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2 Winnicott

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Psicologia do desenvolvimento da infância e adolescência
Desenvolvimento humano 
Winnicott
Prof. Dra. Silvana Bagno
Quem foi Winnicott?
Winnicott foi um dos primeiros autores a hierarquizar o papel da mãe no funcionamento mental da criança. 
Para ele, a mãe intervém ativamente como construtora do espaço mental da criança. 
Enquanto pessoas, precisamos do cuidado e atenção de um outro ser humano. 
Para Winnicott, a mãe participa de uma verdadeira unidade com o seu filho, ajuda na sua formação, fazendo com que este processo seja bem feito. 
mãe suficientemente boa
é aquela que possibilita ao bebê a ilusão de que o mundo é criado por ele, concedendo-lhe, assim, a experiência da onipotência primária, base do fazer criativo. 
a percepção criativa da realidade é uma experiência do self, núcleo singular de cada indivíduo.
Teoria de Winnicott
A teoria winnicottiana acentua o papel do ajustamento defeituoso do ambiente em relação às necessidades da criança, atribuindo um papel secundário à sua reação. 
Winnicott acreditava no potencial criativo humano, que traz em si as potencialidades do viver.
o que constitui a natureza humana é a sua continuidade de ser como pessoa, recusando o naturalismo e o determinismo, isto é, a objetificação do ser humano. 
Ele localiza o início dos problemas psicológicos no vínculo entre recém-nascido e mãe. 
A base da estabilidade mental depende das experiências iniciais com a mãe e, principalmente, de seu estado emocional. 
Na abordagem winnicottiana o analista deve oferecer ao paciente o que não teve, criando processos que nunca existiram, capacidades e funções psicológicas, dotando seu paciente de estruturas ausentes.
Principais conceitos do desenvolvimento:
Holding ou Sustentação:
Para Winnicott, a sustentação ou holding deve levar em consideração a sensibilidade epidérmica da criança – tato, temperatura, sensibilidade auditiva, visual, assim como o fato de que a criança desconhece a existência de tudo o que não seja ela própria.
 Inclui toda a rotina de cuidados ao longo do dia e da noite. 
A sustentação compreende, em especial, o fato físico de sustentar a criança nos braços, e que constitui uma forma de amar.
holding
O holding feito pela mãe é o fator que decide a passagem do estado de não-integração, que caracteriza o recém-nascido, para a integração posterior. O vínculo entre a mãe e o bebê assentará as bases para o desenvolvimento saudável das capacidades inatas do indivíduo.
Self verdadeiro e falso self
O ser humano, para Winnicott, nasce como um conjunto desorganizado de pulsões, instintos, capacidades perceptivas e motoras que conforme progride o desenvolvimento vão se integrando, até alcançar uma imagem unificada de si e do mundo externo. (Bleicmar e Bleicmar, 1992).
O papel da mãe é prover o bebê de um ego auxiliar que lhe permita integrar suas sensações corporais, os estímulos ambientais e suas capacidades motoras nascentes.
Quando a mãe não fornece a proteção necessária ao frágil ego do recém-nascido; a criança perceberá esta falha ambiental como uma ameaça à sua continuidade existencial, a qual, por sua vez, provocará nela a vivência subjetiva de que todas as suas percepções e atividades motoras são apenas uma resposta diante do perigo a que se vê exposta. Pouco a pouco, procura substituir a proteção que lhe falta por um “fabricada” por ela. O sujeito vai se envolvendo em uma casca, às custas da qual cresce e se desenvolve o self. O individuo vai se desenvolvendo como uma extensão da casca, como uma extensão do meio atacante.
Winnicott diz que a “mãe boa” é a que responde a onipotência do lactante e, de certo modo, dá-lhe sentido. 
O self verdadeiro começa a adquirir vida, através da força que a mãe, ao cumprir as expressões da onipotência infantil.
A mãe que “não é boa” é incapaz de cumprir a onipotência da criança e deixa de responder ao gesto da mesma, colocando em seu lugar o seu próprio gesto, cujo sentido depende da submissão ou acatamento do mesmo por parte da criança. Esta submissão constitui a primeira fase do self falso e é própria da incapacidade materna para interpretar as necessidades da criança.
Objeto transicional
O objeto transicional representa a primeira posse “não-ego” da criança, têm um caráter de intermediação entre o seu mundo interno e externo.
