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Aula 02

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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
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Aula 02 
 
Pessoas Jurídicas 
 
 
� Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→→ 
PESSOAS JURÍDICAS. Constituição. Extinção. Domicílio. Sociedades de fato, 
grupos despersonalizados, associações. Sociedades, fundações. 
Desconsideração da personalidade jurídica. Responsabilidade. 
Subitens →→→→ Das Pessoas Jurídicas. Conceito. Classificação: Pessoa Jurídica de 
Direito Público e de Direito Privado. Personalidade Jurídica. Início da Personificação 
e Término de sua existência legal. Registro e Representação. Domicílio. 
Responsabilidade. Grupos não personificados. Abuso e Desconsideração da 
Personalidade Jurídica. 
� Legislação a ser consultada →→→→ Código Civil: arts. 40 até 69 (Pessoas 
Jurídicas). Ler também o art. 75, CC (domicílio da Pessoa Jurídica). 
 
Índice 
 
INTRODUÇÃO E CONCEITO ............................................................... 02 
 Natureza Jurídica ......................................................................... 03 
 Pressupostos de Existência .......................................................... 03 
 Representação ............................................................................. 04 
CLASSIFICAÇÃO GERAL .................................................................... 05 
 Pessoa Jurídica de Direito Público ................................................ 07 
 Pessoa Jurídica de Direito Privado ............................................... 14 
Início da Existência Legal. Constituição ........................................... 23 
Registro ........................................................................................... 24 
DOMICÍLIO ...................................................................................... 25 
Responsabilidade ............................................................................. 25 
Extinção ........................................................................................... 28 
Grupos Despersonalizados ............................................................... 29 
Desconsideração da Personalidade Jurídica ..................................... 31 
RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ..................................................... 36 
Bibliografia Básica .......................................................................... 39 
EXERCÍCIOS COMENTADOS (CESPE/UnB) ........................................ 40 
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INTRODUÇÃO 
O homem, desde seus primórdios, sempre teve necessidade de se 
agrupar para garantir a subsistência e atingir fins comuns. A necessidade de 
circulação de riquezas como fator de desenvolvimento, fez com que se 
estabelecessem nas sociedades grupos de atuação conjunta na busca de 
objetivos semelhantes. E o Direito, ante a necessidade crescente de agilidade 
nas negociações, não ignorou estas unidades coletivas. Portanto, a pessoa 
jurídica é fruto desta evolução histórica-social. 
CONCEITO 
De forma técnica pessoa jurídica pode ser definida como a união de 
pessoas naturais ou de patrimônios, com o objetivo de atingir determinadas 
finalidades, sendo reconhecida pela ordem jurídica como sujeito de direitos e 
obrigações. Assim, como sujeito de relações jurídicas, possui personalidade 
jurídica individual e própria, distinta da personalidade dos membros que a 
compõe. 
 Observação. A doutrina usa outras expressões para se referir às 
pessoas jurídicas, tais como: pessoa moral, intelectual, coletiva, abstrata, 
fictícia, “ente de existência ideal”, etc.. Na realidade tais expressões não foram 
adotadas pelo nosso ordenamento jurídico, mas sim por leis de outros países, 
sendo “importadas” pela nossa doutrina. Mas os examinadores aproveitam e 
pedem essa a terminologia nas provas. Não é raro cair a seguinte indagação 
em um concurso: “quais as características da pessoa moral?” À primeira vista 
pode-se pensar que pessoa moral é sinônimo de pessoa física (pois somente 
uma pessoa física é que teria, digamos, ‘moral’). No entanto, o correto é dizer 
que pessoa moral (expressão adotada pela França) é sinônimo de pessoa 
jurídica. Portanto, prestem atenção quanto aos sinônimos usados nas 
questões pelos examinadores, pois podem “derrubar” um excelente candidato, 
que conhece a matéria, mas desconhecia a expressão. 
As pessoas jurídicas têm direito à personalidade (identificação, liberdade 
para contratar, boa reputação, etc.), aos direitos reais (pode ser proprietária, 
usufrutuária, etc.), aos direitos industriais (art. 5°, inciso XXIX da CF/88), aos 
direitos obrigacionais (podendo comprar, vender, alugar ou contratar de uma 
forma geral) e até mesmo aos direitos sucessórios (podem adquirir bens causa 
mortis, ou seja, por testamento). 
É interessante acrescentar que os dispositivos relativos aos direitos da 
personalidade da pessoa natural (arts. 11 a 21, CC) também podem ser 
aplicados em relação à pessoa jurídica, no que couber, por força do art. 52, 
CC. Portanto, pode-se afirmar que sua capacidade jurídica não se limita à 
esfera patrimonial, uma vez que tem direito ao nome, à marca, à imagem, à 
propriedade, ao segredo, etc. Segundo a doutrina ela tem honra objetiva, 
pois tem patrimônio, reputação, bom nome, etc. 
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Portanto, no campo do Direito Civil, a pessoa jurídica pode ser vítima 
e sofrer danos morais, tendo, inclusive, direito de acionar o Poder Judiciário 
para exigir reparação desses danos. Trata-se da Súmula 227 do Superior 
Tribunal de Justiça (“A pessoa jurídica pode sofrer dano moral”). No entanto 
o próprio STJ deixou claro que isso somente ocorre hipótese em que haja 
ferimento à sua honra objetiva, isto é, quanto ao conceito que a pessoa 
jurídica goza no meio social. A jurisprudência do STJ também admite a 
possibilidade da pessoa jurídica ser vítima de coação moral, desde que esta se 
refira a atos jurídicos contrários à sua finalidade e à sua reputação. 
NATUREZA JURÍDICA 
Diversas teorias tentam identificar a natureza da personalidade da 
pessoa jurídica. Uma corrente doutrinária nega a sua existência (negativista). 
Mas a corrente afirmativista é a majoritária. E esta se divide basicamente em 
dois grupos, sendo que cada um deles possui uma vasta subdivisão: a) 
Teorias da Ficção (a pessoa jurídica é apenas uma criação artificial da lei ou 
da doutrina); b) Teorias da Realidade (realidade orgânica ou objetiva, 
realidade jurídica, realidade técnica, etc.). 
Como nosso curso é objetivo, visando concursos públicos, vamos 
deixar de lado a análise de cada uma dessas teorias sobre natureza da pessoa 
jurídica e vamos nos ater somente ao que tem prevalecido nas provas. 
 Direto ao Ponto: de todas as teorias existente sobre o tema, a que 
melhor se adapta ao nosso sistema jurídico, sendo acolhida pelos mais 
renomados doutrinadores e que tem caído em concursos (e é isso o que nos 
interessa), é a TEORIA DA REALIDADE TÉCNICA, onde a pessoa jurídica 
existe de fato (e não como uma mera abstração), sendo, portanto, sujeito 
de direitos e obrigações. O próprio Estado reconhece a existência de grupos 
de pessoas que se unem na busca de determinados fins, entendendo ser 
necessária a existência de personalidade jurídica própria, distinta da dos 
membros que a compõe. Assim, a personalidade jurídica é um atributo 
concedido a estes entes coletivos por meio do ordenamento jurídico. 
PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DA PESSOA JURÍDICAA) Vontade humana criadora. Trata-se da affectio societatis, ou 
seja, intenção específica dos sócios em constituir uma entidade com 
personalidade distinta da de seus membros. 
B) Obediência aos requisitos impostos pela lei para sua 
formação. As pessoas jurídicas somente existem porque a lei assim o 
permite. Portanto, ela necessita se submeter aos requisitos impostos pela 
própria lei, entre eles, como veremos adiante, a elaboração dos atos 
constitutivos e seu respectivo registro. 
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C) Licitude de sua finalidade, ou seja, deve ter objeto lícito 
abrangendo em seu conceito: a moralidade dos atos e os objetivos 
perseguidos. 
REPRESENTAÇÃO 
Por não poder atuar por si mesma, a pessoa jurídica deve ser 
representada por uma pessoa física ativa e/ou passivamente, exteriorizando 
sua vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Pelo art. 47, CC, todos os 
atos negociais exercidos pelo representante, dentro dos limites de seus 
poderes estabelecidos no estatuto social, obrigam a pessoa jurídica, que 
deverá cumpri-los. Mas se o representante extrapolar estes poderes, 
responderá pessoalmente pelo excesso, ou seja, a sociedade fica isenta de 
responsabilidade perante terceiros (exceto se foi beneficiada com a prática do 
ato, quando então passará a ter responsabilidade na proporção do benefício 
auferido). A doutrina chama isso de teoria ultra vires societatis (além do 
conteúdo da sociedade), caracterizada pelo abuso de poder do administrador, 
ocasionando violação do objeto social lícito para o qual foi constituída a 
empresa. 
1. Pessoas jurídicas de direito público interno são representadas 
(art. 12, I e II do Código de Processo Civil): 
a) União, Estados, Distrito Federal e Territórios: por seus Procuradores. 
b) Municípios: por seu Prefeito ou Procurador. 
2. Demais pessoas jurídicas (art. 12, VI, CPC): em regra é a pessoa 
indicada em seu ato constitutivo. Na omissão, a representação será exercida 
por seus diretores. Se a pessoa jurídica tiver administração coletiva (gerência 
colegiada), as decisões serão tomadas pela maioria dos votos, salvo se o ato 
constitutivo dispuser de modo diverso (art. 48, CC). Se houver vacância geral 
na administração o Juiz deverá nomear um administrador provisório (art. 49, 
CC). 
Como no mundo dos negócios é praticamente impossível o administrador 
de uma grande empresa estar presente a todos os eventos, pode-se outorgar 
mandato, que é uma espécie de contrato. Ou seja, transfere-se parte dos 
poderes para que uma terceira pessoa (mandatário) pratique atos em nome da 
pessoa jurídica (mandante). 
����Não confundir ���� Mandatário X Preposto 
 Segundo o art. 653, CC, “opera-se o mandato quando alguém recebe de 
outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses”. 
Já o preposto é uma figura que encontramos no Direito do Trabalho. Trata-se 
de um empregado da empresa, que preferencialmente exerce cargo de gerente 
ou outro de confiança e que tenha conhecimento dos fatos constantes da 
reclamatória trabalhista, com capacidade para defender ou esclarecer os temas 
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e devidamente autorizado (carta de preposição) a representá-la junto à Justiça 
do Trabalho. 
Prazos para Anulação 
As questões de concurso costumam pedir duas espécies de prazo de 
anulação neste tópico. 
a) Anulação das decisões dos administradores. Art. 48, parágrafo único: 
decai em três anos o direito de anular as decisões tomadas por maioria de 
votos em administração coletiva, quando violarem a lei ou estatuto, ou forem 
eivadas de erro, dolo, simulação ou fraude. 
b) Anulação da constituição da pessoa jurídica. Art. 45, parágrafo único: 
decai em três anos o direito de anular a constituição das pessoas jurídicas de 
direito privado, por defeito do ato respectivo, contado o prazo da publicação de 
sua inscrição no registro. 
 
