Buscar

APOSTILA_02

Prévia do material em texto

1Cidadania e Exclusão Social
Cidadania e Exclusão Social
Vânia Martins
2Cidadania e Exclusão Social
Sumário
Introdução ......................................................................................... 03
Objetivos ........................................................................................................... 04
Estrutura do Conteúdo .................................................................................... 04
Cidadania e Exclusão Social
Tópico 1: Ideologias e Sistemas Econômicos ................................................... 05
Tópico 2: Capitalismo e Exclusão Social ........................................................... 10
Tópico 3: Cidadania ........................................................................................... 13
Tópico 4: O Surgimento do Terceiro Setor ........................................................ 17
 
Resumo ............................................................................................................. 22
Referências Bibliográficas .............................................................................. 23
3Cidadania e Exclusão Social
Seja bem-vindo(a) ao conteúdo “Cidadania e Exclusão Social”.
Neste conteúdo revisitaremos as principais ideologias que alimentaram os sistemas 
econômicos e políticos do mundo.
Analisaremos o liberalismo e sua atual vertente (o neoliberalismo), o socialismo e 
a social democracia, para que possamos entender melhor as diversas relações que se 
estabeleceram entre o Estado, o mercado e a sociedade.
Na Era da Globalização, o capitalismo, alimentado pela ideologia neoliberal, tornou-
se o sistema econômico dominante, porém provocando muitos impactos no fenômeno da 
desigualdade e da exclusão social.
Analisando a evolução do conceito de cidadania, podemos perceber uma série de 
demandas que partem da sociedade e que não são atendidas pelo Estado e tampouco 
pelo mercado. 
É neste contexto que surge o Terceiro Setor na sociedade, no qual a sociedade civil 
organizada terá importante papel, assim como as empresas.
4
Estrutura do Conteúdo
Objetivo
s
Cidadania e Exclusão Social
Esperamos que ao final deste conteúdo 
você seja capaz de:
1. Compreender as principais ideolo-
gias e sistemas políticos e econômicos 
do século XX e da atualidade;
2. Reconhecer a evolução do conceito 
de cidadania, bem como seu significado 
na atualidade;
3. Compreender o contexto de surgi-
mento do Terceiro Setor na sociedade, 
identificando suas principais caracterís-
ticas e agentes. 
Para melhor compreensão do conteúdo, 
este material está dividido de acordo com os 
seguintes tópicos:
1. Ideologias e Sistemas Econômicos
2. Capitalismo e Exclusão Social
3. Cidadania
4. O Surgimento do Terceiro Setor
5Cidadania e Exclusão Social
1. Ideologias e Sistemas Econômicos
Para iniciar, é fundamental destacar que em cada regime político, quais sejam, 
comunismo ou socialismo, capitalismo, social-democracia e neoliberalismo, as diretrizes a 
serem tomadas pelo Estado apresentam diferenças.
Ao longo do século XX, nos países que acompanharam a ordem comunista ou 
socialista, o aparelho estatal exerceu forte controle sobre a ordem política e econômica, 
com pesados investimentos nas áreas educacionais e de saúde. Entretanto, ao longo do 
período da “Guerra Fria”, além do investimento nas áreas sociais, a indústria bélica também 
se desenvolveu bastante.
Segundo Hunt e Sherman (2001), os regimes socialistas ou comunistas basearam-se 
nas proposições de Karl Marx, teórico do século XIX e um dos principais intelectuais a 
criticar os rumos negativos do capitalismo industrial, acusando-o de ser um sistema injusto 
e socialmente desigual. Para Marx, a forma da classe operária se libertar desta dominação 
seria a organização em um movimento revolucionário, que destruiria a ordem capitalista 
e construiria o socialismo, regime no qual os meios de produção econômica (como as 
fábricas, as máquinas e as terras, por exemplo) seria coletivos e toda a economia seria 
controlada e planejada pelo Estado. 
As proposições de Marx foram assimiladas por algumas nações, dentre as quais a 
extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), Cuba, China, dentre outras. 
