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SUMARIO PROCESSUAL PENAL SINOSPE LEONARDO MORREIRA

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C A P Í T U L O I
SUJEITOS NO 
PROCESSO PENAL
Sumário • 1. Noções gerais – 2. Juiz: 2.1. Breves noções; 2.2. 
O papel do juiz moderno; 2.3. O princípio da identidade físi-
ca do juiz (art. 399, § 2º, CPP); 2.4. Regularidade do proces-
so e princípio do impulso oficial (art. 251 CPP); 2.5. Causas 
de impedimento da atuação do juiz (arts. 252 e 253 CPP); 
2.6. Causas de suspeição da atuação do juiz (art. 254 CPP); 
2.7. Cessação e manutenção do impedimento ou suspeição 
(art. 255 CPP); 2.8. Criação proposital de animosidade por 
má-fé (art. 256 CPP); 2.9. A incompatibilidade do juiz (art. 
112 CPP) – 3. Ministério público: 3.1. O ministério público 
como parte imparcial ou formal na relação processual (art. 
257 CPP); 3.2. Impedimento e suspeição do membro do mi-
nistério público (art. 258 CPP); 3.3. Princípio do promotor 
natural e imparcial ou promotor legal – 4. Acusado: 4.1. O 
acusado como parte na relação processual (art. 259 CPP); 
4.2. Condução coercitIva do réu (art. 260 CPP); 4.3 Indispo-
nibilidade do direito de defesa (art. 261 CPP) – 5. Curador 
(art. 262 CPP) – 6. Defensor: 6.1. A nomeação do defensor 
(arts. 263 e 264 CPP); 6.2. Afastamento e ausência da causa 
(art. 265 CPP); 6.3. Constituição do defensor e impedimento 
(arts. 266 e 267 CPP) – 7. Assistente de acusação – 8. Funcio-
nários da justiça: 8.1. Denominação; 8.2. Suspeição (art. 274 
CPP) – 9. Peritos e intérpretes: 9.1. Perito (arts. 275 a 280 
CPP); 9.2. Intérprete (art. 281 CPP)
1. NOÇÕES GERAIS
Dentre tantas e inúmeras teorias que procuram justificar a natu-
reza jurídica do processo, a doutrina majoritária, na atualidade, vem 
adotando aquela preconizada pelo jurista alemão Oskar Von Bülow, 
em 1868, em sua obra clássica “A teoria das exceções processuais e 
os pressupostos processuais”, segundo a qual o processo pode ser 
definido como uma relação jurídica, relação esta caracterizada como 
autônoma (independente do Direito Penal, embora tenha como um 
dos seus escopos a sua aplicação), abstrata (está à disposição de 
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LEONARDO BARRETO MOREIRA ALVES
todos, mesmo que não exercida em concreto), de direito público 
(ela é exercida contra o Estado) e estabelecida de forma angular e 
equidistante entre o juiz e as partes (as partes, que se encontram na 
base da pirâmide da relação jurídica processual, exigem do Estado-
-juiz, no topo de tal pirâmide, o provimento jurisdicional). 
PROCESSO
É relação jurídica autônoma, 
abstrata, de direito público, 
angular e equidistante.
Na relação jurídica processual penal, além do juiz e das partes 
– ativa (Ministério Público ou querelante) e passiva (acusado) –, diver-
sos outros agentes atuam no feito à medida que ele se desenvolve, a 
exemplo do assistente de acusação, dos auxiliares da Justiça etc. Nesse 
trilhar, todos os participantes do processo penal são conhecidos pelo 
termo genérico “sujeitos no processo penal”, os quais passam a ser 
estudados nos tópicos seguintes.
2. JUIZ
2.1. Breves noções 
O juiz é o representante do Estado que possui o poder da jurisdi-
ção de aplicar o direito ao caso concreto. Na relação jurídica processual 
(angular), o juiz se encontra acima das partes, no sentido de que, por 
ser o responsável pelo julgamento das lides penais, deve atuar sempre 
com imparcialidade, não dando preferência, a priori, nem à acusação, 
nem à defesa (equidistância entre as partes).
Nesse cenário, a Constituição Federal, no seu artigo 95, caput, es-
tipula determinadas garantias aos magistrados como forma de lhes 
permitir o cumprimento deste dever de imparcialidade. As garantias 
são as seguintes: I – vitaliciedade, que, no, primeiro grau, só será 
adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do car-
go, nesse período, de deliberação do Tribunal a que o juiz estiver 
vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em 
julgado; II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, 
na forma do artigo 93, VIII, CF; III – irredutibilidade de subsídio, res-
salvado o disposto nos artigos 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 
153, § 2º, I, CF.
