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6 dicas de portugues que voce nao encontra nas gramaticas

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Ana Luíza Gabatteli
VILA BRASIL - PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROS 
SEIS DICAS DE PORTUGUÊS DO BRASIL 
QUE VOCÊ NÃO ENCONTRA NAS GRAMÁTICAS
Ana Luíza Gabatteli
BRASILIA | ABRIL DE 2015
Sumário
APRESENTAÇÃO 3
A AUTORA 4
“Ooolha…” Se você escutar isso, você já sabe que… 5
“Pois não” significa sim? =O 7
“Pois é”…Sabe o que é? 10
Verbo dar e seus vários significados 11
Você sabe usar o diminutivo em português? 19
Conclusão 28
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APRESENTAÇÃO
Vila Brasil é uma escola de Português para estrangeiros, localizada, 
em Brasília que tem como foco a aprendizagem do aluno. Nossos 
cursos são planejados de acordo com as necessidades e interesses 
dos nossos estudantes, empresas, ONGs e embaixadas clientes, le-
vando-se em conta temas atuais e diversificados relativos à cultura 
brasileira.
Contamos com um corpo de profissionais qualificado na área de Por-
tuguês para estrangeiros que acompanha as tendências acadêmicas 
do Brasil e do exterior.
Nosso maior objetivo é inserir nossos alunos na cultura brasileira e 
ensinar o português do Brasil muito além da gramática. Este ebook 
faz parte de um projeto de ensino gratuito de português por meio 
de exemplos reais retirados de nossa experiência com estrangeiros, 
com materiais autênticos e exercícios planejados durante nossa atu-
ação como professores na área. 
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A AUTORA
Eu nasci em Brasília e desde sempre pensava em ter uma profissão 
que me fizesse conhecer o mundo. Então me for-
mei em Letras - Português do Brasil como Segunda 
Língua pela Universidade de Brasília e, atualmente, 
sou mestranda em Linguística Aplicada também 
pela Universidade de Brasília. 
Ensino português para estrangeiros desde 2008, 
época em que estava na graduação. Se você me 
perguntar o que eu mais gosto na minha profissão, 
digo que é o fato de cada dia aprender mais sobre outras culturas 
e, principalmente, sobre a minha própria. A cada aula, conheço um 
pedaço do mundo sem sair do lugar. 
Ana Luíza Gabatteli
ana@cursovilabrasil.com.br
Ensinar minha própria língua é um desafio a cada dia. Um desafio 
apaixonante, pois ensinar português é compartilhar cultura e 
hábitos, é fazer sentido, é aprender e ensinar uma nova 
forma de ver o mundo 
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“Ooolha…” Se você escutar isso, 
você já sabe que…
Ou a pessoa não está sendo 100% sincera com você ou não sabe 
bem sobre o assunto em questão. A entonação é essencial nesse 
contexto, pois pode mudar totalmente o significado da frase.
Por isso, se você escutar: 
Transcrição: Olha! Minha amiga está na televisão!
Transcrição: Olha que bonito este quadro!
Não se preocupe. O(a) brasileiro(a) só quer chamar sua atenção para 
algum acontecimento, mas se você perguntar a um(a) amigo(a) e 
ele(a) responder com um “olha” mais alongado como este:
O significado muda totalmente! Eu nunca tinha prestado atenção 
nisso até que um aluno, durante nossa aula de português para es-
trangeiros, me falou que sempre espera algo ruim ou não muito 
sincero após esse oooolha alongado. hehe
Escute os exemplos:
Transcrição do áudio: 
- Você gostou da minha blusa nova?
- Ooooolha...ela é bonita, mas eu não usaria.
Neste caso, saiba que ele(a) provavelmente achou sua blusa feia.
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E se você pedir informação para alguém sobre onde fica a farmácia, 
por exemplo, e essa pessoa responder:
Transcrição do áudio: 
 - Ooolha... (acho que) a farmácia fica na 3ª rua à esquerda.