Entretanto, com a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS, saem de cena os principais 
referenciais do movimento comunista.
Educação Saúde Indústria Bélica
6Cidadania e Exclusão Social
Por outro lado, a social-democracia, segundo Hunt e Sherman (2001), representou uma 
corrente do marxismo que defendia a alternativa de construção de um Estado socialista 
sem a dimensão revolucionária. Sua aposta era na alternativa da democracia, baseada 
no pressuposto da igualdade, e na passagem gradativa, por meio de processos legais e 
democráticos, do modelo capitalista para o socialista.
A ideologia da social democracia se difundiu pela Europa pregando maior justiça social 
dentro do sistema capitalista, ao invés de sua transformação radical, conforme pregavam 
os socialistas. A ideia era a construção de um “Estado de bem-estar social”, baseado 
na forte atuação dos governos para reduzir a pobreza e o desemprego e garantir direitos 
sociais e trabalhistas.
Entretanto, segundo Negrão (1998) na década de 1980, especialmente a partir 
dos governos de Margaret Thatcher (Inglaterra) e Ronald Reagan (Estados Unidos), foi 
estabelecido um acordo denominado “Consenso de Washington”, que definia os princípios 
do neoliberalismo, que se tornaram a principal orientação das políticas adotadas pelos 
governos na Era da Globalização:
Acesse o Recurso Multimídia e conheça melhor as ideias 
deste influente pensador chamado Karl Marx.
Conteúdo On-line
7Cidadania e Exclusão Social
Disciplina fiscal dos governos, que não devem 
gastar mais do que arrecadam;
Liberalização financeira, com o fim de restrições que 
impeçam instituições financeiras internacionais de atuar 
em igualdade de condições com as nacionais;
Eliminação de restrições ao capital externo, tornando a 
economia atraente para o investimento direto estrangeiro;
Liberalização do comércio exterior e redução 
de taxas de importação, com o objetivo de 
impulsionar a globalização econômica;
Redução da legislação de controle do processo 
econômico e das relações trabalhistas.
8Cidadania e Exclusão Social
No Brasil, a ideologia neoliberal mostrou-se influente especialmente a partir da década 
de 1990, quando o Estado privatiza grandes empresas e abre o mercado para a atuação 
do capital transnacional. É uma década considerada marcante para a entrada do país na 
globalização econômica.
É importante esclarecer que a gênese da ideologia neoliberal que domina o processo 
de globalização está no liberalismo clássico do século XVIII, que questionou a legitimidade 
das monarquias absolutas diante das demandas da sociedade. Assim, do ponto de vista 
intelectual, surgia a necessidade de construção de um governo civil, baseado na ideia de 
que a sociedade, devidamente organizada, deveria exercer algum tipo de papel diante do 
Estado.
A ideia de individualismo surge como um forte aliado na construção de uma doutrina 
que pudesse responder aos anseios de uma camada da sociedade que começava a exigir 
representatividade e legitimidade diante do Estado monárquico:
Quase dois séculos depois, 
no final do século XVIII, a 
Revolução Francesa significou 
uma das maiores vitórias da 
classe burguesa.
Em seguida, a Inglaterra 
promoveu a primeira revolução 
industrial.
Nesse contexto, a doutrina liberal assumiria um papel de protagonismo nas políticas 
que foram impulsionadas pelos governos dos países industrializados, na Europa do século 
XIX.
Ao final do século XIX, essa estrutura deu seus primeiros sinais de declínio, com a 
crise de superproduçãoe a necessidade de encontrar novos mercados consumidores. 
Como resultado, as empresas começaram a buscar novas formas de enfretamento da 
crise.
9Cidadania e Exclusão Social
Entretanto, nenhum dos estilos de regime, nem o 
capitalismo nem o comunismo, conseguiu de fato enfrentar 
a chamada “questão social”.
É fato que o capitalismo, do ponto de vista ideológico, é o que mais se encaixa nos 
anseios das sociedades de consumo. Ele está justamente baseado na ideia do consumo 
e da satisfação das necessidades pessoais, de acordo com aquilo que o mundo do capital 
é capaz de oferecer.