De outro lado, a Carta Magna Federal, no seu artigo 95, parágrafo 
único, também elenca certas vedações aos juízes, no exercício de 
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SUJEITOS NO PROCESSO PENAL
suas funções: I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo 
ou função, salvo uma de magistério; II – receber, a qualquer título 
ou pretexto, custas ou participação em processo; III – dedicar-se à 
atividade político-partidária; IV – receber, a qualquer título ou pre-
texto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas 
ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; V – exercer 
a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de de-
corridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou 
exoneração.
2.2. O papel do juiz moderno 
No Estado Democrático de Direito, em que, no processo penal, 
prevalece o sistema acusatório, não deve, em regra, o juiz se en-
volver com a atividade de produção de provas, a qual deve ficar 
a cargo das partes. Assim, o seu papel moderno deve cingir-se ao 
julgamento da causa com imparcialidade e à tutela dos direitos fun-
damentais dos agentes envolvidos no processo penal, notadamente 
do acusado. 
► Qual o entendimento do STF sobre o assunto?
 O STF, no julgamento da ADIN nº 1.570-2, decidiu pela inconstitucionalidade 
do art. 3º da Lei nº 9.034/95 (no que se refere aos dados “fiscais” e “elei-
torais”), que previa a figura do juiz inquisidor, juiz que poderia adotar 
direta e pessoalmente as diligências previstas no art. 2º, inciso III, do mes-
mo diploma legal (“o acesso a dados, documentos e informações fiscais, 
bancárias, financeiras e eleitorais”).
Excepcionalmente, porém, a lei pode conferir ao magistrado pode-
res de iniciativa probatória, principalmente se a atuação deste agente 
estatal visa resguardar outros princípios do processo penal, em espe-
cial o princípio da busca da verdade real. 
É o que ocorre com o art. 156, incisos I e II, do CPP, com a redação 
dada pela Lei nº 11.690/08, segundo o qual é facultado ao juiz de ofício 
“ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção ante-
cipada de provas consideradas urgentes e relevantes, observando a 
necessidade, adequação e proporcionalidade da medida” (inciso I), 
bem como “determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir 
sentença, a realização de diligências para dirimir dúvida sobre ponto 
relevante” (inciso II).
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LEONARDO BARRETO MOREIRA ALVES
2.3. O princípio da identidade física do juiz (art. 399, § 2º, CPP) 
O princípio da identidade física do juiz consiste no fato de que o 
juiz que preside a instrução do processo, colhendo as provas, deve ser 
aquele que julgará o feito, vinculando-se à causa (NUCCI, 2008, p. 108). É 
novidade do processo penal (existia apenas no processo civil), estando 
consagrado atualmente no art. 399, § 2º, CPP, com a redação dada pela 
Lei nº 11.719/08.
As exceções ao princípio da identidade física do juiz previstas no 
art. 132, caput, do Código de Processo Civil (se o juiz estiver convocado, 
licenciado, afastado por qualquer motivo, promovido ou aposentado) 
são aplicadas, por analogia, ao processo penal (casos em que o juiz 
passará os autos ao seu sucessor), conforme posicionamento do STJ 
(Informativo nº 461).
► Aplicação em concurso público: 
No concurso de Analista Judiciário do STM, promovido pelo Cespe/Unb, em 
2011, questionou-se justamente sobre a previsão do princípio da identi-
dade física do juiz no Processo Penal, nesses termos: “O processo penal 
brasileiro não adota o princípio da identidade física do juiz em face da com-
plexidade dos atos processuais e da longa duração dos procedimentos, o que 
inviabiliza a vinculação do juiz que presidiu a instrução à prolação da senten-
ça.”. A assertiva foi considerada
incorreta.
2.4. Regularidade do processo e princípio do impulso oficial (art. 
251 CPP) 
Tem o juiz o dever de estabelecer a regularidade do processo. Para 
tanto, uma vez iniciada a ação penal, deve conduzir o desenvolvimento 
de atos processuais, até o final da instrução, quando será proferida 
sentença. Como atributo desta função, ele possui poder de polícia na 
condução do processo, podendo se valer, se necessário for, de força 
policial. 
