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ADRIANO MEDEIROS COSTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FUGINDO DA BANALIDADE: 
O USO DO ORKUT COMO EXTENSÃO DA SALA DE AULA. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2008 
 
ADRIANO MEDEIROS COSTA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fugindo da banalidade: 
o uso do Orkut como extensão da sala de aula. 
 
 
 
 
 
Dissertação apresentada à Universidade Federal do 
Rio Grande do Norte – UFRN, como exigência 
parcial para a obtenção do título de Mestre stricto 
sensu em Educação. 
 
Orientador: Prof. Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de 
Andrade 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
NATAL 
2008 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
FOLHA DE APROVAÇÃO 
 
 
Fugindo da banalidade: 
o uso do Orkut como extensão da sala de aula. 
 
Adriano Medeiros Costa 
 
 
Dissertação apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – 
UFRN, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre stricto sensu em 
Educação. 
 
Data da Aprovação: 06/10/2008 
 
BANCA EXAMINADORA: 
 
 
 
Professor Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
Orientador 
 
 
Professor Dr. Francisco de Assis Pereira 
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN 
Membro 
 
 
Professora Dr.ª Mirian de Albuquerque Aquino 
Universidade Federal da Paraíba – UFPB 
Membro 
 
 
NATAL 
2008 
 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
Às vésperas de seus 70 anos, dedico este trabalho ao meu orientador prof. 
Dr. Arnon Alberto Mascarenhas de Andrade. Aquele cujas palavras fazem sentido 
e cujo pensamento, não é de hoje, está bem à frente de seu tempo. 
Poucos possuem a sua largueza de visão, humanismo, coerência, elegância 
de estilo e o rigor de raciocínio. Poucos sabem tão bem ser um mestre sem impor 
esta condição a seus discípulos. 
Ao meu amigo e sobretudo mentor, agradeço por acreditar que o tema a ser 
tratado por minha dissertação seria viável. Com Arnon aprendi que não só no 
processo de ensino-aprendizagem, mas também na vida, mais importante do que 
ocupar, é dividir espaço. 
Obrigado por ter inspirado, estimulado, sido o co-autor e orientador de muitas 
das melhores idéias, ações, realizações, projetos que eu fiz na vida. O que Arnon 
fez de sua própria vida, serve de inspiração para todos nós. 
Um dia quando ele, nosso maître à penser, não estiver mais entre nós, ainda 
sim estará vivo nas idéias, nas obras e nos ideais daqueles que assim como eu o 
admiram pelo homem que é e pela obra que realizou. 
Agora que inicio minha carreira na docência universitária, ser alguém como 
ele é o máximo que eu desejo na vida. Ao longo do tempo, seus escritos serão lidos 
pelos meus alunos. E todos nós o imortalizaremos. 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
 
À Darwin, por ter corajosamente desmistificado a origem e a evolução da vida 
de um modo geral e da humanidade em particular. 
Meus sinceros agradecimentos ao meu pai Adauto Tavares da Costa e a 
minha mãe Creuza Medeiros de Carvalho Costa (in memoriam) que não pouparam 
esforços para me educar e oferecer as condições necessárias para que eu 
estudasse. 
Sou imensamente grato a minha irmã Fátima e ao meu cunhado Sidnei por 
sempre me ajudarem a seguir em frente e por sempre estarem disponíveis sempre 
que eu preciso. Bem como aos meus irmãos Adauto e Socorro, os quais sempre 
acreditaram na viabilidade de minha carreira acadêmica. 
Não posso deixar de agradecer aos colegas que fiz na Base "Estudos e 
Pesquisas em Meios de Comunicação e Educação" (PPGEd – UFRN) Orgival 
Nóbrega, Maria da Conceição, Denise Accioly, Elizete Arantes, Sebastião 
Faustino, Affonso Henriques, Lourdes Valentim, Sandra Kelly e Ângela 
Almeida. Expresso minha gratidão igualmente aos amigos professores da Sedis - 
UFRN e companheiros de Base Marcos Aurélio Felipe e Célia Maria de Araújo, os 
quais têm me proporcionado não só diálogos construtivos e inúmeras oportunidades 
profissionais, mas também a oportunidade de pôr em prática algumas de minhas 
teorias. 
Quero também expressar aqui meus agradecimentos ao meu amigo João 
Tadeu Weck, que sabe tudo do erudito ao popular, e em cuja disciplina fiz a 
experiência com o Orkut. Sem a benevolência dele eu não teria chegado até aqui. A 
ele, obrigado pela amizade, paciência, por me ouvir, pelos livros indicados, pela 
crença demonstrada em minhas idéias e por fazer suas sugestões sempre 
necessárias e bem vindas. 
Pela eficiência sempre demonstrada, agradeço aos professores e funcionários 
do PPGEd – Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN. 
Meus agradecimentos a todos os educandos da disciplina de TAVE – 
Técnicas Audiovisuais de Ensino, EDU0123, (DEPED – UFRN), ministrada por 
 
João Tadeu Weck no semestre de 2007.1. Os quais não foram escolhidos por mim 
para fazer a pesquisa, mas sim me escolheram. Bem como agradeço aos meus 
educandos das disciplinas de Webdesign (2007.1, 2007.2) e Linguagens da 
Multimídia (2007.2, 2008.1) da FATERN – Gama Filho, por com suas participações 
em duas comunidades também terem me ajudado a provar que minha pesquisa 
seria viável. 
Também agradeço a CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de 
Pessoal do Ensino Superior, da qual fui bolsista durante todo o Mestrado, por ter 
me proporcionado meios para que esse trabalho fosse possível. 
Eu não poderia deixar de lembrar dos diversos amigos que, cada qual a seu 
tempo e à sua maneira, foram leais e presentes sempre que eu precisei. Assim, 
agradeço também a Renato Oliveira, Hélcio Torreão, Elis Sandra Cardnalle 
Victor de Lima, Cristina do Nascimento da Sena Silva, Douglissandra de Morais 
Ferreira, Marta Bezerra Rodrigues, Rodrigo Christo, Marcela Capeleiro e 
especialmente a Eugênio Paccelli Aguiar Freire, meu amigo desde a primeira aula 
no curso de Jornalismo (UFRN) no início de 1999, que fez valiosas sugestões a 
cerca deste trabalho dissertativo. Obrigado a todos por terem me proporcionado não 
só instantes de conversa inteligente, bem como de diversão toda vez que os 
momentos de trabalho científico ficavam estafantes demais. 
 
EPÍGRAFES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“Ninguém ignora tudo. 
Ninguém sabe tudo. 
Todos nós sabemos alguma coisa. 
Todos nós ignoramos alguma coisa. 
Por isso aprendemos sempre”. 
 
Paulo Freire 
(A importância do ato de ler, p.29 , 1989) 
 
 
 
"A educação autentica, repitamos, 
não se faz de A para B ou de A sobre B, 
mas de A com B mediatizados pelo mundo. 
Mundo que impressiona e desafia a uns e a outros, 
originando visões ou pontos de vista sobre ele". 
 
Paulo Freire 
(Pedagogia do Oprimido, p. 84, 2003) 
 
 
 
“A comunicação é inevitável 
e não improvável, como diz Luhmann”. 
 
Arnon de Andrade 
(entrevista, site, 2007) 
 
 
“Em um diálogo, a riqueza está na percepção 
daquilo que o outro vê, a concepção de realidade dele. 
E não a busca pelo consenso. Isso seria empobrecedor”. 
 
Arnon de Andrade 
(entrevista, site, 2007) 
 
RESUMO 
 
 
Esta dissertação investigou a inserção e uso das tecnologias educacionais no que 
diz respeito à rede social on-line Orkut, como uma extensão da sala de aula, 
notadamente para debates. Com essa experiência realizada em uma disciplina de 
uma instituição pública de ensino superior brasileira, buscou-se ir além do emprego 
do ambiente para entretenimento e lançar um olhar sobre o Orkut como uma 
ferramenta de auxílio no processo de ensino-aprendizagem. A pesquisa 
fundamentou-se no conceito de comunicação para Paulo Freire e no de cooperação 
escolar para Célestin Freinet. Metodologicamente nesta dissertação foi adotada a 
categoria da pesquisa qualitativa, o método é uma combinação de estudo de caso 
com pesquisa-ação. A técnica foi à aplicação de questionários, a coleta de dados foi 
presencial e os tipos de dados foram primários. Por fim, apresentam-se, então, 
prognósticos sobre o futuro das redes sociais on-line e por fim sugere-se a formação 
de redes sociais on-line universitárias. 
 
Palavras-chave: Orkut, educação on-line,educação permanente, 
colaboracionismo e debate 
 
ABSTRACT 
 
 
This dissertation investigated the insert and use of the education technologies in the 
on-line social net Orkut, as an extension of the classroom, especially for debates. 
With that experience accomplished in a discipline of a Brazilian public institution of 
higher education, it was tried to go beyond the use of the atmosphere for 
entertainment and to look Orkut as a tool of assistance to the process of teaching 
and learning. The research was based in the Paulo Freire´s communication concept 
and in the Célestin Freinet´s school cooperation concept. In this dissertation, in 
methodological terms, was adopted the category of the qualitative research. The 
adopted method was a combination of case´s study with research-action. The 
technique was the application of questionnaires, the collect of data was personal and 
the types of data were primary. Finally, introduces, then, prognostics about the future 
of the on-line social nets and finally suggest the formation of academicals on-line 
social networks. 
 
Keywords: Orkut, on-line education, permanent education, collaborationism 
and debate. 
 