CLASSIFICAÇÃO GERAL DAS PESSOAS JURÍDICAS 
 
A) Quanto à Nacionalidade  Elas podem ser consideradas como 
nacionais ou estrangeiras, tendo em vista sua articulação e subordinação à 
ordem jurídica que lhe conferiu personalidade, sem se ater, em regra, à 
nacionalidade dos membros que a compõe e à origem do controle financeiro. 
Sociedade Nacional é a organizada conforme a lei brasileira e tem no País a 
sede de sua administração (arts. 1.126 a 1.133, CC). A Sociedade 
Estrangeira não poderá funcionar no País sem autorização do Poder 
Executivo e ficará sujeita aos Tribunais brasileiros quanto aos atos aqui 
praticados (arts. 1.134 a 1.141, CC). 
B) Quanto à Estrutura Interna 
1) Universitas Personarum  nelas, o mais importante é o 
conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de certos direitos e 
os exerce por meio de uma vontade única. O objetivo é o bem-estar de seus 
membros. Ex.: as sociedades (de uma forma geral) e as associações. 
2) Universitas Bonorum  nelas, o mais importante é o 
patrimônio personalizado destinado a um determinado fim e que lhe dá 
unidade. O objetivo é o bem-estar da sociedade. Ex.: fundações. O 
patrimônio e as finalidades (objeto) das fundações são seus elementos 
essenciais. 
C) Quanto às Funções e Capacidade  Podem ser divididas em 
pessoas jurídicas de direito público e pessoas jurídicas de direito privado (art. 
40, CC). Este é o item mais importante, pois é o que tem maior incidência 
em concursos. Daremos agora uma visão geral e panorâmica sobre o tema. 
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A seguir vamos analisar cada uma das espécies e subespécies, de forma 
minuciosa. 
I. DIREITO PÚBLICO 
A) Interno (art. 41, CC) 
1) Administração Direta: União, Estados, Distrito Federal, 
Territórios e Municípios. 
2) Administração Indireta: autarquias, associações e demais 
entidades criadas por lei (são as fundações públicas de direito público). 
 B) Externo (art. 42, CC): Estados estrangeiros e demais pessoas 
regidas pelo direito internacional público. 
II. DIREITO PRIVADO (art. 44, CC) 
A) Universitas Personarum 
1) Sociedades: 
a) Simples. 
b) Empresária. 
2) Associações, partidos políticos e organizações religiosas. 
3) Empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). 
B) Universitas bonorum 
1) Fundações particulares (segundo a doutrina também as 
fundações públicas de direito privado). 
QUADRO GERAL BASEADO NO CÓDIGO CIVIL 
 
 
 
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I. PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO 
 
O Estado é a pessoa jurídica de direito público por excelência. Todo 
Estado independente é formado por três elementos essenciais: a) povo; b) 
território; e c) governo soberano. Costuma-se dizer que o Estado é o povo, em 
dado território, politicamente organizado, segundo sua livre e soberana 
vontade. 
I.1) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO EXTERNO 
Segundo o art. 42, CC, são pessoas jurídicas de direito público externo 
os Estados estrangeiros (outros países soberanos, como o Uruguai, Canadá, 
Dinamarca, etc.) e todas as pessoas que forem regidas pelo direito 
internacional público, ou seja, as uniões aduaneiras com o objetivo de 
facilitar o comércio exterior (ex.: Mercosul) e os organismos internacionais, 
como a ONU (Organização das Nações Unidas), OEA (Organização dos Estados 
Americanos), FAO (Organização das Nações Unidas para Agriculturae 
Alimentação - Food and Agriculture Organization), etc. Certa vez vi cair em um 
concurso: A Santa Sé é: ...? Ora, a Santa Sé (também chamada de “Sé 
Apostólica”) é considerada como um sujeito de direito internacional 
(pessoa jurídica de direito público externo), pois as relações e acordos 
diplomáticos com outros Estados soberanos são com ela estabelecidos. 
Costuma-se dizer que a Santa Sé difere do Vaticano (ou Estado da Cidade do 
Vaticano), pois este é um instrumento para a independência da Santa Sé, 
tendo natureza e identidade própria enquanto representação do governo 
central (cúpula governativa) da Igreja Católica; o Vaticano seria um território 
sobre o qual a Santa Sé tem soberania. 
I.2) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO 
São aquelas cuja atuação se restringe aos interesses e limites territoriais 
do Estado. É a nossa nação, politicamente organizada, nos moldes previstos na 
Constituição Federal de 1988. 
A) PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO INTERNO DA 
ADMINISTRAÇÃO DIRETA OU CENTRALIZADA (art. 41, I, II e III, CC)  
São elas: União, Estados-membros, Distrito Federal, Territórios e os 
Municípios legalmente constituídos. 
Costuma-se dizer que o Brasil é detentor de soberania, ou seja, não 
deve obediência jurídica a nenhum outro Estado. É juridicamente ilimitada no 
plano interno e somente encontra limites na soberania de outro País. Já as 
demais entidades dentro do Brasil são detentoras de autonomias. A 
autonomia dos entes da federação brasileira está devidamente delimitada pelo 
Direito. Esta autonomia, na verdade, é o exercício do poder do Estado com a 
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observância dos parâmetros jurídicos estabelecidos em uma norma de 
hierarquia superior (em outras palavras: a própria Constituição Federal). 
A União designa a nação brasileira, nas suas relações com os Estados-
membros que a compõe e com os cidadãos que se encontram em seu 
território. 
Os Estados federados (Estados-membros) possuem autonomia 
administrativa, competência e autoridade legislativa, executiva e judiciária 
sobre os negócios locais. 
Os Municípios legalmente constituídos também se encaixam nesta 
classificação, pois foram assegurados pela Constituição Federal; eles têm 
interesses e economia próprios. 
Também há previsão expressa em relação ao Distrito Federal. Mas em 
relação a ele a natureza jurídica é controvertida. Alguns dizem que ele é um 
município anômalo; outros que é uma autarquia territorial; outros que é uma 
circunscrição territorial assemelhada aos territórios. Finalmente outros afirmam 
que é “mais do que um município e menos que um Estado”. Possui previsão 
expressa no art. 32, CF/88. Vejamos: a) o Distrito Federal rege-se por uma 
Lei Orgânica (típica de Municípios) e não por uma Constituição Estadual (típica 
dos Estados-membros); b) o Poder Legislativo é exercido pela Câmara 
Legislativa (mistura de Câmara de Vereadores – Poder Legislativo Municipal e 
Assembleia Legislativa – Poder Legislativo Estadual) composta por Deputados 
Distritais eleitos, acumulando as competências legislativas reservadas aos 
Estados e Municípios; c) o Chefe do Poder Executivo é um Governador (típico 
dos Estados) Distrital e não um Prefeito (típico dos Municípios); d) é proibida a 
sua divisão em municípios. Há uma grande crítica em relação ao texto do art. 
18, §1o, CF/88, pois ele afirma que Brasília é a Capital Federal, quando se 
devia ter mantido a nossa tradição e correção técnica afirmando que “o Distrito 
Federal é a capital da União”. 
Na realidade Brasília é o nome de uma das Regiões Administrativas do 
Distrito Federal (RA-I). Ela é um núcleo urbano, uma cidade que serve de 
centro político à União, mas não pode ser considerada como um Município, 
juridicamente falando. Esta região, em termos urbanos, compreende as “Asas” 
Sul e Norte e a área central do chamado “Plano Piloto”. No entanto a Lei 
Orgânica do Distrito Federal não menciona os limites de Brasília. Já as demais 
aglomerações urbanas situadas fora do Plano Piloto pertencem a outras 
Regiões Administrativas. Embora o Decreto n° 19.040/98 tenha proibido a 
expressão, ainda se costuma usar o termo cidade-satélite (ex.: Gama, 
Taguatinga, Brazlândia, Sobradinho, Planaltina, Ceilândia, Guará, etc.). 
Chamo atenção para os Territórios. Como sabemos, já não existem 
mais os Territórios no Brasil. Mas apesar de não mais existirem há previsão 
expressa na Constituição Federal, possibilitando a criação de eventual novo 
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Território, por meio de Lei Complementar (arts. 18, §2° e 48, inciso VI, 
CF/88). Para o Direito Civil ele será considerado como sendo uma pessoa 
jurídica de direito público interno, pois há previsão expressa no art. 41, 
inciso II, CC. Alguns autores classificam os territórios como “autarquias 
territoriais” dando a entender que seriam pessoas jurídicas de direito público 
interno de administração indireta (há uma grande discussão sobre este tema, 
mas diversos civilistas preferem classificá-los como de administração direta). 
 Podemos dizer que o Brasil, nos termos da Constituição Federal de 
1988, possui: 
a) Forma de Governo: republicano (eletividade e temporariedade dos 
mandatos do Chefe do Poder Executivo). 
b) Forma de Estado: federal (descentralização política: em um mesmo 
território há diferentes entidades políticas autônomas – União, Estados, 
Distrito Federal, Municípios). 
c) Sistema de Governo: presidencialista (Presidente da República é o 
único Chefe do Poder Executivo, acumulando as funções de Chefe de Estado 
e Chefe de Governo, cumprindo mandato por prazo determinado, não 
dependendo da confiança do Poder Legislativo para a investidura e o 
exercício do cargo). 
����CONCLUSÃO: O Brasil é uma República Federativa, com sistema 
Presidencialista. Além disso, possui como Regime de Governo o Estado 
Democrático e de Direito. 
 Observação doutrinária importante para concursos 
União e República Federativa do Brasil são expressões sinônimas? 
Resposta: ambas são expressões usadas para designar o mesmo ente. No 
entanto a doutrina estabelece uma importante diferença. O termo União é 
usado no plano interno; trata-se da pessoa jurídica de direito público 
interno, entidade federativa autônoma em relação aos Estados-membros, 
Distrito Federal e Municípios, possuindo competências administrativas e 
legislativas determinadas constitucionalmente. Lembrem-se de que entre os 
entes da Federação (ex: a União e os Estados-membros) não há hierarquia, 
mas sim uma coordenação harmônica de poderes distribuídos pela 
Constituição. Já a expressão República Federativa do Brasil é usada no 
plano externo, para identificar o Brasil perante os outros países (relações 
internacionais). Neste caso seria uma pessoa jurídica de direito público externo 
(ou internacional), integrada pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios. 
A União representa o Estado Federal nos atos de Direito Internacional, mas 
quem pratica efetivamente os atos de Direito Internacional é a República 
Federativa do Brasil, juridicamente representada por um órgão da União: a 
Presidência da República. 
 