Provavelmente essa frase virá acompanhada de um “acho que” ou 
de um “se não me engano”. Eu, particularmente, perguntaria para 
outra pessoa antes de andar até lá e dar com os burros n’água! hehe 
Fica a dica!
Outra situação:
Transcrição do áudio: 
- Essa rua é perigosa?
- Oooolha...não muito.
Você andaria nessa rua sozinho(a)? Eu não.
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“Pois não” significa sim? =O 
Logo no início da minha carreira de professora de português para es-
trangeiros, eu tinha uma aluna canadense/sul-coreana que uma vez, 
depois de aprender a como pedir ajuda às pessoas em português, 
entrou em uma loja em um shopping e foi logo perguntando:
- Olá, você poderia me ajudar?
E, automaticamente, a vendedora respondeu:
- Pois não
Minha aluna simplesmente virou e saiu da loja, sem entender a 
grosseria da vendedora.
Quando ela me contou isso, imaginei a reação dela, mais ou menos, 
como esta:
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Coitada! Aqui no Brasil pois não, quando usado em uma resposta, 
significa o mesmo que dizer, “sim” ou “claro” e é bastante educado. 
Veja outro exemplo retirado do texto “O que é jeitinho?”, publicado 
no Jornal do Brasil, em 22 de setembro de 1999 (Leia na íntegra).
[…]
Cena três – Um americano, o jornalista John Allius, que viveu 
muitos anos no Brasil; uma feijoada insistente e uma família do 
interior paulista, muito hospitaleira.
– O senhor quer mais um pouquinho de feijoada? (pela quarta
vez).
– Pois não – diz Allius, e faz menção de retirar o prato da mesa.
– Ora, que maravilha! O senhor gostou mesmo da minha feijoa-
da – diz a dona da casa despejando mais uma generosa concha 
de feijão do prato do gringo aterrorizado.
[…] 
O texto mostra outro exemplo, similar ao da minha aluna, de falha 
na comunicação entre um estrangeiro e um brasileiro, pois o ameri-
cano pensava que estava recusando um novo prato, mas na verdade 
estava dizendo SIM, da forma mais educada possível! Hehe 
O linguista Ataliba T. de Castilho comenta essa expressão em sua
entrevista no Programa do Jô (20:42):
Clique aqui para assistir ao vídeo
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Já quando usado em uma pergunta, “pois não?” significa “Como 
posso ajudar?”, “O que você precisa?”. Por exemplo, você vai a um 
restaurante, chama o garçom e ele diz:
Garçom: Pois não.
Cliente: O cardápio, por favor. 
Li em alguns lugares que essa expressão é a contração da expressão 
“pois não havia de”, que mostra que é impossível dizer não para o 
pedido, mas eu, sinceramente, acredito que seja muito mais fácil 
entender seus usos atuais do que voltar na história e descobrir de 
onde vem.
Se quiser rir mais um pouquinho dessas falhas de comunicação, 
indico a leitura da crônica Pá, Pá, Pá, de Luís Fernando Veríssimo, 
publicada no livro O Analista de Bagé”, L & PM Editores Ltda – Porto 
Alegre, 1981, pág. 58. 
Clique aqui para ler a crônica
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“Pois é”…Sabe o que é?
Na mesma linha de expressão pois não, pois é também é outra 
expressão muito usada aqui no Brasil e mais simples de ser enten-
dida. Pois é é uma expressão que utilizamos para concordar com 
algum comentário ou preencher um vazio na comunicação, ou seja, 
você fala pois é quando não tem mais nada importante, consistente 
ou útil para dizer. Essa expressão é muito comum em conversas de 
elevador, com aqueles vizinhos que você só cumprimenta por edu-
cação e falasobre o tempo:
- Hoje tá muito quente, né?
- Pois é... (é verdade...)
Também usamos para iniciar uma despedida, assim que a conversa 
vai chegando ao final e ninguém tem mais nada para completar:
- Pois é... nós temos que ir agora. Gostamos 
muito do convite.
