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Manual Português I

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Prévia do material em texto

GEANE CÁSSIA ALVES SENA 
 
Doutoranda em Linguística pela Universidade Estadual de Campinas- Unicamp, 
mestre em Linguística pela Universidade de Franca- Unifran, especialista em 
Linguística Aplicada ao Ensino do Português pela Universidade Estadual de Montes 
Claros- Unimontes, especialista em Interpretação em Língua Brasileira de Sinais pela 
Universidade Paulista-Unip, graduada em Letras pela Universidade Estadual de 
Montes Claros - Unimontes. Revisora linguística de textos técnicos, acadêmicos e 
científicos. 
 
WANEUZA SOARES EULÁLIO 
Mestre em Linguística e Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade 
Católica de Minas Gerais – PUC-MINAS, especialista em Alfabetização (Unimontes) e 
Linguística Aplicada à Língua Materna (Soebras) e graduada em Letras 
Português/Inglês pela Universidade Federal de Viçosa – UFV. É Revisora linguística 
de textos para concursos públicos e processos seletivos da Unimontes. 
Sobre as Autoras
 
 
 
 
6 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
APRESENTAÇÃO 
 
 
Caro acadêmico: 
Você já parou para pensar na língua que usa para se comunicar oralmente ou 
por escrito no seu dia a dia? É por meio da linguagem que interagimos com o outro, 
dando e recebendo informações, esclarecendo ou justificando nossas opiniões, 
modificando ou reafirmando o nosso ponto de vista. Por isso, apresentamos a você 
este Manual de Língua Portuguesa, o qual traz conhecimentos sobre questões de 
língua, linguagem, leitura, produção de textos, bem como os tipos e estratégias de 
leitura, entre outros assuntos relativos à língua, linguagem e comunicação. 
Fique, portanto, atento às informações, às dicas e ao conteúdo aqui 
apresentado, elaborado justamente para que você tenha um contato mais próximo e 
prazeroso com a língua. A carga horária total é de 80 horas e o interesse maior é que 
você reconheça a importância da Língua Portuguesa e aproveite para (re)pensar as 
maneiras mais adequadas de lidar com nossa língua materna, em situações diversas 
de uso, ou seja, na interação que nos propicia a comunicação e a expressão da 
língua(gem). 
Este Manual está organizado em quatro unidades. A primeira envolve questões 
sobre a comunicação; a segunda discute sobre o processo de leitura, compreensão e 
interpretação de texto; a terceira apresenta estratégias para a construção de textos; e, 
por fim, a quarta unidade, que trata de aspectos gramaticais da nossa língua. Além 
disso, em cada unidade você encontrará os objetivos propostos para os conteúdos 
discutidos. 
Aproveite este momento para desenvolver diferentes habilidades e 
compreender melhor o mundo que nos cerca por meio do aprendizado e uso da 
língua. Desejamos sucesso nos estudos! Estamos juntos neste desafio, torcendo por 
você! 
 
 
As autoras. 
 
 
 
 
 
7 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PARA SABER 
MAIS 
 
Arte rupestre é o nome da mais 
antiga representação artística da 
história do homem. Os mais 
antigos indícios dessa arte são 
datados no período Paleolítico 
Superior (40.000 a.C.); 
consistiam em pinturas e 
desenhos gravados em paredes e 
tetos das cavernas. Isso 
demonstra que o homem pré-
histórico já sentia a necessidade 
de expressão através das artes, 
algo inerente ao ser humano. 
Fonte: Disponível em: 
<http://www.mundoeducacao.co
m/artes/arte-rupestre.htm>, 
acesso em 15 dez. 2014. 
 
 
UNIDADE I 
 
 A COMUNICAÇÃO 
 
 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
 
 
Ao concluir os estudos desta unidade, você deverá ser capaz de: 
 
 
 Explicar o que é a comunicação. 
 Descrever os elementos que fazem parte do processo comunicativo. 
 Compreender o que é ruído e redundância. 
 Distinguir linguagem verbal e linguagem não verbal. 
 Diferenciar linguagem denotativa de linguagem conotativa. 
 Identificar e descrever cada uma das funções da linguagem. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Você já parou para pensar na importância da comunicação 
para a vida do ser humano? Na sociedade em que estamos inseridos, 
diariamente participamos de diversos atos de comunicação e analisá-
los é a melhor forma de compreendê-los. 
A comunicação está presente a todo momento na vida do ser 
humano, pois é através dela que nos interagimos com os outros, 
expressamos nossas ideias, sentimentos e emoções. Enfim, 
transmitimos as informações que desejamos. Assim, estamos sempre 
nos comunicando, seja através de palavras, imagens, cores, etc. 
 
8 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
Já está provado que a comunicação é um processo social e que sem ela a 
sociedade não existiria. Na verdade, a vida e o comportamento do ser humano são 
regidos pela informação, pela persuasão, expressão facial, símbolos, gestos, formas, 
ou seja, pela força da comunicação (Cf. Martins e Zilberknop, 2010). 
Desde que iniciou sua vida em sociedade, o homem começou a sentir a 
necessidade de se comunicar. O ser humano já se comunicava a partir de desenhos e 
pinturas- denominadas de pinturas rupestres- antes mesmo de constituir a linguagem 
falada. 
Percebeu o quanto a comunicação é importante para o ser humano e para a 
sua vida em sociedade? 
 
Figura 1: Pintura feita pelos homens primitivos. 
Fonte: Disponível em: <http://www.fumdham.org.br/pinturas.asp>, acesso em 15 dez. 2014. 
 
 Nesta unidade discutiremos sobre o que é a comunicação, os 
elementos que fazem parte do processo comunicativo, linguagem verbal e não verbal, 
denotação e conotação e, ainda, sobre as funções da linguagem. Vamos iniciar 
nossos estudos! 
 
1.1 Entendendo a comunicação 
 
A palavra comunicação provém do termo latino communis, que significa "tornar 
comum". Por isso que ao nos comunicarmos se faz importante que nosso receptor 
compreenda as informações que estamos transmitindo, isto é, que a ideia seja comum 
 
9 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
entre emissor e receptor. Caso contrário, a mensagem pode ser interpretada de forma 
incorreta pelo receptor, o que fará com que a comunicação não ocorrerá de maneira 
eficaz. 
Ao buscarmos o significado no dicionário Aurélio para o termo "Comunicar", 
verificamos que, dentre muitas de suas significações, corresponde a "fazer saber, 
tornar comum; participar". Com base nesta definição, podemos apresentar o seguinte 
esquema: 
 
 
 
 
 
 
Em síntese, a comunicação corresponde à busca de compreensão, de 
entendimento da mensagem veiculada. Além disso, é a transmissão de informações, 
sentimentos e ideias. Para Terciotti e Macarenco (2010, p. 2), "A comunicação implica 
uma transferência de significados entre as pessoas e, para que seja capaz de produzir 
um efeito real, precisa ser compreendida pelos envolvidos no processo comunicativo." 
 
1.2 Elementos envolvidos no processo de comunicação 
 
Como discutimos anteriormente, a comunicação está presente a 
todo momento na vida do ser humano para que ele possa interagir com 
os outros que estão à sua volta. No entanto, para que haja essa 
interação, é necessário que sejam respeitadas algumas regras, não 
apenas gramaticais e ortográficas como muitos imaginam. Mais do que 
isso, é preciso levarmos em consideração a situação comunicativa para 
que a comunicação ocorra de maneira eficaz. Imagine a seguinte 
situação: 
 
Você não anotou o dia de entrega do exercício avaliativo 
solicitado pelo professor de Língua Portuguesa, por isso decide 
encaminhar um e-mail para o referido professor para saber sobre a data 
da entrega da atividade. Ao redigir o seu texto, não leva em 
consideração o contexto comunicativo e utiliza gírias e palavras 
abreviadas (o internetês). Sabe qual foi o problema? A linguagem 
utilizada não foi adequada para a situação comunicativa.COMUNICAR TORNAR 
COMUM 
COMUNICAÇÃO 
VOCÊ SABIA? 
O modelo 
comunicativo desenvolvido 
por Roman Jakobson surgiu 
a partir dos estudos 
realizados pelo engenheiro 
elétrico e matemático 
Claude Shannon que tinha 
como objetivo tornar mais 
eficiente a transmissão da 
mensagem/informações 
entre máquinas. (Cf. 
GUIMARÃES, 2012) 
 
 
 
 
10 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
Para que problemas assim não ocorram, é necessário levarmos em 
consideração os elementos que fazem parte do processo comunicativo para que nos 
comuniquemos de forma eficiente. Sendo eles: emissor, receptor, canal, código, 
mensagem, contexto ou referente. 
Mas, como surgiram esses elementos da comunicação? 
Em 1960, o linguista russo Roman Jakobson divulgou o modelo comunicativo a 
partir do qual buscou mostrar que em qualquer ato de comunicação realizado pelos 
seres humanos estão envolvidos seis elementos da comunicação, que estão ilustrados 
na figura abaixo. 
 
 
 
 Figura 2: Modelo Comunicativo de Jakobson. 
 Fonte: Guimarães, 2012, p. 5. 
 
 
Assim, conforme este modelo comunicativo, em qualquer ato de 
comunicação há sempre a presença de um emissor e de um receptor. O 
emissor também conhecido como remetente é aquele responsável pela 
transmissão da mensagem. O receptor ou destinatário é aquele a quem a 
mensagem é direcionada e o responsável por descodificá-la. 
Também há a presença de uma mensagem, do canal de 
comunicação, do código e do contexto/referente. Veja em que consiste 
cada um desses elementos: 
 
 Mensagem: corresponde a toda a informação que o emissor 
deseja transmitir. 
 Canal de comunicação: também conhecido como contato, é o 
GLOSSÁRIO 
Descodificar = v.t. 
1. Ação de realizar a 
leitura de dados 
apresentados em 
código; 
2. Interpretar ou 
decifrar alguma 
mensagem, através do 
reconhecimento dos 
símbolos ou signos 
que a compõem. 
Fonte: Disponível em: 
<http://www.lexico.pt/des
codificar/>, acesso em 20 
dez. 2014. 
 
