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1 1 4 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia REPRESENTAÇÃO GRÁFICA E TRATAMENTO ESTATÍSTICO DE FORMA E ARREDONDAMENTO Tal como no caso das distribuições granulométricas de sedimentos, os graus de esfericidade, forma e arredondamento também podem ser ex- pressos em função da distribuição dos seus valores. As Figs. 38 e 39 (Krumbein e Sloss, 1963) mostram histogramas e curvas acumulativas de esfericidade e arredondamento. a 9 5 o 90 70 60 50 40 30 20 1 1 1 1 / 50 s U I 4 0 a 2 3 0 u j 2 0 / 50 s U I 4 0 a 2 3 0 u j 2 0 / 50 s U I 4 0 a 2 3 0 u j 2 0 50 s U I 4 0 a 2 3 0 u j 2 0 . 0 50 s U I 4 0 a 2 3 0 u j 2 0 . 0 _ - 0. 1 . 0 o B ^ ^ ^ ^ ^ ^ o a .6 7 .8 .9 . 0 / / 1 / 1 f— t- / / 1 i Figura 38. Histograma e curva acumulativa de distr ibuição de es- fericidade de seixos fluviais (Se- gundo Krumbein e Sloss, 1963) 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0 , S 0,7 0,8 0 ,9 1,0 E S F E R I C I D A D E DAS P A R T Í C U L A S 9 5 9 0 ( 8 4 ) 8 0 7 0 6 0 5 0 40 3 0 2 0 (16) 10 5 - 60 LU « 4 0 tal o a 2 C o £L 0 - 60 LU « 4 0 tal o a 2 C o £L 0 - 60 LU « 4 0 tal o a 2 C o £L 0 1 - 60 LU « 4 0 tal o a 2 C o £L 0 1 - 60 LU « 4 0 tal o a 2 C o £L 0 1 - 60 LU « 4 0 tal o a 2 C o £L 0 - 60 LU « 4 0 tal o a 2 C o £L 0 - 60 LU « 4 0 tal o a 2 C o £L 0 - 0 1 2 .3 .4 .5 .6 i - / i i j i ! i ! í Figura 39. Histograma e curva acu- mulativa de distr ibuição de arre- dondamento de seixos fluviais (Se- gundo Krumbein e Sloss, 1963) 0,1 0,2 0 , 3 0,4 0,5 A R R E D O N D A M E N T O DAS P A R T Í C U L A S 0,6 d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 1 1 5 As curvas acumulativas são desenhadas em papel de probabilidade aritmética, tal como no método de Inman (1952) para dados de análises granulométricas, com a única diferença que a abscissa (valores de esferi- cidade ou arredondamento) não é transformada em logaritmo. O uso das linhas de porcentagens 16,-50 e 84% fornece os dados para cálculo de esfe- ricidade média e a seleção de forma, expressa pelo desvio-padrão de esferi- cidade. Usando-se os dados das figuras acima mencionadas, temos esfericidade mediana = X50 = 0,68; esfericidade média = (XS4 + X16)/2 = (0,78 + 0,61)/2 = 0,69; desvio-padrão da esfericidade = (XSA-Xl6)/2 = (0,78-0,61)/2 = 0,08. A esfericidade média é mais usada que a esfericidade mediana. Se pre- ferirmos usar o método analítico (sem construir os gráficos), então poderemos fazer como está indicado na Tab. V I I I (Krumbein e Sloss, 1963). T A B E L A V I I I — Cálcu lo de esfericidade m é d i a e d esv io -p a d rã o da esfericidade Ponto m é d i o _ . . . . , , , da classe (m) F " q « « « c i a ( / ) fm fnfi 0,55 12 6,60 3,6300 0,65 48 31,20 20,2800 0.75 27 20,25 15,1875 0,85 11 9,35 7,9475 0,95 2 1,90 1,8050 T O T A I S 100 69,30 48,8500 Esfericidade média = 69,30/100 = 0,69 D e s v i o - p a d r ã o da esfericidade = { [48 ,85- (69 ,3 ) 2 / 100] /100) 1 / 2 = V (48,85 - 48,02)/100 = V 0,0083 = 0,09 Os pontos médios das classes entram na primeira coluna, e a frequência percentual entra na segunda coluna. A terceira coluna fornece o produto / x m obtido pela multiplicação dos valores dos pontos médios pela frequência de cada classe. A quarta coluna mostra os valores de / x m2, obtidos nova- mente peia multiplicação dos valores da terceira coluna pelos pontos médios das classes. As três últimas colunas são somadas. A esfericidade média é obtida dividindo-se a soma da terceira coluna pela frequência total, obtendo-se, no caso, o valor 0,69.0 desvio-padrão é computado elevando-se ao quadrado a soma da terceira coluna, dividindo-se por 100 e subtraindo o quociente a partir da soma da quarta coluna. O resto é dividido pela frequência total, N, e extrai-se a raiz quadrada (como está indicado na tabela acima. A equação usada é a seguinte: desvio-padrao de esfericidade = < L ^ —* > 116 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia As diferenças entre o método gráfico e o analítico não são grandes neste exemplo, mas ele ilustra que os dois processos podem levar a resultados algo diferentes, especialmente em relação ao desvio-padrão. Em geral os métodos analíticos fornecem melhores resultados que os métodos gráficos. No passado, os geólogos preferiram sempre os métodos gráficos devido a questões de conveniência, exigindo muito menos cálculo. Mas, como atual- mente aumenta a tendência para análises estatísticas mais completas e mais precisas, e com as facilidades de utilização dos computadores, que podem abreviar os morosos processos analíticos, pode ocorrer um incremento no uso de processos analíticos. Outro problema frequentemente verificado é o da existência ou não de relações definidas entre duas variáveis, que é resolvido pela correlação estatística. Os estatísticos desenvolveram métodos para se testar essas relações por intermédio do coeficiente de correlação. Este termo não deve ser con- fundido com a palavra correlação usada em geologia. A correlação esta- tística é um processo matemático que fornece um coeficiente, cujos valores variam de - 1 a zero e + 1 . Se o coeficiente de correlação der + 1 , existirá uma relação direta entre as variáveis; se o valor for - 1 , existirá uma relação inversa; e se o valor for zero, não existirá uma relação fixa entre as duas variáveis. A correlação estatística entre duas variáveis é chamada de correlação simples; e pode ser linear ou não-linear. É também possível testar as relações entre mais de duas variáveis por correlação múltipla, mas o método é algo mais trabalhoso. Aqui é apresentado um exemplo de correlação linear para ilustrar o método e indicar algumas vantagens e desvantagens na aplicação deste método estatístico aos dados sedimentológicos. Um estudo de seixos de praias de Little Sister Bay, Wisconsin (Estados Unidos) mostrou que, de uma maneira geral, existe uma relação entre média do diâmetro máximo e a média do grau de arredondamento. Foram estu- dadas onze amostras e, lançando-se em um gráfico a granulometria média em função do grau de arredondamento médio, foi obtido o diagrama da Fig. 40 (Krumbein e Pettijohn, 1938). A granulação foi tomada como va- riável independente e o arredondamento como variável dependente. Foi verificado que os pontos se espalham demais para permitir o traçado de uma linha reta entre os mesmos. Então nestes casos o coeficiente