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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE LATEC – LABORATÓRIO DE TECNOLOGIA, GESTÃO DE NEGÓCIOS E MEIO AMBIENTE MESTRADO PROFISSIONAL DE SISTEMAS DE GESTÃO FLÁVIO BILHA DOS SANTOS ESTUDO DA EFICIÊNCIA DO PROCESSO DE SOLDAGEM DE PONTOS POR RESISTÊNCIA ELÉTRICA UTILIZADO NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA NITERÓI 2006 2 FLÁVIO BILHA DOS SANTOS ESTUDO DA EFICIÊNCIA DO PROCESSO DE SOLDAGEM DE PONTOS POR RESISTÊNCIA ELÉTRICA UTILIZADO NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA Dissertação oferecida ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total. Orientador PROF. FERNANDO B. MAINIER, D.S.c NITERÓI 2006 3 FLÁVIO BILHA DOS SANTOS ESTUDO DA EFICIÊNCIA DO PROCESSO DE SOLDAGEM DE PONTOS POR RESISTÊNCIA ELÉTRICA UTILIZADO NA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA Dissertação oferecida ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de concentração: Sistema de Gestão pela Qualidade Total. Aprovado em 14 de julho de 2006 BANCA EXAMINADORA Prof. Fernando B. Mainier, D.Sc. Prof. Miguel Luiz Ribeiro Ferreira, D.Sc. Prof. Raad Yahya Qassim, D. Sc 4 Dedico este trabalho À Silvana, esposa e companheira, pelo incentivo, atenção e paciência que sempre atenuaram os obstáculos dos momentos mais difíceis. À mais nova integrante de nossa família, que mesmo sem ter a compreensão das circunstâncias deu mais sentido às minhas atividades. 5 AGRADECIMENTOS Ao meu orientador, Professor Mainier, pela colaboração, pelas lições de vida, fundamentais para a conclusão deste trabalho e principalmente pela atenção paterna, presente em todos os nossos encontros. À DaimlerChrysler pelo incentivo e pela oportunidade de participar de um programa tão valioso quanto o Mestrado em Sistema de Gestão. À UFF, Universidade Federal Fluminense, pelo desenvolvimento das disciplinas com muita seriedade, rigidez e clareza, colocando à disposição profissionais da mais alta qualidade. Ao SENAI, que além de apoiar e organizar o programa, sempre esteve presente em todos os grandes eventos de minha vida profissional. A Francisco Fonseca, pelos conselhos, orientações e apoio. A Vinícius Cunha, pelas idéias, sugestões, críticas e pela perseverança característica. A Ariovaldo Chagas, por todos os ensinamentos, e também pela paciência e compreensão quando estive ausente. A Carlos Regina, pelo exemplo de profissional a ser seguido. 6 “Todo homem é construtor do seu templo. Somos escultores e pintores, e o material é nossa própria carne, sangue e ossos”. Henry David Thoreau Filósofo americano (1817-1862) “Quanto mais sabemos, mais fantástico se torna o mundo e mais profunda fica a escuridão ao seu redor”. Aldous Huxley 1894-1963 Escritor inglês 7 RESUMO O processo de soldagem por resistência tem sido por anos largamente utilizado no setor automobilístico, muitas vezes sendo ainda a melhor opção de processo para união de chapas para a formação da estrutura metálica dos automóveis. Historicamente observa-se que durante muitos anos poucos foram os desenvolvimentos considerados significativos nesse processo, talvez devido à sua simplicidade aparente, fazendo com que fosse sempre empregado de forma bastante ortodoxa. Já na última década, em função da utilização de novos materiais para construção de automóveis, nota-se que o processo em questão tem sido visto com outros olhos pelos seus usuários e fabricantes dos sistemas, que tem feito grande aporte de tecnologia aos equipamentos já existentes, assim como tem desenvolvido novas formas de operação e de controle visando baixar o consumo, o custo dos investimentos, tornar os equipamentos mais operacionais, versáteis, capazes de soldar tipos diferentes de chapas, e de forma que se possa montar um processo com menores probabilidades de falhas, o que pode vir a influenciar até na imagem da marca perante o mercado a que o produto se destina. Esse trabalho tem por objetivo analisar as variáveis relevantes aplicadas ao processo de soldagem de pontos por resistência, fornecendo informações sobre a situação atual do modelo escolhido e oferecendo respostas para os questionamentos a respeito da possibilidade de ocorrências de falhas nesse modelo. Dentro da definição das variáveis de processo, está a ação do operador de solda, que influencia diretamente a qualidade do trabalho a ser executado. Atendendo às expectativas de profissionais atuantes na área de engenharia de produção, por um trabalho acadêmico, esse trabalho relaciona as variáveis relevantes envolvidas no processo de soldagem de pontos por resistência com os resultados obtidos no produto, analisando os potenciais de melhoria do processo, com o objetivo final de torná-lo cada vez mais eficiente às empresas que dele fazem uso. Palavras Chaves: Soldagem de pontos por Resistência Elétrica, Qualidade, Indústria Automobilística, Parâmetros de Soldagem. 8 ABSTRACT The resistance welding process has been for years broadly used in the automotive industry, a lot of times being still the best process option for union of sheets for the formation of the metallic automobile’s structure. During the process history, It is observed that, for many years, few were the relevant developments in that process, perhaps due to your apparent simplicity, doing its application always in a quite orthodox way. Already in the last decade, for the reason of new kinds of materials for automobile’s construction, we watched that your users and system’s manufacturers have seen the process with other eyes. They have already been making great technology contribution to the equipments, as well as they have been developing new operation forms and controls seeking to lower consumption, costs of the investments, to turn the equipments most operational, versatile, capable to weld different kinds of metal sheets, and so set up a process with smaller probabilities of mistakes, what can come to influence even in the image of the brand in the market what the car is produced for. That work has for objective to analyze the relevant applied variations to the resistance welding points, supplying information about the current situation of the chosen model and offering answers for the questions about the possibility of mistakes in that model. Inside of the definition of the process variations, it is the workers’ action, which influences directly the quality of the work. Considering to the expectations of professionals that work in the production engineering area, that work relates how important are the variables involved in the resistance welding points, as a manufacturer process and what is the results in the product, analyzing the potentials of the process’s improvement, with the goal to turning it more and more efficient to the factories that apply it. Key words: Resistance Welding Points, Quality, Automobile Industry, Welding Parameter 9 Lista de Figuras Figura 1.1 Porcentagem de utilização das chapas em função de sua espessura 23 Figura2.1 Pinça de solda tipo X 27 Figura 2.2 Pinça de solda para robôs, tipo C 28 Figura 2.3 Diagrama Esquemático de uma pinça X 29 Figura 2.4 Diagrama Esquemático de uma pinça C 30 Figura 2.5 Esquema Elétrico de uma pinça – parte de potência 30 Figura 2.6 Eletrodos de solda 31 Figura 2.7 Refrigeração nos Eletrodos de solda 34 Figura 2.8 Esquema Elétrico de um Comando de Solda ligado a uma pinça 36 Figura 2.9 Comando de Solda suspenso 37 Figura 2.10 Força entre eletrodos X pré-pressão 38 Figura 2.11 Tempo de Solda 42 Figura 2.12 Comportamento da resistência de contato das chapas 45 Figura 2.13 Esquema das Resistências que compõem o circuito Secundário 45 Figura 2.14 Região de Operação do Processo de Soldagem 1 46 Figura 2.15 Região de Operação do Processo de Soldagem 2 47 Figura 2.16 Curva de compensação de corrente em função do desgaste dos eletrodos 49 Figura 2.17 Eletrodos Novos 49 Figura 2.18 Eletrodos Usados 50 Figura 2.19 Tensão de Entrada Senoidal 51 Figura 2.20 Controle da Potência de Solda por Ângulo de Fase 51 Figura 2.21 Dispositivo Eletrônico de Controle de Corrente Elétrica 52 Figura 2.22 Dispositivo de Fresagem Automático 53 Figura 2.23 Comparativo de durabilidade de eletrodos utilizando sistemas de fresagem 54 Figura 2.24 Esquema elétrico de um inversor de soldagem e suas fases 60 Figura 2.25 Comparação entre os sistemas Tiristorizado, por ângulo de fase e Inversor. 61 Figura 2.26 Aumento de calor na região de fusão dos pontos de solda 61 10 Figura 2.27 Suporte de eletrodos com transdutores para testes de ultra- som 62 Figura 3.1 Teste de Flexão 66 Figura 3.2 CPU do equipamento de ultra-som 67 Figura 3.3 Transdutores para testes 67 Figura 3.4 Resultado de teste por ultra-som 68 Figura 3.5a Dinamômetro em movimento de tração 69 Figura 3.5b Pontos Destacados 69 Figura 3.6a Elementos de Fixação 69 Figura 3.6b Forma de corte do corpo de prova 69 Figura 3.7 Padrão de Classificação de Pontos de Solda 74 Figura 3.8 Exemplo de Gráfico de Controle da Qualidade de Solda – Defeitos Gerais 77 Figura 3.9 Exemplo de Gráfico de Controle da Qualidade de Solda – Defeitos Relevantes 78 Figura 3.10 Gráfico de Controle da Qualidade de Solda – Ensaio de Tração 79 Figura 3.11 Gráfico de Controle da Qualidade de Solda – Ensaio de Tração 79 Figura 3.12a Falta de Fusão no Ponto Indicado 81 Figura 3.12b Isolação Comprometida 81 Figura 3.13 Posição crítica de soldagem 83 Figura 3.14 Falta de Fusão e Deformação no Ponto Indicado 83 Figura 3.15 Eletrodos Desalinhados 84 Figura 3.16 Falta de Fusão em função do desalinhamento dos eletrodos 85 Figura 3.17 Desgaste dos eletrodos 85 Figura 3.18 Vão das portas, pontos sem fusão. 