Outro dever do juiz é determinar o prosseguimento do feito, o que 
se relaciona com a regularidade do processo: é o impulso oficial. O juiz 
é inerte apenas quanto à postulação (daí porque não é parte), mas 
deve dar marcha ao processo para que, chegando à sua fase final, ele 
possa sentenciar.
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SUJEITOS NO PROCESSO PENAL
2.5. Causas de impedimento da atuação do juiz (arts. 252 e 253 CPP) 
Entende-se que o juiz exerce, na prática, a jurisdição, que é o 
poder soberano do Estado de dizer o Direito no caso concreto. Entre-
tanto, há causas taxativamente previstas no art. 252 do CPP (posição 
do STF, Informativos números 585 e 601) em que o juiz está impedido 
de exercer a sua jurisdição. 
Assim, o juiz não poderá exercer jurisdição no processo em que: 
I - tiver funcionado seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, 
em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive, como defen-
sor ou advogado, órgão do Ministério Público, autoridade policial, 
auxiliar da justiça ou perito; II - ele próprio houver desempenha-
do qualquer dessas funções ou servido como testemunha; III - tiver 
funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato 
ou de direito, sobre a questão; IV - ele próprio ou seu cônjuge ou 
parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o ter-
ceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito. 
Há de se lembrar que, por interpretação extensiva, sempre que o 
CPP, neste dispositivo, se refere ao cônjuge quer também se referir 
ao companheiro.
Todas essas hipóteses são objetivas, no sentido de que envol-
vem um vínculo entre o juiz e o objeto do litígio. Além disso, em 
tais situações, presume-se, de forma absoluta (juris et de jure), a 
parcialidade do juiz, daí porque é vedada de forma peremptória 
a sua atuação naquele determinado processo. Se houver a atuação 
deste magistrado, o ato por ele praticado estará eivado de nulidade 
absoluta.
Complementando a regra estatuída pelo art. 252 do CPP, o art. 
253 ainda assinala que “Nos juízos coletivos, não poderão servir no 
mesmo processo os juízes que forem entre si parentes, consanguíne-
os ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro grau, inclusive”.
2.6. Causas de suspeição da atuação do juiz (art. 254 CPP) 
Nas situações previstas no art. 254 do CPP, em um rol não taxativo, 
há um vício externo que igualmente veda a atuação do juiz naque-
le determinado processo. Nessas situações, há presunção relativa de 
parcialidade do juiz (juris tantum), motivo pelo qual ele deve se 
declarar suspeito e, se não o fizer, as partes poderão recusá-lo, 
oferecendo a exceção de suspeição (artigos 95 e seguintes do CPP). 
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LEONARDO BARRETO MOREIRA ALVES
Se o juiz acabar atuando nesse processo, o ato por ele praticado 
estará eivado de nulidade relativa, nos termos do artigo 564, inciso 
I, do CPP.
Consoante o art. 254 do CPP, o juiz será considerado suspeito: 
I - se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; II - se 
ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver responden-
do a processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja 
controvérsia; III - se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou 
afim, até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou respon-
der a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; 
IV – se tiver aconselhado qualquer das partes; V - se for credor ou 
devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes; VI - se for sócio, 
acionista ou administrador de sociedade interessada no processo. 
Há de se lembrar que, por interpretação extensiva, sempre que o 
CPP, neste dispositivo, se refere ao cônjuge quer também se referir 
ao companheiro.
Como já afirmado alhures, em todas essas situações há um vício 
externo, no sentido de que elas envolvem um vínculo estabelecido 
entre o juiz e a parte ou entre o juiz e a questão discutida no feito 
(NUCCI, 2008, p. 541).
IMPEDIMENTO DO JUIZ SUSPEIÇÃO DO JUIZ
As causas de impedimento da atuação 
do juiz no processo penal estão previs-
tas taxativamente no art. 252 do CPP.
As causas de suspeição da atuação do 
juiz no processo penal estão previstas 
no rol não taxativo do art. 254 do CPP.
As hipóteses de impedimento são objeti-
vas, existindo um vínculo entre o juiz e o 
objeto do litígio.
O vício é externo, existindo vínculo entre 
o juiz e a parte ou entre o juiz e a ques-
tão discutida no feito. 
Presume-se, de forma absoluta (juris 
et de jure), a parcialidade do juiz, daí 
porque é vedada de forma peremptó-
ria a sua atuação naquele determinado 
processo.