de cor- relação pode mostrar as possíveis relações entre as variáveis. Existem várias maneiras de se computar o coeficiente de correlação, dependendo sobretudo se os dados são agrupados ou não. No presente caso, os dados são do tipo não-agrupado. O seguinte método de computação foi escolhido porque cada passagem nos cálculos pode ser facilmente explicada, especialmente as transformações das variáveis. Na Fig. 40, o eixo horizontal foi escolhido como eixo do X e o vertical como eixo do Y. Portanto, os dados "brutos" são dados em unidades de X e Y. Na computação do coeficiente é conveniente considerar os desvios dos valores médios de X e Y. As passagens estão indicadas na Tab. IX (Krumbein e Pettijohn, 1938). As colunas 1 e 2 d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 1 1 7 0,70 0 , 6 0 0 , 5 0 0 , 4 0 0 IO 2 0 30 4 0 5 0 T A M A N H O M E O I O G E O M É T R I C O EM MM Figura 40. Diagrama de d ispersão de arredondamento m é d i o em função do d iâmetro m é d i o geométr icode seixos (Segundo Krumbein e Pettijohn, 1938) T A B E L A I X - C o m p u t a ç ã o do coeficiente de corre lação do arredondamento e granulometria geométr ica média (seixos de Little Sister Bay, Wisconsin) Granulometria média geométr . (mm) X Arredondamento méd io y X-Xm X Y-Ym y X2 r xy 52 0,62 + 22 0 485 0,0000 -0 ,00 43 0,74 + 13 + 0,12 169 0,0144 + 1,56 36 0,65 + 6 + 0,03 36 0,0009 + 0,18 32 0,71 + 2 + 0,09 4 0,0081 + 0,18 27 0,68 - 3 + 0,06 9 0,0036 -0 ,18 26 0,59 - 4 - 0,03 16 0,0009 + 0,12 22 0,49 - 8 - 0 , 1 3 64 0,0169 + 1,04 37 0,67 + 7 + 0,05 49 0,0025 + 0,35 24 0,64 - 6 + 0,02 36 0,0004 -0 ,12 19 0,56 - 11 - 0 , 0 6 121 0,0036 + 0,66 13 0,51 - 17 + 0,11 289 0,0121 + 1,87 331 6,86 1 278 0,0634 + 5,66 mostram os valores de X e Y, e as médias obtidas para cada uma dessas co- lunas são Xm = 331/11 = 30 mm e Ym = 6,86/11 = 0,62, etc. As colunas 3 e 4 representam as diferenças entre X e Xm e entre Y e Ym ; especificamente os valores são x = X~Xm e y = Y- Ym. Estes novos valores são chamados de valores de desvios. Nas colunas 5 e 6, os valores individuais de x e y são elevados ao quadrado e, na coluna 7, estão indicados os produtos de x e y. Pode-se notar que os valores da coluna 7 podem assumir valores positivos ou negativos. Estão indicados também os sinais de cada uma das colunas, e as somas das colunas estão indicadas na última linha horizontal da tabela. 118 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia O coeficiente de correlação é definido pela fórmula: onde p é chamado momento do produto de x e y, e ax e a são, respectivamente, os desvios-padrões dos valores de x e y em torno de Xm e Ym. Desde que os valores de x e y sejam expressos diretamente como desvios em relação a X e Ym, os três valores necessários são prontamente encontrados a partir dos valores da Tab. IX. Então teremos Y O c y ^ + 5 , 6 6 P N 11 ' ' 2 ^ = ^ 0 6 = 10,8; Logo, = 7 0,0057 = 0,07. = +0,68. N p 0,52 axay (10,8)-(0,07) Portanto, o coeficiente de correlação está situado entre 0 e + 1 , indi- cando que a relação esperada está presente, mas a correlação não é perfeita. Isso significa que a granulometria não é o único fator que controla o arredon- damento, uma conclusão que as evidências geológicas por si só fornecem. No entanto, o coeficiente de correlação mostra ao menos que, na praia em questão, não existe a correspondência entre tamanho médio grande e arre- dondamento médio alto dos seixos. O coeficiente de correlação não tem sido extensivamente aplicado em dados sedimentológicos, mas é um instrumento estatístico que, em certas situações, pode ser aplicado com proveito. Mas devem ser tomadas certas precauções no estabelecimento dc inferências baseadas nos coeficientes de correlação. O coeficiente é aplicável diretamente só se os atributos, que estiverem sendo correlacionados, forem variáveis contínuas, expressas como números sobre uma escala contínua. O caso mais comum envolve n amostras, cada uma tendo duas variáveis em comum, como no exemplo acima. Em certos casos podem ser envolvidos não somente atributos, como forma e tamanho dos grãos, mas também vários atributos mineralógicos. Por exemplo, pode ser usado com n amostras de minerais pesados para correlação de frequência de granada e hornblenda em cada uma. SIGNIFICADO GEOLÓGICO DA FORMA E ARREDONDAMENTO No momento, os dados sobre a forma e arredondamento e seus signi- ficados geológicos são incompletos, e portanto é difícil avaliar as suas pre- d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 1 1 9 priedades. Aparentemente, o arredondamento é um bom índice de maturidade de um sedimento (o conceito de maturidade será visto mais tarde). Somente areias retrabalhadas em vários ciclos sucessivos é que apresentam grãos moderadamente ou bem arredondados. Um conglomerado com seixos bem arredondados, embora mais maturo que um conglomerado com seixos mais angulosos, não indica o mesmo grau de maturidade que um arenito com partículas bem arredondadas. Tanto evidências de campo como resultados de laboratório mostram que o arredondamento de seixos ocorre muito mais rapidamente que em sedimentos arenosos. Uma outra diferença entre arenitos e conglomerados imaturos em relação aos maturos parece estar ligada às suas relações entre granulometria e arredondamento. Onde os sedimentos não foram derivados de sedimentos preexistentes e onde o transporte dos sedimentos ocorreu por uma distância muito curta, todas as classes granu- lométricas possuem aproximadamente o mesmo arredondamento. Os pro- dutos de abrasão prolongada, por outro lado, mostram diferenças marcantes entre os graus de arredondamento das diferentes granulações. As partículas maiores são muito melhor arredondadas que os grãos menores, Fig. 41 (Krumbein, 1941). 0,2 E R « C D A D E A R R E 30N D í H E Hl i 0 \ 18 2 0 0 2 4 S 8 10 12 14 16 D I S T Â N C I A EM M I L H A S Figura 41. Re lações entre tamanho (peso), arredondamento e esfericidade de fragmentos de calcário em função da distância, durante a abrasão (Segundo Krumbein , 1941) Por outro lado, a esfericidade reflete muito as condições de deposição no momento da acumulação, embora em grau mais limitado seja modificado também por abrasão. A menos que apareçam marcantes heterogeneidades devidas às estruturas presentes, os fragmentos mais arredondados são também mais esféricos. Exceto por leves modificações introduzidas por processos de abrasão, a forma final dos grãos de areia ou dos seixos parece ser determinada pela forma original. Exceto em casos muito especiais de formas de seixos indicando, por exemplo, origem glacial ou eólica, a forma somente não constitui um caráter decisivo na determinação da origem dos sedimentos. 