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86 introdução à sedimentologia a fórmula de Inman dá bons resultados para um sedimento de distribuição próxima da normal, mas não é muito adequada para descrever todos os sedimentos, porque ela ignora pelo menos um terço da amostra em cada um dos extremos da distribuição. Pode dar erroneamente altos valores de grau de seleção se existirem pequenas quantidades de material grosseiro ou fino. Para contornar esta dificuldade, portanto, a maior parte da distri- buição deveria ser incluída na medida da seleção. No entanto, as análises são muitas vezes não realizáveis até os percentis de 99 % e 1 %, desta maneira foi convencionado usar os percentis 95 % e 5 % nas medidas de seleção. Folk e Ward sugeriram o uso de uma medida de seleção que eles chamaram de desvio-padrão gráfico inclusivo, que é dado pela fórmula: 084-^16 , 095-05 . a ' = —4 + ~ W ~ Foi verificado que esta relação fornece um valor de desvio-padrão bas- tante aproximado do desvio-padrão matematicamente calculado. Folk e Ward sugerem que uma escala qualitativa seja usada convenientemente para descrição de grau de seleção de sedimentos, que apresenta os seguintes limites: a, menor que 0,35 = muito bem selecionado; 0,35 a 0,50 = bem selecionado; 0,50 a 1,00 = moderadamente selecionado; 1,00 a 2,00 = pobremente selecionado; 2,00 a 4,00 = muito pobremente selecionado; o-, maior que 4,00 = extremamente mal selecionado. Valores variando entre 0,2 a 8,0 foram encontrados por Folk e Ward em seus estudos sobre bancos de areia de Brazos River. Pode-se verificar que a seleção dos sedimentos depende até certo ponto da granulometria do material e assim é melhor nas areias e materiais mais grosseiros, mas decai novamente nos sedimentos finos; logo, afirmações sobre graus de seleção podem ser erróneas a menos que dois materiais com granulometrias similares sejam comparados. Esta relação entre granulometria e grau de seleção pode ser demonstrada lançando-se as duas variáveis uma contra outra no mesmo gráfico, devendo-se assim obter uma relação próxima da linear. Folk e Ward sugerem que a verdadeira relação entre a granulometria e a seleção possa ser a de curva senoidal, cujos picos são dependentes dos valores modais dos diferentes tipos de sedimentos, isto é, seixo, areia, silte e argila; portanto, onde o sedimento é bimodal o grau de seleção corres- pondente é mais pobre do que em sedimentos unimodais. O grau de seleção pode depender consideravelmente do modo de transporte do sedimento. Tem sido sugerido que a seleção aumenta com o transporte do sedimento, mas isto ocorre provavelmente em parte como consequência do decréscimo da granulometria com o transporte, quando os valores caem nas extremidades da curva na qual a seleção está aumentando com o decréscimo do diâmetro médio. determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 87 Segundo Russell (1939, in Inman, 1949). a seleção pode se processar pela ação de três tipos de mecanismos diferentes: seleção local (durante a deposição) e seleção progressiva (durante o transporte), ou ambas ao mesmo tempo. O terceiro caso, ou seja, a seleção resultante de fenómenos durante o transporte e deposição, deve ser o caso mais comum, mas parece existirem sempre situações em que uma ou outra predomina. Folk (1966) discutiu as eficiências dos métodos gráficos no cálculo do grau de seleção, que seriam as seguintes: So (Trask, 1932) convertido em termos de a So = ( 0 7 5 - 0 2 5 ) / l , 3 5 37% Otto(1939), Inman (1952) ( 0 8 4 - 0 1 6 ) /2 54% Folk e Ward (1957) ( 0 8 4 - 0 1 6 ) /4 + ( 0 9 5 - 05)/6,6 79 % McCammon (1962) ( 0 8 5 + 0 9 5 - 0 5 - 0 1 5 ) / 5 , 4 79% McCammon (1962) (07O + 08O + 09O + 097-03-01O-02O-03O)/9'1 8 7 % As porcentagens de graus de eficiência indicam a parte da distribuição que é coberta pelas respectivas fórmulas na representação dos graus de se- leção dos sedimentos. Essas fórmulas mostram que a eficiência aumenta quanto mais detalhadas sejam as características das caudas da distribuição. Sharp e Fan (1963) propuseram uma nova medida de seleção que re- presenta um conceito radicalmente novo do grau de seleção, que parece ser especialmente eficiente em sedimentos fortemente bimodais, em que cada moda é por si só bem selecionada. GRAU DE ASSIMETRIA O grau de assimetria de um sedimento é indicado pelo afastamento do diâmetro médio da mediana. Em uma distribuição simétrica, o diâmetro médio e a mediana coincidem e, portanto, não existe assimetria. Segundo Inman, o grau de afastamento e o seu sentido podem ser obtidos comparando-se a média e a mediana pela fórmula: . M, - Md,, (70 Essa fórmula relaciona o diâmetro médio, a mediana e o desvio-padrão. Se a assimetria for negativa, a média será menor que a mediana e a distri- buição se achará desviada para os valores 0 menores ou para as partículas grosseiras. Por outro lado, se a assimetria for positiva a distribuição se achará desviada para o lado dos valores 0 maiores ou para as partículas mais finas. Este pode ser comparado com a medida de assimetria de Trask, que é dada por: Sk = Qx x Q3/Md2, onde <2j e Q3 são os quartéis superior e inferior e Md é a mediana em milí- metros. Esta fórmula tem as mesmas desvantagens da medida de grau de 88 introdução à sedimentologia seleção usando-se os quartéis. Os sinais da medida de assimetria de Inman podem ser conferidos visualmente nos gráficos de frequências acumulativas desenhados sobre o papel de probabilidade, unindo-se os pontos de percentis 16 % e 84 % por uma linha reta, representando a distribuição normal. Se