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Livrinhos do Danilo 5 Técnicas de Tradução Março 2020

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Prévia do material em texto

Livrinhos do Danilo 
Volume 5 
Técnicas de tradução inglês-
português 
© Danilo Nogueira, 2020 
danilo.tradutor@gmail.com 
 
Estou postando alguns escritos mais ou menos completos, que andavam meio que 
largados no meu HD. Pretendo ir adicionando materiais novos quando possível. Por 
isso, venha me visitar de vez em quando para baixar a nova edição. 
Espero que você goste. 
➢ São arquivos *.pdf, que podem ser abertos de várias maneiras, até em certos 
navegadores. Entretanto, recomendo a edição grátis do PDF-XChange® Editor. 
Só baixar a instalar. 
➢ Para procurar uma frase, aperte Ctrl+F, que aparece a caixinha de busca. Se 
apertar Ctrl+Shift+F, a pesquisa vai achar todas as frases em que a palavra 
pesquisada é usada no documento. É muito mais prático, porque pode haver 
formas um pouco diferentes da mesma frase e, assim, é mais fácil pegar todas. O 
Ctrl+Shift+F não está disponível nos navegadores, mas está no PDF-XChange® 
Editor. 
➢ Estou atualizando este e os outros “Livrinhos” (nem todos foram publicados) 
constantemente — se você não encontrou o que queria na edição que tem, pode já 
estar na edição mais recente. 
 
Se tiver algum comentário, faça, por favor, pelo endereço danilo.tradutor@gmail.com. 
Esta publicação é grátis. Distribua como quiser, desde que não faça alteração nenhuma 
nem cobre por ela. 
Os “Livrinhos” moram aqui e estão em constante atualização. A data da edição está no 
nome do arquivo e você pode clicar no link para ver se tem edição nova e baixar. 
 
Agradeço a quem divulgar. 
 
 
 
mailto:danilo.tradutor@gmail.com
https://www.tracker-software.com/product/pdf-xchange-editor
https://www.tracker-software.com/product/pdf-xchange-editor
https://www.tracker-software.com/product/pdf-xchange-editor
mailto:danilo.tradutor@gmail.com
https://www.dropbox.com/sh/mpzreiydmdi4fti/AAD6lY0jiGI4UNp4EWY3xel7a?dl=0
 
Técnicas de tradução 
inglês-português 
Danilo Nogueira 
 
 
 
 
 
 
 
 
2ª edição, fevereiro de 2018 
 
© 2018 Reprodução permitida – desde que integral e gratuita. 
ESTE LIVRO está no forno há anos. Pronto, nunca vai estar, mas estou publicando uma 
segunda edição agora, antes que seja tarde demais. Logo, espero, virá a terceira, um 
pouco melhor. Leia, consulte à vontade e forme sua própria opinião. Espero que goste. 
Se gostar, recomende a seus amigos, que eu fico grato. Se não gostar, recomende a seus 
inimigos, que fico grato do mesmo jeito. 
 
Boa parte do que foi publicado na primeira edição foi discutido com Kelli Semolini, 
durante os longos anos que trabalhamos juntos. Atendendo ao pedido dela própria, a 
única referência a seu nome é esta. Os erros, que espero não sejam tantos assim nem 
comprometam a utilidade do texto, são de inteira responsabilidade minha. 
 
Este livro: 
 
…bem como tudo o que eu escrevi e fiz de bom profissionalmente na vida é 
fruto da influência de Gilberto Rizzo, meu professor de inglês durante anos no 
Ascendino Reis, uma escola pública no Tatuapé, bairro de São Paulo ao qual ele 
se referia, jocosa e afetuosamente, como Armadillo on Foot. 
 
… é, e sempre será, distribuído gratuitamente. Peço desculpas pela 
diagramação tosca e pelos erros de revisão. Deveria ter contratado profissionais 
da revisão e diagramação para o serviço, mas, como o livro é grátis, não teria 
como pagar. 
 
…pode ser copiado e distribuído por qualquer um, desde que mantenha o texto 
como está aqui e que não cobre nada por ele. O arquivo não tem vírus nem 
nenhum programa escondido nem é anzol para vender coisa nenhuma. 
 
A próxima edição será melhor – assim espero. 
 
Gostaria que você me escrevesse, respondendo a três perguntas: 
 
1) Do que você mais gostou? 
2) Do que você menos gostou? 
3) Quais são suas sugestões para a próxima edição? 
 
Claro, se tiver alguma correção, agradeço muito. Como agradeço a todos os 
colegas que me escreveram apontando erros na primeira edição. 
 
Se quiser me escrever, clique aqui. Se quiser me adicionar no Facebook, clique 
aqui. No Facebook tenho também uma página profissional, clique aqui para 
seguir. Caso tenha recebido este livro de alguém, saiba que meu blogue fica 
aqui. 
 
Danilo 
Santo André, abril de 2018 
mailto:danilo.tradutor@gmail.com
https://www.facebook.com/DaniloNogueiraTradutor
https://www.facebook.com/tradutorprofissional/?ref=bookmarks
https://textoecontexto.trd.br/
 
Sugestões para uma leitura mais proveitosa 
 
COMECE ONDE QUISER, o livro não tem princípio nem fim. Passeie pelos diversos 
verbetes a seu bel-prazer. Os verbetes têm indicações de outros correlatos, onde o 
assunto recebe maior desenvolvimento, indicados por uma cabeça de seta, assim: 
 
➢ Can 
 
… Significa que existe um verbete para “can“. 
 
Para buscar alguma informação, use Ctrl Shift F, assim, você vai descobrir todas as 
vezes que a palavra ou frase aparece no texto. o Ctrl Shift F é um truquinho bobo que 
funciona no Acrobat Reader (que é grátis) e em vários outros programas leitores de 
arquivos pdf. 
 
O que está entre parênteses é opcional: 
 
(Ele) chegou tarde 
 
…significa que tanto Ele chegou tarde como só Chegou tarde são válidos. 
O tachado indica que a construção não é recomendável: 
Irei fazer amanhã 
 
Se quiser fazer um comentário, escreva para mim. 
 
Se aceita uma sugestão, comece por Procedimentos Fundamentais de Tradução. É um 
bom ponto de partida – mas não é o único. Como disse no princípio, o livro não tem 
princípio nem fim. 
 
Só. 
mailto:danilo.tradutor@gmail.com
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
1 
 
 
Aclimatação 
 
A aclimatação não faz parte dos procedimentos fundamentais de 
tradução descritos por Vinay e Darbelnet. É uma variante do 
empréstimo, em que a ortografia é ajustada de acordo com as regras da 
língua de chegada. 
 
Por exemplo, futebol é a aclimatação de football; Ótava é a aclimatação 
de Ottawa. Algumas aclimatações pegam; outras, não pegam. Futebol 
pegou; Ótava não pegou. Por que umas pegam e as outras não, é 
assunto para muito papo de mesa de boteco, mas não existe explicação. 
 
Quando se trata de uma aclimatação ao português, às vezes falamos em 
aportuguesamento – mas aportuguesamento pode se referir também a 
outros processos. 
 
A aclimatação pode ser proposital, obra de alguém irritado com os 
anglicismos do texto, como lay-out, que alguns aportuguesam como 
leiaute. 
 
Também pode ser acidental: quem não sabe inglês, tem dificuldade 
para escrever LAN house e, depois de mil vacilações, acaba escrevendo 
lã rause, como já se vê por aí. Quem conhece a grafia original, ri do 
disparate, lamenta a ignorância geral do nosso povo, fala mal do ensino 
e, depois, liga a TV para assistir a um joguinho de futebol. 
 
➢ Procedimentos fundamentais de tradução 
➢ Empréstimo 
 
A aclimatação, muitas vezes, reflete uma situação temporária. 
Começamos com um empréstimo puro back, para o jogador defensivo 
de futebol, que foi aclimatado para beque, que sofre concorrência de 
zagueiro um termo considerado mais português, mas que é uma 
importação do espanhol platino e do árabe. 
 
Adaptação 
 
A adaptação faz parte do elenco dos procedimentos fundamentais de 
tradução descritos por Vinay e Darbelnet. Por ficar num dos extremos 
da gama (o outro extremo é o empréstimo), está escarranchado em cima 
do muro, com uma perna na tradução propriamente dita e outra na 
criação de uma obra nova. Nem sempre é fácil saber em que lado 
estamos nós. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
2 
 
 
Na prática, adaptação se refere a uma gama enorme de procedimentos, 
que inclui, num extremo, decisões quase inocentes, como traduzir: 
 
They stopped at a drugstore for a soda. 
Deram uma parada numa lanchonete, para tomar um refrigerante. 
 
➢ Transposição 
 
…em vez de 
 
They stopped at a drugstore for a soda. 
Deram uma parada num(a) drugstore, para tomar um refrigerante. 
 
…onde drugstorevira lanchonete, porque não há nada na cultura 
brasileira que se compare com uma drugstore americana da primeira 
metade do século vinte e, no caso, presume-se que a diferença não tinha 
relevância. 
 
➢ Relevância 
 
… até o outro extremo, encontram-se tarefas mais heroicas, como a 
adaptação de Lady Chatterley’s Lover para o público infantil, que ficam 
fora de nosso escopo. Aqui, vamos nos limitar a falar de adaptação do 
lado de cá do muro. 
 
Prós e contras 
 
Os partidários da adaptação afirmam, não sem razão, que, com esse 
procedimento, substituímos informações irrelevantes, que só 
prejudicam o entendimento, por informações que, por serem mais 
conhecidas do leitor, não desviam sua atenção do foco do texto. 
 
Os adversários da adaptação afirmam, não sem razão, que essa 
exclusão impede o leitor de se aproximar da cultura do original, que 
consideram uma das funções principais da tradução e que, lá pelas 
tantas, o texto do autor vira o texto do adaptador. 
 
Em outras palavras, o que quer que você faça, vai haver quem critique. 
Faz parte. 
 
A gente sabe onde começa, não sabe aonde vai parar 
 
Num texto bem urdido, as palavras se enlaçam e entrelaçam em uma 
teia infinita e de imensa complexidade. Como resultado, quando 
mexemos em alguma coisa, afetamos o equilíbrio dessa delicada trama 
e colocamos em risco o texto todo, criando a necessidade de mexer em 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
3 
 
 
mais mil coisas, correndo o risco de ficar perdidos em incoerências. Esse 
é o maior perigo da adaptação. 
 