SUMÁRIO 
 
1  INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 7 
2  A COMUNIDADE ............................................................................................................ 14 
2.1  A colaboração em comunidade ............................................................................................. 33 
3  O “VIRTUAL” .................................................................................................................. 42 
3.1  A criação e o impacto da internet ......................................................................................... 50 
3.2  Cinco temáticas da web em discussão e sua relação com o Orkut ....................................... 55 
3.3  A web e a mudança de paradigma ........................................................................................ 61 
3.4  Docentes on‐line: usando a internet como facilitador bibliográfico .................................... 72 
4  COMUNIDADES ON-LINE ............................................................................................. 84 
4.1  Orkut, uma rede social on‐line .............................................................................................. 95 
4.2  Comunidades on‐line realmente em rede .......................................................................... 111 
5  CONECTANDO SABERES PARA ALÉM DA SALA DE AULA .................................... 120 
5.1  O “Orkut dialético” .............................................................................................................. 131 
5.2  Comunicação, mediação e diálogo freiriano no Orkut........................................................ 133 
5.3  Aprendizado pela discussão on‐line .................................................................................... 153 
5.3.1  Dois casos de uso de fóruns em plataformas típicas de Educação a Distância .......... 163 
5.3.2  Por uma participação efetiva e não apenas aparente ................................................ 173 
5.4  O Orkut como extensão da sala de aula .............................................................................. 182 
5.4.1  A experiência e a metodologia em uma disciplina universitária ................................. 191 
5.4.2  O Orkut como Livro da Vida ........................................................................................ 205 
5.5  Atualidades e perspectivas relacionadas ao tema .............................................................. 210 
5.5.1  Incorporação dos blogs, fóruns e listas de e‐mails pelas redes sociais on‐line .......... 210 
5.5.2  O problema dos chats nas plataformas de EaD .......................................................... 214 
5.5.3  O trabalho do educador em um ambiente de extensão on‐line ................................. 215 
5.5.4  Redes sociais on‐line universitárias, uma perspectiva ................................................ 218 
6  CONCLUSÃO ............................................................................................................... 223 
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 236 
APÊNDICE – QUESTIONÁRIO ........................................................................................... 248 
7  ANEXOS 1 – PÁGINA INICIAL DO ORKUT ................................................................ 259 
8  ANEXO 2 – ESTRUTURA DO ORKUT ........................................................................ 260 
9  ANEXO 3 – PÁGINA INICIAL DA COMUNIDADE “TAVE – UFRN” UTILIZADA NESTA 
PESQUISA .......................................................................................................................... 261 
10  ANEXO 4 – PREDOMÍNIO DAS REDES SOCIAIS ON-LINE NO MUNDO ............. 262 
 
11  ANEXO 5 – FOTOS DE UMA AULA PRESENCIAL ................................................. 263 
 7
1 INTRODUÇÃO 
 
Atribui-se a extraordinária evolução humanística e tecnológica dos antigos 
gregos e dos romanos às suas viagens pelo mundo, até então por eles conhecido, e 
às decorrentes trocas de mercadorias e conhecimento que faziam a partir dos portos 
de terras estrangeiras. Enquanto isso, civilizações antigas como as dos aborígenes 
australianos praticamente não evoluíram, simplesmente porque não houve 
intercâmbio econômico, tecnológico, cultural e, sobretudo, dialógico entre eles e 
outros povos. Embora não seja objeto de estudo desta dissertação especular sobre 
o que levou esses povos a esse isolamento, podemos dizer que enquanto para os 
aborígenes as barreiras geográficas constituíam barreiras reais, já para os antigos 
romanos as barreiras também existiam, mas não eram intransponíveis. 
Se falarmos de civilização ocidental, podemos dizer que se na Idade Média o 
trabalho de coleta, sistematização dos conhecimentos esparsos foi um trabalho 
realizado pelos religiosos escribas em seus mosteiros, cujo acervo era em grande 
parte inacessível pela população da região, hoje esse é um trabalho que está sendo 
realizado por milhões de anônimos, em várias línguas, voluntariamente e 
colaborativamente pela internet1. Podemos dizer que ao longo de toda a história 
encontramos em comum o fato de que grande parte da cultura e do conhecimento 
humano produzido, bem antes dos antigos gregos, aborígenes australianos, homens 
medievais e internautas, é um trabalho predominantemente “de autores” (anônimos) 
e não de apenas “um autor” (nominal). Para educandos em uma sala de aula típica, 
a presencialidade é inibidora é toda vez que estão sendo pouco co-autores, eles 
estão sofrendo um processo de condução. 
A colaboração intelectual entre as pessoas sempre esteve presente; a internet 
apenas potencializa esta característica, porque sempre houve e é cada vez maior a 
necessidade humana de realizar intercâmbios de idéias e de promover trocas 
culturais. Hoje, trabalhos científicos em desenvolvimento como a cura da AIDS, do 
câncer e o seqüenciamento do genoma humano são alguns dos trabalhos mais 
 
1 Geralmente usados como termos sinônimos, existe uma diferença entre “internet” e “web”. 
Internet é uma rede de computadores dispersos por todo o planeta, que troca dados e mensagens 
utilizando um protocolo comum, unindo usuários. Isto é, internet é a estrutura física de rede em si. Já 
web é a interface gráfica hipertextual que facilitou o acesso da internet e estendeu seu alcance ao 
público em geral. Isto é, a web compreende fotos, textos, gráficos como em uma página de revista 
impressa. 
 8
notórios realizados não por um, mas sim coletivamente por vários pesquisadores em 
vários países.Publicações científicas sempre serviram para divulgar os avanços da 
ciência. Pesquisadores das mais diversas áreas sempre tiveram a necessidade de 
se comunicar para aprimorar suas próprias descobertas; a diferença é que hoje eles 
podem fazer isso com agilidade, de forma on-line. Quando o trabalho é em rede e 
colaborativo, pode-se partir daquilo que já foi descoberto para ser aprimorado. Tal 
atitude evita que haja perda de tempo tentando se descobrir algo já realizado. Em 
termos amplos a colaboração e co-autoração, em particular, têm fortes referências 
no processo dialógico. 
Instituir comunidades é algo natural ao ser humano, tendo em vista que 
somos seres sociais. Entretanto, no passado, essa aspiração era dificultada devido à 
falta de meios tecnológicos que permitissem às pessoas estabelecerem facilmente o 
contato. Com o advento da internet, as possibilidades de interação se 
potencializaram. Através dela, contatamo-nos para conversar, tirar dúvidas, fazer 
perguntas, participar de ações políticas e sociais, utilizar serviços bancários, 
estabelecer trocas comerciais, intercâmbios culturais através de várias ferramentas 
específicas para esse fim, como chats, fóruns, ferramentas de interação 
instantâneas e redes sociais on-line2 como o Orkut. Inclusive, a inserção natural dos 
jovens nestes ambientes é tal que pesquisas recentes (2008) revelam que estas 
redes estão superando os sites pornográficos em popularidade entre os jovens com 
idade entre 18 e 24 anos.3 
Caótica por princípio, a questão que se debate a respeito da internet é sobre 
como canalizar as buscas individuais por conhecimento, qualquer que seja ele, para 
a construção de um saber coletivo para o bem comum, onde também se possam 
explorar as possibilidades de inovação. No entanto, a interatividade é uma 
possibilidade muito antiga. Basta dizer que quando um leitor mandava uma carta 
para um, jornal no século XIX, ele estava praticando a interatividade. O próprio ato 
de trocar cartas é interativo. O que a tecnologia faz é facilitar os processos de 
interação. Isso tudo tem tornado o colaboracionismo uma tendência mundial. Assim 
sendo, pode-se dizer que toda vez que formamos uma comunidade e, na 
 
2 Freqüentemente, ambientes como o Orkut são chamados apenas de “rede social”. No 
entendimento adotado neste trabalho de dissertação, preferiu-se usar a acepção de “rede social on-
line” para melhor diferenciar a rede social presencial daquela que se estabelece via Internet. 
3 Cf.: Redes sociais superam pornografia em popularidade, diz estudo. Disponível em: 
http://computerworld.uol.com.br/mercado/2008/09/18/redes-sociais-superam-pornografia-em-
popularidade-diz-estudo. Acesso em: 25/09/2008. 
 9
impossibilidade do encontro presencial, usamos a web4 como ambiente facilitador, 
estamos formando, na verdade, uma comunidade on-line em um site. Em termos 
semânticos, faz-se necessário um esclarecimento: “site” e “home-page”5 não são 
termos sinônimos, embora muitas vezes sejam aplicados dessa forma, até em 
trabalhos científicos. 
Considerando a aprendizagem colaborativa como uma estratégia, podemos 
perceber as inúmeras possibilidades pedagógicas quanto à utilização da internet: 
pode-se em uma disciplina de História, por exemplo, estimular os educandos a 
contatar povos em conflito. Educadores e educandos podem usar a internet para 
transmitir e combinar tarefas de casa, trabalhos escolares, informações e prazos. 
Nos trabalhos em grupo, a comunicação on-line6 facilita tanto o trabalho, quanto a 
organização do grupo. Os trabalhos realizados em sala de aula podem ser 
fotografados e publicados em um site na internet. E no mesmo endereço, os 
educandos podem ter acesso a mais materiais referentes aos assuntos tratados em 
sala de aula. Isto é, nós podemos usar a internet para evitar conflitos potenciais 
entre produção de conteúdo e distribuição. 
Poderíamos enumerar aqui três grandes princípios fundamentais da web: 
liberdade, descentralização e colaboração. Toda a ferramenta criada que estiver de 
acordo com estes princípios tem grandes chances de dar certo. Estamos 
testemunhando uma grande revolução tanto no fazer quanto no pensar a internet, na 
qual as ferramentas de auto expressão e colaboração causam um impacto cada vez 
maior. As ferramentas wikis já representam mais de um terço de todo o tráfego na 
web7. Do ponto de vista técnico, contribuiu para isso o aumento de largura de 
banda8 na base instalada. 
 
