Buscar

O tempo como pena, por Ana Messuti

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 3 páginas

Prévia do material em texto

FICHAMENTO 
MESSUTI, Ana. O Tempo como Pena. págs. 43 a 50. 
São Paulo, Revista dos Tribunais, 2003 
 
 
Identificação do Aluno 
Nome Matrícula Turma 
HELSON NUNES DA SILVA T2AA 
Identificação da Disciplina 
Código e Descrição Fichamento Professor 
DIR112 – DIREITO PENAL I Número 2 Nestor Távora 
 
 
Ana Messuti é bacharel em direito pela Universidade de Buenos Aires, 
onde iniciou a carreira docente em Filosofia do Direito. Obteve o título de Doutora (PhD) 
em Direito pela Universidade de Salamanca. Foi funcionária das Nações Unidas em 
Viena y Genebra e se especializou em Filosofia do Direito Penal pela Universidade “La 
Sapienza” de Roma, abordando principalmente os temas relacionados com o tempo e a 
pena, a partir da perspectiva da hermenêutica filosófica. Continuou sua atividade 
acadêmica no Instituto Vasco de Criminologia de São Sebastião, na Escola de 
Magistratura da Cidade de São Paulo, Brasil, na Universidade de Genebra, na 
Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires e na Universidade de Rosário 
(Argentina). 
 
O TEMPO COMO PENA 
O capítulo 1.11 – O tempo como Pena – aborda um viés da utilização do 
tempo como algo que transcende a medida da pena, remetendo à relação entre tempo e 
o próprio direito. Esclarece logo no início, que, nesse contexto, o conceito de tempo 
supera o fluxo natural dos instantes para se tornar algo bem abstrato, bem próprio do 
direito. 
Situando que o direito procura libertar-se da dúvida, assevera que as 
normas jurídicas criam um mundo que não conhece as dúvidas, onde não haveria futuro, 
porquanto este teria sido antecipado nas normas. 
Em seguida, considerando que o direito se concretiza na realidade ao 
passar do mundo “destemporalizado”, afirma que o direito deve retornar à dimensão 
temporal de que se separou, processo que é desenvolvido pela aplicação da norma 
jurídica. 
Assim, discorre sobre três dimensões de tempo: i) o tempo natural - fluxo 
natural dos instantes; ii) tempo objetivo – que transcorre igualmente para todos, 
independente de qualquer aspecto do sujeito; iii) o tempo subjetivo – aquele que está 
vinculado aos reflexos gerados na consciência de cada indivíduo. 
Nesse ponto, a autora passa a desenvolver a tese de que a pena quando 
aplicada ao sujeito transcorre de duas maneiras distintas: i) seguindo o fluxo natural da 
vida biológica do indivíduo, mas também ii) experimentado na consciência do sujeito 
que a vive, afigurando-se no tempo subjetivo ou tempo da consciência. 
FICHAMENTO 
MESSUTI, Ana. O Tempo da Pena. Págs. 43 a 50 
 