1 2 0 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia Embora a forma seja menos significativa para relatar a história da abrasão dos sedimentos, é um fator importante na história do selecionamento granu- lométrico das partículas. Micas sedimentares ilustram muito bem esse fato. Tais materiais são depositados principalmente com areias finas e siltes, e não com areias grosseiras, com as quais estavam anteriormente associados na rocha matriz. A despeito de muitos testes realizados por muitos métodos diferentes, baseados na forma dos seixos, não foi ainda encontrado um método, de uso universal, para determinação dos ambientes de deposição, a partir dos dados morfométricos de seixos. Essa falta de um método geral é em parte devida a dificuldades na realização de medidas requeridas, e devida também ao enorme tempo requerido para a realização de tais medidas. Como conse- quência, o método morfométrico é muito raramente usado pelos geólogos de campo. Uma outra causa de certa relutância no uso desses dados provém da convicção de que a forma e o arredondamento das partículas podem ser bastante similares em diferentes ambientes. Além disso, raramente os estudos morfométricos têm estado envolvidos em pesquisas como processos básicos, mas sim, quase sempre, como métodos auxiliares. Para evitar, tanto quanto possível, circunstâncias desfavoráveis, deve ser feita uma amostragem criteriosa. Além disso, dos seixos coletados devem ser eliminados os seguintes: a) seixos com fraturas frescas distintas e b) aqueles que mostrem, sob cuidadosa observação, fortes heterogeneidades físicas, tais como seixos com lâminas de diferentes durezas (por exemplo, calcário inter- laminado com sílex). Quanto ao número de seixos, não devem ser coletados menos de 100/amostra. A experiência tem demonstrado, além disso, que é melhor selecionar seixos dentro do intervalo 20 a 80 mm de diâmetro. Par- tículas menores que 20 mm são bastante difíceis de serem medidas, especial- mente para arredondamento. Seixos com mais de 80 mmcomeçam a mostrar heterogeneidades que tendem a prevalecer sobre os outros fatores, que de- finem as características morfométricas. Quanto à litologia dos seixos, somente um pequeno número de rochas é utilizável para pesquisas morfométricas. São seixos constituídos pelo grupo de rochas, cuja resistência contra a abrasão é tão alta, que os processos de arredondamento experimentam um progresso muito demorado. Conse- quentemente, a grande dureza garante a preservação das características adquiridas pelos seixos em qualquer ambiente. Rochas sedimentares, que apresentam suficiente dureza, são: silexitos e quartzitos. Os silexitos são ideais para os estudos morfométricos, porque são resistentes ao desgaste. Quanto aos quartzitos e rochas relacionadas, aqueles de grãos mais finos são mais adequadamente estudados morfometricamente. Os quartzitos de granulação grossa tendem a ser mais rapidamente desgastados. Além disso, quando rochas de diferentes tipos mineralógicos são consideradas, adquirem diferentes graus de arredondamento com a mesma distância transportada. Assim, em trabalhos de correlação de diferentes depósitos, devem ser usados seixos de mesma litologia. d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 121 TEXTURA SUPERFICIAL DAS PARTÍCULAS Os detalhes mais íntimos da superfície dos grãos de rochas sedimentares, independentes da forma, do tamanho ou da composição mineralógica, são chamados de textura superficial dos grãos. Um grão pode apresentar a super- fície polida, fosca ou corroída. Um seixo pode ser marcado por estrias ou por marcas de percussão. Normalmente esses caracteres têm significado genético e podem ser critério de valor inestimável. Grãos foscos têm sido observados em produtos eólicos, enquanto que estriações têm sido comumente atribuídas a agentes glaciais. Entretanto essas generalizações constituem ainda questões sujeitas a muitas discussões. Kuenen, por exemplo, não acredita que o vento possa tornar os grãos de areia foscos, e ele considera que o fosqueamento das areias de dunas seja um efeito de processos químicos. O fato de grãos foscos serem geralmente ausentes nas dunas costeiras é facilmente explicável: é porque o tempo em que as areias estão submetidas a processos eólicos é ainda muito curto. Esse caráter sedimentológico ainda não pode ser convertido em gran- dezas mensuráveis, em muitos casos, principalmente em virtude da comple- xidade e variedade de tipos. Em parte, as dificuldades de medida e inter- pretação das texturas superficiais advêm do fato que muitos processos podem dar como resultado o mesmo tipo de caráter. Assim, grãos foscos podem ter origem eólica (abrasão), origem fisico-química (dissolução epigenética) ou crescimento secundário. A despeito dessas dificuldades, alguns sedimentos são portadores de grãos com características típicas, sendo de grande utilidade, mormente quando se usam esses resultados em integração com outros pro- cessos sedimentológicos. Segundo Krumbein e Pettijohn (1938), as texturas superficiais são mais convenientemente discutidas quando relacionamos com as granulações dos materiais onde elas aparecem. Há muitas feições presentes em seixos ou calhaus, que não podem estar presentes em grãos de areia. Isso se deve ao fato de os seixos e outros fragmentos maiores serem muitas vezes constituídos de pedaços de rochas (frequentemente com mais de um mineral), enquanto que grãos de areia são, quase sempre, uniminerálicos e de tamanhos micros- cópicos. Além disso, os seixos e calhaus são estudados macroscopicamente, enquanto que os grãos de areia são estudados ao microscópio. Atualmente existem autores que usam até o microscópio eletrônico na tentativa de carac- terização de feições superficiais peculiares às areias de diferentes ambientes geológicos. Krumbein e Pettijohn (1938) descrevem as texturas superficiais dos fragmentos, dividindo-os em dois grupos de granulações diferentes, tendo como limite 2 mm de diâmetro. a) Textura superficial de fragmentos grandes (maiores que 2 mm de diâmetro) As