86 Figura 4.1 Diagrama de Causa e Efeito para Pontos de Soldagem 88 Figura 4.2 Ramificações do Diagrama de Causa e Efeito 89 Figura 4.3 : Gráfico de Acompanhamento do Processo Manual 93 11 Lista de Tabelas Página Tabela 2.1 Tipos de eletrodos para soldas por ponto 32 Tabela 3.1 Defeitos evidenciados em cada ensaio dos pontos de soldagem 73 12 Lista de Abreviações e Siglas AWS American Welding Society DBL Daimler Benz Liefervorschrift DIN Deutsch Industrie Normen DVS Deutscher Verband für Schweisser – Normas Alemãs de Soldagem HB Hardness Brinell Hz Hertz, unidade de freqüência I.A.C.S. International Annealing Copper Standard KSR Konstant Strom Regelung (modo de operação através de correntes constantes) MBN Mercedes Benz Normen PDCA Plan Do Check and Act, ciclo de Deming RWMA Resistance Welder Manufacturers Association TPM Total Productive Maintenance (Manutenção Produtiva Total) 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 17 1.1 APRESENTAÇÃO 17 1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA 19 1.3 OBJETIVOS 21 1.4 JUSTIFICATIVAS 22 1.5 HIPÓTESES DO TRABALHO 22 1.6 LIMITAÇÕES DO TRABALHO 23 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO 24 2 FUNDAMENTOS TEÓRICOS 26 2.1 DEFINIÇÃO DO PROCESSO DE SOLDAGEM DE PONTOS POR RESISTÊNCIA 26 2.2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 26 2.3 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS 27 2.3.1 Pinças de Solda 27 2.3.1.1 Eletrodos de Contato 31 2.3.1.2 O Circuito de Refrigeração 33 2.3.1.3 Transformadores 34 2.3.1.4 Cilindros Pneumáticos 35 2.3.2 Comandos de Solda 35 2.4 PARÂMETROS DE SOLDAGEM 37 2.4.1 Pré-pressão 37 2.4.2 Tempo de Soldagem 38 2.4.3 Pós-pressão 39 2.4.4 Intensidade de Corrente de Soldagem 39 2.4.5 Força entre Eletrodos 40 2.4.6 Recursos Auxiliares 40 14 2.4.6.1 Subida / Descida de Corrente 41 2.4.6.2 Impulsos de Solda 41 2.4.6.3 Pré Aquecimento e Pós Aquecimento 42 2.5 AS VARIÁVEIS DO PROCESSO 43 2.5.1 A Resistência do Circuito de Soldagem 43 2.5.2 A Região de Operação do Processo de Soldagem de Pontos por Resistência Elétrica 45 2.5.3 Curvas de Compensação de Corrente em Função do desgaste dos eletrodos 48 2.6 MÉTODOS DE CONTROLE DE CORRENTE 50 2.6.1 Controle de Potência através do Ângulo de Fase 51 2.6.2 Controle de Potência através de Corrente Constante 52 2.7 FRESAGEM DOS ELETRODOS 53 2.8 INFLUÊNCIA DO FATOR HUMANO 55 2.8.1 A importância dos Treinamentos em Soldagem 55 2.8.2 Planejamento das Atividades de Soldagem 55 2.8.3 As Falhas de Soldagem 57 2.9 O ESTADO DA ARTE 58 2.9.1 Equipamentos de Média Freqüência 58 2.9.2 Métodos de Controle de Soldagem Automático 61 2.9.2.1 Ultra-sonografia do Ponto de Solda 62 2.9.2.2 Sistemas Inteligentes (IQR) 63 3 ESTUDO DO PROCESSO EM CAMPO 64 3.1 MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DA QUALIDADE 64 3.1.1 Autocontrole dos Pontos 64 3.1.1.1 Portais de Falha Zero 65 3.1.2 Ensaios de Flexão 65 3.1.3 Ensaios por Ultra-sonografia 66 15 3.1.4 Ensaios de Tração 69 3.2 CLASSIFICAÇÃO DO PROCESSO DE SOLDAGEM DE PONTOS POR RESISTÊNCIA ELÉTRICA 70 3.2.1 Classificação de Defeitos 70 3.2.2 Estabelecimento de Metas 74 3.2.3 Gráficos de Controle 76 3.3 DESCRIÇÃO DAS FALHAS ENCONTRADAS EM CAMPO 80 3.3.1 Falhas encontradas em campo 80 3.3.1.1 Caso 1 - Pontos sem fusão por fuga de corrente 80 3.3.1.2 Caso 2 - Pontos sem fusão por posicionamento incorreto da pinça 82 3.3.1.3 Caso 3 - Pontos sem fusão desalinhamento dos eletrodos 83 3.3.1.4 Caso 4 - Pontos sem fusão desgaste excessivo dos eletrodos 85 4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 87 4.1 ANÁLISE DOS MÉTODOS DE TRATAMENTO DOS PROBLEMAS ENCONTRADOS 87 4.1.1 Diagrama de Causa e Efeito 87 4.1.2 Aplicação da Ferramenta PDCA 90 4.1.3 Acompanhamento das Ocorrências Individuais 92 4.2 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 94 4.2.1 O Processo Automático 95 4.2.2 O Processo Manual 96 5 CONCLUSÕES E PROPOSTAS PARA TRABALHOS FUTUROS 98 5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS 98 5.2 CONCLUSÕES 99 5.3 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS 102 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 103 16 CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO 1.1 APRESENTAÇÃO Em 1900, quando havia nos Estados Unidos cerca de 8.000 carros, embriões de caminhões e poucas estradas asfaltadas, os fazendeiros sem visão de futuro colocavam barreiras de cacos de vidro, pregos, facas e matérias cortantes para impedir a passagem destas máquinas barulhentas e malcheirosas, que perturbavam as pessoas e os animais. Estas barreiras não impediram que a indústria automobilística nestes cem anos continuasse a crescer vertiginosamente. Os Estados Unidos produzem anualmente cerca de 17 milhões de automóveis e atualmente existe na Terra aproximadamente 550 milhões de automóveis, número suficiente para formar uma filaque daria 40 vezes a volta ao mundo, ou seja, após cem anos continuam a perturbar a população em função da poluição e dos acidentes. O automóvel nestes últimos cinqüenta anos tem sido um bem significativo e de importância vital para grande parte da humanidade. A partir da década de 80, tem-se notado um aumento significativo na robotização das montadoras de automóveis, sendo praticamente aceitável, em todos os níveis, que, em ambientes de alta tecnologia, os trabalhadores com funções repetitivas, como apertar parafusos ou aplicação de soldas por pontos, tendem a ser substituídos por máquinas e robôs (Mainier, 1997). A concepção, a construção e a venda de um automóvel ao consumidor final, quando bem estudado, é um projeto arrojado, em que devem participar e cooperar, durante três a dez anos, milhares de pessoas, onde são executados milhões de ordens de serviços e decisões importantes e muitas vezes irreversíveis, em função de um cenário econômico complexo e diante de uma concorrência exacerbada. Atualmente, caminhando na dimensão industrial, os projetos dos carros da atualidade são baseados na segurança, em visões simples e compactas. E, nesta direção, também, acompanham as próprias fábricas de autopeças, que, na maioria das vezes, já estão enviando às montadoras os grupos de peças prontas, de fácil montagem e formando um conjunto único. 17 Segundo Pétala (1997), a partir dos 80, ocorreu uma exigência que o mercado automobilístico transformou num imperativo categórico: a qualidade, que se tornou uma espada de Dâmocles sobre cada projeto, tão numerosos são os testes, tão rígidas são as especificações, os aperfeiçoamentos e, enfim, as surpresas para se alcançar sem erros, na data prevista, o nível de qualidade exigido pelo mercado. Segundo Hahn (1997) uma avaliação mais acurada mostra que o automóvel é um dos produtos mais complexos e sofisticados já desenvolvidos. Suas dez mil partes, componentes associados, sistemas e subsistemas fornecem o verdadeiro teste para automação e produtividade. Além disso, pode servir de paradigma ideal para integrar os materiais já existentes e os avançados com processamento e manufatura de ponta, tudo dentro de limites de confiabilidade e custo aceitáveis. Talvez, a forma mais efetiva de ilustrar o tipo e magnitude dos problemas que hoje cercam os materiais usados na indústria automotiva seja catalogar os principais sistemas de materiais e as tendências tecnológicas genéricas. Os elementos detonadores destas mudanças foram os desafios da concorrência nacional e internacional e as exigências dos clientes, no sentido de incorporar as inovações no seu cotidiano. Dessa forma, a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico foram impelidos no sentido de atingir a qualidade, o conforto e a segurança ditados pelas normas técnicas e sociais vigentes. A preocupação com a durabilidade, a aparência e vida útil do automóvel tem sido uma constante nos ramos automotivos e coligados, conseqüentemente, a qualidade, representada pelo processo de soldagem de pontos por resistência, objeto do presente estudo, é fundamental sob o ponto de vista de uma avaliação crítica. O processo de soldagem de pontos por resistência é largamente difundido na indústria automobilística, sendo atualmente o mais aplicado na união dos variados tipos de chapas que formam a carroçaria. Em relação aos processos de soldagem por abertura de arco elétrico, tem como vantagens principais, proporcionar menor aquecimento às partes unidas, uma vez que a fusão é restrita apenas ao local de formação do ponto, não acrescentar peso extra ao produto, uma vez que não utiliza materiais de adição além de proporcionar custos mais baixos. Segundo Branco (2005), o processo de soldagem por resistência elétrica foi inventado por Elihu Thomson, em 1877, que aplicou esse processo de soldagem 18 para unir fios de cobre. Logo percebeu que esta técnica poderia ser usada para a soldagem de outros materiais. A soldagem por resistência tem crescido enormemente desde a primeira chapa automotiva soldada, a qual foi introduzida em 1933 como processo de fabricação, tornando-se o processo predominante na montagem das carrocerias automotivas. Com a crescente demanda do mercado de automóveis e a exigência cada vez maior dos clientes por produtos que simplesmente estejam livres de falhas, as empresas fabricantes travam uma verdadeira guerra contra as situações que possam desencadear problemas futuros nos seus produtos. Adicionando-se a necessidade de se produzir com custos cada vez menores, a eficiência dos processos representa uma verdadeira redução de custos na fonte, ou seja, antes da entrega do produto ao cliente. Mais do que isso, essa eficiência ainda agrega um diferencial, pois previne que não ocorrerão falhas futuras, responsáveis por ações de garantia e perda de imagem. Orientado a essa visão, o processo de soldagem de pontos por resistência elétrica é alvo de possíveis melhorias que possam levá-lo a um patamar de excelência, tendo como princípio básico o alinhamento dos resultados obtidos no processo com os próprios interesses da organização. 