o ponto, onde esta linha corta o percentil de 50%, for maior que a mediana, a curva possuirá assimetria positiva. A medida de assimetria 0 fornece alguma indicação de quanto a curva se afasta da distribuição normal. É oportuno considerar também as caudas da curva, e Inman recomenda o uso da segunda assimetria para efetuar isso, que é dada pela fórmula l / 2 (0 5 - 0 9 5 ) - M # * * * m Í 0 Este valor é geralmente maior que a primeira assimetria e indica a conti- nuidade da assimetria. Os dois valores podem ser combinados em uma razão R<t> = a20/oc0; este valor é muitas vezes cerca de 2,7. Folk e Ward sugeriram a modificação das duas fórmulas de assimetria de Inman, combinando em uma única fórmula, que foi denominada assimetria gráfica inclusiva, a primeira assimetria de Inman e uma medida análoga para as caudas, que é calculada pela fórmula C t _ 0 1 6 + 0 8 4 - 2 0 5 O 0 5 + 0 9 5 - 2 0 5 O . ' " _ W ^ ^ ê T 2 (0 9 5 - 0 5 ) Os limites matemáticos desta fórmula são +1,0 e -1,0, mas poucas curvas possuem graus de assimetria superiores a +0,8 e -0,8. Em geral, sedimentos naturais com valores de assimetria acima deste valor são raros. Se os resul- tados forem positivos, a amostra possuirá uma cauda de material mais fino; se os valores forem negativos, a cauda estará do lado dos materiais mais grosseiros. Novamente aqui foi demonstrada a relação entre a assimetria e a granulometria para os sedimentos bimodais, dando também uma curva senoidal; os valores são positivos para os tamanhos 0 menores ou partículas maiores, tornando-se negativos para os grãos entre 0 e 10, e crescendo nova- mente para os valores positivos para grãos menores entre 20 e 30. As assi- metrias são pequenas quando as duas modas presentes são aproximadamente iguais ou quando existe uma única moda; mas, se uma moda for maior que a outra, o grau de assimetria aumentará e o tamanho relativo irá determinar o sinal. Folk e Ward sugerem uma escala qualitativa que possa ser convenien- temente usada para descrição do grau de assimetria dos sedimentos: Skj entre -1,00 e -0,30 = assimetria muito negativa; -0,30 e -0,10 = assimetria negativa; -0,10 e +0,10 = aproximadamente simétrica; + 0,10 e +0,30 = assimetria positiva; + 0,30e +1,00 = assimetria muito positiva. determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 89 CURTOSE (Grau de agudez do pico) Uma outra medida deve ser mencionada, que é a curtose das amostras, medida que retrata o grau de agudez dos picos nas curvas de distribuição de frequência. A maior parte das medidas de curtose computa a razão entre as dispersões (espalhamento) na parte central e nas caudas das curvas de distribuição. Kelley (1924) usou uma equação para curtose, que foi adaptada para uso na escala 0 por Krumbein e Pettijohn (1938) Kqa — 0 7 5 - 0 2 5 . 2 (090 - 0 i o ) Esta equação tem sido pouco usada para quaisquer finalidades. Inman define a curtose em escala 0 pela fórmula l / 2 ( 0 1 6 - 0 5 ) - l / 2 ( 0 9 5 - 0 8 4 ) CT0 A medida de curtose indica a razão de espalhamento médio das caudas da distribuição em relação ao desvio-padrão. O valor ,60 para uma distribuição normal é 0,65, mas, se a curva for mais aguda que a curva normal, os valores serão menores que 0,65 e, nos casos de curvas menos agudas que as normais, os valores serão maiores que 0,65. Folk e Ward sugeriram um método diferente de cálculo da curtose, que eles chamaram de curtose gráfica; é dada pela fórmula K = 9 5 5 c 2 , 4 4 ( 0 7 5 - 0 5 Nesta medida, as curvas normais têm valor de KG = 1,00, porque a dispersão 05 "095 É exatamente 2,44 vezes a dispersão 0 2 5 - 0 7 5 • Distribuições muito platicúrticas (isto é, distribuições bimodais com duas modas iguais e ampla- mente separadas = distribuição tipo "sela de cavalo") podem apresentar valores de KG tão baixos que podem chegar a 0,6, enquanto que distribuições muito platicúrticas, contendo caudas de sedimentos mais finos e mais gros- seiros, podem apresentar valores de 1,5 a 3,0, e até mais. KG parece atingir valor máximo de cerca de 8,0 sob condições naturais, isto é, nos casos de picos extremamente finos e altos; o valor mínimo matematicamente possível é 0,41, mas amostras com KG inferiores a 0,5 não foram encontradas; estas curvas são muito espalhadas e de base ampla, e muito mais chatas que a curva normal, que teria valor de Ka = 1,00. Curva com KG = 2,00 seria leptocúrtica ou excessivamente aguda, isto é, representaria um sedimento relativamente bem selecionado na parte central da distribuição. 90 introdução à sedimentologia Para classificar uma curva, segundo os valores de curtose, usam-se os seguintes limites: KG menor que 0,67 = muito platicúrtica; 0,67 a 0,90 = platicúrtica; 0,90 a 1,11 = mesocúrtica; 1,11 a 1,50 = leptocúrtica; 1,50 a 3,00 = muito leptocúrtica; KG maior que 3,00 = extremamente leptocúrtica. EXEMPLO DE APLICAÇÃO DE ANÁLISE ESTATÍSTICA A DADOS GRANULOMÉTRICOS DE SEDIMENTOS A amostra aqui utilizada como exemplo é a mesma da Tab. IV, cujos dados foram também usados na construção de histograma, curva de fre- quência simples e curva acumulativa (veja as Figs. 13, 14 e 15). Entre os vários parâmetros sugeridos para a expressão de quatro carac- terísticas de distribuição granulométrica de sedimentos, quais sejam, ten- dência central, grau de seleção, assimetria e curtose, escolhemos, para exem- plificar, as fórmulas sugeridas por Folk e Ward (idem). Para efetuarmos esses cálculos precisamos dos diâmetros, em escala cj>, correspondentes a 5% 16%, 25%, 50%, 75%, 84% e 95% da distribuição granulométrica da amostra, expressos em curva