 
5 “Site” e “home-page” não são palavras sinônimas. Um site é uma ou um conjunto de 
páginas em hipertexto, que podem conter textos, gráficos, fotos e vídeos. Já home-page é tão 
somente a página inicial, principal, de um site. 
6 Encontra-se a palavra on-line grafada também junta – online – e separada, sem hífen on 
line. Preferimos a forma hifenizada, constante no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, 
editado pela Academia Brasileira de Letras, também no Dicionário da Língua Portuguesa Houaiss e 
na versão integral do The Random House Dictionary of English Language. 
7 MENESCAL, Adriano. O vôo mais alto em 2005? Webdesign, 12/2005, ano 2, nº 24, São 
Paulo: Editora Arteccom, p. 40. 
8 Banda Larga: Diferentemente da conexão discada, que usa obrigatoriamente linha 
telefônica, a conexão de banda larga tem muito mais espaço para transmitir dados, seja usando 
meios diferentes – ondas de rádio, satélite e cabo de TV – ou mesmo a própria linha de telefone, que, 
neste caso, tem muito mais “entradas” habilitadas pela companhia telefônica. Os principais meios 
para conexão usados pela banda larga são: ADSL, Wireless, satélite e cabo. 
 10
Outro aspecto importante que a internet nos trouxe diz respeito ao melhor 
aproveitamento do tempo em sala de aula, em benefício da reflexão crítica, análise 
interdisciplinar e conjecturas coletivas. Não é mais necessário que o educador 
dedique muito tempo a explicar detalhadamente aquilo que, em teoria, os educandos 
podem encontrar facilmente na internet, com a vantagem da pluralidade de opiniões; 
bem como vídeos, áudios e imagens sobre o tema, além da possibilidade de 
informações adicionais em outras línguas. 
Dessa forma, em um ambiente escolar onde as novas tecnologias de internet 
são usadas, não se constitui, hoje, a principal função de um educador dizer “o que é” 
o tema, apesar desse aspecto ainda ser importante, mas sim tecer com os 
educandos a relação entre o tema principal e os secundários, as semelhanças e 
diferenças de opinião e, sobretudo, a contextualização do tema com o momento 
presente, isto é, no exato momento em que a aula acontece. Vele salientar que 
conteúdo por conteúdo não é difícil encontrar, mas a contextualização local, a 
atualização e a reflexão crítica coletiva só determinado grupo de educandos e 
educadores que vivem sob as influências daquele contexto sócio-econômico e 
cultural específico poderá fazer. Cabe também ao educador, em conjunto com seus 
educandos, analisar a validade e a necessidade das informações encontradas na 
internet. Isto é, na educação moderna a possibilidade de debate entre educadores e 
educandos é a principal razão para um estudante freqüentar uma sala de aula. 
Parte-se aqui do pressuposto de que um computador conectado à internet, 
quando bem usado, é uma importante ferramenta pedagógica. O problema é que 
para os países em desenvolvimento essa possibilidade ainda não é generalizada; 
são países onde ainda se enfrenta o problema da ausência de bibliotecas escolares. 
Somado a isso, ainda há um problema de mentalidade de boa parte dos gestores 
educacionais a ser resolvido pelo letramento digital, pois quando a escola possui 
computadores é uma prática torná-los praticamente indisponíveis aos alunos e não 
haver preocupação com a capacitação dos professores para o uso das máquinas. 
Em contrapartida, quando as máquinasnão são usadas exclusivamente nas 
secretarias das escolas, são trancadas em laboratórios de informática cuja utilização 
pelos educandos é cerceada e coibida. Inclusive, tem-se verificado que em muitas 
instituições de ensino, inclusive superiores, gestores ou funcionários encarregados 
de gerir os laboratórios de informática têm tomado a atitude, cuja legitimidade é 
questionável, de bloquear ferramentas de internet com as quais os educandos 
 11
poderiam ter acesso a informações e ao diálogo. Por exemplo, a rede social on-line 
Orkut tem sido constantemente vítima desses bloqueios unilaterais e autoritários. Tal 
atitude exemplifica o preconceito que a escola formal possui contra os meios de 
informação9. A função da escola é pegar as interpretações e representações e dar-
lhes significado de acordo com a realidade. Mais do que falar de “fatos”, é preciso 
falar das razões que levam aos fatos. 
O processo de ensino-aprendizagem acontece sempre auxiliado por alguma 
tecnologia (seja organizacional, ferramental ou simbólica). A grande questão que se 
coloca diante de nós em termos de ensino-aprendizagem é que o conhecimento 
sempre esteve em rede (não me refiro aqui apenas àquele que está na rede, mas 
sim àquilo que podemos chamar de conhecimento entrecruzado). Dessa forma, 
sabemos que os conhecimentos e as ciências sempre estiveram conectados (como 
em um grande hipertexto) dando origem a interdisciplinaridades que, por sua vez, 
dão origem a novas ciências nascidas no encontro de outras que as antecederam. 
Mas o problema é que essa rede sempre encontrou e ainda encontra obstáculos, 
seja por questões políticas, econômicas, sociais, tecnológicas, pessoais ou 
simplesmente burocráticas, que não permitem que o conhecimento tenha um 
intercruzamento pleno, para que se possam estabelecer conjecturas. Assim, tudo já 
poderia estar “em rede na rede”, isto é, entrecruzado na Web. Esse é o nosso 
desafio. 
Cursos de uma mesma instituição de ensino superior poderiam estar 
conectados, e as universidades por sua vez também poderiam estar interligadas 
através de redes sociais on-line, a fim de manterem constantemente canais abertos 
ao diálogo, de modo que o compartilhamento de informações e a colaboração 
evitem que alunos, professores e pesquisadores “tenham sempre que reinventar a 
roda”. Obviamente, de certa maneira, isso já é feito há muito tempo. Pois a troca de 
idéias entre cientistas é a razão de ser de publicações científicas, de congressos e 
seminários. A própria invenção da Internet foi motivada para permitir que cientistas 
pudessem colaborar e compartilhar informações. O que estamos falando aqui é 
 
9 Nesta dissertação, condizente com o conceito de comunicação para Paulo Freire, tentou-se 
não usar o termo "comunicação" de forma indiscriminada. É por isso que aqui neste trabalho não foi 
usada a expressão “meios de comunicação”, mas sim “meios de informação”, tendo em vista que não 
é sempre que os ditos meios (TV, rádio, telefone, dentre outros) servem ao propósito da 
comunicação. Também por esta razão, preferiu-se chamar alguns ambientes de internet como Orkut, 
fórum e MSN Messenger não de “mundo virtual”, mas sim de “ambientes on-line” ou “ferramentas de 
interação”. 
 12
sobre como o uso de ferramentas de internet, já bastante usadas pelos jovens em 
seus relacionamentos interpessoais, podem ajudar professores e estudantes 
universitários a ampliarem as possibilidades de colaboração, tendo em vista que a 
ciência evolui através dos debates e das controvérsias. Isto é válido, sobretudo, no 
tocante às redes sociais on-line, categoria na qual o Orkut se inclui. Estas redes 
podem ser usadas como um padrão para que sistemas (indivíduos ou grupo de 
pessoas) diferentes possam se comunicar entre si e nos mostra a possibilidade de 
pensar formas de organização que vão muito além do que permitem as estruturas 
puramente hierárquicas. 
Sendo assim, a presente dissertação se destina a apresentar os resultados e 
as reflexões obtidas sobre o uso do Orkut, onde, a priori, os jovens já estão 
inseridos, se projetam e se sentem identificados, como uma extensão da sala de 
aula. Para que a partir daí possa-se pensar em políticas públicas em educação que 
possam servir de norteadoras para futuros projetos em que o meio tecnológico e de 
sociabilidade não possam ser desconsiderados. 
Pretende-se demonstrar, também, uma aplicação prática do ambiente, além 
dos estereótipos, com resultados efetivos, através da experiência obtida no 
semestre 2007.1 com a disciplina de TAVE – Técnicas Audiovisuais de Ensino, 
oferecida pelo DEPED - Departamento de Educação da UFRN para educandos, 
neste caso, dos cursos de Química (predominantemente), História e Ciências 
Sociais. 
Diversas foram as turmas procuradas para a realização desta pesquisa (parte 
estudo de caso, parte pesquisa-ação), com aplicação de questionário anônimo (com 
questões objetivas e subjetivas) no final, mas apenas a turma 1 – 20071 concordou 
em participar. Sendo assim, pode-se dizer que ela escolheu participar e não que foi 
escolhida à revelia. 
Na primeira semana de aula, os educandos foram convidados a participar da 
comunidade aberta para discussão. Na disciplina, matricularam-se 50 educandos, 
mas efetivamente apenas 28 educandos freqüentaram, dos quais 24 se inscreveram 
na comunidade. Por razões óbvias, quem fazia parte do Orkut, mas não estava 
efetivamente inscrito na disciplina, pode observar, mas não participar das 
discussões. O que significa que a comunidade estava moderada. 
Nesta pesquisa, utilizamos como referencial de análise o conceito de 
comunicação de Paulo Freire, na medida em que a comunicação só se efetiva a 
 13
partir da possibilidade de entendimento do outro. E do outro poder interagir, se 
assim ele quiser. Comunicação não é tecnologia, nem muito menos relacionamento; 
é a busca conjunta de significados e co-participação no ato de pensar. Foi também 
possível tecer uma relação entre a rede social on-line Orkut e o conceito de 
cooperação de Célestin Freinet, no que concerne ao Livro da Vida que em termos 
práticos, se trata de um caderno no qual os educandos registram suas impressões, 
sentimentos e pensamentos, de formas variadas, e que acaba por representar um 
registro de todo o ano escolar de cada classe. 
 No primeiro capítulo intitulado “A comunidade”, analisa-se a necessidade 
humana de se comunicar e de se viver em sociedade; no segundo, “O ‘virtual’”, é 
feita uma análise de cinco temáticas da web predominantemente em discussão e 
sua relação com o Orkut. O terceiro capítulo, “Comunidades on-line”, aborda o Orkut 
em si e sua condição “em rede”. Em seguida, no capítulo intitulado “Conectando 
saberes para além da sala de aula” se descreve a experiência obtida com o uso do 
Orkut na disciplina e sua correlação com o conceito de “comunicação”, segundo 
Paulo Freire. Para efeito de comparação, investigaram-se dois casos de uso fóruns 
em plataformas típicas de Educação a Distância, a colaboração e a produção on-line 
na escola e a metodologia empregada na pesquisa: categoria qualitativa, o método, 
uma combinação de estudo de caso com pesquisa-ação, a técnica uma aplicação de 
questionários, a coleta presencial de dados e os tipos de dados primários. Além 
disso, busca-se tecer algumas conjecturas acerca do Orkut como “Livro da Vida”, 
com base na concepção de cooperação de Célestin Freinet. Também se examina o 
trabalho do educador em um ambiente de extensão on-line e se discute a tendência 
de incorporação dos blogs pelas redes sociais on-line. 
 