 
A partir de então, passa a discorrer acerca do tempo subjetivo, 
caracterizando-o como o próprio tempo do ser, como um tempo intraduzível, 
insubstituível. 
Com efeito, a pena vivida por cada pessoa torna-se uma experiência 
intransferível e única, desafiando o fato de a pena estar prevista e quantificada 
objetivamente, de modo uniforme na norma. 
A autora explica que o tempo da pena está relacionado à qualidade do 
tempo que se vive durante a pena, interferindo nas atividades realizadas durante esse 
período, que segundo ela, não serão verdadeiramente atividades, por estarem 
impregnadas pelo tempo e espaço da pena. 
Após isso, faz um paralelo entre espera e reflexão, atribuindo à espera a 
capacidade de envolver o ser, suspendendo suas atividades e imobilizando-o na 
angústia que lhe causa. Sobre a reflexão, considera que ela é decorrente da espera, 
período em que o ser se encapsula, procura expor o mínimo de si às agressões do 
ambiente hostil, separando-se do ambiente e trançando os seus próprios limites. 
Na opinião da autora, as relações dentro da prisão não ajudam o sujeito a 
recordar-se de si mesmo. A condição a que está submetido mexe com sua subjetividade 
e tem o condão de criar uma fronteira com o mundo externo em que vivia. Já não mais 
recebe o estímulo de um mundo que lhe fechou as portas. 
Assevera que a relação dentre os muros da prisão não é livre, é apenas 
uma consequência imposta pelas circunstâncias da pena a todos aqueles que foram 
efetivamente excluídos da comunidade de pessoas. 
Por fim, a autora fecha o capítulo se referindo a uma canção de Santo 
Agostinho que diz que a pena antes de começar é pura expectativa, pois a medida que 
transcorre vai passando à memória, o presente da pena sendo só uma passagem do 
que se espera para o que se recorda. O presente será a simultaneidade do tempo com a 
prisão, que é o espaço da pena. 
No bloco seguinte – Conclusão –, a autora discute o problema da justa 
proporção entre delito e pena, relacionando-a às finalidades não retributivas atribuídas 
à pena de prisão. 
No primeiro viés, explica que a prisão teria se tornado praticamente o único 
meio de castigar os delitos, uma espécie de instrumento de defesa da sociedade e de 
seus membros que se valem disso para impedir os culpados de causar danos – 
medida de segurança. 
Prossegue com a segunda justificativa, qual seja que a prisão é apenas 
um meio para corrigir e recuperar o delinquente. Como se o encarceramento fosse 
um serviço que a comunidade presta àqueles que com suas condutas demonstraram a 
necessidade de serem submetidos a uma terapia corretiva. 
Em ambos os casos, persiste igualmente o problema da fixação da 
duração da pena. Faz, então, questionamentos críticos: Quando se teria certeza de que 
o sujeito deixou de representar um perigo à sociedade, ou ainda que as medidas o 
tenham recuperado? Quem seria competente para definir isso? O juiz ou um profissional 
FICHAMENTO 
MESSUTI, Ana. O Tempo da Pena. Págs. 43 a 50 
 
 
da área de saúde? Qual seria o instrumento adequado para a pena, uma sentença ou 
uma prescrição médica? 
Diante de tantas dúvidas suscitadas, a autora alega que o direito estaria 
imerso a incertezas que sempre procurou evitar. Não só quanto à duração da pena, mas 
também quanto à função que efetivamente cumpriria. 
No que tange ao tempo de pena, Messati considera que a melhor prova de 
“saúde” que um delinquente poderia dar para justificar sua saída do sistema prisional 
seria a capacidade de levar uma vida respeitável junto ao seu próximo, no seio da 
comunidade. Mas surgiria a dúvida novamente: quanto tempo deveria ficar em 
“observação” até que possa considerar-se “curado”? 
Logo após, oferece para reflexão o questionamento acerca do ânimo da 
comunidade de enfrentar o risco do retorno dos detentos, sem provas determinantes de 
sua inocuidade. 
Assim, critica duramente o sistema que impõe a duração da pena, ao 
afirmar que o faz fixando o tempo tão somente em função na gravidade do delito, sem 
levar em consideração as finalidades que, em tese, justificariam a pena (medida de 
segurança e recuperação). 
Complementa, alegando que não faz sentido esse modelo de fixação de 
pena, na medida em que “a pena não seria pena”, senão uma “terapia”. 
Dessa forma, conclui que há uma contradição muito forte entre o castigo 
que realmente se pretende dar ao sujeito que cometeu a conduta indesejada e as 
finalidades com que a sociedade busca justificar a pena. Assevera que a sociedade 
submete o condenado à prisão para castigá-lo, muito embora justifique de forma diversa. 
Para Messati, a pena de prisão se afigura em exclusão do espaço social, o 
que implica dizer que a finalidade primordial da pena é a exclusão social. 
Assim sendo, o problema continua sendo determinar a extensão qualitativa 
e quantitativa do delito e da pena. 
Por derradeiro, a autora considera impossível chegar a uma 
determinação temporal quantitativa e abstrata para a pena, uma vez que só a 
consciência do sujeito teria condições de converter a magnitude para intensidade, na 
medida em que a intensidade é um fenômeno interior, pessoal, íntimo e intransferível.

Continue navegando