11 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PARA SABER 
MAIS 
 
Entendendo melhor o 
código 
 "Para ficar 
mais claro, usaremos 
como exemplo a nossa 
língua materna: a língua 
portuguesa. A língua 
portuguesa é um código 
justamente porque é 
constituída por um 
conjunto de sinais (ou 
signos) linguísticos e das 
regras gramaticais que 
determinam a 
combinação desses 
sinais, permitindo a 
expressão e a 
comunicação entre os 
falantes. (TERCITOTTI 
E MACARENCO, 2010, 
p. 4) 
 
meio físico utilizado pelo emissor para transmitir a mensagem ao seu 
receptor. Pode ser natural (órgãos sensoriais) ou tecnológico (espacial e 
temporal). 
 Código: é o conjunto de sinais estruturados utilizado pelo emissor para 
construir sua mensagem e que deve ser compartilhado pelo receptor, total 
ou parcialmente, para que a mensagem seja compreendida. Pode ser 
verbal (utiliza a palavra falada ou escrita) ou não verbal (utiliza outras 
formas de linguagem que não seja a palavra falada ou escrita, como 
gestos, cores, formas, etc.). 
 Contexto ou referente que corresponde ao assunto tratado na 
mensagem. 
Para entender melhor o funcionamento dos elementos de 
comunicação dentro do processo comunicativo, imagine a seguinte situação: 
Você faz uma ligação telefônica para a sua mãe a fim de 
avisá-la que chegará atrasado para o almoço. Nesse ato comunicativo, você 
assumirá a posição de emissor, a sua mãe será o receptor da mensagem, o 
telefone será o canal de comunicação, a mensagem corresponderá a toda a 
informação transmitida, o código será a língua portuguesa- classificado 
como verbal- e o contexto será o atraso para o almoço. 
 É importante estarmos atentos para o fato de que a falha 
em qualquer um dos elementos de comunicação pode comprometer o 
processo comunicativo. O que pode ser verificado na charge abaixo: 
Figura 3: Falha na comunicação. 
Fonte: Disponível em: <http://www.cataphora.com.br/2010/02/o-new-portugueis-linguagem-do-aluno-e.html>, acesso 
em 15 dez. 2014. 
 
 
 
12 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
A partir da leitura da charge, pode-se afirmar que houve comunicação? Apesar 
de haver a presença de todos os elementos de comunicação (emissor, receptor, canal, 
código, mensagem, contexto), não há comunicação entre o aluno e a professora. Pois 
o aluno utilizou um código inadequado, o que dificultou a compreensão da mensagem 
pela professora que não entende o que ele deseja transmitir. 
 
1.2.1 Ruído e redundância 
 O ruído corresponde a toda interferência indesejável na transmissão de 
uma mensagem, ocasionando perda de informação. De acordo com Terciotti e 
Macarenco (2010), as principais fontes de ruído são: 
a) O emissor ou o receptor (por exemplo: algum mal-estar físico, psi-cológico). 
b) O ambiente (excesso de barulho, falta de luminosidade etc.). 
c) A mensagem (velocidade da fala, uso de jargão ou gíria profissional diante 
de uma plateia heterogênea). 
d) O canal (barulhos na linha telefônica, interferências na televisão ou no rádio 
etc.). 
 Imagine, por exemplo, uma situação em que duas pessoas estão 
conversando em praça pública e passa uma ambulância com a sirene ligada. O 
barulho da sirene dificultará a compreensão da mensagem pelo que assume o papel 
de receptor naquele momento, uma vez que ele não conseguirá escutar toda a 
mensagem transmitida pelo emissor. 
Para evitar problemas de entendimento da mensagem causados pelos ruídos, 
podemos recorrer ao mecanismo de redundância. Redundância é o processo pelo qual 
se repetem informações, objetivando a clareza da mensagem. 
Exemplos de redundância: 
 
"Aqui, neste lugar, onde tu te encontras com tua família, aconteceram fatos que 
mudaram o mundo." (Martins e Zilberknop, 2010, p.31) 
 
 “Chovia uma triste chuva de resignação.” (Manuel Bandeira) 
 
 “Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal?” (Fernando 
Pessoa) 
 
13 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
Conforme Guimarães (2012), pode ser útil em várias situações cotidianas 
conhecermos os conceitos de ruídos e redundância. Seguem alguns exemplos de 
perguntas que podemos nos fazer sobre possíveis ruídos na comunicação, bem como 
dos possíveis mecanismos de redundâncias que podemos utilizar para contorná-los. 
Elementos Detecção de ruídos Mecanismos de redundância a adotar 
Interlocutores  Meu receptor sabe quem eu sou? 
 Apresentar-se 
claramente. 
 Confirmar, com o 
receptor, as 
informações que tenho 
a respeito dele. 
Código  Eu conheço bem meu receptor? 
 Perguntar ao 
receptor se ele 
entendeu o que eu 
disse. 
 Pedir que repita o 
que entendeu. 
Canal 
 O meio que 
estamos usando está 
livre de 
interferências? 
 Perguntar ao 
interlocutor se está 
ouvindo bem. 
 Em uma 
comunicação escrita, 
ressaltar informações 
mais importantes com 
cores, quadro, etc. 
Mensagem 
 A mensagem 
em si está sendo 
compreendida? 
 Em uma 
apresentação oral, 
distribua um texto 
escrito que reproduza 
de maneira resumida o 
que será dito. 
 Não ter medo de 
repetir palavras, desde 
que isso seja 
necessário à 
compreensão. 
Contexto 
 O receptor sabe 
do que estou 
falando? 
 Usar parênteses 
para explicar conceitos 
que talvez não sejam 
conhecidos por todos. 
Fonte: adaptado de GUIMARÃES, 2012, p. 24. 
 
 
 
 
14 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
1.3 Linguagem verbal e não verbal 
 
É de grande importância compreendermos primeiramente os conceitos de 
língua, linguagem e fala para depois discutirmos sobre a linguagem verbal e a 
linguagem não verbal, uma vez que tais conceitos nos ajudarão a entender melhor as 
formas de linguagem utilizadas pelos sereshumanos para se comunicar. 
 
Afinal, o que é a linguagem? 
 
A linguagem é uma faculdade inerente ao ser humano que lhe possibilita a 
comunicação. É o meio através do qual o homem se comunica, seja através da fala, 
da escrita ou de outros signos convencionais, como através de gestos e formas. Isso 
significa que o ser humano não utiliza apenas a fala ou escrita para se comunicar, mas 
outras formas de linguagem, como o sinal de trânsito, as expressões faciais, as 
sirenes dos carros de polícia, etc. Como afirma Martelotta et al. (2010, p. 16), a 
linguagem "é a capacidade que apenas os seres humanos possuem de se comunicar". 
A linguagem tem um lado social, que é a língua, e uma lado individual, que é a 
fala. Sendo impossível conceber uma sem a outra. A língua é um instrumento peculiar 
de comunicação, representa a parte social da linguagem, é coletiva, exterior ao 
indivíduo que, por si só, não pode modificá-la, é uma espécie de contrato social. Para 
Houassis (2002, p. 7), língua “é um conjunto de sons e ruídos, combinados, com os 
quais um ser humano, o falante, transmite a outro ou a outros seres humanos, o 
ouvinte ou os ouvintes, o que está na sua mente [...]”. Já a fala, ao contrário da língua, 
é um ato individual, intencional, de vontade e inteligência. 
Mas, é só o ser humano que se comunica? 
Embora haja estudos no sentido de esclarecer se animais ou plantas se 
comunicam, no sentido que aqui estamos discutindo, apenas o ser humano se 
comunica. Pois é o único ser que utiliza de um sistema complexo de linguagem para 
se comunicar, ou seja, só o ser humano se comunica através da língua como código. 
Quanto aos outros animais, como abelhas e golfinhos, eles possuem um sistema de 
comunicação desenvolvido, mas que não chega a ser considerado como forma de 
linguagem. 
 Agora que já discutimos sobre os conceitos de linguagem, língua e fala, 
podemos iniciar as nossas discussões sobre as formas de linguagem utilizadas pelo 
ser humano para se comunicar. De acordo com o sistema de sinais convencionais que 
tornam possível ao homem se comunicar, a linguagem se divide em verbal e não 
verbal. 
 
15 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
A linguagem verbal corresponde à forma de linguagem em que os signos 
utilizados são as palavras tanto faladas quanto escritas. O termo verbal origina-se do 
latim verbale, provém de verbu, que significa palavra. Daí o nome linguagem verbal. Já 
a linguagem não verbal compõe-se de signos diversos que não seja a palavra falada 
ou escrita (placas, figuras, objetos, desenhos, som, postura corporal, etc.). Veja alguns 
exemplos de linguagem verbal: 
 
Figura 4: linguagem verbal-bilhete. Fonte: Disponível em: <http://entreletrasnovasdescobert.blogspot. 
com.br/2013/04/atividade-2-tipos-de- linguagem-1.html>, acesso em 15 dez. 2014. 
 
Figura 5: Linguagem verbal- bula de medicamento. 
Fonte: Disponível em: <http://naskah-drama.com/buspar/buspar-bula-bulas-de-medicamentos.html>, acesso em 15 
dez. 2014. 
 
 
16 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
A seguir são apresentados alguns exemplos de linguagem não verbal: 
 
 
Figura 6: Linguagem não verbal- cartão vermelho de jogo de futebol 
Fonte: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/redacao/linguagem.htm>, acesso em 15 dez. 2014. 
 
 
Figura 7: Linguagem não verbal- sinal de trânsito. 
Fonte:Disponível em: <http://malbavaleria.blogspot.com.br/2011/09/linguagem-verbal-e-nao-verbal.html>, acesso em 
15 dez. 2014. 
 
 
Figura 8: Linguagem não verbal-charge. 
Fonte:Disponível em: < http://literaturaeeducacao.blogspot.com.br/>, acesso em 15 dez. 2014. 
 
