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Aula 15 FC SOCIAIS

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Tema: A vida nas grandes metrópoles: solidão na multidão. Olhares sobre a sociedade: desigualdade social e invisibilidade social. A lógica do consumo, a obsolescência planejada e a problemática socioambiental.
Objetivos:
Compreender as relações sociais nas grandes metrópoles, em especial o processo de produção de invisibilidade social.
Entender a relação entre a globalização e a lógica do consumo no mundo contemporâneo e seus impactos socioambientais.
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Embora seja possível afirmar que os primeiros passos, na direção da construção de um mundo globalizado tenham sido dados no início da modernidade, com as grandes navegações, a real sensação do que se compreende como globalização passa a existir, mais exatamente, no final da década de 1980 com o desenvolvimento das chamadas Tecnologias da Informação. A partir daí passa a existir um aumento considerável na velocidade e na intensidade da troca de informações, fazendo com que acontecimentos locais sejam muitas vezes modelados por processos que se desenvolvem a quilômetros de distância. Segundo Anthony Giddens, em As Consequências da Modernidade, a globalização pode ser definida como a intensificação das relações sociais em escala mundial. Neste sentido a globalização do mundo expressaria um novo ciclo de expansão do capitalismo, como modo de produção e processo civilizatório de alcance mundial (in Ianni, Octavio. Globalização e a nova ordem internacional). Ainda segundo Ianni, este mundo globalizado seria marcado por diversidades, desigualdades, exclusão, tensões e antagonismos, que se dariam simultaneamente às articulações e integrações regionais, transnacionais e globais. 
A globalização e a lógica do consumo
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Consequentemente, o mundo globalizado não é um mundo homogêneo, mas sim um espaço marcado por significativas diferenças culturais. Sendo assim é correto afirmar que o capitalismo global seria, na verdade, um processo de ocidentalização caracterizado pela exportação das mercadorias, dos valores, das prioridades e das formas de vida ocidentais (Hall, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade). Um grande traço comum para as sociedades inseridas no processo de globalização seria justamente a generalização da dinâmica da sociedade de mercado, o que envolve determinados padrões de produção, associados a práticas de consumo frenético. Esta generalização deste modo de produção e consumo, em função do movimento de globalização do capital estaria na raiz da problemática socioambiental, o que levou Zygmunt Bauman, em seu trabalho intitulado Globalização: as consequências humanas, a afirmar que nos tornamos, acima de tudo, uma sociedade de consumidores e acumuladores de sensações. 
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Como nos mostra Eduardo Galeano, “a cultura do consumo, cultura do efêmero, condena tudo à descartabilidade midiática. Tudo muda no ritmo vertiginoso da moda, colocada à serviço da necessidade de vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje, quando o único que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, são tão voláteis quanto o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa na velocidade da luz: ontem estava lá, hoje está aqui, amanhã quem sabe onde, e todo trabalhador é um desempregado em potencial”. 
 Este autor mostra, como exemplo, o paradoxo que representa os shopping centers, que, como verdadeiros templos de consumo, dão uma nítida ilusão de segurança na vida do cidadão comum, mas encobrem as desigualdades sociais, uma vez que é vedado à grande parcela da população o acesso aos bens de consumo neles existentes.
Recentemente a sociedade brasileira viu-se envolvida num grande debate sobre a participação de jovens da periferia das grandes cidades em passeios pelos shopping centers, denominados “rolezinhos”, que expôs uma série de preconceitos e atitude de exclusão desses indivíduos que não fazem parte do grupo social que frequenta e consome nesses espaços.
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Conforme mostrado no capítulo 6 do Livro Didático de Ciências Sociais, um dos mais estudados problemas contemporâneos é a vida nas metrópoles, marcada por uma grande heterogeneidade de tipos que pouco se comunicam, criando uma sensação de “solidão na multidão”.
Como consequência dessa impessoalidade nas relações, o indivíduo adota uma atitude denominada por Georg Simmel, como atitude blasé, ou seja, a atitude de nos distanciarmos e darmos pouca importância ao outro que faz parte do mesmo meio social. 
A vida nas metrópoles e a invisibilidade social
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Desta forma, “uma das bases da atitude blasé consiste, portanto, na incapacidade do habitante das grandes cidades de diferenciação das coisas, das pessoas e dos acontecimentos importantes. Eles aparecem de modo uniforme, com um tom fosco e sem hierarquias. Esta incapacidade de distinção dos indivíduos torna- se, então, correspondente àquela que o dinheiro promove nas relações interpessoais. É o reflexo da economia do dinheiro que passa a ser interiorizado pelos sujeitos”.
Essa atitude de reserva se traduz, recorrentemente, num processo de tornar invisíveis, do ponto de vista social, alguns indivíduos e grupos estigmatizados por diferentes particularidades, sejam elas condições econômicas, hábitos considerados antissociais ou o pertencimento a grupos que são considerados um perigo em potencial para a sociedade.     
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Vale ressaltar que a invisibilidade cultural é um fenômeno que ocorre em todas as sociedades, independente de sua posição no cenário mundial. Contudo, é nos países mais pobres e periféricos que esta questão atinge a sociedade de forma mais aguda, percebendo-se, constantemente, situações em que sentimentos de medo, estranheza e hostilidade se fazem presentes.