Em Winnicott o conceito de objeto ou fenômeno transicional recebe três usos diferentes: um processo evolutivo, como etapa do desenvolvimento; vinculada às angústias de separação e às defesas contra elas; representando um espaço dentro da mente do indivíduo. Ele propõe ainda que em determinadas condições, o fenômeno ou objeto transicional pode ter uma evolução patológica, ou mesmo se associar a certas condições anormais.
objetos transicionais
O objeto transicional é algo que não está definitivamente nem dentro nem fora da criança; servirá para que o sujeito possa experimentar com essas situações, e para ir demarcando seus próprios limites mentais em relação ao externo e ao interno.
Bleichmar e Bleichmar (1992) dizem que o objeto transicional está situado em uma zona intermediária, na qual a criança se exercita na experimentação com objetos, mesmo que estejam fora, sente como parte de si mesma.
objetos transicionais
O objeto transicional ocupa para um lugar que Winnicott chama de ilusão. Ao contrario do seio, que não está disponível constantemente, o objeto transicional é conservado pela criança. Ela é quem decide a distância entre ela e tal objeto. 
Como os fenômenos transacionais “representam” a mãe, é essencial que ela seja vivenciada como um objeto bom.
Bleichmar e Bleichamar (1992) relatam que, quando dentro da criança, o objeto materno está danificado, é pouco provável que ela recorra, de maneira constante, a um fenômeno transicional.
objetos transicionais
características comuns aos objetos transicionais: 
a criança afirma uma série de direitos sobre o objeto; o objeto é afetuosamente ninado e excitadamente amado e mutilado; deve sobreviver ao ódio, ao amor, e à agressão. É muito importante que o objeto sobreviva à agressão, possibilitando a criança neutraliza-la, dando-lhe, posteriormente, um fim construtivo, ao notar que esta não destrói os objetos.
Desenvolvimento Psíquico
Winnicott propõe que a maturação emocional se dê em três etapas sucessivas: a da integração e personalização, a da adaptação à realidade e a de pré-inquietude ou crueldade primitiva.
Integração e Personalização
Na etapa inicial de desenvolvimento a questão primordial é a presença de uma mãe-ambiente confiável que se adapte às suas necessidades de maneira virtualmente perfeita. Gurfinkel (1999) lembra que Winnicott inclui entre as “necessidades do ego” tanto os cuidados físicos quanto os psíquicos. Nem a realização mecânica das tarefas físicas ligadas ao lidar com o bebê, e nem a resposta imediata às suas demandas pulsionais implicam a satisfação das necessidades do ego.
Integração
É obtida a partir de duas séries de experiências: por um lado, a sustentação exercida pela mãe, que “recolhe os pedacinhos do ego”, permitindo a criança que se sinta integrada dentro dela; por outro lado, há um tipo de experiência que tende a reunir a personalidade em um todo, a partir de dentro (a atividade mental do bebê). 
graças às experiências citadas, a criança consegue reunir os núcleos do seu ego, adquirindo a noção de que ela é diferente do mundo que a rodeia. Esse momento de diferenciação entre “eu” e “não-eu” pode ser perigoso para o bebê, pois o exterior pode ser sentido como perseguidor e ameaçador. Essas ameaças são neutralizadas, dentro do desenvolvimento sadio, pela existência do cuidado amoroso por parte da mãe.
Personalização
Definida por Winnicott como “o sentimento de que a de que a pessoa de alguém encontra-se no próprio corpo”. 
Para ele, o desenvolvimento normal levaria a alcançar um esquema corporal, chamando-o de unidade psique-soma. 
mente e psique são conceitos diferentes; trata-se de registros relacionados, mas heterogêneos. A psique
é a elaboração imaginativa das partes, sentimentos e funções somáticas e não se separa, nem se divide do soma. A mente, no desenvolvimento saudável, não é nada mais do que um caso particular do funcionamento do psicossoma, surgindo como uma especialidade a partir da parte psíquica do psicossoma.
Adaptação a realidade
A medida que o desenvolvimento progride, a criança tem um ego relativamente integrado, e com a sensação de que o núcleo do si-próprio habita o seu corpo. Ela e o mundo são duas coisas separadas. A etapa seguinte é conseguir alcançar uma adaptação à realidade.