Presume-se, de forma relativa (juris 
tantum), a parcialidade do juiz, daí por-
que ele deve se declarar suspeito e, se 
não o fizer, as partes poderão recusá-
-lo, oferecendo a exceção de suspeição 
(artigos 95 e seguintes do CPP).
A atuação de juiz impedido provoca a 
nulidade absoluta do ato processual por 
ele praticado.
A atuação de juiz suspeito provoca a 
nulidade relativa do ato processual por 
ele praticado.
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SUJEITOS NO PROCESSO PENAL
► Aplicação em concurso público: 
No XXIV concurso do Ministério Público Federal/Procurador da República, 
questionou-se acerca de hipótese de suspeição do juiz, da seguinte for-
ma: “PEDRO, ADVOGADO DE DEFESA REITERADAMENTE ENVOLVIDO EM CONFLITOS 
PESSOAIS NO FORO, PROVOCOU SÉRIA DISCUSSÃO COM O JUIZ DURANTE O INTER-
ROGATÓRIO DE SEU CONSTITUINTE, OFENDENDO O MAGISTRADO E, QUASE CHE-
GANDO ÀS VIAS DE FATO, ENSEJANDO INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA 
CONTER OS CONTENDENTES, APÓS, O JUIZ REPRESENTOU À OAB. NO CURSO DO 
PROCESSO, O JUIZ PASSOU A INDEFERIR SISTEMATICAMENTE TODAS AS DILIGÊNCIAS 
REQUERIDAS POR PEDRO. PEDRO OPÔS EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO, ALEGANDO INIMI-
ZADE CAPITAL COM O MAGISTRADO. O JUIZ NÃO ACEITOU A SUSPEIÇÃO E REMETEU 
OS AUTOS AO TRIBUNAL (ART. 100 DO CPP). O TRIBUNAL, AO JULGAR A EXCEÇÃO: 
a) Deverá acolhê-la, por não ostentar o juiz isenção no processo. b) Deverá 
rejeitá-la, porque o advogado provocou a inimizade e por ser esta posterior 
ao início do processo, mas deverá impor ao juiz que se julgue impedido. c) 
Deverá acolhê-la, porque o juiz, ao demonstrar profunda hostilidade ao ad-
vogado, trata a parte como inimiga. d) Deverá rejeitá-la, porque a simples 
antipatia do juiz pelo advogado não dá ensejo à suspeição.”. A assertiva 
correta foi a de letra D.
2.7. Cessação e manutenção do impedimento ou suspeição (art. 
255 CPP) 
Nos termos do art. 255 do CPP, o impedimento ou suspeição decor-
rente de parentesco por afinidade cessará pela dissolução do casa-
mento (o que envolve apenas o divórcio, a morte de um dos cônjuges 
e a anulação do casamento, não a separação judicial, quando ainda 
existente no ordenamento jurídico) que lhe tiver dado causa, salvo so-
brevindo descendentes; mas, ainda que dissolvido o casamento sem 
descendentes, não funcionará como juiz o sogro, o padrasto, o cunha-
do, o genro ou enteado de quem for parte no processo.
2.8. Criação proposital de animosidade por má-fé (art. 256 CPP) 
Segundo o art. 256 do CPP, a suspeição não poderá ser declarada 
nem reconhecida, quando a parte injuriar o juiz ou de propósito der 
motivo para criá-la. Este dispositivo legal visa rechaçar a malícia e a 
má-fé da parte, afinal de contas ninguém pode se beneficiar da própria 
torpeza.
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LEONARDO BARRETO MOREIRA ALVES
2.9. A incompatibilidade do juiz (art. 112 CPP) 
A incompatibilidade não
se confunde com a suspeição e com 
o impedimento do juiz. Nos dizeres de Marcellus Polastri Lima, 
“enquanto a suspeição advém do vínculo ou relação do juiz com 
as partes do processo, o impedimento revela o interesse do juiz 
em relação ao objeto da demanda, e a incompatibilidade, via de 
regra, encontra guarida nas Leis de Organização Judiciária, e suas 
causas estão amparadas em razões de conveniência” (LIMA, 2009, 
p. 318). 
Em reforço, Eugênio Pacelli de Oliveira leciona que enquanto 
“os casos de suspeição e de impedimento têm previsão expres-
sa no Código de Processo Penal, as incompatibilidades previstas 
no art. 112 do CPP compreenderão todas as demais situações que 
possam interferir na imparcialidade do julgador e que não estejam 
arroladas entre as hipóteses de uma e outra. É o que ocorre, por 
exemplo, em relação às razões de foro íntimo, não previstas na 
casuística da lei, mas suficientes para afetar a imparcialidade do 
julgador” (OLIVEIRA, 2008, p. 260). Relembre-se que as causas de 
impedimento estão previstas no art. 252 do CPP e as de suspeição 
no art. 254 do CPP.