Em seu livro intitulado “Cabeça de Porco”, Luís Eduardo Soares, um dos mais renomados cientistas sociais brasileiros, nos apresenta uma excelente reflexão sobre este tema:
[...] Ver e ser visto são duas faces de uma mesma moeda, em geral, nos encontros humanos. Por isso, as histórias de espionagem nos fascinam e mobilizam tanto. Elas dividem a unidade da experiência social em duas partes: um personagem vê (sem ser visto) e o outro é visto (sem ver e sem saber-se visto). A solução da trama depende do esforço titânico do protagonista que, no último capítulo, consegue inverter a posição relativa dos personagens, redefinindo a equação: quem observa quem, afinal?.
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Ser invisível significa, assim, não ser visto, ainda que se esteja participando de uma mesma situação social.
A questão da invisibilidade social está diretamente ligada a outra questão social amplamente debatida: a violência. À medida que os “invisíveis sociais” em determinadas circunstâncias são percebidos, muitas vezes, medidas de exclusão e até mesmo de extermínio são dirigidas a eles, numa forma perversa de manter a ordem social, quer por pessoas comuns, quer por representantes do Estado. 
Norbert Elias, em “O Processo Civilizado”, aponta para a ideia de que as sociedades tornaram-se menos violentas em relação à épocas pregressas, demonstrando o papel central exercido pelo Estado moderno. A construção de normas sociais de conduta, de ações reguladoras por parte do Estado e, principalmente, o monopólio do Estado sobre o uso da força para o cerceamento da violência nas sociedades contemporâneas são parte integrantes do processo civilizador.
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Como vimos, a lógica do consumo norteia a sociedade contemporânea. Isto gera graves problemas socioambientais, que suscitaram, nos estudiosos da sociedade, a ideia da necessidade de um desenvolvimento sustentável. Segundo o economista polonês Ignacy Sacs, "crescimento econômico sem distribuição de renda e sustentabilidade ambiental pode
ser chamado de qualquer coisa, menos de desenvolvimento”. Nesta perspectiva, desenvolver a sociedade de maneira ambientalmente sustentável significa utilizar os recursos naturais não renováveis hoje, de um modo que as gerações futuras também possam vir a utilizá-los. Esta afirmação que parece simples, na verdade exige um significativo esforço de mudança de hábitos e valores, para ser colocada em prática. Isto porque ao longo de todo o século XX e até os dias atuais, grande parte das sociedades contemporâneas têm utilizado recursos limitados como a água, por exemplo, como se fossem inesgotáveis.    
A perspectiva do desenvolvimento ecologicamente sustentável
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 Por este ângulo é falso o discurso que afirma existir uma contradição estrutural entre desenvolvimento e sustentabilidade ambiental, já que as demandas sociais se relacionam, em grande parte dos casos, ao fluxo adequado de recursos do meio físico, isto é, da natureza. Tais afirmações se devem a construção de uma visão bastante distorcida, no que se refere às relações entre ambiente e sociedade. É como se fosse possível separar a sociedade humana da natureza, ou seja, agir e pensar como se os seres humanos não dependessem dos recursos da biosfera como todos os demais seres do planeta, o que é um grave equívoco. De um modo diferente daquele que muitas vezes somos influenciados a pensar, por meio das diferentes mídias, os seres humanos não podem salvar ou destruir o planeta. Ele vai continuar existindo e a vida também. O que podem sim fazer, é destruir as condições que dão suporte a própria existência da humanidade, ou seja, o homo sapiens é a espécie mais ameaçada.
Na medida em que aumenta o conhecimento sobre parte dos problemas socioambientais que ameaçam a manutenção do atual modelo civilizatório industrial, como o aquecimento global, o esgotamento dos recursos hídricos ou a drástica redução da diversidade biológica do planeta, surge, também, a iniciativa de explicar a história e o desenvolvimento das diferentes práticas culturais a partir da inclusão de variantes ambientais.
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 As questões ecológicas passaram a adquirir maior importância, tanto ao nível do debate político, quanto com relação às discussões realizadas nos diversos setores da vida acadêmica.  Isto somado a importância do desenvolvimento de políticas econômicas sustentáveis, para a manutenção e melhoria da qualidade de vida das sociedades e suas gerações futuras, fez com que o enfoque ecológico passasse a ocupar um espaço maior na Sociologia e nas chamadas ciências humanas de um modo geral. 
A Sociologia Ambiental e demais setores das ciências humanas têm procurado compreender as relações estabelecidas pelos homens entre si e também com a natureza, ou seja, perceber a sociedade em sua relação com o meio físico, apreendendo as suas interações e transformações recíprocas. Trata-se literalmente de olhar a história através de um ângulo ecológico, compreendendo os diferentes grupos humanos em sua ligação com seu ambiente natural, o que não significa construir uma história das influências do ambiente físico sobre as formações sociais. Trata-se, na verdade, de um esforço em apreender a humanidade num sentido integral, mostrando como a racionalidade ecológica tem influenciado as diferentes sociedades através dos tempos.
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 Como foi dito, não se pode encarar o ser humano como uma espécie que não possua vínculos com a biosfera, como todas as demais.  Ao contrário, sua maior capacidade de transformar a estrutura biótica, quando comparada a de outras espécies, traz como consequência um aumento dos riscos de impactos ecológicos.  Desse modo, uma das principais tarefas que se coloca para as Ciências Sociais é analisar de forma mais global as interações existentes entre as diversas culturas humanas e o ambiente em que estão inseridas.  Para isso, torna-se importante perceber em que medida as transformações ocorridas nas diversas formações sociais foram influenciadas pelo meio físico e, num sentido inverso, como este recebeu significados e foi modificado pala ação das culturas humanas.
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