Quando falamos de um assunto que não é muito interessante 
para nós e apenas concordamos para não ficarmos em silêncio:
- Nossa! Você viu o aconteceu com o primo do 
Dudu? Ele está no hospital.
- Pois é...muito triste.
Pois é... é só isso... concordar com algo e não deixar a conversa mor-
rer com o seu silêncio mortífero! hehe
A crônica Pá, Pá, Pá, de Luís Fernando Veríssimo, também fala sobre 
essa expressão de uma forma cômica, não deixe de ler.
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Verbo dar e seus vários significados
Meus alunos estrangeiros costumam dizer que em português as 
palavras têm muitos significados (isso é verdade, a maioria das 
palavras de qualquer língua é polissêmica), mas há algumas palavras 
que os incomodam mais que outras, pois, muitas vezes, eles sabem 
o significado do dicionário, mas não sabem utilizá-las em diferentes
contextos.
Entre as palavras que mais causam confusão nos alunos, de acordo 
com a minha experiência no ensino de português para estrangeiros, 
é, sem dúvida, o verbo dar. Basta dar uma olhada no dicionário 
Aulete para ver as 34 definições dadas ao verbo, somadas às 21 
expressões formadas com ele.
Nada animador, não é? Costumo dizer aos meus alunos que apenas 
com um bom tempo de exposição à língua (falada, de preferência), 
eles começarão a entender os seus sentidos nos mais diversos con-
textos. Não adianta memorizar uma lista de significados se você 
nunca usá-los ou escutá-los na vida, não acha?
Então, vou apontar alguns dos diversos significados do verbo dar que 
considero mais recorrentes e vou contextualizá-los para ficar mais 
fácil de lembrar. 
Fazer, executar:
Fonte: Bem Paraná
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Bianca Bin pedala e encontra o marido, Pedro Brandão, em praia 
no Rio
Bianca Bin continua focada em manter a boa forma e não perde a 
chance de dar uma caminhada ou pedalada ao ar livre durante uma 
brecha nas gravações da novela “Boogie Oogie”.
Fonte: Pure People
Ser possível:
Não Deu
Aviões do Forró
Não deu pra te esquecer
Não deu pra deixar de te amar
Não deu, não deu
Tentei fugir de você, me afastar, me esconder
Mas não deu, foi tudo em vão, brigar com coração
Que só pensa em te amar, não tem como evitar
[…]
Clique aqui para escutar a música
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Bater, estapear:
Dar na cara = dar um tapa 
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Ser suficiente: 
Imagem pessoal
R$10 dá? = R$10 é suficiente para comprar?
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Resultar/ter um determinado resultado: 
Fonte: Brigadeiro e Internet 
Relacionar-se (dar-se bem/mal com alguém) 
“Eu não me dou bem com nada, sabe? E quando 
eu digo nada, é nada mesmo. Não sei lidar com 
partidas, mentiras, comigo mesma. É compli-
cado demais. Primeiro que todo mundo entra 
na minha vida e vai embora, eu já devia estar 
acostumada mas não dá. Não dá porque… Porque 
sim! […]” Amanda Costa 
Fonte: Pensador.uol.com.br
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Fonte: Wikihow
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Fazer sexo: 
Sim, esse pode ser o significado mais polêmico e delicado para um 
estrangeiro. Não sei se vocês sabem, mas o humor do brasileiro está 
muito ligado a piadas e brincadeiras ligadas ao tema sexo. Então, se 
um(a) estrangeiro(a), equivocadamente, disser, por exemplo,
-Ontem eu dei para o Fulano no restaurante. 
(ou seja, ontem eu fiz sexo com o Fulano no restaurante)
Essa frase pode causar muuuitas risadas entre os brasileiros e isso 
nunca será esquecido e entrará para a lista de constrangimentos do 
coitado do estrangeiro.