 
17 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
 
 
Figura 9: Linguagem não verbal-imagem indicativa de silêncio. 
Fonte: Disponível em: <http://www.brasilescola.com/redacao/linguagem.htm>, acesso em 15 dez. 2014. 
 
 
A linguagem também pode ser verbal e não verbal ao mesmo tempo, como no 
caso de cartoons. Essa junção de linguagem verbal e linguagem não verbal em um 
mesmo ambiente constitui a linguagem mista. Seguem alguns exemplos de 
linguagem mista: 
Figura 10: Linguagem mista- placa. 
Fonte: Disponível em: < http://discursoelinguagem.webnode.com/news/linguagem-verbal-e-linguagem-n%C3%A3o-
verbal1/>, acesso em 15 dez. 2014. 
 
 
 
 
 
 
 
18 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
Figura 11: Linguagem mista- charge 
Fonte: Disponível em: <http://car-memes.com/figuras-de-linguagem-verbal-5/>, acesso em 15 dez. 2014. 
 
 
1.4 Funções da linguagem 
 
Você já parou alguma vez para pensar nas funções que a linguagem 
desempenha na nossa vida? Como vimos anteriormente, sempre que nos 
comunicamos utilizamos a linguagem principalmente para trocarmos informações. 
Porém, é só essa função que a linguagem possui dentro da comunicação humana? 
Para a autora Guimarães: 
 
"Parecia óbvio que, desde de os primórdios, homens e mulheres tinham usado 
a linguagem para obter informações- ou seja, para informar parentes e amigos sobre a 
localização do alimento ou da aproximação de uma tribo inimiga. Informar parecia, 
portanto, ser a função primordial da linguagem. Mas como explicar aqueles momentos 
em que 'falamos com nossos botões', sem a intenção de informar nada a ninguém? 
Como explicar a poesia, os textos ficcionais? As conversas 'sobre o nada'? Enfim, 
como explicar todos os usos menos objetivos da linguagem?" (GUIMARÃES, 2012, p. 
6) 
 
Com o objetivo de apresentar respostas para todos esses questionamentos, o 
linguista Roman Jakobson, o mesmo que publicou a teoria do modelo comunicativo, 
conforme vimos anteriormente, criou o conceito das seis funções da linguagem 
 
19 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
relacionando-as com os seis elementos envolvidos no processo de comunicação por 
ele já apresentados. Embora os estudos de Jakobson tenham sido decisivos para o 
desenvolvimento do conceito de funções da linguagem, cronologicamente, os 
primeiros estudos sistemáticos sobre as funções da linguagem foram desenvolvidos 
pelo psicólogo Karl Bühler. 
Bühler, no ano de 1934, publicou em sua obra Sprachtheori as três 
possibilidades de uso das funções da linguagem. Sendo que a primeira função ele 
denominou de representativa, a segunda de expressiva e a terceira de apelativa. 
 Essa descoberta de Karl Bühler foi ampliada por Jakobson que renomeou as 
três funções da linguagem e as relacionou com os elementos de comunicação. Desse 
modo, as três funções da linguagem descobertas por Bühler são mantidas, mas com 
novas nomenclaturas, conforme esquema abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 Fonte: Adaptado de SOUZA e CARVALHO, 2008, p. 12. 
 
 
Além dessas três funções da linguagem, Jakobson descobriu 
três outras funções: fática, metalinguística e poética. Para a divisão 
das funções da linguagem, o linguista russo levou em consideração 
cada um dos elementos de comunicação. Se são seis elementos da 
comunicação, as funções da linguagem também precisavam ser seis, 
certo? 
 Assim, cada um dos seis elementos da comunicação dá 
origem a uma das funções da linguagem, conforme a predominância 
de cada um desses elementos dentro do discurso. Desse modo, 
dizemos que cada uma das funções da linguagem está centrada em 
um elemento de comunicação. Observe a figura abaixo: 
 
 
 
 BÜHLER JAKOBSON 
1. Representativa 
2. Expressiva 
3. Apelativa 
 Referencial 
( ) Emotiva 
 Conativa 
PARA SABER 
MAIS 
 
Para Marcuschi (2003, p. 24), 
discurso “ 
É aquilo que um texto produz 
ao se manifestar em alguma 
instância discursiva. Assim, o 
discurso se realiza nos 
textos”. 
O discurso está situado nas 
ações sociais e históricas e 
“diz respeito aos usos 
coletivosda língua que são 
sempre institucionalizados, 
isto é, legitimados por alguma 
instância da atividade humana 
socialmente organizada” 
(MARCUSCHI, 2006, p. 24) 
 
20 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
Figura 12: Relação entre funções da linguagem e elementos da comunicação 
Fonte: Disponível em: <http://gestaoedidatica.com/tag/producao-textual/ 
 
 
 Veja o que é exatamente cada uma dessas funções: 
 
1- Função referencial ou denotativa ou cognitiva: centrada no contexto, ou 
seja, põe em evidência o assunto da mensagem, corresponde à terceira pessoa do 
singular e tem como intenção transmitir ao receptor conhecimentos de forma objetiva e 
direta e no sentido literal. Predomina em textos científicos, acadêmicos, em notícias 
veiculadas em jornais, entre outros. 
 
Figura 13: Função referencial- notícia Jornal Folha de São Paulo 
Fonte: Disponível em: <https://emlupa.wordpress.com/2010/09/12/falsidade-da-folha-de-sp/>, acesso em 17 dez. 2014. 
 
 
21 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
2- Emotiva: está centrada no emissor, corresponde à primeira pessoa do 
singular e tem como intenção traduzir as emoções e sentimentos daquele que 
transmite a mensagem, ou seja, do emissor. Exemplo: "palavrões" e interjeições. 
 
 
3- Fática ou de contato: está centrada no canal de comunicação e 
tem como intenção iniciar uma conversa, mantê-la ou encerrá-la. Também 
serve para testar a eficiência do canal. Exemplos: palavras e expressões 
que utilizamos para iniciarmos uma conversa, como olá, alô, como vai, etc. 
 
Figura14: Função fática 
Fonte: Disponível em: <http://www.estudokids.com.br/funcoes-da-linguagem/>, acesso em 17 dez. 2014. 
 
 
4- Metalinguística: está centrada no código e passa a existir quando a linguagem 
fala de si mesma. Serve para verificar se o emissor e receptor estão usando o mesmo 
código. Um bom exemplo de metalinguagem é o dicionário, uma vez que apresenta 
palavras de um determinado idioma sendo explicadas, significadas, por vocábulos do 
 
 
 
"Não só baseado na avaliação do Guia da Folha, mas 
também por iniciativa própria, assisti cinco vezes a “Um filme 
falado”. Temia que a crítica brasileira condenasse o filme por não 
se convencional, mas tive uma satisfação imensa quando li críticas 
unânimes na imprensa. Isso mostra que, apesar de tantos enlatados, 
a nossa crítica é antenada com o passado e o presente da 
humanidade e com as coisas que acontecem no mundo. Fantástico! 
Parabéns, Sérgio Rizzo, seus textos nunca me decepcionam.” 
Luciano Duarte. Guia da Folha, 10 a 16 de junho 2005. 
PARA SABER 
MAIS 
 
Interjeições: 
Palavras invariáveis que 
exprimem emoções, 
sensações, estados de 
espírito, ou que 
procuram agir sobre o 
receptor. Exemplos: 
"Ah!", "Psiu!", "Oba!" 
(Cf.INFANTE, 2001). 
 
22 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
próprio idioma, como no caso da palavra lar (termo da língua portuguesa) que é explicada 
pelas palavras "lareira" e "casa", também da língua portuguesa. 
 
Figura15: Função metalinguística- dicionário. 
Fonte: Disponível em: <http://portfeevale2012.wordpress.com/2012/10/29/ 
quais-sao-as-funcoes-da-linguagem/>, acesso em 17 dez. 2014. 
 
5- Conativa ou apelativa: centra-se no receptor, ocorre quando o 
emissor da mensagem visa persuadir o receptor a agir de forma diferente 
(mudar de opinião, de postura, etc.), corresponde à segunda pessoa do 
singular "tu", é marcada pela presença de imperativos (verbos de ordem- 
"faça", "compre", "veja") e vocativos. Atenção! Cuidado para não confundir 
conativa com conotativa! Exemplos: propagandas publicitárias como a 
apresentada a seguir da escola de idiomas. 
 
Figura16: Função conativa- propaganda da escola de idiomas. 
Fonte: Disponível em: < http://www.mundoeducacao.com/redacao/funcao-conativa.htm>, acesso em 17 dez. 2014. 
 
 
PARA SABER 
MAIS 
 
Vocativo: é o nome do 
termo sintático que serve 
para dar nome a um 
receptor a quem se dirige 
a palavra. É um termo 
independente que não 
faz parte nem do sujeito 
nem do predicado. Ex.: 
Mãe, onde você está? 
 
23 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
6- Poética: centra-se na mensagem, ocorre quando o emissor visa trabalhar 
com a mensagem, seja na sua estrutura ou na seleção de palavras. Não existe apenas 
na poesia, mas pode ocorrer em outros textos, como, por exemplo, em textos 
publicitários; opõe-se à função referencial, uma vez que predominam a subjetividade e 
a linguagem figurada. É marcada pela presença de alguns elementos característicos 
da linguagem poética, como: rimas e musicalidade. Exemplo: textos de Mário Quintana 
e Luís de Camões. 
 
Figura17: Função poética- texto de Mário Quintana. 
Fonte: Disponível em: <http://portfeevale2012.wordpress.com/2012/10/29/quais-sao-as-funcoes-da-linguagem/>, 
acesso em 17 dez. 2014. 
Figura18: Função poética- texto de Mário Quintana. 
Fonte: Disponível em: <http://portfeevale2012.wordpress.com/2012/10/29/quais-sao-as-funcoes-da-linguagem/>, 
acesso em 17 dez. 2014. 
 