texturas superficiais dos fragmentos grandes caem em três categorias, conforme o grau em que sejam lisas, polidas ou foscas. A qualidade, se a 1 2 2 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia superfície é polida ou não, está relacionada ao grau de brilho da superfície. Esta propriedade está ligada primariamente à regularidade de reflexão. Muita difusão ou dispersão de luz resulta em superfície fosca. Em geral, a presença de cores claras indica bom polimento. Uma superfície brilhante pode ou não ser lisa; quando ela não é lisa, apresenta estriações, sulcos ou microcratera (veja Tab. X). T A B E L A X — Texturas de superfície de fragmentos maiores que 2 mm de d iâmetro Pode ser lisa ou arranhada, com sul- _ cos, microcrateras ou d e n t e a c õ e s A ' F o s c a o u B P o l l d a Pode ser fosca ou polida C . L i s a ou D . C o m marcas superficiais 1. C o m sulcos 2. Arranhada (estriada) 3. "Acanelada" 4. C o m microcrateras ou d e n t e a c õ e s Uma superfície lisa é aquela que não apresenta sulcos, estriações, micro- crateras, etc. Uma superfície lisa pode ser polida ou fosca. O antônimo de lisa é rugosa. A rugosidade pode ser devida a microcrateras ou pequenas irregularidades indescritíveis. Muita atenção tem sido prestada à natureza das marcas superficiais, quando elas estão presentes. Muitos seixos são arranhados ou estriados. Tais estriações podem ocorrer em conjuntos paralelos ou subparalelos, em rede ou espalhadas de maneira caótica. A relação das estriações com o eixo maior dos seixos pode ser importante e os desvios de direção em re- lação ao eixo maior podem ser medidos e estudados estatisticamente. Krumbein (dados inéditos, in Krumbein e Pettijohn, 1938), por exemplo, estudou estriações de calhaus glaciais e mediu os seus desvios em relação ao eixo maior daqueles calhaus. O ângulo entre o eixo maior e cada estriação foi determinado. Os dados obtidos foram então divididos em nove classes com intervalos de 10 graus e assim foi obtida a curva de frequência. Supõe-se que tais estudos estatísticos permitam revelar diferenças entre calhaus es- triados por um agente ou por outros agentes. Tais estudos detalhados nem sempre são decisivos mas podem ser im- portantes em certos depósitos glaciais. Uma distinção entre calhaus de depó- sitos de lavagem glaciais (outwash) e de calhaus glaciais verdadeiros pode ser estabelecida com base no arranjo das estriações. Tais seixos são sulcados ou esburacados (microcrateras). As superfícies dos seixos podem ser também cheias de microcrateras ou denteacões. As microcrateras podem variar na forma e tamanho. Marcas concêntricas de impacto são notáveis sobre alguns seixos, particularmente em seixos de quartzito. Marcas supostamente de impacto (chatter marks) ocorrem em seixos glaciais. São conhecidos também seixos com depressões ovaladas devidas à dissolução no ponto de contato de seixos sob pressão. d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 1 2 3 b) Textura superficial de fragmentos pequeno^ (menores que 2 mm de diâmetro) A textura superficial dos grãos de areia pode ser descrita como fosca ou polida e como lisa ou rugosa. Como está sugerido na Tab. XI , pode-se ter uma combinação dessas qualidades. T A B E L A X I — Texturas de superfície de fragmentos menores que 2 mm de d iâmetro Pode ser lisa ou rugosa A. Fosca ou B. Polida Pode ser fosca ou polida B. L i s a ou D . Rugosa 1. Estriada (geralmente por ação glacial) 2. Facetada (por crescimento secundário) 3. Fosqueada (superfície de vidro esmerilhado) 4. Corro ída (ação de d i s so lução) 5. Esburacada Uma partícula polida, como no caso dos seixos, é aquela que se apre- senta brilhante. Uma superfície fosca é aquela sem brilho.A superfície de uma partícula pode ser lisa ou rugosa, independente do brilho da superfície. Uma face lisa é aquela sem relevo, quando examinada sob um microscópio. Um seixo pode ter superfície lisa, quando visto a olho nu, mas sob o micros- cópio pode exibir pequenas rugosidades. Como aqui foi estabelecido, as definições das características superficiais dos seixos estão ligadas a observações a olho nu, mas para os grãos de areia as observações são sempre microscópicas. Uma superfície rugosa é aquela caracterizada por desigualdades, projeções ou microcrateras. Quando as irregularidades são lineares pode ser usado o termo estriada. Quando elas são de formas geométricas, resultantes de processos químicos, o termo "corroído" (etched) pode ser usado. Quando as irregularidades são muito pequenas resultam superfícies foscas, mas, quando as irregularidades são maiores, teremos superfícies esburacadas. Grãos de alguns minerais estão sujeitos a crescimentos secundários. O material de crescimento secundário é precipitado de soluções em continuidade crista- lográfica com o material original, e tais grãos exibem facetas microscópicas. Alguns autores têm atribuído importância bastante grande às texturas superficiais. Mas a grande dificuldade que se apresenta é o problema da quantificação adequada dessas características, principalmente porque o mesmo resultado pode ser alcançado por diferentes processos. Por exemplo, a super- fície polida pode ser produzida por dissolução ou, em alguns casos de seixos, pela deposição de filme vítreo, como de verniz do deserto. Do mesmo modo, uma superfície fosca pode ser resultante de ação rigorosa do vento, corrosão química ou crescimento secundário incipiente. Os nossos conhecimentos sobre as características superficiais das par- tículas são muito incompletos e inexatos. Mesmo as definições e classifi- cações usadas não são inteiramente satisfatórias. Somente algumas tentativas têm sido feitas no sentido da quantificação de dados relativos às estriações. O polimento dos grãos talvez possa ser quantificado também quando medido 1 2 4 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia com um fotômetro. Alguns autores têm tentado a utilização de microscopia eletrônica ou de contraste de fase para reconhecimento de detalhes, que caracterizem as texturas superficiais. OUTRAS CLASSIFICAÇÕES De acordo com os estudos de Bigarella e outros (1955) vários caracteres podem ser usados vantajosamente para determinações quantitativas das texturas superficiais das partículas sedimentares. O método quantitativo é baseado, fundamentalmente, em seis variáveis, isto é, em seis tipos de texturas mais