1.2 SITUAÇÃO PROBLEMA A soldagem de pontos por resistência é usada em praticamente todos os segmentos da indústria metalúrgica, devido à sua facilidade de aplicação, não exigindo metais de adição e pela sua versatilidade, pois pode em alguns casos vir a unir diferentes materiais. Os pontos de solda são aplicados para unir chapas metálicas executando um tipo de costura entre elas. Por não acrescentar peso algum à carroçaria e por proporcionar baixo aporte térmico com relação aos processos de soldagem a arco, o processo de soldagem de pontos por resistência elétrica é o proferido entre os demais na indústria automotiva. 19 Como desvantagem, porém, esse processo não impede que exista infiltração de água ou poeira através das chapas e pelos espaços entre os pontos de solda. Esse problema pode ser corrigido com o uso de colas especiais para metais, que após a respectiva cura, impedem a entrada de água, além de proporcionar isolação acústica e aumentar a resistência estrutural do conjunto soldado. Historicamente, o processo de soldagem de pontos por resistência tem se desenvolvido no sentido de se tornar à prova de falhas. No início, basicamente, uma fonte de corrente e um elemento de fixação das peças era suficiente para executá-lo. Posteriormente, as máquinas de solda começaram a ser compostas por controladores automáticos de corrente elétrica, circuitos temporizadores de precisão e válvulas de controle de pressão retro-alimentadas no sentido de torná-las mais eficientes. Entretanto, mesmo assim, ainda existiam algumas variáveis, tais como: alterações nos revestimentos das chapas, desgaste dos elementos consumíveis e os aspectos próprios da operação, que podiam ser percebidas na qualidade final, através da sua influência no resultado do ponto soldado. Atualmente, com o desenvolvimento de sistemas compensatórios inteligentes, capazes de absorver variações dos elementos discretos, que fogem ao controle inicial, foi possível proporcionar que a qualidade do produto final ficasse cada vez menos dependente de fatores externos. Apesar dessas contribuições, não se pode ainda garantir uma boa soldagem no caso de montagem de peças amassadas, ou se tratando da seleção de programas errados por parte dos soldadores. Os sistemas compensatórios são impotentes nos casos em que os pontos simplesmente não são executados, sejam por esquecimento ou perda de seqüência de produção. Também são ineficazes quando ocorrem falhas no sistema, como falta de refrigeração outroca de eletrodos por outro tipo não especificado, ou seja, o uso desses sistemas para execução da soldagem não pode garantir a isenção completa de erros. Quanto ao uso de robôs, com o objetivo de eliminar a variável humana, Bracarense (2006) menciona na página da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), que a presença de robôs em linhas de produção pode aumentar a 20 qualidade dos produtos sem reduzir os postos de trabalho. Certamente, a probabilidade de acertos aumenta, pois não há possibilidade do erro humano no ato de soldar, mas existem aplicações em que existem restrições econômicas para o emprego de robôs. Neste trabalho, serão abordadas as duas situações: quando no uso de robôs, verificar quais as variáveis de processo que precisam receber maior atenção e como controlá-las. A mesma análise será feita em situações nas quais o homem executa as tarefas de soldagem. Quando forem isoladas as variações pertinentes à intervenção humana, serão apontados os mecanismos que possam influenciar para que essas variações sejam minimizadas: por exemplo, a qualificação, os mecanismos que criam competência e até a postura da organização, pois, segundo Rodriguez (2002), a competência é contextual e, portanto é dependente do ambiente em que a pessoa se encontra para ser utilizada e valorizada. Quanto à postura da organização, serão levantados os aspectos organizacionais que podem interferir no comportamento do operador de solda, e que influenciam em seu trabalho. Essa linha de pensamento dá margem para que se explore quais os comportamentos incentivados pela organização, e se eles realmente estão alinhados com as ações que podem tornar o processo mais eficiente. 1.3 OBJETIVOS Com base nos problemas acima citados referentes à soldagem de pontos por resistência elétrica em carrocerias de automóveis, o presente trabalho concerne à proposição dos seguintes objetivos: Analisar as variáveis relevantes para qualidade usadas no processo de soldagem de pontos por resistência elétrica utilizado na indústria automobilística; Fornecer informações sobre como controlar essas variáveis relevantes; Sugerir métodos de tratamento para as falhas encontradas em uma aplicação do processo de soldagem por resistência, passando pela identificação de sua causa raiz, ações de contenção e ações definitivas considerando os meios de prevenção 21 disponíveis. Para atingir esse objetivo, será tomado como base um modelo utilizado na indústria automobilística em questão; Oferecer respostas para os questionamentos a respeito da possibilidade de melhoria potencial existente no modelo utilizado. 1.4 JUSTIFICATIVAS A dissertação proposta, ao ser desenvolvida, atenderá às expectativas de profissionais atuantes na área de engenharia de produção, por um trabalho acadêmico, que relacione as variáveis relevantes envolvidas no processo de soldagem de pontos por resistência com os resultados obtidos no produto, analisando os potenciais de melhoria do processo, com o objetivo final de torná-lo cada vez mais eficiente às empresas que o empregam. 1.5 HIPÓTESES DO TRABALHO O presente trabalho parte da hipótese que dispondo de condições que propiciem um maior controle das variáveis do processo, pode-se obter informações que, caso bem utilizadas, impõem uma característica de melhoria do processo, que refletirá em menores quantidades de falhas, melhores condições de trabalho e melhor conhecimento do próprio processo. Estas situações são bem-vindas à empresa, pois de acordo com essa ótica, o resultado refletirá em uma menor probabilidade de falhas no cliente, fator responsável pelo aumento dos custos e perda de imagem através da exposição desses clientes a situações que possam comprometer sua segurança ou sua integridade moral, condições sujeitas inclusive a processos judiciais. Da mesma forma, menores quantidades de falhas podem dar ao cliente, a impressão de que o produto agrega um diferencial de resistência e durabilidade, que também pode ser relacionado à marca e trazer à empresa um reconhecimento do mercado, traduzido em aumento de vendas e negócios. 22 1.6 LIMITAÇÕES DO TRABALHO O estudo proposto estará relacionado à aplicação do processo de soldagem de pontos por resistência na confecção de carroçarias, utilizando chapas de aço com baixo teor de carbono, com espessuras de até três milímetros, levando-se em consideração a norma de aplicação MBN 19382 (2005) e com revestimentos zincados eletroliticamente, de acordo com a norma de fornecimento DBL 4062 (2005). Geralmente, as condições encontradas nessas normas abrangem a maioria dos casos atualmente encontrados na industria automobilística, que ainda vê de maneira bem cautelosa a aplicação de outros tipos de materiais para soldar, como, por exemplo, ligas de alumínio ou ligas de cobre. Os tipos de revestimento também são muito limitados quanto ao tipo e a espessura, pois conforme testes desenvolvidos, verifica-se maior dificuldade na soldagem de materiais com revestimento acima de 20 �m. Assim sendo, tomando- se como base a produção de um veículo nos moldes do automóvel Mercedes Benz Classe A, produzido em Juiz de Fora, pode se estimar a situação de utilização das chapas de acordo com sua espessura, conforme, mostra, a seguir, a figura 1, que representa o percentual das chapas de aço carbono zincadas, em função de suas espessuras. Figura 1.1 – Porcentagem de utilização das chapas em função das espessuras 23 1.7 ESTRUTURA DO TRABALHO Este trabalho está estruturado em seis capítulos, sendo que neste, o capítulo 1, chamado de introdução, foi apresentada a situação problema, os objetivos a serem atingidos, as justificativas para a escolha do tema, a hipótese levantada no estudo, e as limitações do trabalho. No capítulo 2, são apresentados os fundamentos teóricos deste estudo: uma pesquisa bibliográfica da literatura selecionada, abordando aspectos