acumulativa construída em papel de probabi- lidade aritmética (Fig. 15). Os valores correspondentes são lidos diretamente nesta curva. Os diâmetros, em escala 0, respectivos às porcentagens supra- mencionadas e os valores obtidos para os quatro parâmetros de Folk e Ward (idem) podem ser vistos na Tab. V. TABELA V - Cálculo de parâmetros de Folk e Ward (1957) Amostra: GK0010/01 Projeto: Foz do Rio Doce Diâmetros lidos na curva acumulativa: 0 5 = -0,75 4>15 = 8,10 </>,„ = 0,10 (j>Si = 8,40 0 2 5 = 0,45 4>95 = 8,69 0 5 o = 1.50 Cálculo dos parâmetros de Folk e Ward: a) Diâmetro médio: .. <t>ie + <l>5o + 0 84 0,10 + 1,50 + 8,40 Mz = = = 3 33 3 3 b) Desvio-padrão gráfico inclusivo: , 084-0,6 > 9 5 - * 5 [( + 8,40)-( + 0,10)] [( + 8,69)-(-0,75)] ol = 1 = 1 4 6,6 4 6,6 ol = 3,50 Muito pobremente selecionado determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 91 c) Assimetria gráfica inclusiva: <t>i6 + 084" 2<t>50 , 05 + 095-2050 Sk, = • 1 2(084 - 0ié) 2((j!>9S-05) [( + 0,10) + ( + 8,40)]-2( +1,50) [(-0,75) + ( + 8,69)]-2(+1,50) Sk, = 1 2( +8,40)-( + 0,10) 2( +8,69)-(-0,75) Sk, = 0,59 Assimetria muito positiva d) Curtose gráfica: K 095-05 _ [( + 8,69)-(-0,75)] Q 5 g G 2 ,44 (0 7 5 -0 2 5 ) 2,44[( + 8,10)-( + 0,45)] ' Muito platicúrtica No caso da amostra deste exemplo pode-se dizer como conclusão, a partir dos valores dos parâmetros encontrados, que: a) o diâmetro médio indica a classe de areia muito fina ( + 3,330); b) o desvio-padrão, tendo dado +3,50, indica ser um sedimento muito pobremente selecionado; c) a assimetria, com valor +0,59, diz tratar-se de um sedimento com assimetria muito positiva, isto é, com cauda do lado dos mais finos na curva de distribuição; e d) a curtose mostra que a distribuição granulométrica do sedimento se apresenta sob a forma de uma curva de frequência muito platicúrtica, isto é, distribuição bimodal com as modas amplamente separadas. Dezenas e centenas e até milhares de amostras podem ser estudados em conjunto em pesquisas integradas de uma área. USOS DOS PARÂMETROS GRANULOMÉTRICOS DE SEDIMENTOS As quatro medidas acima descritas definem as características das amostras de sedimentos, analisadas do ponto de vista de distribuição granulométrica. Elas podem ser resumidas da seguinte maneira: a tendência central é bem mostrada pelo diâmetro médio, o grau de seleção ou desvio-padrão e a assi- metria indicam as relações entre média e mediana e, finalmente, a curtose descreve o grau de agudez dos picos das curvas de distribuição de frequência. Neste ponto é interessante considerarmos algumas conclusões, que podem advir do estudo das características de distribuição granulométrica dos sedi- mentos. A assimetria e a curtose, segundo Folk e Ward, fornecem um meio para determinação da bimodalidade de uma curva, que sobre uma curva de frequência acumulativa pode aparecer somente como uma irregularidade ou curvatura suave sobre o gráfico de papel de probabilidade, indicando distribuição não-normal. Algumas areias de praia mostram linhas quase retas sobre o papel de probabilidade, indicando portanto a normalidade da sua distribuição granulométrica, mas muitos sedimentos de outros am- 92 introdução à sedimentologia bientes são bimodais, e é importante reconhecermos este fato. Algumas areias de dunas, por exemplo, mostram valores altos de curtose e uma assimetria positiva, em virtude do pequeno volume de silte fino incluído no sedimento. Valores de curtose muito altos ou muito baixos podem sugerir que um tipo de material foi selecionado em uma região de alta energia e então transpor- tado sem mudança das características para um outro ambiente, onde ele se misturou com outro sedimento, em equilíbrio com diferentes condições, possivelmente de baixa energia. Tal tipo de sedimento misturado pode ser fortemente bimodal. Este tipo de sedimento pode ter origem, por exemplo, onde areias de praia, selecionadas em ambiente de alta energia, são levadas para uma área de lagunas, onde podem ser misturadas com sedimentos muito mais finos, sedimentando-se em condições de águas muito mais calmas. Se ambas as partes dos sedimentos foram bem selecionadas antes da mis- tura e se a areia ocorria em excesso na amostra, então a curva apresentará assimetria positiva. Veja a Tab. IV. Uma das maneiras interessantes, de como os resultadosde análise granu- lométricas podem ser usados, é na determinação do tipo de ambiente onde os sedimentos foram depositados e, partindo disso, podemos chegar aos processos que ocasionaram a deposição. Alguns exemplos de resultados de análises desse tipo podem ser considerados. Temos, por exemplo, o trabalho de Mason e Folk (1958) sobre a dife- renciação em areias de ambientes de planícies eólicas, dunas e praias, exe- cutado na ilha Mustang (Texas). Este trabalho indicou alguns meios pelos quais os ambientes sedimentares podem ser reconhecidos. Eles chegaram à conclusão de que a assimetria e a curtose são os melhores parâmetros para diferenciação dos ambientes. O fato de assimetria e curtose serem os me- lhores parâmetros para diferenciação dos ambientes sugere que exista um processo agindo no sentido de alterar as caudas das distribuições. As evi- dências observadas de inúmeras amostras favorecem a inferência que as areias de dunas são de assimetria mais positiva do que as areias de praias. Dados analíticos de amostras de areias de grande variedade de am- bientes foram também estudados por Friedman (1961) e os seus resultados exemplificam bem o valor de tal tipo de trabalho para o fornecimento dos meios de identificação dos ambientes de deposição