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DIREITO CIVIL II - PARTE GERAL 
LIVRO III - DOS FATOS JURÍDICOS 
PROF. GIANELLI RODRIGUES 
TÍTULO V – DA PROVA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS (art. 212 ao 232)
A prova dos negócios jurídicos e dos fatos jurídicos é da maior importância. Há até um velho ditado jurídico que diz “Direito é prova”. Outro diz “O que não está provado nos autos não existe para o mundo”. Não basta, portanto, celebrar um negócio jurídico é preciso prová-lo. Por isso, o Código elencou os meios de prova, o que as partes podem fazer para demonstrar que um determinado negócio jurídico existe. A prova está ligada, portanto, ao plano da existência de um negócio jurídico, enquanto não se prova a sua celebração é como se ele não existisse. Agora há uma perfeita divisão de tarefas entre o CC e o CPC. O CC enumera os meios de prova de que podemos nos servir e o CPC disciplina como produzi-los. E, por que é preciso disciplinar ou elencar os meios de provas? Porque eles não são iguais em todos os sistemas jurídicos. Há sistemas jurídicos que admitem certas provas que são rejeitadas em outros. Ex.: O juramento é meio de prova no sistema anglo-saxão (nos EUA, por exemplo) e não é admitido o juramento como meio de prova no Brasil. 
Vejamos então como se prova a existência de um negócio jurídico. 
Naqueles negócios chamados solenes, que são exatamente aqueles para os quais a lei impõe uma forma, escrita pública, esse é o meio de sua prova. Portanto, os negócios jurídicos solenes provam-se com a exibição da escritura pública, que é a substância do negócio. Não havendo a escritura pública, não há como provar-se o negócio jurídico. Mas, como é sabido, os negócios solenes são exceções, porque a regra geral é a da liberdade da forma. Os negócios podem ser celebrados verbalmente, ou até gestualmente, ou por instrumentos particulares e aí o CC elenca quais seriam os meios de prova no direito brasileiro admitidos. 
“Art. 212: Salvo o negócio a que se impõe forma especial, o fato jurídico pode ser provado mediante:” Inc. I – Confissão; A confissão é chamada na linguagem forense como “a rainha das provas”. Se alguém confessa um fato que lhe é prejudicial como, por exemplo, o recebimento de uma obrigação, quando o pagamento era contestado até então, depois o próprio credor confessa que recebeu a prestação, não é preciso nenhuma outra prova do pagamento. Se a parte a quem interessa o documento confessa que falsificou, não é preciso nenhuma outra prova. Mas é claro que a confissão só valerá como prova do fato ou do negócio jurídico quando consciente, livre, sem qualquer vício de vontade. Só pode confessar quem é capaz de dispor do direito a que se refere o fato contestado ou confessado. Qualquer vício de vontade como a coação, o dolo, invalida a confissão.No campo do direito penal a confissão ainda é mais importante, como meio de prova, do que no direito civil. A confissão é direito personalíssimo e só quem tem capacidade civil pode realizá-lo. Por isso mesmo a confissão não se inclui nos poderes ad judicia, conferidos pela parte ao seu advogado. O advogado não tem poderes para confessar em nome do cliente, a não ser que esse poder lhe tenha sido expressamente conferido em mandato. Portanto, para que o mandatário confesse em nome do mandante, precisa ter poderes expressos, não adianta a genérica cláusula de poderes ad judicia ou ad negocia. A confissão é irrevogável e só pode ser objeto de anulação por vício de vontade e não por arrependimento. Uma vez confessado o fato não há como desmenti-lo, salvo provando-se um vício de vontade. 