O capitalismo, embora tenha sua base na desigualdade social, permanece no bojo da 
dinâmica social e é o sistema econômico dominante na ordem global.
Atualmente, até mesmo em países que se definem comunistas, como China e Cuba, é 
possível constatar a entrada de empresas, marcas e outros ícones típicos das sociedades 
capitalistas.
Diante dessa crise, o capitalismo industrial promoveu algumas mudanças, como a 
inserção de um modelo corporativo (atribuindo ao Estado maior força e intervenção nas 
questões econômicas).
Por algum tempo, esse modelo foi assimilado. No início do século XX, outros eventos 
colocaram em cheque o poder do capitalismo.
Dois acontecimentos fizeram estremecer a hegemonia do capitalismo industrial 
instaurando, pela primeira vez, uma nação dentro de moldes socialistas:
• a Primeira Guerra Mundial (1914 — 1917)
• a Revolução Russa em 1917
Entre o final dos anos 1930 e início de 1940, a Segunda Guerra Mundial redefiniu as 
esferas de poder ao dividir o mundo em dois blocos: o socialista e o capitalista.
10Cidadania e Exclusão Social
2. Capitalismo e Exclusão Social
O capitalismo, na condição de construção histórica, constitui-se na manutenção da 
desigualdade social, pois para que ele possa realizar sua expansão, é necessário que 
exista, de fato, acumulação de capital. Em outras palavras, é preciso que exista, na 
estrutura social, uma camada da sociedade destinada ao trabalho, sem acesso à todos os 
bens de capital e cultural oferecidos pelo sistema. Por outro lado, é necessário que seja 
mantida uma determinada parcela da população detentora do lucro.
O capitalismo leva a uma série de processos de exclusão social.
Segundo Popay (2008), a exclusão social é caracterizada por acessos desiguais aos 
recursos, capacidades e direitos que produzem iniquidades. Resulta em processos de 
vulnerabilidade, fragilização ou precariedade e até de ruptura dos vínculos sociais nas 
seguintes dimensões: ocupacionais e de renda; familiares e sociais; culturais; políticas ou 
de direitos de cidadania.
Processos excludentes geram uma distribuição desigual de recursos e impedem que 
certos grupos possam desfrutar ou ir além das necessidades básicas de convivência em 
uma sociedade diversa e participativa e em um meio ambiente sustentável.
A exclusão social tornou-se visível e contundente na sociedade a partir de fenômenos 
como a população de rua e a violência urbana (NASCIMENTO, 1993).
11Cidadania e Exclusão Social
Véras (2001) observa muito bem algumas das consequências desta exclusão social. 
As condições desfavoráveis de tais contingentes contribuíram para gerar sentimentos 
de hostilidade, desconfiança e medo por parte de outros segmentos da sociedade gerando 
demandas que fizeram proliferar os serviços voltados para a segurança e para a repressão.
Consequentemente, as energias são canalizadas não para a resolução das graves 
questões sociais fomentadas pela exclusão, mas sim, para implantar medidas paliativas, 
voltadas para a tentativa de conter os efeitos perversos da exclusão. 
A proliferação de loteamentos e condomínios fechados e shopping centers, todos 
rigorosamente vigiados e com controle de acesso, representam muito bem essa dinâmica.
A maior parte dos processos de exclusão social está relacionada com as condições 
econômicas dos grupos, e se fazem mais presentes em situações de intensa pobreza e 
desigualdade social. 
Porém, a exclusão social pode se desenvolver fora do âmbito da pobreza, atingindo 
grupos minoritários que não têm acesso a certos direitos. Durante muito tempo, por 
exemplo, os casais homossexuais estiveram excluídos do direito de constituir união estável 
e de transmitir sua herança para os companheiros.
12Cidadania e Exclusão Social
No sistema capitalista, ideologicamente falando, os detentores do capital econômico e 
cultural formulam as diretrizes a serem assimiladas pelas demais camadas da sociedade. 
