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Freud: O Mal-estar na civilização 1 – O sentimento oceânico - Temos a impressão de que as pessoas buscam poder, sucesso e riqueza para elas mesmas, e admiram-nos outros, subestimando o que tem real valor na vida. - Porém, a divergência entre pensamentos de cada individuo, faz tudo não ser tão simples assim. - Verdadeira fonte da religiosidade: sentimento peculiar, sensação de eternidade, sentimento de algo ilimitado, sem fronteiras, “oceânico”. - Uma pessoa que rejeite a crença pode, corretamente, chamar-se a si mesma de religiosa, baseado no sentimento oceânico. - EGO - Não há nada de que possamos estar mais certos do que de nosso próprio ego - O ego parece manter linhas de demarcação bem nítidas “para fora”, exceto em um estado: no sentimento de amor, a fronteira entre ego e objeto ameaça desaparecer. Contudo, “para dentro” o ego intersecta o id em diversos pontos. - o ego inclui tudo, separando de si apenas o mundo externo; o conteúdo a ele acoplado seria o de ilimitabilidade, as mesmas ideias do sentimento oceânico. - Ao reconhecer que o sentimento oceânico existe em muitas pessoas, nos inclinamos a fazer sua origem remontar a uma fase primitiva do sentimento do ego. - A religiosidade, portanto, seria um sentimento pré-histórico, segundo Freud, pois remonta o sentimento de desamparo infantil. 2 – A busca pela felicidade - medidas paliativas propostas para suportar-se a vida: satisfações substitutivas, ilusões em contraste com a realidade, como oferecidas pela arte; substanciam tóxicas, alterando a química do corpo. - A questão de “propósito da vida” nunca foi, e possível nunca será sanada, senão pela religião. - Homens, porém, mostram que o propósito e a intenção de suas vidas é a busca pela felicidade, a ausência de sofrimento e experiência do sentimento de prazer. - felicidade seria apenas possível em manifestações episódicas, quando as situações regradas pelo principio do prazer se prolongam, produz um sentimento de contentamento muito tênue. - A infelicidade é menos difícil de experimentar; ela pode nos atingir por três vertentes: nosso próprio corpo, do mundo externo e de nossos relacionamentos com outros homens. - vistas tantas maneiras de nos depararmos com a infelicidade, o homem tem se acostumado a moderar suas reivindicações de felicidade, que este pense ser feliz apenas por escapar à infelicidade. - contra o sofrimento advindo de relacionamentos humanos a defesa mais imediata é o isolamento voluntário; contra o mundo externo podemos nos afastar dele, ou tornar-se membro da comunidade humana e subjugar a natureza. O mais grosseiro e eficaz método de influencia é o químico, a intoxicação. - Deslocamentos de libido: obtêm-se o máximo quando se consegue intensificar a produção de prazer a partir das fontes do trabalho psíquico e intelectual. Porém este é tênue perto da satisfação originada de impulsos instintivos grosseiros e primários, além de ser acessível a apenas poucas pessoas. - Todos, somos paranoicos em algum momento, ao corrigir algo que nos é insuportável pela elaboração de um desejo; a religião, segundo Freud, deve ser classificada entre os delírios de massa desse tipo. “Todo aquele que partilha de um delírio jamais o reconhece como tal.” - Mentalidade da vida que faz do amor o centro de tudo: o amor sexual proporciona a mais intensa experiência de sensação de prazer, fornecendo assim um modelo para nossa busca da felicidade. - ‘beleza’ e ‘atração’ são, originalmente, atributos do objeto sexual. A qualidade da beleza, porém, parece ligar-se com características sexuais secundárias. 3 – A civilização - Quanto à fonte social de nosso sofrimento: não a admitimos; nossa civilização é, em grande parte, responsável por nossa desgraça, seriamos muito mais felizes se a abandonássemos e retornássemos as condições primitivas. Argumento espantoso, segundo Freud, visto que, todas as coisas que buscamos para sanar o sofrimento fazem parte desta civilização. - Uma pessoa se torna neurótica porque não pode tolerar a frustração que a sociedade lhe impõe. - Poder sobre a natureza não constitui a única precondição da felicidade humana. Mas não devemos inferir que o progresso técnico não tenha valor para a economia de nossa felicidade. - Exigimos que o homem civilizado reverencie a beleza. - A substituição do poder do individuo pelo poder de uma comunidade constitui o passo decisivo da civilização. - A primeira exigência da civilização é a justiça. 