Nessa etapa a mãe tem o papel de prover a criança com os elementos da realidade com que irá construir a imagem psíquica do mundo externo. A adaptação absoluta do meio ao bebê se torna adaptação relativa, através de um delicado processo gradual de falhas em pequenas doses.
Crueldade Primitiva (fase de pré-inquietude)
Depois de a criança ter alcançado a diferenciação entre ela e o meio circundante e se adaptar em certa medida à realidade, pela absorção de pautas objetivas dela, que modificam suas fantasia, o último passo que deve dar é integrar em um todo as diferentes imagens que tem de sua mãe e do mundo.
Winnicott pensa que a criança pequena tem uma cota inata de agressividade, que se exprime em determinadas condutas auto-destrutivas. O bebê volta seu ódio sobre si mesmo para proteger o objeto externo; mas esta manobra não é suficiente e em sua fantasia a mãe pode ficar intensamente danificada (Bleichmar e Bleichmar, 1992).
A mãe é, além do objeto que recebe, em certos momentos, a agressão da criança, é também aquela que cuida dela e a protege. Quando a criança exprime raiva e recebe amor, a criança confirma que a mãe sobreviveu e é um ser separado dela. O bebê adquire a noção de que suas próprias pulsões não são tão danosas e pode, pouco a pouco, aceitar a responsabilidade que possui sobre elas.
Bleichmar e Bleichmar (1992) dizem que simultaneamente a mãe que é agredida e a mãe que cuida vão se aproximando na mente do indivíduo, que assim adquire a capacidade de se preocupar com seu bem-estar, como objeto total. Isto constitui o grande sucesso que, que Winnicott identifica como a última das etapas do desenvolvimento emocional primitivo.
Referências teóricas:
Winnicott, D. W. (1978). Desenvolvimento emocional primitivo. Em D. W. Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (2ª ed. pp. 269-285). Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Original publicado em 1945)      
Winnicott, D. W. (1978). Aspectos clínicos e metapsicológicos da regressão dentro do setting psicana-lítico. Em D. W. Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (pp. 459-481). Rio de Janeiro: Francisco Alves. (Original publicado em 1955)        
Winnicott, D. W. (1978). Objetos transicionais e fenômenos transicionais. Em D. W. Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (2ª ed.pp. 389-408). Rio de Janeiro: Francisco Alves(Original publiscado em 1951).        
Winnicott, D. W. (1978). Psicose e cuidados maternos. Em D. W. Winnicott (Org.), Textos selecionados: Da pediatria à psicanálise (2ª ed. pp. 375-387). Rio de Janeiro: Francisco Alves (Original publicado em 1952).        
Winnicott, D. W. (1983). A capacidade para estar só. Em D.W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 31-37). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1958).        
Winnicott, D. W. (1983). Classificação: Existe uma contribuição psicanalítica à classificação psiquiátrica? Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 114-127). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1959 e 1964)        
Winnicott, D. W. (1983). Distorção do ego em termos de falso e verdadeiro self. Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 128-139). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1960)        
Winnicott, D. W. (1983). Enfoque pessoal da contribuição kleiniana. Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 156-162). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1962)        
Winnicott, D. W. (1983). Os doentes mentais na prática clínica. Em D. W. Winnicott (Org.),O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 196-206). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1963a)        
Winnicott, D. W. (1983). Distúrbios psiquiátricos e processos de maturação infantil. Em D. W. Winni-cott (Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 207-217). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1963b)       
Winnicott, D. W. (1983). Dependência no cuidado do lactente, no cuidado da criança e na situação psicanalítica. Em D. W. Winnicott (Org.), O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional (pp. 225-233). Porto Alegre: Artes Médicas (Original publicado em 1963c).       
Winnicott, D. W. (1990). O gesto espontâneo. São Paulo: Martins Fontes.(Original publicado em 1987)        
Zimerman, D. E. (1999). Fundamentos psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica – Uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed.        
Winnicott, D. W. (1975a). O uso de um objeto e relacionamento através de identificações. Em: O brincar e a realidade. (pp. 121-131). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1969)        
Winnicott, D. W. (1975b). A criatividade e suas origens. Em O brincar e a realidade. (pp. 95-120). Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1971)       
Winnicott, D. W. (1975c). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1971)

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