e os processos en- volvidos. Suas 267 amostras provieram de dunas, rios, praias marinhas e praias lacustres, e foram coletadas com ampla distribuição geográfica, abran- gendo Estados Unidos, México, Canadá, África do Norte e outros lugares. Os parâmetros que ele usou para o seu trabalho foram: diâmetro médio, assimetria e curtose. É também interessante mencionar alguns estudos que têm sido feitos em relação à distribuição granulométrica de sedimentos em outros ambientes, tais como em terraços e cones aluviais. Análises sedimentológicas têm sido usadas, por exemplo, para diferenciar entre série de terraços fluviais, e este método combinado com outros pode confirmar evidências de morfologia e relações de altitudes, e pode-se ter mais confiança nas correlações entre determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 93 níveis de terraços, fornecendo também evidências das características dos rios na época de formação daqueles terraços. As análises de amostras pro- venientes de quatro terraços na Flórida (Estados Unidos) executadas por Lapinsky e outros (1958), ilustram bem o tipo de material que pode ser usado e os resultados obtidos. Passega (1957) combinou a mediana com um parâmetro que ele de- nominou C, que representaria uma aproximação do tamanho máximo dos grãos da amostra. Usando-se os valores de M (mediana) e C (granulometria máxima) o autor construiu gráficos de padrões pontuais chamados gráficos CM. Segundo Passega, os padrões desses gráficos seriam bem caracterizados e variariam consideravelmente de acordo com o agente de deposição. Então os gráficos CM seriam um instrumento geológico, que pode ser usado para analisar deposição de sedimentos recentes e reconstruir condições de depo- sição de sedimentos pretéritos. São então de grande ajuda, particularmente nos estudos de sedimentação visando a procura de armadilhas (traps) estra- tigráficos, para definição de padrões de variações de permeabilidade e outros problemas ligados à exploração do petróleo. Sahu (1964) distingue vários mecanismos e ambientes de deposição dos sedimentos, utilizando-se da análise estatística, chamada análise discrimi- natória multivariável, que pode ser definida como método estatístico dedicado ao estudo das relações existentes entre n variáveis dependentes ou inter- dependentes. O autor usou os parâmetros estatísticos definidos por Folk e Ward (1957) para estabelecer separações entre os seguintes ambientes: eólico e praial, praial e marinho raso, marinho raso e fluvial, fluvial e de correntes de turbidez. Postulou então que isso era devido a variações nos fatores energéticos e de fluidez ocorridos nos vários meios de transporte e de ambientes de deposição. Verificou também que o desvio-padrão da assimetria Skj mostrava recobrimento entre os vários ambientes de depo- sição, sendo, portanto, considerado um fator não-significativo para inter- pretação e, ainda, que os demais parâmetros (Mz, a1 e KG) se prestam para interpretação dos fenómenos deposicionais. Então o autor tentou várias combinações com esses três parâmetros, concluindo que a melhor discri- minação entre os diferentes ambientes, assim como entre os diversos processos de deposição, é obtida colocando-se os valores V ãf contra \ x s(<r2) [ l.S(.VÍz) ' J em papel de gráfico bilogarítmico, colocando-se o primeiro em ordenada e o segundo em abscissa. Os significados dos parâmetros acima são: s/tf = média das variâncias de um conjunto n de amostras, sendo n ^ 2 ; ••>{Ka) = desvio-padrão dos valores de curtose desse mesmo conjunto de amostras; ò(Aír) = desvio-padrão dos valores de diâmetros médios desse mesmo conjunto de amostras; s = desvio-padrão dos valores de variâncias desse mesmo conjunto de amostras. i I determinação das propriedades d.as rochas sedimentares em laboratório 95 Dessa maneira Sahu (1964) organizou um gráfico empírico, onde estão dispostas linhas de demarcação entre os diversos ambientes de sedimentação e indicações dos sentidos de decréscimo de energia e da fluidez do meio (veja a Fig. 26). Pela própria estrutura matemática das expressões, cada ponto deve ser constituído de um conjunto de pelo menos duas amostras. Em virtude do grande número de operações matemáticas envolvido nos cálculos, acar- retando com isso enorme dispêndio de tempo, têm sido organizados programas de computador para calcular os valores das coordenadas de conjuntos de amostras de sedimentos, segundo fórmulas já apresentadas como, por exemplo, aquele publicado por Paraguassu e outros (1971). Visher (1969) apresentou um trabalho mostrando as relações entre distribuições granulométricas e os processos deposicionais dos sedimentos. O autor efetuou um estudo extensivo de areias, tanto modernas como de sedimentos antigos, tendo obtido a partir desse estudo a base para a inter- pretação genética das diferentes texturas das areias. As análises foram ba- seadas no reconhecimento de subpopulações dentro das distribuições granu- lométricas log-normais individuais. Cada subpopulação log-normal pode estar relacionada a um diferente modo de transporte e deposição, fornecendo assim uma medida da sua importância na génese de uma unidade arenosa. Os três processos de transporte que encontram reflexo nas distribuições granulométricas são: a) suspensão; b) saltitação; e c) rolamento pela super- fície. Cada uma dessas é desenvolvida como uma subpopulação independente dentro de uma distribuição granulométrica. O número, grandeza, variação granulométrica, mistura e seleção dessas subpopulações variam sistematica- mente em função da proveniência, dos