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ARTIGO1 LMD Aline PedrosaOK

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O protesto passivo: os espaços de debate na ciberdemocracia. Um estudo sobre as campanhas #NãoMereçoSerEstuprada e #SomosTodosMacacos
Aline de Farias Pedrosa�
Janayde de Castro Gonçalves�
RESUMO: O presente artigo pretende analisar como as plataformas de redes sociais trazem um novo conceito de democracia a nossa sociedade fazendo com que os internautas possam também ser criadores de conteúdo. Serão abordadas neste trabalho as campanhas #NãoMereçoSerEstuprada e #SomosTodosMacacos. Ambas tiveram início na rede, agendaram as conversas dentro e fora dela, assim como os veículos de comunicação. 
Palavras-chaves: Redes sociais, campanhas online, capital social, hastag.
ABSTRACT: This article aims to analyze how social networking platforms bring a new concept of democracy to our society causing netizens can also be creators of content. Will be addressed in this work the campaigns #NãoMereçoSerEstuprada #SomosTodosMacacos. Both started in the network, scheduled conversations inside and outside, as well as the media.
1 Introdução
Em tempos de grandes exposições, nos quais se faz presente a homogeneidade das imagens públicas e privadas, os internautas encabeçam e participam de campanhas dos mais variados temas nas redes sociais. No artigo em questão serão abordadas duas mobilizações realizadas em rede, uma via cartaz e pintura do corpo, e a outra associada a imagem de uma banana. Ambas ganharam ampla adesão nacional, pautando a imprensa do país, no período de março a abril de 2014. 
A nova forma de protestar, por meio da utilização da imagem de pessoas - anônimas ou famosas - se apropriando das mídias digitais vem ganhando adeptos no mundo. O clima de protestos e publicações de campanhas com o uso de hastags, palavra antecipada pelo símbolo do jogo da velha (#), fervilham nas redes sociais online. 
A palavra que é escrita com o símbolo # antes, ganha esse destaque e assim faz com que sejam facilmente arquivados todas as menções relacionadas com mesmo assunto, que utilizem a mesma hashtag. É uma maneira de catalogar mensagens por temática e organizar a informação. 
Como mídia interativa, o principal aspecto do computador é sua possibilidade de acesso a outras mídias e a possibilidade da formulação de um banco de dados, com buscas. 
Neste trabalho, analisaremos as mobilizações aos quais podemos chamar de passivas, pois não há o ato de ir à rua fazer uma manifestação, mas que através da utilização da imagem de pessoas, segurando cartazes e ou objetos que são ícone da campanha, encontram neste ato uma forma de protestar e expressar sua opinião por meio de mensagens sociais que são reverberadas através das mídias digitais. Iremos abordar as campanhas #NãoMereçoSerEstuprada e #SomosTodosMacacos. Ambas têm em comum fatos sociais, com temas polêmicos como estupro aliado ao machismo e o racismo. As campanhas, portanto, unem os internautas com ideais semelhantes, propagam preconceitos enraizados em nosso país e por sua repercussão geraram outras hastags contrárias as iniciais. 
Os temas que ganharam espaço nas redes sociais online também pautaram a imprensa nacional e pessoas com forte capital social�. A viralização chegou a vários setores da sociedade brasileira, inclusive ganhou comentários da presidente Dilma Rousseff, que opinou em seu twitter oficial os dois acontecimentos utilizando as hastags citadas e acrescentando outras. 
A líder petista tem um grande potencial de capital social, o que proporciona com que o que ela comenta, mesmo que em sua rede social, ganhe um maior destaque na grande mídia e nas conversas da população do país.
A internet torna-se um meio essencial de expressão e organização para esses tipos de manifestações, que coincidem numa dada hora e espaço, provocam seu impacto através do mundo da mídia, e atuam sobre instituições e organizações (empresas, por exemplo) por meio das repercussões de seu impacto sobre a opinião pública. (CASTELLS, 2003: p. 117). 
Assim, neste artigo, buscaremos discutir essas manifestações por meio de cartazes na internet, que apesar de não serem ações propriamente ditas, comparados aos cartazes que foram às ruas como uma forma de voz à população, ambas são conseqüências da utilização das mídias digitais como propagação de ideais e defesa de direitos tendo estas, portanto, um caráter viralizador e mobilizador. 