Inc II – documento; O 2º meio de prova é o documento. A chamada prova documental, que goza de muito prestígio, porque é mais confiável. Os romanos ensinavam “as palavras voam, mas o escrito fica”. Quando o CC fala em documento como meio de prova, devemos entender essa palavra no sentido mais amplo. Documento é qualquer escrito, um bilhete, um telegrama, uma carta, um contrato escrito. É óbvio que só será eficaz se for verdadeiro o documento. É perfeitamente possível argüir-se a falsidade do documento, há inclusive um incidente processual próprio, a argüição de falsidade para examinar a autenticidade da prova documental. Quando o documento é representado por escritura pública o CC enumera o que deverá conter na escritura pública, está no art. 215. Esse artigo, que é auto-explicativo, enumera os requisitos formais da escritura pública, o que ela deverá conter como, por exemplo, a data e o local da sua realização; o reconhecimento da identidade das partes; as manifestações claras das vontades das partes; a declaração de que findo o ato, foi lido o seu texto perante as partes e as testemunhas e tem que conter a assinatura dos comparecentes e, se não souberem assinar, serão substituídos por alguém “a rogo”. Essas escrituras públicas terão que ser, obrigatoriamente, redigidas em língua nacional. É terminantemente proibido no Brasil a celebração de escritura pública redigida em língua estrangeira, e se as partes comparecentes não souberem a língua nacional, é obrigatória a presença de um intérprete. Essas escrituras públicas só podem ser lavradas por oficiais de notas que são delegatários e a característica principal é que eles gozam de fé pública que significa dizer que tudo que se contém na escritura pública se considera, em princípio, autêntico e verdadeiro, até prove em contrário. Quer dizer, em razão da fé pública que gozam os oficiais de notas, tudo que se contém na escritura pública, se tem como autêntico e verdadeiro. Claro que não é uma presunção absoluta, admite-se prova em contrário, tudo que se contém na escritura se considera verdadeiro e autêntico. Essas escrituras públicas são lavradas em livros próprios, são documentos públicos, como o nome está dizendo, o que permite a qualquer pessoa requerer uma certidão com o seu inteiro teor. E as certidões tem o mesmo valor probante dos originais. Essas certidões extraídas também pelo oficial, a 1ª cópia da escritura pública chama-se traslado e as demais são certidões, mas tem o mesmo valor probante. Como prova tanto faz ser o 1º traslado como qualquer das certidões que sucedem.
Mas, há negócios jurídicos que dispensam a escritura pública, podendo ser celebrados por instrumentos particulares. O art. 221 enumera quais seriam os requisitos formais para que um documento particular se admita como prova.
O NCC, bem mais moderno, expressamente se refere ao telegrama e as cópias fotográficas de documentos conferidas por tabelião, o mesmo valor probante, dependendo, é claro, da prova de sua autenticidade, se contestada.
Documentos redigidos em língua estrangeira, seja ela qual for, ainda que conhecida das partes e do juiz, não terão valor de prova documental enquanto não traduzidos para o vernáculo, por tradutor oficial. Não adianta, portanto, juntar aos autos um documento em língua estrangeira. Mesmo que o juiz seja fluente naquela língua, isso é irrelevante, o juiz é obrigado a mandar traduzir o documento por tradutor oficial, enquanto não traduzidos os documentos, é como se não existisse.
Inc III – testemunha; O 3º meio de prova é a prova testemunhal, que não goza, infeliz mente, do mesmo prestígio da prova documental. Isto porque as testemunhas, que são seres humanos, sofrem até inconscientemente a influência das paixões humanas, o que pode distorcer os seus depoimentos. Há quem diga, numa expressão extremamente grosseira e de mal gosto, que irrita qualquer civilista, que a testemunha é a prostituta das provas. Ao contrário, as testemunhas exercem papel relevantíssimo na administração da justiça. As testemunhas são os olhos e os ouvidos da justiça. A administração do Tribunal, sob a presidência do Des. Marcos Faver, resgatou a imagem da testemunha. Hoje, no entorno do Fórum, há uma estátua de bronze belíssima representando a testemunha. Fica no beco da música, aquela ruazinha que fica ao lado do Fórum. O Des. Marcos Faver também fez construir uma sala para as testemunhas, no prédio do Fórum, onde elas têm um mínimo de confortoenquanto esperam para dar o seu depoimento, que pode levar, às vezes, um dia inteiro. Agora, ao invés de ficar nos corredores do Fórum, elas têm uma sala com sofás, poltronas, cafezinho, água etc. Mas a prova testemunhal, indiscutivelmente, sofre esses problemas das fragilidades da alma humana, e por isso, o Código estabelece algumas hipóteses em que determinadas pessoas podem ser admitidas como testemunhas, e também estabelece hipóteses em que pessoas podem recusar a depor sobre determinados fatos. Exatamente para preservar a natureza humana. Assim, não podem servir como testemunhas, os menores de 16 anos, e isso é um fato interessante, reparem que entre 16 e 18 anos as pessoas são relativamente incapazes, mas apesar disso podem prestar depoimento como testemunhas, tanto no cível como no crime, e com o mesmo valor probante de um maior de 18 anos. Isso é uma exceção à regra, de que os atos praticados pelos relativamente incapazes, seriam anuláveis. 
