humor nesse período do desenvolvimento, seguido dos transtornos esquizofrênicos que também costumam surgir nos primeiros anos dessa fase, em especial no caso dos homens. O início ou agravamento do abuso e dependência de drogas é mais frequente nesse período, conforme afirma Vaillnate (In OSÓRIO, 2001).
Sendo um momento de intensas responsabilidades que o adulto começa a assumir no trabalho, nos relacionamentos e na família, em muitas situações, ele se torna tenso e conflituoso, assim desencadeando diversos tipos de adoecimentos psíquicos e acentuando aqueles que já eram iminentes durante a infância e a adolescência.
Com todas especificações e sobre o que é normal no desenvolvimento de um jovem adulto é notável na entrevista que Murilo utilizou pouco diálogo para responder os questionamentos. Segundo informações da família, pode-se concluir que ele sofre de uma síndrome denominada Síndrome de Asperger, que é o nome dado a um grupo de problemas que o indivíduo possui quando tenta se comunicar com outras pessoas. O termo se aplica ao mais suave e de alta funcionalidade daquilo que é conhecido como o espectro de desordens pervasivas (presentes e perceptíveis a todo o tempo) de desenvolvimento (espectro do Autismo). Ela parece representar uma desordem neurobiológica, caracterizada por desvios e anormalidades em três amplos aspectos do desenvolvimento: interação social, uso da linguagem para a comunicação e certas características repetitivas ou perserverativas sobre um número limitado, porém intenso, de interesses.
Crianças com essa Síndrome, podem ou não procurar uma interação social, mas têm sempre dificuldades em interpretar e aprender as capacidades da interação social e emocional com os outros. Estima-se que a Síndrome de Asperger esteja na faixa de 20 a 25 por 10.000.
O indivíduo que possui Síndrome de Asperger tem um "atraso" no desenvolvimento da comunicação social e entre as relações sociais.
Alguns dos critérios para o diagnóstico de uma criança com a síndrome são:
- Isolamento social, com extremo egocentrismo;
- Interesses e preocupações limitadas;
- Rotinas e rituais que podem ser auto-impostos ou impostos por outros;
- Problemas na comunicação não-verbal como o uso limitado de gestos;
- Linguagem corporal desajeitada;
- Expressões faciais limitadas ou impróprias.
Uma das característica de SA é a deficiente socialização e isso também tende a ser algo diferente do que se vê no Autismo. Embora crianças com SA sejam frequentemente conotadas pelos pais e professores como “estando no seu próprio mundo”, elas raramente são tão distantes como as crianças com Autismo. (Bauer, 1995).
Sendo uma síndrome recentemente descoberta, sendo efetuado estudos para formas de tratamento, uma das possibilidades é o Treino de Competências Sociais, podendo auxiliar na aprendizagem social através de psicólogos preparados. As abordagens com enfoque na terapia comportamental e aprendizagem de competências sociais são mais adequadasdo que as terapias centradas na emoção, que podem ser desconfortáveis ou estressantes para os indivíduos portadores da síndrome.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Visto que a vida adulta jovem apresenta várias mudanças na vida cotidiana do indivíduo, além de uma pressão social intensa - pois é o período em que começamos a colocar em prática nossos planos para o futuro - é importante estarmos atentos ao início ou agravamento do abuso e dependência de drogas nessa fase, além dos adoecimentos psíquicos, que são muito comuns nesse período. 
Pode-se notar que o entrevistado não fala muito abertamente sobre sua vida pessoal, dando respostas diretas e curtas às perguntas realizadas. Sabendo de seu diagnóstico, sabe-se que é um fato comum entre os portadores de Síndrome de Asperger. Conhecendo o indivíduo e convivendo com o mesmo, é notável a diferença no aspecto geral de sua vida de Adulto Jovem para com a de um Adulto Jovem não portador da síndrome. 
Na maioria dos casos as pessoas simplesmente não compreendem o porquê do pouco contato social e da escassez na comunicação de pessoas portadoras de SA, sendo assim, é importante seu diagnóstico e o acompanhamento psicológico desses indivíduos, a fim de evoluírem nos aspectos de comunicação e sociabilidade para com os outros.
REFERÊNCIAS
BEE, H. BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. 568p.
PAPALIA, E. Diane; FELDMAN, D. Ruth. Desenvolvimento Humano. 12. ed. AMGH Editora Ltda, 2013. 800p.
TEIXEIRA, Paulo. Síndrome de Asperger. O Portal dos psicólogos. Disponível em:< http://atividadeparaeducacaoespecial. com/wpcontent/uploads/2014/07/SINDROME-DE-ASPERGER. pdf>. Acesso em, v. 20, 2005.
BAUER, S. (1995). Asperger Syndrome – trought the lifespan. New York, The developmental unit, Genesee Hospital Rochester
REITZLE, M. (2006). The connections between adulthood transitions and the self-perception of being adult in the changing contexts of East and West Germany. European Psychologist, 11, 25-38.
BEE, Helen. O ciclo vital. Porto Alegre: Artmed Editora, 1997.
OSÓRIO, Cláudio Maria da Silva. Adultos Jovens, seus scriptis e cenários. 
EIZIRIK, C. L; KAPCZINSKI, F.; BASSOLS, A. M. S. O ciclo da vida humana: uma perspectiva psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

Continue navegando