Decidimos ter como referência as pontuações de Manuel Castells (2003 e 2013), Raquel Recuero (2009 e 2012), Pierre Lévy (1996 e 2002) e André Lemos (2010). Pensadores contemporâneos da comunicação e da cibercultura. 
2 Imperativo da imagem 
Recuero (2009) destaca o imperativo da visibilidade da sociedade contemporânea com a necessidade de exposição pessoal. É necessário ser visto para existir no ciberespaço. "É preciso constituir-se parte dessa sociedade em rede, apropriando-se deste local e constituindo um eu ali" (RECUERO, 2009, p. 25).
Os indivíduos convivem em sociedade, em comunidade e redes, porém, foi através da internet, e mais precisamente dos sites de redes sociais, espaços utilizados para a expressão do universo online, que eles conseguiram ganhar notoriedade. A opinião pública passa a ter voz. O que implica em debates que não são mais controlados por editores de informações, como nos veículos tradicionais. Percebemos aí um desgaste na Teoria do Gatekeeper�, no qual o jornalista define o que será noticiado de acordo com o valor-notícia, linha editorial, dentre outros critérios. Não apenas os jornalistas como o "porteiro" da redação, com um profissional responsável pela filtragem da notícia.
 Com a efervescência e a comodidade da prática do jornalismo colaborativo, a função do gatekeeper tem sofrido alterações, pois a audiência está cada vez menos passiva e mais participativa na construção da notícia. 
Os indivíduos inserem-se no ambiente web, como forma de inscrição, motivo pelo qual vemos a emergência quase que rotineira de inúmeros sites que promovem esta integração, tais como MySpace, Instagram, Facebook, Twitter, Linkedin, dentre outros. Estes sites de redes sociais são plataformas que ampliam o alcance das redes sociais pessoais e as ferramentas de armazenamento. 
Os movimentos e manifestações espalharam-se num mundo conectado a internet sem fio e smarthphones, caracterizado pela rápida disseminação de imagens publicadas. A imagem, que já assumia um grande peso, como prova documental, se alia a essas redes sociais online ganhado ampla disseminação global. 
A constituição de redes é operada pelo ato da comunicação. Comunicação é o processo de partilhar significado pela troca de informações. Para a sociedade em geral, a principal fonte de produção social de significado é o processo de comunicação socializada. Esta existe no domínio público, para além da comunicação interpessoal. A contínua transformação da tecnologia da comunicação na era digital amplia o alcance dos meios de comunicação para todos os domínios da vida social, numa rede que é simultaneamente global e local, genérica e personalizada, num padrão em constante mudança". (CASTELLS, 2013, p. 15). 
O uso da internet e das redes sem fio como plataformas da comunicação digital configura-se, portanto, em uma comunicação de massa porque dissemina mensagens que transmitem informações digitalizadas pelo mundo. Com os dispositivos móveis, a construção social da realidade é ampliada, em espaço e velocidade. 
Segundo Lévy (1996), o computador é um potencializador da informação. Ainda segundo o autor, toda leitura em computador é uma edição, "uma montagem singular". A rapidez em que as informações circulam no ciberespaço implica numa conversação coletiva, onde se distribuem opiniões, havendo múltiplos atores que falam. 
Foi através das mídias digitais que pudemos ter acesso em tempo real a alguns movimentos e aonde vimos nascerem mobilizações como a rebelião tunisiana, chamada de "Primavera árabe", que começou no final de 2010. A mobilização foi considerada pioneira na demonstração do poder das redes, se estendendo paratodo o Norte da África e Oriente Médio, ambas em busca da liberdade e democracia nos países. A população foi às ruas para derrubar ditadores e reivindicar melhores condições de vida. 
Figura 1 - Protestos da chamada "Primavera Árabe" tendo as plataformas de redes sociais como aliadas.
http://zinkmarketing.es/1527/la-revolucion-de-twitter-en-el-mundo-arabe/
De acordo com Castells (2013), o twitter desempenhou papel de destaque na discussão dos eventos. Manifestantes usaram a #sidibouzid, lugar onde começou a manifestação, uma cidade pequena da Tunísia, ao sul de Túnis, para debater e registrar a revolução. Também podemos citar as manifestações online através das redes sociais na Comunidade Européia, com protestos contra as medidas econômicas do Euro e o crescimento do desemprego. E o Ocuppy Wall Street, por conta da queda do sistema financeiro ocasionando um aumento no desemprego nos EUA. 