Art. 228: Inciso I - Os absolutamente incapazes não poderão prestar depoimento como testemunha, embora possam, excepcionalmente, serem ouvidos como informantes. Mas, como já vimos, o menor púbere pode prestar depoimento como testemunha independente da presença dos pais ou responsáveis. Inciso II – Também não podem ser testemunha aqueles que, por enfermidade ou retardamento mental, não tiverem perfeito discernimento sobre os fatos dos quais depõem (não há confiabilidade). Inciso III – Também não podem ser testemunha os cegos e os surdos, quanto aos fatos cujo conhecimento dependam desses sentidos. Mas, sobre os demais fatos poderão ser testemunhas. Ex.: Um cego não poderá testemunhar que o sinal estava vermelho quando houve o atropelamento. Assim como o surdo não poderá depor que ouviu a parte confessar determinado fato. Mas, observem, os cegos e os surdos só estão inibidos de depor sobre fatos que dependam para o seu conhecimento desses sentidos que lhes faltem, e não quanto aos demais. Inciso IV – O interessado na solução do litígio, assim como o amigo ou inimigo de qualquer das partes. Isso é um reconhecimento explícito da natureza humana. Isso é do ser humano, não há como evitar, ninguém é tão perfeito que consiga o grau de isenção a tal ponto que possa depor sem qualquer influência sendo interessado, ou sendo amigo íntimo da parte, ou seu inimigo capital. Por isso que, ao se iniciar o depoimento de uma testemunha, o juiz pergunta se é amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes e se tem interesse na solução do litígio. É claro que a simples amizade não impede o depoimento, mas sim a amizade íntima. É óbvio que o Código não define o que é amizade íntima, caberá ao juiz decidir, segundo as experiências comuns da vida. Amizade íntima é aquela que pode influir nos sentimentos da pessoa, fazendo-a distorcer os fatos para ajudar o amigo íntimo. Assim como a inimizade capital é aquela que pode levar a alguém a mentir para prejudicar o inimigo. Não é o simples fato de você não gostar de uma pessoa ou de criticá-lo. Só está impedido de depor se for inimigo capital da parte. A experiência comum da vida nos convence que esses sentimentos influem nos depoimentos e até, digo isso de passagem, inconscientemente. Quando uma testemunha é amiga íntima da parte ela tem uma memória seletiva, ela só lembra o que ajuda o amigo e esquece tudo do que o prejudica. Inciso V - Também não podem depor o cônjuge, o ascendente, o descendentes, os colaterais até o 3º grau de qualquer das partes, seja por consangüinidade, seja por afinidade. Essa é uma regra muito interessante. É uma regra criada para preservar a unidade familiar. Dificilmente se manteria a unidade familiar se um irmão depõe contra o outro, o pai contra o filho e vice-versa. Além do mais, isso causaria um extremo sofrimento moral à testemunha. A mãe seria obrigada a depor, não podendo mentir, prejudicando o filho, jamais se perdoaria, seria um extremo sofrimento íntimo obrigar um parente a depor contra o outro. Claro que essas regras não são absolutas. Em 1º lugar, o juiz pode admitir o depoimento dessas pessoas, como parentes, amigos, se os fatos que se pretende provar só são do conhecimento dessas pessoas. Isso acontece muito no juízo de família. No Direito de Família essa regra é mitigada, porque os conflitos de família só são conhecidos pelos amigos íntimos e pelos parentes. É até pouco crível o depoimento de um estranho que diga que assistiu um bate boca do marido e mulher no recesso do lar. Então o parágrafo único do art. 228 mitiga essa regra, permitindo ao juiz que tome esses depoimentos, se o fato que se quer provar são do conhecimento apenas dessas pessoas que, por lei, são impedidas de depor. Também no instituto do casamento se admite essas pessoas como testemunhas, pode ser testemunha do casamento o pai da noiva, o irmão do noivo. Enfim, os parentes podem ser testemunhas do casamento. Aliás a expressão técnica é essa e não padrinhos. Padrinho de casamento não existe para o Direito. Casamento tem testemunhas para o direito. Isso não existe, isso é um conceito puramente social. Ninguém chama para padrinho (testemunha) um estranho. Então, vocês vejam, que essa regra que impede o testemunho de parentes e amigos íntimos não é absoluta. Como se não bastasse, no interesse da apuração da verdade real, que é uma das preocupações da justiça, admite-se que o juiz tome as declarações dessas pessoas como informantes. 