Alguns autores irão dizer que, por este motivo, o capitalismo consegue, ao longo do tempo, 
sair de suas crises cíclicas, pois tem um grande poder de se moldar à dinâmica política, 
econômica e social (HUNT; SHERMAN, 2001).
O capitalismo é capaz de criar inúmeras alternativas, entre as quais, notam-se os 
processos de reforma constante do Estado e sua adequação à ordem econômica, como, 
por exemplo, no processo de globalização da economia.
Um bom exemplo são as políticas sociais, típicas das 
sociedades capitalistas, cujo principal objetivo é minimizar 
a questão social (desemprego, índices altos de pobreza, 
insuficiência dos serviços de saúde, habitação e educação, 
entre outros).
13Cidadania e Exclusão Social
3. Cidadania
No sentido etimológico, a palavra cidadania deriva da palavra civita, que em latim 
significa cidade. No Império Romano, contudo, os plebeus, apesar de livres, não eram 
considerados cidadãos, pois apenas os patrícios podiam usufruir dos direitos civis, políticos 
e religiosos.
O termo tem o seu correlato grego na palavra politikos — aquele que habita na cidade. 
Porém, na Grécia Antiga, era considerado cidadão apenas aquele que podia deliberar 
sobre as questões da cidade (polis). Além disso, este homem deveria possuir determinadas 
condições para ser considerado cidadão, como ser livre e não precisar exercer qualquer 
tipo de trabalho para sobreviver.
Os demais membros daquela 
sociedade (mulheres, crianças, 
estrangeiros e indivíduos que 
exerciam algum tipo de trabalho) não 
possuíam o status de cidadão grego.
O feudalismo, na condição de estrutura política que mediava as relações sociais, 
tinha como característica fundamental a dependência pessoal entre senhores e vassalos. 
Por este motivo, a dimensão da cidadania se perdeu ao longo da Idade Média, uma vez 
que a relação de dependência pessoal, na qualidade de condição fundamental daquela 
sociedade, não permitia a ideia de exercício pleno de cidadania, nem mesmo entre aqueles 
que, de alguma forma, ocupavam status privilegiado.
14Cidadania e Exclusão Social
Em meados do século XIV, a estrutura 
feudal começou a apresentar indícios de 
crise. As inúmeras guerras, a peste negra 
e a dificuldade do clero para manter a 
ordem social, levaram a nobreza (na figura 
do Rei) a fazer parte efetiva do corpo 
Estatal.
Na transição entre os séculos XV e XVI, o declínio do feudalismo era irreversível 
e a nobreza assumiu o poder político. Este período, conhecido como Estado Moderno, 
apresentou a dinâmica social, política e econômica (Mercantilismo), baseada no poder do 
Rei (monarquias absolutas) e na necessidade de fazer comércio e acumular riquezas no 
seu território.
As monarquias absolutas, devidamente organizadas, exerciam o poder sobre os demais 
membros da sociedade. Entretanto, uma série de incoerências na atuação das monarquias 
desencadeou o surgimento de intelectuais (entre os quais, Jean-Jacques Rousseau, Barão 
de Montesquieu, Didero e Volteire), que discutiam e defendiam um governo em moldes 
democráticos, a igualdade, a participação popular, a defesa dos direitos do homem e a 
divisão do poder político em três instâncias (Executivo, Legislativo e Judiciário).
As lutas que se estabeleceram a partir deste período culminaram na Independência 
dos EUA (1775 — 1783) e na Revolução Francesa(1789). A partir destes eventos, a 
organização política e social deixa de se basear nos deveres dos súditos e passou a se 
basear nos direitos e deveres dos cidadãos, passando a significar:
Participação integral do indivíduo em uma comunidade 
política, que lhe confere um conjunto de direitos e de deveres.
15Cidadania e Exclusão Social
Em sua concepção moderna, a cidadania associa-se estreitamente à democracia, pois 
depende da capacidade de participar da vida política de uma nação. Embora submetido a 
uma autoridade política, o cidadão é aquele que participa na formação dessa autoridade 
(MARSHALL, 1967).