Além disso, a gente sabe onde começa, mas não sabe onde termina. 
Você começa com alguma coisa simples – como trocar New York por 
São Paulo – e aos poucos se vê em palpos de aranha, porque as 
adaptações se tornam cada vez mais difíceis, trabalhosas e 
indispensáveis. Lá pelas tantas, Chicago virou Rio de Janeiro, mas a 
Mary, que tinha virado Maria, continua reclamando do frio, da neve e 
da ventania. 
 
O pior 
 
E, ainda por cima o cliente geralmente quer pagar o trabalho ao preço 
normal de tradução, a despeito do trabalhão que dá. 
 
➢ Procedimentos fundamentais de tradução 
➢ Empréstimo 
 
Adições do tradutor 
 
O leitor está interessado no que o autor disse, não no que o tradutor 
pensa que ele deveria ter dito. Por isso, limite as adições ao essencial 
para ajudar o leitor entender o texto. Há três níveis de adição: expansão, 
explicitação e nota do tradutor. 
 
➢ Expansão 
➢ Explicitação 
➢ Nota do tradutor 
 
As adições devem ser tão discretas e objetivas quanto possível, para não 
desviar a atenção do leitor do seu foco principal. Por isso, não se faz 
uma nota quando a explicitação basta, não se explicita quando expandir 
é suficiente. 
 
Adjetivos em sequência 
 
 
A tradução fica mais natural se as sequências de dois adjetivos em 
inglês forem traduzidas por dois adjetivos separados (ou unidos, sei lá) 
pela conjunção “e”: 
 
He was riding his shiny new motorbike. 
Estava pilotando sua moto nova e brilhante. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
4 
 
 
Adjuntos adverbiais introdutórios 
 
Estes são os introductory adverbials, que costumam exigir, além da 
transposição do advérbio, a criação de um entorno adequado: 
 
➢ Transposição 
➢ Transposição do advérbio para substantivo 
 
Perhaps most importantly, the consumer sector is doing considerably 
better… 
Talvez o mais importante seja lembrar que o setor de consumo está se 
saindo consideravelmente melhor. 
 
Oddly enough, he has not said anything about it. 
Por (mais) estranho que pareça/possa parecer, (ele) não disse nada a 
esse respeito. 
 
Note que o pronome é opcional em português e, no mais das vezes, 
desnecessário. Sempre pense duas vezes antes de reproduzir no 
português os pronomes de terceira pessoa ingleses 
 
➢ Termo vicário 
 
Luckily, for Herbert, the gun was not loaded. 
Para a sorte de Herbert, a arma não estava carregada. 
 
Gun pode ser qualquer arma de fogo, não só um revólver. O contexto 
pode deixar claro se é um revólver, uma pistola ou uma arma longa. 
Mesmo que o contexto explique ser um revólver, arma pode ser usada 
aqui ou lá para dar variedade, porque o inglês weapon, é bem menos 
usual. 
 
Annoyingly for Jack, his brother was late arriving. 
O que irritou Jack foi o atraso do irmão. 
 
➢ Advérbios terminados em -ly 
➢ Transposição 
 
Advérbios terminados em –ly 
 
O problema dos advérbios em -ly é que temos uma certa birra dos 
advérbios portugueses homólogos terminados em -mente. Essa aversão, 
entretanto, é um problema de estilo: não há regra de gramática 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
5 
 
 
proibindo o uso de advérbios em -mente, nem sequer de três ou mais 
advérbios terminados em -mente em sequência. 
 
➢ Estilo 
➢ Gramática e norma culta 
➢ Homólogo 
 
Muitas vezes, a repetição desses advérbios é até proposital e um recurso 
de retórica: 
 
Falou claramente, lentamente, pausadamente, como se estivesse 
tentando deixar uma marca indelével em nossas mentes. 
 
Costumamos evitar esses advérbios, entretanto, mesmo quando não 
vêm aos magotes, porque mesmo dois ou três espalhados num 
parágrafo podem causar um eco desagradável, e tornar o texto pesado e 
arrastado. O -ly parece mais aceitável que o -mente, talvez por ser 
monossilábico. Qualquer que seja a razão, é mais frequente do que o - 
mente seria desejável em português. 
 
➢ Vício de frequência 
 
Como não há regras aplicáveis a problemas de estilo, cada um resolve 
conforme lhe dá na veneta e nem sempre a solução dada por um vai 
agradar ao seguinte. Aqui, apresento alguns métodos para você 
escolher o que mais se adapta a seu contexto e seu gosto particular. Seu 
revisor e seu leitor podem discordar, mas isso faz parte da vida. 
 
Começo com os dois mais comuns, mas apresento outros que me 
parecem muito úteis e produtivos. Todas as soluções aqui propostas são 
casos de transposição. 
 
➢ Transposição 
 
Fatoramento/fatoração 
 
O método mais simples e trivial – que todos nós aprendemos no colégio 
– para reduzir o número de advérbios terminados em -mente é 
transformar todos os membros de uma série, menos o último, no seu 
adjetivo feminino homólogo, procedimento às vezes chamado 
fatoramento ou fatoração, por analogia a um processo usado em 
matemática. 
 
➢ Homólogo 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
6 
 
 
Answer the following questions clearly, concisely, and completely. 
Responda as perguntas abaixo clara, concisa e completamente. 
 
Funciona, sem dúvida, e é muito recomendável, quase uma praxe. Tem 
a limitação de que só funciona em séries e não nos ajuda em nada 
quando se trata de um advérbio isolado. Mesmo quando funciona, nem 
sempre melhora as coisas: 
 
Sometimes, instead of showing an object clearly, try deliberately 
photographing it vaguely, obscurely, or unclearly. 
Algumas vezes, em vez de mostrar um objeto claramente, tente 
fotografá-lo vaga, obscura ou não claramente. 
 
O exemplo em inglês é canhestro, não há como negar. Mas é autêntico: 
tirei da Internet. Lembre-se de que traduzimos textos mal escritos a 
toda hora, mesmo nos melhores autores, e temos de aprender a lidar 
com eles. 
 
Neste caso, o método do fatoramento deixa de funcionar, porque 
repetir o não torna a frase ainda mais pesada. Felizmente, há outras 
soluções. 
 
Desdobramento em 
“de forma“, “de modo“, “de maneira“ + adjetivo. 
 
É muito comum, também, substituir o advérbio por de + [substantivo 
muleta] + adjetivo. Assim: em vez de falou claramente, falou de modo 
claro. Chamo a esse substantivo de "muleta" porque só serve de apoio 
ao adjetivo, o qual, sem ser o núcleo sintático da expressão, é seu núcleo 
semântico. Trata-se de um caso de transposição. 
 
➢ Muleta 
➢ Transposição 
 
Answer the following questions clearly, concisely, and completely. 
Responda as perguntasabaixo de modo claro, conciso e completo. 
 
É um método muito querido, mas tem um inconveniente: poucos 
substantivos podem servir de muleta. Quantos você conhece? De modo, 
de forma, de maneira… quantos mais? Aí, então, a tradução salta da 
frigideira para o fogo: sai dos istomente, issomente, aquilomente, para cair 
nos de modo isto, de forma isso, de maneira aquilo… Não resolve muito. 
 
Troca do advérbio por adjetivo 
 
Em vez do advérbio, use um adjetivo. Assim: 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
7 
 
 
The teacher spoke very clearly. 
O professor falou muito claro. 
 
Se alguém reclamar, convide para tomar aquela cerveja que desce 
redondo, que tudo se resolve. 
 
Troca do verbo por substantivo 
 
Também podemos fazer a transposição do verbo em substantivo. Essa é 
uma das operações mais frequentes e úteis para quem traduz do inglês 
para o português. Funciona assim: procure um substantivo português 
que seja homólogo do verbo inglês. 
 
Por exemplo: 
 
With my glasses on, I can see perfectly. 
Com os óculos, tenho visão perfeita. 
 
… onde o verbo see é substituído por seu substantivo homólogo visão. 
Essa troca tem duas consequências. Em primeiro lugar, como os 
substantivos são modificados por adjetivos, não por advérbios, o 
perfectly vai ser traduzido por perfeita. A segunda é que ficamos sem 
verbo na frase, o que nos obriga a achar um verbo-muleta, o que pode 
ser fácil ou não. 
 
➢ Colocação 
➢ Homólogo 
➢ Muleta 
➢ Transposição 
 
Podemos dar um passo adiante e formar locuções adverbiais com as 
preposições com ou sem somadas a um substantivo homólogo do 
advérbio, num processo de transposição: 
 
➢ Homólogo 
➢ Transposição 
 
He speaks very clearly. 
Ele fala com grande clareza. 
 
The importance of clearly and precisely defining biblical truth. 
A importância de definir a verdade bíblica com clareza e precisão. 
 
Elocution is the art of speaking clearly and precisely. 
Elocução é a arte de falar com clareza e precisão. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
8 
 
 
He folded the letter carefully. 
(Ele) dobrou a carta com cuidado. 
 
She drove extremely slowly. 
(Ela) dirigia com extrema lentidão. 
 
Nos dois últimos exemplos, e melhor omitir o pronome da terceira 
pessoa na tradução. O inglês precisa muito de pronomes, dada a 
pobreza de sua morfologia verbal. Em português, entretanto, elipse de 
pronome é sempre algo a considerar, 
 
My intent is to sleep carelessly with a smile on my lips and nothing on 
my mind. 
Minha intenção é dormir sem preocupações, com um sorriso nos lábios 
e nada na cabeça. 
 
…bem melhor que de modo despreocupado, concorda? Além disso, é 
uma solução especialmente útil quando temos um advérbio 
modificando outro, porque, ao transpormos um advérbio para 
substantivo, o anterior tem que ser transposto para um adjetivo: 
 
He folded the letter very carefully. 
(Ele) dobrou a carta com muito cuidado. 
 
He talks exceptionally loudly. 
Ele fala numa altura excepcional. 
 
The Chinese vase was packed more carefully. 
O vaso chinês foi embalado com mais cuidado. 
 
The Chinese vase was packed a little more carefully. 
O vaso chinês foi embalado com um pouco mais de cuidado. 
 
A solução com em é menos comum, mas igualmente útil: 
 
They had breakfast silently. 
Tomaram café em silêncio. 
 
On the Reeperbahnstrasse of Hamburg, Germans drink excessively and 
act incredibly stupidly. 
Na Reeperbahnstrasse de Hamburgo, os alemães bebem em excesso e se 
comportam com incrível estupidez. 
 