 
 
24 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 Toda essa divisão das funções que a linguagem exerce durante o 
processo de comunicação não implica que elas ocorram de forma isolada durante o 
ato comunicativo nem que uma anule a (s) outra (s). Na verdade, é muito comum que 
um texto tenha mais de uma função da linguagem. No entanto, geralmente, uma 
função predomina sobre a (s) outra (s) dentro do texto. Por isso, quando se deparar 
com um texto em que haja mais de uma função da linguagem, é necessário que 
busque, sempre que possível, encontrar a mais importante, ou seja, a predominante, 
que retrata a intenção comunicativa do emissor. 
 
1.5 Denotação e conotação 
 
 Como você já deve ter percebido, uma mensagem não é tão simples 
como nos parece. Pois, além de possuir significados distintos para diversas pessoas, 
pode apresentar formas diferentes de sentidos. 
 Essas variações de significado são denominadas denotação e 
conotação. Leia atentamente e analise a tirinha abaixo para compreender melhor 
esses elementos da linguagem: 
 
 
Figura 19: Conotação-tirinha. 
Fonte: Disponível em: <http://www.portugues.com.br/gramatica/denotacao-conotacao-.html 
 
 Na tirinha acima, verificamos que o amigo do personagem Hagar, Eddie 
Sortudo, demonstrou não ter interpretado adequadamente o questionamento feito por 
Hagar no primeiro quadrinho da tirinha- "Por que estou aqui?". Isso se evidencia a 
partir da resposta dada por Eddie no último quadrinho: "Você está aqui porque o dono 
do bar deixa você pendurar a conta até o fim do mês?". Como pode perceber, Eddie 
não levou em consideração que Hagar estava utilizando o sentido conotativo (figurado) 
da linguagem e não o sentido denotativo (literal). Hagar não estava questionamento o 
motivo pelo qual podia frequentar o bar, mas, estava refletindo sobre o sentido da sua 
vida e de estar ali naquele lugar. Conseguiu compreender a diferença entre sentido 
denotativo e sentido conotativo? 
 
25 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 Assim, a mensagem que está no sentido denotativo é mais ou menos 
igual para todos os falantes de um mesmo idioma. É o sentido literal, objetivo, real; é 
aquele que encontramos, por exemplo, nos dicionários. Já o sentido conotativo 
corresponde ao significado emocional ou avaliativo conforme as experiências de cada 
indivíduo, ou seja, é o sentido subjetivo. É bastante frequente em textos literários,uma 
vez não têm como preocupação apresentar informações com objetividade e no seu 
sentido real, literal. Desse modo, as palavras são utilizadas não em seu sentido literal 
e sim em seu sentido "diferente", figurado. 
 
 Observe outro exemplo: 
 
 
 
 
 Ao lermos a FRASE 1 percebemos que a expressão "deouro" foi usada 
no sentido figurado, isto é, conotativo, para significar que Ana é bondosa, generosa e 
não que ela possui um coração que foi fabricado com o metal nobre ouro. Já na 
FRASE 2 essa mesma expressão foi utilizada no seu sentido literal, ou seja, 
denotativo, para indicar o material usado para fabricar o anel- o ouro. 
 
 Viu como é importante levarmos em consideração o significado que um 
determinado termo assume a partir do contexto em que está inserido? Essa prática 
nos permite interpretar melhor as informações que nos rodeiam e, consequentemente, 
as entendermos de forma adequada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FRASE 1 
Ana tem um coração de ouro. 
FRASE 2 
Maria ganhou de presente um anel de ouro. 
 
26 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
 
 
 
A TELEVISÃO E A VOLTA ÀS CAVERNAS 
 
Roberto Pompeu de Toledo 
 
Tende-se a esquecer, nestes tempos, que o melhor meio de comunicação já 
inventado é a Palavra. Qual a minha porta? Está o leitor, ou a leitora, diante dos 
toaletes de um restaurante, um teatro ou hotel, e com frequência, experimentará um 
momento de vacilação. Não que tenha dúvida quanto ao próprio sexo. A dúvida é com 
relação àqueles sinais inscritos sobre cada uma das duas portas –que querem dizer? 
Olha-e bem. Procura-se decifrar seu significado profundo. Enfim, vem a iluminação: 
ah, sim, este é um boneco de calças. Sim, parece ser isso. E aquela silhueta, ali do 
lado, parece ser uma boneca de saia. Então, esta é minha porta, concluirá o leitor. E 
aquela é a minha, concluirá a leitora. 
 
A humanidade demorou milhões de anos para inventar a linguagem escrita e 
vêm agora as portas dos toaletes e a desinventam. Por que não escrever "homens" e 
"mulheres", reunião de letras que proporciona a segurança da clareza e do 
entendimento imediato? Não. Algumas portas exibem silhuetas de calças e saias. 
Outras, desenhos de cartolas, luvas, bolsas, gravatas, cachimbos e outros adereços 
de uso supostamente exclusivo de um sexo e outro. Milhões de anos de progresso da 
humanidade, até a invenção da comunicação escrita, são jogados fora, à porta dos 
toaletes. 
 
E, no entanto, a palavra, a palavra escrita especialmente, continua sendo um 
estupendo meio de comunicação. Deixa -se um bilhete para um colega de trabalho 
dizendo "Fui para casa", e vazado nesses termos, com o uso dessas três palavrinhas, 
será, sem dúvida, de entendimento mais fácil e unívoco do que se se desenhar uma 
casinha de um lado, um hominho de outro, e uma flecha indicando o movimento de 
uma para outra. Vivemos um tempo de culto de imagem. Esquece-se o valor 
inestimável da palavra. 
 
A comunicação escrita é muito eficiente, inclusive porque tem o dom de 
atravessar os séculos. Tomemos Camões. Claro que se algum cinegrafista amador 
tivesse registrado o náufrago poeta, perto da foz do Rio Mekong, nos confins da Ásia, 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
27 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
e as cenas em que ele, como diz a lenda, procurava a salvação simultânea da própria 
vida e da obra, nadando com um braço e com outro segurando os originais dos 
Lusíadas, acima da linha d'água para mantê-los secos, seria um documento de grande 
valor. Teríamos uma edição de gala do Jornal Nacional. Mas o filme só despertaria 
interesse, porque Camões é Camões. Ou seja, porque é o autor de uma obra escrita 
que atravessou os séculos. Camões comunica-se conosco, quatro séculos depois de 
sua morte, porque se utilizou dessa ferramenta insubstituível que é a palavra gravada 
num papel, ou num papiro, ou numa prensa. 
 
O pensador Norberto Bobbio, em seu último livro publicado no Brasil (O Tempo 
da Memória), afirma que se irrita em falar ao telefone. Bobbio cita outro italiano, Guido 
Ceronetti, que escreveu: "Sempre que posso (...) faço apaixonada apologia de 
escrever cartas entre seres pensantes, ainda não embrutecidos, que se comunicam 
apenas pelo telefone, ou então por fax ou telefone celular(...) O homem que pensa de 
verdade escreve cartas aos amigos". 
 
O homem do século XX acostumou-se a pensar que o século XX é 
maravilhoso. Em matéria de ciência e de tecnologia, suas conquistas seriam 
inigualáveis. Vá lá, o telefone representou um avanço. Mas consideremos, por um 
momento, o que ele pôs a perder. O hábito de escrever cartas, como diz Ceronetti, e o 
exercício de inteligência que isso representa. A conversa direta, olho no olho. O hábito 
de fazer visitas, de procurar pessoalmente as pessoas. Com telefone, não teria havido 
este ponto alto da criação humana que é o romance do século XIX. Os enredos têm 
base em visitas, encontros inesperados, as notícias chegam tarde. Com telefone, não 
há história de Dostoievski, Balzac, Dickens ou Eça de Queiroz que resista. 
 
A desvalorização da comunicação escrita, em nosso tempo, começa numa 
banalidade, como as portas dos toaletes, e culmina neste símbolo do século que é o 
culto das conquistas tecnológicas – do rádio ao telefone celular, no caso das 
comunicações. Ora, conquista por conquista, continua insuperável, no mesmo ramo 
das comunicações, em primeiro lugar a invenção de uma língua comum, em cada 
determinada comunidade, e em segundo a reprodução dessa língua em signos 
escritos. 
 
Lorde Thomson of Monifieth, um inglês que já presidiu a Independent 
Broadcastings Authority, órgão de supervisão do sistema de rádio e televisão na Grã-
Bretanha, disse certa vez, numa conferência, que lamenta não ter surgido na história 
 
28 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
da humanidade primeiro a televisão, e depois os tipos móveis de Gutemberg. "Penso 
que imprimir e ler representam formas mais avançadas de comunicação civilizada do 
que a transmissão de TV", afirmou. Esse lúcido inglês confessou que, em seus 
momentos sombrios, se sente incomodado com o pensamento de que a humanidade 
caminhou milhões de anos para voltar ao ponto de partida. Começou magnetizada 
pelos desenhos nas paredes das cavernas e terminou magnetizada diante das figuras 
de alta definição nas paredes onde se embutem os aparelhos de televisão. (Retirado 
de Folha de São Paulo, dezembro/2000) 
 
 
 
Referências 
 
GUIMARÃES, Thelma de Carvalho. Comunicação e linguagem. São Paulo: Pearson, 
2012. 
HOUAISS. Dicionário Houaiss de língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002. 
INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplicada aos textos. 6.ed. São Paulo: Scipione, 
2001. 
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: configuração, dinamicidade e 
circulação. In: KARWOSKI, A.; GAYDECZKA, B.; BRITO, H. S. (orgs.) Gêneros 
Textuais: reflexões e ensino. 2. ed. rev. e ampliada. Rio de Janeiro: Lucerna, 2006. p. 
23-36. 
MARTELOTTA, Mário Eduardo et al. Manual de Linguística. 1.ed.São Paulo: 
Contexto, 2010. 
MARTINS, Dileta Silveira; ZILBERKNOP, Lúbia Scliar. Português instrumental: de 
acordo com as atuais normas da ABNT. 29.ed. São Paulo: Atlas, 2010. 
SOUZA, Luiz Marques de; CARVALHO, Sérgio Waldeck de. Compreensão e produção 
de textos. 13.ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. 
TERCIOTTI, Sandra Helena; MACARENCO, Isabel. Comunicação empresarial na 
prática. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2013. 
 