processos e da dinâmica de sedimen- tação. A análise desses parâmetros constitui a base para a determinação das características do processo e resposta das unidades arenosas individuais. Inúmeros processos naturais são de modo diferente refletidos nas curvas de log-probabilidade de areias e arenitos. Esses processos incluem: a) corrente; b) onda; c) fluxo e refluxo das águas na praia [swash and backswash); d) canal de maré; e) queda a partir da suspensão; f) correntes de turbidez; e g) duna eólica. A combinação de dois ou mais desses processos também produz formas características de curvas de log-probabilidade. Areias, antigas mostram algumas diferenças em relação às suas análogas de idade mais recente, mas geralmente essas discrepâncias são pequenas e as curvas de log-probabilidade de areias antigas são comparáveis àquelas de areias modernas. As principais limitações do método estão na comparação de areias formadas sob condições bastante próximase na obtenção de uma determinação independente dos processos de formação de areias antigas. Na Fig. 27-A (Visher, 1969) tem-se a comparação de três diferentes métodos de representação gráfica de distribuições granulométricas. Uma curva mostra os logaritmos da granulometria em função da frequência percentual; outra, em função da frequência percentual acumulativa; e a terceira, com as pro- babilidades das frequências percentuais acumuladas. O último tipo é, segundo 96 introdução à sedimentologia Visher, de grande significado em relação aos processos deposicionais. Os pontos mais importantes do terceiro tipo são: a) normalmente exibem dois ou mais segmentos de linhas retas e b) as caudas das curvas de frequências granulométricas, com forma de "S", aparecem também como segmento de linhas retas, permitindo efetuar medições e comparações. Esses segmentos foram observados pelo autor em mais de 2 000 distribuições granulométricas. A consistência das posições de truncamento das curvas, das declividades e outras características sugerem que relações significativas sejam mostradas pelas curvas de log-probabilidade. Cada subpopulação é truncada e unida com a seguinte para formar a distribuição total. Isto significa que as distri- buições granulométricas não seguem uma lei log-normal simples, mas são compostas de diversas populações log-normais, cada uma com sua média e desvio-padrão. Estas subpopulações são rapidamente identificadas nas curvas de log-probabilidade, mas são muito difíceis de serem precisamente definidas nas duas outras curvas, Fig. 27-B (Visher, 1969). Algumas vezes as formas das curvas de sedimentos antigos não encontram analogias nas dos sedimentos modernos. Isto porque, frequentemente, as informações ambientais sobre os sedimentos antigos são insuficientes para se concluir sobre a origem de uma particular distribuição granulométrica. Nesses casos, as interpretações são apenas sugeridas. Nos últimos anos, tem havido uma tendência entre os sedimentólogos de procurar encontrar, a partir de amostras, certos parâmetros que, colo- cados em gráficos, indiquem o respectivo ambiente de sedimentação ou os processos envolvidos no transporte e deposição dos sedimentos. determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 97 Figura 27B. Relação entre di- * nàmica de transporte de sedi- < mentos e as populações definidas £ por pontos de truncamento em « uma distribuição granulométrica o (Segundo Visher, 1969) £ i i r E X E M P L O M O S T R A N D O O U A T R O , P O P U L A Ç Õ E S L O G - N O R M A I S T R U N C A D A S D E A R E I A S D A Z O N A D E A R R E B E N - T A Ç Ã O D E O N D A S . D E S U S P E N S Ã O 0 , 2 5 0 0 , 1 2 5 E S C A L A 0 0 , 0 6 7 E S C A L A MM Moríometria e textura superficial das partículas sedimentares A forma e o arredondamento dos grãos de areia e dos seixos têm sido usados desde há muito tempo para decifrar histórias de depósitos sedimentares, dos quais eles fazem parte. As formas típicas de seixos que sofreram abrasão eólica, denominados ventifactos, são conhecidas desde os primórdios das ciências geológicas. Os efeitos dos outros agentes são menos claros, cons- tituindo portanto objeto de muitas controvérsias. As perguntas que normal- mente surgem são as seguintes: a) Seriam os seixos de praias mais achatados do que os fluviais?; b) Seriam os ventos agentes mais efetivos de arredon- damento de areias do que a águá? e c) Qual seria o limite de granulação mínima de areias em que ainda se nota a eficácia dos processos de arredondamento? Tais questões ainda não têm encontrado respostas definitivas, embora esteja claro que essas informações seriam de grande ajuda na interpretação da geologia histórica de um sedimento. Alguns autores foram bastante longe nas generalizações, estabelecendo que os seixos marinhos são arredondados e com forma ovalada, enquanto que os seixos fluviais seriam achatados e cuneiformes. Essas e tantas outras generalizações são baseadas somente em dados qualitativos. H. E. Gregory (1915) encontrou tantas exceções a essas generalizações que afirma ser a forma das partículas de menor importância entre os muitos fatores, cuja avaliação é essencial no estabelecimento das distinções entre os diferentes modos de origem, por exemplo, dos conglomerados. Todas essas generali- zações estabelecidas sempre pecam pela ausência ou pelo pequeno volume de dados quantitativos sobre o fato. 98 introdução à sedimentologia Uma descrição da forma geométrica de partículas envolve normalmente vários conceitos relacionados. De um lado temos os fatores de forma, que dependem dos comprimentos