Outro exemplo, talvez um tanto mais difícil: 
 
They acted strongly. 
Tomaram medidas enérgicas. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
9 
 
 
Johnson & Johnson is uniquely positioned… 
A Johnson & Johnson ocupa uma posição ímpar… 
 
Sujeitos impessoais 
 
O português faz largo uso de sujeitos impessoais que, muitas vezes, 
podem ser a melhor tradução para um advérbio inglês. 
 
Mary Jones reportedly turned down the job offer. 
Ao que se diz, Mary Jones rejeitou a oferta de emprego. 
 
Sadly, when the rising chorus of cries … 
É lamentável que, … 
É triste dizer que… 
 
Agentes ocultos 
 
O português aceita, com bem mais naturalidade do que o inglês, as 
construções em que o agente não fica claro. 
 
➢ Vício de frequência 
Coisas como 
They gave us cookies. 
 
…onde o agente é o mesmo que o sujeito they, epodem muito bem ser 
traduzidas por 
 
Eles nos deram biscoitinhos. 
 
… mas ficam muito melhor se traduzidas 
 
A gente ganhou biscoitinho(s). 
Ganhamos biscoitinhos. 
 
… onde o deslocamento do objeto para sujeito acaba ocultando o 
agente. (Espero que você tenha entendido bem essa explicação – não 
sou muito bom nessas coisas e, para resumir, pior ainda. Se não 
entendeu bem, escreva para mim e reclame). 
 
Uma transformação dessas envolve modulação, ou seja uma mudança 
de perspectiva: em inglês o sujeito é quem deu os biscoitinhos, em 
português. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
10 
 
➢ Modulação 
 
…e tem mais uma vantagem: livra o tradutor da praga do pronome do 
caso oblíquo 
 
➢ Pronome oblíquo 
 
Artigos 
 
“Meu filho é um médico”, disse a mãe orgulhosa de seu rebentinho. Até 
aí, nada de especial: muita gente tem filhos médicos. De especial seria 
se o filho fosse dois médicos, em vez de um só. De interessante há o fato 
de muitas vezes usarmos na tradução artigos que são desnecessários ou 
não existem em português, ou deixarmos de adicionar artigos quando 
não existem em inglês, mas são necessários ou talvez recomendáveis 
em português. 
 
O português não usa artigos: 
 
…entre o verbo e o nome de profissões: 
 
Her other son is a doctor. 
O outro filho dela é médico. 
 
…credos, religiões, ideologias, posturas filosóficas: 
 
She’s become a vegetarian. 
Ela virou vegetariana. 
 
…instrumentos musicais: 
 
Jane played the piano just for herself. 
Jane tocava piano só para si própria 
 
…doenças: 
 
On and off she suffers from a stomachache. 
Volta e meia ela tem dor de estômago. 
 
➢ Equivalência 
 
She has the flu. 
Ela está com gripe. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
11 
 
 
I have a fever, so I’m staying in bed today. 
Estou com febre, então vou ficar de cama hoje. 
 
O português exige artigos 
 
Antes de tarefas ou papéis únicos: 
 
Maureen is captain of the team. 
Maureen é a capitã do time. 
 
FBI chief J. Edgar Hoover… 
O chefe do FBI, Edgar Hoover… 
 
Chelsea centre-forward Milton Smith… 
O centroavante Milton Smith, do Chelsea … 
 
…e em lugar do possessivo com órgãos e partes do corpo: 
 
Close your eyes. 
Feche os olhos. 
 
Have you broken your arm? 
Você quebrou o braço? 
 
Ever since my teeth were pulled out I can’t eat anything solid. 
Desde que arranquei/extraí os dentes, não consigo comer nada sólido. 
 
Note que, em português, a gente extrai os dentes, ao passo que em 
inglês a gente tem os dentes extraídos. Essa mudança de ponto de vista 
é um caso de modulação. 
 
➢ Possessivos 
➢ Modulação 
 
She’s become a vegetarian. 
(Ela) virou vegetariana. 
 
➢ He/she 
 
O pronome da terceira pessoa, como tantas vezes, pode ser omitido sem 
perda. 
 
➢ Vício de frequência 
 
Although his father was an Anglican Bishop, he is a Roman Catholic. 
Embora seu pai tenha sido bispo da igreja anglicana, (ele) é católico. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
12 
 
 
…com nacionalidades 
 
Germans are good musicians. 
Os alemães são bons músicos. 
 
…e antes de adjetivos 
 
Her other son is a great doctor. 
O outro filho dela é um grande médico. 
 
He is a good auto mechanic. 
(Ele) é um bom mecânico (de automóveis) 
 
He is a very good auto mechanic. 
Ele é um mecânico (de automóveis) muito bom. 
Ele é um ótimo mecânico (de automóveis). 
 
She has a bad flu. 
Ela está com uma gripe forte. 
 
O artigo pode ser opcionalem português, mas inexistente em inglês. 
 
Está se tornando cada vez mais comum em português usar artigos antes 
de nomes próprios: 
 
Mary wanted more coffee. 
(A) Maria queria mais café. 
 
O uso do artigo, nestes casos, varia conforme a região, embora mesmo 
quem use artigo, como eu, considere as construções sem artigo mais 
formais. 
 
Atenuação 
 
A atenuação, também chamada de adoçamento e mitigação, é a prática de 
traduzir palavras ou expressões consideradas ofensivas ou duras 
demais por termos mais amenos – ou mesmo omitir o que possa ser 
considerado ofensivo 
 
Muitas vezes, o tradutor recebe ordem para atenuar, e faz coisas como 
traduzir 
 
Fuck you! 
Vá para o inferno! 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
13 
 
 
... para que o filme escape das restrições da censura por faixa etária. 
Acho lamentável e gostaria de viver num mundo em que o tradutor 
traduzisse o que encontrava no original e pronto. 
 
Outras vezes, ninguém manda, mas o profissional sabe o que é bom 
para seu couro: não faz muito tempo, um intérprete adoçou umas frases 
que criticavam o país onde vivia, não por alguém ter mandado, mas por 
amor ao pescoço, seu e da família já que nunca falta quem queira 
decapitar o mensageiro e mesmo sua parentela. Atacado ferozmente 
pela imprensa, alegou que não podia traduzir mentiras. Que outra 
mentira podia alegar em sua defesa? 
 
Há, principalmente na interpretação, quem ache que deva adoçar para 
evitar brigas: 
 
If you don’t deliver this fucking order before the end of the month we 
will find a better provider. 
Seria muito importante se sua empresa pudesse fazer a entrega antes do 
fim do mês. 
Se você não entregar essa porra desse pedido antes do fim do mês vamos 
procurar um fornecedor melhor. 
 
…o que, aliás, nos leva à dificuldade de traduzir literalmente 
xingamentos, palavrões, baixo calão, impropérios e quejandos. 
 
Não gosto da prática, salvo nos casos, como o mencionado acima, onde 
o profissional corre perigo. Acho que cada orador deve assumir a 
responsabilidade pelo seus atos e que o receptor tem o direito de saber 
o que foi dito para dar resposta à altura. 
 
Numa das raríssimas vezes em que servi de intérprete, um dos 
participantes estava insultando seu interlocutor o tempo todo, e eu 
seguindo a orientação que tinha lido alhures, atenuando. Lá pelas 
tantas, me cansei e traduzi os insultos com casca e tudo. O ouvinte, que 
me conhecia havia anos, me olhou furioso e eu lembrei que era só o 
tradutor. Ele entendeu e deu uma resposta boa ao mal-educado, que 
enfiou o digníssimo rabinho no meio das pernas e parou de se exibir. 
Acho que agi bem. 
 
Be able to 
 
 
Can, como todos os auxiliares modais é defectivo e os buracos na sua 
conjugação são preenchidos por torneios com be able to. Como o nosso 
verbo poder não tem nada de defectivo, pode tranquilamente ser usado 
onde em inglês é necessário usar uma forma de be able to: 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
14 
 
 
Spending limits are part of a limits package and will be able to be 
configured… 
Os limites para gastos fazem parte de um pacote de limites e vão poder 
ser configurados… 
 
Soluções como 
 
…terão a possibilidade de serem configurados 
 
… embora perfeitamente corretas, é bom evitar, porque transferem para 
o português um problema que nossa língua não tem. 
 
Note que, em português, a colocação mais comum é fazer parte, ao 
passo que em inglês é are part. 
 
➢ Can 
➢ Colocação 
 
Belles Infidèles 
 
 
Essa expressão francesa significa tanto “as belas que são infiéis” como 
“as infiéis que são belas”. Esse fato, associado ao fato de que “tradução” 
e seus homólogos são do gênero feminino em todas as línguas 
românicas, deu origem a numerosas histórias de gosto duvidoso sobre a 
infidelidade de mulheres belas e sobre a beleza das mulheres infiéis. 
 
Tecnicamente, entretanto, o termo se aplica a publicações que passam 
por traduções, mas são adaptações de textos em língua estrangeira 
àquilo que seu redator julga ser o gosto de seu povo e sua época. 
 
Dependendo da habilidade de quem faz, podem até ter mérito literário, 
mas como traduções não servem de parâmetro de qualidade – pelo 
menos na minha opinião. 
 
Não deixam de ser uma forma de adaptação, mas como digo no verbete 
apropriado, a adaptação fica escarranchada em cima do muro, com uma 
perna na tradução e outra fora dela e, no meu entender, as belles infidèles 
estão na perna externa à tradução. 
 
➢ Adaptação 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
15 
 
 
Bíblia 
 
Como os originais da Bíblia estão em hebraico, aramaico e grego, toda 
citação bíblica em inglês é uma tradução – mas aquele caso interessante 
em que a tradução se torna um novo original. Porém, tanto em inglês 
como em português, há várias traduções da Bíblia e as divergências 
entre elas – queiramos ou não – são muito significativas. 
 
Por isso, se topar com uma citação bíblica no seu texto, não adianta 
tentar procurar uma “boa tradução” em português, para copiar o que 
diz lá, porque a “boa tradução” pode dizer alguma coisa bem diferente 
do que disse o autor do original. O que você precisa é de uma tradução 
bem próxima da tradução usada no seu texto inglês. Isto significa que a 
melhor solução pode ser você traduzir o texto, preservando os atributos 
relevantes que o autor achou relevantes, sem se preocupar com 
qualquer tradução existente em português. 
 