 14
2 A COMUNIDADE 
 
O ser humano sempre foi sociável. Desde os primórdios da humanidade, a 
formação de grupos foi uma estratégia adequadamente utilizada para que homens e 
mulheres pudessem se reproduzir e sobreviver. A ligação do homem com a 
sociedade parece que é anterior ao homem e que já foium dos pilares em que se 
constituiu nossa humanidade. Sendo assim: 
 
(...) se expressa tanto na gênese de seu sistema de valores e das 
relações normativas aceitas como em suas atitudes no sentido das 
disposições de ação, nos estereótipos que dominam seu 
pensamento etc. Simplificando, afirmamos que o indivíduo é uma 
formação histórica ou, dito de outro modo, é um produto das 
relações sociais. Trata-se de uma formulação de Marx e esta teoria 
do indivíduo humano pertence às descobertas mais originais do 
marxismo. (SCHAFF, 1995, p. 100). 
 
Ao longo do tempo tem havido muita discussão no que concerne ao conceito 
de comunidade, desde as primeiras discussões a respeito da transição da 
gemeinschaft (comunidade caracterizada pela vida em aldeias) para a gesellschaft 
(sociedade caracterizada pela vida social e nacional). Normalmente, a idéia de 
comunidade relacionada ao senso comum é ampla, diversificada e, ao mesmo 
tempo, um tanto imprecisa. Pode-se dizer que uma comunidade se constitui de um 
grupo de pessoas que se relacionam pessoalmente, com comportamentos, valores e 
interesses parecidos. Pessoas que vivem sob um mesmo governo e ligados pelo 
mesmo legado histórico-cultural. Normalmente, a idéia de comunidade também é 
associada a um componente territorial, ou seja, um espaço físico. Podemos, 
igualmente, aplicar a idéia de comunidade a um sentimento de pertença e uma 
predisposição à cooperação. Para Max Weber, o conceito de comunidade, baseado 
em observações empíricas, pode ser fundamentado como uma ligação emocional, 
afetiva ou tradicional, orientando-se, assim, para a ação social. 
 
Chamamos de comunidade a uma relação social na medida em que 
a orientação da ação social, na média ou no tipo ideal – baseia-se 
em um sentido de solidariedade: o resultado de ligações emocionais 
ou tradicionais dos participantes. (WEBER apud RECUERDO, 2001, 
p. 1). 
 
 15
Assim sendo, pode-se dizer que a sociedade é um conjunto de diferentes 
formas de comunidades humanas. Não faltam visões distorcidas acerca daquilo que 
possa ser considerado desenvolvimento tecnológico e a relação que mantemos com 
ele enquanto humanidade. Concepções não científicas menos baseadas em 
evidências e muito mais baseadas em opiniões pessoais, boa parte das quais 
proferidas por supostos especialistas, oferecem à sociedade opiniões 
ideologicamente construídas como se fossem informações. Neste sentindo, a 
manipulação de informações é prejudicial ao processo dialógico. Entretanto, 
podemos, através da educação, transmitir às pessoas uma visão científica diante do 
mundo e das declarações de outros interlocutores, permitindo uma compreensão 
crítica do mundo e dos discursos a respeito desse mundo. Ao assumir tal atitude, 
iremos evitar que visões ingênuas e nocivas a respeito do desenvolvimento 
tecnológico e da sociedade sejam apreendidas como verdades: 
 
É fato que grande parte desse processo de mudanças e velozes 
transformações que todos estamos vivenciando é decorrente de dois 
fatores principais: a globalização e o desenvolvimento tecnológico. 
O mundo como conhecemos hoje faz parte desse processo ou 
advém dele. A globalização está presente na realidade e no 
pensamento, desafiando grande número de pessoas em todo o 
mundo. O desenvolvimento da tecnologia acelerou o processo de 
globalização e vice-versa, promovendo um ciclo contínuo e 
irreversível capaz de alterar culturas, sociedades e o próprio 
homem. O Orkut faz parte da globalização e da evolução 
tecnológica. (TELLES, 2006, p. 35-36). 
 
Na verdade, a história da humanidade é, em grande parte, a história da busca 
pela melhoria de sua existência através do trabalho coletivo. Era essa a idéia que 
estava incutida nas primeiras comunidades socialistas no século XIX: 
 
O projeto dos primeiros socialistas, adeptos do comunismo, era 
construir uma sociedade dentro da sociedade, uma comunidade de 
produtores imediatos associados em oficinas e fábricas, cooperando 
como consumidores e administrando suas próprias atividades. A 
intenção era edificar essa sociedade de produtores associados em 
completa independência com relação ao mundo burguês; ela 
deveria simplesmente desviar-se da emergente ordem capitalista e, 
em grande medida, industrial. Todavia, assim que a nova sociedade 
burguesa desenvolveu suas instituições políticas - primeiro a 
burocracia e o exército permanente e a seguir o parlamento 
popularmente eleito - não mais pôde ser mantida uma postura de 
distanciamento e independência. Já não era mais possível 
 16
asseverar, como fizera Proudhon, que a reforma social não poderia 
resultar da mudança política. (PRZEWORSKI, 1989, p. 19-20). 
 
Empenhamo-nos nesses esforços coletivos para prolongar nossa existência 
na Terra. Desenvolvemos a tecnologia para não desaparecer: 
 
O homem muda o mundo para se satisfazer. O que mudou muito foi 
a possibilidade de realização de seus desejos, mas seus desejos 
continuam. Porém o homem é insaciável, ele está sempre criando 
novos desejos. Nós não precisamos mudar. Nós mudamos o 
mundo. As necessidades humanas são as mesmas desde que o 
homem começou a existir. A tecnologia é um instrumento de poder, 
ela começa com a história da burguesia. O desenvolvimento 
tecnológico não cria um novo homem, o homem desenvolve a 
tecnologia para não mudar. O desenvolvimento tecnológico não 
transforma o homem. Atualmente a técnica propicia coisas que o 
espírito humano busca há muito tempo. (ANDRADE, 2007, site). 
 
As criações emergem justamente quando tratamos determinado tema em 
comunidade e não apenas com o auxílio de um somatório de individualidades. Em 
linhas gerais, a ciência sempre foi feita de maneira coletiva, mesmo quando 
motivada por fins militares (como foi o caso da internet) ou pelo bem da humanidade 
(como foi o caso da vacina contra a pólio). Sendo assim, pode-se dizer que a 
produção de conhecimento sempre é um trabalho coletivo, não importando as 
razões que a motive. Os cientistas constroem conhecimento sobre o mundo 
reunindo a contribuição de outros pesquisadores e o aprimora através de um debate 
aberto, em um processo de troca permanente. Nesse processo, um curso de 
Mestrado ou Doutorado é primordialmente o trabalho de campo realizado pelo 
pesquisador. A dissertação ou tese escrita é tão somente um relatório, mediante o 
qual seus pares possam ler e saber os detalhes sobre, por exemplo, a metodologia 
empregada. Todos nós estamos sempre dependendo das referências, dos diálogos 
e dos conhecimentos produzidos por nossos contemporâneos ou por aqueles que 
nos precederam. É por isso que é tão importante a relação que se dá entre indivíduo 
e sociedade: 
 
O indivíduo é por definição, singular. Sua liberdade, no entanto, 
depende de ele ter consciência não só da sua singularidade (da 
diferença), mas também daquilo que ele tem em comum com os 
outros (a universalidade). E mais: os indivíduos concretos, livres, se 
sabem criaturas finitas, mortais, mas isso não é razão para se 
desprezarem, pois existem num movimento de constante auto-
 17
superação, em direção a algo que os ultrapassa, quer dizer, é 
graças a ele que as sociedades humanas podem caminhar na 
direção de uma maior universalidade. (MARCUSE apud KONDER, 
1998, p. 21). 
 
É nesse sentido que a internet se ajusta tão perfeitamente ao trabalho 
científico. Entretanto, a tendência que historicamente tem se observado é a de 
sempre se eleger uma personalidade icônica, isto é, alguém que incorpore, 
materialize e personifique o resultado do trabalho como sendo de apenas uma 
pessoa ou de um grupo, àquilo que na verdade vem sendo produzido por muitos, de 
diferentes áreas ao longo da história. Mesmo não sendo nosso objetivo aqui, não 
podemos deixar de dizer que tal atitude representa um viés da eterna luta da 
“vaidade” contra a “verdade”. Observemos o caso da Wikipédia10, onde milhares de 
verbetes enciclopédicos construído coletivamente. Pois, se em termosdo passado 
pré-internet, já era difícil sustentar a idéia de que existe trabalho rigorosamente 
autoral, agora mesmo é que essa idéia não tem sustentação. Dessa forma, hoje 
mais do que nunca, o trabalho intelectual tornou-se não mais “autoral”, mas sim “de 
autores”. A capacidade de sermos produtores graças à internet é assim descrita por 
Andrade: 
 
A internet não isolou as pessoas, muito pelo contrário: facilitou os 
contatos. Ela recupera a bidirecionalidade. A capacidade de ser 
produtor. Pois, a apropriação do conhecimento é capitalista e o 
advento da internet representa um baque contra isso. Nós usamos o 
computador predominantemente como uma máquina de datilografia, 
uma grande enciclopédia e um correio mais rápido. Quando 
deveríamos, na verdade, ser produtor de conhecimento. Quebrar a 
estrutura dos “meios de comunicação”. Implementar uma rádio, uma 
revista, um blog que dê poder. Educar para os meios, não significa 
rejeitar, mas sim refletir sobre os meios. Tudo passa pela 
conscientização do cidadão. A web permite, mas não garante que 
haja diálogo. (ANDRADE, 2007, site). 
 