 
 
 
29 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
UNIDADE II 
 
LEITURA, COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE 
TEXTOS 
 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
 
 
Ao concluir os estudos desta unidade, você deverá ser capaz de: 
 
 Explicar o que é a leitura. 
 Distinguir compreensão de interpretação. 
 Identificar os tipos de leitura. 
 Explicar cada um dos conhecimentos prévios que precisam ser ativados pelo 
leitor para a construção de sentido do texto. 
 Descrever as estratégias de leitura que podem ser utilizadas durante o ato de 
ler. Perceber a importância da aplicação de estratégias de leitura para o melhor 
entendimento do texto. 
 
 
2 INTRODUÇÃO 
 
Quem nunca escutou alguém reclamar que leu o texto várias vezes e que não 
conseguiu entender "nada" do que o autor quis transmitir? Você certamente já ouviu 
esse tipo de reclamação ou até mesmo já passou por situação semelhante durante a 
leitura de um texto. Certo? 
Mas o que fazer para superar a dificuldade de compreender os textos lidos? 
Principalmente os textos exigidos nas disciplinas do seu curso de graduação que 
geralmente são mais complexos e extensos? Colocar a culpa no autor dizendo que 
 
30 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
"ele escreveu para ele mesmo", "o problema é com o texto que não está claro", " que o 
texto é muito longo" ou desistir da leitura com certeza não é a melhor alternativa. 
Neste momento você deve estar se perguntando: " Existe alguma forma de ler 
textos com mais facilidade e segurança? Felizmente sim! Entretanto, para que isso 
seja possível, é necessário colocarmos em prática estratégias de leitura que irão nos 
auxiliar durante o ato de ler. Lembrando que inicialmente este processo pode parecer 
automatizado, no entanto, com a prática, tornara-se mais natural e, 
consequentemente, mais eficiente. 
 Atenção! O hábito de ler também é fundamental para que o leitor possa 
superar as dificuldades de interpretação e compreensão dos textos lidos. Por isso, leia 
sempre, leia muito! 
 
 
Figura 20: A importância de prática da leitura. 
Fonte: Disponível em: <http://pt.slideshare.net/robertogomes86/a-importncia-do-ato-de-ler-4721000>, acesso em: 18 de 
dez. 2014. 
 
Mas o que é a leitura de que se fala tanto? Em síntese, é a interação entre 
texto-autor-leitor de modo que o leitor é um sujeito ativo na busca das informações 
apresentadas dentro do texto. 
 
 
31 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PARA SABER 
MAIS 
 
Interpretação de texto: 
"é o processo de 
localizar as pistas e 
sinalizações deixadas no 
texto pelo autor e 
atribuir-lhes 
significado." 
(GUIMARÃES, 2012, p. 
107) 
 
Figura 21: Anatomia de um leitor. 
Fonte: Disponível em: <http://comoeuaprendo.blogspot.com.br/2013/10/saber-ler-e-saber-interpretar.html>, acesso em: 
18 de dez. 2014. 
 
Nesta unidade discutiremos sobre algumas estratégias de leitura que poderão 
nos auxiliar durante a compreensão/interpretação de um texto, mas, antes disso, 
iremos discutir sobre o que é exatamente o ato de ler, os tipos de leitura e quais os 
conhecimentos prévios devemos ativar durante a leitura dos textos para que o 
processo de leitura se torne mais eficaz. 
 
 
2.1 O ato de ler 
 
Diferentemente do que alguns acreditam, o ato de ler não se 
resume simplesmente em “passar os olhos” sobre o texto, nem, tão 
pouco, oralizar um texto escrito. Segundo Paulo Freire (1989), a leitura 
não se esgota na pura decodificação da palavra escrita. Sendo assim, o 
ato de ler não se resume no processo mecânico de memorização das 
letras. Não é um ato tão simples assim! É um processo bastante 
complexo de compreensão e interpretação do mundo que está à nossa 
volta. 
Quando o assunto é leitura, é bem comum aparecer durante a 
discussão os termos compreensão e interpretação. Pois essas duas 
 
32 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
importantes palavras estão ligadas diretamente ao ato de ler. Você sabe qual a 
diferença entre elas? Por mais que pareçam sinônimas, são duas palavras que 
possuem significados distintos. Saber que esses dois termos são diferentes faz toda 
diferença no momento da leitura de um texto. Assim, quando o seu objetivo é de 
compreender o texto, buscará informações que se encontram no texto, ou seja, 
explícitas, evidentes. Porém, se o seu objetivo é interpretá-lo deverá buscar 
informações que estão além do texto, isto é, implícitas, subentendidas. Viu como o ato 
de ler é complexo? 
A autora Thelma Guimarães (2012) faz uma interessante analogia 
do ato de ler com a dança, uma vez que a leitura é entendida como uma 
interação entre texto-autor-leitor; uma "verdadeira dança" em que cada 
um dos participantes precisa desempenhar seu papel. Nesse sentido, a 
responsabilidade pela compreensão/interpretação das informações 
contidas dentro de um texto não recai apenas sobre o autor, nem 
somente sobre o leitor. Na verdade, ela é compartilhada entre ambos. 
Desse modo, o autor não é o único responsável por construir a 
significação do texto, nem tão pouco o leitor pode decidir isso sozinho. 
Por isso que aquela história de que "a interpretação é minha" e 
que "cada um tem a sua" não é verdade! 
Como lembra a autora Thelma Guimarães: 
 
Uma interpretação só será válida se o leitor conseguir justificar, 
com elementos do texto, porque chegou a tal entendimento. Se o 
'vale-tudo' interpretativo realmente existisse, aprender a interpretar 
textos seria igualmente dispensável. Afinal, se cada um pode atribuir o 
sentido que quiser ao texto, para que se dar ao trabalho de estudar 
como fazê-lo? (GUIMARÃES, 2012, p. 109) 
 
Sabe o que isso quer dizer? Que para interpretar adequadamente um texto é 
necessário que identifique marcas dentro do próprio texto que garantam a sua 
interpretação, uma vez que a interpretação não corresponde a um jogo de 
adivinhações. É necessário agir como um detetive em busca de tais pistas. Caso 
interprete um texto e não encontre pistas que possibilitem atribuir-lhe significado, é 
bem provável que não tenha interpretado corretamente as ideias nele presentes. 
 
 No livro Texto e leitor – aspectos cognitivos da leitura Kleiman (2002, 
p.13) ressalta que “A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela 
GLOSSÁRIO 
Informações 
implícitas: 
São as informações 
que estão 
subentendidas nas 
entrelinhas do texto; 
é o contrário de 
informações 
explícitas. 
 
33 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
utilização de conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o 
conhecimento adquirido ao longo de sua vida”. Nessa perspectiva, o leitor deve ativar 
os seguintes conhecimentos prévios: 
 Conhecimento linguístico: conhecimento implícito compartilhado 
pelos falantes sobre os mecanismos de funcionamento da língua; abarca 
conhecimentos lexicais, gramaticais e semânticos. 
 
 Conhecimento de mundo ou enciclopédico: adquirido através das 
interações sociais, das situações do dia a dia, como ir ao médico, fazer uma avaliação, 
ficar "preso no trânsito"; pode ser adquirido formalmente ou informalmente. 
 
 Conhecimento textual: conjunto de noções e conceitos sobre o texto; 
corresponde aos conhecimentos relativos à composição estrutural de cada uma das 
tipologias textuais (narração, descrição, dissertação, injunção, etc.) e à sua 
funcionalidade. 
 
Para compreender melhor a importância da ativação dos conhecimentos 
prévios durante a leitura, analise a propaganda abaixo: 
 
Figura 22: Propaganda da Bombril 
Fonte: Disponível em: < http://www.propagandashistoricas.com.br/2013/10/mon-bijou-bombril-1998.html>, acesso em 
18 dez. 2014. 
 
 
34 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
Para entendermos a propaganda acima é necessário sabermos que está sendo 
feita uma alusão ao quadro da enigmática Monalisa, famosa obra de arte do grande 
pintor renascentista Leonardo da Vinci e que "Bombril" é o nome de uma marca de 
produtos de limpeza. Com a ativação desses nossos conhecimentos prévios de mundo 
ficou mais fácil compreendermos que está sendo feita uma comparação entre o 
produto "Mon Bijou" (amaciante de roupas) e a Monalisa para mostrar que o produto, 
assim como o quadro, é uma verdadeira obra-prima devido à sua qualidade. Se não 
detivéssemos tais conhecimentos,ficaria difícil entendermos bem a mensagem 
transmitida pela propaganda. Certo? 
 
Outro exemplo: 
 
Figura 23: conhecimentos prévios- tirinha turma da Mônica. 
Fonte: Disponível em: <http://escolaapm.blogspot.com.br/2012/06/atividade-lingua-inglesa-noturno-prof.html>, acesso 
em 18 dez. 2014. 
 
 
 Acima, temos uma tirinha da turma da Mônica em português e, em 
seguida, a mesma tirinha traduzida para o inglês. Em qual delas conseguiu entender 
melhor o que está sendo dito pela Mônica? Na primeira ou nas duas? O seu 
conhecimento prévio linguístico é que irá te auxiliar nesta compreensão. Por ser 
falante da língua portuguesa, com certeza, conseguiu fazer a leitura do que foi falado 
pela Mônica ao Cebolinha na primeira versão da tirinha. Não é verdade? No caso da 
tirinha que está em inglês, você só conseguirá entender a fala da personagem se 
detiver conhecimento deste idioma, ou seja, da língua inglesa. Outro conhecimento 
 
35 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
que também precisamos ativar é que o texto acima é uma tirinha e não um manual de 
instruções, por exemplo, que exigiria de nós uma postura diferente perante o texto. 
Percebeu a importância da ativação dos nossos conhecimentos prévios durante a 
leitura? 
 Como lembra Cardoso- Silva (2002), 
 
Quanto mais conhecimento textual o leitor tiver, quanto maior 
a sua exposição a todo tipo de texto, mais fácil será sua 
compreensão, pois o conhecimento das estruturas textuais e de tipos 
de discurso determinará, em grande medida, suas expectativas em 
relação aos textos, expectativas estas que exercem papel 
considerável na compreensão. (CARDOSO- SILVA, 2002, p. 35) 
 
 
Com base no exposto, você pode perceber que é a partir da interação entre 
esses níveis de conhecimentos prévios que o leitor conseguirá atribuir significado ao 
texto lido. Sem a ativação de um desses conhecimentos não haverá entendimento 
adequado do texto. Ler não é somente decifrar palavras, mas um processo de 
interação entre autor-texto-leitor e de busca pelo leitor dos conhecimentos guardados 
na sua memória relevantes para a compreensão/interpretação do texto. 
 