Se for leitor da Bíblia, não se deixe levar pela sua tradução predileta: a 
do texto que você está traduzindo pode dizer algo bem diferente. Se 
não acredita, veja estes exemplos, todos de Juízes, 3:24: 
 
Primeiro em inglês: 
 
King James: Surely he covereth his feet in his summer chamber. 
Douay-Rheims: Perhaps he is easing nature in his summer parlour. 
God’s Word: “He must be using the toilet,” they said. 
New King James Version: He is probably attending to his needs in the cool 
chamber. 
 
Bible in Basic English: It may be that he is in his summer-house for a 
private purpose. 
 
… e agora em português: 
 
João Ferreira de Almeida: Sem dúvida está cobrindo seus pés na recâmara 
da sala de verão. 
 
J. F. Almeida atualizada: Sem dúvida ele está aliviando o ventre na privada 
do seu quarto. 
 
A Bíblia na linguagem de hoje: Então pensaram que o rei tinha ido ao 
banheiro. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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16 
 
 
Bíblia de Jerusalém: Sem dúvida, ele cobre os pés no retiro da sala arejada. 
 
Por mais que se aceite que covereth his feet seja um eufemismo para 
evacuando e por mais que a fé do tradutor leve a preferir “A Bíblia na 
linguagem de hoje”, se o original disser Surely he covereth his feet in 
his summer chamber, não cabe traduzir a citação dele por Então 
pensaram que o rei tinha ido ao banheiro. 
 
➢ Original 
➢ Fidelidade 
➢ Relevância 
➢ Voz do tradutor 
 
Bibliografia 
 
Este tópico fala sobre como tratar das bibliografias incluídas em uma 
tradução. Para saber quais livros consultamos para escrever este texto, 
veja Obras consultadas. 
 
➢ Obras consultadas 
 
Bibliografia é uma lista padronizada dos livros consultados pelo autor. 
Por isso, os nomes dos livros não devem ser traduzidos. Se o autor diz 
que consultou: 
 
Karl Popper: The Logic of Scientific Discovery (Routledge Classics) 
2nd Edition. 
 
…não é correto dizer que ele tenha consultado 
 
A lógica da pesquisa científica. Karl A. Popper. Tradução de Leonidas 
Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. Editora Cultrix. São Paulo 
1985. 
 
…em primeiro lugar, porque não é esse o livro que ele consultou. Em 
segundo, porque a tradução em português talvez difira do original e, 
sabendo você como sabe, que Murphy reina, é bem possível que a 
diferença esteja exatamente naquele ponto que o autor está elaborando, 
como, aliás, se vê pelo título da obra de Popper citada. 
 
Se houvertradução portuguesa – e se o cliente pedir e pagar – acho 
válido adicionar: 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
17 
 
 
Publicado no Brasil como: A lógica da pesquisa científica. Karl A. 
Popper. Tradução de Leonidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. 
Editora Cultrix. São Paulo 1985. 
 
Mesmo que o livro seja originalmente brasileiro, se a edição consultada 
estava em inglês (ou qualquer outra língua), é essa a que deve ser 
constar da tradução brasileira: 
 
Chapters of Brazil’s Colonial History 1500-1800 (Library of Latin 
America), by João Capistrano de Abreu (Author), Arthur Brakel 
(Translator), Stuart Schwartz (Introduction), Fernando A. Novais 
(Contributor) 
 
… não diga que ele leu os 
 
Capítulos de história colonial. Abreu, João Capistrano de. Itatiaia. 
 
…embora possa adicionar esse dado à informação bibliográfica. 
 
Caçar traduções brasileiras de livros estrangeiros, não é tarefa do 
tradutor, mas sim de bibliotecário. Caso o tradutor se julgar capacitado 
para a tarefa e resolver aceitar, deve contratar separadamente, com 
preço superior ao da tradução, porque, lauda por lauda, palavra por 
palavra, ficar atrás de traduções brasileiras de livros estrangeiros 
demora bem mais do que traduzir e, portanto, deve custar bem mais 
caro. 
 
Cacófatos 
 
 
A cacofatomania, a mania de encontrar cacófatos em todo o canto, é 
uma patologia que afeta a tradutores, revisores, críticos e leitores 
igualmente. Para ela, o único remédio é o bom senso. Este livrinho não 
tem um verbete sobre “bom senso”. 
 
No primeiro livro que traduzi, levei um puxão de orelhas por ter usado 
“por causa”, sob a justificativa de que “por causa” ia ser lido como 
“porca usa”. Desculpe, mas não acredito que qualquer pessoa com 
mentalidade normal fosse ler “por causa” como “porca usa”. Continuo 
usando “por causa”. Aliás, estou em boa companhia: encontrei 
exemplos em Machado e no Padre Vieira, que, ao que eu saiba, são 
melhores conselheiros que o revisor da editora. 
 
Claro, se o cliente quiser, a gente troca. Mas continua sendo bobagem. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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18 
 
 
Can/could 
 
Can é um verbo auxiliar modal. Como todos eles, é defectivo. Onde 
falta, muitas vezes é substituído por circunlóquios formados a partir de 
be able to. Mesmo assim, é carente de tempos progressivos. 
 
➢ Verbos auxiliares 
➢ Be able to 
 
Sua tradução canônica é poder: 
 
Can we start? 
Podemos começar? 
 
You can’t go swimming. 
Você não pode ir nadar. 
 
Entretanto, temos também conseguir e ser capaz, que refletem melhor a 
ideia de que é preciso fazer algum esforço, de que talvez seja 
impossível: 
 
Can you lift this table? 
Você consegue levantar esta mesa? 
Você é capaz de levantar esta mesa? 
 
Ser capaz e conseguir não são sempre intercambiáveis: 
 
Can’t find the specific download you want? 
Não é capaz de encontrar o programa que quer baixar? 
Não está conseguindo encontrar o programa que quer baixar? 
 
… têm sentidos diferentes. A primeira é quase uma acusação de 
incompetência, ao passo que a segunda é mais genérica e inclui a 
possibilidade de que a pessoa não esteja conseguindo encontrar o 
programa por problema ou deficiência do sistema. 
 
Note que, na segunda opção, estamos usando um tempo progressivo 
em português, opção que seria impossível em português. Cabe ao 
tradutor o dever de explorar esses recursos do português de que o 
inglês não dispõe em vez de ficar preso às construções paralelas. 
 
Num texto mais coloquial, dar pode ser a melhor tradução: 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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You can't swim in that beach. 
Não dá para nadar naquela praia. 
É proibido nadar naquela praia. 
Não se pode nadar naquela praia. 
 
➢ You 
 
Can you lift this table? 
Dá para você levantar esta mesa? 
 
Saber normalmente é a tradução mais correta quando se trata de 
habilidade ou capacidade intelectual, como, por exemplo, falar uma 
língua ou tocar um instrumento musical: 
 
Few of the tourists could speak English. 
Poucos dos turistas sabiam falar inglês. 
 
Magda could speak three languages by the age of six. 
(A) Magda sabia falar três línguas aos seis anos de idade. 
 
She can play the piano very well. 
Ela sabe tocar piano muito bem. 
 
Entretanto, nesses casos, muitas vezes é mais idiomático simplesmente 
nem traduzir o can: 
 
Few of the tourists could speak English. 
Poucos dos turistas falavam inglês. 
Poucos dos turistas sabiam falar inglês. 
 
Magda could speak three languages by the age of six. 
Magda falava três línguas aos seis anos de idade. 
Magda sabia falar três línguas aos seis anos de idade. 
 
She can play the piano very well. 
Ela toca piano muito bem. 
Ela sabe tocar piano muito bem. 
 
É só o contexto que pode nos dizer quando can é poder e quando 
significa saber: 
 
She can play the piano very well. 
Ela sabe tocar piano muito bem. 
 
Mas: 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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She can play the piano, but she will not be allowed to dance. 
Ela pode tocar piano mas não vai poder dançar. 
 
Note a diversidade de traduções no português: 
 
He can’t ride a bike. 
Ele não pode andar de bicicleta. 
(Tem um problema físico que impede.) 
Ele não sabe andar de bicicleta. 
(Não aprendeu.) 
Ele não pode andar de bicicleta. 
(Não é permitido, não deixam.) 
Ele não consegue andar de bicicleta 
(Até se esforça, mas tem um problema físico que impede.) 
 
É só uma leitura cuidadosa do contexto que pode dizer qual a 
alternativa correta e cabe a nós a escolha da tradução correta. 
 
Numa pergunta, é bem idiomático usar frases auxiliares, do tipo de será 
que, principalmente num registro informal: 
 
Can he ride that bike? Seems too big for him. 
Será que ele consegue andar naquela bicicleta? Acho que é grande 
demais para ele. 
 
Quando o verbo principal exprime uma sensação, tal como ver ou 
ouvir, é o verbo estar que traduz melhor: 
 
Can you see the small boat? 
Está vendo o barquinho? 
 
Can you hear me clearly? 
Está me ouvindo bem? 
 
Can com verbo principal na passiva muitas vezes pode ser melhor 
traduzido por possível (ou sua negação) como parte de um predicado 
nominal: 
 
That guard cannot be bribed. 
Não é possível subornar aquele guarda. 
É impossível subornar aquele guarda. 
Não dá para subornar esse guarda. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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21 
 
 
Could 
 
Em teoria, could é só o passado de can. Na prática, é também uma 
forma mais atenuada e cortês: 
 
Could you please help me? 
 
…está longe de ser o passado de 
 
Can you please help me? 
 
… é muito mais uma forma mais suave e delicada de pedir ajuda. Às 
vezes, dependendo do contexto, e do registro 
 
Será que você pode me ajudar? 
 
…seria uma tradução adequada. 
 
Os tempos progressivos 
 
Como todos os auxiliares, can não pode ser usado nos tempos 
progressivos, o que significa que temos uma escolha a fazer, uma 
decisão tradutória a tomar. 
 
I cannot see the §§§ 
 
Chavões 
 
Um chavão, também chamado “clichê”, é uma expressão, batida, 
fossilizada. Clichês devem ser traduzidos por clichês, até para manter o 
estilo. Às vezes é fácil: 
 
He was drunk as a skunk. 
Estava bêbedo como um gambá 
 
Neste caso, a tradução é literal e até tenho uma leve impressão de que o 
português é um decalque do inglês, já enraizado na nossa fraseologia. 
 
➢ Tradução literal 
Nem sempre é tão fácil: 
She avoided him like the plague. 
Ela fugia dele como o diabo foge da cruz. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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…, que é uma equivalência, exige um pouco de memória e um 
repertório um pouco maior do português. 
 