importantes. Considerando-se a quantidade de trabalho sofrido pelo grão, foram estabelecidos três tipos básicos de texturas: sacaróide, mamelonado e liso. Cada um desses caracteres apresenta-se fosco ou polido. Segundo Bigarella, o primeiro caso implicaria em valores determinados de trabalho, enquanto que o segundo (fosco ou polido) se referiria a uma indicação grosseira da qual foi o meio de transporte. Na Fig. 42 tem-se o gráfico de distribuição das texturas superficiais nos sedimentos da Formação Guabirotuba (Bacia de Curitiba - PR) estudados por Bigarella e Salamuni (1962). F O S C O P O L I D O INTERV.IMM 0,5 - 1 0 ,25 -0 ,5 0,125-0,25 0 P 6 2 -0,125 ESF. 0,79 0,79 0,78 0,77 F O S C O P O L I DO INTERV.IMM) 0 , 5 - 1 0,25 -0,5 0,125-0,2 5 0,062-0,125 ESF. 0,80 0,79 0,76 0 ,77 ARRED 0,4 2 0,40 0,39 0,38 INTERV.IMM) ESF. ARREIA 0,5 - 1 0,79 0,38 0,25 - 0 , 5 0,78 0,36 0,125 - 0 , 2 5 0,77 0 ,35 0,062-0.125 0,76 0,34 SACAR0' lDE MAMELONADO L I S O Figura 42. Característ icas texturais de superfície dos grãos de areia de sedimentos. (A) D e p ó s i t o de várzea. (B) F o r m a ç ã o Guabirotuba. (C) Regolito (Curitiba, Pr) (Segundo Bigarella e Salamuni, 1962) d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 1 2 5 Rosfelder (1961) propõe os seguintes termos para descrição dos estados de superfície dos grãos em rochas sedimentares: a) superfície granulada; b) superfície fosca: estriada ou não estriada; e c) superfície polida: estriada ou não estriada. Os estudos até aqui feitos mostram que o problema é extremamente complicado, e serão necessárias muitas pesquisas mais para a compreensão dos fenómenos geológicos ligados às texturas superficiais dos grãos cons- tituintes das rochas sedimentares. FENÓMENOS DE ALTERAÇÃO DAS PARTÍCULAS SEDIMENTARES Serão aqui examinados os diferentes fatores que podem influir na de- gradação morfológica, eventualmente modificando também a textura super- ficial, das partículas sedimentares elásticas. Já de início, esses fatores podem ser divididos em dois grupos: os próprios do meio gerador e os ligados à natureza das partículas. Os primeiros poderiam ser chamados de fenómenos de alteração e o segundo grupo, de fatores de alterabilidade das partículas. Além disso, cada um dos grupos pode ser distinguido em ações anteriores e ações posteriores à deposição dos sedimentos. No quadro abaixo tem-se o resumo dos fenómenos de alteração: Ações mecânicas e físicas Pré-deposicionais: Características da erosão — Natureza do agente de transporte — Regime de transporte — Distância de transporte — Papel da população associada Pós-deposicionais: — Retrabalhamentos mecânicos — Efeitos de pressão e temperatura — Papel da população associada Ações físico-químicas Pré-deposicionais: — Características fisico-químicas do meio gerador inicial — Características fisico-químicas do meio de transporte Pós-deposicionais: — Características fisico-químicas do meio de deposição (diagênese = adição, recristalização e substituição) Ações mecânicas e físicas A alteração mecânica durante o transporte é o campo mais estudado dos fenómenos de degradação das formas. A abrasão mecânica sobre um material ocasiona o aparecimento de uma forma original de alta angulosidade. O meio de transporte — traduzido pela natureza do agente de transporte, pelo regime de transporte (laminar ou turbulento), pela distância de trans- 1 2 6 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia porte (distância unidirecional ou distância real resultante da integração de todos os caminhamentos da partícula, desde o local da fonte até o sítio de deposição) e pelo papel da população associada (papel do substrato de transporte e interferência do meio de transporte por intermédio de outras partículas) — não pode ser traduzido por uma única lei. Abaixo de um determinado diâmetro não se dá, por exemplo, o arredon- damento das partículas pelo desgaste mecânico, pois os grãos serão trans- portados em suspensão. Esse valor limite é diferente, conforme o meio seja água ou vento. Russell e Taylor (1937) determinaram o tamanho limite de 0,177 mm para as areias fluviais do rio Mississipi. Para os sedimentos da Fossa do Marajó, Amaral (1955) observou tamanho limite de 0,125 mm. Para os sedimentos eólicos da Formação Botucatu, Bacia do Paraná, foi verificado que este diâmetro limite é de 0,053 mm. Geralmente as ações mecânicas de desgaste das partículas se dão por abrasão e impacto. Os seixos maiores sofrem arredondamento mais rápido devido ao seu peso maior. No caso de haver seixos entremeados de areia, esta se desgasta mais rapidamente pelo efeito da trituração. Segundo expe- riências levadas a efeito em moinhos de bola industriais, a relação trituração: impacto: abrasão é de 40: 16:1. Contudo, na natureza, a abrasão é o processo mais importante graças ao efeito de seleção resultante do transporte. Nas experiências feitas em moinhos com esferas de calcário observou-se que, quando se perfizeram em rotação uma distância correspondente a 30 km de transporte,foram constatadas perdas, segundo a Tab. X I I . T A B E L A X I I — Perda por desgaste m e c â n i c o de bolas de calcário em moinho de bola D i â m e t r o o < de perda D i â m e t r o b 16 mm 9% 42% 32 mm 13% 28% 64 mm 28% 13% Em a representamos os resultados, quando as esferas foram colocadas no moinho de acordo com as classes granulométricas e, em b, as classes foram misturadas em um moinho ao mesmo tempo. Verificamos que no primeiro caso as partículas maiores sofrem maior impacto, enquanto que no caso b se dá o inverso. Isso porque, no caso b, as partículas menores sofrem mais devido ao impacto das grandes. Entre os fatores físicos, ainda, o substrato do meio de transporte, con- forme seja liso ou rugoso, a granulometria e a densidade dos materiais da população associada, intervêm igualmente como fatores importantes. Entre os fatores físicos pós-deposicionais, pode ocorrer o caso de retra- balhamento de sedimentos com eliminação ou adição de certas fiações, assim, quando a granulometria for encarada sob os aspectos estatísticos, sofrerá perturbação. d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 1 2 7 Ações fisico-químicas Sob o efeito de processos físico-químicos, as partículas sedimentares podem apresentar notável arredondamento, já desde a época da erosão. Por exemplo, temos os casos de seixos e matacões graníticos submetidos à