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Resumindo 
 República Federativa do Brasil: pessoa jurídica de direito publico 
externo (ou internacional). 
 União: pessoa jurídica de direito público interno; é apenas uma das 
entidades que forma o Estado Federal, e que, por determinação 
constitucional (art. 21, I,CF/88) tem competência exclusiva de representá-
lo em suas relações internacionais. 
B) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO INTERNO DE 
ADMINISTRAÇÃO INDIRETA OU DESCENTRALIZADA (art. 41, IV e V, CC) 
 São entidades descentralizadas, criadas por lei, com personalidade jurídica 
própria para o exercício de atividade de interesse público. São elas: a) 
Autarquias. b) Associações Públicas (Lei n° 11.107/05). c) Demais entidades 
de caráter público criadas por lei. Vejamos cada um destes itens: 
AUTARQUIAS 
São pessoas jurídicas de direito público, que desempenham atividade 
administrativa típica, com capacidade de auto-administração nos limites 
estabelecidos em lei. Embora ligadas ao Estado, elas desfrutam de certa 
autonomia, possuindo patrimônio e orçamento próprio, mas sob o 
controle do Executivo que o aprova por Decreto e depois o remete ao 
controle do Legislativo. As autarquias não têm capacidade política (isto é, 
não podem legislar e criar o próprio Direito, devendo obedecer a legislação 
administrativa à qual estão submissas), porém podem baixar instruções 
normativas (que não são consideradas leis em sentido estrito). 
Elas são criadas por lei específica (iniciativa privativa do chefe do 
Poder Executivo), com personalidade jurídica de direito público; integram a 
administração indireta, possuindo atribuições estatais destinadas à realização 
de obras e serviços públicos, de cunho social, geralmente ligadas a área da 
saúde, educação, etc. (excluem-se, portanto as de natureza econômica ou 
industrial). Portanto elas devem atuar em setores que exigem especialização 
por parte do Estado, com organização própria, administração mais ágil e 
pessoal especializado. Seus bens são considerados públicos. 
A autarquia nasce com a vigência da lei que a instituiu, não havendo 
necessidade de registro. Da mesma forma, sua extinção também deve ser 
feita por meio de lei específica (princípio da simetria das formas jurídicas). 
Seus atos são considerados como administrativos. Como possui personalidade 
jurídica própria, ela se desliga do ente criador. Portanto, se alguém quiser 
discutir judicialmente a revisão de sua aposentadoria, deve ingressar com ação 
judicial não contra a União (entidade criadora), mas contra o próprio INSS 
como entidade autônoma e com patrimônio próprio. Ex.: INSS (Instituto 
Nacional do Seguro Social), INCRA (Instituto Nacional de Colonização e 
Reforma Agrária), CVM (Comissão de Valores Mobiliários), CADE (Conselho 
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Administrativo de Defesa Econômica), IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio 
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Imprensa Oficial do Estado, 
etc. 
ASSOCIAÇÕES PÚBLICAS 
O art. 241, CF/88 autorizou a União, os Estados, o Distrito Federal e os 
Municípios a realizarem mediante lei os chamados consórcios públicos e os 
convênios de cooperação entre os entes federados, autorizando a gestão 
associada de serviços públicos, bem como a transferência total ou parcial de 
encargo, serviços, pessoal e bem bens essenciais à continuidade dos serviços 
transferidos. A Lei n° 11.107/05 regulou os consórcios públicos, cumprindo o 
disposto na Constituição sendo uma nova forma de se prestar um serviço 
público. Essa lei optou por atribuir personalidade jurídica aos consórcios 
públicos, dando-lhes a forma de uma associação, podendo ser de pessoa 
jurídica de direito público (associação pública) ou de direito privado. 
Quando o consórcio público for pessoa jurídica de direito privado, 
assumirá a forma de “associação civil”, sendo que aquisição da personalidade 
ocorre com a inscrição dos atos constitutivos no registro civil das pessoas 
jurídicas. Mesmo assim, estes consórcios estão sujeitos às normas de direito 
público no que diz respeito à realização de licitação, celebração de contratos, 
prestação de contas, admissão de pessoal, etc. 
Quando criado com personalidade de direito público, o consórcio 
público se apresenta como uma associação pública. O consórcio público será 
constituído por contrato, cuja celebração dependerá de prévia subscrição de 
protocolo de intenções. As questões de prova em concurso têm entendido que 
as associações públicas são uma espécie de autarquia (e não uma nova 
espécie de entidade da administração indireta). 
FUNDAÇÕES PÚBLICAS 
Fundação, de uma forma geral, é uma instituição do direito privado. Sua 
criação resulta da iniciativa de uma pessoa (física ou jurídica), que destina um 
acervo de bens particulares (que adquirem personalidade jurídica) para a 
realização de finalidades sociais, sem natureza lucrativa (educacional, 
assistencial, etc.). Compreende sempre: patrimônio e finalidade. 
Ultimamente o Poder Público também tem instituído fundações para a 
execução de algumas atividades de interesse coletivo, sem finalidade lucrativa 
(assistência social, saúde, educação, pesquisa científica, cultura, proteção ao 
meio ambiente, etc.). Elas integram a administração pública indireta no 
nosso sistema jurídico, pois uma pessoa política faz a dotação patrimonial e 
destina recursos orçamentários para a manutenção da entidade. No entanto, 
como suas atividades não são exclusivas do Poder Público costuma-se dizer 
que elas exercem atividades atípicas do Poder Público. 
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As fundações públicas se assemelham às fundações particulares, mas 
se diferenciam nos seguintes aspectos: enquanto a fundação privada é criada a 
partir de um ato (inter vivos ou causa mortis) de um particular e com 
patrimônio deste, a fundação pública é criada mediante uma lei específica, a 
partir de um patrimônio público. Ex.: FUNASA (Fundação Nacional da Saúde), 
FUNARTE (Fundação Nacional das Artes), FUNAI (Fundação Nacional do Índio), 
FBN (Fundação Biblioteca Nacional), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e 
Estatística), IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), FUB (Fundação 
Universidade de Brasília), etc. 
Se observarmos o art. 41, CC, que arrola as pessoas jurídicas de direito 
público, vamos concluir que ele não menciona a “fundação”, como sendo uma 
de suas espécies. No entanto, segundo a doutrina, as fundações públicas 
estariam implícitas na expressão “demais entidades de caráter público criadas 
por lei”. E Constituição Federal de 1988, em especial após a Emenda 
Constitucional n° 19/98 (art. 37, XIX), reforçou esta posição. 
 Observação 01. Sobre este tema, os civilistas são bem objetivos: 
fundação pública é uma pessoa jurídica de direito público interno (apesar de 
não haver previsão expressa neste sentido). Ponto! Porém... para os 
administrativistas a coisa não é tão simples (vou falar sobre isso de forma 
superficial, pois isso não interessa tanto ao Direito Civil). Para o Direito 
Administrativo a posição mais aceita é que existem duas espécies de 
fundações públicas: 
a) Fundações públicas com personalidade jurídica de direito 
público: criadas diretamente pela edição de uma lei específica (Poder 
Legislativo). Elas adquirem a personalidade jurídica com a vigência da lei 
instituidora. Na realidade elas são espécies do gênero autarquias (são também 
chamadas de fundações autárquicas ou autarquias fundacionais), sujeitando-se 
ao regime jurídico do direito público (idêntico ao das autarquias), com todas as 
suas prerrogativas e restrições. Segundo a doutrina somente estas 
pertenceriam ao direito público. 
b) Fundações públicas com personalidade jurídica de direito 
privado: há uma autorização dada em lei para criação da entidade; após isso 
o Poder Executivo elabora os atos constitutivos da fundação e a seguir deve 
providenciar a inscriçãono registro competente. Somente após esse registro 
ela adquire a personalidade. Possuem um caráter híbrido; parte regulada pelo 
direito privado e parte pelo direito público. Segundo a doutrina elas pertencem 
ao direito privado (seus bens não são públicos, não estão sujeitas ao regime 
de precatórios, etc.). 
Seja a espécie que for as fundações públicas não estão sujeitas ao disposto 
no art. 66, CC, segundo o qual o Ministério Público estadual velará pelas 
fundações onde estiverem situadas. O verbo “velar” tem um sentido jurídico 
atribuindo ao Ministério Público uma função de “curador” das fundações. Mas 
isso somente se aplica às fundações genuinamente particulares. É certo que as 
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fundações públicas sofrem um controle, mas este é o mesmo que é exercido 
sobre todas as entidades da administração indireta. 
 Observação 02. Segundo a doutrina (principalmente ligada ao Direito 
Administrativo), todos os temas que falamos acima são espécies de 
autarquias. Explico! Há quem sustente que autarquia representa um 
gênero, sendo dividida em: 
a) autarquias comuns ou ordinárias: são aquelas a que nos referimos 
mais acima como item autônomo. 
b) autarquias sob regime especial: são aquelas em que a lei instituidora 
prevê determinados instrumentos aptos a lhes conferir maior grau de 
autonomia perante o Poder Público do que as autarquias comuns. Os exemplos 
clássicos são o BACEN (Banco Central do Brasil) e a USP (Universidade de São 
Paulo). Nestas espécies também estariam incluídas as agências reguladoras, 
entidades que possuem alto grau de especialização técnica, incumbidas de 
normatizar e fiscalizar a prestação de certos serviços de grande interesse 
público. Ex.: ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações), ANAC (Agência 
Nacional de Aviação Civil), ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e 
Biocombustíveis), ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), etc. Fala-se, 
também em “agências executivas”. Estas, no entanto, não são uma espécie 
de entidade, mas sim uma qualificação que pode ser conferida pelo poder 
público às autarquias em geral ou às fundações públicas que com ele celebrem 
contrato de gestão (art. 37, §8°, CF/88; ver também o art. 51 da Lei n° 
9.649/98). Ou seja, se uma autarquia cumpre determinadas metas 
estabelecidas em um contrato, o Poder Público a qualifica como agência 
executiva. Com isso amplia-se a sua autonomia gerencial, orçamentária e 
financeira (sem prejuízo, é evidente, do controle a que se sujeitam todas as 
entidades da administração indireta). 
c) autarquias fundacionais (há quem as chame de fundações 
autárquicas): são as fundações públicas com personalidade de direito público a 
que nos referimos acima. Na realidade o regime jurídico a que se sujeitam 
estas fundações e as autarquias comuns é idêntico. A diferença é 
simplesmente conceitual: define-se as autarquias como um serviço público 
personificado, em regra típico do Estado e estas fundações como um 
patrimônio personalizado destinado a finalidade específica de interesse social. 
d) associações públicas: são os consórcios públicos que falamos acima. 
 Observação 03. Há ainda quem acrescente outras duas espécies: a) 
autarquias territoriais: são os territórios federais, responsáveis pela 
execução dos serviços públicos em determinadas áreas geográficas; b) 
autarquias corporativas (ou profissionais): exercem o poder de polícia sobre 
determinadas profissões. Ex.: Conselho Federal de Medicina (CFM). No 
entanto, de acordo com o STF, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) não é 
autarquia corporativa e muito menos pertence à Administração Pública. 
 