➢ Equivalência 
 
Às vezes, as diferenças de sentido podem parecer significativas, mas 
não são: 
 
His bark is worse than his bite. 
Cão que ladra não morde. 
 
Quando o autor usa muitoschavões, mesmo que não consigamos 
traduzir todos eles por chavões portugueses, é um sinal de que a 
compensação pode se fazer necessária. 
 
➢ Compensação 
 
Colocação 
 
Embora a Nomenclatura Gramatical Brasileira reserve colocação para a 
ordem das palavras na frase, o termo é cada vez mais usado como 
referência para o que se chama em inglês collocation, quer dizer, 
combinações vocabulares convencionais. 
 
Casaco, a gente veste; sapato, a gente calça. Ficaria muito estranho dizer 
“calça o casaco, veste o sapato”. São chamadas convencionais por serem 
fruto da convenção, nada mais. A gente calça (e não veste) sapato 
porque sapato se calça, não se veste. Ou seja, não há uma explicação 
mais lógica do que a famosa explicação da mamãe: porque é assim que 
se diz e pronto. 
 
No entanto, é comum ver jogar um papel em vez de desempenhar um 
papel, ou fazer uma decisão em vez de tomar uma decisão. 
 
➢ Contaminação 
 
Muitos erros bisonhos podem ser evitados lembrando destas três 
regras: 
 
O objeto condiciona o verbo: 
 
Make a box of tools. 
Fazer uma caixa de ferramentas. 
 
…mas… 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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23 
 
 
Make a decision. 
Tomar uma decisão. 
 
O verbo determina a preposição: 
 
Dream of… 
Sonhar com 
 
…mas… 
 
Think of… 
Pensar em… 
 
…mas… 
 
Like 
Gostar de 
 
O substantivo determina o adjetivo: 
 
Grey suit 
Terno cinza 
 
…mas… 
 
Grey hair 
Cabelo grisalho 
 
…mas… 
 
Brown suit 
Terno marrom 
 
…mas… 
 
Brown eyes 
Olhos castanhos 
 
Compensação 
 
A compensação não faz parte dos procedimentos fundamentais de 
tradução descritos por Vinay e Darbelnet. Seu objetivo é restaurar num 
ponto da tradução uma perda inevitável sofrida em outro. É uma 
espécie de revanche: a gente apanha lá, mas se vinga aqui. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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24 
 
➢ Procedimentos fundamentais de tradução 
Um exemplo: 
She ain’t no good! 
Ela não vale nada. 
 
O original, com sua dupla negativa e ain’t mostra uma violação da 
norma culta, que marca o locutor como pessoa pouco culta, uma 
característica que não é fácil reproduzir em português nesta frase. Há 
quem, nesses casos, use num em vez de não, o que, a meu ver, não 
resolve o problema. Frustrante. Mas, aí a gente se vinga na outra frase, 
onde diz: 
 
Last week we went to the movies… 
 
…que é gramaticalmente correto e estilisticamente mais neutro em 
inglês, e ataca de 
 
Semana passada nós foi no cinema… 
 
…provando que um dia é do caçador, mas o outro é da caça. 
 
Contaminação 
 
 
Contaminação é a absorção indevida de características da língua de 
partida no texto de chegada. É o escrever português com “sotaque” 
inglês, embora o português seja nossa língua nativa. Um mal que aflige 
a maioria de nós e do qual muitos não se dão conta. 
 
➢ Estilo 
➢ Gramática e norma culta 
 
Nossos tempos de escola 
 
Um bom modo de abordar a contaminação é lembrar do seu tempo de 
escola? Como era difícil entender que: 
 
– Entendeu a pergunta? 
– Entendi! Entendi muito bem! 
 
…em inglês deveria ser… 
 
“Did you understand the question?” 
“Yes I did! I understood it very well.” 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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25 
 
 
… quando a nós parecia muito mais natural dizer… 
 
“Understood the question?” 
“Understood! Understood it very well.” 
 
Por que a professora sofria tanto (e nós com ela) para aprendermos a 
dizer essas coisas? 
 
Ensinar a todos nós que os pronomes do caso reto eram indispensáveis, 
quando, na aula anterior, o professor de português tinha puxado nossas 
orelhas pelo excesso de pronomes em nossas redações, deve ter custado 
muito aos professores, como também deve ter custado ensinar o uso 
apropriado dos auxiliares como termo vicário. 
 
Na ânsia de aprender inglês, muitas vezes nos esquecemos do nosso 
português e deixamos nosso texto ser contaminado pela montoeira de 
pronomes e outros termos vicários que no inglês são essenciais, por 
torneios e colocações que são diferentes nas duas línguas. 
 
➢ Termos vicários 
➢ Colocações 
 
Para traduzir bem do inglês para o português, é bom lembrar das aulas 
de inglês do colégio e fazer tudo ao contrário, assim, a gente escreve 
português direito. 
 
Além disso, é necessário ler em português furiosamente para 
internalizar coisas a que muitos de nós deixaram na fúria de aprender 
inglês. 
 
A contaminação cria o tradutorês. 
 
➢ Tradutorês 
 
Contexto 
 
Mais importante do que qualquer dicionário ou glossário, é o contexto, 
ou seja, o texto que está à volta da palavra ou expressão que você está 
traduzindo. Por isso, pedir ajuda a alguém para traduzir um termo sem 
dar contexto é errado. Também é errado, em vez de contexto, dizer o 
assunto de que trata o texto ou dar a definição do termo. Contexto é 
uma ou mais frases do texto. 
 
O contexto nos ajuda, também a identifica erros no original. É só o 
contexto que permite saber que: 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
26 
 
 
Principle parts of the Greek verb 
 
…são os 
 
Tempos primitivos do verbo grego 
 
e não 
 
Partes do princípio do verbo grego 
 
➢ Erros no original 
➢ Relevância 
 
Também é o contexto que nos ajuda a acertar o estilo da tradução 
quando é necessário usar o recurso de compensação. 
 
➢ Compensação 
 
Correção política 
 
 
As escolhas do autor refletem seus próprios vieses políticos e 
filosóficos, que fazem parte integrante da mensagem e, por isso, devem 
ser respeitadas, mesmo que não estejamos de acordo com elas. 
 
A stinking jew 
Um judeu fedido 
Um judeuzinho fedido 
 
Outras vezes, o termo politicamente incorreto reflete a idade do texto: 
 
A cripple 
Um aleijado 
 
…pode indicar um texto anterior ao momento em que a palavra cripple 
se tornou socialmente inaceitável e traduzir 
 
A poor cripple, unable to walk beyond the limits of her own garden. 
Uma senhora com necessidades especiais, incapaz de caminhar além dos 
limites de seu próprio jardim. 
 
...é uma traição a Trollope, o autor da frase. Melhor traduzir por: 
 
A poor cripple, unable to walk beyond the limits of her own garden. 
Uma pobre aleijada, incapaz de caminhar (/ir/passar) além dos limites 
de seu próprio jardim. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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Se Trollope tivesse escrito nos tempos de hoje, talvez não tivesse usado 
a palavra cripple, mas sucede que ele não escreveu nos tempos de hoje e 
não usar o termo aleijado, seria uma adaptação, não uma tradução. 
 
➢ Adaptação 
 
Claro que, pelo andar da carruagem, vai chegar um tempo em que 
pouca gente ainda saiba o que é um aleijado e então, as novas 
traduções vão ter que fazer opções diferentes, mas toda tradução é 
passageira. 
 
Muitas vezes, o texto chega a ser revoltante: 
 
A dirty nigger. 
Um negrinho sujo. 
 
Se não tiver estômago para traduzir, recuse o encargo. Mas se aceitar, 
traduza direito. 
 
Cortes 
 
Eliminar partes do texto sob a alegação de que não interessariam ao 
leitor brasileiro ou ao leitor moderno é crime de lesa-original, salvo se 
ficar claramente indicado que se trata de um resumo ou adaptação. Se o 
cliente mandar, bom, paciência, mas, nesses casos, não gostaria de ver 
meu nome associado à tradução. 
 
➢ Adaptação 
➢ Belles infidèles 
 
Decalque 
 
 
Este é um dos procedimentos fundamentais de tradução descritos por 
Vinay e Darbelnet. No decalque, os elementos constitutivos de um 
sintagma são traduzidos literalmente, criando algo de novo na língua 
de chegada. Foi por decalque que muitas palavras entraram na língua: 
 
All he wanted was a Coke and a hot dog. 
Tudo o que (ele) queria era uma Coca e um cachorro-quente. 
 
Neste caso, em que cachorro-quente se refere ao sanduíche e não ao 
animal propriamente dito (espera-se), temos um decalque. Podíamos 
ter dito hot-dog, mas isso seria um empréstimo. Muitasvezes, o 
decalque compete com o empréstimo: há quem diga cachorro-quente, 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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28 
 
 
mas há quem diga hot dog – e há quem diga ora um, ora outro. Parece 
que, neste caso, o empréstimo está vencendo. 
 
➢ Empréstimo 
 
Por outro lado, outras vezes vence o decalque. Os nomes das posições 
no jogo de futebol, que antigamente eram todos em inglês, hoje são 
todos em português e, em vários casos, são decalques, como center- 
forward que virou centroavante, antes tendo passado por um processo 
de aclimatação. 
 
➢ Aclimatação 
 
Os mais velhos vão se lembrar do tempo em que: 
 
Give me a ring! 
Telefona para mim! 
 
➢ Transposição 
 
… era a frase normal, até que surgiu 
 
Give me a ring! 
Me dá um toque! 
 
…um decalque hoje plenamente aceito. 
 
Alguns torneios de frase são tão bem-sucedidos que deixam de ser 
percebidos como decalque e se integram à língua de chegada. Por isso, 
nem sempre é fácil determinar o que seja decalque. O termo, em si, 
reflete um momento histórico, uma transição. Já ninguém precisa 
explicar o que é um cachorro-quente. Por outro lado, já ouvi mais de 
uma pessoa dizendo um sanduíche (ou: um lanche) de cachorro-quente, 
o que indica que até os decalques podem mudar de sentido com o 
tempo. 
 
Os decalques costumam ser mal recebidos e tachados de anglicismo, 
nefastas ameaças à sobrevivência da língua. Se vão ser absorvidos na 
estrutura geral do português, só o tempo pode dizer. 
 