Mas você pode se perguntar, “mas por que um estrangeiro diria algo 
assim?” Muito simples, alguns materiais de português para es-
trangeiros publicados no Brasil trazem a expressão “dar para” com o 
sentido de “estar de frente a algum lugar”, por exemplo:
- Minha janela dá para árvores, uma quadra de 
esportes e para outros prédios (como na foto abaixo)
Clique para ampliar
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Uma vez, conversando com outra professora de português para es-
trangeiros, ela me disse que estava explicando justamente esse sen-
tido do verbo dar (de localização, não de sexo) para uma turma de 
uns 8 alunos e, então, surgiu uma pergunta que só os estrangeiros 
conseguem fazer (Sim, ensinar a própria língua não é fácil, pois 
naturalizamos muitas expressões e são os estrangeiros que jogam na 
nossa cara que aquilo não faz sentido em todas as situações hehe). 
Uma aluna japonesa, sentada em frente a outro aluno, então disse (O 
nomes são fictícios, ok?):
- Professora, então eu posso falar “A Mayumi dá 
para o David?” 
(A aluna estava sentada de frente e costumava falar dela 
própria na 3ª pessoa)
A professora me disse que quase desmaiou em sala, pois nunca 
tinha pensado que uma pergunta dessa surgiria em sua aula (sempre 
surgem!) e, pior, ela teve que explicar que aquela frase não tinha o 
sentido de localização e isso causou um grande desconforto em sala 
de aula. 
O trabalho de professor de português para estrangeiros é assim mes-
mo, não podemos fingir que essa situação nunca acontecerá na vida 
dos alunos, é importante sermos sinceras e profissionais ao explicar 
questões delicadas como essa.
Então, ATENÇÃO! Se depois do verbo DAR PARA aparecer uma pessoa, 
significa SEXO. Já se aparecer um local, significa estar de frente a.
- Minha varanda dá para a praia (local) / Essa 
porta dá para a cozinha (local).
Dá para acreditar que esses são só alguns significados desse 
verbo tão pequeno?
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Você sabe usar o diminutivo 
em português? 
Eu tive um aluno americano que morou muito tempo no Chile e veio 
para Brasília a trabalho. Um dia ele chegou um pouco atrasado na 
aula e se explicou dizendo 
-Desculpe, eu fui ao shopping para comprar uma 
roupinha.
Ao escutar a palavra roupinha, pensei logo que esse aluno teria 
problemas com piadas e brincadeiras de mau gosto por parte dos 
brasileiros se não aprendesse ali, naquele momento, o cuidado que 
ele deveria ter com palavras no diminutivo em português.
Mas você deve estar se perguntando “Mas qual é o grande problema 
de usar essa palavra?” Pois bem, os diminutivos nem sempre in-
dicam diminuição de tamanho. Dependendo de como são colocados 
no contexto, eles podem ter diversas significações. Essas signifi-
cações dependem do contexto e só existem em relação a ele.
No caso do meu aluno, um brasileiro logo pensaria que ele (o alu-
no), um homem adulto, seria gay ou uma pessoa muito delicada ou 
fresca. Trago aqui alguns dos significadosdo adjetivo “fresco(a)” do 
dicionário Aulete que explicam o que quis dizer:
[…]
7. Fig. Pop. Que é dado a agir com melindres (clique para ver o sig-
nificado), com reservas, com restrições excessivas
8. Pop. Que reage de modo exagerado ao menor contato (físico,
visual ou olfativo) com certas coisas (sangue, sujeira etc.)[…]
12. Pej. Que é ou se comporta de maneira efeminada
Leia os outros significados: http://www.aulete.com.br/fresco
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Primeiro de tudo, lembro que o Brasil ainda é um país muito tradi-
cional e sua visão em relação aos gays e pessoas que possam ter 
comportamento afeminado ainda não é boa, então evitar o uso de 
diminutivo que tragam esse sentido pode ser uma boa estratégia 
para a boa convivência de um estrangeiro com brasileiros preconcei-
tuosos. A tirinha abaixo mostra bem esse sentido preconceituoso que 
o diminutivo em português às vezes carrega:
Explicação:
O primeiro quadro faz uma brincadeira com o fato de que aquele 
cone em que colocamos sorvete é chamado aqui de casquinha, e 
não há problema algum em chamá-la assim hehe 
O segundo quadro se refere ao inseto que chamamos 
de Joaninha (e também não há problema em dizer 
joaninha hehe): 
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E o terceiro quadro faz referência ao animal fofo e sorridente 
golfinho: 
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Vou listar outros usos que considero complicadinhos (muito compli-
cados) e vou contextualizá-los para que fique mais fácil entender a 
problemática em torno do tema e para que você saiba lidar ou, pelo 
menos, entenda as situações em que o diminutivo em português é 
usado.