A respeito da incompatibilidade e do impedimento, o art. 112 
do CPP assevera que o juiz, o órgão do Ministério Público, os ser-
ventuários ou funcionários de justiça e os peritos ou intérpretes 
têm o dever de declarar a sua incompatibilidade ou impedimento 
legal, abstendo-se de servir no processo. Porém, se não se der a 
abstenção por aqueles sujeitos, a incompatibilidade ou o impedi-
mento poderá ser arguido pelas partes, seguindo-se o processo 
conforme o procedimento previsto para a exceção de suspeição.
Saliente-se ainda que, contra a decisão judicial que não reco-
nhece a incompatibilidade ou o impedimento, não há recurso pre-
visto em lei, podendo ser oferecido, porém, o habeas corpus ou o 
mandado de segurança em matéria criminal, a depender do direito 
que esteja em jogo.
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SUMáRIO
3. MINISTÉRIO PÚBLICO
3.1. O Ministério Público como parte imparcial ou formal na relação 
processual (art. 257 CPP) 
Nos termos do art. 127, caput, da Constituição Federal, o Ministério 
Público é uma “instituição permanente, essencial à função jurisdicional 
do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime de-
mocrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. 
É regido pelos princípios institucionais da unidade (o Ministério 
Público é um só organismo, uma só instituição, motivo pelo qual po-
dem os seus membros substituir-se uns aos outros), indivisibilidade 
(os membros do Ministério Público atuam em nome da instituição, daí 
porque não se deve admitir a atuação simultânea e transversal, em um 
mesmo processo, de dois agentes ministeriais com a mesma função) e 
independência funcional (os membros do Ministério Público não ficam 
sujeitos a qualquer orientação ou determinação dos órgãos da Admi-
nistração Superior em sua atuação funcional, devendo prestar contas, 
apenas e tão-somente, à sua própria consciência e à ordem jurídica). 
No âmbito específico do processo penal, o art. 129, inciso I, da 
Constituição Federal assegura a função institucional de promover, pri-
vativamente, a ação penal pública, na forma da lei. 
Por conta de todos os dispositivos constitucionais acima mencio-
nados, entende-se modernamente que o Parquet é parte imparcial ou 
parte formal no processo penal. 
Assim, ele é parte, no sentido que, conforme estampado no art. 
129, inciso I, da Constituição Federal, alhures já indicado, é este órgão 
que deve iniciar a ação penal pública para fins de aplicação da sanção 
penal a agentes delitivos, concretizando, pois, a pretensão punitiva 
estatal. Ademais, por ser parte, o Ministério Público possui o ônus da 
acusação, devendo provar a responsabilidade do réu para que este 
seja condenado.
De outro lado, porém, como órgão que tem a atribuição constitu-
cional de defender a ordem jurídica, o regime democrático e os inte-
resses sociais e individuais indisponíveis (art. 127, § 1º), o Ministério 
Público deve sempre atuar de forma imparcial, atento ao cumprimento 
do direito em sentido amplo. Por conta disso, afirma-se que ele não é 
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LEONARDO BARRETO MOREIRA ALVES
simplesmente um órgão de acusação, mas sim órgão legitimado para a 
acusação (OLIVEIRA, 2008, p. 384). 
Evidencia esse caráter de imparcialidade na atuação do Ministério 
Público no processo penal a possibilidade de o órgão promover o ar-
quivamento do inquérito policial, de pedir a absolvição do réu ou mes-
mo de recorrer em favor deste último. Além disso, há de se relembrar 
que, na ação penal privada, o Ministério Público atua como custos legis 
(ou custos iuris, termo que vem sendo mais utilizado hodiernamente). 
Ainda com relação à imparcialidade do Parquet, deve ser regis-
trado que, nesse ponto, a sua atuação difere da atuação da defesa, 
que jamais poderá apresentar argumento contrário ao seu estado de 
liberdade.
O CPP, no art. 257, com a redação dada pela Lei nº 11.719/08, apre-
senta perfeita síntese do caráter híbrido da atuação do Ministério Pú-
blico no processo penal, ao afirmar que cabe a ele “promover, priva-
tivamente, a ação penal pública, na forma estabelecida neste Código” 
(inciso I, consagrando que a instituição é parte), e, ao mesmo tempo, 
“fiscalizar a execução da lei” (inciso II, consagrando que a instituição é 
parte imparcial).