Delimitação em sintagmas nominais 
 
Nem sempre é fácil delimitar corretamente os sintagmas nominais. Veja 
este exemplo: 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
29 
 
 
The instructor will present, model, and discuss presentation concepts 
and techniques. 
 
Não há recurso sintático que nos permita saber se o presentation se 
refere tanto a concepts como a techniques. O sentido nos faz crer que 
seja a ambos, então, podemos traduzir sem (muito) medo como 
 
The instructor will present, model, and discuss presentation concepts 
and techniques. 
O instrutor vai apresentar, modelar e discutir conceitos e técnicas de 
apresentação. 
 
Às vezes, entretanto, a coisa complica: 
 
International trading and liquidity 
 
O adjetivo se refere a ambos os substantivos, ou só a trading? Na 
verdade, só a trading, mas é algo que só o conhecimento e o contexto 
nos ajudam a entender. 
 
Não há uma regra para definir a referência do adjetivo que eu conheça. 
Existe, sim, o cuidado de ir do primeiro adjetivo até o substantivo final, 
que constitui o núcleo sintagmático e analisar a situação. 
 
➢ Contexto 
 
Dicionários 
 
Por bons que sejam, todos os dicionários e glossários são incompletos e 
contêm erros. Por isso, devem ser usados sempre com uma pitada de 
bom senso. Este livrinho não tem um verbete sobre “bom senso”. 
 
Além disso, nunca se esqueça que a tradução começa depois de você 
fechar o dicionário. 
 
Do lado inglês 
 
É sempre bom lembrar que o seu texto pode estar usando uma palavra 
ou expressão numa acepção que não conste no dicionário, ou por ser 
um neologismo, ou por erro de revisão, ou por, simplesmente, erro do 
autor. Nesses casos, como sempre, manda mais o contexto que o 
dicionário. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
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Do lado português 
 
Não é por a palavra estar no dicionário que você pode usar. O 
dicionário, qualquer dicionário, tem uma quantidade enorme de 
palavras que existem, já foram usadas e tal, mas são absolutamente 
impróprias para o texto que você está escrevendo. 
 
Por outro lado, não é por que a palavra não está no dicionário que não 
pode ser usada: todo dicionário está, por natureza, desatualizado e o 
seu texto pode exigir o uso de um neologismo. 
 
➢ Neologismo 
➢ Gramática e norma culta 
➢ Estilo 
 
Dinheiro 
 
De modo geral, valores monetários não devem ser convertidos em 
moeda brasileira, principalmente na tradução literária e mesmo na 
tradução editorial em geral. Num livro, 
 
…a fifty-dollar bill 
…uma nota de cem cruzados 
 
…é o tipo da tradução que eu não recomendo. Em primeiro lugar, não 
se tratava de uma nota de cem cruzados. Em segundo lugar, converter 
valores monetários abrevia a vida do texto: a taxa de câmbio muda, 
muda até o nome da moeda e a tradução envelhece com maior rapidez. 
Quem sabe hoje o que eram cem cruzados? Depois, porque muda, sem 
necessidade, o ambiente dos EUA para o Brasil e, ainda por cima, fixa 
um período (1986-1989) durante o qual essa moeda foi usada. 
 
Vários países usam dólar como moeda e às vezes, o original marca de 
que tipo de dólar estamos falando: 
 
She found a Canadian Dollar in her purse. 
Encontrou um dólar canadense na bolsa. 
 
Note, também a omissão do pronome e do possessivo, que são 
indispensáveis em inglês, mas peso morto em português. 
 
➢ Relevância 
➢ He/she 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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31 
 
 
Em textos mais formais, como contratos ou tratados internacionais, 
prefiro dólares dos Estados Unidos da América a simplesmente 
dólares. 
 
Dólar é palavra aclimatada e dicionarizada, portanto se escreve de 
acordo com as regras ortográficas e morfológicas do português: acento 
agudo na primeira vogal, plural em -es e maiúscula só quando as regras 
de ortografia exigirem, o que significa, na maioria das vezes, só quando 
iniciar período. Em outras palavras, escrever dollar em português é 
simples erro de ortografia. 
 
➢ Aclimatação 
 
Em trabalho de ficção, é preferível escrever os nomes das moedas 
estrangeiras por extenso. Quando tiver de usar símbolos use US$ como 
símbolo do dólar dos EUA, em vez de só o cifrão, como fazem nos 
EUA. Se o original usar USD, use o USD também na tradução. 
 
Reserve o cifrão simples para símbolo de “qualquer moeda”, como, por 
exemplo, se usa em textos de economia, contabilidade ou matemática 
financeira, onde… 
 
Consider the hypothetical returns on $100 invested in Stock A and 
Stock B. 
Considere o retorno hipotético de $ 100 investidos na Ação A e na Ação 
B. 
 
…não significa um investimento de 100 dólares dos EUA. Trata-se do 
enunciado de um problema de matemática financeira e não faz 
diferença usarmos dólares, dracmas, dinares da Baixa Eslobóvia ou 
qualquer outra moeda. 
 
Deixe um espaço entre o cifrão e o primeiro algarismo (sim, sei que em 
inglês vai tudo junto). Para impedir que o cifrão fique numa linha e o 
algarismo em outra, use o espaço inseparável (Ctrl Shift Espaço no 
Windows, Option-Space no Mac). 
 
Exceções 
 
Em textos jornalísticos, ou outros textos para os quais se espere vida 
breve, pode-se agregar um valor aproximado em moeda nacional, entre 
parênteses ou como aposto. Nesse caso, arredonde o valor em moeda 
nacional: 
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32 
 
 
Lunch for two cost us less than $50. 
Um almoço para dois custou menos de US$ 50 (cerca de R$ 200,00, 
pelo câmbio de hoje). 
 
➢ Explicitação 
 
Arredondamento 
 
Mesmo que pelo câmbio do dia US$ 50,00 correspondam mais 
exatamente a R$ 198,57, não faz sentido chegar a esse nível de precisão, 
não só porque as taxas variam de um dia para o outro, mas também 
porque o próprio less than indica que mesmo o inglês é uma 
aproximação. 
 
Moeda britânica antiga 
 
Até 1971, a libra esterlina se dividia em 20 shillings e o shilling em 12 
pence, que era o plural de penny, abreviados £, s, d. Em 1971, foram 
abolidos os schillings, mas ficaram os pence, com valor diferente, 
primeiro como new pence, mas o new foi abandonado em 1981. 
 
Em português, há quem prefira grafar pêni, como está no Houaiss, por 
ser a forma "correta". O Houaiss também diz que o plural de pêni é 
pênis, mas não pegou e, para evitar o pênis, havia até quem 
pudicamente escrevesse peniques, o que etimologicamente está até que 
bom, mas também não pegou. Também se recomendava escrever xelim,o que também não pegou. O uso é, realmente, manter os nomes 
originais. 
 
➢ Empréstimo 
 
Os ingleses tinham outras moedas, como a crown, que valia 5 shillings 
e normalmente se traduz por coroa e a half-crown, que se traduz por 
meia coroa. O guinea, normalmente traduzido como guinéu valia 21 
shillings. Hoje, embora oficialmente não exista, entende-se que valha £ 
1,05. Esses nomes ainda são usados eventualmente, mas as moedas não 
são mais cunhadas. Na tradução literária e em textos antigos, aparecem 
o tempo todo. O sovereign é uma moeda de uma libra e, muitas vezes, 
se traduz por soberano. 
 
Como nem todos os leitores sabem dessas coisas, pode ser útil traduzir 
por uma moeda de... 
 
A box containing a shiny half-crown and three handkerchiefs…. 
Uma caixa com uma moeda brilhante de meia coroa e três lenços… 
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➢ Explicitação 
 
Em todos esses casos, é desnecessário apor notas de tradutor longas e 
eruditas. Quanto menos, melhor. 
 
Distorção 
 
Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma – ou ao 
menos era o que dizia Lavoisier. Em tradução, sempre alguma coisa se 
cria e sempre se perde alguma coisa, o que talvez prove que tradução 
não é uma atividade natural. O que ganha e o que se perde é o que 
chamo distorção. Quanto menor a distorção, melhor a tradução. 
 
Mesmo numa frase simples como 
 
They had breakfast silently. 
Tomaram café em silêncio. 
 
…estamos agregando um café, que os personagens talvez não tenham 
tomado. Seria mais preciso dizer: 
 
They had breakfast silently. 
Tomaram o de(s)jejum em silêncio. 
 
…mas é uma palavra bem mais rara, que levaria a tradução a um 
registro que ela não tem em inglês. 
 
Para minimizar a distorção, é essencial preservar o que é mais 
relevante. No caso, tomaram o café em silêncio, indica que, ao ver do 
tradutor, é mais relevante referir-se à refeição matinal pelo nome que 
ela normalmente traz em português do que não se referir a uma bebida 
que pode ter sido consumida ou não. 
 
➢ Vício de frequência 
➢ Relevância 
 
Do/did 
 
 
O uso do verbo pleno to do, não nos causa grandes problemas. 
Entretanto, seu uso como verbo vicário ou elemento de ênfase podem 
nos dar dores de cabeça. 
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Verbo vicário 
 
Do/did são usados como verbos vicários para responder a perguntas 
feitas com o próprio do. Nestes casos, prefiro dar a resposta com o 
próprio verbo principal: 
 
Did you read the book? 
Yes, I did. 
Você leu o livro? 
Sim, eu o fiz! 
Sim, li. 
 
Essa construção me parece mais idiomática (ainda lembro quanto me 
custou para aprender a responder yes, I did em vez de yes, I read). 
Além disso, evita um pronome oblíquo, algo que, no meu entender, é 
sempre uma vantagem. Pronomes oblíquos trazem consigo os 
problemas de colocação que costumam ser complicados: aquilo que a 
gramática e o revisor exigem, nem sempre é o que a língua acha 
natural. Melhor evitar. 
 
➢ Contaminação 
➢ Termo vicário 
➢ Pronomes oblíquos 
 
She said she would write John, but she didn’t. 
Disse que ia escrever para o John, mas não escreveu. 
 
Will she come? She may do. 
Será que ela vem? É (bem) capaz de vir. 
Será que ela vem? Talvez venha. 
 
Muitas vezes, o melhor é omitir: 
 
You know as much as I do. 
Você sabe tanto quanto eu. 
 
➢ Economia vocabular 
Também são usados como vicários nas tag guestions: 
She spoke German at home, didn’t she? 
Ela falava alemão em casa, não falava? 
 