Só é cidadão o indivíduo que tem um vínculo jurídico com o Estado, sendo portador de 
direitos e deveres fixados em uma estrutura legal (como uma Constituição, por exemplo) 
que lhe concede também uma nacionalidade.
Acesse o Recurso Multimídia e veja uma interatividade 
sobre a cidadania e suas três categorias básicas de direitos. 
Conteúdo On-line
No caso da América Latina, a discussão 
sobre cidadania e exclusão social apresenta 
algumas diferenças. Ao longo do século XIX, 
a maioria dos países estava em processo 
de independência e de construção de seus 
Estados.
No caso do Brasil, a busca pela 
cidadania foi marcada por vários embates 
ao longo de todo período colonial e do 
Império. Entretanto, somente no século XX 
as discussões sobre cidadania e o problema 
da exclusão social tornaram-se um tema de 
grande relevância.
16Cidadania e Exclusão Social
Após a proclamação da República, em 1889, a discussão sobre os rumos da sociedade 
foram intensos.
• Indagou-se de que forma a liberdade e o exercício da cidadania poderia ser 
construído, uma vez que a sociedade brasileira, recém saída do regime escravocrata, 
não apresentava uma população devidamente instruída para esta finalidade.
• Os altos índices de pobreza e analfabetismo, ambos resquícios do processo de 
colonização baseado na exploração e na escravidão, dificultavam a formação de 
uma sociedade apta para a cidadania e resolução dos problemas sociais.
No Brasil, o uso do termo cidadania apareceu pela primeira vez na Constituição 
Imperial de 1824 e, em seguida, na primeira Constituição Republicana de 1891. Entretanto, 
o termo estava vinculado à ideia de nacionalidade (aqueles que exercem direitos políticos) 
e naturalidade (os que nasceram no território).
Nas constituições posteriores, o termo se afirmou e, ao longo do século XX, foi 
amplamente debatido, e seus resultados estão expressos na formulação do código civil, 
apresentando os direitos e deveres do cidadão.
Também, ao longo do século XX, a exclusão social apresentou-se como uma 
preocupação, tanto intelectual como para as diretrizes a serem tomadas pelo Estado.
É fato que todo país subdesenvolvido ou em desenvolvimento, como o Brasil, encontra 
pelo caminho inúmeros fatores que impedem a resolução dos graves problemas sociais.
De meados do século XX em diante, os índices de pobreza, desemprego, ausência 
de um amplo programa de saúde e educação, má distribuição de renda, entre outros, 
deixaram, aos poucos, de ser preocupação apenas do Estado.
17Cidadania e Exclusão Social
Como podemos perceber, existem muitos problemas relacionados à cidadania no 
Brasil. Observe o texto de Saraiva (2006) e faça sua reflexões sobre o assunto:
Segundo Saraiva (2006), nunca houve uma cidadania 
genuinamente democrática no país que pudesse assegurar o 
amplo acesso de todas as camadas à justiça, à segurança, à 
distribuição de renda, à estrutura agrária, à educação, à saúde, 
à habitação etc. A cidadania no Brasil permaneceu parcial, 
desequilibrada, excludente. A mera existência formal de direitos 
em uma Constituição não foi capaz de garantir o seu exercício 
efetivo na vida cotidiana da população”.
Importante
4. O Surgimento do Terceiro Setor
Uma das principais questões que colocam em risco os regimes políticos e as relações 
entre Estado, sociedade e mercados é o fato de que a questão social continua sendo um 
dos principais problemas a serem enfrentados.
As grandes transformações sociais ocorridas a partir da segunda metade do século 
XX provocaram novos padrões de desenvolvimento na sociedade, com o surgimento de 
novos agentes econômicos, novas tecnologias de informação e comunicação e novos 
modelos de gestão das organizações. 
Entretanto, o agravamento de problemas sociais e ambientais representou a outra face 
desse mesmo contexto de desenvolvimento, marcado também por fenômenos como o 
desemprego, a exclusão social, a violência, os conflitos étnicos e religiosos e a degradação 
ambiental.