conceituais sobre o processo de soldagem de pontos por resistência elétrica. Neste capítulo destacam-se os tópicos sobre a definição do processo em questão, os princípios de funcionamento que o envolvem, os equipamentos utilizados e suas funções, a relação dos parâmetros de soldagem que influenciam na formação dos pontos de solda e as variáveis do processo, ou seja, condições que se alteram adversamente em função dos parâmetros selecionados. No tratamento das variáveis, cabe destacar o comportamento da resistência do circuito de soldagem, característica que dá nome ao processo e é avaliada como um dos fatores críticos para obtenção da estabilidade e repetibilidade dos resultados obtidos. Em seqüência, discute-se os métodos de controle da corrente elétrica de soldagem. O emprego de sistemas de fresagem dos eletrodos e suas conseqüências são ponderados a seguir, bem como a influência dos fatores humanos na operação, manutenção e programação do sistema. Este capítulo encerra-se com uma abordagem sobre o estado da arte no processo de soldagem, levando-se em conta os desenvolvimentos que dão novas características aos equipamentos de solda utilizados, sempre com o objetivo conseguir vantagens no âmbito de prevenção e eliminação de falhas de maneira geral. Ainda no capítulo de fundamentação teórica, aborda-se o que a literatura traz sobre os métodos de avaliação da qualidade de soldagem, detalhando-se os meios disponíveis para os ensaios específicos e os respectivos defeitos que se espera detectar em cada um deles. No capítulo três, dividido também em três partes, é abordado um conceito de classificação de defeitos, que irá, através de uma linha, separar as descontinuidades,chamadas de falhas não relevantes, dos defeitos do processo de soldagem de pontos por resistência elétrica, chamadas de falhas graves. Com base nesse critério definido na planta da fábrica, inicia-se a descrição das falhas 24 acompanhadas em campo. Nesse caso, a empresa alvo do estudo adotou como estratégia, a redução programada dos níveis de falhas. Como forma de monitoramento do processo, o capítulo é finalizado com a apresentação de exemplos de gráficos de controle e acompanhamento do comportamento do processo. No capítulo quatro, as falhas do capítulo anterior são analisadas e discutidas. É avaliada a eficácia das ações tomadas, propondo, quando for o caso, uma solução alternativa para os problemas encontrados. O capítulo cinco, por fim, o apresenta as conclusões do trabalho de estudo e avaliação do processo de soldagem de pontos por resistência elétrica, colocando em pauta as considerações finais e estruturando uma proposta para trabalhos futuros. A dissertação será concluída com as referências bibliográficas consultadas. 25 CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS 2.1 DEFINIÇÃO DO PROCESSO DE SOLDAGEM DE PONTOS POR RESISTÊNCIA ELÉTRICA Segundo Brandi (2004), denomina-se soldagem, ao processo de união de duas partes metálicas, usando fonte de calor, com ou sem aplicação de pressão. A solda é o resultado desse processo. Segundo a definição da norma DIN 1910 (1997), parte 2, a soldagem por resistência elétrica é uma classificação do processo de soldagem, e na parte 5 essa mesma norma classifica o processo de soldagem de pontos por resistência elétrica como uma subdivisão do processo de soldagem por resistência. No caso do processo de soldagem de pontos por resistência elétrica, especificamente, a ligação acontece através do calor gerado por fontes de energia elétrica devendo existir uma força entre as chapas a serem unidas, de modo que se forme uma região de resistência elétrica para a passagem da corrente. 2.2. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO A junção de peças através da soldagem por resistência elétrica acontece com a utilização de equipamentos chamados pinças de solda. Essa pinça é formada por hastes metálicas, chamadas braços, de boa condução elétrica, geralmente feitos em ligas de cobre ou alumínio. Através de eletrodos de cobre, situados nas extremidades dos braços, estes se fecham, se encontrando em um ponto no espaço, ou seja, o ponto de solda. Ao fecharem, as hastes proporcionam uma determinada força de encontro das chapas no ponto específico, momento em que se prepara o início da passagem da corrente elétrica, que irá fundir o metal, formando um ponto de união das chapas. Segundo Brandi (2004), a energia térmica do processo pode ser definida como: ∫= tQ 0 2 dtRt I 26 Onde, Q= energia térmica desenvolvida no ato da soldagem, em Joule; t = tempo de duração da passagem da corrente elétrica, em segundo; R = resistência de contato das chapas, ohm; I = valor da intensidade da corrente elétrica que atravessa o metal, ampère. 2.3 EQUIPAMENTOS UTILIZADOS 2.3.1 Pinças de Solda A pinça de solda, como mostra, a seguir, figura 2.1, é o equipamento responsável pela execução do ponto de solda. Ela normalmente é controlada por um comando de solda, que através de parâmetros definidos determinará o momento de abertura e fechamento da pinça. Sua função basicamente é operacional: fechar os braços e proporcionar a passagem da corrente de solda. Figura 2.1: Pinça de solda Tipo X Fonte: Fonte: DaimlerChrysler Quando a soldagem é automática, as pinças são manipuladas por robôs, os quais levam o conjunto de braços, cilindro e transformadores para os locais adequados, posicionando-os adequadamente para a execução dos pontos de solda. Quando o processo é manual, o operador posiciona a pinça para a obtenção dos pontos. Para o correto posicionamento, são colocados suportes na periferia da pinça, de modo que exista empunhadura adequada para sua sustentação. Braços Eletrodos 27 De maneira básica, uma pinça é composta por acessórios elétricos e pneumáticos. A parte pneumática é formada por um cilindro, por conexões, por hastes e por braços ligados a esse cilindro, além das válvulas de acionamento. As pinças são classificadas como C ou X. As pinças do tipo C possuem um cilindro de ação direta em relação ao movimento de fechamento dos braços. As pinças do tipo X possuem cilindros que fecham os braços através de uma alavanca. A escolha de um determinado tipo de pinça depende de sua aplicação e devem ser levados em consideração alguns aspectos, tais como: • o acesso dessas ao produto a ser soldado; • a ergonomia, no caso de pinças manuais; • o comprimento mínimo necessário dos braços; • o espaço disponível nas estações de trabalho; • a força entre eletrodos necessária para soldagem. Figura 2.2: Pinça de solda para robôs, tipo C Fonte: DaimlerChrysler 28 Do ponto de vista técnico, a pinça C é mais vantajosa, pois a força entre eletrodos não varia em função do comprimento dos braços. A forma da pinça possui uma grande influência sobre os parâmetros de soldagem, pois quanto maior são os braços, maior será o circuito secundário e conseqüentemente serão também maiores as perdas por indução. Outro aspecto relevante é que uma pinça “grande” precisa de um tempo maior para fechamento de seus braços, e isso reflete diretamente no tempo de pré-pressão. A figura 2.3, a seguir, mostra o diagrama esquemático de uma pinça de solda do tipo X (fig 2.1). Como se pode verificar, quando o cilindro tem o seu êmbolo recolhido para a esquerda, a pinça se fecha. Quando o êmbolo é empurrado para fora, a pinça se abre e separa os eletrodos. Esse funcionamento influencia diretamente a força entre os eletrodos, pois quanto maior o comprimento dos braços, menor será esta força. Figura 2.3: Diagrama Esquemático de uma pinça X Já no caso da figura 2.4, a seguir, que representa esquematicamente uma pinça C, o êmbolo do cilindro está mecanicamente conectado ao braço móvel do cilindro, transferindo a sua força para os eletrodos de solda, com perdas relativamente baixas. Os braços das pinças precisam garantir a força entre chapas e por isso precisam de resistência estrutural suficiente para suportar as forças praticadas, que se aproximam de 5,0 KN, dependendo das espessuras das chapas a serem soldadas. Além disso, o material que o compõe precisa ter alta condutividade térmica, para diminuir as perdas por aquecimento e alta condutividade elétrica, para diminuir sua 29 influência na corrente de soldagem. Assim sendo, são indicados os materiais como ligas de cobre e de alumínio. Figura 2.4: Diagrama Esquemático de uma pinça C A parte elétrica é formada por um transformador, que deve reduzir a tensão de entrada e aumentar a capacidade de fornecimento da corrente elétrica através dos braços. Estes, além de desempenharem a função mecânica de compressão das chapas, fazem a condução da corrente elétrica que atravessa os eletrodos, elementos acoplados aos braços e que necessariamente tocam as chapas a serem soldadas. Esquematicamente, a figura 2.5, a seguir, mostra o esquema elétrico de uma pinça de solda, que pode ser tanto X, quanto C. O transformador recebe a tensão da rede (380 V ou 220 V) e abaixa para aproximadamente 7,5 V, porém com uma capacidade de condução de corrente de até 15000 A, o suficiente para proporcionar a fusão adequada ao ponto. Figura 2.5: Esquema Elétrico de uma pinça – parte de potência 30 2.3.1.1 Eletrodos de Contato Os eletrodos de contato, mostradosna figura 2.6, a seguir, são capas feitas em ligas de cobre, cuja função é tocar as chapas na região de formação do