Qual é a diferença entre testemunha e informante? É que a testemunha presta compromisso de dizer a verdade, e se não honrar o compromisso, mentindo sobre os fatos que depôs, isso caracteriza ilícito penal, ao qual se comina pena privativa de liberdade, porque isso é um ato atentatório à dignidade do judiciário e à fé pública, na administração da justiça. É crime de falso testemunho previsto no CP. Reparem que no Direito brasileiro, ao contrário do que ocorre nos EUA, a testemunha não presta juramento de dizer a verdade. Não se admite no Brasil o juramento, por isso a testemunha presta compromisso de dizer a verdade. Há uma enorme diferença entre o juramento e o compromisso. O juramento tem conotação religiosa, o juramento se faz perante uma divindade, enquanto que o compromisso tem conotação exclusivamente ética, sem nenhum caráter religioso. Já o informante não presta nenhum compromisso de dizer a verdade, portanto, jamais poderia cometer perjúrio, ele não está violando o compromisso. Em bom português, o informante está autorizado por lei a mentir. Ele pode mentir na maior tranqüilidade, na presença do juiz, na certeza da imunidade. Aí vocês perguntam: O que adianta então tomar essas informações? É que os juízes têm experiência profissional, sendo assim, darão a esses depoimentos desses informantes o valor que julgarem necessário ou adequados. O juiz, após um certo tempo, só pelo olhar do depoente saber se ele está mentindo ou dizendo a verdade. As vezes a testemunha pensa que enganou o juiz, mas o juiz está cansado de saber que as coisas não foram bem assim e, com isso, ele dará o depoimento do informante o devido valor que considerar devido. Ele pode considerar como verdadeiro os fatos relatados pelo informante, como pode considerá-los falsos. Mas, dos depoimentos dos informantes pode-se tirar a verdade real, que é o que mais acontece. Então essa é outra maneira de mitigar essa regra em prol da procura da verdade real. Até aí o CC enumerou as pessoas que estão impedidas de prestar depoimento, a não ser como informantes. Se o juiz entender necessário, ou se a prova dos fatos dependam exclusivamente de seus depoimentos. 
Art. 229 Neste artigo o Código relaciona as pessoas que não podem ser obrigadas a depor. Elas podem se escusar a depor, elas podem invocar o direito de não depor sobre certos fatos. Aqueles que estão obrigados a guardar o sigilo profissional. Há certas profissões que fazem nascer, para quem as exercem, uma obrigação negativa de não revelar o segredo do cliente, do qual teve conhecimento em razão da profissão. Se um advogado revelar um segredo de um cliente que não tem nadaa ver com o exercício da profissão isso não seria um ilícito civil. Mas, se o advogado tomou conhecimento daquele segredo em razão da profissão, porque o cliente teve que revelar para que o advogado pudesse traçar a estratégia da sua defesa, o advogado não pode ser compelido a depor sobre esse fato. A mesma coisa em relação aos médicos, aos psicólogos. É evidente que o sigilo profissional também não é uma regra absoluta; há situações em que cessam o dever de sigilo profissional como, por exemplo, impõe o interesse público, a segurança pública. Os médicos, por exemplo, são obrigados a notificar certas doenças de seus clientes, quando há perigo de contágio. Existem doenças de notificação obrigatória, e o cliente não pode reclamar, alegando que o médico violou um segredo profissional. É claro que ele tem que notificar às autoridades competentes e não aos órgãos de imprensa, aí sim o médico responderia por perdas e danos. Da mesma maneira o advogado, imagine um advogado que recebe um cliente que diz “acabei de saber que minha mulher está no motel tal com um amante, estou indo para lá para matá-los, mas quero, desde logo, contratá-lo para que me espere na delegacia para defender-me após o crime” e sai porta afora armado. É claro que esse advogado tem o dever de ligar imediatamente para a delegacia policial e informar o fato, para que a autoridade impeça o homicídio porque a proteção da vida humana está acima do dever de sigilo profissional. Mas, se, ao contrário, o cliente chega e diz “acabei de matar a minha mulher no motel tal”, o advogado não pode ligar para a polícia e dizer “já sei quem foi”. Então, a obrigação de guardar sigilo profissional também não é absoluta, cedendo diante da segurança pública e diante de um bem de valor mais alto, como a vida humana. Mas, em princípio, aqueles que estão sujeitos a sigilo profissional, não podem ser obrigados a depor sobre os fatos que tiveram conhecimento em razão da profissão.