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DIFERENÇAS BÁSICAS: AUTARQUIA X FUNDAÇÃO PÚBLICA 
 AUTARQUIAS FUNDAÇÕES 
Atribuições 
Atividades típicas 
(exclusivas) ou atípicas da 
Administração. 
Atividades atípicas da 
Administração. 
Regime Jurídico 
Apenas Direito Público. Direito Público ou Privado. 
Dotação 
Patrimonial 
Exclusivamente público. Exclusivamente público ou 
publico e privado 
Espécies 
Comuns, especiais, 
fundacionais, associações 
públicas (além das 
territoriais e corporativas). 
Fundações de Direito 
Público (autárquicas) e de 
Direito Privado. 
 
 
II. PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO 
 
A pessoa jurídica de direito privado é instituída por iniciativa dos 
particulares em geral. A doutrina costuma usar a expressão “Corporação” 
para designar o gênero, tendo como divisão (art. 44, CC): associações (a 
doutrina engloba neste item os sindicatos, pois eles têm natureza de 
associação civil), sociedades, fundações, organizações religiosas, partidos 
políticos e as empresas individuais de responsabilidade limitada. Vejamos. 
1. FUNDAÇÕES PARTICULARES 
A doutrina costuma usar a seguinte expressão: fundações são 
universalidades de bens (resultam da afetação de um patrimônio e não da 
união de indivíduos), personificados, em atenção ao fim que lhes dá unidade. 
Portanto, dois são seus elementos fundamentais: a) patrimônio; b) 
finalidade (que é imutável e não pode visar lucro). 
Fundação é o complexo de bens livres colocados por uma pessoa física 
ou jurídica, a serviço de um fim lícito e especial, com alcance social pretendido 
por seu instituidor, e em atenção ao disposto em seu estatuto. Uma pessoa 
(natural ou jurídica) separa parte de seu patrimônio, criando a fundação para 
atingir objetivo não econômico. A partir de sua criação, o patrimônio da 
fundação não pertence mais ao patrimônio da pessoa que a criou, uma vez que 
passa a ter personalidade própria. Ex.: a Fundação Roberto Marinho não pode 
ser confundida com a Rede Globo de Televisão. 
O próprio instituidor poderá administrar a fundação (forma direta) ou 
encarregar outrem para este fim (forma fiduciária). De acordo com o art. 62, 
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parágrafo único do CC terão sempre fins religiosos, morais, culturais ou de 
assistência. Nesses conceitos compreendem-se também as fundações para fins 
científicos, educacionais ou de promoção do meio ambiente. Exemplos: 
Fundação São Paulo (mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo), Fundação Ayrton Senna, etc. São criadas a partir de uma escritura 
pública (ato inter vivos) ou de um testamento (causa mortis). Portanto elas 
não podem ser criadas por instrumento particular ou privado. Para a sua 
criação pressupõem-se: 
• Dotação de bens livres: o instituidor destina determinados bens que 
comporá o patrimônio da fundação, que deve ser apto a produzir rendas 
ou serviços que possibilitem alcançar os objetivos visados, sob pena de 
frustrá-los. Os bens podem móveis (inclusive dinheiro) ou imóveis, desde 
que livre de quaisquer ônus. 
• Elaboração de estatutos com base em seus objetivos. Eles devem ser 
submetidos à apreciação do Ministério Público estadual que os fiscalizará. 
O próprio MP pode elaborar os estatutos, caso o mesmo não seja feito por 
quem de direito. Em regra o seu objetivo é imutável. No entanto é 
possível a reforma dos estatutos, desde que: seja deliberada por dois 
terços dos competentes para gerir e representar a fundação; não contrarie 
ou desvirtue o seu fim; seja aprovada pelo órgão do Ministério Público 
(caso este a denegue, poderá o Juiz supri-la, a requerimento do 
interessado). Se não houver unanimidade da alteração do estatuto, de 
haver a impugnação pela minoria vencida no prazo decadencial de 10 dias 
(art. 68, CC).• Especificação dos fins: como vimos, eles devem ser sempre religiosos, 
morais, culturais ou de assistência. A exemplo da associação, se gerar 
receita, esta deve ser revertida para ela mesma. 
• Previsão do modo de administrá-la: embora seja interessante que a 
fundação preveja o modo pelo qual ela deva ser administrada, este item 
não é essencial para sua existência. 
Nascimento 
As fundações surgem com o registro de seus atos constitutivos no 
Registro Civil de Pessoas Jurídicas. 
Características 
• Seus bens, em regra, são inalienáveis (não podem ser vendidos ou 
doados) e impenhoráveis (não pode recair penhora). Para uma eventual 
venda de seus bens é necessário ingressar com uma ação judicial, onde é 
consultado o Ministério Público. Posteriormente o Juiz decide, 
determinando se é ou não caso de venda desses bens. Como regra o 
produto da venda deve ser aplicado na própria fundação. 
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• O fundador é obrigado a transferir para a fundação a propriedade sobre os 
bens dotados; se não o fizer, os bens serão registrados em nome dela por 
ordem judicial. 
• Não há sócios. 
• Os estatutos são suas leis básicas. 
• Os administradores devem prestar contas ao Ministério Público. 
 Observação. As chamadas organizações não governamentais (ONGS), 
pertencentes ao chamado terceiro setor, juridicamente organizam-se no Brasil 
como fundações ou associações. Parte da doutrina tem defendido o uso da 
terminologia “organizações da sociedade civil” para designar tais instituições. 
Supervisão das Fundações 
As fundações privadas são supervisionadas pelo Ministério Público do 
Estado onde estiverem situadas (art. 66, CC), através da curadoria das 
fundações, que deve zelar pela sua constituição e funcionamento. Se 
estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um 
deles, ao respectivo Ministério Público estadual (art. 66, §2°, CC). A doutrina 
entende que não há esta fiscalização do Ministério Público em relação às 
fundações públicas. 
���� Atenção ���� O art. 66, §1°, CC prevê que se a fundação funcionar no 
Distrito Federal caberá o encargo ao Ministério Público Federal. No entanto 
este dispositivo foi objeto de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, sendo 
que o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade deste 
parágrafo, posto que se a fundação funcionar no DF, a competência para 
fiscalização é do Ministério Público do Distrito Federal e Territorial (MPDFT). 
Ressalva-se, no entanto, segundo a decisão do STF, a atribuição do Ministério 
Público federal para velar pelas fundações federais de direito público (ADIN n° 
2.794-8). 
Término 
Não há um prazo determinado para o funcionamento de uma fundação. 
No entanto, nada impede que o próprio instituidor estabeleça um prazo para 
esse funcionamento. Por outro lado as fundações serão extintas se (art. 69, 
CC): a) tornarem-se ilícitas (o Ministério Público pode ingressar com ação 
visando sua extinção), impossíveis ou inúteis as suas finalidades; b) vencido o 
prazo de sua existência. 
Uma vez extinta a fundação, o destino do seu patrimônio será o previsto 
nos estatutos. Caso os estatutos sejam omissos, seu patrimônio será 
destinado, por determinação judicial, a outras fundações com finalidades 
semelhantes. 
 