disjunção esferoidal superficial. Um desequilíbrio nas condições físico- -químicas poderá dar origem à dissolução ou concrecionamento, acelerando assim o processo de alteração da forma angulosa para arredondada. Para um determinado meio, pode-se estabelecer a lista de espécies mineralógicas, que irão reagir, e conhecer, assim, o sentido e a natureza da reação. Inver- samente, para uma espécie mineralógica, pode-se estabelecer a lista de meios, nos quais ela irá reagir, e prever também o sentido e a natureza das reações. Entre muitos fatores, que influem no desenvolvimento das ações fisico-quí- micas, temos o pH da solução em contato com as partículas. O pH da solução é o logaritmo negativo da concentração de íon hidrogénio. O pH na natureza varia na maior parte dos casos entre 4 e 9. Na prática, os valores de pH de- finem as condições de alcalinidade ou acidez das soluções artificiais ou naturais. Outro fator importante é o_ Eh, que é o potencial de oxidorredução, que é a capacidade do ambiente natural em oxidar sulfetos ou propiciar quaisquer outros processos de oxidação ou redução. Potenciais de oxidorredução medidos na água do mar, por exemplo, indicam valores entre +0,3 volt para água aerada (com oxigénio) e -0,6 volt para água dos sedimentos de fundo, contendo matéria orgânica. Maiores detalhes fogem ao escopo deste com- pêndio e deverá ser visto no curso de geoquímica. ALTERABILIDADE DAS PARTÍCULAS Denominamos alterabilidade das partículas a facilidade com que as partículas podem sofrer os efeitos do meio transportador e/ou deposicional em função das características inerentes às partículas. Os fatores inerentes às partículas não podem ser submetidos à simplificação sem sofrermos os riscos de erros de interpretação. Uma partícula sedimentar reagirá à ação do meio, em relação à alteração de sua forma, em função dos seguintes fatores: Fator Intervém com respeito a: Dimensão Peso específico Forma reduzida Natureza mineralógica Propriedades mecânicas (resistência e dureza) População associada Modo de transporte (deslizamento, rolamento, saltitação e suspensão) Resistência e elasticidade estrutural da partícula População associada Modo de transporte Modo de transporte Equilíbrio físico-químico com o meio Conjunto de ações mecânicas do meio 1 2 8 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia Os três primeiros fatores são fáceis de serem entendidos. A resistência supramencionada se traduz pela dificuldade de rotura de um material sob efeito dinâmico (percussão). A dureza se traduz pela resistência ao desgaste e se mede pelo trabalho de um estilete sob o efeito de uma carga. Para exemplificar, tomemos entre os vários fatores inerentes à alterabili- dade das partículas, a influência da dureza. Fazendo-se um moinho rodar o equivalente a 8 000 km de percurso em cem dias de experiência, mas. agora, usando-se esferas de minerais de diferentes durezas foi verificado o resultado visto na Tab. X I I I . T A B E L A X I I I - Efeito de dureza no desgaste dos minerais por transporte D i â m e t r o Quartzo G r a n a d a Hornblenda Apatita (mm) d = 7 d = 6 d = 5,5 d = 5 2,0-1,0 24,2% 41,7% 82,2% 84,3% 1,0-0,5 22,4% 32,6% 57,4% 61,4% d = dureza do mineral ° ó = desgaste sofrido Deve ser lembrado que uma esfera de 1 mm de diâmetro, ao passar para 0,5 mm, perde 87,5% de seu volume. Assim, a perda do quartzo, tendo sido de cerca de 20 % de seu volume, conforme o quadro acima, a sua redução de diâmetro foi muito pequena. Significa que o grão de quartzo com 1 mm de diâmetro, ao perder 24% de seu volume, passou a ter 0,91 mm. Segundo Kuenen (1960), há quase um século já Daubrée (1879) havia concluído que a perda por desgaste dos grãos de areia é de somente 0,01 % em cada 1,5 km. Experiências do próprio Kuenen mostraram que cubos de quartzo grandes perdem 2% da massa após 150 km de percurso e os médios, somente 0,01 % na mesma distância percorrida. Assim, ele concluiu que um cubo de quartzo de 0,5 mm de lado precisaria dar cinquenta voltas ao redor da Terra pelo equador, para tornar-se esférico. Enquanto que um seixo se arredonda, muitas vezes, com percurso de 100 km ou menos, um grão de areia necessita de 30 000 km ou mais, de- pendendo de sua granulação. Esta é uma distância bem maior do que a en- contrada nos maiores percursos fluviais. Portanto, os grãos de areia de origem fluvial devem ter sofrido retrabalhamentos sucessivos através de vários ciclos de erosão. Nas areias marinhas o vaivém contínuo das águas facilita o arredon- damento dos grãos. Orientação de partículas sedimentares: petroiábrica sedimentar Sob determinadas condições de deposição, as partículas sedimentares ficam orientadas preferencialmente dentro das rochas sedimentares. Os seixos fluviais, por exemplo, podem ficar com estrutura imbricada pela superpo- sição sucessiva dos seixos com eixos maiores mergulhando contra o sentido de fluxo das correntes. Os seixos de tilitos podem também ficar com os eixos maiores orientados na direção do movimento de fluxo das geleiras. Assim d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 1 2 9 também os seixos marinhos podem ficar orientados com os seus eixos maiores dispostos paralelamente à linha da água. Numerosos autores têm descrito depósitos com partículas orientadas, mas poucos trabalhos com dados quantitativos são disponíveis. Por orien- tação primária entende-se o arranjo espacial das partículas componentes durante a deposição, sem considerar as subsequentes modificações pós- -deposicionais. O fecundo campo aberto pela petrofábrica de rochas ígneas e meta- mórficas sugeriu a aplicação de métodos similares nos estudos de rochas sedimentares. Nos materiais sedimentares, muitas vezes, as técnicas de aná- lises são mais convenientemente aplicadas do que nos casos de rochas ígneas e metamórficas. Nos últimos casos citados, sempre temos que trabalhar com seções delgadas, enquanto que nos estudos de sedimentos, por exemplo, de conglomerados pouco consolidados, as partículas individuais podem ser diretamente examinadas. Partículas menores requerem técnicas especiais de estudo. As medições de orientações das partículas são confinadas aos seixos e grãos de areia, em virtude das dificuldades de medição de partículas muito pequenas. Métodos para seixos foram descritos por Krumbein (1939), karlstrom (1952) e Harrison(1957). Para grãos de areia temos os trabalhos