A exclusão social e a busca pelo exercício da cidadania não é apenas obrigação 
do Estado. Na atualidade, a sociedade civil, devidamente organizada, também atua no 
sentido de buscar alternativas para minimizar os problemas sociais.
18Cidadania e Exclusão Social
Este é o contexto que faz surgir e crescer o chamado Terceiro Setor na sociedade. 
Segundo Saraiva (2006), sua função é, basicamente, preencher uma lacuna cada vez 
maior entre o que os cidadãos demandam e o que é oferecido pelo Estado.
Pressionado a ser cada vez menor, o Estado deixa de realizar muito daquilo que já foi 
considerado como seu papel essencial. Setores tais como habitação, educação e saúde 
foram, em grande parte, transferidos para o domínio do mercado, cabendo ao Estado a 
função de regular a prestação de serviços àquela parte da população que pode pagar por 
eles. Evidentemente, essa condição de pagamento por tais serviços exclui uma parcela 
significativa da população, surgindo aí a lacuna a que se refere Saraiva (2006).
O Terceiro Setor é composto por organizações privadas (que não fazem parte do 
aparato estatal) e voluntárias (que podem ser constituídas livremente por qualquer grupo de 
pessoas), sem fins lucrativos e que reúnem recursos particulares em defesa de interesses 
coletivos.
Diferencia-se do primeiro setor (composto pelas organizações estatais) porque, 
embora seja um mecanismo social público que atua no interesse da sociedade, é composto 
por organizações não estatais.
Acesse o Recurso Multimídia e veja mais algumas 
informações sobre o terceiro setor.
Conteúdo On-line
19Cidadania e Exclusão Social
Entretanto, outros estudos questionam a transferência de funções públicas para o 
Terceiro Setor, apontando os pontos que seriam negativos (SARAIVA, 2006):
• A capacidade de a sociedade civil combater determinados problemas sociais seria 
limitada, não podendo ser equiparada aos recursos institucionais do Estado, muito 
mais abrangentes.
Com um crescimento expressivo, o Terceiro Setor recebeu considerável atenção da 
mídia e de estudos acadêmicos. Alguns debates muito importantes sobre o significado 
deste setor na sociedade ocorreram.
Por um lado, existem aqueles que acham que a atuação da sociedade civil organizada 
no Terceiro Setor tem muitos aspectos positivos (CAMARGO, 2001):
Promove entre todos 
hábitos de cooperação, 
solidariedade e espírito 
público, fortalecendo 
a cultura cívica, em 
que cada um se 
sente responsável 
pelo coletivo.
Compensaria muito 
bem as deficiências do 
Estado no combate aos 
problemas sociais.
Estimula o fim do 
paternalismo, o que 
compete à sociedade 
apenas esperar pelas 
resoluções do governo, 
sem que seja necessário 
nenhuma postura proativa 
em relação a eles.
Compensaria muito 
bem as deficiências do 
Estado no combate aos 
problemas sociais.
Promove entre todos 
hábitos de cooperação, 
solidariedade e espírito 
público, fortalecendo 
a cultura cívica, em 
que cada um se 
sente responsável 
pelo coletivo.
20Cidadania e Exclusão Social
• O envolvimento das empresas no terceiro setor, especialmente por meio de 
fundações, está associado a estratégias mercadológicas e de publicidade, algumas 
vezesexplícita, significando que o esforço dessas empresas está voltado somente 
para o reconhecimento público que podem obter com ações sociais.
E você, o que pensa a respeito? Reflita sobre os lados positivos e negativos do 
Terceiro Setor.
A evolução do conceito de cidadania 
atinge não apenas os indivíduos, mas 
também organizações, gerando a ideia de 
cidadania empresarial.
Segundo Rodhen (1996), empresa-
cidadã é “aquela que não foge aos 
compromissos de trabalhar para a melhoria 
da qualidade de vida de toda a sociedade”.