dos eixos principais perpendiculares entre si, e de outro, a angularidade ou o arredondamento das partículas. Os dois conceitos são importantes nos estudos dos sedimentos de diferentes maneiras. A forma ou as relações de comprimentos dos eixos controlam parcialmente os comportamentos dos seixos durante o transporte e deposição, enquanto que o arredondamento ou angularidade reflete a distância e o rigor do trans- porte. Acredita-se que muitos fatores estejam envolvidos no desenvolvimento da forma das partículas, e entre os principais podem ser citados: a) Forma original do fragmento. b) Estrutura do fragmento, como acamamento e clivagem. c) Durabilidade do material, que por seu turno é uma propriedade ve- torial do fragmento de rocha ou mineral. d) Natureza do agente geológico e o seu rigor de atuação. e) Tempo ou distância através do qual a ação é estendida. Necessita-se de um processo simples e objetivo que permita expressar numericamente a forma dos grãos, não somente para fins descritivos mas também para execução de estudos quantitativos de vários fatores envolvidos na evolução, até a forma final da partícula ou fragmento. Certas outras propriedades dos sedimentos, principalmente a porosidade e a permeabilidade, estão relacionadas às formas dos componentes granulares dos sedimentos. Ao lado dessa importância prática tem-se o interesse cien- tífico para problemas de correlações, distância da fonte de produção dos sedimentos, estudo de paleocorrentes, etc. GRAU DE ARREDONDAMENTO Russell e Taylor (1937) desenvolveram tabelas de comparação com cinco diferentes graus de arredondamento para a determinação comparativa de arredondamento. As distinções entre as classes são caracterizadas por certos valores numéricos de graus de arredondamento de Wadell (veja o item "Métodos de determinação"). A Tab. VI (Muller, 1967) mostra que as classes individuais são de di- ferentes intervalos. Isso foi feito intencionalmente porque as observações T A B E L A VI — Graus de arredondamento para caracterização descritiva do arredondamento (segundo Pettijohn, 1957) Limites de classes Graus de arredondamento Ponto médio de arredondamento (Wadell) geométrico Angular 0 a 0,15 0,125 Subangular 0,15 a 0,25 0,200 Subarredondado 0,25 a 0,40 0,315 Arredondado 0,40 a 0,60 0,500 Bem-arredondado 0,60 a 1,00 0,800 determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 99 têm mostrado que é muito mais difícil reconhecer pequenas diferenças de eraus de arredondamento em grãos bem arredondados do que reconhecer as mesmas diferenças em partículas pobremente arredondadas. Pettijohn (1957) adotou nomes para as classes, mas redefiniu as divisões de classes a fim de expressar as progressões ainda mais claramente, Fig. 28 (Muller, 1967). ***** ***** 000%% Figura 28. Graus de arredondamento. Do topo para a base: angular, subangular, subarredon- dado. arredondado, bem arredondado. (Segundo Russell. Taylor e Pettijohn. In: German Muller, 1967) Para a caracterização dos graus de arredondamento individuais dos vários intervalos de classe de Pettijohn (1957), as propriedades indicadaspor aquele autor e por Schneiderhõhn (in Muller, 1967) poderiam ser apre- sentadas no seguinte esquema: a) Angular (arredondamento = de 0 a 0,15) - Cantos agudos e grandes reentrâncias fortemente definidas e pequenas reentrâncias mais lisas e menos numerosas. Praticamente não mostram sinais de retrabalhamento. Como as partículas, mesmo as recentemente quebradas, já possuem grau de arredon- damento finito seus valores inferiores raramente são menores que 0,10. 100 introdução à sedimentologia b) Subangular (arredondamento = de 0,15 a 0,25) - Já mostra efeitos definidos de retrabalhamento. Os fragmentos ainda possuem suas formas originais e as faces permanecem virtualmente intocadas. Ocorre incipiente desgaste dos cantos. As reentrâncias maiores estão ainda preservadas mas as pequenas reentrâncias são mais lisas e em menor número. c) Subarredondado (arredondamento = de 0,25 a 0,40) - Os grãos já mostram retrabalhamento considerável. Os cantos são bem arredondados e a área das faces originais é consideravelmente reduzida, mas a forma ori- ginal do grão ainda permanece distinta. Grandes reentrâncias fracamente definidas e pequenas reetrâncias em menor número e suavemente arredon- dadas são observadas. d) Arredondado (arredondamento = de 0,40 a 0,60) - As faces originais estão quase completamente destruídas. Os cantos originais estão suavemente arredondados, as grandes reentrâncias são apenas sugeridas e as pequenas reentrâncias estão ausentes. e) Bem-arredondado (arredondamento = de 0,60 a 1,00) - Neste caso não estão presentes faces, arestas ou cantos originais. A superfície toda é constituída de curvas amplamente abertas e áreas planas estão geralmente ausentes. Mas ainda podem ser reconhecidos traços da forma original do grão. O contorno é uniformemente convexo, mas às vezes estão presentes seções planas subordinadas. Atualmente são em geral usadas tabelas comparativas (com divisões de intervalos de classes de Pettijohn) para determinações visuais do grau de arredondamento. Este tipo de medições comparativas é completamente suficiente para a maior parte dos estudos. Em qualquer caso é em geral su- ficiente para se ter uma ideia global dos graus de arredondamento em um sedimento elástico. MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO a) Grau de arredondamento segundo Wadell (1932) Neste processo utilizamos uma figura bidimensional de projeção dos grãos sobre uma tela, e o arredondamento é definido como a média dos raios de