2.2 Tipos de leitura 
 
 Alguma vez, ao tomar um texto para leitura, você já se deparou com o 
seguinte questionamento: "Para que vou ler esse texto"? De acordo com Lucília 
Helena do Carmo Garcez (2004), ao estabelecermos o objetivo da leitura, 
determinamos a forma como iremos ler o texto; daí a importância de nos indagarmos 
sobre qual a nossa intenção ou necessidade de realizarmos a leitura. Dentre tantas 
outras finalidades, lemos por prazer, em busca de entretenimento, diversão; para 
obtermos informações precisas ou de caráter mais geral; para seguirmos instruções, 
para aprendermos; para comunicarmos um texto a um auditório, para revisarmos 
nosso próprio texto. 
 A autora Isabel Solé (1998) ressalta que o processo de construção do 
sentido do texto depende muito das atitudes que o leitor toma perante o ato de ler 
como, por exemplo, a escolha do tipo de leitura que deve realizar. Pois, se há uma 
 
36 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
PARA SABER 
MAIS 
 
O que é uma 
estratégia? 
" Um procedimento- 
com frequência também 
chamado de regra, 
técnica, método, destreza 
ou habilidade- é um 
conjunto de ações 
ordenadas e finalizadas, 
isto é dirigidas à 
consecução de uma 
meta." (COLL, 1987, 
p.89apud SOLÉ, 1998, 
p. 68) 
diversidade de textos, é necessário selecionar o tipo de leitura adequado para auxiliá-
lo na compreensão/ interpretação do texto e no alcance dos seus objetivos. 
 O estudioso Juvêncio Barbosa (2001) apresenta seis grandes grupos de 
situações (tipos) de leitura, a saber: 
 
 Leitura de informação: é a que realizamos para buscarmos informações 
sobre a vida cotidiana; é realizada em jornais, revistas, regimentos, etc. 
 
 Leitura de consulta: é um tipo de leitura seletiva que utilizamos toda vez 
que buscamos informações mais exatas; é aquela realizada em dicionários, 
catálogos, listas telefônicas etc. 
 
 Leitura de ação: é uma leitura rápida, seletiva, de passar os olhos 
rapidamente sobre o texto antes de tomarmos uma atitude ou comportamento; 
é realizada em regras de jogo, placas de sinalização, manuais técnicos de 
montagem, receitas de bolo, etc. 
 
 Leitura de reflexão: é uma leitura mais consistente, de prestígio, 
caracterizada por momentos de pausa para buscarmos refletir de forma mais 
aprofundada sobre o conteúdo lido; é aquela realizada em textos como obras 
filosóficas, tese, ensaios, etc. 
 
 Leitura de distração: é a que realizamos para nos 
entretermos, "passarmos o tempo", “sem nenhuma função 
utilitária”, é uma leitura desinteressada; é realizada em situações 
em que buscamos nos distrair, como, por exemplo, em 
consultórios médicos quando, durante o tempo de espera, 
tomamos uma revista para leitura. 
 
 Leitura da linguagem poética: é aquela em que o leitor tem 
interesse tanto no conteúdo como na sonoridade das palavras; é 
uma leitura lenta do texto, é realizada, por exemplo, em poesias 
cujo prazer da forma está ligado ao prazer do conteúdo, à 
dimensão musical das palavras ou do texto. 
 
 
37 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 Como viu, existem diferentes situações de leitura, porém o que irá 
determinar que uma seja mais adequada do que a outra é a intencionalidade do leitor. 
Independentemente de ser um jornal, uma tese, uma bula de medicamento ou uma 
poesia, será a finalidade estabelecida pelo leitor para a realização da leitura que o 
auxiliará na seleção das informações mais adequadas para alcançar seus objetivos. 
Nas palavras de Juvêncio Barbosa (2001): a característica fundamental da leitura é a 
intencionalidade do leitor. 
 
 
2.3 Estratégias de leitura 
 
 Em seu livro Estratégias de leitura Isabel Solé (1998) destaca que o 
leitor deve processar e examinar o texto para alcançar o seu sentido. Para tanto, é 
necessário que execute algumas operações mentais denominadas estratégias de 
leitura para facilitar o entendimento do texto. 
 
 
 Seguem as estratégias básicas de leitura: 
 
 Seleção: consiste na separação das informações mais importantes do texto 
que possibilitarão ao leitor alcançar seus objetivos de leitura. 
 
 Antecipação ou predição: corresponde às previsões ou levantamento de 
hipóteses que o leitor faz sobre o texto a partir de alguns aspectos presentes 
no próprio texto como título, data de publicação, gênero, autor, entre outros. 
 
 Inferência: é a recuperação das informações que estão implícitas dentro do 
texto. 
 
 Verificação: também denominada como autocorreção, é a parte principal do 
processo de leitura, uma vez que permitirá ao leitor conferir se executou 
adequadamente as outras etapas (seleção, predição e inferências) e fazer as 
correções necessárias para que não haja problemas na construção de sentido 
do texto. 
 
 
38 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 Solé (1998, p. 73-74) aponta algumas questões que podemos formular 
durante a leitura cujas respostas são necessárias para o entendimento do texto. São 
elas: 
 
1. Que texto tenho que ler? Por que/ para que tenho que lê-lo? 
2. Que sei sobre o conteúdo do texto? Que sei sobre conteúdos afins que 
possam ser úteis para mim? Que outras coisas sei que possam me 
ajudar: sobre o autor, o gênero, o tipo de texto...? 
3. Qual é a informação essencial proporcionada pelo texto e necessária para 
conseguir o meu objetivo de leitura? Que informações posso considerar 
pouco relevantes por sua redundância, seu detalhe, por serem pouco 
pertinentes para o propósito que persigo? 
4. Este texto tem sentido? As ideias expressas nele tem coerência? É 
discrepante com oque eu penso, embora siga uma estrutura de 
argumentação lógica? Entende-se o que quer exprimir? Que dificuldades 
apresenta? 
5. Que se pretendia explicar neste parágrafo- subtítulo, capítulo- ? Qual é a 
ideia fundamental que extraio daquilo? Posso reconstruir o fio dos 
argumentos expostos? Posso reconstruir as ideias contidas nos 
principais pontos? Tenho uma compreensão adequada de tais pontos? 
6. Qual poderá ser o final deste texto? Que sugeriria para resolver o 
problema exposto aqui? Qual poderia ser- por hipótese- o significado 
desta palavra que me é desconhecida? 
 
 Percebeu como a leitura requer de nós um determinado esforço para 
entendermos o texto? Nesse processo precisamos tomar certas atitudes como recorrer 
à nossa memória, fazer antecipações, construir inferências, dentre outras, para 
chegarmos ao entendimento do que lemos. 
 
 
39 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
 
 
A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER 
 
Paulo Freire 
Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de prática pedagógica, por isso 
política, em que me tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou de encerrar 
encontros ou congressos. Aceitei fazê-lo agora, de maneira, porém, menos formal 
possível. Aceitei vir aqui para falar da importância do ato de ler. 
Parece-me indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do 
momento mesmo em que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo 
em que me inseri enquanto ia escrevendo este texto que agora leio, processo que 
envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na descodificação 
pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na 
inteligência do mundo. 
A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura 
desta não pode prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade 
se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura 
crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. 
Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado – e 
até gostosamente – a “reler” momentos fundamentais de minha prática, guardados na 
memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha 
adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do 
ato de ler se veio em mim constituindo. Ao ir escrevendo este texto, ia “tomando 
distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na minha 
experiência existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que me 
movia; depois, a leitura da palavra, que nem sempre, ao longo de minha 
escolarização, foi a leitura da “palavra mundo”. (FREIRE, Paulo. In: INFANTE, Ulisses. 
Curso de gramática aplica da aos textos. São Paulo: Scipione, 2001, p.71-72. 
Adaptado.) 
 
 
 
LEITURA COMPLEMENTAR 
 
40 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
Referências 
 
BARBOSA, Juvêncio. O cotidiano do leitor. In: Alfabetização e leitura. 2.ed. São 
Paulo: Cortez, 2001. 
CARDOSO-SILVA, Emanuel. Prática de leitura: sentido e intertextualidade. São Paulo: 
Associação Editorial Humanitas, 2006. 
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 23. ed. 
São Paulo: Cortez, 1989. 
 
GARCEZ, Lucília Helena do Carmo. Técnica de redação: o que é preciso saber para 
bem escrever. 2.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
GUIMARÃES, Thelma de Carvalho. Comunicação e linguagem. São Paulo: Pearson, 
2012. 
INFANTE, Ulisses. Curso de gramática aplica da aos textos. São Paulo: Scipione, 
2001. 
 
KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, 2002. 
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6.ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
41 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
UNIDADE III 
 
A CONSTRUÇÃO DE TEXTOS 
 
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 
 
Ao concluir os estudos desta unidade, você deverá ser capaz de: 
 Explicar a noção de texto. 
 Descrever os fatores de textualidade. 
 Distinguir coesão de coerência textual. 
 Descrever os mecanismos de coesão. 
 Diferenciar gêneros textuais de tipos de texto. 
 Reconhecer as tipologias textuais. 
 Indicar as formas de iniciar um texto dissertativo. 
 Identificar os principais operadores argumentativos. 
 Mencionar as partes que constituem o resumo e a resenha. 
 