Ambos foram movimentos que nasceram digitais e que constituíram uma rede de comunicação em tempo real que cobria o espaço ocupado. Estas reivindicações encontraram nas redes sociais o instrumento de propagação dos protestos, sendo as comunidades virtuais o ponto de encontro das mobilizações. 
Em 2013, foi a vez do Brasil se mobilizar e ir as ruas, mediante organização via plataformas de redes sociais, como estopim o fato do aumento no preço das passagens de ônibus em São Paulo, que gerou a #naoepor20centavos. O movimento ganhou adeptos em junção com protestos contra a corrupção no Brasil e os investimentos com a Copa das Confederações #vemprarua, #ogiganteacordou. 
Outras campanhas vieram trazendo à tona a violência policial sob os mais desfavorecidos economicamente. Uma que ficou marcada foi a #cadeoamarildo, pedreiro negro morador da Rocinha, no Rio de Janeiro. Para o Ministério Público, o homem havia sido capturado pela PM, para que o mesmo informasse o paradeiro de armas e drogas dos traficantes da comunidade onde ele morava. Juntaram-se protestos contra o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral e o prefeito da cidade carioca, Eduardo Paes. 
Durante o primeiro semestre de 2014, várias foram as campanhas que tiveram grande atenção nas redes sociais online e que viralizaram entre elas, ganhando adesão nacional, pautando a imprensa e as conversas fora e dentro da rede, assim como as citadas acima. Houve protestos na Venezuela, por conta da repressão do governo de Nicolás Maduro, dentre outras manifestações mediadas, na sua maioria por jovens, que se mobilizaram pela internet, gerando a #ResistenciaVzla, após a prisão do líder oposicionista Leopoldo López e #mejordesnudosque, que significa ‘antes nu do que sem liberdade’. Os principais canais estatais de televisão promoveram entre os adeptos do Governo a hashtag no Twitter #FueraCNNdeVenezuela. 
E mais uma vez, porém, com menos intensidade, devido a realização da Copa do Mundo no Brasil, o país se mobiliza contra a corrupção e os péssimos serviços básicos prestados aos que habitam nele (#nãovaitercopa, #FifaGoHome).
Além dessas campanhas citadas e de outras mais que foram às ruas, ganharam força também nas redes sociais online mobilizações por meio da exposição da imagem dos internautas com cartazes ou objetos com representações simbólicas. Esse novo modo de protestar contaminou as redes sociais e ganhou notoriedade nas mídias tradicionais. 
3 Eu participador protagonista
A comunicação mediada pelo computador representa uma nova forma de organização, identidade, conversação e mobilização social. Conectando acima de tudo pessoas. É a virtualização da informação, uma nova forma de se comunicar. Para Castells (2013), essa nova forma de comunicação está presente na internet e também no desenvolvimento dos telefones celulares. 
Além disso, a comunicação sem fios conecta dispositivos, dados, pessoas, organizações, tudo isso com a nuvem emergindo como repositório de uma ampla constituição de redes sociais, como uma teia de comunicação que envolve a tudo e a todos. Assim, a atividade mais importante da internet hoje se dá por meio dos sites de rede social (SNS, de Social Networking Sites), e estes se tornam plataformas para todos os tipos de atividade, não apenas para amizades ou bate-papos pessoais, mas para marketing, e-commerce, educação, criatividade cultural, distribuição de mídia e entretenimento, aplicações de saúde e, sim, ativismo sociopolítico. (CASTELLS, 2013, p. 173). 
Nos últimos anos, o surgimento da chamada web 2.0, trouxe uma interação que por  vezes tem demonstrado o outro lado da notícia. A conexão em rede possibilitou também a democratização da informação, onde os cidadãos participam do processo comunicacional, deixando de ser passivos, como acontecia em outros meios de comunicação. 
Na Era da Tecnologia, internautas também são produtores de conteúdo e a internet cria novas redes de sociabilidade, sendo utilizada para unir as pessoas em prol de um mesmo ideal. 