Nesse contexto, impende destacar que o Ministério Público, como 
autor da ação penal ou como custos legis (ou custos iuris), pode atuar 
tanto em primeira como em segunda instância. Neste último caso (se-
gunda instância), é de praxe o oferecimento de parecer recursal por 
parte do Procurador de Justiça, mesmo já tendo sido apresentada ma-
nifestação do Promotor de Justiça perante a primeira instância e sem 
que a defesa seja novamente ouvida a respeito deste segundo pronun-
ciamento ministerial. Contudo, parcela considerável da doutrina vem 
sustentando a inconstitucionalidade desta previsão de oferecimento 
de parecer do Ministério Público na Superior Instância por ofensa aos 
princípios do contraditório, da paridade das armas, do devido proces-
so legal e da ampla defesa. É o que leciona, por exemplo, Rômulo de 
Andrade Moreira: 
Como se sabe, na segunda instância o Ministério Público, por 
intermédio de um Procurador de Justiça, exara um parecer 
escrito antes do respectivo processo criminal ser encaminha-
do para julgamento. É um privilégio que parece ferir alguns 
princípios basilares e algumas regras orientadoras do processo 
penal [...].
41
SUMáRIO
Com efeito, sempre nos pareceu que este pronunciamento do Pro-
curador de Justiça na segunda instância, ainda que na condição de 
custos legis, soava estranho, mesmo porque fiscal da lei também 
é o Promotor de Justiça atuante junto à primeira instância e, no 
entanto, nunca se dispensou a ouvida da defesa... Para nós, este 
privilégio fere o contraditório (ação versus reação), a isonomia 
(paridade de armas), o devido processo legal (a defesa fala por 
último) e a ampla defesa (direito do acusado de ser informado 
também por último). (MOREIRA, 2010, p. 768).
Registre-se, por fim, que o Ministério Público, no âmbito dos Esta-
dos, é regido pela Lei nº 8.625/93, enquanto que, na esfera da União, é 
disciplinado pela Lei Complementar nº 75/93.
ATUAÇÃO DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO 
NO PROCESSO PENAL
Atua como parte (é autor da ação penal pública) e;
Atua de forma imparcial (atento ao cumprimento do Direito).
3.2. Impedimento e suspeição do membro do Ministério Público 
(art. 258 CPP) 
Nos termos do art. 258 do CPP, os membros do Ministério Público 
não funcionarão nos processos em que o juiz ou qualquer das partes 
for seu cônjuge (por interpretação extensiva, deve-se incluir aqui tam-
bém o companheiro), ou parente, consaguíneo ou afim, em linha reta 
ou colateral, até o terceiro grau, inclusive.
Este dispositivo
legal ainda assevera que se estendem, no que lhes 
for aplicável, as prescrições relativas à suspeição e aos impedimentos 
dos juízes. O mesmo deve ser feito com relação à incompatibilidade 
dos magistrados.
► Qual o entendimento do STJ sobre o assunto?
Vale a pena registrar o teor da importante Súmula nº 234 do STJ: “A parti-
cipação do membro do Ministério Público na fase investigatória criminal não 
acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia”.
3.3. Princípio do promotor natural e imparcial ou promotor legal
O princípio do promotor natural e imparcial ou promotor legal é 
um princípio constitucional implícito que decorre dos seguintes princí-
pios constitucionais expressos:
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LEONARDO BARRETO MOREIRA ALVES
1. Princípio da inamovibilidade funcional dos membros do Ministério 
Público (art. 128, § 5º, I, “b”, CF). 
2. Princípio da independência funcional dos membros do Ministério 
Público (art. 127, § 1º, CF). 
3. Princípio do Juiz Natural (art. 5º, LIII, CF) – por analogia.
Por força deste princípio, entende-se que o agente delitivo deve 
ser acusado por órgão imparcial do Estado, previamente designado por 
lei, vedada a indicação de acusador para atuar em casos específicos. 
Em respeito a este princípio, o Procurador-Geral de Justiça apenas 
pode designar Promotores de Justiça para determinados casos con-
cretos se houver prévia e expressa previsão em lei nesse sentido. Tais 
hipóteses de designação atualmente estão estipuladas no art. 10, inciso 
IX, da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica do Ministério Público dos Estados).