2. PARTIDOS POLÍTICOS 
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Os partidos políticos são entidades integradas por pessoas com ideias 
comuns (pelo menos em tese...), tendo por finalidade conquistar o poder para 
a consecução de um programa. São associações civis que visam assegurar, no 
interesse do regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e 
defender os direitos fundamentais definidos na Constituição Federal. De acordo 
com o art. 17, §2°, CF/88 e a Lei n° 10.825/03, os partidos políticos, embora 
tenham um caráter público, passaram a ser considerados como pessoas 
jurídicas de direito privado, tendo natureza de associação civil. Os estatutos 
devem ser registrados no cartório competente do Registro Civil de Pessoas 
Jurídicas da Capital Federal e no Tribunal Superior Eleitoral (Lei n° 9.096/95). 
3. ORGANIZAÇÕES RELIGIOSAS 
As organizações religiosas são pessoas jurídicas de direito privado, 
formadas pela união de indivíduos com o propósito de culto a determinada 
força (ou forças) sobrenatural, por meio de doutrina e ritual próprios, 
envolvendo preceitos éticos. Atualmente a Lei n° 10.825/03 (que alterou o 
Código Civil) deixou bem claro que elas são pessoas jurídicas de direito 
privado, tendo também natureza de associação civil. É vedado ao poder 
público negar-lhe o reconhecimento ou registro de seus atos constitutivos 
necessários a seu funcionamento. 
 Enunciado 142 da III Jornada de Direito Civil do STJ: “Os partidos políticos, 
os sindicatos e as associações religiosas possuem natureza associativa, 
aplicando-se-lhes o Código Civil”. 
4. ASSOCIAÇÕES 
As associações são caracterizadas pela união de pessoas que se 
organizam para fins não econômicos (comunhão de esforços para um fim 
comum). A associação pode ser de pessoas físicas ou de pessoas jurídicas 
(ex.: ABIA →→→→ Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação, etc.). 
O órgão máximo da associação não é o diretor-presidente, mas a 
Assembleia Geral. Sua competência e atribuições encontra-se estabelecido 
no art. 59, CC. O membro da associação é o associado. Ele possui um vínculo 
direto com a finalidade da associação, não possuindo qualquer vínculo com os 
demais associados; não há, entre os associados, direitos e obrigações 
recíprocas (art. 53 e seu parágrafo único, CC), de forma diferente das 
sociedades, onde há este vínculo. No entanto é possível a existência de uma 
categoria de associados com vantagens especiais (art. 55, CC). Salvo 
autorização estatutária, é vedada a transmissibilidade da qualidade de 
associado (art. 56, CC). É admissível a exclusão de um associado se houver 
justa nos termos do estatuto, após o trâmite de um procedimento 
administrativo que assegure o contraditório e a ampla defesa, bem como 
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recurso (art. 57, CC); trata-se do “devido processo legal privado”: eficácia 
horizontal dos direitos fundamentais. 
As associações podem ser civis, religiosas, pias (de caridade), morais, 
educacionais, científicas ou literárias, políticas, esportivas, recreativas e até de 
utilidade pública. O art. 5° da CF/88 (incisos XVII a XXI), ao dispor sobre as 
associações, estabelece que: a) é plena a liberdade de associação para fins 
lícitos, vedada a de caráter paramilitar; b) a criação de associações e, na 
forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a 
interferência estatal em seu funcionamento; c) as associações só poderão ser 
compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão 
judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado; d) ninguém 
poderá ser compelido a associar-se ou permanecer associado; e, e) as 
entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade 
para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente. 
O fato de uma associação possuir determinado patrimônio e realizar 
negócios para aumentar esse patrimônio não a desnatura, pois não irá 
proporcionar lucro aos associados. Portanto, elas não estão impedidas de gerar 
renda para manter ou aumentar suas atividades. A convocação dos órgãos 
deliberativos deve ser feita na forma doestatuto, garantindo-se a 1/5 dos 
associados o direito de promovê-la. 
O ato constitutivo da associação é o seu estatuto que deve conter 
os requisitos do art. 54, CC. Esse estatuto deve ser registrado no Registro 
Civil de Pessoas Jurídicas. Com ele passa a ter aptidão para ser sujeito de 
direitos e obrigações, possuindo capacidade patrimonial e adquirindo vida 
própria, que não se confunde com a de seus membros. Se não houve registro 
a associação existe, mas será considerada irregular (associação não 
personificada); será tida como mera relação contratual disciplinada pelo seu 
estatuto. 
5. SOCIEDADES 
Sociedade é espécie de corporação dotada de personalidade jurídica 
própria e instituída por meio de um contrato social (que é o seu ato 
constitutivo), com o objetivo de exercer atividade econômica e partilhar lucros. 
Ela está prevista em outro tópico do Código Civil, dentro do Livro II da Parte 
Especial (Do Direito de Empresa), a partir do art. 981. Já vimos que o atual 
Código Civil deixou bem claro que a finalidade lucrativa é o que distingue 
uma associação de uma sociedade. Tanto isso é verdadeiro, que o art. 1.008 
estabelece que é nula a estipulação contratual que exclua qualquer sócio de 
participar dos lucros e das perdas. As sociedades podem ser divididas em: 
A) Sociedades Empresárias (o que anteriormente chamávamos de 
sociedades comerciais)  são as que visam finalidade lucrativa (lucro repartido 
entre os sócios), mediante exercício de atividade mercantil (ex.: compra e 
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venda mercantil). Segundo o art. 982, CC, “salvo exceções expressas, 
considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de 
atividade própria de empresário sujeito a registro (Registro Público de 
Empresas Mercantis); e simples as demais. Parágrafo único. 
Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por 
ações; e, simples, a cooperativa”. Vamos reforçar esse ponto: a sociedade 
anônima é sempre empresária e a cooperativa é sempre sociedade simples, 
por força de lei. 
Requisitos da sociedade empresária 
 Material: toda sociedade empresária realiza uma atividade econômica 
organizada (atividade empresarial), nos termos do art. 966: Considera-se 
empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica 
organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. 
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão 
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o 
concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão 
constituir elemento de empresa. 
 Formal: registro na Junta Comercial (Registro Público de Empresa). 
B) Sociedades Simples (o que anteriormente chamávamos de sociedades 
civis)  também visa fim econômico (lucro), mediante exercício de atividade 
não mercantil. Em regra são constituídas por profissionais de uma mesma 
área, ou por prestadores de serviços técnicos. Ex.: um escritório de advocacia, 
uma sociedade imobiliária, uma clínica dentária, etc. Seus atos constitutivos 
devem ser inscritos no Registro Civil de Pessoas Jurídicas (RCPJ). 
 Observação. Diferenças. Atualmente vêm-se utilizando as expressões: 
organização e atividade (ao invés de objeto) para distinguir a sociedade 
empresária da simples. Ou seja, a classificação se dá em função do exercício 
da atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens ou 
serviços. Havendo a organização dos fatores de produção (capital, mão de 
obra, tecnologia e insumos) se considera caracterizada a empresa e o 
empresário será quem a exerce. 
Sociedade empresária é aquela que conjuga os requisitos do art. 982, 
CC. Além disso, há uma impessoalidade, pois seus sócios atuam como meros 
articuladores de fatores de produção (capital, trabalho, tecnologia e matéria 
prima), a exemplo de um banco ou de uma revendedora de veículos. O seu 
registro é feito na Junta Comercial e sujeitam-se à legislação falimentar. 
Sociedade simples tem como característica principal a pessoalidade: os 
seus sócios não são meros articuladores de fatores de produção, uma vez que 
eles prestam e supervisionam direta e pessoalmente a atividade desenvolvida. 
Em geral, são sociedades prestadoras de serviços, a exemplo da sociedade de 
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advogados ou de médicos. O seu registro é feito, em geral, no Registro Civil de 
Pessoas Jurídicas (CRPJ). Uma banca de advocacia, por maior que seja, sob o 
aspecto material, é uma sociedade simples, até porque seu registro continua 
sendo feito no RCPJ e na OAB (e não na Junta Comercial). 
É possível a sociedade entre cônjuges? Estabelece o art. 977, CC que 
faculta-se aos cônjuges contratar sociedades, entre si ou com terceiros, desde 
que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou do da 
separação obrigatória. 
���� Atenção ���� As empresas públicas e as sociedades de economia 
mista, apesar de fazerem parte da administração indireta ou 
descentralizada e terem capital público, sujeitas aos princípios informadores 
da Administração, são dotadas de personalidade jurídica de direito 
privado. São regidas pelas normas empresariais e trabalhistas (art. 173, 
CF/88), mas com as cautelas do direito público (ex.: sujeitam-se ao controle 
do Estado →→→→ administrativo, financeiro e jurisdicional, devem fazer concurso 
público para a investidura de servidores, etc.). Podem perseguir fins não 
lucrativos, como também atividades lucrativas (produção e comercialização de 
bens ou prestação de serviços de natureza econômica). 
Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista 
Embora não seja matéria específica de Direito Civil (sequer estão 
previstas no Código Civil) penso que é interessante mencioná-las, nem que 
seja de forma superficial. Ambas são integrantes da administração pública 
indireta. No entanto o Decreto-lei n° 200/67 as descreve como pessoas 
jurídicas de direito privado, criadas pelo Estado como instrumento de sua 
atuação no domínio econômico. Ou seja, são os chamados “braços do Estado-
empresário”. A criação de ambas depende de lei específica. Após isso o Poder 
Público elabora os atos constitutivos e depois providencia o seu registro. É 
com o registro que ela adquire a personalidade jurídica. A doutrina costuma 
afirmar que ambas possuem “natureza híbrida”: formalmente são pessoas 
jurídicas de direito privado; no entanto elas não atuam integralmente sob as 
regras do Direito Privado. Na prática elas têm seu regime jurídico determinado 
pela natureza de suas atividades (objeto), pois ambas podem atuar na 
exploração de atividades econômicas (nessa hipótese sujeitam-se ao regime 
jurídico próprio das empresas privadas, previsto no art. 173, CF/88) ou na 
prestação de serviços públicos (nessa hipótese sujeitam-se ao regime 
administrativo próprio das entidades públicas, previsto no art. 175, CF/88). 