	Em 2013, o Brasil ultrapassou a marca de 100 milhões de pessoas com acesso à internet, de acordo com estudo do Ibope Media apresentado em julho do mesmo ano.
	Apesar de no país ainda grande parcela da população não está inclusa nesse meio digital, a internet vem revolucionando a forma com que as pessoas se sociabilizam, se relacionam, pensam, agem, organizam-se e comunicam-se. Essa participação online no país é crescente.
Como define Castells (2003, p. 114), "o ciberespaço tornou-se uma ágora eletrônica global em que a diversidade da divergência humana explode numa cacofonia de sotaques". 
O uso da internet somado ao uso das plataformas de redes sociais fez com que grupos se reunissem proporcionando uma discussão acerca da revitalização da democracia, gerando o conceito da ciberdemocracia�.
Figura 2 - Reprodução do site www.mesanavaranda.com.br. O mesmo momento, só que de um outro ângulo, foi capturado para ser a foto da capa do livro de Manuel Castells, Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet.
Para Levý (2002), a expansão da Internet proporcionou a esfera pública diversificar-se, constituindo assim, um dos pilares dos fundamentos da ciberdemocracia. "Este soltar da palavra, este poder finalmente dizer, este mostrar e mostrar-se generalizados é uma das primeiras dimensões da revolução ciberdemocrática" (LEVÝ, 2002, p. 57). O autor também aborda o desenvolvimento de comunidades virtuais, que segundo ele, "constituem o fundamento social do ciberespaço e a chave da ciberdemocracia". Adentrar nas redes sociais é compreender elementos dinâmicos e de composição desses grupos sociais.
De acordo com Raquel Recuero (2009), através do advento da internet houveram muitas mudanças para a sociedade e a maior delas é a "possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediada pelo computador (CMC)". Ainda segundo a autora, são essas ferramentas que fazem os internautas interagirem. 
O sociólogo Manuel Castells (2012), por sua vez, trata do inevitável hibridismo dos espaços de manifestação social também no ambiente virtual. O autor vê nas redes sociais da Internet (Web) espaços de autonomia, por estarem, em grande medida, fora do controle dos governos e corporações que ao longo da história tem monopolizado os canais de comunicação, que servem como base fundadora do poder.
Percebe-se no pensamento de Levý (2002), Recuero (2009) e Castells (2012) que vivenciamos uma democracia digital, através de uma maior transparência pela acessibilidade instantânea de informações. 
As redes sociais online geram um novo tipo de capital social gerando um complexo dinâmico, capaz de levar informações para pessoas distantes da origem dos comentários ou posts. As conexões tornam o indivíduo mais visível na rede social. Sites de redes sociais permitem que os atores se conectem, significando um aumento na visibilidade dos nós. Criando o capital social que está associado com a visibilidade, reputação, popularidade e autoridade. Assim, um ator que investe seu tempo buscando informações que considere relevantespara publicar no Twitter, por exemplo, investe em um determinado tipo de capital social que requer ação. 
E o coletivo de atores, interconectado, assim, funciona como um meio, por onde a informação transita. As redes sociais online são utilizadas para pautar e agendar assuntos, com fontes de informação em tempo real. O ciberespaço torna-se uma fonte inesgotável de informação, ocasionando a mutação das mídias, com mediação coletiva.
4 #NãoMereçoSerEstuprada e #SomosTodosMacacos 
Duas campanhas serão destacadas no artigo em questão #NãoMereçoSerEstuprada e #SomosTodosMacacos. Ambas rapidamente viralizaram adentrando diferentes redes sociais online e conexões dentro e fora da rede.
A campanha #NãoMereçoSerEstuprada, foi promovida por uma jornalista chamada Nana Queiroz que resolveu criar um evento no Facebook com esse título após saber que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) havia divulgado um trabalho mostrando que 65% dos brasileiros concordam, totalmente ou em partes, que “mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas”. Após isso, a jornalista passou a ser ameaçada de estupro nas redes sociais. 
O evento ganhou milhares de adeptos e, além disso, como forma de protesto, homens e mulheres começaram a publicar fotos, com pinturas no corpo e cartazes, apoiando a causa, assim como a idealizadora da hastag. 