curvatura dos cantos do grão dividida pelo raio máximo do círculo inscrito no grão. Esta relação pode ser expressa pela fórmula * = I > . onde P = grau de arredondamento; r = raio de curvatura dos cantos; R = raio do máximo círculo inscrito; N = número de curvaturas convexas da borda do contorno do grão. O ângulo do canto, cujo raio de curvatura seja zero, deve ainda ser incluído no valor de N. determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 101 Quando os grãos dos sedimentos são do tamanho de areia, eles são montados em lâminas de vidro e projetados sobre uma tela. Para se obterem valores comparáveis, os tamanhos das projeções são padronizados. Matacões podem ser reduzidos e as partículas arenosas são ampliadas em projeções até o tamanho padrão com diâmetro de 7 cm, usado por Wadell. Os matacões e seixos são fotografados para projeção. Os raios de curvatura dos cantos são obtidos sobrepondo-se uma escala de plástico transparente sobre as imagens projetadas, passadas para uma folha de papel por decalque. Nesta escala estão desenhadas 35 circunferências concêntricas distantes uma da outra 2 mm. O círculo máximo inscrito pode também ser obtido com esta escala. O arredondamento é então calculado segundo a fórmula de Wadell. Exemplo: R = 19mm, r, = 3 m m , r 2 = 2 m m , r3 = 10mm, r 4 = 3mm, r 5 = 2 mm, r6 = 7 mm, r1 = 13 mm, rs = 4 mm, rg = 4 mm, r 1 0 = 6 mm e N = 10. Então tem-se: r 54 r = 54mm; — = — = 5,4; 5,4/19 = 0,28 Para se medirem os graus de arredondamento de seixos e fragmentos maiores, procedimento diferente é adotado para a obtenção das imagens projetadas. Hough, 1937 (in Krumbein e Pettijohn, 1938), em um estudo de material variando entre 3 e 100 mm de diâmetro, fotografou os mesmos, usando combinações apropriadas de lentes para chegar ao tamanho padrão acima especificado. Os seixos foram primeiramente separados em grupos de tamanhos aproximadamente iguais e colocados em suas posições mais estáveis sobre um fundo preto. São colocados também números de identi- ficação e uma escala para conferir o aumento, a fim de atingir o tamanho padronizado de imagens. b) Graus de arredondamento por comparação visual (segundo tabela de Russell e Taylor, 1937) O método de Wadell, já visto, é o mais preciso, mas tem a desvantagem de ser muito trabalhoso e demorado. Foi então introduzido o método da comparação visual, que permite estudar número muito maior de partículas em menor intervalo de tempo. Este método consiste em se examinar os grãos constituintes, um a um, e compará-los com imagens de partículas arranjadas em classes de acordo com diferentes graus de arredondamento, Fis. 28 (Muller, 1967). Aqui também, como nos métodos anteriores, as amostras desintegradas devem ser separadas em classes de tamanhos, de acordo com escalas granu- lométricas padrões. As comparações, então, devem ser feitas para cada classe, isto porque certos sedimentos possuem grãos arredondados em certas classes e mal arredondados em outras. Nos casos de granulações de seixos as com- 102 introdução à sedimentologia parações podem ser feitas macroscopicamente, mas nos casos de granulações menores devem ser feitas sob uma lupa estereoscópica. No caso do método da comparação visual, cuidados devem ser tomados para a tendência que muitos operadores têm para, inconscientemente, clas- sificar grãos com alta esfericidade como bem-arredondados. A atenção deve ser dirigida para os cantos e verificar se são angulares ou arredondados. Exames visuais de graus de arredondamento ou de esfericidade de par- tículas são sujeitos a variações quando diferentes observadores efetuam o trabalho. Esse efeito, conhecido como "variação devida ao operador" foi estudado estatisticamente por Rosenfeld e Griffiths (1953) e sumariado por Griffiths e Rosenfeld (1954). Embora as estimações de grãos individuais possam variar de modo significativo, em geral, os valores médios baseados em cinquenta ou mais partículas tendem a ser representativos porque os erros de estimação são plenamente compensados. GRAU DE ESFERICIDADE A esfericidade é uma grandeza que tenta expressar numericamente o grau de aproximação da forma de uma partícula qualquer com aquela de esfera perfeita. A esfericidade de uma partícula pode ser expressa como uma função das relações entre os diâmetros principais perpendiculares entre si. O conceito original de esfericidade, segundo foi definido por Wadell (1932), pode ser expresso pela fórmula . Área da superfície da partícula ^ ~ Area da superfície da esfera de mesmo volume da partícula Na prática, a medida da esfericidade real de uma partícula irregular não é realizável e Wadell (1933) propôs uma definição funcional, que pode ser expressa por 3 Volume da partícula Esfericidade = / - r n 1 7 : r-—r~' W %/ Volume da esjera que circunscreve a partícula A segunda equação foi estabelecida com base em muitas medidas de esfericidade, portanto é uma relação completamente empírica. A esferi- cidade de uma partícula pode ser visualizada admitindo-se um seixo de qualquer forma colocado dentro de uma esfera de vidro, com tamanho exato para conter o mesmo. Um seixo quase esférico ocupará aproximadamente o volume interno total da esfera de vidro, enquanto que uma partícula dis- cóide, por exemplo, preencherá somente uma parcelada mesma. A esfericidade é, em parte, função da relação entre a área de superfície (também conhecida como superfície específica) e o volume da partícula. Para um dado volume, a esfera, se perfeita, terá a menor área superficial, enquanto que, quanto mais uma partícula se afasta de uma