ATENUAR SENTIDO:
Assista à entrevista a partir do 5:01 min.
Um ótimo exemplo é uma entrevista do programa CQC, transmitido 
pela rede de televisão Bandeirantes, no dia 12 de maio de 2008. 
O repórter, Felipe Andreolli, está numa festa, no Rio de Janeiro, de 
lançamento do livro Cozinha das Estrelas, assinado por Angélica, uma 
apresentadora brasileira.
Transcrição:
Repórter – Angélica a única pergunta que a gente esqueceu senão 
meu chefe me mata… Angélica… se alguém virasse pra você e 
falasse que seu livro tá bemfeitinho…seria um elogio…uma crítica…o 
que seria bem feitinho?
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Angélica – Ah…bem feitinho ((expressão de desprezo)) eu não ia go-
star muito não cara…bem feiTINHO?…é um feio arrumadinho ((surge 
no vídeo uma animação de Luciano Huck vestido com um smoking, 
como referência à feio arrumadinho)) né?
Repórter – ((se dirigindo à câmera)) exatamente…concordo plena-
mente com o que a Angélica disse, é isso aí.
Se quiser ler uma análise completa deste exemplo, sugiro a leitura do 
trabalho de Juliana Peres Araujo Rizzi, da UNICAMP, intitulado 
“BONITINHO É UM FEIO ARRUMADO”: QUESTÕES DISCURSIVAS PARAO 
APREN-DIZADO DE PORTUGUÊS POR FALANTES DE ESPANHOL. 
O que seria então um livro bem feitinho?
Seria um livro não muito bom, mas bem editado e bem trabalhado, 
mas que não poderia ser um campeão de vendas, entendem?
O que acontece neste caso é o que podemos chamar de uma polidez 
(educação) que visa à preservação da face do interlocutor. Luís Fer-
nando Veríssimo em seu texto intitulado Diminutivos fala sobre isso:
O diminutivo é uma maneira ao mesmo tempo afetuosa e 
precavida de usar a linguagem. Afetuosa porque geralmente 
o usamos para designar o que é agradável, aquelas coisas tão
afáveis que se deixam diminuir sem perder o sentido. E preca-
vida porque também o usamos para desarmar certas palavras 
que, na sua forma original, são ameaçadoras demais.” 
(Leia o texto na íntegra)
Então, por mais que os brasileiros entendam que esse uso atenuador 
do diminutivo é nada mais nada menos que uma forma contrária de 
dizer algo, ainda assim, é mais educado e seguro falar que o livro é 
bem feitinho do que dizer que o livro não é bom ou não vai fazer 
sucesso. É uma forma indireta de dizer uma coisa ruim, causando 
menos problemas.
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A mesma tentativa de atenuar o sentido é ilustrada na Crônica de 
Luís Fernando Veríssimo:
Um homem chega num balcão e tenta chamar a atenção da 
balconista para atendê-lo:
– Senhorita…
– Um minutinho.
O homem vira-se para um outro do seu lado e diz:
– Ih, já vi tudo.
– O que foi?
– Ela disse um minutinho. Quer dizer que vai demorar. No
Brasil, um minuto dura sessenta segundos, como em qualquer 
outro lugar, mas um minutinho pode durar uma hora.