O resultado da pesquisa do Ipea ganhou espaço em várias páginas e grupos no Facebook. Foram contabilizados 19 grupos, abertos e fechados, 45 páginas, a que possui mais curtidas têm 65.765 fãs. A página não aborda assuntos que tenha haver com a mobilização. Apenas no seu início, nos dois primeiros meses (março e abril) publicou adesões a campanha com fotos de populares segurando cartazes relativo à temática. A segunda página com mais fãs com o mesmo título têm 41.469 curtidas, esta trás assuntos relativos ao feminismo, utilizando cartazes reacionários sobre o tema�. 
Figura 3 - Lista de páginas criadas no facebook mencionando a campanha #NãoMereçoSerEstuprada. 
 
Segundo Castells (2013), para que o movimento seja influente, atores do Estado precisam vê-lo como potencialmente capaz de facilitar ou prejudicar seus próprios objetivos - ampliar ou solidificar novas coalizões eleitorais, ganhar a opinião pública, aumentar o apoio às missões das agências governamentais.
A presidente Dilma Rousseff, por exemplo, manifestou-se no Twitter, no dia 31 de março, dizendo que a “pesquisa do Ipea mostrou que a sociedade brasileira ainda tem muito o que avançar no combate à violência contra a mulher”, ainda acrescentando a hastag #respeiteasmulheres. Ao todo foram cinco tweets sobre o assunto no mesmo dia. 
 
Figura 4 - Mensagens publicadas pela presidente Dilma Rousseff no Twitter sobre a campanha #nãomereçoserestuprada. (Foto: Reprodução /Twitter).
Todas as etapas da campanha - divulgação da pesquisa do Ipea, criação da campanha pela jornalista, divulgação de fotos de apoiadores da campanha, adesão de famosos, ameaça contra a jornalista, divulgação dos dados corretos da pesquisa - renderam notícias nos mais variados impressos, onlines e revistas. Sobre os comentários de Dilma Rousseff em uma busca no google verificou-se também que vários sites fizeram do fato notícia, como por exemplo: O Globo, Uol e R7.
A outra campanha a ser analisada foi a #Somostodosmacacos, ao qual o jogador Neymar Júnior publicou uma foto com seu filho no Instagram e Facebook segurando uma banana, como ato de repúdio por conta de um episódio de preconceito racial. O fato ocorreu quando um torcedor do Villarreal, jogou a fruta quando o jogador do Barcelona, o brasileiro Daniel Alves, estava em campo, no dia 27 de abril de 2014. O mesmo comeu a banana, ganhando grande visibilidade na imprensa mundial. 
Figura 5 - O jogador Neymar Jr. com seu filho e o lançamento nas redes sociais da campanha #SomosTodosMacacos
Vários famosos e pessoas não públicas aderiram a campanha, postando foto segurando uma banana ou fazendo o gesto representativo com os braços e utilizando a hastag criada. A campanha ganhou também páginas e comunidades com a temática no Facebook. 
A campanha gerou 104 páginas no facebook, a sua maioria com a foto de Neymar e do seu filho. A maior possui 406.051 curtidores com a preservação do assunto e mensagens contra o racismo e preconceito. Já a segunda têm 283.566 curtidas, porém, possui postagens que nada tem haver com o tema e com pouca interação, com spam e divulgação de produtos para venda online. 
Mais uma vez, a líder do país se manifestou sobre o assunto utilizando a hastag e utilizando outras como #CopaContraoRacismo e #CopaSemRacismo. Ao todo, foram 13 posts da presidente sobre o assunto.
Figura 6 - Mensagem publicada pela presidente Dilma Rousseff no Twitter sobre a campanha #somostodosmacacos. (Foto: Reprodução /Twitter).
Posteriormente veio a público que esta foi uma campanha criada por uma agência de publicidade chamada Loducca. A mesma utilizou o Facebook para explicar o ocorrido. 
Neymar também justificou-se nas redes sociais que já havia pedido para a agência pensar a campanha, pois era algo frequente no futebol, com objetivo de quando oportuno, colocar em evidência o preconceito enfrentado pelos jogadores. 