ponto de solda, a fim de fazer circular a corrente elétrica através delas. Também fazem a função de transferir a força de compressão para as chapas. Devido a essa função tão importante, os eletrodos devem ser formados por um material de alta dureza, que tenha baixa deformação aos impactos sofridos a cada ponto soldado. De igual forma, esse componente deve possuir altíssima condutividade térmica e elétrica, reduzindo, assim, as perdas por transferência de calor e por aumento de resistência elétrica. Figura 2.6: Eletrodos de solda Fonte: DaimlerChrysler Existem inúmeros formatos de eletrodos, cada qual para um determinado tipo de aplicação, que pode variar em função dos acessos disponíveis, das espessuras das chapas a serem soldadas e do posicionamento dos pontos de solda. No caso de solda a ponto, a área de contato do eletrodo controla amplamente o diâmetro resultante do ponto de solda e a densidade de corrente de soldagem. Os eletrodos devem ter boa condutibilidade elétrica, mas eles devem também ter resistência mecânica e dureza adequada para resistir à deformação causada por aplicações repetidas e altas solicitações térmicas (INTERMACHINERY, 2003; REU, 1998; RWMA, 2002; SCHARFF, 1990). Dessa forma, os eletrodos são confeccionados em ligas específicas, que serão usadas de acordo com a especificação do material a ser soldado. A tabela 2.1, a seguir, mostra os tipos e a composição dos eletrodos, considerando as suas características de acordo com a classe do material, segundo a RWMA (Resistance Welder Manufacturers Association). 31 Tabela 2.1 – Tipos de eletrodos para soldas por ponto Classe RWMA Descrição Condutividade (I.A.C.S.) Dureza (HB) Mecanismo de Endurecimento RWMA 1 (Classe 1) Cobre - Zircônio Cu-Zr (0,15% Zr) 90% 70 HB Precipitação RWMA 2 (Classe 2) Cobre - Cromo Cu-Cr (1,0% Zr) 85% 83 HB Precipitação RWMA 2 (Classe 2) Cobre - Cromo - Zircônio Cu-Cr-Zr (1,0 % Cr - 0,25% Zr) 85% 83 HB Precipitação RWMA 20 (Classe 20) AI 60 Cobre Resistente por Dispersão Cu-Al2O3 (1,1% Al2O3) 85% 75 HB Dispersão Fonte: Resistance Welder Manufacturers Association, 2002 Os materiais Classe 1 são do tipo não tratáveis termicamente e endurecidos por trabalho a frio, que não afeta as altas condutibilidades térmica e elétrica. Os materiais Classe 2 possuem propriedades mecânicas mais altas e condutibilidades elétrica e térmica mais baixas em relação aos eletrodos da Classe 1. As propriedades mecânicas e físicas requeridas são conseguidas por tratamento térmico ou por uma combinação de tratamento térmico e trabalho a frio. Os eletrodos da Classe 2 são os mais utilizados e podem se adequar a uma ampla faixa de metais e condições. Os materiais Classe 20 têm a capacidade de resistir a altas taxas de calor e pressão quando comparado com os materiais das classes 1 e 2. São fabricados utilizando cobre e material refratário. A forma de confecção dos eletrodos é muito importante, pois influencia diretamente na durabilidade dos mesmos, e principalmente no resultado da soldagem. Existem eletrodos que são fabricados através do processo de usinagem, processo normalmente empregado no Brasil. Vale dizer que esses eletrodos estão sujeitos a características de dureza bem abaixo das praticadas na tabela 2.1, resultando em desgastes e deformações mais acentuados. Os processos de fabricação “a frio” impõem homogeneidade às características dimensionais, de dureza e condutividade das peças, trazendo consigo maior estabilidade ao processo de soldagem. 32 Existem ligas especiais, a fim de reduzir a incidência de respingos e aumentar a vida útil do eletrodo em soldagem com revestimentos a base de zinco. São ligas com base em alumínio e prata, que embora tenham custos mais elevados, se comparados ao Cu-Cr, podem vir a trazer benefícios compensadores dependendo do emprego que tiverem. 2.3.1.2 O Circuito de Refrigeração A alta corrente no momento da soldagem gera um aquecimento intenso em todas as partes responsáveis pela condução elétrica. Assim sendo, faz-se necessária a utilização de circuitos de refrigeração para os braços das pinças, para os eletrodos e muitas vezes até para os transformadores, evitando-se dessa forma a possibilidade de um aquecimento descontrolado nessas partes. Caso exista um superaquecimento dos eletrodos, estes podem vir a perder algumas de suas propriedades físicas, sendo que uma alteração de temperatura nas partes metálicas evidentemente é acompanhada de uma alteração significativa do valor de resistência elétrica desses metais. Dessa forma, as partes refrigeradas possuem dutos internos para passagem de água, conforme mostra, a seguir, a figura 2.7, dependendo da aplicação da pinça. Esta água deve ser tratada quimicamente para que se elimine a possibilidade de ataques corrosivos, incrustações, além de fungos e bactérias, a fim de prolongar o uso dos dutos, das tubulações das instalações e dos equipamentos. A velocidade e a temperatura do fluxo refrigerante deve ser definida de acordo com o uso do equipamento, para que o sistema não fique subdimensionado. Alguns fabricantes de pinças especificam os valores nos manuais de seus produtos, estando estes em torno de 4 a 8 litros por minuto. A qualidade da soldagem é influenciada diretamente pela eficiência da refrigeração. O superaquecimento do material do eletrodo à base de cobre faz com que a dureza da liga diminua e, por esta razão, um processo de deformação da face de contato do eletrodo inicia a uma taxa acelerada. Além disso, o zinco se combina mais rapidamente com o cobre do eletrodo, formando uma liga de cobre-zinco, à medida que a temperatura aumenta (REU, 1997, TECNOWELDING, 2004). 33 Figura 2.7: Refrigeração nos Eletrodos de solda Fonte: Frank Alich - DaimlerChrysler Bremen 2.3.1.3 Transformadores Os transformadores, na maioria das vezes acoplados às pinças de soldagem, são os responsáveis pela conversão da alta tensão de entrada, geralmente de um padrão de fornecimento de entrada de 220V ou 380V, para cerca de 7,5V na saída, no enrolamento secundário, ligado aos braços das pinças. Essa tensão é necessária, pois tem como vantagem não oferecer risco de choque elétrico para os operadores das pinças que estarão diretamente expostos aos braços. Para mantermos a potência necessária para soldagem no circuito secundário, uma vez rebaixada a tensão de entrada, é necessário que a corrente desse circuito tenha a capacidade de manter seus valores elevados, na casa de alguns milhares de amperes. Sabendo que a potência aparente do circuito é o produto da tensão pela corrente, ao se reduzir um desses valores, o outro deve proporcionalmente se elevar. Os transformadores são normalmente monitorados quanto à temperatura de operação e a corrente fornecida. Os sensores de temperatura se localizam no primário, avisando caso exista situações de superaquecimento. Já os sensores de corrente se localizam no secundário e permitem que se a soldagem opere num modo KSR (modo de operação através de regulagem de corrente constante). 34 Existe uma modalidade de instalação na qual o transformador fica suspenso por suportes, ao invés de estar acoplado à pinça. Nesta configuração, apesar da pinça, à primeira vista, parecer mais leve, torna-se mais difícil sua manipulação, pois para compensar as perdas de potência devido uso de cabos mais longos, costuma aumentaro diâmetro do mesmo, tornando a manipulação do equipamento menos flexível. 2.3.1.4 Cilindros Pneumáticos Os cilindros pneumáticos são os dispositivos que fazem com que a pinça se feche, movimentando os braços contra as chapas a serem soldadas. Normalmente são alimentados com uma pressão de 6 a 10 bar, o suficiente na maioria dos casos para garantir uma força entre eletrodos de até 6 KN, condição considerada extrema para aplicações na indústria automobilística. Com uso das pinças do tipo X com braços longos, pode-se comprometer a força entre eletrodos necessária para soldagem de determinadas chapas. Para evitar essa situação, altera-se o volume do cilindro de modo a se obter a força desejada. 2.3.2 Comandos de Solda O comando de solda é um dispositivo eletrônico que controla as ações das pinças de solda, tais como: - O momento inicial da soldagem - A abertura dos braços - O momento exato de fechar os braços - Inicio e término da passagem de corrente elétrica - A intensidade dessa corrente elétrica - Outras funções secundárias. Esses valores de tempo e de intensidade de corrente são definidos no comando de solda, através de uma programação feita por um técnico, de acordo com as normas fundamentadas em bons resultados obtidos de maneira empirica. O comando 35 de solda nada mais é que um temporizador das ações da pinça, adicionado a um controlador de corrente elétrica. Para comandos de solda que operam em corrente alternada, a unidade de tempo é o ciclo. A freqüência adotada pela distribuidora é de 60Hz, ou seja, 60 ciclos por segundo. Sendo assim, cada ciclo tem a duração de 16,67ms, pois seu tempo de duração é justamente o inverso da freqüência do sinal de entrada. A figura 2.8, a seguir, mostra esquematicamente um comando de solda ligado aos seus periféricos. Já a figura 2.9, também, a seguir, expõe um comando de solda em operação na planta de uma fábrica. Figura 2.8: Esquema Elétrico de um Comando de Solda, ligado a uma pinça. 