Também não pode ser obrigado a depor aquele cujo depoimento vai expor a própria testemunha à ridículo, à execração pública. Ou então às pessoas referidas no artigo anterior, o seu cônjuge, os seus ascendentes, o seu descendente. Isso também respeita a natureza humana, pois causa um enorme sofrimento moral, ficar no dilema entre o dever de dizer a verdade e saber que isso o exporá ao ridículo ou a uma pessoa da sua família.Vejam quantas regras interessantes sobre a prova testemunhal. Ela mereceu uma atenção especial do legislador em razão dessas fragilidades e grandezas da alma humana. Afinal, a lei foi feita por humanos, que conhecem as suas próprias fraquezas.
Art. 230: O 4º meio de prova admitido no Brasil é a presunção. É claro que só valem como provas as presunções legais, aquelas previstas em lei. Há certos fatos que se presumem, e como se presumem, dispensam provas, a não ser para destruir a presunção.
As presunções, como vocês sabem, são de 2 tipos: PRESUNÇÃO ABSOLUTA, chamada de Juris et de jure (presunção de direito), que não admite prova em contrário. A presunção absoluta está para o Direito assim como o dogma está para a religião. Não adianta discutir, não adianta usar o raciocínio. O dogma ou você acredita como verdade absoluta, ou não tem fé, e não acredita. O dogma da virgindade da Virgem Maria, o dogma da infalibilidade do Papa. Tudo isso são dogmas, não adianta discutir racionalmente se é verdade ou não. É a mesma coisa a presunção absoluta, não admite prova em contrário. Ex.: Todos conhecem a lei (art. 3º da LICC). Isso é um perfeito exemplo de presunção absoluta, não adianta prova em contrário, todos conhecem a lei, até porque, se admitíssemos prova em contrário, a lei perderia toda a força cogente, pois bastaria alguém dizer que não cumpriu a lei porque a ignorava e isso traria muita insegurança jurídica. PRESUNÇÃO RELATIVA são chamadas de Juris tantum, são as mais freqüentes, pois, como se sabe, as presunções absolutas são raríssimas. Até porque em direito há pouquíssimas certezas absolutas. As presunções relativas, admitem provas em contrário. Porém, enquanto não se faz a prova em contrário, elas valerão como provas. Exs.: Imaginemos uma obrigação pecuniária representada exclusivamente por uma Nota Promissória. Essa NP é única prova da existência dessa obrigação pecuniária. Se essa NP estiver em poder do devedor, ele não precisa provar que pagou, pois presume-se que ele pagou, porque se ele não tivesse pago, é óbvio que a NP estaria nas mãos do credor, já que era a única prova do credor que havia a obrigação. Mas é evidente que o devedor pode ter roubado a NP do credor ou extorquido ou até achado, e por isso, o credor pode fazer a prova em contrário de que a NP está nas mãos do devedor, mas indevidamente, porque ele não pagou. Quer dizer, quem tem que fazer a prova é o credor, o devedor não tem que fazer prova alguma de que pagou, porque esse pagamento se presume, é um presunção legal relativa. Outro Exemplo: Numa obrigação divisível se o devedor tiver a quitação da última parcela, presume-se que pagou todas as parcelas e não precisa exibir a quitação das parcelas anteriores. Também é uma presunção relativa, caberá ao credor provar que apesar de ter quitado a última parcela, ainda ficou uma anterior em aberto, quem tem que fazer essa prova é o credor, o devedor não precisa provar mais nada, a não ser que pagou a última parcela, porque as demais são presumíveis. Outro Exemplo: Presunção de que o filho da mulher casada é do seu marido. A mulher casada não tem que provar que o filho é do marido. O marido é que tem que provar que não é o pai, através de uma ação negatória de paternidade. Por isso, é que não há ação de investigação de paternidade do filho contra o pai que é marido da sua mãe, ele não precisa provar isso, pois isso se presume, é o marido é que tem que provar que não é o pai do filho da sua mulher. É a famosa presunção pater in nest (o pai é o marido). Por isso é que se diz que é um perigo fazer filho na mulher alheia, pois filho da mulher alheia não é de quem fez, é do marido. O fato se considera provado em razão da presunção. É claro, tem que ser presunção legal. Não é uma presunção tirada das experiências da vida, tem que ser presunção prevista na lei.