 
10 A Wikipédia (http://wikipedia.org) revolucionou o conceito de enciclopédia. Não apenas em 
relação ao formato, já que se encontra alojada na Internet, mas também quanto à elaboração e 
acessibilidade para os usuários. É gratuita e livre, e qualquer pessoa interessada pode colaborar para 
torná-la mais extensa. A idéia por trás desse ambicioso projeto é criar enciclopédias livres em todos 
os idiomas, graças à colaboração dos internautas. A Wikipédia tem esse nome graças ao Wiki 
(pronuncia-se “wiquie”). O qual é usado para identificar um tipo específico de coleção de documentos 
em hipertexto ou software colaborativo usado para criá-lo. Permitem que sejam editados 
coletivamente com uma linguagem de marcação muito simples apenas através da utilização de um 
navegador web. A expressão “Wiki wiki” significa “super-rápido” no idioma havaiano. 
 18
Desenvolvimento tecnológico não é quando as inovações acontecem apenas 
para uma minoria que monopoliza o acesso. Mas sim quando a maioria tem acesso 
àquilo que irá facilitar sua vida. Inovações apropriadas e acessíveis acontecem 
quando isso é levado em consideração. Inclusive, podemos dizer que assim como a 
invenção da roda, uma tecnologia só se desenvolve quando todos têm acesso a ela. 
E nisso todos deveriam ter interesse; afinal, a tecnologia é um esforço para diminuir 
os esforços. 
O desenvolvimento tecnológico pode ser dividido em duas vertentes: caráter 
amplo e questão técnica. Esta última diz respeito à produção de técnicas e 
ferramentas. Em muitas escolas ainda persiste esta interpretação. Partindo desse 
pressuposto, poderíamos afirmar que não tem sentido investir no desenvolvimento 
da tecnologia usada, por exemplo, nos fogões elétricos, se grande parte da 
população para a qual o fogão teoricamente se destina não tem acesso à 
eletricidade. Talvez o mais útil para uma população assim seja investir no 
desenvolvimento de fogões que tenham uma tecnologia que permita economizar 
lenha ou carvão. Isto é um exemplo de uma inovação apropriada e acessível. O 
problema é que “têm se dado muito valor à inovação tecnológica e pouco ao uso. 
Dessa forma, a tecnologia se transforma em um emblema de poder.” (ANDRADE, 
2007, site). Neste sentido, pode-se dizer que o homem vive do “imperativo 
tecnológico”, que pode ser traduzido como o “estado no qual a sociedade se 
submete humildemente a cada nova exigência da tecnologia e utiliza sem questionar 
todo novo produto, seja portador ou não de uma melhora real” (REVILLA apud 
TAJRA, 2001, p. 43). Sendo assim, o ser humano não deve viver em função das 
inovações tecnológicas, sem refletir esses impactos sobre sua vida. 
Nisso, as periferias do mundo se parecem: na urgência de resolução de 
problemas básicos, dos quais partilham amargamente, seja de um bairro afastado 
de Paris, Luanda ou em Natal. Uma escola do bairro de Mãe Luíza, em Natal, a 
priori, precisaria muito mais de livros impressos do que de iPods11, sem demérito 
destes últimos, é claro. Afinal, como diz Andrade: 
 
Novas tecnologias para a educação do homem: não o homem 
“média estatística” ou o homem da elite, mas o homem brasileiro, o 
 
11 O nome iPod se refere a uma série de players de áudio digital projetados e vendidos pela 
Apple Computer. Como a maioria dos players portáteis digitais, o iPod pode servir como um 
armazenador de dados, quando conectado a um computador. 
 19
cidadão do povo que freqüenta a escola pública e com quem o 
Estado tem uma dívida de quatrocentos anos.(ANDRADE, 1993, 
site). 
 
Hoje, quando se fala em tecnologia, pensa-se em chips de computador e em 
tudo aquilo que convencionamos chamar de novas tecnologias. Mas, não podemos 
generalizar e considerar tecnologia só aquilo que é alta tecnologia ou “tecnologia de 
ponta”, tendo em vista que um abridor de latas, comum, foi e ainda é uma tecnologia 
importante. O mesmo se aplica para a Tecnologia Educacional, já que, para ela, o 
giz e a lousa representaram um avanço e tanto para a Educação. Mas não se pode 
conceituar o uso das tecnologias educacionais tendo por base apenas algumas 
técnicas. Sendo assim, a Tecnologia Educacional: 
 
É uma maneira sistemática de elaborar, levar a cabo e avaliar todo o 
processo de aprendizagem em termos de objetivos específicos, 
baseados na investigação da aprendizagem e da comunicação 
humana, empregando uma combinação de recursos humanos e 
materiais para conseguir uma aprendizagem mais efetiva (PONS 
apud TAJRA, 2001, p. 44). 
 
Neste trabalho, entende-se o computador e os outros elementos norteadores 
da informática, por exemplo os softwares, como sendo “meios educativos”, o qual 
constitui uma das áreas da Tecnologia Educacional. Segundo a concepção de 
Andrade: 
 
Não devemos correr o risco de tomar a parte pelo todo. Sem dúvida 
alguma, estas técnicas fazem parte da Tecnologia Educacional por 
se constituírem em práticas decorrentes de teorias científicas, mas 
não são toda a Tecnologia Educacional.(...). Acreditamos que a 
única definição aceitável de Tecnologia Educacional está contida no 
adjetivo (educacional) que delimita o uso da tecnologia, esta, 
originada de ciências físicas, matemática, sociologia, psicologia, 
enfim, de quaisquer áreas do conhecimento. Talvez ainda caibam 
algumas observações sobre o que não é a tecnologia dentro da 
educação. Não é Tecnologia Educacional o estudo dos valores da 
sociedade que orientam a prática educativa e moldam os Sistemas 
de Ensino através das leis ou da tradição. Não é a Tecnologia 
Educacional, o conhecimento científico no qual se nutre. Também 
não é Tecnologia Educacional, a prática aleatória, baseada no bom 
senso ou no ensaio e erro, por inspirada e eficiente que sua 
casuística demonstre. (ANDRADE, 2006, site). 
 
 20
Porém, para que a Educação funcione, é preciso transformar as políticas de 
governo em políticas de Estado. Mas, para isso, é preciso mobilização e ânsia por 
inovação. Isso acaba com o problema da descontinuidade nos projetos 
governamentais, com a sensação de que é preciso sempre começar do zero: 
 
Para que as novas tecnologias não sejam vistas como apenas mais 
um modismo, mas com a relevância e o poder educacional 
transformador que elas possuem, é preciso que se reflita sobre o 
processo de ensino de maneira global. Para isto, é preciso antes de 
tudo que todos estejam conscientes e preparados para a definição 
de uma nova perspectiva filosófica que contemple uma visão 
inovadora de escola, aproveitando-se das amplas possibilidades 
comunicativas e informativas das novas tecnologias para a 
concretização de um ensino crítico e transformador de qualidade. 
(KENSKI, 1998, p. 133). 
 
A Internet não criou nada de novo. Assim como tudo o que existe, incluindo o 
ambiente universitário, ela estásob influência do meio social e cultural; bem como 
do poder econômico e político. Sendo assim, a Internet não constitui, como querem 
pensar alguns, um mundo paralelo ao nosso. Ela faz parte dele de forma 
indissociável. O que obviamente não significa que seja inofensiva em si; muito pelo 
contrário, o que vemos em inúmeros sites é tão somente a reprodução naquele meio 
de informação daquilo que acontece em nosso meio social. Mais do que isso, pode-
se dizer que os meios de informação são meios de controle social. Sobre isso, 
Andrade nos diz que: 
 
Os “meios de comunicação” não são o espelho do real. Esses meios 
deixam de ser de comunicação para se tornar um meio de controle 
social. Ela se realiza através da troca produtiva. E a troca produtiva 
é educação. A comunicação é inevitável e não improvável (como diz 
Luhmann). Ela é inevitável, apesar dos obstáculos. E esses 
obstáculos para a comunicação são as relações de poder. Uma 
prova disso é a língua. Pois os símbolos se estabelecem dentro de 
um princípio de isomorfismo para que as pessoas se comuniquem. 
(ANDRADE, 2007, site). 
 
A internet também não inventou o conhecimento enciclopédico (para o mal ou 
para o bem). Em se tratando do mal, também não inventou o estelionato, a falta de 
segurança em transações financeiras, desrespeito aos direitos autorais, plágio, 
adultério, pedofilia, xenofobia e o racismo. A novidade é que a internet deu 
amplitude a tudo isso. O que já por si só é muito. O tão propalado “namoro virtual” 
 21
nada mais é do que o namoro presencial tradicional, realizado por outros meios. Por 
isso, podemos dizer que uma rede social on-line, como o Orkut (ver anexos 1 e 2), é 
uma reprodução da arquitetura reflexiva presente na sociedade, sem as 
desvantagens comunicativas provocadas pelas distâncias geográficas. 
Dentre todos os meios de informação, a internet é o que mais tende a 
fragmentação da informação; ou se, fragmenta nossa capacidade de interagir com 
outras pessoas. A fragmentação é importante apenas inicialmente, afinal ela faz 
parte do processo comunicativo, pois: 
 
A fragmentação é importante no início. Mas chega o ponto que em 
vez de ajudar, ela atrapalha. E a fragmentação atinge sua forma de 
pensar. Dessa forma, podemos dizer que a fragmentação é uma 
opção ideológica, uma arma da classe social dominante para que as 
pessoas não percebam o todo.(ANDRADE, 2007, site). 
 