3 INTRODUÇÃO 
 
 Com certeza, você já se deparou, em vários momentos da sua 
vida, com frases do tipo "elabore um texto", "este texto está sem sentido", "Não 
entendi nada do que está dito no texto", "este é um texto bem redigido", ou já disse 
algo parecido. Entretanto, já parou para analisar o que é um texto? 
 A palavra texto provém do latim textum, que significa entrelaçamento, 
tecido. Nessa perspectiva, um texto se constitui como um entrelaçamento de ideias, 
um todo de significado e não um aglomerado de frases soltas, isoladas. Além disso, é 
um evento comunicativo de interação entre os falantes. Pois através dos textos, 
 
42 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
principalmente escritos, evidenciamos para o outro nossas ideias, tornamos comum 
nosso pensamento, interagimos com o outro, isto é, nos comunicamos. 
 Para redigirmos textos que alcancem o nosso objetivo de comunicação, 
ou seja, eficazes, é necessário termos em mente que o nosso texto deve ser capaz de 
tornar comum ao outro a ideia expressa, de persuadi-lo e de gerar a resposta 
"correta". 
 
 
Figura 23: Comunicação escrita eficaz. 
Fonte: Disponível em: < https://rbchristanelli.wordpress.com/2013/11/21/escreva-mensagens-eficazes-e-facilite-a-vida-
do-seu-leitor/>, acesso em: 18 dez. 2014. 
 
 Na tirinha abaixo, por exemplo, verificamos que o texto produzido não 
conseguiu fazer com que o receptor agisse da maneira desejada, ou seja, não 
conseguiu tornar o pensamento comum e, consequentemente, não obteve a resposta 
"correta". 
 
Figura 24: Texto sem eficácia. 
Fonte: Disponível em: <http://blogpalavrachave.blogspot.com.br/2011/02/seja-eficaz-na-comunicacao.html>, acesso 
em: 18 dez. 2014. 
 
 
43 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 Nesta unidade abordaremos alguns conteúdos que irão auxiliá-lo na 
construção de textos escritos. Para iniciarmos, discutiremos sobre o que é um texto e 
os fatores de textualidade, dando ênfase à coesão e coerência textual. Em seguida, 
discutiremos sobre gêneros e tipologias textuais, as formas de iniciar um parágrafo-
texto padrão, o que é a argumentação, os tipos de argumentos e, para finalizarmos, 
estudaremos sobre os defeitos de argumentação, os principais operadores 
argumentativos que podemos utilizar nos nossos textos e como elaborar resumos e 
resenhas. 
 
3.1 Noções de texto 
 
 Na sociedade em que vivemos, a todo o momento estamos expostos a 
uma diversidade de textos orais, escritos, imagéticos, seja no ambiente escolar ou fora 
dele. Sendo assim, com certeza, você já tem uma noção do que é um texto. 
 Acerca da noção de texto, Fiorini e Savioli (2003) 
apresentam em seu livro "Para entender o texto: leitura e redação" 
duas considerações fundamentais sobre o que é um texto: 
 
 Primeira consideração: o texto não é um 
aglomerado de frases, que possuem sentido 
isoladamente, uma vez que precisam estar 
interligadas dentro de um texto para que façam 
sentido; ou seja, as frases ganham um significado 
exato dentro do contexto em que estão inseridas, já 
que fora dele podem assumir sentidos diversos. 
 Segunda consideração: todo texto contém um 
pronunciamento dentro de um debate de escala 
mais ampla, isso significa que nenhum texto é uma 
manifestação individualista de quem o escreveu,pois está inserido dentro de uma escala ampla de 
discussão, ou seja, de algum debate presente na 
sociedade. 
 
GLOSSÁRIO 
Significado de contexto: 
Relação de dependência entre 
as situações que estão ligadas 
a um fato ou circunstância: o 
contexto social da ditadura. 
O que compõe o texto na sua 
totalidade; a reunião dos 
elementos do texto que estão 
relacionados com uma 
palavra ou frase e contribuem 
para a modificação ou 
esclarecimento de seus 
significados. 
 Provém do termo do latim: 
contextus. 
Fonte: Disponível em: 
<http://www.dicio.com.br/contexto
/>, acesso em 21 dez. 2014. 
 
44 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 Os autores Koch e Travaglia (1989) trazem uma concepção de texto 
voltada para o uso da língua em situação de interação entre falantes. Assim, o texto é 
uma unidade linguística concreta (perceptível pela visão ou pela audição), que é 
tomada pelos usuários da língua (falante, escritor/ ouvinte, leitor), em uma situação de 
interação comunicativa específica, como uma unidade de sentido e como preenchendo 
uma função comunicativa reconhecível e reconhecida, independente de sua extensão. 
(KOCH; TRAVAGLIA, 1989, p. 8-9) 
 É necessário que o redator tenha bem claro que escrever não é 
simplesmente traduzir a fala em sinais gráficos, pois são duas modalidades de 
linguagem distintas que possuem características próprias. Desse modo, escrever é 
diferente de falar. Seguem as principais características da fala e da escrita: 
 
QUADRO 1 - DIFERENÇAS ENTRE A LINGUAGEM ORAL E A ESCRITA 
FALA ESCRITA 
 Palavra sonora 
 Requer a presença dos 
interlocutores 
 Ganha em vivacidade 
 É espontânea e imediata 
 Uso de palavras-curinga, de frases 
feitas 
 É repetitiva e redundante 
 O contexto extralinguístico é 
importante 
 A expressividade permite prescindir 
de certas regras 
 A informação é permeada de 
subjetividade e influenciada pela 
presença do interlocutor 
 Recursos: signos acústicos e 
extralinguísticos, gestos, entorno 
físico e psíquico 
 
 Palavra gráfica 
 É mais objetiva 
 É possível esquecer o interlocutor 
 É mais sintética 
 A redundância é um recurso 
estilístico 
 Comunicação unilateral 
 Ganha em permanência 
 Mais correção na elaboração das 
frases 
 Evita a improvisação 
 Pobreza de recursos não 
linguísticos; uso de letras, sinais de 
pontuação 
 É mais precisa e elaborada 
 Ausência de cacoetes lingüísticos e 
vulgarismos 
 O contexto extralinguístico tem 
menos influência 
Fonte: http://www.vestibular1.com.br/redacao/red020.htm Acesso em 10 jan. 2014. 
 
 
45 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
3.2 Fatores de textualidade 
 
Segundo Costa Val (2005), o texto deve ser entendido “como ocorrência 
linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de unidade 
sociocomunicativa, semântica e formal. 
Sendo assim, podemos afirmar que um texto é definido pela sua textualidade, 
ou seja, pela possibilidade de ser entendido como unidade significativa global. 
Para que um texto seja realmente um texto e não um amontoado de palavras, 
deve possuir alguns aspectos como, por exemplo, intenção comunicativa, unidade 
formal e de sentido, etc. A esse conjunto de características que fazem que um texto 
seja definido como tal, dá-se o nome de textualidade. 
Vamos ver um exemplo? Ao pegarmos na escola uma lista de materiais 
escolares, podemos dizer que essa lista trata-se de um texto, pois apresenta uma 
situação comunicativa real. No entanto, se a professora pede uma lista de palavras 
proparoxítonas, essa lista não é considerada texto, pois não é uma situação real de 
comunicação, é apenas um amontoado de palavras. 
 
 
Figura 25: Noções de texto 
Fonte: http://acervodeprofessor.blogspot.com.br/2012/05/interpretacao-de-texto-as-formigas-7.html Acesso em 8 jan. 
2015/ 
 
 
Dessa forma, podemos afirmar que um grito de “Fogo!” é um texto? Claro que 
sim! Dependendo do contexto em que foi usado, esse termo pode transmitir uma 
mensagem em que todos compreendam e saiam correndo, pois entenderão que o 
ambiente está pegando fogo. 
 
46 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
Discutiremos, a seguir, quais são os fatores de textualidade, dando ênfase à 
coerência (ou a ausência dela) em um texto e sobre os elementos de coesão que 
propiciam ao texto condições de textualidade. 
De acordo com Beaugrande e Dressler (2006), existem sete princípios ou 
fatores de textualidade. Quando um texto está bem estruturado, ele está entrelaçado 
por esses fatores: 
 
 
 Coesão: a organização do texto em frases e destas em blocos maiores; 
 Coerência: a conexão entre o dito e o mundo real; 
 Intencionalidade: o objetivo do autor; 
 Aceitabilidade: a aceitação do leitor; 
 Situacionalidade: o contexto; 
 Informatividade: a qualidade e quantidade das (novas) informações; 
 Intertextualidade: a presença de outro(s) texto(s). 
 
3.2.1 Coesão e coerência 
A coerência e a coesão textuais são elementos muito importantes para o 
sentido de um texto. Vamos compreender por quê? 
Segundo Koch e Travaglia (2009, p. 21), na frase: “Maria tinha lavado a roupa 
quando chegamos e ainda estava lavando a roupa.”, percebe-se que o sentido global 
dessa frase apresenta problemas de coerência. Nesse caso, esses autores explicam: 
 
 
Uma sequência como a do exemplo [...] é vista como incoerente, 
pois, apesar de cada uma de suas partes ter sentido (“Maria tinha 
lavado a roupa quando chegamos” e “ainda estava lavando a 
roupa”), parece difícil ou impossível, em função da especificidade de 
valor das formas linguísticas utilizadas, estabelecer um sentido 
unitário para o todo da sequência. (KOCH; TRAVAGLIA, 2009, p. 21) 
 
 
 
 
47 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
Como se pode compreender, para que haja coerência textual é necessário 
haver uma conexão global entre as sequências contidas no texto. No exemplo dado 
pelos autores, é impossível Maria já ter lavado a roupa e ainda estar lavando-as. 
Coerência textual refere-se, então, ao sentido que um texto deve apresentar, 
ou seja, as partes que o compõem devem ligar-se dando uma continuidade de 
sentidos, de maneira a não apresentar contradições de ideias. Nesse caso, pode-se 
afirmar que a coerência textual depende da coesão, por meio de seus elementos, os 
quais unem as sequências textuais, para fazer com o que texto faça sentido. 
Apesar de a coerência estar ligada à coesão, ainda que a coesão seja 
necessária, não é suficiente para que um texto seja coerente. Sendo assim, em alguns 
casos, mesmo não tendo coesão, o texto poderá ter coerência, pois esta pode ser 
conseguida com o desenvolvimento de um mesmo tema do início ao fim do texto. 
Além da coesão, a coerência depende do compartilhamento do conhecimento 
entre o emissor do texto e o receptor. Analise a tirinha a seguir: 
 
 
 
Figura 26: Coerência 
Fonte: http://emfoclinguaportuguesa.blogspot.com.br/2009/07/atividades-da-1-oficina-do-tp5coerencia.html Acesso em 
12 jan. 2014. 
 