de Dapples e Rominger (1945), que foram suplementados por novos métodos propostos por Nanz (1955), Curray (1956), Martinez (1958), Nairn (1960) e outros. ELEMENTOS DE PETROFÁBRICA São considerados como elementos de petrofábrica em rochas sedimentares os componentes que apresentam desigualdades em suas dimensões. Assim, a orientação do eixo maior em elementos prolatos (em forma de bastão) ou do eixo menor em elementos oblatos (discóides) é comumente determinada. A orientação de um elemento de petrofábrica, por exemplo de um seixo, pode ser descrita em termos de dois ângulos. Um é a direção ou ângulo de azimute entre algum eixo do seixo e a direção norte, e outro é a inclinação ou mergulho entre o eixo do seixo em questão e o plano horizontal. O eixo maior pode indicar uma orientação preferencial, mas esse elemento pode estar ausente ou muito fracamente definido em seixos que se aproximam da forma discoidal. Neste caso, a orientação pode ser controlada pelas faces planas amplas do objeto. Se um seixo for convenientemente marcado no campo, de tal modo que sua posição original possa ser reproduzida no laboratório, será possível, usando-se o goniómetro, medir o azimute e o ângulo de mergulho, tanto do eixo maior de seixos em forma de bastão como do eixo menor dos seixos discóides (Karlstrom, 1952). 1 3 0 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia PADRÕES DE PETROFÁBRICA DE CONGLOMERADOS, ARENITOS E FOLHELHOS Embora existam muitos padrões de petrofábrica concebíveis em con- glomerados e arenitos, eles apresentam, na realidade, alguns arranjos rela- tivamente simples. Como a orientação de um elemento de petrofábrica, por exemplo um seixo, é dependente de sua forma, é interessante considerarmos os possíveis comportamentos dos seixos conforme as suas formas. As esferas, naturalmente, não apresentam nenhum padrão de petro- fábrica. A orientação dos seixos em forma de bastão pode ser descrita em termos de petrofábrica pela posição espacial do seu eixo maior. Os padrões, que mais comumente podem ser verificados, quando projeções dos pólos definidos pelos eixos são feitas em diagramas de igual área (Schmidt-Lambert), são os seguintes: a) petrofábrica isotrópica (fortuita); b) faixa acompanhando o plano da camada; c) um ou dois pólos no plano da camada (paralelo ou transversal à corrente predominante); d) uma faixa com mergulho contra a corrente; e e) pólo simples com mergulho contra a corrente (petrofábrica "monoclínica"). A orientação dos seixos de forma discóide pode ser defi- nida em termos de disposição espacial do seu menor eixo, que seria essen- cialmente o eixo normal à face do disco. Esses seixos podem ficar dispostos com o eixo menor perpendicular aos planos de acamamento das rochas ou podem aparecer imbricados com mergulhos contra o sentido de fluxo das correntes. As formas triaxiais podem aparecer com as projeções dos eixos maiores concentradas na faixa marginal dos diagramas, acompanhando o plano de acamamento, ou em forma de faixa ligeiramente inclinada em relação às camadas. Neste caso a faixa aparece somente em uma metade do diagrama em forma de um amplo círculo. Observações feitas em seixos por Wadell (1936) e Krumbein (1940, 1942) estão em concordância com a afirmação de Johnston (1922), que os eixos maiores dos seixos se dispõem geralmente na mesma direção do fluxo da corrente, e têm sido confirmadas também em estudos posteriores como os de Schlee e Murray, 1952 (in Pettijohn, 1957). Cailleux (1945) estudou as inclinações de cerca de 4 000 seixos em for- mações, variando em idade desde o Paleozóico ao Recente. Ele verificou que a imbricação é um fenómeno comum, e que as formações marinhas apresentam direções mais variáveis, enquanto o padrão direcional em seixos fluviais é notavelmente uniforme. A inclinação média contra a corrente em depósitos fluviais foi da ordem de 15 a 30°, enquanto que os depósitos marinhos mostraram inclinações de somente 2 a 12°. Ele observou também que, em geral, os seixos menos achatados possuíam inclinações menores que os mais achatados, que os seixos maiores estavam mais bem orientados que os me- nores, e que seixos em contato uns com outros estavam mais bem orientados que os isolados. Orientação preferencial de seixos em tilitos foi usada por Richter (1932, in Muller, 1967), Krumbein (1939), Holmes (1941), Karlstrom (1952) e outros. Foi verificado que, em geral, os eixos maiores são paralelos à direção de d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 131 fluxo do gelo, coincidindo com as direções determinadas por processos independentes, tais como estriações do embasamento, etc. Segundo Holmes, existe um segundo padrão, menos frequente, determinado por seixos com os eixos maiores perpendiculares à direção de movimentação das geleiras. A petrofábrica das areias e arenitos é um assunto menos conhecido que dos conglomerados, principalmente em virtude das dificuldades de estudo dos materiais de granulações mais finas. Têm sido feitas tentativas de medição de eixos maiores dos grãos ou do eixo cristalográfico, seguindo a premissa que o eixo maior e o eixo cristalográfico estejam intimamente ligados. Wayland (1939) e Ingerson e Ramisch (1942) observaram realmente que o eixo maior dos grãos elásticos de quartzo e o eixo cristalográfico possuem a tendência de coincidirem. Dapples e Rominger (1945) demonstraram experimentalmente que os azimutes dos eixos maiores dos grãos de quartzo tendem a ficar orientados paralelamente à direção de fluxo das correntes (tanto em ambiente aquoso como eólico) e, também, que as extremidades maiores dos grãos assimé- tricos mergulham contra as correntes (62% no caso dos grãos depositados em água). Menor concentração de eixos maiores foi também observada com disposição transversal às correntes preferenciais. Alguns dos arenitos estudados por Schwarzacher (1951) mostraram uma tendência para "duas máximas", sendo a bissetriz do ângulo definido pelas máximas, paralela à direção da corrente. As partículas de minerais argilosos, especialmente de argilo-minerais, são de hábito micáceo e durante a deposição elas são dispostas caoticamente. Depois, por peso dos sedimentos superpostos ocorre a compactação dos sedimentos, que faz com que os minerais de argila sofram rotação até se disporem em um mesmo plano, ganhando então orientação paralela ou subparalela. Tais reorientações fazem