O apresentador da Rede Globo, Luciano Huck, além de postar a foto com sua mulher segurando uma banana e utilizando a hastag, colocou a venda rapidamente camisetas de adesão à campanha. Após rápida reação do público quanto o possível aproveitamento financeiro diante do fato, Huck justificou-se afirmando que a renda seria revertida para entidades de combate ao preconceito racial. 
A agência de publicidade dias depois conquistou dois prêmios no festival de Cannes, levando Leão de Ouro na categoria Promo e o Leão de Prata na categoria Relações Públicas. 
O ato também mobilizou alguns brasileiros e os que eram contra a campanha por considerá-la racista criaram como desdobramento a #Somostodoshumanos. Esta teve grande apoio, em especial, do movimento negro. Todas as etapas da campanha também foram noticiadas pela grande mídia e repercutidas nas conversas dentro e fora da rede - divulgação da hastag, envolvimento de anônimos e famosos com a campanha, justificativa da agência, de Neymar e de Luciano Huck, prêmios conquistados pela agência. 
Em busca no Google verificou-se que os comentários de Dilma Rousseff diante do ocorrido também renderam matérias reproduzidas por veículos de comunicação de massa com Estadão, Veja, Revista Fórum. 
Em ambas as campanhas é possível perceber o que conceituamos como protesto passivo. Daí se tem a reflexão de que nossos vínculos e conexões na contemporaneidade encontram-se cada vez mais estáticas, seja na leitura, argumentação ou ampliação de manifestações, opiniões e sentimentos diante de fatos, que rapidamente tornam-se notícias, sem arenas reais de debate. Acredita-se que o pensar, por sua vez, é afetado por reações em cadeia, que, muitas vezes, carecem de compreensão e crítica, e são, simplesmente reproduzidas em efeito cascata, dominó ou cadeia. 
Como acredita Norval Baitello Júnior (2012), as inúmeras formas existentes de assento - cadeiras, sofás, poltronas, moldam não somente o sedentarismo físico, como também o sedentarismo mental, imediata consequência do corpo que não mais parte em marcha ou caminha, mas resolve, protesta e expressa varridas e dispersas emoções em frases digitadas acompanhadas de uma hastag. 
A ciberdemocracia, ou democracia virtual, estabelece um período em que as condições de participação política dos cidadãos auferem representatividade, fluxos e canais de debate com o governo de forma mais aproximada. Seja no Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário. 
Considerações finais
O presente artigo buscou discutir que há uma conexão entre as redes virtuais e as redes sociais pessoais. É um mundo híbrido, não havendo separação opaca entre a conexão online da interação offline. As redes sociais pautam a opinião pública, repercute ou gera fatos e protestosque ilustram o contexto simbólico instituído pela ciberdemocracia. 
Compreender elementos dinâmicos e de composição dos grupos sociais é compreender também como essas redes estão modificando os processos relacionais e informacionais da nossa sociedade e como eles são fundamentais para essas novas formas de se comunicar. 
Os internautas acabam deixando rastros sociais e, muitas vezes, participar destas campanhas tornam-no presente efetivamente no universo online. O fato de comentar o que é assunto nas redes, dá ao indivíduo essa sensação de pertencimento. Essas pessoas também se ocupam com sua imagem pública. No ciberespaço há um processo permanente de construção e expressão de identidade por parte dos atores. É o que Recuero (2010), define como presença do eu, um espaço privado e, ao mesmo tempo, público. 
As redes sociais em sua representação no ciberespaço são um pouco diferentes das redes sociais no espaço offline porque, segundo Recuero (2012), as conversações e as trocas sociais deixam rastro no online. Esses são publicados, arquivados e, portanto, podem ser recuperáveis e buscáveis. Nessas redes além de expor suas opiniões e suas rotinas, os indivíduos publicizam sua vida social privada. 
Há uma mudança nas práticas sociais e comunicacionais, oferecendo a sociedade maior capacidade de intervenção. São pessoas capazes de agir juntas sem se conhecerem. Há mudança também nas formas de consumo midiático, de produção e de distribuição de conteúdo informacional. 
As redes de comunicação digital são um componente indisponível na prática e na organização desses movimentos ocasionados de uma mudança social que transformou culturalmente nossa sociedade. Através da internet os internautas têm liberdade e autonomia para também serem criadores de conteúdo. O computador além de uma máquina de comunicação torna-se uma mídia que serve para produção, distribuição de mensagens, memória, personalização. 