����Observação: embora haja esta dualidade no objeto, segundo 
posicionamentos doutrinários modernos, as empresas públicas e as sociedades 
de economia mista, qualquer que seja o objeto, não estão sujeitas à falência, 
por força da nova lei de falências (Lei n° 11.101/2005) que em seu art. 2°, I, 
afirma: “Esta lei não se aplica a: I. empresa pública e sociedade de economia 
mista (...)”. Outro ponto é que ainda que ambas estejam sujeitas ao regime 
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das empresas privadas (quando exploram atividade econômica), continuamobrigadas à licitação. 
 Empresas Públicas: são pessoas jurídicas de personalidade de direito 
privado, integrantes da administração indireta, instituídas pelo Poder 
Público, mediante autorização de lei específica a se constituir com capital 
próprio e exclusivamente público, para exploração de atividade 
econômica ou prestação de serviços públicos ou coordenadora de obras 
públicas, podendo se revestir de qualquer das formas de organização 
empresarial (Ltda., S/A, etc.). Ex.: Empresa Brasileira de Correios de 
Telégrafos (EBTC), Caixa Econômica Federal (CEF), Casa da Moeda, 
Serviço de Processamento de Dados (SERPRO), EMURB, etc. 
 Sociedade de Economia Mista: são pessoas jurídicas integrantes da 
administração indireta, mas também de personalidade de direito privado, 
instituídas pelo Poder Público mediante autorização legal, constituídas com 
patrimônio público e particular, destinadas à exploração de atividades 
econômicas ou serviços de interesse coletivo (públicos), sendo que sua 
forma é sempre a de uma Sociedade Anônima. Embora haja a 
conjugação de capital público e privado, as ações com direito a voto 
(controle acionário) devem pertencer em sua maioria ao Poder Público. 
Ex.: Banco do Brasil, Petrobrás, etc. 
Diferenças Empresa Pública Sociedade de Economia Mista 
Forma 
Jurídica 
Pode revestir-se de qualquer das 
formas admitidas em direito. 
(sociedades civis, sociedades 
comerciais, Ltda., S/A, etc.). 
Reveste-se obrigatoriamente na 
forma de sociedade anônima. 
Composição 
do capital 
É formado apenas com recursos 
públicos. 
É formado pela conjugação de 
recursos públicos e de recursos 
privados. 
Foro 
processual 
Suas causas serão processadas e 
julgadas pela Justiça Federal, exceto 
as de falência, as de acidente do 
trabalho e as sujeitas à Justiça 
Eleitoral e à Justiça do Trabalho. 
Não foi contemplada com o foro 
processual da Justiça Federal, 
sendo suas causas processadas e 
julgadas na Justiça Estadual. 
6. EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA 
A Lei n° 12.441/2011 inseriu no rol das pessoas jurídicas, também a 
empresa individual de responsabilidade limitada (EIRELI). 
Até então nosso ordenamento não permitia a formação de uma empresa 
com apenas um sócio, a não ser em casos excepcionais. O empresário 
individual era considerado como pessoa natural (e não jurídica). Seu 
patrimônio pessoal confundia-se com o utilizado no próprio empreendimento, o 
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que era considerado como uma temeridade, pois no caso de execução por 
dívidas geradas pela empresa, os bens pessoais do empresário seriam 
vendidos para cobrir o passivo da empresa. A nova lei corrigiu esta distorção. 
No que se refere à organização, a EIRELI é constituída por uma única 
pessoa como titular da integralidade do capital social, sendo que o valor 
deste não pode ser inferior a 100 vezes o maior salário mínimo vigente no 
País. Assim, estabelecem-se limites para esta opção de pessoa jurídica, 
deixando de fora os empresários de menor porte. 
Quanto ao nome empresarial, que identifica o empreendedor nas 
realizações empresariais e contratuais, ele poderá adotar o próprio nome ou 
sua abreviação, bem como um nome distinto da pessoa natural. No entanto o 
nome adotado deverá conter como sinal distintivo a expressão “EIRELI” após a 
firma ou denominação adotada. Exemplos: José João EIRELI; ou J.J. EIRELI, 
ou J.J. Comercial EIRELI; ou ainda Alfa Comercial EIRELI. A pessoa natural que 
constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá 
figurar em uma única empresa dessa modalidade, o que a diferencia das 
demais sociedades, uma vez que nestas os sócios podem ter outro 
empreendimento sem qualquer problema. 
Esta espécie de empresa também pode resultar da concentração das 
quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente 
das razões que motivaram tal concentração. Assim, se uma sociedade limitada 
deixar de possuir pluralidade de sócios, ela poderá ser transformada em uma 
EIRELI. Anteriormente esta situação implicava numa verdadeira corrida contra 
o tempo do sócio remanescente, pois ele era obrigado a procurar um novo 
sócio no prazo de 180 dias (sob pena de ver sua sociedade extinta caso 
permanecesse na condição de apenas um sócio). 
Aplicam-se à EIRELI, no que couber, as regras previstas para as 
sociedades limitadas, inclusive a desconsideração da personalidade jurídica, 
que falaremos mais adiante. A V Jornada de Direito Civil do STJ aprovou 
Enunciado n° 469 explicando a natureza jurídica da EIRELI: “A Empresa 
Individual de Responsabilidade Limitada (EIRELI) não é sociedade, mas novo 
ente jurídico personificado”. Portanto, ela é uma pessoa jurídica constituída por 
apenas uma pessoa, tendo natureza especial, bem como tratamento específico 
no novo art. 980-A, CC. 
 DISTINÇÕES 
Associação X Sociedade 
Semelhanças: conjunto de pessoas, que apenas coletivamente goza de 
certos direitos e os exerce por meio de uma vontade única. 
Distinções: Associação →→→→ não há fim lucrativo (ou de dividir resultados, 
embora tenha patrimônio), formado por contribuição de seus membros para a 
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obtenção de fins culturais, esportivos, religiosos, etc. Sociedade →→→→ visa fim 
econômico ou lucrativo, que deve ser repartido entre os sócios. 
Associação X Fundação 
Semelhanças: em ambas há a união de várias pessoas, com acervo de 
bens, não havendo finalidade lucrativa. 
Distinções: Associação →→→→ a) patrimônio é constituído pelos associados, 
sendo um meio para atingir os seus objetivos (instrumental); b) finalidades 
são próprias (dos associados), podendo ser alteradas; c) deliberações livres. 
Fundação →→→→ a) patrimônio provém do instituidor, sendo seu elemento 
essencial (juntamente com o objetivo, a finalidade da fundação), já o elemento 
“pessoa” fica num segundo plano; b) finalidades são alheias (do instituidor) e 
imutáveis; c) deliberações delimitadas pelo instituidor e fiscalizadas pelo 
Ministério Público. Conclusão: os objetivos da associação são alcançados pelo 
esforço das pessoas (associados); já o das fundações é alcançado pelo uso de 
seu patrimônio. 
INÍCIO DA EXISTÊNCIA LEGAL DA PESSOA JURÍDICA. CONSTITUIÇÃO. 
Enquanto a pessoa natural surge com um fato biológico (o nascimento 
com vida...), a pessoa jurídica tem seu início, em regra, com um ato jurídico 
ou uma norma. No entanto há diferenças entre elas quanto a forma de 
constituição: 
1) Pessoas Jurídicas de Direito Público →→→→ sua existência se dá em 
razão da lei e do ato administrativo, bem como de fatos históricos, previsão 
constitucional, tratados internacionais, etc. São regidas pelo Direito Público. 
Um País surge quando afirma sua existência em face dos outros. Os Estados-
membros têm o reconhecimento de sua existência quando instituídos na 
própria Constituição Federal deste País. Já os Municípios, peculiaridade de 
nosso regime federativo, também têm sua autonomia assegurada pela 
Constituição, tendo seu início no provimento que os criou (são regidas pelas 
Constituições estaduais e pelas Leis Orgânicas). As autarquias e demais 
pessoas jurídicas de direito público são criadas e organizadas por leis, que 
estabelecem todas as condições para o exercício de seus direitos e obrigações. 
Assim elas nascem com a própria lei. 
2) Pessoas Jurídicas de Direito Privado →→→→ o fato que lhes dá origem é 
a vontade humana convergente (affectio societatis). Sua criação possui duas 
fases: a elaboração dos atos constitutivos e o seu respectivo registro.Primeira Fase: Elaboração dos Atos Constitutivos  A pessoa jurídica se 
constitui, por escrito, por ato jurídico unilateral inter vivos ou causa mortis em 
relação às fundações e por ato jurídico bilateral ou plurilateral em relação às 
sociedades e as associações. 
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Regra: a) Fundações →→→→ escritura pública ou testamento; b) Associações 
(sem fim lucrativo) →→→→ Estatuto. b) Sociedades simples ou empresárias (com 
finalidade lucrativa) →→→→ Contrato Social. 
Segunda Fase: Registro do Ato Constitutivo  Para que a pessoa jurídica 
exista legalmente, é necessário inscrever os contratos, estatutos ou 
compromissos no seu registro peculiar. Antes do registro é chamada de 
“sociedade de fato”. 
Regra: a) Sociedades Empresárias →→→→ Registro Público de Empresas 
Mercantis (Junta Comercial); b) Demais pessoas jurídicas →→→→ Registro Civil de 
Pessoas Jurídicas. Quaisquer alterações supervenientes nestas instituições 
devem ser averbadas no mesmo registro. 
Obs.: algumas entidades ainda necessitam da Terceira Fase: 
Autorização prévia do governo para existir e funcionar. Ex.: instituições 
financeiras: bancos, estabelecimentos de seguro, administradoras de 
consórcios, universidades, sociedades estrangeiras, bolsa de valores, casas 
lotéricas, etc. (confiram o art. 21, inciso XII, CF/88 e art. 45, CC). 
REGISTRO 
Como vimos, somente com o registro a pessoa jurídica adquire a 
personalidade. Tal registro se dá no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (art. 
1.150, CC). No entanto uma sociedade empresária deve ser registrada no 
Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (Lei n° 8.934/94), 
sendo competente para tais atos as Juntas Comerciais. 
Segundo o art. 46, CC o registro deve conter os seguintes elementos: 
a) a denominação, os fins, a sede, o tempo de duração e o fundo social 
(quando houver); b) o nome e a individualização dos fundadores ou 
instituidores e dos diretores; c) forma de administração e representação ativa 
e passiva, judicial e extrajudicial; d) possibilidade e modo de reforma do 
estatuto social; e) previsão da responsabilidade subsidiária dos sócios pelas 
obrigações sociais; f) condições de extinção da pessoa jurídica e o destino do 
seu patrimônio. 
Uma pessoa jurídica começa a existir no momento em que é efetuado o 
seu registro, passando a ter aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações, 
obtendo capacidade patrimonial, adquirindo vida própria e autônoma, 
não se confundindo com a personalidade de seus membros. Vejamos o que 
dispõe o art. 45, CC: “Começa a existência legal das pessoas jurídicas de 
direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, 
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder 
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato 
constitutivo”. 
 