Como a web é hipermidiática, isto é, tem a não linearidade do hipertexto, é 
multimídia e interativa, é um espaço de convergência de meios de informação por 
excelência. Sendo assim, há uma maior facilidade de nos perdermos no momento 
em que navegamos por ela e buscamos conhecimento no sentido amplo do termo. 
A conseqüência disso, muitas vezes, é o agravamento da falta de 
sistematização das informações que tentamos encontrar. A falta de sistematização e 
conseqüente fragmentação em atividades de cunho intelectual também não é uma 
novidade. Ela está presente quando alguém se propõe a escrever um livro, e nunca 
o termina. Quando alguém começa a ler vários livros ao mesmo tempo, sem terminar 
nenhum deles. Assistir a filmes, deixando-os pela metade. Sempre que alguém 
começa a aprender a tocar um instrumento musical, aprender uma arte marcial ou 
uma língua estrangeira e desiste nas primeiras aulas, não está sendo sistemático. 
Desta forma, e sendo assim projetos de aquisição de conhecimento vão 
fracassando, tendo em vista não entenderem a própria formação como um processo 
contínuo para toda vida. Tudo isto pode ocorrer não só no âmbito individual, mas 
também governamental, representando um desperdício de tempo e dinheiro. 
Devemos, no entanto, admitir que as novas tecnologias acentuaram esse 
problema, pois possibilitam a facilidade de pular de uma informação para a outra, 
sem antes ter assimilado os estágios iniciais de forma didática. A tentação de dar 
clique após clique é muito sedutora; a internet não criou nada de novo, apenas deu 
amplitude ao que já existia: a fragmentação da informação. 
 22
Tudo isso nos permite dizer também que hoje é pouco provável que exista 
excesso de informação, como tanto se têm propalado. Não só por que a capacidade 
humana de absorver informação não aumentou de um século para outro, como 
também por que novos conhecimentos dão lugar a outros. Se hoje falamos em 
linguagem binária e linguagem de programação, em termos de informática, 
praticamente não há mais necessidade de se estudar latim e código Morse. Isso 
porque a utilidade da informação se atualiza para o homem à medida que o tempo 
passa. A necessidade gera conhecimento (a invenção do computador) que gera 
necessidade (contas de e-mail). Sobre a pertinência ou não da mídia na escola, 
Andrade nos alerta: 
 
Devemos usar a mídia na educação? Nisso há dois tipos de 
professores: os que usam a mídia em suas relações pedagógicas e 
sabem disso e os que usam a mídia em suas relações pedagógicas 
e não sabem disso. A mídia se tornou organizadora de nossa vida. 
(ANDRADE, 2007, site). 
 
Ao participar de um jornal estudantil ou “fanzine”, mesmo os fotocopiados, o 
educando passa a perceber que ele não está isolado. Ele vive em um mundo 
complexo e interdisciplinar. Ao falar da escola, Andrade nos questiona: 
 
A escola serve para formar o cidadão ou o trabalhador? Ao formar 
apenas para o trabalho, se estabelece apenas uma relação 
meramente instrucional e técnica. Isto é, o educando sai preparado 
para o mercado, mas um péssimo cidadão. Quando se prioriza a 
formação para a cidadania, além da instrução, há também um 
processo educacional. Onde está explícito também o cultivo da 
pluralidade, democracia e negociação. Neste caso, a pessoa é 
capaz de pensar sobre sua profissão e dar um componente ético. 
(ANDRADE, 2007, site). 
 
Ao refletir sobre os problemas da escola nas páginas do jornalzinho, os 
educandos projetam e relacionam as condições do cenário escolar no cenário 
externo. Andrade (2007, site) nos diz que a escola tem duas funções básicas: 
 
• Explícita: formar o cidadão; 
• Implícita: instrumento de poder. 
 
 23
Além disso, podemos ainda desdobrar essas funções em outras três 
(ANDRADE, 2007, site): 
 
• Passar o acervo do conhecimento humano aos educandos; 
• Criação de habilidade à vida social; 
• Passar a visão de mundo da classe dominante na busca de 
hegemonia. 
 
O valor de uma nota obtida depende muito mais do nível de exigência de uma 
avaliação do que propriamente do estudante. Se um professor puder e quiser 
reprovar uma classe inteira ele tem meios para isso, por mais que a matéria tenha 
sido dada e aprendida pela turma. 
O sucesso é relativo, mas a colaboração é absoluta. Méritos à parte, obter o 
primeiro lugar em algo significa ser o melhor apenas em um grupo específico, não 
do universo do todo. Em um determinado tempo e sob influência de uma 
determinada circunstância, a qual é diferente para cada pessoa. Em outra 
circunstância, provavelmente a ordem dos fatores teria sido outra. Isso nos mostra 
os perigos de quando uma circunstancialidade tem a pretensão de almejar ser uma 
definição. 
O orgulho e o culto ao individualismo são atitudes totalmente ilógicas e 
irracionais irresponsavelmente alimentados pelas forças do mercado, pois por mais 
que nos vangloriemos e nos envaidecemos, há sempre alguém mais rico, ou mais 
bonito, ou mais inteligente do que nós. Na verdade, um aluno aplicado deveria 
competir apenas com ele mesmo. Deveria receber o boletim e apreciar o belo 
trabalho que foi feito e tentar melhorá-lo porque se existe uma concorrência leal é só 
aquela que é travada contra nós mesmos. Na verdade, a única motivação para 
estudar a ser levada em consideração deveria ser para nos tornarmos pessoas 
ainda melhores. 
A educação atual, à mercê de diversas influências; boa parte das quais 
personalistas, pecuniárias, excessivamente pragmáticas e egoístas; se depara com 
essa dicotomiaentre competir e cooperar. É preciso enxergar a escola, de um modo 
geral como ela é, bem como a instituição de ensino superior, em particular: 
 
 24
A universidade é um espaço de gestação de uma nova sociedade. E 
cabe a nós enfatizar isso. Os educandos não são clientes de uma 
instituição de ensino superior. Na verdade, a sociedade é que é 
cliente.(ANDRADE, 2007, site). 
 
Vivemos em um tempo no qual não são poucas as pessoas que estão 
demasiadamente centradas em si mesmas. Sobre isso, SCHAFF (1995, p. 103) nos 
diz que “as relações entre indivíduo e sociedade oscilam hoje – pelo menos 
teoricamente – entre dois extremos, o individualismo e o totalitarismo”. Também para 
ele, “o homem moderno não pode existir fora da sociedade e deve, por isso, aceitar 
determinadas regras”. (SCHAFF, 1995, p. 103). 
Sabemos que o antônimo da colaboração é a competição, a qual significa a 
vantagem de um ou mais indivíduos em detrimento de todos. Uma vez que para que 
alguém possa vencer, outro precisa perder. Neste sentido, as atividades esportivas 
praticadas em milhares de competições ao redor do mundo encontram sua máxima 
exposição em eventos como Olimpíadas e Copa do Mundo. Mas o “espírito olímpico” 
tão propalado pela mídia não constitui, como nunca constituiu, um congraçamento 
da humanidade em torno de um ideal de paz e harmonia. E, estimuladas por 
tocantes campanhas publicitárias onde se busca vender de tudo, as pessoas 
estranhamente acabam “comprando” essa idéia como se ela fosse algo verdadeiro. 
Pois o “espírito olímpico” se constitui tão somente na pura competição, na qual 
atletas e países busca reivindicar para si uma supremacia esportiva difícil de ser 
comprovada pelo seu caráter circunstancial. Assim vejamos: 
 
A competição sadia não existe. A competição é um fenômeno 
cultural e humano e não constitutivo do biológico. Como fenômeno 
humano, a competição se constitui na negação do outro. Observem 
as emoções envolvidas nas competições esportivas. Nelas não 
existe a convivência sadia, porque a vitória de um surge da derrota 
do outro. O mais grave é que, sob o discurso que valoriza a 
competição como um bem social, não se vê a emoção que constitui 
a práxis do competir, que é a que constitui as ações que negam o 
outro. (MATURANA, 1998, p. 13). 
 
Nos países subdesenvolvidos a contemporaneidade tem sido marcada pela 
transposição sem adaptações da cultura do individualismo que é estimulada por 
diversos seguimentos da sociedade, como se fosse uma espécie de atalho para se 
alcançar o desenvolvimento econômico. Essa ideologia predatória, pode ser bem 
representada através do famoso conceito de “o vencedor fica com tudo” tão caro ao 
 25
capitalismo americano e em ditados como “Be the shark, not the bait” (“Seja o 
tubarão, não a isca”). É bem possível que essa interpretação errônea possa ter 
vindo de uma interpretação equivocada e literal da Teoria da Evolução de Charles 
Darwin na qual nos fala da sobrevivência dos mais aptos as alterações do meio e 
não necessariamente dos mais fortes. A indução ideológica acontece em grande 
parte motivada pela mistificação, pois: 
 
O poder da ideologia dominante é indubitavelmente imenso, mas 
isso não ocorre simplesmente em razão da força material 
esmagadora e do correspondente artesanal político-cultural à 
disposição das classes dominantes. Tal poder ideológico só pode 
prevalecer graças à vantagem da mistificação, por meio da qual as 
pessoas que sofrem as conseqüências da ordem estabelecida 
podem ser induzidas a endossar, “consensualmente”, valores e 
políticas práticas que são de fato absolutamente contrários a seus 
interesses vitais. (MÉSZÁROS, 2007, p. 472). 
 