É certo que doutrina amplamente majoritária admite a existência 
deste princípio, a exemplo de Guilherme de Souza Nucci (NUCCI, 2008, 
p. 99-100), Nestor Távora e Rosmar Rodrigues Alencar (TáVORA; ALENCAR, 
2009, p. 51-52) e Paulo Rangel (RANGEL, 2009, p. 37-45). O STJ também 
acolhe tal princípio, como ficou claro no julgamento do RHC nº 8513/81. 
► Qual o entendimento do STF sobre o assunto? 
No STF, porém, a matéria não é pacífica. Em um primeiro momento, o Pre-
tório Excelso chegou a reconhecer a existência do princípio em tela (HC nº 
67.759-2/RJ, Rel. Min. Celso de Mello). Contudo, em momento posterior, a 
Suprema Corte deixou de reconhecer o princípio do promotor natural e 
imparcial, sob a alegação de que ele violaria os princípios da unidade e 
da indivisibilidade do Ministério Público, encontrados no art. 127, § 1º, da 
Constituição Federal, como se verifica do julgamento do HC nº 83.463/RS e 
do RE nº 387974/DF. Mais recentemente, todavia, o Pretório Excelso voltou 
a aceitar este princípio, com base nos argumentos anteriormente explicita-
dos, ex vi dos julgados HC nº 95447/SP e HC nº 103038/PA. 
4. ACUSADO
4.1. O acusado como parte na relação processual (art. 259 CPP) 
O acusado é o sujeito passivo da relação processual. Ele somente 
ganha essa condição a partir do ato de recebimento da denúncia ou 
queixa, já que, na fase de inquérito policial, é apenas investigado ou, 
43
SUMáRIO
no máximo, indiciado, quando a autoridade policial opera o seu indicia-
mento. No caso de processo envolvendo crime de ação penal privada, 
o réu é mais conhecido pela expressão querelado. 
Há de se relembrar que apenas pessoa pode ser réu em processo 
penal (nunca objetos ou animais). Essa pessoa pode ser física (desde 
que maior de 18 anos de idade, hipótese em que terá legitimação 
para figurar no pólo passivo do processo – legitimatio ad processum) 
ou jurídica (nos termos do art. 3º da Lei nº 9.605/98 e artigos 173, § 5º, 
e 225, § 3º, da Constituição Federal). Além disso, para o acusado, deve 
ser aplicado o princípio da intranscendência, segundo o qual a sanção 
penal não pode passar da pessoa do agente delitivo, daí porque a 
denúncia ou queixa só pode ser dirigida a ele, não podendo envolver 
seus parentes ou sucessores. 
Ademais, a ação penal somente pode ser oferecida em face de 
pessoa individualizada e devidamente identificada (art. 41 do CPP). Isso 
não impede, porém, a denúncia ou queixa em face de pessoa que, 
por exemplo, não possui documentos, endereço ou outros dados de 
qualificação, mas pode ser facilmente identificada (por sinais físicos, 
tatuagens, apelidos etc), inclusive com exame datiloscópico.
Desse modo é que o art. 259 do CPP dispõe que a impossibilidade 
de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros 
qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade 
física. A qualquer tempo, no curso do processo, do julgamento ou da 
execução da sentença, se for descoberta a sua qualificação, far-se-á a 
retificação, por termo, nos autos, sem prejuízo da validade dos atos 
precedentes.
Consequência disso é que, na hipótese de o réu apresentar docu-
mentos de outra pessoa, passando-se por quem efetivamente não é, 
não ocorrerá a anulação da instrução ou da condenação, “bastando 
que o juiz, descoberta a verdadeira qualificação, determine a correção 
nos autos e no distribuidor, comunicando-se ao Instituto de Identifica-
ção” (NUCCI, 2008, p. 551).
4.2. Condução coercitiva do réu (art. 260 CPP) 
O art. 260, caput, do CPP assevera que se o réu não atender à in-
timação para o interrogatório, reconhecimento ou qualquer outro ato 
44
LEONARDO BARRETO MOREIRA ALVES
que, sem ele, não possa ser realizado, a autoridade poderá mandar 
conduzi-lo à sua presença.