No estágio de empresa-cidadã, a 
organização passa a agir na transformação 
do ambiente social. A empresa não se 
atém apenas aos resultados financeiros, 
mas busca avaliar a sua contribuição à 
sociedade e se posiciona de forma proativa 
no enfrentamento das questões sociais e 
ambientais.
21Cidadania e Exclusão Social
Segundo Lemos (2012), as empresas atuam de diversas maneiras no Terceiro Setor, 
dentre as quais se destacam:
• Realizando investimentos privados em Fundações próprias, que funcionam como seu 
“braço social” executando projetos em benefício da sociedade ou do meio ambiente.
• Realizando investimentos privados em parceria com ONGs que executam os projetos 
socioambientais.
Segundo o Censo GIFE 2011-2012, os investimentos sociais de origem empresarial 
alcançam um aporte anual de R$ 2,2 bilhões, com grande destaque para a área de 
educação.
Acesse o Recurso Multimídia e consulte os resultados do 
Censo GIFE e conheça melhor a realidade dos investimentos 
sociais privados no Brasil.
Conteúdo On-line
22Cidadania e Exclusão Social
Neste conteúdo, estudamos que o panorama histórico que os regimes políticos 
apresenta é de suma importância para enriquecer os discursos sobre os rumos das 
relações entre Estado e Sociedade. Se por um lado o socialismo, seja como doutrina ou 
regime político, entrou em colapso no final dos anos 1980, o capitalismo, por outro lado, 
conseguiu sobreviver aos seus vários momentos de crise.
Vimos também que pensar a cidadania e exclusão social não é algo recente. A 
construção da cidadania e o combate aos inúmeros problemas provocados pela exclusão 
social, embora tema de discussão intensa nos dias de hoje, especialmente nos países em 
desenvolvimento como o Brasil, está longe de uma resolução. 
Por fim, observamos que a sociedade civil, devidamente organizada através das 
ONGs e de organizações privadas, embora tentem estabelecer iniciativas para a resolução 
dessas questões, ainda há um longo caminho a ser percorrido.
23Cidadania e Exclusão Social
CAMARGO, M. F. et al. Gestão do Terceiro Setor no Brasil: Estratégias de Captação de 
Recursos para Organizações sem Fins Lucrativos. São Paulo: Futura, 2001.
IBGE. As Fundações Privadas e Associações Sem Fins Lucrativos no Brasil — 2010. 
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/Home/Estatistica/Economia/Fasfil/2010/
HUNT, E. K; SHERMAN, H. J. História do Pensamento Econômico. Vozes: Petrópolis, 
2001.
LEMOS, Haroldo. Responsabilidade Socioambiental. Rio de Janeiro, FGV, 2013.
MARSHALL, T. H. Cidadania, Classe Social e Status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 
1967.
NASCIMENTO, E.p. Exclusão Social no Brasil: As Múltiplas Dimensões do Fenômeno. 
Série Sociológica, Brasília: Unb, 1993.
NEGRÃO, João José. Para Conhecer o Neoliberalismo. Editora, Publisher Brasil, 1998.
POPAY, J. Understanding and Tackling Social Exclusion. Final Report to The Who 
Commission on Social Determinants of Health From The Social Exclusion Knowledge 
Network, 2008.
PIMENTA, Maria Letícia. Terceiro Setor, Estado e Cidadania: Reconstrução de um 
Espaço Político. In: Terceiro Setor: Dilemas e Polêmicas. São Paulo: Saraiva, 2006. 
ROHDEN, Fabíola. Filantropia Empresarial: A Emergência de Novos Conceitos e 
Práticas. Anais do Seminário Empresa Social. São Paulo, Set. 1996.
SARAIVA, Luiz Alex. Além do Senso Comum Sobre o Terceiro Setor: Uma Provocação. 
In: Terceiro Setor: Dilemas e Polêmicas. São Paulo: Saraiva, 2006. 
VÉRAS, M. P. B. (Ed.) Por Uma Sociologia da Exclusão Social: O Debate com Serge 
Paugam. São Paulo: Educ, 1999.

Continue navegando