E, finalmente, o 5º e último meio de prova admitido no Brasil, é a prova pericial. A perícia é aquela prova que se exige quando o conhecimento do fato depende de conhecimentos específicos. A prova dos fatos depende de conhecimentos técnicos. Exs.: Saber se um documento é falso ou autêntico; saber se foi praticado ou não o anatocismo; calcular o valor do dano material, decorrente de uma colisão de veículos em que um dos veículos saiu danificado (como o juiz vai saber se não entende de mecânica); saber se houve um erro médico quando da realização da cirurgia. Portanto, a todo momento o juiz se vale da prova pericial. Quem estabelece as regras de como produzir, o modo de produzir as provas é o CPC. O Código Civil não perde tempo com o modo de produzir a prova. O CPC trata minuciosamente da produção da prova pericial. O juiz nomeia um perito de sua confiança, que não é um serventuário da justiça, é um auxiliar da justiça. As partes podem indicar assistentes técnicos.
Curiosidade: Vocês já repararam que o autor e o réu também não prestam testemunho? Eles prestam depoimentos pessoais e, por isso, não prestam o compromisso de dizer a verdade. O juiz não pode exigir do autor e do réu o compromisso de dizer a verdade, porque as partes estão autorizadas a mentir, se isso convier à sua defesa, ninguém pode depor contra si mesmo. Então, não se confunde testemunho com depoimento pessoal. As testemunhas prestam compromisso e podem cometer crime de falso testemunho quando violam esse compromisso. Mas, as partes não prestam compromisso, estão autorizadas a mentir em seus depoimentos pessoais. Tanto o autor quanto o réu podem prestar depoimento pessoal, mas requerido pela parte contrária. Porque o advogado do autor não precisa pedir o depoimento pessoal do seu cliente, porque o que seu cliente tem a dizer,pode dizer nas petições. O advogado do autor tem que pedir o depoimento pessoal do réu e vice versa. Estão aí, portanto, todos os meios de provas permitido pelo direito brasileiro. Só nos resta falar agora dos 2 últimos artigos que encerram a parte especial, que são importantíssimos. Esses 2 artigos revelam claramente aquela preocupação com a efetividade do direito. É o 3º grande paradigma desse Novo Código. A efetividade, a utilidade do direito, a preocupação em solucionar os conflitos. São os artigos 231 e 232, são absolutamente novos e revolucionam o capítulo da prova.
Art. 231 – “Aquele que se nega a submeter-se a exame médico necessário não poderá aproveitar-se de sua recusa.” Ou seja, se para provar-se um determinado fato é necessário um exame médico, como, por exemplo, provar que o motorista está embriagado, para provar isso é necessário o exame médico, se ele se recusa a submeter-se a esse exame médico, ele não pode beneficiar-se da recusa alegando que o fato não resultou provado “não há prova nos autos de que eu estava embriagado”, “sim, mas não há prova porque o Sr. recusou-se a prestar o exame.” O art. 231 foi feito porque o STF entendeu que é um direito da personalidade, o direito à inviolabilidade de seu corpo. Então, qualquer pessoa tem o direito de recusar-se a soprar o bafômetro, porque o ar sai de dentro de seu corpo; ninguém pode ser compelido a dar uma gota de seu corpo para se apurar se tem ou não uma determinada doença. Repare que essa regra não é só ligada à efetividade do processo, à procura da verdade real, é também ligada à eticidade. Não se coaduna com a boa fé alguém se recusar a submeter-se a um exame médico, que poderia invocar essa recusa para beneficiar-se da inexistência da prova desse fato. 