O homem tenta de novo:
– Senhorita…
– Só um instantinho…
– Aí…
– O que foi?
– Ela disse um instantinho. Um instantinho demora mais que
um minuto. Parece que um minutinho é feito de vários instan-
tinhos, mas é o contrário. Um instantinho contém vários min-
utinhos.
– Senhorita!
– Só dois segundinhos!
O homem começa a se retirar.
-Aonde é que o senhor vai?
-Ela disse dois segundinhos. Isso quer dizer que só vai me 
atender amanhã.
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Vamos a outro exemplo clássico…
“Bonitinho(a), é um(a) feio(a) arrumadinho(a)” 
Clique para ampliar
Fonte da imagem
De novo a questão da preservação da face, uma pessoa bonitinha 
seria chamada dessa forma, porque aqui no Brasil não podemos e/ou 
não queremos dizer que é feia diretamente e também não queremos 
dizer que é bonita.
Esse caso é clássico e acredito que praticamente todos os brasileiros 
conheçam essa frase, por isso o adjetivo bonitinha(o) já pode ser 
considerado uma forma de ironia ou depreciação em certos casos. 
Então, por favor, nunca falem diretamente a uma pessoa que ele/
ela é bonitinho(a), ele/ela não vai gostar hehehe
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IRONIA/ DEPRECIAÇÃO/ ANTIPATIA
Nesses casos, é importante dizer que a entonação de voz ajuda a 
reforçar o sentido irônico ou depreciativo do termo empregado no 
diminutivo. Acho que o título já explica o sentido e, para mim, o 
melhor exemplo é o texto Diminutivos, da escritora Martha Me-
deiros, publicado na coluna Zero Hora, em 26 de julho de 2006:
Diminutivos
Domingo que vem, Mario Quintana faria cem anos. Um poeta 
superlativo, que de franzino só tinha a aparência. Mas houve 
quem tentasse fazê-lo parecer menor do que era. É sabido 
que certa vez um figurão disse a ele: “Gostei muito dos seus 
versinhos“, no que Quintana rebateu: “Obrigado pela sua 
opiniãozinha”.
Diminutivos caem bem quando aplicados aos nomes próprios. 
Verinha, Tavinho, Soninha. Há até quem tenha recebido este 
carinho já na certidão de nascimento: a maioria das Terezas 
que eu conheço são, na verdade, Terezinhas, assim registradas 
em cartório. No mais, os diminutivos são aceitáveis no uni-
verso infantil, quando a vida parece o Minimundo. “Gostou do 
brinquedinho?” “Quer mais uma bananinha?”
E ficamos por aqui. Conversa entre gente grande não comporta 
excesso de “inhos” e “inhas”, a não ser que se esteja a serviço 
de um plano de tortura.
Uma vez, entrei numa loja cuja funcionária conseguiu abalar 
meus nervos. “Oi, amorzinho, posso te ajudar?” “Qual é o 
teu nomezinho?” “Esta blusinha vai ficar uma gracinha“. 
Parecia que eu estava na Saci. Lembra da Saci, aquela loja de 
roupa infantil do tempo em que criança se vestia de criança? 
Não aguentei nem dois minutos, fui emboraantes que ela me 
fizesse regredir ao útero materno. 
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Tem aquela situação clássica: quando te chamam de filhinha. 
Uma vez testemunhei um palestrante responder assim à per-
gunta de uma moça na platéia: “Veja bem, filhinha…” Eu 
teria me levantado e dado boa-noite. Atender por filhinha e 
filhinho, só se forem seus pais chamando, e eles sempre lhe 
chamarão deste modo, mesmo que você seja um filhão de 57 
anos com 1m90cm de altura.
Escolha: ganhar um beijinho ou um beijo? Descolar um 
dinheirinho ou ganhar dinheiro? Comprar um carrinho ou um 
carro? A maneira como falamos revela como nos sentimos: se 
fazendo conquistas ou recebendo esmolas da vida.