Nesses casos, sempre prefiro, reutilizar o verbo principal do que 
traduzir o do literalmente. A mim, parece mais idiomático repetir o 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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verbo principal do que inçar meu texto de formas do verbo fazer – o 
que é pular da frigideira para o fogo. 
 
… warned the West to stay out, and threatened World War III if they 
didn’t. 
… avisou o Ocidente que devia manter distância e ameaçou começar a 
Terceira Guerra mundial, caso não mantivesse 
 
➢ Modulação 
 
Enfatizador 
 
Do aparece muito em afirmativas no presente, só para dar ênfase: 
 
Should you come to London, do come have lunch with me. 
Se vier a Londres, não deixe de vir almoçar comigo. 
Se vier a Londres não se esqueça de vir almoçar comigo. 
 
Além do uso especial de should, temos o tratamento da ênfase como, 
digamos, a “negativa de privação”, o que é um caso de modulação. 
 
➢ Should 
➢ Modulação 
 
Economia vocabular 
 
O princípio da economia vocabular diz que, em igualdade de 
condições, a tradução mais breve é a melhor. Veja os exemplos: 
 
A charming image of a peasant woman. 
Uma imagem encantadora de uma mulher camponesa. 
Uma imagem encantadora de uma camponesa. 
 
A black man 
Um homem negro 
Um negro 
 
To many people, the arguments presented… 
Para muitas pessoas, os argumentos apresentados… 
Para muitos, os argumentos apresentados… 
 
Uma das principais ofensas a esta lei está no hábito de traduzir todos os 
pronomes e possessivos ingleses pelos seus homólogos portugueses: 
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I sold my house last year. 
Eu vendi minha casa no ano passado. 
 
…que podia ser facilmente substituído por 
 
I sold my house last year. 
Vendi minha casa no ano passado. 
 
…aliás, em muitos contextos, 
 
I sold my house last year. 
Vendi a casa no ano passado. 
 
…daria conta do recado, já que, em português, a explicação de qual 
casa foi vendida geralmente é necessária só quando não se trata da 
residência do locutor. 
 
➢ Possessivos 
 
Também temos os casos dos aumentativos e diminutivos, tão comuns 
em português e tão raros nas traduções 
 
Can you see the small boat? 
Está vendo o pequeno barco 
Está vendo o barquinho? 
 
➢ Pronomes 
➢ Possessivos 
➢ Vício de frequência 
 
Empréstimo 
 
 
O empréstimo é um dos procedimentos fundamentais de tradução 
descritos por Vinay e Darbelnet. Por estar num dos extremos da gama 
(o outro extremo é a adaptação), é um procedimento limítrofe entre a 
tradução propriamente dita e a não tradução. Consiste em usar, no 
texto de chegada, o mesmo termo encontrado no texto de partida. 
 
The images provide a fascinating insight into the prejudices… 
As imagens dão um insight fascinante sobre os preconceitos… 
 
Um insight, na opinião de quem traduziu – porque tradução é, entre 
outras coisas, uma questão de opinião – é diferente de uma ideia, de 
compreensão ou entendimento ou de qualquer outra palavra 
portuguesa. Outros podem – e vão – divergir. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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A rigor, não há palavra portuguesa que tenha exatamente o mesmo 
sentido que uma palavra inglesa, o que, em princípio, justificaria todo e 
qualquer empréstimo – e já vi um tradutor atarantado com judge, que 
não queria traduzir por juiz, porque há diferenças enormes entre o 
cargo, funções e desempenho de e de outro. 
 
Por isso, a decisão entre usar ou não um empréstimo deve se basear não 
na existência de diferenças, mas sim na sua relevância no contexto. 
 
➢ Contexto 
 
Com o tempo, se a palavra ou expressão se tornarem comuns, a língua 
muitas vezes acaba por adotar uma solução mais portuguesa, talvez um 
decalque, ou ao menos, uma simples aclimatação. 
 
All downloads are provided under the terms and conditions… 
Todos os programas que você baixar estão sujeitos aos termos e 
condições… 
 
Football is the most popular sport in Brazil. 
O futebol é o esporte mais popular no Brasil. 
 
➢ Aclimatação 
➢ Decalque 
 
Outras vezes, a importação se dá só por exotismo ou para manter o 
prestígio: usar palavras estrangeiras é e sempre foi considerado chique, 
não só em português, isso não é de hoje – nem vai mudar nunca. 
 
Tratamento dos empréstimos 
 
Teoricamente, todos os empréstimos deveriam ser grafados em itálico. 
Entretanto, emcertas áreas, são tantos que, esse tratamento se torna 
impossível. Aqui, além das preferências do cliente, importa o bom 
senso. Este livrinho não tem um verbete sobre “bom senso”. 
 
Quando o empréstimo é um verbo, vai automaticamente para a 
primeira conjugação, mas quando tomamos emprestado um 
substantivo, é necessário determinar seu gênero morfológico. O 
problema é que não existem regras infalíveis para determinar o gênero 
gramatical em português. 
 
Temos diversos exemplos de palavras que ainda causam confusão, 
nesse sentido: algumas pessoas dizem o cheesecake (pensando em 
cake, bolo, faz sentido), outras dizem a cheesecake (pensando que é 
muito mais uma torta que um bolo, o que também faz muito sentido). 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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Em informática, é comum dizermos a URL, apesar de ser um 
localizador. No mesmo caminho, pen drive, HD e outros termos 
também são usados como masculino por uns e feminino por outros. 
 
Qualquer escolha é um risco, neste e em outros casos. Havendo tempo, 
é bom perguntar a duas ou três pessoas que gênero acham que cabe 
bem – mas nunca há tempo. Ouvir a opinião do cliente, aqui, é 
importante. Manter a uniformidade, quer dizer, usar sempre o 
masculino ou o feminino para um determinado termo emprestado é 
essencial. 
 
O empréstimo é uma das portas de entrada lógicas para novidades na 
língua (o outro é o decalque). Por isso seu uso é muito comum nas 
traduções, principalmente nos gêneros menos literários. Saber quando 
usar um empréstimo ou uma aclimatação, quando cunhar um 
neologismo ou usar uma palavra já existente na língua é uma questão 
de bom senso. Este livrinho não tem um verbete sobre “bom senso”. 
 
Empréstimos são empréstimos? 
 
Há quem prefira se referir a esses casos como importações, sob a 
justíssima alegação de que se presume que algo deva ser devolvido 
enquanto que ninguém supõe que uma língua vá devolver algum dia as 
palavras que tomou emprestadas das outras. Mas acho que, aí, estamos 
sendo mais realistas que o rei. 
 
Equivalência 
 
 
Equivalência é um dos procedimentos fundamentais de tradução 
descritos por Vinay e Darbelnet. A equivalência reflete a mesma 
situação do original usando meios linguísticos e estilísticos totalmente 
distintos, como mostram os exemplos abaixo. 
 
➢ Procedimentos fundamentais de tradução 
 
Where there is a will, there is a way. 
Querer é poder. 
 
Birds of a feather flock together. 
Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és. 
 
Yours truly, 
Atenciosamente, 
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He charged an arm and a leg. 
Enfiou a faca até o cabo. 
 
Nem sempre é fácil encontrar equivalências em dicionários. 
 
Às vezes, é possível traduzir mais literalmente, às vezes até com 
resultados interessantes: 
 
Where there is a will, there is a way. 
Onde houver a vontade, haverá um caminho. 
 
Ou, com modulação: 
 
Where there is a will, there is a way. 
Quem tem vontade, acha o caminho. 
 
➢ Modulação 
 
Entretanto, não é uma boa tradução, porque o original é uma forma 
fossilizada na língua inglesa, ao passo que a tradução não é uma forma 
usual no português. Em outras palavras, transformamos um chavão 
numa inovação, algo que não deixa de ser uma distorção. 
 
➢ Distorção 
 
Note que o termo tem sentido diferente na obra de outros autores. 
Aqui, uso estritamente no sentido usado por Vinay e Darbelnet. 
 
Erros no original 
 
Uma tradução exige uma leitura tão atenta do texto de partida que 
muitas vezes notamos erros que o autor e os revisores deixaram passar. 
 
Poucas coisas alegram mais um tradutor do que encontrar um desses 
erros. Dá uma enorme vontade de pavonear-se numa nota, explicando 
com detalhes e não sem um tostãozinho de ironia, que, onde o autor 
deveria ter escrito X, escreveu Y. Esse costuma ser o pior modo de lidar 
com o erro. Muitos erros carecem de relevância e, nesses casos, é 
melhor traduzir o texto como se nem existissem. 
 
Por outro lado, em alguns casos, manter o erro pode ser importante 
quando o for um elemento relevante do texto. Já traduzi um texto que 
tinha dado origem a uma reclamação judicial e, nesse caso, preservar os 
erros era essencial, para que o leitor percebesse em que encrenca sua 
empresa tinha se metido 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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➢ Relevância 
 
Os erros podem ser formais e materiais. 
 
Erros formais 
 
A maioria dos erros encontrados são meramente formais, quer dizer, 
atentados contra a gramática e ortografia. Por exemplo, 
 
The principle parts of a Greek verb are… 
Os tempos primitivos de um verbo grego são… 
 
…encontrado em uma gramática grega publicada pelo MIT, deveria ser: 
 
The principal parts of a Greek verb are… 
Os tempos primitivos de um verbo grego são… 
 
Salvo se o objetivo da tradução for demonstrar que o livro continha 
erros de ortografia, o melhor é traduzir direito e deixar o erro para lá, 
algo que, vamos e venhamos, é bem mais fácil. 
 
Erros materiais 
 
Os erros materiais, ou seja, os de conteúdo, são mais problemáticos. A 
gente encontra até nos melhores autores. Horácio, na Arte Poética, já 
dizia Quandoque bonus dormitat Homerus, o que significa “de vez em 
quando, o bom Homero cochila”, porque, aparentemente, na Ilíada, há 
uma que outra incoerência. O sujeito que morre numa luta qualquer e 
depois vence alguém mais em outra, ou coisa parelha. 
 
Aqui, o problema é mais complexo e envolve inclusive questões de 
ética. As soluções vão desde consultar o cliente ou o autor até adicionar 
uma nota de tradutor ou, em casos extremos, recusar o encargo, uma 
decisão heroica que nem sempre nosso bolso permite. 
 