esfera, aumenta determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 103 a razão entre a área superficial e o volume. A equação acima, que define a esfericidade, fornece as bases para diversos métodos de medição de graus de esfericidade. MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO a) Método do nomograma de Wadell (1935) O método é aplicável a seixos e areias. O volume das partículas grandes é determinado pelo deslocamento de água e pode ser expresso como uma esfera com o diâmetro nominal d = (ri/6) • d*. A esfera, que circunscreve a partícula, possui um diâmetro igual ao diâmetro máximo da partícula e, portanto, possui um volume (n/6)-a3. Substituindo-se estas relações na definição dada pela fórmula (2) e cancelando-se os termos comuns, a fórmula para determinação da esfericidade é Esfericidade (\j/) = d/a, onde d = diâmetro nominal, isto é, diâmetro da esfera que tem o mesmo volume do seixo; a = diâmetro da esfera que circunscreve a partícula (diâmetro máximo). Nos casos em que precisamos fazer centenas de determinações em várias amostras, o processo seria muito demorado se a fórmula fosse aplicada para cada seixo. Então, para se evitar isso, usa-se o nomograma da Fig. 29 (Krumbein e Pettijohn, 1938), onde se tem à esquerda o diâmetro nominal em cm e o volume correspondente em cm 3 e, à direita, em linha vertical e paralela à anterior estão indicados os valores de diâmetros de círculos máximos cir- cunscritos em cm. A linha inclinada situada entre as duas anteriores fornece os graus de esfericidade. Os valores de esfericidade são obtidos unindo-se, por uma linha reta, os valores de d (diâmetro nominal) e a (diâmetro máximo), então a linha inclinada será cortada em um ponto por aquela reta indicando assim o valor de esfericidade daquele seixo. Na prática, o diâmetro máximo pode ser medido com um paquímetro e o volume do seixo em um copo graduado de vidro, onde podem ser lidos os deslocamentos do nível da água com a introdução do seixo. Para seixos pequenos podem ser usados copos com capacidade de 25 ou 50 cm 3 e os volumes determinados com precisão de 0,5 cm 3 . As determinações dos volumes podem ser feitas com precisão de 0,5cm 3 em seixos de 10 a 20 cm 3 ; 1 cm 3 em seixos de 20 a 50cm 3 ; e com precisão de 2 cm 3 em seixos de 50 a 200cm 3. Este grau de precisão assegura-nos a obtenção de valores corretos de esferi- cidade até a segunda casa decimal. O uso do nomograma não reduz a precisão do método já que os erros introduzidos na medida do eixo maior (com pre- cisão de 0,1 cm) e na medida do volume são maiores do que aqueles envol- vidos na leitura dos gráficos. 104 intio-juçao a sedimentologia V O L c c 2 5 0 - f 2 0 0 - 1 5 0 • 1 0 0 . 9 0 - 8 0 7 0 - 6 0 . 5 0 . 4 0 - = t CM 1 0 5 Os CM r O Figura 29. Nomograma para computação da esfericidade pelo método de Wadell. Para seixos, o volume é medido por deslocamento de água e o seu valor é unido com £>s (diâmetro máximo). A escala inclinada fornece a esfericidade. Para areia usa-se o D„ (diâmetro seccional nominal) computado da Fig. 30. (Segundo Krumbein e Pettijohn, 1938) b) Método da projeção Para partículas de granulação areia usamos a técnica da projeção. Para isso os grãos são peneirados e montados em lâminas de vidro conforme os intervalos granulométricos. O índice de refração do meio de montagem deve ser em torno de 1,560 (índice de refração do quartzo = 1,544 a 1,553). As lâminas assim preparadas permitem a projeção dos grãos sobre uma tela e, desse modo, os contornos dos grãos podem ser traçados sobre uma folha de papel. Devem ser considerados somente os grãos não muito afastados do centro, pois estes deverão apresentar menor distorção. Como no caso da medida dos graus de arredondamento por projeção, aqui também as imagens são ampliadas até atingirem um tamanho de cerca de 7 cm de diâ- metro maior. Em vez de projetar sobre uma tela, podem ser também dese- nhados sob um microscópio provido de câmara clara. Cerca de cinquenta grãos por classe devem ser considerados. A área de cada grão é então determinada pelo planímetro. A partir deste valor da área pode ser calculado o diâmetro seccional nominal (dc) que cor- responde ao diâmetro de uma circunferência com a mesma área do grão determinação das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 105 Figura 30. Diagrama para computação do diâmetro seccional nominal do arão. ampliado a partir da medida da sua área de projeção (Segundo Krum- bein e Pettijohn, 1938) o K o- o cr 10 2 0 3 0 4 0 5 0 6 0 70 8 0 1 0 0 D I Â M E T R O SECCIONAL NOMINAL (mm) considerado em projeção. Este valor pode ser encontrado no gráfico da Fig. 30 (Krumbein e Pettijohn, 1938). É medido também o diâmetro do menor círculo circunscrito Dc (que corresponde ao maior diâmetro do grão). A partir destes dois valores pode ser encontrada a esfericidade pela fórmula i dc + ' t O grau de esfericidade aqui calculado (cp) difere do calculado para os seixos (x//), pois, enquanto no primeiro se considera a projeção em um plano, no segundo temos o grão em três dimensões. Wadell demonstrou que o diâmetro seccional nominal se aproxima bastante do diâmetro nominal verdadeiro, e o resultado obtido por meio de projeções é bem próximo do obtido por medição direta. Para os grãos projetados ou copiados em uma folha de papel por este processo pode ser aplicado um método análogo àquele adotado para os graus de arredondamento, qual seja, o da comparação visual com tabelas- -padrões de esfericidade segundo Rittenhouse (1941) (veja a Fig. 31).
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