Para as gurias: jamais tolere ser chamada de mulherzinha. 
Imediatamente você estará permitindo que lhe etiquetem as 
piores qualificações, já que mulherzinha é fragilzinha, de-
pendentezinha, medrosinha, boazinha. Que boazinha, o quê. 
Mulher tem que ser boa. Ou má.
Melhor se precaver contra os que se aproximam cheios de 
diminutivos. Pode ser afeto, mas também pode ser ódio. 
Quando uma mulher chama outra de “queridinha“, está, no 
fundo, querendo saltar na jugular da querida. Quando um 
homem diz: “Vou ali falar com aquele carinha“, há grande 
chance de o papo terminar em pancadaria.
Pra completar, tem aqueles que aprontam com você e depois 
dizem “foi brincadeirinha“.
Cuidado com tanta meiguice.
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AFETIVIDADE
Nesse caso, o diminutivo denota sentimentalismo, carinho ou cuida-
do com algo ou com a outra pessoa envolvida na comunicação.
Vou usar um exemplo do texto anterior para ilustrar essa afetividade 
dos diminutivos:
Diminutivos caem bem quando aplicados aos nomes próprios. 
Verinha, Tavinho, Soninha. Há até quem tenha recebido este 
carinho já na certidão de nascimento: a maioria das Terezas 
que eu conheço são, na verdade, Terezinhas, assim registradas 
em cartório. No mais, os diminutivos são aceitáveis no uni-
verso infantil, quando a vida parece o Minimundo. “Gostou do 
brinquedinho?” “Quer mais uma bananinha?” (Diminutivos, 
de Martha Medeiros)
Eu mesma sou chamada de Aninha por muitos amigos, mas eu real-
mente sou pequena. Já meu irmão, um homem de 1,80m (e poucos) 
de altura desde pequeno é chamado de Paulinho =)
Como ainda podemos ver nos livros didáticos, nas gramáticas e, pior, 
em muitas aulas de português para estrangeiros que o diminutivo 
apenas indica diminuição de tamanho? O diminutivo é muito mais 
do que isso, é muito mais do que eu expus aqui!
Minha dica final é: cuidado com o diminutivo! hehe
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Conclusão
Neste 1o ebook, do projeto de ensino gratuito de português para 
estrangeiros, eu quis mostrar um pouco do português do Brasil que 
é muito difícil de ser encontrado nas gramáticas da língua e nos 
livros e materiais de português para estrangeiros disponíveis no 
mercado. 
Tentei explicar de forma simples e (espero que) clara algumas 
situações reais de uso do português brasileiro, situações em que o 
conhecimento da estrutura/gramática da língua não é suficiente para 
se compreender a mensagem que se quer passar. 
Eu sei bem como meus alunos se sentem quando se deparam com 
certas situações, muitas vezes constrangedoras, por falta de conhec-
imento sobre a língua real. Sei também como muitos professores de 
português para estrangeiros se veem em situações em que precisam 
explicar certos usos que, muitas vezes, nunca haviam pensado ou 
que são realmente complicadas de se explicar.
Por isso espero ter ajudado você, aluno, a entender melhor certos 
usos do português brasileiro ou, se você nunca tiver passado por 
situações como as apresentadas, espero que, depois de ler este 
ebook, você saiba lidar com futuras situações! =)
Também espero ter auxiliado você, professor, a enriquecer suas aulas 
para que, assim, você possa ajudar seus alunos estrangeiros a enten-
derem um pouquinho mais sobre as nuances da nossa língua.
Obrigada. 
Ana Luíza Gabatteli
ana@cursovilabrasil.com.br
	APRESENTAÇÃO
	A AUTORA
	“Ooolha…” Se você escutar isso, você já sabe que…
	“Pois não” significa sim? =O 
	“Pois é”…Sabe o que é?
	Verbo dar e seus vários significados
	Você sabe usar o diminutivo em português? 
	Conclusão

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