Castells (2013) finaliza sua obra com um posfácio à edição brasileira, com a palavra Móbil-izados, se referindo ao empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a participação da juventude nesse processo. Através da virtualização compartilhamos uma realidade e a internet é uma extensão do real. 
A imagem está em todos os lugares. A mídia é uma das responsáveis por essa propagação da importância dela. A sociedade global da informação baseia suas raízes na cultura da imagem. Esta encontra-se intimamente ligada à do espetáculo. 
As campanhas citadas no presente artigo utilizam da imagem para sua propagação. Observa-se que a #Somostodosmacacos teve uma maior interação sendo mais polêmica e passando mais tempo sendo pauta. Acredita-se, que por esta ter sido iniciada pelo jogador de futebol mais famoso do país e ter ganhado grande adesão de famosos. São as trocas do capital social. 
Foram criadas um número maior de páginas em detrimento a outra campanha analisada e até a própria presidente Dilma Rousseff fez mais postagens sobre a campanha que abordava o preconceito racial.
O legado dos movimentos sociais em rede tem sido afirmar a possibilidade de reaprender a conviver, uma nova forma de democracia. Porém, concluo esse trabalho com uma provocação de Norval Baitello Junior em seu livro "O pensamento sentado - sobre glúteos, cadeiras e imagens", publicado em 2012, que trata do sendentarismo mental, o que segundo ele provoca uma sedação sobre a maneira de pensar. Podemos dizer que as duas campanhas citadas caem nesse contexto, pois o ser humano vive sentado, passivo. Onde a prática do pensamento se acomodou, não faz esforços e suas revoluções e manifestações nos dias de hoje são mais online que presenciais. 
Referências Bibliográficas 
BAITELLO JUNIOR, Norval. O pensamento sentado – Sobre glúteos, cadeiras e imagens. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2012
CASTELLS, Manuel. A Galáxia da Internet: reflexões sobre a Internet, os negócios e a sociedade.Rio de Janeiro: Zahar, 2003
______. A Sociedade em rede - A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Vol. 1. 10. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
______. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. 
GABRIEL. Martha. Marketing na era digital. São Paulo: Eovatac Editora, 2010.
LEMOS, A.; LÉVY, P. O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária. São Paulo: Paulus, 2010.
LEVY.Pierre. Ciberdemocracia. Lisboa: Instituto Piaget, 2003.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo. Editora 34, 2002. 
______. O que é o virtual?. São Paulo: Ed. 34, 1996.
RECUERO, Raquel. A Conversação em Rede: comunicação mediada pelo computador e redes sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2012. 
______. Redes Sociais na Internet. Porto Alegre: Sulina, 2009. 
SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007. 
� Formada em Publicidade e Propaganda e Jornalismo pela Universidade de Fortaleza e pós-graduanda em Linguagens e Mídias Digitais pela Faculdade 7 de Setembro. � HYPERLINK "mailto:alinepedrosajornalista@gmail.com" �alinepedrosajornalista@gmail.com�.
 
� Mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco. Pós-graduanda em Política, Direito e Relações Internacionais pela Universidade de Fortaleza em convênio com a Università per Stranieiri de Perúgia, Itália. Professora do curso de Comunicação Social da Universidade de Fortaleza. janaydegoncalves@gmail.com. 
� O capital social é um conceito metafórico, que foca o fato de que existem vantagens em pertencer a grupos sociais, e que essas vantagens podem ser apropriadas pelo grupo e/ou pelos atores. 
� O termo surgiu em 1947, no campo da psicologia, criado pelo psicólogo Kurt Lewin. Foi aplicada ao jornalismo em 1950 por David Manning White. Ele concluiu que a forma de escolha das notícias são subjetivas e arbitrárias. 
� Democracia eletrônica, virtual, e-democracia. 
� Alguns dias depois descobriram um erro no resultado da pesquisa. A porcentagem correta seria 26% e não 65%, decorrendo uma nova campanha intitulada #NãoMereçoSerEnganadaPeloIPEA. Após a divulgação do equívoco, o diretor de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, Rafael Guerreiro pediu demissão do cargo.

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