Neste sentido, a consolidação do culto ao ego atua de forma a aprofundar a 
dicotomia entre o individualismo e o senso de comunidade. Algo que deixa 
transparecer nas estatísticas que indicam o sucesso de vendas dos livros de auto-
ajuda, nas inúmeras cirurgias plásticas que são realizadas a cada ano e em 
programas de TV congêneres ao estilo que celebrizou “O Aprendiz” 12. Há, inclusive, 
livros com o título de “Você é a sua melhor marca” 13 e “Você é o seu melhor 
produto” 14; bem como uma revista muito popular entre os estudantes e profissionais 
de Administração, chamada egocentricamente de “Você S.A.”15, a qual incrivelmente 
lançou uma edição especial sobre educação16 e, inclusive, possui em seu site uma 
“comunidade virtual” 17 destinada à troca de idéias entre os leitores da publicação, 
esquecendo-se de que não há nada de comunitário na egolatria, um exercício de 
“redundância do nada”. Em suas páginas, a revista não poupa estratégias de 
mercantilização de seus leitores. Ela chega, inclusive, a afirmar categoricamente no 
título de uma reportagem que “Você é um produto”, onde afirma categoricamente: 
 
 
12 Cf.: http://www.rederecord.com.br/frameset.asp?prog=119 
13 Cf.: RAMALHO, Jussier. Você é a sua melhor marca, 1ª edição, São Paulo: Editora 
Campus, 2007. 
14 Cf.: LUSTBERG, Arch. Você é o seu melhor produto, São Paulo: Editora Futura, 2007. 
15 Cf.: http://vocesa.abril.com.br 
16 Cf.: Você S.A. Educação. Disponível em: http://vocesa.abril.com.br/sumarios/09118.shtml 
17 Cf.: http://grupos.abril.com.br/grupo.asp?grupo=3416 
 26
É, sim. Mas, se quiser fazer sucesso no mercado, precisa acreditar 
nisso de verdade – e agir. Como? Conhecendo seus pontos fortes, 
seus compradores e fazendo propaganda para as pessoas certas. 
Você é um produto no mercado de trabalho – e deve acreditar nisso, 
se não quiser ficar encalhado na prateleira. Traduzindo da 
linguagem do marketing para a linguagem da sua carreira: sem se 
enxergar como um produto, dificilmente você conseguirá um 
emprego do qual goste, onde consiga usar o que tem de melhor e 
no qual encontre uma fonte permanente de aprendizado. Nessas 21 
edições da VOCÊ s.a., temos repetido conceitos como: você é a sua 
marca, você é o seu projeto, você deve saber se vender, você deve 
administrar a sua própria marca. È isso mesmo, e mais que isso. 
(SOMOGGI, 2000, p. 44 e 45). 
 
Para o filósofo Herbert Marcuse, a burguesia só pode propiciar aos indivíduos 
uma igualdade abstrata, isto é, os serviços e as mercadorias estão expostos para 
quem quiser obtê-los. Mas também uma desigualdade concreta, pois apenas uma 
minoria pode pagar por determinados serviços e/ou produtos os quais são geradores 
de uma grande e ilusória expectativa de felicidade por parte de quem os adquire. O 
resultado disso é o desencadeamento de frustrações decorrente do baixo poder de 
compra da maioria. No entanto, para compensar essa frustração que em tese seria 
capaz de liquidar com a anciã consumista dos indivíduos, a publicidade manipula e 
mistifica os anseios de consumo fazendo algumas concessões a realidade. Pois, é 
preciso dar uma certa credibilidade aos sonhos consumistas da sociedade no 
sentido de fazer crer aos indivíduos que eles “podem chegar lá”. E para Marcuse é 
essa crença que cultiva uma hipercompetitividade sobre a qual estamos aqui nos 
referindo e onde não há muito espaço para o senso de comunidade: 
 
O que precisa ser radicalmente denunciado é o fato de que o prazer 
e a liberdade sofrem uma deformação profunda à medida que não 
podem ser efetivamente desfrutados por indivíduos concretos. No 
capitalismo, as pessoas são envolvidas nas malhas de demandas 
artificiais que exploram os desejos manipulados de individualidades 
cada vez mais abstratas. Impulsos e necessidades potencialmente 
enriquecedores são substituídos por carências cultivadas pela 
hipercompetitividade. (MARCUSE apud KONDER, 1998, p. 19). 
 
Não faltam igrejas evangélicas dispostas a mostrar a seus fiéis o caminho 
iluminado que leva a salvação...financeira. Um movimento que comumente passou a 
ser chamado jocosamente de “teologia da prosperidade”. Nascido na década de 40 
nos EUA de um ramo pentecostal que pregava a crença fervorosana intervenção 
divina, que se revelaria, por exemplo, através da cura de doenças graves. Com o 
 27
tempo, sobretudo com o advento dos “telepastores”, começou-se também a enfatizar 
a obtenção de bens materiais e a prosperidade financeira por meio da oração. Não 
faltam, portanto, apelo “sucessomania” de seus fiéis. Aproveitando o espaço já 
trilhado pelos incontáveis livros publicados anualmente de auto-ajuda, há um fato 
material bibliográfico e videográfico que adentra em um inacreditável espaço bizarro 
onde se misturam altas doses de teologia com o paganismo material. Um exemplo 
disso é o livro “Lições de Vencedor - Como os heróis da bíblia superaram os 
desafios e alcançaram o sucesso”18, escrito pelo pastor Silas Malafaia. Além disso, 
todos os dias nos deparamos com propagandas de faculdades particulares na mídia 
que, adversas aos princípios que norteiam a idéia de comunidade, conclamam as 
pessoas portadoras de diploma de curso superior a fazer um curso de pós-
graduação, com o slogan "Você. A melhor opção de investimento que existe."19 
 
 
ILUSTRAÇÃO 1 – Banner publicitário promocional da Pós-Graduação de uma faculdade 
privada. 
 
18 Cf.: MALAFAIA, Silas. Lições de Vencedor - Como os heróis da bíblia superaram os 
desafios e alcançaram o sucesso, 1ª edição, Rio de Janeiro: Editora Thomas Nelson Brasil, 2009. 
19 Cf.: Campanha publicitária promovendo a pós-graduação da Facex 
(http://www.facex.com.br/novo/posgraduacao/aguarde.html). Acesso em: 13/05/2008. 
 28
 
Isso, como se a principal, se não a única, razão de ser de uma pós-graduação 
fosse tão somente formar mão de obra para o mercado e, aumentar as chances de 
empregabilidade de quem as faz. Neste sentido, as instituições particulares de 
ensino superior estão sim “em sintonia com o mercado” como seus dirigentes 
mesmos dizem, tendo em vista que a condição de empregabilidade é sim a face 
mais visível de sucesso a qual a maior parte da população almeja, tendo em vista 
que lhes falar de “formação para a cidadania” pode parecer um tanto quanto abstrato 
demais. Assim, os estudantes de tais instituições estão pagando para ter acesso a 
um tipo de educação que encontra sim demanda social, segundo as leis 
mercadológicas da oferta e da procura. O que não seria problema se a educação 
fosse uma mercadoria, o que definitivamente não é. A educação vista como um 
simples negócio não condiz com a concepção freiriana e freinetiana de educação, 
que deveria servir como um instrumento de libertação do ser humano. Mesmo assim, 
ao rejeitar a competição individual que existia nas escolas tradicionais, o movimento 
cooperativo formulado por Célestin Freinet não significou uma abolição das 
individualidades. 
Dentro de um sistema que promove o culto ao individualismo, são inúmeras 
as pessoas que usam o Orkut como uma forma de autopromoção, isto é, para aquilo 
que alguns chamam de “Marketing pessoal”, no qual pessoas são comparadas a 
produtos. Os construtores desse conceito, demonstram claramente ter uma visão 
limitada do que realmente significa feedback e uma concepção maquiavélica das 
relações sociais. O resultado prático disso são conselhos no sentido de incentivar 
seus interlocutores a adotarem uma postura que simula a espontaneidade. 
 
Como nos ensinam as estratégias do marketing tradicional, todo 
produto necessita de uma boa embalagem. Portanto, escolha com 
cautela a foto que colocará no Orkut e cuide de sua apresentação 
pessoal, pois são seus cartões de visita. Demonstre iniciativa, 
persistência e motivação em tudo o que faz. Certamente isso trará a 
atenção das pessoas, que o identificarão como alguém interessante 
e interessado. Fique atento ao feedback. Saber o que as pessoas 
pensam a seu respeito pode ajudar a mudar pequenos hábitos e 
costumes, se necessário. Preste atenção nos depoimentos das 
pessoas sobre você. Muitas vezes, pressionados pelo dia-a-dia, nos 
esquecemos das pessoas consideradas “sem importância”, como o 
porteiro, a faxineira, o guarda, o manobrista, o atendente etc. No 
entanto, imagine o mundo sem o trabalho e a dedicação dessas 
pessoas? Muitas vezes, um simples “bom dia” é o suficiente para 
 29
tocarmos o coração das pessoas e cativá-las para sempre. 
(TELLES, 2006, p. 37-38). 
 
É essa mesma ausência de espontaneidade que alimenta tanto o gesto de 
mãos levantadas de alguns jogadores de futebol que nos estádios pedem eles 
mesmos a suas torcidas para serem incentivados; quanto os protestos de rua árabes 
no Oriente Médio, nas quais os manifestantes ostentam em boa parte cartazes 
escritos não em sua língua materna, mas sim em inglês. Na esperança de serem 
filmados pelas câmeras de TV internacionais. Sem falar das cidades turísticas que 
são artificialmente preparadas não necessariamente pensando no bem estar de 
seus moradores, mas sim na perspectiva sobre como elas serão vistas segundo a 
ótica dos turistas. Inclusive o altamente sedutor ramo publicitário, o qual milhares de 
jovens querem fazer parte, desenvolveu um termo chamado de “Personal Branding”, 
que pode ser traduzido como “Marca Pessoal”, segundo o qual as pessoas devem 
se posicionar perante o mercado como se elas mesmas fossem “marcas” por si só, 
analogamente ao marketing de uma marca ou empresa. Há inclusive empresas que 
oferecem serviços sobre como melhorar a forma como o contratante é visto pela 
sociedade. Isto é, eles descobriram que a manipulação comportamental pode se 
transformar em um serviço altamente rentável a ser contratado. Tal e qual a 
simulação da possibilidade de uma “outra” vida em ambientes virtuais ou do 
orgasmo de uma prostituta. 
 