36 Figura 2.9: Comando de Solda suspenso Fonte: DaimlerChrysler 2.4 PARÂMETROS DE SOLDAGEM A qualidade dos pontos de solda é influenciada principalmente por três parâmetros: tempo de solda, intensidade de corrente e força entre eletrodos. Os parâmetros de soldagem são funções desses três parâmetros, formados por valores programados em um comando, para execução de um determinado ponto de solda, levando-se em consideração a espessura das chapas, o tipo de material a ser soldado e o tipo de proteção superficial desse material. Existem outros parâmetros, que embora secundários, também influenciam na qualidade do ponto de soldagem. Estes parâmetros são relativos ao tempo em que a pinça se mantém fechada sem a passagem de corrente elétrica. 2.4.1 Pré-pressão O tempo de pré-pressão ou de pré-fechamento deverá ser escolhido de modo a garantir a criação total da força entre os eletrodos antes de iniciar o fluxo da corrente de solda. A escolha do tempo de pré-fechamento demasiado curto pode resultar na formação do arco elétrico antes dos eletrodos serem colocados completamente nas chapas; este arco destrói a peça e o eletrodo. O tempo de pré-fechamento deverá ser suficientemente longo para permitir a parada das vibrações dos braços da pinça e a 37 criação total da força entre os eletrodos. (Muller, Marc DaimlerChrysler, 2002). O gráfico da figura 2.10, mostrada a seguir, exemplifica como se comporta a força entre eletrodos com relação à passagem da corrente elétrica, ressaltando o que acontece nos momentos de pré-pressão e de pós-pressão. Fig 2.10: Força entre eletrodos X pré-pressão 2.4.2 Tempo de Soldagem O tempo de soldagem é compreendido entre o início e o término da passagem da corrente elétrica. O tempo de solda orienta-se, em primeiro lugar, pela espessura das chapas. Quanto mais espessas as chapas a serem soldadas, tanto maior o tempo de soldagem (Müller, 2002). Adicionalmente, o tempo de solda é dimensionado em função do tratamento superficial e do tipo do material a ser soldado. Quanto maior o tempo de soldagem, maior o poder de fusão utilizado. 38 2.4.3 Pós-Pressão A pós-soldagem é necessária para manter as chapas pressionadas, até um determinado arrefecimento do local da soldagem (solidificação da lentilha do ponto) e impede a formação de espaços ocos no próprio ponto. (Müller, 2002) Esse tempo, contabilizado entre o término da passagem da corrente e o início da abertura da pinça, deve ser suficiente para que correntes residuais se esgotem antes que a pinça abra. Esse tempo exerce uma influência no resfriamento e, por conseqüência na vida útil dos eletrodos. A solução para evitar inconvenientes é empregar valores de tempo de pós-pressão suficientes para permitir que o zinco se solidifique sob a pressão do eletrodo e garantir sua aderência ao aço. O contato entre as chapas aquecidas e os eletrodos não deve ser mantido por um tempo acima do mínimo requerido para a solidificação do ponto de solda de forma que a superfície de trabalho do eletrodo possa se resfriar antes de iniciar o próximo ciclo de soldagem (Osório, 2005, apud INTERMACHINERY, 2003, TECNOWELDING, 2004). 2.4.4 Intensidade da Corrente de Soldagem A corrente de solda aquece a área de soldagem até a temperatura de fusão dos materiais comprimidos pelos eletrodos. Quanto maior for a corrente, tanto mais a área de solda aquece e tanto maior será o ponto de solda, ou seja, a área fundida. Para a corrente de solda existem dois limites: o limite de aceitação e o limite de respingos. O limite de aceitação constitui o limite inferior e está relacionado diretamente ao diâmetro mínimo do ponto. Se a corrente ficar aquém do limite de aceitação da qualidade, não se alcançará o diâmetro exigido do ponto, ou seja, quatro vezes a raiz quadrada da chapa mais fina, segundo a norma de qualidade de pontos de solda MBN 10320 (MBN, 2002). O limite de respingos representa o limite superior para a corrente de solda. Se este limite for ultrapassado, a soldagem resultará em respingos fortes durante a sua execução. Os respingos significam uma necessidade maior de manutenção dos equipamentos e de retrabalho no produto, além de constituírem um fator de causa de acidentes de trabalho. 39 Os valores de corrente dependem também da quantidade de chapas a serem soldadas, do tipo de material que formam as chapas e ainda do tipo de tratamento superficial ao qual as chapas estão submetidas. 2.4.5 Força entre Eletrodos A força entre eletrodos no momento da solda é necessária para que se proporcione uma junção adequada às chapas que se pretende executar o ponto de solda. Aplicada, geralmente, através dos cilindros pneumáticos, essa força é responsável pela determinação da resistência elétrica de contato entre as chapas. Essa resistência por sua vez irá determinar a qualidade da solda, pois seu valor influencia diretamente na quantidade de calor gerada na zona de formação do ponto. Para a soldagem de um ponto com qualidade, essa força vai depender também do tipo e da combinação das chapas a serem soldadas, portanto é muito importante que as pinças de solda possuam capacidade para aplicar a força necessária, evitando, assim, que haja flexões que comprometam a resistência estrutural dos braços. Existe uma tolerância razoavelmente ampla para os valores recomendados de força de eletrodo sem que haja uma influência significativa na qualidade de solda e durabilidade dos eletrodos. Esta faixa deve ser especificada nas aplicações individuais (INTERMACHINERY,2003, TECNOWELDING, 2004). 2.4.6 Recursos Auxiliares Basicamente, os parâmetros relevantes para a qualidade e formação do ponto de solda foram descritos anteriormente. Porém, existem recursos que podem ajudar na formação da lentilha de solda, bem como proporcionar um “ajuste fino” no processo, com o propósito de agredir menos a região afetada pelo calor, ou ainda reduzir a emissão de respingos durante a passagem de corrente. A utilização dessas funções pode demandar maior tempo para a conclusão da soldagem, portanto sua aplicação requer uma atenção especial para que os tempos de produção dos veículos não sejam excedidos. Alguns desses recursos são descritos a seguir 40 2.4.6.1. Subida / Descida de Corrente Ao se determinar o valor da corrente de solda para as chapas a serem unidas, pode-se optar que essa corrente inicialmente obedeça a uma rampa de subida, que vai de um valor pré-determinado de corrente, até o valor nominal especificado para a aplicação. Nesse caso, a corrente de soldagem eleva-se, gradativamente, ou seja, a corrente de solda vai subir de um valor base, até o valor total especificado segundo uma curva desejada. Esse recurso é chamado subida de corrente. Também se pode determinar o tempo em que se deseja que a subida de corrente aconteça. Da maneira análoga, a descida de corrente é aplicada no final da passagem da mesma, afim de que a interrupção não seja abrupta. Dessa maneira, a corrente pode ser gradativamente reduzida, também segundo uma rampa de descida, até ser anulada. Com esses recursos objetiva-se que os efeitos da corrente de soldagem sejam amortizados através de uma aplicação mais suave às chapas, eliminando os respingos e não permitindo que falte fusão adequada aos pontos. 2.4.6.2 Impulsos de Solda Quando a espessura das chapas a serem unidas é muito alta, necessita-se proporcionalmente de tempos de solda relativamente mais altos. No entanto, em conjunto com a corrente necessária para a fusão, pode haver um superaquecimento nas chapas e uma expulsão do material em forma de respingos. Os impulsos de solda têm o objetivo de evitar essa situação, pois dividem o tempo de solda em partes iguais, ou seja, ao invés de uma passagem de corrente única, opta-se alternativamente por dividí-la em impulsos de igual duração. Observa- se que em regra, o valor absoluto do tempo de solda sem a divisão por impulsos seria menor que sua somatória total, no caso da aplicação dos impulsos. Essa é a evidencia da agressividade da corrente no material a ser soldado. O gráfico da figura 2.11, a seguir, ilustra como se dá a distribuição dos tempos pelos parâmetros de solda programados, durante um ciclo completo de formação de um ponto. 41 Figura 2.11.: Tempo de Solda Vale observar ainda que entre cada impulso de corrente, existe um intervalo de resfriamento, utilizado para que o material não se aqueça de maneira tão rápida em pontos tão localizados, o resultaria em respingo de soldagem. 2.4.6.3 Pré Aquecimento e Pós Aquecimento O pré-aquecimento é uma corrente aplicada na soldagem, cuja função é atravessar as chapas, antes da corrente de soldagem programada. Esse efeito é usado para permitir a queima dos revestimentos zincados e outros tratamentos superficiais apenas na região dos pontos, garantindo que a corrente de soldagem seja aplicada com o único objetivo de soldar. Dessa forma, no momento da solda já terá havido a volatilização do zinco na região do ponto. 42 Outras aplicações do pré-aquecimento se destinam a aquecer alguns tipos de materiais, tornando menor a diferença de temperatura no momento da solda e reduzindo a probabilidade de aparecimento de trincas na formação do ponto. A aplicação do recurso de pós-aquecimento ficaria por conta de evitar possíveis trincas na região afetada pelo calor gerado, além de proporcionar uma curva diferente de resfriamento do ponto de solda, que partiria de um valor mais baixo de temperatura proporcionado pelo pós-aquecimento. 