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���� Atenção ���� 
• Personalidade da pessoa natural: nascimento com vida. O registro 
possui apenas efeito declaratório, pois quando ele é feito, a condição de 
pessoa já havia sido adquirida. O registro apenas declara uma situação 
pré-existente: o nascimento com vida. 
• Personalidade da pessoa jurídica: registro. O registro neste caso 
possui efeito constitutivo; é com ele que a pessoa jurídica “nasce” ou se 
constitui juridicamente. 
• Observação importante para concursos: digamos que uma sociedade 
funcionou durante cinco anos sem ser registrada. Após este prazo, 
resolveram registrá-la. Pergunta-se: o registro retroage desde o início das 
atividades da sociedade ou somente a partir do registro? Resposta: os 
efeitos do registro da pessoa jurídica são sempre para o futuro (efeito ex 
nunc); não se pode retroagir, legitimando o passado. 
DOMICÍLIO DAS PESSOAS JURÍDICAS 
As pessoas jurídicas também possuem domicílio (art. 75, CC); é a sua 
“sede jurídica”, onde os credores podem demandar o cumprimento das 
obrigações. Vejamos as situações legais: 
• União →→→→ Distrito Federal. 
• Estados e Territórios →→→→ suas respectivas Capitais. 
• Municípios →→→→ o lugar onde funciona a Administração Municipal (a sede 
municipal). 
• Demais Pessoas Jurídicas →→→→ Regra: o lugar onde elegerem 
domicílio especial nos seus estatutos ou atos constitutivos. Na omissão é o 
local onde funcionam as respectivas diretorias e administrações. Tendo a 
pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada 
um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. Admite-se, 
portanto, a pluralidade domiciliar da pessoa jurídica, desde que tenha 
estabelecimentos em lugares diferentes (ex.: filiais, agências, escritórios de 
representação, etc. – art. 75, §1°, CC). Finalmente estabelece o art. 75, §2°, 
CC que se “a administração, ou diretoria, tiver a sede no estrangeiro, haver-
se-á por domicílio da pessoa jurídica, no tocante às obrigações contraídas por 
cada uma das suas agências, o lugar do estabelecimento, sito no Brasil, a que 
ela corresponder”. 
RESPONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS 
A responsabilidade civil das pessoas jurídicas em geral pode ser de 
natureza contratual ou extracontratual. 
1) No âmbito da responsabilidade contratual as pessoas jurídicas 
(seja de direito privado ou público) são responsáveis por seus atos. Ou seja, 
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elas respondem pelos danos decorrentes de suas condutas. Se 
assumiram determinada obrigação, se assinaram determinado contrato, devem 
cumpri-lo da forma como foi estipulado. Se a obrigação ajustada não for 
cumprida o devedor responde por perdas e danos (além dos juros, correção 
monetária e honorários advocatícios). O fundamento legal desta regra 
encontra-se no art. 389, CC. Portanto, na responsabilidade assumida por meio 
de uma obrigação contratual, as pessoas jurídicas devem responder com 
seus bens por esse inadimplemento (não cumprimento) contratual. 
2) Já no campo da responsabilidade extracontratual (ou aquiliana) 
vigora a regra geral do neminem laedere (ou seja, a ninguém se deve lesar). 
Reprime-se a prática dos atos ilícitos em geral, impondo a obrigação de 
reparação de eventuais danos. Ela tem fundamento nos arts. 186 e 187 
combinados com o art. 927, CC. No entanto, há uma nuance entre a 
responsabilidade das pessoas jurídicas de direito público e as de direito 
privado. Vejamos: 
A) Pessoa Jurídica de Direito Privado. Neste caso existem duas formas 
de responsabilidade: 
1) Por ato próprio  nesta hipótese a responsabilidade é direta e 
subjetiva. Isto porque a pessoa jurídica responde pelos atos de seus órgãos 
(os diretores e os administradores estão apenas cumprindo as determinações 
das suas assembleias). 
2) Por ato de terceiro  nesta hipótese a responsabilidade é indireta 
e objetiva. Determina o Código Civil que as pessoas jurídicas de direito privado 
são civilmente responsáveis pelos atos danosos praticados por seus 
empregados, serviçais ou prepostos (representantes) no exercício do trabalho 
que lhes competir ou em razão dele (art. 932, III, CC). Por tal motivo trata-se 
de responsabilidade indireta. Ou seja, a pessoa jurídica irá responder por uma 
conduta praticada por terceiro (ex.: empregado), mas que, em razão de um 
vínculo com a pessoa jurídica, gera a responsabilidade desta. Acrescenta o art. 
933, CC que esta responsabilidade independe de culpa (em sentido amplo) 
de seus agentes, sócios ou representantes. Portanto a responsabilidadeé do 
tipo objetiva. Observem que neste caso a pessoa jurídica nada fez de 
irregular; quem agiu de forma errônea foi o dirigente ou o empregado. Mas 
ainda assim ela irá responder por este ato. Além disso essa responsabilidade 
também será solidária, pois a vítima pode reclamar os danos tanto da pessoa 
jurídica, como do agente causador do prejuízo. Ex.: O motorista de caminhão 
de uma empresa, embriagado, atropela e mata um pedestre; a família da 
vítima pode ingressar com ação judicial de responsabilidade civil somente 
contra a empresa, somente contra o motorista, ou contra ambos, posto que 
tanto a empresa, como o motorista são responsáveis solidários. Se preferir 
ingressar com a ação somente contra a empresa, esta terá o direito de 
regresso contra o empregado. 
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B) PESSOA JURÍDICA DE DIREITO PÚBLICO 
A partir de 1946 a responsabilidade passou a ser prevista na própria 
Constituição da República, principalmente em virtude da criação dos chamados 
direitos individuais de segunda geração. Com base no princípio da igualdade de 
todos perante a lei (todos têm encargos equitativamente distribuídos), não 
seria justo que, para benefício de toda uma coletividade, somente uma pessoa 
sofresse os ônus. Inicia-se, então a chamada Teoria da Responsabilidade 
Objetiva do Estado. A pessoa lesada apenas deve provar que houve uma 
conduta por parte do Estado, que ela sofreu um dano e que houve um nexo 