4 – O amor e a civilização - a vida comunitária teve um fundamento duplo: compulsão para o trabalho e o poder do amor. - Por um lado o amor se coloca em oposição aos interesses da civilização, por outro, esta ameaça o amor com restrições substanciais. 5 – A agressividade e a civilização - a civilização visa unir entre si os membros da comunidade também de maneira libidinal. - “se aquele imponente mandamento dissesse ‘ama a teu próximo como este te ama’ eu não lhe faria objeções”. E há um segundo mandamento aparentemente ainda mais incompreensível: “Ama a teus inimigos”. Porém este não é uma imposição maior, no fundo é a mesma coisa. - Os homens não são criaturas gentis que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos deve-se levar em conta uma poderosa cota agressividade. Via de regra, essa cruel agressividade espera alguma provocação. - A civilização tem de utilizar esforços supremos para estabelecer limites aos instintos agressivos do homem. Daí a restrição sexual e o mandamento ideal de amar o próximo como a si mesmo, justificados por nada ir tão contra a natureza do homem. - Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes (à sexualidade e à agressividade), entendemos por que é difícil ser feliz nessa civilização. 6 – Eros e o instinto de morte - Os instintos do ego e os instintos objetais se confrontam mutuamente, para denotar a energia destes últimos, Freud introduz o termo ‘libido’. Um destes instintos objetais, o instinto sádico, destacou-se, por seu objetivo estar muito longe de ser o de amar. - As manifestações de Eros eram bem visíveis e ruidosas, o instinto de morte operava silenciosamente dentro do organismo, no sentido de sua destruição, mas isso, naturalmente, não constituía uma prova. - No sadismo e no masoquismo sempre vimos diante de nós manifestações do instinto destrutivo, mescladas ao erotismo. - O instinto de destruição deve, quando dirigido a objetos, proporcionar ao ego a satisfação de suas necessidades vitais e o controle sobre a natureza. - a civilização constitui um processo a serviço de Eros, cujo propósito é combinar indivíduos humanos isolados, depois famílias e, ainda, raças, povos e nações numa única grande unidade da humanidade. Reuniões de homens devem estar libidinalmente ligadas umas às outras. 7 – O sentimento de culpa - Quais os meios que a civilização utiliza para inibir a agressividade que se lhe opõe, torna-la inócua ou, talvez, livrar-se dela? - Superego, sob a forma de ‘consciência’; pronto para pôr em ação sobre o ego a mesma agressividade que esse teria gostado de satisfazer sobre outros indivíduos. - Uma pessoa sente-se culpada quando fez algo que sabe ser ‘mau’. Mesmo quando não fez realmente uma coisa má, mas apenas identificou em si mesma o desejo de fazê-lo, ela pode encarar-se como culpada. - Mau, de inicio, é tudo que, com a perda do amor, nos faz sentir ameaçados. As pessoas, a principio, se permitem fazer coisas más quando se sentem seguras de que a autoridade nada saberá a respeito, só têm medo de serem descobertas. Uma grande mudança só se realiza quando a autoridade é internalizada através do estabelecimento de um superego. - Uma consciência mais estrita e mais vigilante constitui precisamente a marca distintiva de um homem moral. - O destino é encarado como substituto deste poder parental, se um homem é desafortunado, significa que não é mais amado por esse poder supremo. - cada agressão de cuja satisfação oindivíduo desiste é assumida pelo superego e aumenta a agressividade deste (contra o ego). - Uma criança criada de forma muito suave pode adquirir uma consciência muito estrita, porém seria errado exagerar essa independência. - uma mudança real nas relações dos seres humanos com a propriedade seria de muito mais ajuda do que quaisquer ordens éticas; mas o reconhecimento desse fato entre os socialistas foi obscurecido e tornado inútil para fins práticos, por uma nova e idealista concepção equivocada da natureza humana.
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