2.5 AS VARIÁVEIS DO PROCESSO DE SOLDAGEM DE PONTOS POR RESISTÊNCIA ELÉTRICA Em conjunto com os parâmetros de soldagem, as variáveis do processo precisam ser controladas para que a boa qualidade do ponto de solda seja assegurada. As variáveis são as condições do processo influenciadas direta ou indiretamente pelos parâmetros. De certa forma, as variáveis podem muitas vezes ser oriundas de decisões tomadas na fase de planejamento do processo, pois envolve desde as funções de mão-de-obra, até as condições ambientais que interagem com o resultado do processo. 2.5.1 Resistência do Circuito Secundário A resistência do circuito secundário de soldagem é uma variável muito crítica e instável, pois depende da resistência do material presente nas chapas, braços de pinças e cabos, e principalmente da resistência dinâmica, encontrada entre chapas. A relação das resistências transforma-se em função da temperatura encontrada no material e da força entre os eletrodos. Por esse motivo, as diferentes resistências não se mantêm constantes. Ao contrário, estão sempre se alterando no decorrer do ciclo de formação do ponto durante o processo de soldagem. No momento inicial, no qual a pinça se fecha, existe um período de acomodamento das chapas, a pré-pressão, que faz com que a resistência de contato, que era relativamente alta entre essas chapas, seja reduzida, como observado na figura 2.12. Ao se iniciar a passagem de corrente elétrica, essa resistência aumenta significativamente, pois o calor gerado faz aumentar a resistência elétrica dos metais. O calor e a resistência elétrica atingem seu pico máximo, no momento em que a 43 temperatura se torna suficiente para a fusão localizada das chapas, etapa na qual o material se encontra em estado pastoso, quase líquido. A partir dessa fase, não faz mais sentido se referir à resistência entre chapas, pois agora elas estão unidas, formando um único material. Com a unificação do material, ainda aquecido em seu pico máximo, a resistência elétrica tende a cair, principalmente com o equilíbrio proporcionado pela ação da refrigeração que circula internamente através dos eletrodos. O calor nesse estágio precipita um crescimento dos grãos na região atingida, sendo formado o ponto de solda. Após o término da passagem da corrente, já sem a fonte de calor, a temperatura baixa por conta ainda do resfriamento forçado. Quando a pinça se abre o ponto formado fica então sujeito a uma refrigeração espontânea e continua, por conta do ambiente. O comportamento da resistência entre as chapas vai determinar se a qualidade do ponto de solda é boa, ou se o ponto ficará sem a fusão adequada. Para isso, segundo a norma DVS 2904-2, ela deve ter o comportamento semelhante ao visualizado na figura 2.12. A resistência do circuito secundário é a somatória de todas as resistências parciais ali existentes, como mostra a seguir, a figura 2.13. Nota-se a abrangência, e ainda, a fragilidade do processo em função de todas as variáveis resistivas do circuito secundário. Sua composição vai desde a resistência elétrica dos cabos, das conexões, passando pelos braços das pinças, pelos eletrodos e indo até a resistência do material a ser soldado, incluindo a resistência da junção das chapas. Teoricamente, se houvesse um elemento monitorador da resistência elétrica de contato entre chapas no ciclo de soldagem para cada ponto executado, seria possível avaliar as condições estruturais desses pontos e dizer em qual situação cada um deles se encontra. Ainda hipoteticamente, qualquer alteração de qualidade nos pontos soldados, poderia ser evidenciadaatravés de uma alteração no comportamento da sua respectiva curva característica de resistência elétrica de contato da resistência elétrica de contato. 44 Figura 2.12: Comportamento da resistência de contato das chapas Fonte: Norma DVS 2904-2 Figura 2.13: Esquema das resistências que compõem o circuito secundário 45 2.5.2 A Região de Operação do Processo de Soldagem de Pontos por Resistência Elétrica Os ajustes corretos dos parâmetros de soldagem colocam um equipamento em operação de forma adequada, de acordo com a qualidade exigida nos resultados. No processo de soldagem de pontos por resistência elétrica, os parâmetros programados de acordo com uma norma, traçam o ponto de trabalho para a soldagem de determinadas combinações de chapas. Os valores de corrente elétrica, força entre eletrodos e tempo de soldagem não são absolutos, porém totalmente interdependentes. Isso significa que, por exemplo, é possível soldar dentro dos limites aceitáveis de qualidade, com a metade da força especificada em norma, desde que, os valores de corrente e de tempo possam compensar a variação ocorrida na força. Assim sendo, a região permitida para operação pode ser delimitada através de um gráfico que mostre, para um determinado parâmetro considerado constante, quais as variações permitidas para os demais parâmetros. Esse gráfico deve possuir dois limites de operação: inferior, ou de falta de fusão dos pontos e o superior, ou de incidência de respingos. A figura 2.14, mostrada a seguir, traça a região na qual o processo de soldagem apresenta-se confiável. Nesse caso, o tempo de soldagem foi considerado constante, tendo sido variados a corrente de solda e a força entre eletrodos. Gráfico 2.14: Região de Operação do Processo de Soldagem 1 Fonte: Norma DVS 2904-2 46 A região da direta da figura, ou de falta de fusão é caracterizada como aquela em que os pontos são gerados com diâmetros inferiores a quatro vezes a raiz quadrada da menor chapa ( dp = 4.√t ) limite mínimo aceitável para um determinado ponto ser considerado aprovado estruturalmente, de acordo com a norma MBN 10382 (MBN,2002). O limite da região da esquerda da figura 2.14 ou de respingos se caracteriza pela delimitação do valor máximo de corrente possível sem que haja emissão de respingos ou desprendimento de algum material através de fagulhas durante a formação do ponto de solda. Fica evidente que a variação de corrente possível, dentro dos limites de aceitação, quando as forças estão baixas, é bem menor do que a variação de corrente possível, dentro dos limites, quando as forças estão altas. Em outras palavras, quando se opera em regiões onde as forças são maiores, pode se variar muito mais a corrente de soldagem sem que se ultrapassem os limites de aceitação. Conclui-se, portanto, que o uso de forças entre eletrodos maiores, dentro dos limites, pode ser traduzido em maior estabilidade do processo de soldagem. No caso da figura 2.15, mostrada, a seguir, a força entre eletrodos foi mantida constante. Nesse caso, verifica-se que o aumento do tempo de solda permite as variações nos valores de corrente elétrica possam ser maiores, sem sair da região de aceitação de qualidade dos pontos de soldagem. Figura 2.15: Região de Operação do Processo de Soldagem 2 Fonte: Norma DVS 2904-2 47 O tempo de soldagem, uma vez programado, possui pouca variação, num contexto prático, pois depende apenas de um temporizador eletrônico localizado no comando de solda. Da mesma forma, a força entre eletrodos varia de maneira muito sensível, quase imperceptível no decorrer da passagem de corrente elétrica de soldagem. Portanto, o parâmetro mais crítico para se estabilizar, dependendo das variáveis do processo é a corrente de soldagem, devido a sua dependência direta da resistência do circuito secundário. Daí a preferência por se posicionar a operação do processo em regiões onde são permitidas maiores variações da corrente de soldagem, sem que o limite de aceitação seja ultrapassado. 2.5.3 Curvas de Compensação de Corrente em Função do desgaste dos eletrodos Como abordado anteriormente, um dos parâmetros mais importantes a ser definido é a corrente de soldagem. Dela depende a resistência estrutural do ponto de solda, e nela se concentra a maior probabilidade de variações, muitas vezes causas das falhas nos processos. A corrente elétrica proporciona o aquecimento localizado das chapas a serem soldadas, até que seja atingido o ponto de fusão do material, formando a lentilha de solda. Nesse processo os eletrodos desempenham papel fundamental, pois são eles que tocarão as chapas e determinarão a área que sofrerá o aquecimento para formação do ponto. Porém essa área de contato entre os eletrodos e as chapas sofre mudanças, de acordo com o desgaste gradual dos próprios eletrodos, ao longo de sua vida útil. Quando são novos, a área de contato eletrodo/chapa é relativamente pequena e o calor é concentrado. Ao longo do uso, quando vários pontos de solda são feitos, essa área aumenta relativamente e a concentração de calor tende a diminuir, ou seja, a quantidade de calor teoricamente não muda, porém este está disperso em uma região mais ampla. Para neutralizar o efeito da redução de concentração de energia no ponto de solda, emprega-se o recurso da curva de compensação de corrente de solda em função do desgaste dos eletrodos, como mostrado, a seguir, na figura 2.16. 