O art. 232, muitos alunos confundem com o 231, chegam a pensar que são repetitivos, quando na verdade não são. 
Art. 232 – “A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o exame.” As hipóteses são parecidas, mas não são iguais. No art. 231 é um exame médico considerado necessário à prova de um fato como, por exemplo, o teste do bafômetro, que pode ser exigido por um policial rodoviário. Mas, o art. 232 está se referindo à recusa a submeter-se à perícia médica determinada pelo juízo. É outra hipótese. Neste caso, já há uma ação em curso, em que o juiz determina a realização de uma perícia médica, que a parte se recusa a submeter-se invocando o direito da personalidade. O art. 232 diz que diante dessa recusa, o juiz poderá considerar provado o fato que se queria apurar. Não é preciso ser nenhum gênio para entender que esse artigo foi redigido com os olhos postos nas ações de investigação de paternidade. Não há a menor dúvida. Aliás, na exposição de motivos se diz isso claramente. Esse artigo vai ter 90% da sua aplicação nas ações de investigação de paternidade, quando os réus se recusam a submeter-se ao exame de DNA. Reparem que o Código foi cauteloso, diz “poderá o juiz”, não é obrigatório. É evidente que se nos autos houver outras provas, igualmente confiáveis, de que o réu não pode ser o pai do autor, o juiz não vai considerá-lo pai só porque ele se recusou a fazer o exame de DNA. Ex.: O réu se recusou a fazer o exame de DNA, porque havia nos autos outra prova pericial de que ele era estéril. Por isso é que o Código diz “poderá”. 
Para terminar esse assunto quanto às provas, é preciso dizer que o destinatário da prova é o juiz. O que significa dizer que o juiz pode indeferir a produção de provas que considere protelatórias, desnecessárias, inúteis à formação de sua convicção. Isso, em princípio, não tipifica cerceamento de defesa, pois há uma tendência entre os advogados e leigos de que toda e qualquer prova protestada pela parte deve ser admitida pelo juízo, em nome do princípio da ampla defesa. E basta que o juiz indefira uma prova para vir logo um agravo, alegando cerceamento de defesa, porém, todos sabem que muitas das provas protestadas visam apenas protelar o julgamento do feito. Ex.: Há uma prova pericial demonstrando o fato, e aí a parte pede testemunha. É evidente que a prova testemunhal não vai destruir uma prova pericial, então o juiz pode indeferir a prova testemunhal se já considera o fato provado. Porque o juiz é o destinatário da prova, a prova é para formar o convencimento do juiz, se o juiz acha que a sua convicção já está formada pelas outras provas, ele dispensa as outras. Ele não é obrigado a deferir um prova protestada pela parte. Da mesma maneira o juiz pode determinar a realização de provas não protestada pela parte. Já houve agravo a respeito disso “o juiz mandou fazer perícia e nenhuma das partes protestou por perícia”, e daí?, como o juiz é o destinatário da prova e é ele que tem que formar a sua convicção para decidir o conflito de interesses, se ele decidir que precisa de uma outra prova para convencer-se do fato, ele está autorizado a determiná-la de ofício. Isso não traduz abuso de direito ou excesso de poder. Traduz apenas o interesse do juiz em formar a sua convicção. Então a prova não é um direito absoluto da parte. A parte protesta pelas provas, mas quem vai deferir ou indeferi-las é o juiz. Claro que fundamentadamente, e contra a decisão que defere ou indefere um prova caberá agravo de instrumento, pois essas decisões são interlocutórias. Hoje, com a preocupação com a celeridade do processo e com a sua efetividade, vão se tornando mais freqüentes as decisões indeferitórias de provas consideradas protelatórias.

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