 
O humor da tira só será partilhado entre emissor e receptor se ambos tiverem o 
conhecimento prévio sobre o assunto. Os personagens apresentados são do autor 
Maurício de Sousa, Cebolinha, Mônica e Cascão. Sabe-se que, no senso comum, as 
crianças são trazidas pela cegonha. Assim, Cebolinha e Mônica, no primeiro e 
segundo quadrinhos, são carregados por ela. No entanto, no terceiro quadrinho, o 
Cascão chega por meio de um urubu. Isso porque Cascão é um personagem que 
nunca tomou banho e odeia água, e o urubu é o símbolo de sujeira. 
Falamos muito de coesão e coerência, mas o que é coesão? Agora que você já 
compreendeu o que é coerência, vamospartir para a discussão da coesão. 
 
48 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
A coesão é o mecanismo linguístico que é responsável pela unidade formal de 
um texto. É ela que estabelece a relação lógica entre uma palavra e outra, entre um 
trecho e outro. 
O dicionário Aurélio – Século XXI, na sua versão eletrônica, define coesão da 
seguinte maneira: 
 
S.f. 1. União das partes de um todo. [...] 3. Conexão, nexo, coerência. [...] 5. 
E.ling. Ligação, de natureza gramatical ou lexical entre os elementos de uma frase ou 
de um texto. 
 
Podemos, então, afirmar que a coesão é responsável pelos elos entre as 
diversas partes de um texto, ou seja, ela é capaz de “amarrar” elementos 
mencionados. Quando eles são mencionados anteriormente, ocorre o que 
entendemos como anáfora. Posteriormente, dizemos que ocorreu a catáfora. 
Observe os exemplos A e B: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Podemos afirmar que, no exemplo A, o pronome ela é anafórico, pois retoma o 
que foi dito anteriormente. Já no exemplo B, o pronome este é catafórico, pois 
antecipou o que foi dito em seguida. 
 Nos exemplos anteriores, vimos o pronome como mecanismo utilizado 
para estabelecer coesão em um texto. Mas será que só os pronomes podem exercer 
essa função? Iremos responder a essa pergunta... Vamos lá? 
 
3.2.2 Mecanismos de coesão 
 
 Halliday e Hasan (apud Koch & Travaglia, 1989, p. 15) afirmam que “há 
dois tipos de coesão: coesão gramatical (expressa através da gramática) e coesão 
lexical (expressa através do vocabulário)”. 
Os conectivos que fazem a coesão expressa através da gramática são 
chamados de operadores argumentativos. De acordo com Terciotti (2011, p. 18), os 
operadores argumentativos também são conhecidos como “articuladores de coesão” e 
“encadeadores de discurso”. Eles são responsáveis por efetuar a ligação ou a 
articulação sintática entre os parágrafos de um texto, os períodos de um mesmo 
parágrafo e as partes de um mesmo período. 
A) Maria é uma estudante universitária. Ela estudou muito para chegar lá! 
B) Este foi o problema: com a brincadeira boba, acabamos nos machucando. 
 
49 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 Para Koch (2005, p. 104), funcionam como operadores argumentativos: 
preposições, advérbios, conjunções, locuções prepositivas, adverbiais e conjuntivas. 
Observe, no quadro 2, alguns operadores argumentativos e alguns exemplos. 
 
 
QUADRO 2: OPERADORES ARGUMENTATIVOS 
OPERADORES ARGUMENTATIVOS EXEMPLOS 
Adição E, também, ainda, nem. 
Finalidade 
A fim de, a fim de que, com o 
intuito de, para, para que, com o 
objetivo de. 
Explicação Porque, pois, já que. 
Oposição 
Mas, porém, contudo, todavia, 
entretanto, no entanto, embora, 
apesar de, ao contrário. 
Condição Se, contanto que, não ser que, a menos que, desde que. 
Tempo 
Quando, em pouco tempo, em 
muito tempo, logo que, assim que, 
antes que, sempre que. 
Proporção 
À medida que, à proporção 
que, ao passo que, tanto quanto, 
tanto mais. 
Conformidade Conforme, de acordo com, como, segundo. 
Conclusão Portanto, então, assim, logo, por isso, de modo que. 
Alternância Ou, ou ...ou, ou então, quer...quer, seja...seja, ora...ora. 
Comparação Como, mais que, menos que, tão quanto, assim como. 
Causa e consequência Porque, pois, visto que, já que, em virtude de, por motivo de. 
Esclarecimento Ou seja, quer dizer, isto é. 
 
Fonte: KOCHE, Vanilda Salton et al. Leitura e produção de texto: gêneros textuais do argumentar e expor. Petrópolis, 
RJ: Vozes, 2010. Adaptado. 
 
 
 
 
50 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
Para exemplificar o uso do conectivo em um texto, vejamos a tirinha que se 
segue: 
 
 
Figura 27: Operador argumentativo 
Fonte: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=27086 Acesso em 2 jan. 2015. 
 
 
 Na tirinha acima, há uma sátira em relação ao cão da família. A esposa 
de Hagar diz a ele que alguém entrou na casa e o cachorro não fez nada. Temos o 
conhecimento prévio de que caos vigiam a casa de seu dono. Ela continua com uma 
pergunta: você não disse que Shacota era um cão de guarda? Para estabelecer 
coesão ao texto, o autor emprega um mecanismo de coesão para dar o humor ao 
texto: o Shacota é um cão de guarda, mas ele guarda as coisas erradas. Observamos 
que o operador argumentativo mas gera uma oposição entre os dois termos. 
Aprendemos que existem dois tipos de coesão, certo? Já discutimos a coesão 
gramatical (expressa através da gramática) e agora passaremos para a coesão lexical 
(expressa através do vocabulário). 
 Segundo Guimarães (2012), os mecanismos de coesão lexical dividem-
se em mecanismos de coesão referencial, coesão sequencial e recorrencial. Vamos 
analisar cada um deles? 
 
Como o próprio nome indica, a coesão referencial faz referência a algo que já 
foi mencionado ou ainda será mencionado no texto. Esse tipo de coesão é subdividido 
nos seguintes mecanismos: 
 
 Substituição: o termo citado anteriormente é retomado por um pronome, 
numeral ou advérbio. 
 
51 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
Analise a tirinha abaixo: 
 
 
Figura 27: Coesão por substituição 
Fonte: http://apatossauros.files.wordpress.com/2007/10/calvinharodotira354.gif Acesso em 2 jan. 2015. 
 
Na tirinha, o personagem pergunta: “Você sabe o que há de errado com sua 
mãe?”. Calvin responde que não sabe, mas que ela foi ao médico hoje. Observe que o 
pronome ela retoma o substantivo mãe do quadrinho anterior. Para não repetir o termo 
“mãe”, ele foi substituído por “ela”. Dizemos que ocorreu coesão por substituição. 
Fácil, não é mesmo? 
 
 Reiteração: o termo citado antes é repetido ou retomado por meio de palavras 
de sentido semelhante. Pode ocorrer através de sinônimos, repetições, 
hiperônimos, hipônimos ou nomes genérico. Vamos discutir alguns exemplos? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Coesão recorrencial: servem para retomar expressões anteriores, mas, ao 
mesmo tempo, acrescentar novas informações. Ocorre por meio de 
paralelismos, recorrência de termos, paráfrases, elipses, ritmo e outros 
recursos fonológicos. Vejamos um exemplo nesta propaganda: 
 
 
A) Este cachorro faz festa para todo mundo. É um cão muito simpático e agradável. 
(Sinônimo) 
B) João comprou um Porsche, pois ele adora carros esportivos. 
(Hiperônimo – específico > geral) 
C) Tenho uma coisa para lhe dizer: não quero mais me encontrar com você. 
(Nome genérico) 
 
52 
 
COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO
 
Figura 28: Coesão por elipse 
Fonte: http://www.propagandaemrevista.com.br/produtos/2815/Brinquedos/ Acesso em 10 jan. 2015. 
 
 
 Nessa propaganda, aparece o período “Seu filho foi lá na lua, e já volta”. 
Analisando o slogan, podemos afirmar que ouve a elipse do termo “seu filho” no 
segundo trecho: seu filho já volta. Esse é outro mecanismo de coesão muito usado 
para evitar repetições desnecessárias. 
 
 
 Sequencial: tem como objetivo fazer progredir o texto, fazer caminhar o fluxo 
de informações. A sequenciação pode ser temporal (indica a ordem e que 
ocorre os fatos do texto) ou lógica (indica a conexão lógica entre as ideias do 
texto). Vejamos os exemplos: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No exemplo A, temos uma organização linear do tempo. No B, temos a 
conexão entre uma ideia e outra e o acréscimo de novas informações. 
Perceberam como o uso desses mecanismos é importante para as nossas 
produções de texto? Por meio deles, evitamos repetições e deixamos o texto mais 
claro e conciso. Compete a você, agora, utilizar esse conhecimento! 
 
 
A) Levantou, banhou-se, tomou o café e saiu. 
B) O trânsito foi interrompido devido às chuvas. Filas enormes formaram-se na 
avenida principal da cidade.

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