Contudo, há de se registrar que boa parcela da doutrina aponta 
para a inconstitucionalidade deste dispositivo legal por violação aos 
princípios do direito ao silêncio e da proibição de produção de pro-
vas contra si mesmo, a exemplo de Guilherme de Souza Nucci (NUCCI, 
2008, p. 552) e de Eugênio Pacelli de Oliveira (OLIVEIRA, 2008, p. 326) 
– não obstante este último sustentar a inconstitucionalidade apenas 
para o ato do interrogatório, sendo, para ele, constitucional a pre-
visão de condução coercitiva para o reconhecimento de pessoas. É 
esse também o posicionamento do STJ (REsp nº 346677/RJ, 6ª Turma, 
Rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 10.09.2002, DJ 30.09.2002, p. 297). 
4.3 Indisponibilidade do direito de defesa (art. 261 CPP) 
O art. 261, caput, do CPP consagra a indisponibilidade do direito 
de defesa ao afirmar que “Nenhum acusado, ainda que ausente ou 
foragido, será processado ou julgado sem defensor”. Essa indisponi-
bilidade do direito de defesa decorre diretamente da indisponibili-
dade do direito à liberdade. Relembre-se ainda que a defesa técni-
ca, como uma das facetas da ampla defesa (ao lado da autodefesa), 
é um direito indisponível do réu, daí porque ele necessariamente 
deve ser representado por defensor, sob pena de nulidade absoluta 
do feito, por força do art. 564, inciso III, alínea “c”, do CPP. Nesse pris-
ma, por exemplo, o STJ julgou pela nulidade absoluta de processo em 
que foi realizada audiência para oitiva de testemunha de acusação 
sem a presença do advogado do réu, não tendo o juiz nomeado de-
fensor e, na sentença, valeu-se desses depoimentos para amparar 
sua conclusão sobre a autoria e a materialidade (Informativo nº 461). 
DEFESA TÉCNICA Defesa indisponível exercida por defensor técnico
Aliás, justamente para a efetivação da ampla defesa, este defen-
sor deve sempre procurar uma melhoria na situação do réu, agindo 
de alguma forma em defesa do direito de liberdade dele. Assim, 
mesmo que perceba que a prova dos autos indica a responsabilida-
de do acusado, deverá pleitear algum tipo de benefício em favor do 
réu, a exemplo da aplicação da pena no mínimo legal ou da fixação 
45
SUJEITOS NO PROCESSO PENAL
do regime de pena menos gravoso. Não se permite é que o defensor 
concorde com os exatos termos da denúncia, deixando de requerer 
benefícios da natureza daqueles anteriormente mencionados. É esse 
o posicionamento do STF.
► Aplicação em concurso público:
No concurso de DPGU/Defensor/2010, promovido pelo Cespe/Unb,
ques-
tionou-se ao candidato acerca da possibilidade de o advogado de de-
fesa aceitar, nas alegações finais, de alguma forma, o pedido formulado 
pelo Ministério Público de condenação do réu. Nesse prisma, afirmou-se: 
“Segundo entendimento sumulado do STF, o advogado de defesa não pode 
pedir, em alegações finais, a qualquer título, a condenação do acusado, sob 
pena de nulidade absoluta, por violação ao princípio da ampla defesa.”. A 
assertiva foi considerada errada.
Nesse sentido, impende ao magistrado o dever de fiscalizar a atu-
ação do defensor. Se o magistrado percebe que o acusado está inde-
feso, deverá nomear outro defensor para que exerça a ampla defesa 
com eficiência. Recomenda-se ao magistrado, porém, que primeira-
mente intime o acusado para que, no prazo por ele fixado, constitua 
novo defensor. Apenas se o réu quedar-se inerte nesse prazo é que o 
juiz deverá adotar a providência de nomear um defensor dativo.
Ademais, nos termos do art. 261, parágrafo único, do CPP, a defesa 
técnica, quando realizada por defensor público ou dativo, será sempre 
exercida através de manifestação fundamentada, sob pena de nulida-
de relativa (NUCCI, 2008, p. 555). A mesma preocupação não existe no 
caso de defensor constituído, pois se presume a relação de confiança 
entre ele e o acusado.
► Aplicação no STF (Súmulas 523 e 708): 
Preocupado com a efetivação do direito de defesa, o STF editou duas 
Súmulas relativas a esta matéria, de números 523 e 708, as quais pos-
suem os seguintes enunciados: Súmula 523 STF: “No processo penal, a 
falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o 
anulará se houver prova de prejuízo para o réu”; Súmula 708 STF: “É nulo 
o julgamento da apelação se, após a manifestação nos autos da renúncia 
do único defensor, o réu não foi previamente intimado para constituir 
outro”.

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