Pontos com que você não concorda 
 
Nem sempre o tradutor concorda com o autor e é muito difícil resistir à 
tentação de “corrigir” certos “erros” do original, principalmente 
quando o tradutor tem formação técnica na área. Nunca se esqueça que 
o leitor quer saber o que o autor disse, não o que tradutor acha que o 
autor deveria ter dito. 
 
Nos meus tempos de editora, um revisor técnico alterou totalmente o 
sentido de um parágrafo de um livro de economia que eu tinha 
traduzido. Quando fui perguntar o que havia de errado com a minha 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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tradução, ele respondeu “Nada! É que o autor é um imbecil e eu não 
posso permitir que um de nossos livros contenha uma besteira dessas.” 
Sim, o autor talvez fosse um imbecil, mas era prêmio Nobel e professor 
na Universidade de Chicago e quem comprava o livro era para saber o 
que o homem tinha dito, não para saber o que um mestrando aqui da 
terra achava que devia ser dito. 
 
➢ Adições do tradutor 
 
Em casos extremos, cabe ao tradutor o direito de exigir que a tradução 
seja assinada com pseudônimo, ou até, quando o bolso permite, recusar 
o trabalho. 
 
➢ Ética 
 
Responsabilidade do tradutor 
 
O tradutor não tem obrigação nem de notar nem muito menos de 
corrigir erros do original. Quando notar, quiser e puder corrigir, é 
melhor que faça correções discretas, até para não irritar egos inflados. 
 
Alguns autores são muito abertos a discussão e sabem que raramente o 
tradutor reclama sem alguma razão, outros, entretanto, consideram 
qualquer reparo ao seu trabalho um insulto. Outros, simplesmente, 
estão mortos e não podem ser consultados – o que nem sempre é uma 
desvantagem. 
 
Com os editores, a situação é semelhante: há quem aceite sugestões do 
tradutor, há quem rejeite. Convém dançar conforme a música. 
 
Entre uns e outros, todo tipo de gente. Cautela e canja de galinha nunca 
fizeram mal a ninguém. 
 
De qualquer forma, o tradutor jamais deve assumir perante o cliente a 
responsabilidade de identificar os erros no original. Na maioria dos 
casos, não temos os conhecimentos nem o material de consulta 
necessários para esse tipo de serviço. Seo autor faz uma citação, não 
cabe a você verificar se ele citou direito ou se – como de vez em quando 
acontece – usa um tantichinho de, digamos, imaginação criativa. 
 
Quando temos conhecimento e material, não temos tempo, porque o 
serviço é urgente. E quando temos o conhecimento e o tempo, não 
querem nos remunerar pelo tempo gasto – porque é só uma olhadinha. 
Uma olhadinha, sei. 
 
A remuneração e o prazo são sempre um problema. 
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Especificações 
 
Tradução é um serviço e para todo serviço há especificações. Boa parte 
das especificações é implícita. Por exemplo, salvo ordem em contrário, 
quem recebe um arquivo .docx para traduzir devolve um arquivo .docx 
traduzido. Outras vezes, as especificações são explícitas e transmitidas 
ao tradutor de maneira mais ou menos formal, em forma de mensagem 
ou num guia de estilo. Para alguns serviços, as especificações incluem 
um glossário. 
 
Muitos tradutores chegam a se ofender com essas especificações, 
sentidas como uma limitação à sua liberdade profissional – o que não 
deixam de ser. Às vezes, nem cumprem, sob a alegação de que já têm 
experiência suficiente para saber como se traduz, uma postura eivada 
de estrelismo que, quando se trata de trabalho de equipe, causa 
inúmeras dificuldades a quem tiver de uniformizar o texto. 
 
Mas o cliente tem todo o direito de impor especificações, assim como 
nós nos damos o direito de impor especificações a quem nos prestar 
serviços e, por exemplo, ficaríamos indignados se o pintor exercesse sua 
liberdade profissional pintando nosso escritório de cor de burro quando 
foge em vez de pintar de azul-neve com bolinhas cor de cenoura, como 
pedimos. E, vamos e venhamos, é bem melhor o cliente nos dar 
especificações, por mais odientas que nos pareçam, do que reclamar 
que nosso serviço entregue não está da cor que ele queria. 
 
Essas especificações variam do perfeitamente aceitável, por exemplo, 
traduzir instruções sempre no infinitivo ou sempre no imperativo: 
 
Check 
Confira 
Conferir 
 
Até coisas indescritivelmente horríveis como traduzir 
 
Public-address system 
Sistema de endereçamento ao público 
 
…como apareceu num glossário que recebi de um cliente há anos. 
 
As especificações evitam uma grande quantidade de problemas de 
revisão e, quando se trabalha em grupo, como é cada vez mais comum 
atualmente, permitem oferecer ao leitor um texto mais homogêneo. 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
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Muitas vezes, principalmente em trabalhos mais longos, as 
especificações vão se desenvolvendo ao longo do trabalho, para 
enfrentar problemas que não tinham sido previstos e cabe ao revisor ou 
ao coordenador de equipe voltar a arquivos já traduzidos, para fazer 
um ajuste às novas especificações. 
 
Cabe ao tradutor o direito – quando não o dever – de propor melhoras 
ao guia de estilo, apontando os eventuais desacertos ou pontos dúbios, 
mas cabe ao cliente a decisão final, quando o cliente é do tipo que aceita 
sugestões. 
 
Surge, então, um problema quando as especificações são absolutamente 
inaceitáveis. O ideal, nesses casos, seria recusar o serviço. Mais fácil 
dizer do que fazer, porque quando a barriga ronca de fome, a boca não 
sabe dizer não. Nesses casos, se o serviço for anônimo, como são os 
serviços para agências, o sapo fica mais fácil de engolir 
 
Estilo 
 
O estilo é a fisionomia do texto. Alguns estilos são facilmente 
reconhecíveis; outros são menos característicos. Mas todo texto tem 
estilo. Você pode não gostar do estilo do autor, mas, como tradutor, tem 
de respeitar suas opções estilísticas. 
 
O problema é decidir que construção portuguesa melhor reflete o estilo 
do texto inglês. 
 
Algumas editoras têm um estilo da casa, que reduz as peculiaridades 
estilísticas de todos os autores a um texto claro e correto, porém muitas 
vezes chocho e insosso. Esse tipo de aplainamento estilístico pode ser 
aceitável – e até desejável – em certas obras coletivas, não autorais, 
principalmente em livros de consulta. Nesses casos, normalmente, o 
estilo já chega aplainado às nossas mãos e não há nada que tenhamos a 
fazer salvo respeitar o que o original diz. Mas corre muito sangue 
quando o tradutor faz um baita dum esforço para reproduzir o estilo 
enviesado do autor e alguém na editora simplifica, para “ficar melhor”. 
 
Por outro lado, há os tradutores que se julgam ourives da língua e 
optam por escrever num estilo barroco com agravantes em rococó 
“porque esse é o bom português”. Se você estiver traduzindo um texto 
barroco, é a solução, mas, salvo isso, não tem motivo. 
 
Uma vez um tradutor argumentou que fazia parte de nossa missão 
ressuscitar belos recursos da língua como a mesóclise, por exemplo. Em 
primeiro lugar, acho que não é. Em segundo, mesóclise num daqueles 
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romances de ler em aeroporto é besteira, salvo se o personagem for 
empolado pela própria natureza. 
 
➢ Registro 
 
Ética 
 
Tradutores traduzem, essa é a verdade. E leitores leem traduções 
porque querem saber o que o autor disse, não o que o tradutor acha que 
o autor deveria ter dito. Então, exima-se de tentar “melhorar” o texto. 
Traduza bem o que o autor disse, que já é o suficiente. Cada minuto que 
você emprega tentando melhorar a forma ou o conteúdo do original, é 
um minuto que poderia ser mais bem usado melhorando sua tradução. 
 
Nunca mude um texto para se adequar aos seus próprios conceitos e 
ideologias. Se achar que, por motivos éticos, não consegue fazer uma 
boa tradução, recuse o serviço. Se for obrigado a aceitar, engula o sapo e 
traduza direito, sabendo que este mundo não é justo. 
 
Lembre, também, que o problema ético está mais ligado ao uso que se 
vai fazer da tradução do que realmente ao que a tradução diz. Por 
exemplo, traduzir um texto sobre pedofilia para um site pedófilo é um 
horror, mas traduzir o mesmo texto (por nojo que nos possa dar) para 
uso do ministério público em uma ação judicial já não é. 
 
➢ Estilo 
➢ Correção política 
 
Exotismo 
 
Algumas escolhas tradutórias são motivadas pelo desejo de manter o 
exotismo do original. Não estou me referindo, aqui, só aos casos em que 
o original, em si, contém vocabulário exótico, como, por exemplo, um 
romance ambientado na Mongólia cheio de palavras que tinham até 
correspondentes decentes em inglês mas são mantidas em mongol para 
dar “cor local” ao texto. Estou falando de palavras simples, do dia a dia 
inglês, como breakfast. Se você está traduzindo um guia turístico, 
talvez valha a pena manter breakfast para descrever a refeição matinal 
em um hotelzinho poético da Nova Inglaterra, em vez de traduzir por 
café da manhã. 
 
➢ Empréstimo 
Técnicas de Tradução (2ª Ed.) 
Danilo Nogueira 
45 
 
 
Expansão 
 
Quando o autor usa uma abreviatura inglesa que talvez o leitor 
brasileiro não conheça, é melhor expandir a abreviação, com os ajustes 
necessários. 
 
He used to work at a gas station in Tampa, Fla. 
(Ele) trabalhava em um posto de gasolina em Tampa, na Flórida. 
 
…mas essas intervenções devem ser reduzidas ao mínimo. 
 
Explicação aposta 
 
Muitas vezes, em vez de uma nota do tradutor, é melhor usar uma 
explicação aposta, entre vírgulas, parênteses ou meias riscas. Meia risca 
é o nome técnico daquele sinal que se obtém digitando Alt 150 (–) e que 
muitas vezes é chamado de travessão, que é um pouco mais longo. 
 
The humor of Laurel and Hardy, like that of many great comics, … 
O humor de Laurel e Hardy, – ou “Gordo” e o “Magro” como são 
conhecidos no Brasil – como o de muitos outros cômicos… 
 
A Knesset committee recently approved a draft law… 
Um comitê do Knesset, o parlamento de Israel, aprovou um projeto de 
lei… 
 
…sem necessidade de informar que se trata de adição do tradutor. 
 
➢ Adições do tradutor

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