48 Figura 2.16: Curva de compensação de corrente Fonte: Manual de Operação Bosch (2004) A função da curva é manter constante a concentração de calor na região, compensando uma variável chamada densidade de corrente, que equivale a intensidade de corrente dividida pela área de contato. Portanto: � = I (KA) / A (mm2), que deve permanecer constante. Nas figuras 2.17 e 2.18, mostrada a seguir, pode-se comparar eletrodos novos e usados e evidenciar a diferença de área de contato. Figura 2.17: Eletrodos Novos Fonte: DaimlerChrysler 49 Figura 2.18: Eletrodos Usados Fonte: DaimlerChrysler O limite de reajuste de uma curva de compensação é determinado principalmente por dois fatores: pela capacidade de fornecimento de corrente do transformador e também pelas condições do próprio eletrodo, tais como deformações, trincas, camadas de impurezas e refrigeração. 2.6 MÉTODOS DE CONTROLE DE CORRENTE A tensão fornecida através da rede elétrica possui uma forma senoidal e uma freqüência de 60 Hz. Ao ser esboçada em função no eixo temporal, essa tensão pode ser dividida em vários pequenos períodos de tempo. Fazendo analogia ao ciclo trigonométrico, podemos dividir cada pequeno período de tempo e numerá-lo em graus, sendo que um ciclo da tensão senoidal corresponde a 360 graus do ciclo trigonométrico, como mostra logo abaixo a figura 2.19. A forma da corrente elétrica acompanhará aproximadamente a tensão, respeitando algumas defasagens provenientes da indução presente nas bobinas do transformador. 50 Figura 2.19: Tensão de Entrada Senoidal Fonte: Müller(2002) 2.6.1 Controle de Potência através do Ângulo de Fase Para que se promova a variação da intensidade da corrente elétrica e também da potência entregue ao ponto, o comando de solda, através de seu dispositivo regulador aproveita apenas uma parte da corrente total. A parte não desejada é simplesmente bloqueada. O valor final da corrente que atravessa o ponto será a média dos valores praticados em um ciclo completo. Por exemplo, a figura 2.20, mostrada logo a seguir,ilustra uma situação na qual deseja-se fazer a condução de corrente em aproximadamente 100 graus. Figura 2.20: Controle da Potência de Solda por Ângulo de Fase Fonte: DaimlerChrysler 51 O valor da corrente de soldagem corresponderá ainda à integral da função da corrente no tempo. Esse método de controle gera uma certa dificuldade de compensar as possíveis variações de corrente existentes em função da variação da resistência do circuito secundário. Admitindo-se que exista tal variação de resistência elétrica ao longo da formação do ponto de solda, haverá também uma variação dessa corrente mesmo que o ângulo de disparo se mantenha inalterado. Por essa razão o uso desse método de controle de potência ainda é visto com muita restrição por especialistas do processo. 2.6.2 Controle de Potência através de Corrente Constante Esse método de controle de potência é preferivelmente utilizado em relação ao anterior, pois a programação de corrente é feita diretamente na sua unidade, ou seja, o ampere. Nesse caso, o comando de solda possui um mecanismo que varia o ângulo de disparo da tensão, em função da corrente de solda resultante, com o auxílio de sensores de intensidade de corrente, ligados ao dispositivo eletrônico de controle, mostrado a seguir. na figura 2.21. Figura 2.21: Dispositivo Eletrônico de Controle de Corrente Elétrica Fonte: Müller (2002) No secundário do transformador, é instalado um sensor de intensidade de corrente, que informa o valor real da corrente elétrica que flui em determinado instante. Essa informação é enviada a um sistema que compara o valor lido no sensor com o valor teórico da corrente programada. Caso o valor real seja menor que o programado, começa-se a condução de maneira antecipada no próximo ciclo de tempo de solda. Quando o valor real é maior que o programado, de maneira análoga , atrasa-se a condução da corrente. A comparação entre esses valores acontece a cada ciclo do tempo de solda e o resultado proporciona a correção do valor da corrente elétrica em tempo real, tornando-a muito próxima do valor programado. 52 2.7 FRESAGEM DOS ELETRODOS Em algumas configurações de equipamentos de soldagem, utiliza-se de um recurso muito importante, chamado de fresagem dos eletrodos. Esse mecanismo, apesar de proporcionar investimentos iniciais mais elevados, pode agregar um diferencial muito grande de qualidade em relação à sistemas que não utilizam os recursos de fresagem, pois permite que o eletrodo trabalhe, na maior parte do tempo, com uma camada de impureza bastante reduzida na superfície dos eletrodos.. Segundo Osório (2005), a fresagem é um processo de usinagem rápido e eficiente usado para recuperar o perfil original dos eletrodos após a soldagem de alguns pontos de solda. Ainda segundo Osório, a fresagem dos eletrodos é uma necessidade, provocada basicamente por dois fatores: formação de latão na face de soldagem do eletrodo; e o aumento da área da face do eletrodo. A fresagem dos eletrodos requer uma ferramenta chamada de fresador de eletrodos. Com ela é possível fresar a sua face e manter controlada algumas variáveis do processo, tal como a densidade de corrente. A fresagem se faz necessária em períodos regulares e consiste no emprego de uma ferramenta de corte giratória, alinhada ao perfil do eletrodo, que atuará em tempos relativamente constantes, para que se limpe completamente sua superfície, deixando-o com o aspecto de novo. Figura 2.22: Dispositivo de Fresagem Automático Fonte: DaimlerChrysler 53 Na figura 2.22 mostrada anteriormente, foi retratado um equipamento automático para fresagem dos eletrodos, empregados em robôs. Existem várias configurações de fresagens, entre elas podem ser citados os fresadores manuais, automáticos, individuais, ou um eletrodo por vez, simultâneos, e até o uso de limas de desbaste, embora no muito indicadas Preferencialmente, deve-se utilizar equipamentos que proporcionem a fresagem simultânea dos dois eletrodos da pinça, afim de que a diferença de desgaste entre o par seja reduzida. Com o propósito de que haja homogeneidade no processo, recomenda-se períodos, velocidades e forças de fresagem constantes durante o processo de limpeza. Figura 2.23: Comparativo de durabilidade dos eletrodos utilizando sistemas de fresagem Fonte: Wolzniak (2003) A figura 2.23, mostrada acima, ilustra como a durabilidade dos eletrodos aumenta com a utilização do processo de fresagem, tornando-se necessário um estudo para avaliar economicamente a viabilidade de sua implantação. A barra verde representa chapas sem revestimento, a barra azul, um revestimento zincado e a barra vermelha um revestimento orgânico também a base de zinco. 54 3.7 INFLUÊNCIA DO FATOR HUMANO O processo de soldagem pode ser executado por robôs, nos casos em que exista viabilidade técnica, juntamente com a viabilidade econômica. O processo é chamado automático. Quando executado por pessoas é chamado de processo manual. Os processos manuais são influenciados diretamente pela ação do homem, e podem estar sujeitos a erros mais freqüentes, caso não tenha sido estudada, de maneira aprofundada, todas as condições sujeitas a operação. Os operadores das pinças de solda estão submetidos a jornadas diárias de oito horas de trabalho, situações essas que muitas vezes exigem muito esforço e concentração nas atividades, objetivando resultados que atendam as especificações da produção final. 2.8.1 A importância dos Treinamentos de Soldagem Com o objetivo de atingir um desenvolvimento contínuo, uma empresa deve oferecer condições de adaptações aos funcionários. Esta regra vale no ambiente de soldagem também. As adaptações devem abranger conceitos de produtividade, redução de custos, melhoria da qualidade, segurança do trabalho, além de satisfação pessoal. Alinhar os interesses da empresa ao dos funcionários exige em primeira mão um sistema de treinamento, aperfeiçoamento e avaliação constante desses funcionários, garantindo a transmissão da informação e o aproveitamento do conteúdo exposto, além da aplicação do mesmo nas atividades desempenhadas. O treinamento tem importância fundamental para garantir a execução adequada das tarefas de soldagem, seja no caso de aplicação de novos produtos, novos processos, ou a título de revisão, apenas para reciclagem de informações. 2.8.2 O Planejamento das Atividades de Soldagem No dia a dia, da produção de uma carroçaria na etapa de soldagem, cabe ao operador de solda, a execução dos pontos, conforme o desenho do produto, especificado pelo Departamento de Engenharia. A utilização dos meios de aplicação das informações dos desenhos completos torna-se uma atividade complexa. A 55 confecção do produto é dividida em estágios de construções, sendo cada estágio um posto de trabalho, uma etapa do processo construtivo. Essa etapa é desenvolvida em um local definido, chamado de estação de trabalho. Nas estações de trabalho, os operadores receberão em forma de instruções, o conteúdo a ser desenvolvido em forma de atividade. Para isso as informações disponibilizadas devem ser detalhadas nos seguintes aspectos: - As peças a serem unidas; - A seqüência de abastecimento das peças nos dispositivos de fixação; - A seqüência de operação dos grampos de fixação; - A identificação, através de números, dos pontos a serem soldados; - A pinças reservadas para a execução de cada ponto (podem existir várias pinças de solda numa única estação de modo que cada pinça também tenha a sua atividade definida, ou seja, a de executar determinados pontos
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