de causalidade entre a conduta e o dano. Ou seja, a vítima não tem mais o 
ônus de provar culpa ou dolo do funcionário. 
Vigora atualmente a Teoria do Risco Administrativo. Nela o Estado 
responde objetivamente, porém não em qualquer hipótese. Permite-se que a 
responsabilidade do Estado seja afastada em situações onde consiga provar a 
culpa exclusiva da vítima (no caso de culpa concorrente apenas se atenua sua 
responsabilidade, diminuindo o valor da indenização), o caso fortuito ou a força 
maior, a ausência de nexo causal, etc. 
Atualmente no Brasil as pessoas jurídicas de direito público e as de 
direito privado prestadoras de serviços públicos (abrangendo as 
concessionárias e permissionárias) têm responsabilidade civil: 
 Pelos danos que seus agentes (sentido amplo), nessas qualidades, 
causarem a terceiros (art. 37, §6º, CF/88 e art. 43, CC). Art. 43, CC: 
“As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis 
por atos dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, 
ressalvados direito regressivo contra os causadores do dano, se houver, 
por parte destes, culpa ou dolo”. 
Trata-se de responsabilidade de ressarcimento de danos, do tipo objetiva, 
isto é, a responsabilidade existe independentemente de culpa do 
funcionário. Há que se provar a conduta (positiva ou negativa), a lesão 
(dano patrimonial ou moral) e o nexo causal (a lesão foi causada pela 
conduta). Não se analisa eventual culpa. Provados aqueles elementos 
(conduta, dano e nexo), o Estado deve indenizar. Também não se indaga 
da licitude ou ilicitude da conduta administrativa. Ou seja, às vezes, 
mesmo agindo licitamente o Estado pode ser obrigado a indenizar um 
particular. Ex.: quando o Estado realiza uma obra que em tese irá 
beneficiar a muitas pessoas, pode causar prejuízo a uma pessoa em 
especial. A obra realizada é lícita. Mas se causar prejuízo a um particular 
(ex.: seu imóvel foi desvalorizado com a obra), ele deve ser indenizado. 
Os mesmos dispositivos citados (art. 37, §6°, CF/88 e art. 43, CC) 
autorizam ao Poder Público o chamado direito de regresso contra o 
causador do dano, se houver culpa ou dolo de sua parte. Lembrando que 
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quando se fala “culpa”, devemos entender seu sentido amplo, 
abrangendo tanto a culpa em sentido estrito (o agente praticou uma 
conduta, mas não teve a intenção da ocorrência de um resultado 
específico, porém este acabou acontecendo por imprudência, negligência 
ou imperícia do agente) como o dolo (o agente teve a intenção de praticar 
a conduta, desejando ou assumindo o risco pelos resultados advindos de 
sua conduta). Assim, o Estado responde de forma objetiva (ou seja, 
independentemente de culpa). Mas se o Estado for condenado e ficar 
provada a culpa ou o dolo do funcionário, o Estado poderá acionar 
regressivamente o seu agente. Logo, a responsabilidade do funcionário é 
do tipo subjetiva, pois deve estar comprovada a sua culpa em sentido 
amplo (que abrange o dolo ou a culpa em sentido estrito) no evento. 
 por atos de terceiros e por fenômenos da natureza. Neste caso, a 
responsabilidade é somente subjetiva. Ou seja, deve-se provar a culpa da 
Administração (ex.: casos de enchentes ou depredações por movimentos 
populares, já previstos pela administração). Trata-se de uma exceção à 
regra de que o Estado responde de forma objetiva. 
 Observações 
01) Uma parcela da doutrina entende que na hipótese de uma conduta 
omissiva por parte do Estado, a sua responsabilidade dependeria de 
demonstração de culpa da sua parte. Seria então mais um caso de 
responsabilidade subjetiva do Estado. Lembrando que mesmo neste caso, 
havendo culpa concorrente da vítima, a indenização será reduzida. 
02) O Supremo Tribunal Federal já decidiu que as ações fundadas na 
responsabilidade objetiva só podem ser ajuizadas contra a pessoas jurídica. No 
entanto, se o autor se dispõe a provar a culpa ou dolo do servidor 
(responsabilidade subjetiva), abrindo mão de uma vantagem, poderá movê-la 
diretamente contra o causador do dano. Isso pode ser mais vantajoso porque a 
execução contra o particular é menos demorada (não há a expedição dos 
famosos precatórios). Se preferir mover a ação contra ambos, deverá também 
arcar com o ônus de provar a culpa do funcionário. 
03) Cabe ação contra o Estado ainda quando não se identifique o 
funcionário causador do dano (“culpa anônima da administração”). 
04) A pessoa jurídica também pode ser penalmente responsável, na 
hipótese de crimes ambientais (art. 225, §3°, CF/88 e art. 3° da Lei n° 
9.605/98). 
EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA 
A existência da pessoa jurídica (em relação às sociedades e às 
associações) termina: 
• Dissolução deliberada de seus membros (extinção convencional) por 
unanimidade de votos e mediante distrato. Distrato é a rescisão de um 
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contrato. Pode ser amigável ou judicial. É ressalvado o direito de 
terceiros e da minoria. Assim, se a minoria desejar a continuidade da 
sociedade, impossível será sua dissolução amigável (haverá então uma 
sentença judicial), a menos que o contrato contenha cláusula que 
preveja a extinção por maioria simples. No entanto, se a minoria tentar 
extinguir a pessoa jurídica, não conseguirá. 
• Morte de seus membros (extinção natural). 
• Quando a lei assim determinar (extinção legal). 
• Decurso do prazo, se constituída por prazo determinado. 
• Dissolução por decisão judicial: procedimento falimentar (em regra para 
as sociedades empresárias) ou liquidação (em regra para sociedade 
simples). 
• Administrativa: decorre da cassação da autorização de funcionamento, 
específica para algumas entidades (ex.: instituições financeiras que 
dependem de autorização do Banco Central). 
����É importante notar que a extinção da pessoa jurídica não se opera de 
modo instantâneo. Qualquer que seja o fator extintivo tem-se o fim da 
entidade. Porém, se houver bens em seu patrimônio e dívidas a resgatar, ela 
continuará

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