com que a porosidade seja reduzida, atribuindo concomitantemente a fissilidade característica dos folhelhos. Keller (1946) mostrou que algumas argilas refratárias possuem as placas de argilo-minerais dispostas caoticamente e acreditou que esse fato seria resultante do crescimento pós-deposicional das placas em gel argiloso. Existem também trabalhos sobre petrofábrica de calcários e dolomitos, mas parece que a maior parte dos padrões descritos pelos autores, que estudaram este fenómeno, pode ser atribuída a crescimentos por cristalização secundária em poros e outras aberturas produzidas por implantações de estruturas drusiformes. Estruturas orgânicas, tais como conchas de lamelibrânquios, também respondem ao fluxo das correntes. As valvas soltas, de forma côncavo-convexa, podem se dispor indiferentemente com uma das faces para cima, mas, se sofrerem a ação de uma corrente, a orientação se tornará uniforme e, neste caso, o lado convexo ficará voltado para cima. Portanto a orientação de fósseis nas rochas sedimentares pode ser índice da direção de fluxo e também um índice de topo e base de camadas em zonas perturbadas por dobras e falhas. 1 3 2 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia MÉTODOS DE MEDIÇÃO DE ORIENTAÇÃO DAS PARTÍCULAS Entre as rochas sedimentares as técnicas de estudo da petrofábrica são, muitas vezes, aplicadas com maispropriedade do que em rochas ígneas e metamórficas. Nos casos de rochas cristalinas é sempre necessário tra- balharmos com seções delgadas orientadas, enquanto que nos casos de rochas sedimentares podein-se estudar conglomerados pouco consolidados, em que as partículas individuais possam ser examinadas macroscopicamente com grande facilidade. Partículas menores, tais como de arenitos, exigem certa- mente técnicas especiais, mesmo no estudo de petrofábrica de rochas sedi- mentares. Técnica de cimentação artificial de í sedimentos inconsolidados, usando-se certos tipos de resinas sintéticas, pode ser de grande valia nos casos de estudos de arenitos. ORIENTAÇÃO DE SEIXOS EM CONGLOMERADOS A técnica para medição da orientação de seixos em conglomerados envolve duas fases distintas: uma de campo e outra de laboratório. TÉCNICA PARA COLETA DE SEIXOS A superfície vertical de um afloramento é limpada para se obter uma área de amostragem retangular, que abranja, no mínimo, cem seixos. Os instrumentos necessários nesta fase de coleta são: bússola Brunton, lápis preto duro, martelo e um dispositivo para marcar os traços de referência nos seixos. Este dispositivo pode ser confeccionado com plástico flexível, de cerca de 1 mm de espessura e 15 cm de lado, onde são feitas ranhuras retilíneas e perpendiculares entre si, afixando-se também um nível de bolha em alinhamento com a ranhura horizontal, como na Fig. 43. O dispositivo serve para fazer traços de referência nos seixos, como se vê na Fig. 44. Antes de mais nada, depois que a superfície vertical estiver limpa, ela deve ser orientada e para isso toma-se a direção do afloramento, que pode ser tanto em sistema de orientação por quadrantes ou no sistema azimutal. O tamanho da superfície de coleta vai depender da densidade de distribuição Figura 43. Dispositivo para marcar traços Figura 44. Traços de referência e a pos i ção de referência em seixos de seixos em afloramentos d e t e r m i n a ç ã o das propriedades das rochas sedimentares em laboratório 1 3 3 dos seixos. Devem ser escolhidos, de preferência, seixos em que a relação diâmetro mínimo: diâmetro máximo seja, no mínimo, 1:1,5, sendo melhor se for 1:2 Escolhido o seixo,, utilizando-se o dispositivo acima descrito, são marcados dois traços de referência, tomando-se o cuidado de prolongar as extremidades da linha horizontal até as partes laterais do seixo. Em seguida, este seixo é retirado do afloramento e guardado em saco de amostra. Assim se vai procedendo, sucessivamente, até coletar um número mínimo de cem seixos por afloramento. TRABALHO DE LABORATÓRIO O trabalho de laboratório compreende duas etapas: a) Reprodução da posição original do seixo e medida de azimute a ângulo de inclinação do eixo maior. b) Representação gráfica e interpretação dos resultados. Se os seixos estiverem muito sujos e necessitarem de limpeza, os traços são reforçados com tinta nanquim, espera-se até secar e depois são lavados. Após esta operação, cada seixo é colocado no centro de uma circunferência graduada, sobre um pedaço de massa de moldar (tipo plastilina), com o traço curvo, mais longo, do seixo coincidindo com o plano horizontal. Para se obter essa orientação usa-se uma lâmina de vidro na posição vertical, montada sobre um suporte (base) de madeira, contendo a lâmina, diversos traços paralelos e horizontais. Quando o traço mais longo (curvo) do seixo estiver coincidindo com um dos traços da placa de vidro, teremos orientado o seixo na posição encontrada originalmente no campo, por ocasião da coleta. Além disso, é necessário que a base da placa de vidro esteja orientada na mesma direção do barranco c medida no próprio afloramento durante a coleta dos seixos. Assim, tendo-se reorientado o seixo, verifica-se para que rumo (azimute) mergulha o eixo maior do seixo, ângulo que é fornecido diretamente na circunferência graduada de papel sobre a qual está situado o seixo, e o ângulo de inclinação do eixo maior é obtido com o clinômetro da bússola Brunton ou com um transferidor (veja a Fig. 45). Os dados de azimute e inclinação dos eixos maiores dos seixos são pro- jetados no diagrama de Schmidt-Lambert ou igual área. Este diagrama permite representar as posições relativas dos pontos que representam os seixos, sem deformação, o que não acontece com o diagrama de Wulff, porque neste as áreas são menores nos pólos. Os seixos serão localizados nos diagramas, quanto à sua orientação, considerando-se que o azimute aumenta no sentido horário (de 0 a 360°) e o ângulo de inclinação aumenta da periferia da circunferência para o centro (de 0 a 90°). Depois da projeção, as nuvens de pontos obtidos podem ser envolvidas por curvas que representem porcentagens de frequências. Para a contagem dos pontos, confeccionamos os contadores de centro e o de pe- riferia, os quais têm a área interna de orifícios circulares correspondente a 1 % da superfície total do diagrama. Antes de começar a contagem, a área
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