Você já pensou que a maneira como você se relaciona com as 
pessoas, ou como trabalha, fala e se veste faz parte de uma 
identidade única? No que as pessoas pensam quando alguém diz o 
seu nome? Para o desenvolvimento da sua MARCA PESSOAL, a 
Quinto Elemento conta com o apoio de profissionais de Coach, 
Personal Stylist, Branding e Gestão da marca. Nós trabalhamos 
desde a percepção do que você e as outras pessoas identificam 
como sendo os seus pontos fortes, a representação gráfica desta 
identidade, bem como a sua promoção e visibilidade no mercado 
profissional. Por meio de cuidados como postura pessoal e 
profissional, como se vestir, e como se apresentar ao mundo, a 
Quinto Elemento – Design da Informação ajuda você a construir 
uma carreira que tenha a ver com sua essência. (2008, site).20 
 
Nós brasileiros vivemos em uma sociedade estruturalmente conservadora por 
ser autoritária, hierárquica, desigual e violenta. Nesse cenário de não comunicação, 
 
20 Cf.: Personal Branding – Construa sua marca pessoal. Disponível em: 
http://www.5e.com.br/portfolio.aspx?idCategoria=11. Acesso em: 20/07/2008. 
 30
de simulação e de muita manipulação, há por parte dos envolvidos no processo um 
esforço imenso e terrível de adequação a um sistema fechado, consumista e 
ideologicamente vinculado às classes dominantes que se crê ser verdadeiro. 
A classe média brasileira, a exemplo de outras congêneres ao redor do 
mundo, cultiva uma fórmula idealizada de sobrevivência que pode ser caracterizada 
por: emprego estável (em uma empresa multinacional ou no alto escalão do 
funcionalismo público, de preferência com aposentadoria acumulada) + condomínio 
fechado + plano se saúde privado + laser e consumo em shoppings centers. O que 
gerou um sistema informal de apartheid social construído pela elite de forma 
irresponsável e mais eficiente que o sul-africano, o qual necessitava de uma vasta 
legislação segregacionista. É essa classe social conformada e auto-proclamada 
“bem-sucedida”, cujos membros vêm trilhando esse caminho já há algum tempo que 
Marcuse qualificou como unidimensional: 
 
O uso sistemático de meios repressivos disfarçados é típico da 
chamada "sociedade afluente", na qual a sensação de liberdadedas 
pessoas é estimulada pelo fato de o empregado e o patrão poderem 
ver os mesmos programas de televisão, pelo fato de a empregada e 
a patroa poderem usar o mesmo baton, etc. Uma observação crítica 
da "sociedade afluente", segundo Marcuse, revela os efeitos da 
manipulação dos comportamentos humanos. Os indivíduos falam 
cada vez mais sobre a diversidade, sobre as diferenças individuais, 
parecidos uns com os outros, pois estão sendo permanentemente 
pressionados no sentido de se adaptarem a um "padrão de 
pensamento e de comportamento unidimensionais". No passado (e 
até uma época recente), a cultura era capaz de contrapor críticas, 
idéias e aspirações à ideologia dominante, por ela mesma acolhida. 
Era, portanto, uma cultura bidimensional. Na segunda metade do 
século XX, contudo, a sublimação característica das criações 
artísticas foi sendo substituída por uma "dessublimação" que 
passava a "domesticar" os instintos dos indivíduos, enquadrando-os 
pragmaticamente na dinâmica do mercado. (MARCUSE apud 
KONDER, 1998, p. 22 e 23). 
 
Isso nos faz pensar que, ao contrário do que se pensa, o jovem 
contemporâneo (grande parte usuária de redes sociais como o Orkut) procura mais 
se adequar aos modelos pré-estabelecidos impostos pela mídia do que ter uma 
identidade própria e se rebelar contra eles. Mas é dentre esses mesmos jovens que 
podemos encontrar àqueles que, motivados pelo bem comum, doam horas de 
trabalho não remunerado para melhorar softwares como o Linux ou àqueles que 
ajudam desconhecidos com informações através de fóruns e redes sociais on-line. 
 31
O filósofo Leandro Konder faz uma reflexão interessante sobre essa época de 
“pragmatismo extremado”: 
 
Acredito firmemente que a liberdade para todos depende de certa 
paridade nas condições sociais, econômicas e culturais 
asseguradas às pessoas. Se prevalecem condições privilegiadas 
(de concentração de poder e riqueza para uns, em detrimento de 
pobreza e ignorância para outros), a liberdade se degrada. Estou 
convencido, igualmente, de que a luta permanente pela 
democratização da sociedade depende da participação ampliada, do 
aumento da participação dos explorados no combate à exploração e 
do aumento da participação dos oprimidos no combate à opressão. 
Tenho procurado seguir essa linha, porém suspeito que não tenho 
acertado muito. Acumulei derrotas. (...). Nesse nosso tempo de 
pragmatismo extremado, estou longe de ser um winner. De fato sou 
um loser. Contudo, valeu a pena ter brigado por coisas nas quais eu 
acreditava, mesmo que o preço fosse o fracasso. A ética me 
consolou nas derrotas políticas. (...). O conceito que cada loser faz 
de si mesmo depende da avaliação que ele faz do que pretende 
fazer. Se não pretende fazer nada, já está objetivamente 
acumpliciado com os winners. Os gregos chamavam isso de uma 
concepção agonística da vida. Dentro de seus limites, cada um de 
nós tem que lutar, tem que travar seu combate (agon) até se 
defrontar com o inimigo invencível (a morte). Nesse estágio final, o 
combate se transforma em agonia. (KONDER, 2008, 250 e 251). 
 
Em termos de problematização, Paulo Freire afirma que o importante é 
descobrir o sentido e o significado do conhecimento para a nossa vida e para a vida 
de todos. Isto é radicalmente contrário à visão tradicional do conhecimento, na qual 
ele serve apenas para que cada pessoa possa se enriquecer enquanto sujeito, 
usando o conhecimento em seu próprio benefício, o que se traduz como uma visão 
capitalista do conhecimento. 
 
Nesta ânsia irrefreada de posse, desenvolvem em si a convicção de 
que lhes é possível transformar tudo a seu poder de compra. Daí a 
sua concepção estritamente materialista da existência. O dinheiro é 
a medida de todas as coisas. E o lucro seu objeto principal. 
(FREIRE, 2003, p. 46). 
 
O egocentrismo sempre existiu na história humana na Terra, mas vem 
encontrando uma amplitude como nunca vista antes, graças ao progresso dos meios 
de informação, sobretudo os que abrem espaço para informes publicitários, que 
paulatinamente nos vendem a possibilidade de aquisição dos bens de consumo 
simbólicos como sinônimos de felicidade. É essa mensagem do sucesso individual, 
 32
em detrimento do sucesso da maioria, que é passado aos jovens. O que não nos 
deixa surpresos, no que diz respeito à forma em que o meio ambiente tem sido 
tratado, já que os recordes de produção industrial tem exigido muito dos nossos 
recursos naturais. 
Ao pensar a sociedade apenas como um somatório de “ilhas” individuais, as 
quais homonimamente se chamam “eu”, essa visão egoísta já se mostrou e ainda se 
mostra falida; se não hoje pela atual desagregação social, será um dia por suas 
próprias contradições internas e pelo aquecimento global. Por tudo isso, 
compartilhar conhecimento é uma forma de se construir uma comunidade mais 
fraterna. E é a partir desse momento que esse conhecimento se torna valioso. Mas o 
fato de pertencermos a diferentes comunidades independe da vontade individual das 
pessoas. Neste sentido: 
 
Querendo ou não, pertencemos todos a uma vasta comunidade: o 
gênero humano. Mas a humanidade é grande demais, não 
conseguimos enxergá-la. Recorremos, então, a comunidades 
menores, que substituem a espécie humana. Uns se integram (ou 
entregam?) em partidos políticos, outros a seitas religiosas, muitos 
se contentam a pertencer a um clube de futebol ou a uma escola de 
samba, alguns se definem como sócios de um clube ou membros de 
uma corporação profissional. Isso pode ser bom ou pode ser ruim, 
dependendo do espírito com o que o sujeito vive sua pertinência à 
“pequena comunidade”: com espaço para a tolerância, o diálogo e o 
humor.(KONDER, 2002, p. 8). 
 
É comum se qualificar a área da Publicidade e Propaganda como um ramo da 
Comunicação Social, ao lado do Jornalismo, Radialismo e Relações Públicas. Dessa 
forma, qualifica-se como “comunicação” o que na verdade não passa de 
manipulação e mau-caratismo transformado em profissão: 
 
Hoje, a publicidade cobre praticamente todos os serviços da rede, 
desde a Web até as mensagens de correio eletrônico. [...] a 
publicidade é, primeiramente, abordada como instrumento da 
moderna comunicação de marketing. Em seguida, o exame do 
surgimento da propaganda interativa na rede, da sua natureza em 
relação às mídias tradicionais e dos elementos que compõe a 
chamada indústria da propaganda na Internet permite ao leitor 
compreender as novas possibilidades do uso da rede como veículo 
de comunicação publicitária. (PINHO, 2000, p. 92). 
 
 33
Assim sendo, se tomarmos como base o conceito de Comunicação para 
Paulo Freire21, não se pode falar nessas áreas como sendo Comunicação, muito 
menos a Publicidade e a Propaganda, nas quais as idéias dominantes serão sempre 
as idéias das classes dominantes. Na verdade, os dois conceitos não só não são a 
mesma coisa, como são até conceitos antagônicos. Por isso, a assim dita área de 
“Comunicação Social” não é comunicação, nem muito menos é social. É altamente 
discutível que nelas, sobretudo na Publicidade, haja ética; ou seja, o que as pessoas 
dizem se supõe que esteja havendo verdade pessoal. Desta forma, sem esta pré-
condição para o estabelecimento do diálogo, não se pode dizer que um anúncio seja 
algo comunicativo: 
 
A nós, não nos é possível persuadir a aceitarmos a persuasão para 
a aceitação da propaganda como uma ação educativa. Não vemos 
como se possa conciliar a persuasão para a aceitação da 
propaganda com a educação, que só é verdadeira quando encarna 
a busca permanente que fazem os homens, uns com os outros, no 
mundo em que e com que estão, de seu Ser Mais. (FREIRE, 1988, 
p. 23). 
 
Em um cenário como este, onde a concepção de “comunidade” vem sendo 
ameaçada, a saída que nos resta é enfatizar as contradições entre o modelo 
individualista que a mídia tem propalado e o senso de coletividade. O que nos faz 
pensar que ainda vivemos em um mundo de profundas contradições

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